PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS
Ana Paula Jobim 1
Ana Eleonora Sebrão Assis 2
RESUMO
Este artigo é o resultado de uma revisão bibliográfica sobre a psicomotricidade,
desenvolvimento psicomotor, histórico, as origens da educação psicomotora, conceitos de
esquema corporal, lateralidade, direcionalidade, percepção e orientação espacial. Aborda
ainda a relação entre Psicomotricidade, Educação Física e Educação Psicomotora numa
perspectiva de como e quando devem ser trabalhadas na escola.
Palavras – chaves: Psicomotricidade, Esquema corporal, Lateralidade, Percepção espacial.
INTRODUÇÃO
A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do
esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas
as etapas da vida de uma criança. Por meio de atividades as crianças, além de se divertir,
criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Nesse contexto a Educação
Física tem como objetivo estimular o desenvolvimento psicomotor e, como princípio
fundamental, despertar a criatividade dos educadores, além de contribuir para a formação
integral do educando, utilizando-se das atividades físicas para o desenvolvimento de todas
suas potencialidades. Tem ainda a finalidade de auxiliar no desenvolvimento físico, mental e
afetivo do indivíduo, com o propósito de um desenvolvimento sadio. É importante assegurar o
desenvolvimento funcional da criança e auxiliar na expansão e equilíbrio de sua afetividade,
através da interação com o ambiente.
O conhecimento das partes do corpo depende do meio, da educação, da aprendizagem
e do exercício, e o melhor instrumento a ser utilizado seria o próprio corpo, sem qualquer
outro material.
BREVE HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE
1
2
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Luterana do Brasil
Professora da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba e orientadora deste trabalho.
Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais
precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas
do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Só em pleno século XIX o corpo
começa a ser estudado, em primeiro lugar, por neurologistas, por necessidade de compreensão
das estruturas cerebrais, e posteriormente por psiquiatras, para a classificação de fatores
patológicos. É justamente a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique
certos
fenômenos
clínicos
que
se
nomeia,
pela
primeira
vez,
a
palavra
PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870.
As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um
enfoque eminentemente neurológico.
No campo patológico destaca-se a figura de Dupré (1909), neuropsiquiatra, de
fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência
da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato
neurológico e o termo ‘’Psicomotricidade’’, quando introduz os primeiros estudos sobre a
debilidade motora nos débeis mentais.
Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, é provavelmente o grande pioneiro da
psicomotricidade, pois ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante
como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o
movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo. Para ele, o
movimento é a única expressão, e o primeiro instrumento do psiquismo, e que o
desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da oposição e substituição de atividades
que precedem umas as outras. Através do conceito do esquema corporal, introduz,
provavelmente, dados neurológicos nas suas concepções psicológicas, motivo esse que o
distingue de outro grande vulto da psicologia, Piaget, que muito influenciou também a teoria e
prática da psicomotricidade. Wallon refere-se ao esquema corporal não como uma unidade
biológica ou psíquica, mas como a construção, elemento de base para o desenvolvimento da
personalidade da criança.
Em 1935, Eduard Guilmain, neurologista, a vê como campo científico e impulsiona as
primeiras tentativas de estudo da reeducação psicomotora, onde se sobressai e desenvolve um
exame psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico.
Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, líder da escola de psicomotricidade,
delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o
psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras
disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia, desenvolve intensa atividade
científica, prosseguindo e continuando a obra de Wallon vai consolidando os princípios e as
bases da psicomotricidade.
A psicomotricidade, para Wallon e Ajuriaguerra, concebe os determinantes biológicos
e culturais do desenvolvimento da criança como dialéticos e não redutíveis uns aos outros.
Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como uma
motricidade de relação. Começa então, a ser delimitada uma diferença entre uma postura
reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao
ocupar-se do "corpo de um sujeito" vai dando progressivamente, maior importância à relação,
à afetividade e ao emocional. Para o psicomotricista, a criança constitui sua unidade a partir
das interações com o mundo externo e nas ações do outro (mãe e substitutos) sobre ela.
A especificidade do psicomotricista situa-se assim, na compreensão da gênese do
psiquismo e dos elementos fundadores da construção da imagem e da representação de si. O
sintoma psicomotor instala-se, quando ocorre um fracasso na integração somatopsíquica,
conseqüente de fatores diversos, seja na origem do processo de constituição do psiquismo, ou
posteriormente em função de disfunções orgânicas e/ou psíquicas. A patologia psicomotora é,
portanto, uma patologia do continente psíquico, dos distúrbios da representação de si cuja
sintomatologia pode se apresentar no somático e/ou no psíquico.
