VICTOR MEIRELES GOMES MOURA ANÁLISE DO ATENDIMENTO E ESTOQUES INFLUENCIADOS PELA MUDANÇA DO MÉTODO DE PLANEJAMENTO: USO DO MRP VERSUS UM SISTEMA PUXADO COM USO DO KANBAN JOINVILLE - SC 2006 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS VICTOR MEIRELES GOMES MOURA ANÁLISE DO ATENDIMENTO E ESTOQUES INFLUENCIADOS PELA MUDANÇA DO MÉTODO DE PLANEJAMENTO: USO DO MRP VERSUS UM SISTEMA PUXADO COM USO DO KANBAN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC do Curso de Engenharia: Habilitação em Produção e Sistemas, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Evandro Bittencourt JOINVILLE - SC 2006 VICTOR MEIRELES GOMES MOURA ANÁLISE DO ATENDIMENTO E ESTOQUES INFLUENCIADOS PELA MUDANÇA DO MÉTODO DE PLANEJAMENTO: USO DO MRP VERSUS UM SISTEMA PUXADO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC do Curso de Engenharia: Habilitação em Produção e Sistemas, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Produção e Sistemas. BANCA EXAMINADORA Orientador: ______________________________________________ Evandro Bittencourt, Dr. Eng. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Membro: ______________________________________________ Dario Nolli, Dr. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Membro: ______________________________________________ Régis Kovacs Scalice, Dr. Eng. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Joinville, 28/11/2006 Aos meus familiares, meus pais, meu irmão e minha irmã, que sempre me incentivaram e apoiaram, tornando minha caminhada a mais solene possível. À minha namorada, que me ajudou a compreender o mundo com o sentimento do amor. À todos os mestres da minha vida acadêmica e profissional, que me ensinaram muito mais que conceitos. À todos meus verdadeiros amigos. Em memória de meu avô, que verá, de onde estiver, seu netinho se formando em engenharia. À Deus, que nos deu a vida. “Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam” Henry Ford RESUMO Este trabalho objetivou o estudo de dois conceitos distintos de planejamento de produção, o MRP e o sistema puxado com a utilização do kanban, tendo como fundamentação o detalhamento bibliográfico destes. Pelo fato de considerar relevantes comparações práticas entre atendimento e indicador de estoques, o uso de um case empresarial apresenta a implantação destas lógicas concluindo com a identificação dos cenários mais adequados para cada uma. A partir desse tema, escolhido por ser amplamente utilizado no atual cenário empresarial pela difusão das técnicas japonesas de produção, o estudo pode apresentar uma tendência baseada em conceitos teóricos comprovados no dia-a-dia do chão de fábrica, bem como auxiliar à tomada de decisão do melhor método de ressuprimento a ser utilizado, reduzindo os desperdícios encontrados no estado atual e garantido um bom nível de serviço. O estudo de caso deu-se em uma multinacional do ramo de eletrodomésticos, onde atingiu-se uma redução de 1,32 dias de estoque com melhoria do nível de atendimento de 95,81% para 99,12%. PALAVRAS-CHAVE: MRP. Kanban. Estoque. Atendimento. Planejamento. LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Desenho esquemático do Planejamento de necessidades de materiais (MRP I) ......................................................................................................................20 Figura 02 – Estrutura de uma mesa como produto final............................................23 Figura 03 - O cálculo das necessidades líquidas no MRP ........................................26 Figura 04 – Redução dos estoques para expor os problemas do processo..............35 Figura 05 – Opções sistemas kanban .......................................................................39 Figura 06 – Subdivisões dos cartões kanban............................................................40 Figura 07 – Cartão kanban de produção ...................................................................41 Figura 08 – Cartão kanban de produção ...................................................................41 Figura 09 – Cartão kanban de requisição .................................................................42 Figura 10 – Cartão kanban de requisição .................................................................43 Figura 11 – Painel Porta-kanban...............................................................................44 Figura 12 – Painel Porta-kanban – Exemplo prático .................................................45 Figura 13 – Painel Porta-kanban Informatizado – Exemplo prático...........................45 Figura 14 – Quadrado kanban – Exemplo prático .....................................................46 Figura 15 – Kanban Contenedor – Exemplo prático..................................................47 Figura 16 – Consumo kanban com cartão único. ......................................................48 Figura 17 – Produção kanban com cartão único. ......................................................48 Figura 18 – Consumo kanban com cartões duplos. ..................................................49 Figura 19 – Produção kanban com cartões duplos. ..................................................50 Figura 20 – Quadrantes de escolha dos itens kanban. .............................................51 Figura 21 – Dimensionamento por cores. .................................................................52 Figura 22 – Evolução Atendimento 2005 e parciais (jan-maio) 2006 ........................55 Figura 23 – Estoques em dias durante o mês de maio/2006 ....................................56 Figura 24 – Atendimento durante o mês de maio/2006.............................................56 Figura 25 – Atendimento x Alterações na linha de montagem ..................................57 Figura 26 – Produção baseada no consumo real – Sinalização da situação do estoque .....................................................................................................................59 Figura 27 – Análise de quantidade de itens em cada quadrante do gráfico quantidade x freqüência ............................................................................................60 Figura 28 – Representatividade de Porcentagem de não atendimento por quadrante ..................................................................................................................61 Figura 29 – Fluxo previsto para a área – Válido para itens quadrante I e IV.............62 Figura 30 – Substituição do kanban com fichas para níveis visuais..........................63 Figura 31 – Kanban níveis visuais.............................................................................64 Figura 32 – Supermercado kanban níveis visuais.....................................................65 Figura 33 – Atendimento pós implantação ................................................................66 Figura 34 – Estoques pós implantação .....................................................................66 Figura 35 – Boxplot de estoque antes e depois ........................................................67 Figura 36 – Atendimento antes e depois ...................................................................68 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Estrutura Indentada da mesa MP1000 ..................................................24 Tabela 02 – Registro básico do MRP ........................................................................27 Tabela 03 – Explosão do MRP – exemplo da mesa..................................................29 Tabela 04 – Explosão do MRP – exemplo da mesa..................................................30 Tabela 05 – Número de desvios para alguns níveis de serviço ................................32 Tabela 06 – Dimensionamento médio – kanban x MRP – Itens quadrante I e IV .....61 Tabela 07 – Regra criada para planejamento Kanban ..............................................69 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 INTRODUÇÃO ...............................................................................................11 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .........................................................................11 OBJETIVO GERAL.........................................................................................12 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................................12 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO.....................................................................12 METODOLOGIA .............................................................................................13 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................13 2 2.1 2.2 2.2.1 2.3 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 2.4.5 2.4.6 2.