O conceito de psicomotricidade ganhou assim uma expressão significativa, uma vez
que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade motora.
O movimento é equacionado como parte integrante do comportamento. A psicomotricidade,
produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e instrumento privilegiado através
do qual a consciência se forma e materializa-se.
É na integração transdiciplinar das áreas do saber que provavelmente se colocará no
futuro a evolução e atualização do conceito de Psicomotricidade. A lateralização como
resultado da integração bilateral postural do corpo é peculiar no ser humano e está
implicitamente relacionada com a evolução e utilização de instrumentos, isto é, com
integrações sensoriais complexas e com aquisições motoras unilaterais muito especializadas,
dinâmicas e de origem social.
A Psicomotricidade é uma ciência que busca em muitos campos de pesquisa dados,
argumentos e teorias. Duas são as áreas de grande envolvimento com a evolução destas
pesquisas. A Educação Física e a Psicologia buscam a cada dia um número maior de
resultados em pesquisa para que seus profissionais façam de sua atuação algo cada vez mais
competente e sólido no desenvolvimento do homem.
A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
Muitos pesquisadores definem ou apresentam a psicomotricidade para o mundo
científico. Segue algumas das mais importantes citadas pela literatura.
Segundo Le Boulch (1969), a Psicomotricidade:
“Se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais
da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo contribuindo para a
formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para
o desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem,
favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-emocional e sócio-cultural,
buscando estar sempre condizente com a realidade dos educandos.”
Para a língua portuguesa, Ferreira apresenta a seguinte definição: “É a capacidade de
determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais; a atividade ou conjunto de
funções psicomotoras.” (FERREIRA, 1988).
Fonseca (1988) comenta que a "psicomotricidade é atualmente concebida como a
integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o
meio.”
O pesquisador Saboya, 1988 conceitua psicomotricidade como:
“Uma ciência que tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em
movimento, nas relações com seu mundo interno e externo. Em seu estudo, destaca
justamente esta relação entre motricidade, mente e afetividade.”
Para Vanja Ferreira “Psicomotricidade é a ciência da educação que educa o
movimento e ao mesmo tempo coloca em jogo as funções da inteligência. “
“Psicomotricidade é a Interação de diversas funções neurológicas, motrizes e
psíquicas. É essencialmente, a educação do movimento, ou por meio do movimento, que
provoca uma melhor utilização das capacidades psíquicas.” (Francisco Rosa neto, 2002).
Primeiramente a psicomotricidade fixava-se somente no desenvolvimento motor; mais
tarde estudou a relação entre o desenvolvimento motor e intelectual da criança, e só agora
estuda a lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e sua relação com o
desenvolvimento intelectual da criança. A psicomotricidade é a capacidade psíquica de
realizar movimentos, não se tratando da realização do movimento propriamente dito, mas sim
da atividade psíquica que transforma a imagem para a ação em estímulos para os
procedimentos musculares adequados.
Enderle, 1987:
“A Psicomotricidade na sua essência, não é só a chave da sobrevivência, como se
observa no animal e na espécie humana, mas é igualmente, a chave da criação
cultural, em síntese a primeira e última manifestação da inteligência. A
Psicomotricidade, em termos filogenéticos, tem, portanto, um passado de vários
milhões de anos, porém uma história restrita de apenas cem anos. A motricidade
humana, a única que se pode denominar por psicomotora, é distinta da motricidade
animal por duas características: é voluntária e possui novos atributos de interação
com o mundo exterior”.
Conforme Roberto Moraes, 2002(Recreação e jogos escolares pg. 13):
“Toda educação é motora, tudo que falamos é Psicomotricidade. Psicomotricidade é
a fala do corpo. Para desenvolver a criança globalmente, permitindo-lhe uma visão
de um mundo mais real, através de suas descobertas, de sua criatividade, é
fundamental deixar a criança se expressar, analisar e transformar sua realidade”.
Para Francisco Rosa Neto, 2002 “Educação psicomotora é a ação pedagógica e
psicológica que utiliza o movimento com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento
da criança”.
As origens da educação psicomotora remontam aos estudos realizados com crianças
que apresentavam problemas de aprendizagem, mais especificamente, na leitura, na escrita, no
cálculo matemático. Essas crianças muitas vezes, eram também, portadoras de outros desvios
de conduta e de comportamento que em conseqüência também apresentam problemas de
aprendizagem, trabalhando com essas crianças, os franceses, passaram a utilizar métodos
pedagógicos denominados de reeducação psicomotora, cuja, ênfase era posta no domínio
corporal. E quando submetidas a programas de reeducação psicomotora passavam a ter um
desempenho satisfatório. A partir daí que o domínio corporal e as aprendizagens cognitivas
passaram a caminharem juntas.
Para Le Boulch, 2001:
“A Educação Psicomotora refere-se a uma formação de base indispensável a toda a
criança, seja ela normal ou com problemas, pois responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da
criança, e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibra-se através do
intercambio com o ambiente humano. É ação pedagógica que tem como objetivo
principal o desenvolvimento motor e mental da criança, com a finalidade de levá-la
a dominar o próprio corpo e a adquirir uma inibição voluntária, propõe, tem no
movimento espontâneo, sua diretriz fundamental, pois, em qualquer movimento,
existe um condicionante afetivo que determina um comportamento intencional.
Acredita-se que é sempre uma ação motriz, por menos que seja que regula o
aparecimento e o desenvolvimento das formações mentais, é pelo aspecto motor
que a criança estabelece os primeiros contatos com a linguagem socializada.”
A educação psicomotora se limitava a tentar tratar e solucionar os problemas revelados
através dos sintomas; trabalhava a nível preventivo e a nível corretivo-terapêutico. Estes dois
aspectos caminham juntos e se acham envolvidos com os problemas de instabilidade,
inibição, angústia, coordenação geral defeituosa, problemas de orientação espacial e temporal,
de ritmo, de consciência de si, da imagem de si, do esquema corporal. Na prática da
psicomotricidade, a relação mente-corpo passa pela ação motora e pela ação psíquica que
permitem efetuar o despertar da consciência corporal, através dos movimentos e dos
pensamentos, passando também pela história afetiva do indivíduo, a maneira de viver o seu
corpo dá origem à elaboração e a evolução da imagem do corpo e a psicomotricidade permite
descobrir, redescobrir e viver melhor o corpo, o mais importante não são os métodos, as
técnicas e os instrumentos, apesar de indispensáveis, mas sim permitir desabrochar a evolução
positiva do ser tanto na relação consigo mesmo, como com o mundo externo. Noções de aqui
e ali, esquerda, direita, frente, atrás, de cima, de baixo, de dentro e fora são fundamentais para
a orientação do ser humano, no sentido de sua autonomia e de sua independência. Portanto, a
Educação Psicomotora deve ser a ação pedagógica norteadora do trabalho, sobretudo na préescola e nos primeiros anos escolares, pois existe uma necessidade de se introduzir este
conhecimento nestas idades, mas o que não significa que não possa se aplicar nas séries finais
ou em adultos que por sinal, muitas vezes são os que mais precisam, pois além de não se
controlarem, não dominam o seu corpo.
A expressão educar o físico tem uma dimensão bem mais ampla do que simplesmente
ensinar uma modalidade esportiva, melhorar o tônus muscular, melhorar a resistência aeróbia
e anaeróbia de uma pessoa, mas também, levá-la a dominar o corpo em toda a sua dimensão,
seja executando os movimentos mais precisos, sejam os mais amplos, evidenciando controle
neuromuscular.
Segundo Langlade apud Negrine “Educação Psicomotora é a ação psicológica e
pedagógica que utiliza os meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o
comportamento da criança, e também o melhoramento da dimensão biológica”.
Le Boulch (2001) afirma que os movimentos espontâneos dependem das experiências
vividas anteriormente (mesmo não sendo pensadas), pois não se trata de uma memória
intelectual, mas de uma verdadeira memória corporal.
Vayer apud Le Boulch (2001):
”A Educação psicomotora é uma educação global que, associando os potenciais
intelectuais, afetivos, sociais e motores da criança, dá-lhe segurança, equilíbrio e
permite o seu desenvolvimento, organizando corretamente as suas relações com os
diferentes meios nos quais deve evoluir”.
“A psicomotricidade é, inicialmente, uma determinada organização funcional
da conduta e da ação; correlatamente, é certo tipo de prática da reabilitação gestual”. (Jacques
Chauzaud, 1987).
“A psicomotricidade se faz necessária para a prevenção e tratamento de problemas, a
fim de conseguir o máximo do potencial dos alunos, não só motor, mas em outros aspectos da
personalidade, que se inter-relacionem.” (Lorenzon, 1995)
IMAGEM, ESQUEMA, VIVÊNCIA E CONSCIÊNCIA CORPORAL
“A imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio que, como núcleo central da
personalidade, se organiza em um contexto de relações mútuas do organismo e do meio.”
(Solange Valadares e Rogéria Araújo, 1999).
Vayer (1979) descreve a imagem corporal como:
“Resultado complexo de toda a atividade cinética, sendo a imagem do corpo a
síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que
permitiram á criança se diferenciar do mundo exterior e de fazer do ‘’eu’’ o sujeito
de sua própria existência. O esquema corporal pode ser definido no plano educativo
como a chave de toda a organização da personalidade.”
Ajuriaguerra, 1972 diz que:
“A evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez
mais profundo do seu corpo, a criança é o seu corpo, pois é através dele que ela
elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade,
integra e retêm a síntese das atitudes afetivas vividas e experimentadas
significativamente.”
“Esquema corporal é a organização das sensações relativas ao próprio corpo em
conexão com os dados do mundo exterior a utilização da imagem do corpo.” (Solange
Valadares e Rogéria Araújo, 1999).
Para Solange Valadares e Rogéria Araújo a vivência corporal é a consciência das
sensações vinculadas ao próprio corpo, com ou sem segmentos e deslocamentos,
experimentados por um sujeito em uma ou em outra situação.
Kathleen Haywood, 2004:
”Consciência corporal é o reconhecimento, a identificação e a diferenciação da
localização, do movimento e das inter-relações das partes do corpo e das
articulações; também é a consciência que se tem da orientação espacial e da
localização percebida do corpo no ambiente.”
Para Wallon apud Meur:
“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da
personalidade da criança, é a representação relativamente global, cientifica e
diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo”.
Segundo Meur, 1991:
“É a tomada de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas
possibilidades de agir e de expressar-se. A própria criança percebe-se e percebe os
seres e as coisas que a cercam. Em função de sua pessoa, sua personalidade se
desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de sue corpo, de seu
ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a sua volta“.
LATERALIDADE E DIRECIONALIDADE
O termo lateralização, vem do latim que quer dizer ‘’lado’’. São duas as teorias. Uma
refere-se à herança, isto é, a dominância lateral estaria diretamente relacionada com fatores
genéticos e a outra se refere à dominância de um lado do córtex cerebral sobre o outro, isto e,
a dominância hemisférica seria a determinante da lateralização corporal.
Em princípio, dois indivíduos de igual composição genética deveriam possuir a mesma
lateralização, mas o estudo de Zazzo (1960) encontrou contradições na teoria genética, essas
diferenças de lateralidade em gêmeos idênticos tendem a provar que existem também fatores
não genéticos determinantes da lateralidade corporal. Este autor estudou gêmeos
monozigóticos, isto é, indivíduos com a mesma composição genética, encontrando neles
lateralidades diferentes, sempre sem descartar as influências sócio-culturais que podem alterar
a lateralização dos indivíduos.
Quirós e Scharager dizem que: “a lateralidade se refere à prevalência motora de um
lado do corpo, e que esta lateralização motora coincide com a predominância sensorial do
mesmo lado e com as possibilidades simbólicas do hemisfério cerebral oposto.”
Conforme Le Boulch (2001):
”A lateralização é a manifestação de um predomínio motor relacionado com as
partes do corpo que integram suas metades direita e esquerda, predomínio este que,
por sua vez, se vincula á aceleração do processo de maturação dos centros sensóriomotores de um dos hemisférios cerebrais. Já para Defontaine a lateralidade referese à dominância de um lado do corpo sobre o outro.”
Já Fonseca diz que “se trata de um fenômeno morfológico que representa uma forma
de assimetria funcional”.
A lateralidade corporal refere-se ao esquema do espaço interno do indivíduo, que o
capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que o outro, em atividades
que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional.
O corpo humano está caracterizado pela presença de partes anatômicas pares e
globalmente simétricas. Essa simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma assimetria
funcional no sentido de que certas atividades só intervêm em uma das partes. Por exemplo,
escrevemos com uma mão só; os centros de linguagem se situam na maioria as pessoas, no
hemisfério esquerdo. A lateralidade é a preferência de uma das partes simétricas do corpo:
mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios
quanto ao tratamento da informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções.
A ação educativa fundamental para colocar a criança nas melhores condições para
acender a uma lateralidade definida, respeitando fatores genéticos e ambientais, é a que lhe
permita organizar suas atividades motoras.
Gallahue, 2001:
“Uma área de grande interesse para muitos professores é a orientação direcional,
pois é por ela que as crianças são capazes de dar a dimensão a objetos que estão no
espaço externo. Os conceitos de esquerda/direita, para cima/para baixo, topo/fundo,
dentro/fora e frente/trás aperfeiçoam-se por meio de atividades motoras que
enfatizam a direção.”
O estabelecimento da orientação direcional é um processo de desenvolvimento
que se baseia tanto na maturação como na experiência. A lateralização manual surge no fim
do primeiro ano, sendo perfeitamente normal para a criança de 4- 5 anos experimentar
confusão na direção, devendo se preocupar com as de 6-7 anos que de forma consistente
experimenta esses problemas, pois é quando se inicia o ensino da leitura e escrita.
“Lateralidade é a consciência que temos de que o corpo tem dois lados distintos, que
podem se mover independentemente; trata-se de um componente da consciência corporal.”
(Kathleen Haywood, 2004).
Apesar das crianças tipicamente terem consciência do cima-embaixo e do em frenteatrás antes dos três anos, elas desenvolvem o entendimento de que o corpo tem dois lados
distintos, ou lateralidade, com aproximadamente 4 ou 5 anos (Hecaen e Ajuriaguerra, 1964).
A criança aprende a se dar conta de que apesar de suas 2 mãos, 2 pernas e assim por diante
serem do mesmo tamanho e formato, ela pode posicioná-las diferentemente, isto é, denominar
ou identificar essas dimensões.
Uma melhoria relacionada à idade na capacidade de discriminação esquerda-direita
ocorre entre os 4 e 5 anos, com a maioria das crianças respondendo quase que perfeitamente
só por volta dos 10 anos. (Aires, 1969; Swanson e Benton, 1955; Williams, 1973).
Direcionalidade é a capacidade de projetar as dimensões espaciais do corpo no espaço
imediato e de se apoderar de conceitos espaciais sobre o movimento ou localizações de
objetos no ambiente. E esta muitas vezes ligada à lateralidade, pois crianças com um senso de
lateralidade pobre também têm, em geral, pouca direcionalidade.
Para Jacques Chauzaud “a lateralização é definida a partir da confrontação do tônus,
da extensibilidade e do equilíbrio, distinguindo-se, desta forma, a mão e o pé dominante”.
Le Boulch, 2001:
”A lateralização é a tradução de uma assimetria funcional, os espaços motores do
lado direito e do lado esquerdo não são homogêneos, esta desigualdade vai
manifestar-se durante os reajustamentos práxicos de natureza intencional é o
reflexo do predomínio motriz dos segmentos direito e esquerdo, isto é, a ‘’bússola’’
do esquema corporal. O lado esquerdo e o direito não são homogêneos e esta
distinção se manifesta ao longo do desenvolvimento e da experimentação.”
Quirós e Scharager aceitam que, provavelmente, a lateralização final seja alcançada
somente após a plena aquisição da linguagem, por volta dos 10 anos de idade, isto porque a
área temporal da fala se desenvolve mais tarde que a área anterior e em relação mais estreita
com os aspectos acústicos, e possivelmente, também cognitivos e conceituais da linguagem.
Constataram que são poucas as crianças que apresentam uma lateralidade homogênea definida
antes dos 6 anos, aumentando consideravelmente o percentual a partir daquela idade.
A experimentação em atividade manual, pedal, ocular é que favorecerá uma
maturidade do sistema neurológico de acordo com o predomínio interior, favorecendo
sobremaneira a estruturação do esquema corporal. Em conseqüência, o desenvolvimento
psicomotor da criança vem a se constituir em um pré-requisito para as aprendizagens
cognitivas.
De acordo com Roberto Moraes, 2002:
”Lateralidade é a dominância de um lado em relação a outro, e a Reversibilidade é a
possibilidade de reconhecer a mão direita ou esquerda de uma pessoa á sua frente,
podendo ser abordada aos 6 anos de idade, e se processa na criança ao mesmo
tempo em que a localização do próprio corpo e a organização do espaço.Para as
crianças, a lateralidade normalmente se define entre os 5 e 7 anos.por isso,as
crianças do Pré-escolar devem ter a sua disposição objetos grandes,como
pneus,caixas e bolas,para ser transportados e manuseados.Deverão também
trabalhar com objetos pequenos para desenvolver a coordenação motora fina,isto é,
a coordenação funcional das mãos e dos dedos .É através de movimentos, rastejar,
engatinhar e andar, que a criança adquire as primeiras noções de espaço: perto,
longe, dentro, fora, em cima, embaixo, é, pois, partindo do seu próprio corpo e com
referência a ele que a criança vai elaborar sua organização espacial”.
“É uma sensação interna de que o corpo tem dois lados e duas metades que não são
exatamente iguais”. Holle
Para Zazzo e Ajuriaguerra apud:
“A lateralidade representa o predomínio normal de um lado do corpo. O
fortalecimento da lateralidade é importante para a criança, por constituir a base de
orientação espacial e da coordenação geral. Esse fortalecimento pode ser treinado
durante a evolução neurológica. Antes, a criança utiliza, indistintamente, os dois
lados do corpo e, com a maturação do organismo, vai estabelecendo preferência por
um dos lados. È uma fase que pode ser influenciada por estimulações do meio.”
Segundo Francisco Rosa neto, 2002:
“Lateralidade é a preferência lateral direita ou esquerda, dos seguimentos: corporal,
sensorial e neurológico (mão, pé, olho, ouvido e hemisfério cerebral.). A maturação
ocorre durante o processo evolutivo do ser humano e depende de fatores genéticos e
ambientais. Por volta dos seis anos, um aluno tem condições de manifestar, como
segurança, sua preferência lateral.”
Zangwill, 1975 apud Fonseca escreve: “a lateralização basicamente inata é governada
por fatores genéticos, embora a treinabilidade e os fatores de pressão social a possam
influenciar.” Razão esta pela qual é muito importante pesquisar os antecedentes da preferência
manual, principalmente quando em presença de crianças com preferência manual esquerda.
A preferência pela lateralidade manual à direita é superior à mista em 36% e essa
superior a manual esquerda em 26%.
A influência dos fatores evolutivos antropológicos e bioculturais como a caça, a
produção e a utilização de instrumentos, a guerra, a evolução tecnológica e
fundamentalmente, a invenção de códigos de comunicação e a linguagem, marcam a sua
influencia determinante quanto à preferência manual e a coordenação bimanual. A
lateralização pode ser causada por diferenças acidentais que ocorrem no desenvolvimento
embriológico dos dois lados do corpo e, por conseguinte, surgir como resultado do acaso.
Para Annett (1981): “o fato da distribuição humana pender para a direita reflete uma
influência sistemática de algo mais importante que a teoria do acaso.”
Ayres 1971, afirma que:
“Quando uma criança não atinge a dominância manual numa idade adequada, a
presença de sinais disfuncionais intra ou inter-hemisféricos pode interferir com o
desenvolvimento psicomotor e com o potencial cognitivo. Em resumo a
lateralização, traduz a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do
corpo, transformando-se numa espécie de radar endopsíquico de relação e de
orientação com e no mundo exterior. Em termos de motricidade, relata uma
competência operacional, que preside a todas as formas de orientação do
individuo.”
“Nas diversas etapas do desenvolvimento da criança, diante da dificuldade da imitação
de um gesto, a resposta tende a ser dada, numa perspectiva de maior facilidade, pelo membro
dominante.” (Bergés, 1987)
Negrine, 1986, conceitua:
“Lateralidade é a dominância de um dos lados do corpo em todas as tarefas
propostas quanto à habilidade de mão, pé e de olho. Denominaram-se destros
aqueles com dominância do lado direito do corpo e canhotos os que apresentarem
dominância do lado esquerdo do corpo.”
O ESQUEMA CORPORAL
Para Holle, é necessário que a criança adquira primeiro, certo grau de
consciência corporal, antes que possa desenvolver a dominância manual e a lateralidade; que
a lateralidade é experimentada principalmente com o auxilio do sentido cinestésico reforçado
pela visão, levando a criança a distinguir a direita e a esquerda dentro de si mesma, e esta
consciência da lateralidade e da discriminação de direita e esquerda ajudará a perceber os
movimentos do corpo e no espaço e no tempo. A noção de direita e esquerda, na estruturação
do esquema corporal, refere-se ao espaço externo do indivíduo, isto é, noção espacial ou
direcionalidade, e em contrapartida a lateralidade refere-se ao espaço interno do indivíduo e
independe da discriminação de direita e esquerda. Isto significa que a lateralidade se afirma
apartir dos estímulos que nascem de dentro, e a organização espacial se estrutura a partir dos
estímulos exteriores.
Na estruturação do esquema corporal, existem indicadores que evidenciam que as
crianças que apresentam de forma precoce certa tendência manual são aquelas que indicam
maturação psicomotora geral; de forma inversa, uma lateralização retardada ou indefinida
vem acompanhada de sintomas de imaturidade cerebral e, especialmente, de uma aquisição
tardia ou perturbada da linguagem. É importante deixar claro que a lateralidade é uma das
variáveis do esquema corporal, e que o aspecto fundamental é que a criança não seja forçada a
adotar esta ou aquela postura, mas que se criem situações onde ela possa expressar-se com
espontaneidade, e a partir da experiência vivenciada com o corpo, defina o seu lado
dominante, sem pressões de qualquer ordem do meio exterior.
Wallon apud Meur, 1991:
“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da
personalidade da criança, é a representação relativamente global, cientifica e
diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. É a tomada de consciência,
pela criança, de possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e de
expressar-se.”
A própria criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função
de sua pessoa, sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de
consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a
sua volta. A criança se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em que o
conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para
agir.
A estruturação espaço-temporal fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o
qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia apreender o
espaço que a rodeia. Assim nos parece lógico abordar a Psicomotricidade através da
constituição do esquema corporal antes da estruturação espacial ou temporal. Além disso, a
forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas
relações com coisas ou pessoas. Esse aspecto psicológico muito importante ajuda-nos a
identificar melhor certas perturbações devidas a fatores afetivos, chamando também a atenção
para a possibilidade de melhorar a vida social e afetiva das crianças, tornando precisas a suas
noções corporais e fazendo com que adquiram gestos precisos e adequados.
A lateralidade corporal assim como a dominância hemisférica e a linguagem estão
geneticamente pré-determinadas em nossa espécie, ou seja, existe a possibilidade de se obter
estas capacidades, mas é preciso tempo para desenvolvê-las. O ambiente cultural parece ser
muito importante, podendo antecipar estas aquisições ou retardá-las, ou ate mesmo
proporcionar, no caso da lateralização, definições contrarias a predominância biológica.
O desenvolvimento psicomotor da criança, em primeiro lugar, é determinado por um
desenvolvimento neurológico normal e, em segundo lugar pela experiência vivenciada pelo
próprio corpo. As capacidades corporais são adquiridas pela experiência adquirida em
atividades diversificadas que vão constituindo um tipo de memória corporal, que é adquirida
através da experiência vivida pelo corpo, sendo pré-requisito para as aprendizagens
posteriores que requerem habilidades mais complexas. Para que isto ocorra, faz-se necessário
que, na ação educativa (pais) e na ação pedagógica (professores), a criança não seja tolhida na
sua exploração do espaço e, ao mesmo tempo, se crie um ambiente que favoreça o
desenvolvimento de potencialidades.
Geralmente na maioria das tentativas de descobrir o mundo exterior evidenciadas
pelas crianças, ela é barrada pelos ‘’não’’ a isto e ‘’não” àquilo, e as conseqüências não são
somente de ordem psíquica, mas como o indivíduo constitui um todo, essas limitações se
tornam como que um ‘’freio’’ no desenvolvimento da criança.
Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação ao outro, a
nível da força e da precisão) e conhecimento’’esquerda-direita’’ (domínio dos termos e
conhecimento de ’’esquerda’’ e ‘’direita’’ ).
O conhecimento’’esquerda-direita’’ decorre da noção de dominância lateral, é a
generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança; esse conhecimento
será mais facilmente apreendido quanto mais acentuada e homogênea for a lateralidade da
criança,com efeito se a criança percebe naturalmente, fazendo parte da estruturação espacial
por referir-se a situação dos seres e das coisas , mas estando vinculado a noção de dominância
lateral que colocamos essa aprendizagem imediatamente após a da lateralidade.
O conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos 5 ou 6 anos e a
reversibilidade não pode ser abordada antes dos 6, 6 anos e meio. De fato esse estudo precede
os exercícios de simetria e orientação espacial.
A lateralidade e a orientação espacial são coisas distintas. A orientação espacial ou
direcionalidade, portanto, vai se estabelecendo em função dos estímulos externoceptivos,
vindos do meio onde a criança está inserida; já a lateralidade se estabelece em função dos
estímulos internos que nascem do corpo, os proprioceptivos. Quanto mais variadas forem as
experiências corporais de uma criança, mais rapidamente se processarão os ajustamentos das
praxias motoras, onde o movimento desempenha um papel prioritário.
À medida que se desenvolve a percepção, a orientação espacial da criança vai-se
tornando cada vez mais precisa, permitindo movimentos mais definidos, em que a
gestualidade passa a desempenhar um papel importante. As limitações que a criança apresenta
na orientação espacial podem tornar-se fator determinante nas dificuldades de aprendizagem
evidenciadas no período de alfabetização. Partindo da orientação espacial, a criança estrutura
seu espaço circundante na identificação e discriminação dos símbolos gráficos.
ORIENTAÇÃO ESPACIAL
De acordo com João Batista Freire a noção espacial se forma a partir da relação da
criança com o espaço.
Conforme Francisco Rosa neto, 2002: “Organização espacial é o desenvolvimento das
capacidades vinculadas ao esquema corporal e a organização perceptiva tendentes ao domínio
progressivo das relações espaciais”.
“Percepção Espacial refere-se às noções de espaço que influem na capacidade para
lidar com noções referentes á dinâmica a orientação e estruturação espacial”. (Vayer)
Para Solange Valadares e Rogéria Araújo
”A organização espacial depende, ao mesmo tempo, da estrutura de nosso próprio
corpo (estrutura anatômica, biomecânica, fisiológica e etc.,), da natureza do meio
que nos rodeia e de suas características. A percepção que temos do espaço que nos
rodeia e das relações entre os elementos que o compõem evolui e modifica-se com
a idade e com a experiência. Essas relações chegam a ser, progressivamente,
objetivas e independentes.”
ORGANIZAÇÃO TEMPORAL
É a capacidade de avaliar tempo dentro da ação, organizar-se a partir do próprio ritmo,
situar o presente em relação a um antes e a um depois; é avaliar o movimento no tempo,
distinguir o rápido do lento. É saber situar o momento do tempo em relação aos outros.
(Freire, 1999).
CONCLUSÃO
Depois de ler muito, concluí que a psicomotricidade favorece à criança uma relação
consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando um melhor
conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades. O desenvolvimento psicomotor depende
de fatores genéticos, aspectos do meio ambiente e influências psicológicas que a criança
experimenta durante o processo de desenvolvimento, e principalmente a estimulação
oferecida seja ela em casa, ou por um profissional na escola.
Creio que a educação psicomotora é muito útil para os que necessitam de ajuda em seu
comportamento e para o desenvolvimento não só de crianças com alguma dificuldade
cognitiva ou afetiva, mas também para se desenvolver socialmente todas as crianças.
Neste sentido acredito que a Educação Física deve ter como proposta educar através
do corpo, proporcionando o desenvolvimento das potencialidades da criança, norteando suas
atividades com a finalidade de oferecer a aprendizagem em um ou vários esportes, criar o
hábito da atividade física como meio de conservar a saúde física e mental, buscar o equilíbrio
sócio-afetivo, tendo como meta o desenvolvimento psicossocial de uma pessoa, buscando
desta forma integrá-la melhor no meio no qual está inserida.
A criança tem que conhecer seu corpo, saber seus limites, para assim conhecer o
espaço que a cerca, podendo transformar não só este mundo, mas sua personalidade. Então,
uma criança que tenha desenvolvido adequadamente o conceito de lateralidade não necessita
basear-se só em indicações externas para determinar a direção, ela não precisa, por exemplo,
ter um laço de fita amarrado ao pulso para lembrar qual lado é o esquerdo e qual o direito.
Mas necessita de uma sensação das dimensões espaciais do corpo, tal como em cima e
embaixo, que elas normalmente dominam as dimensões em cima-embaixo primeiro, depois
frente - trás, e, finalmente, lateral, por ter que distinguir entre dois lados aparentemente iguais,
tornando este processo às vezes mais lento, pois existem muitos adultos que ainda encontram
dificuldades. Também acredito que a lateralidade corresponde a dados neurológicos, e que
também é influenciada por certos hábitos sociais e culturais.
Acredito que todas as modalidades sensoriais participam em certa medida na
percepção espacial, pois as informações recebidas designam nossa habilidade para avaliar
com precisão à relação física entre nosso corpo e o ambiente, e para efetuar as modificações
no curso de nossos deslocamentos. É da interação e integração das informações externas e
internas que provém nossa organização. As crianças elaboram pouco a pouco esta evolução da
aquisição de uma dimensão da orientação espacial (direita e esquerda), se estabelece de forma
progressiva à evolução mental da criança, a aquisição e a conservação das noções de
distância, superfície, volume, perspectivas e coordenadas que determinam suas possibilidades
de orientação e de estruturação do espaço em que vive. Não podemos então deixar que estas
noções tão importantes no desenvolvimento passem em branco; devemos proporcionar
situações que tenham estas vivências mesmo que mais tarde.
Crianças mais estimuladas terão um melhor desempenho. Uma criança que conhece
bem seu corpo, suas limitações, que utiliza os movimentos corretamente, melhora em
comportamento, podendo até sanar problemas de aprendizagem, sejam na leitura, na escrita,
cálculos matemáticos, ou em outros desvios de conduta e comportamento, pois para muitos o
que mais precisam é saber se controlar e dominar o próprio corpo. Por isto penso eu que aulas
que envolvam jogos e brincadeiras psicomotores são muito úteis no âmbito escolar, pois os
alunos devem tomar conhecimento destes conceitos de extrema importância para um melhor
rendimento em sala de aula, e nada melhor que aprender brincando, sem o comprometimento
com o aprender realmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MORAES, Roberto Marques. Recreação e Jogos escolares: o movimento Infantil.
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ROSA NETO, Francisco. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Capturado em: http://www.psicomotricidade.com.br/historico.htm, disponível em 02
de maio de 2008.
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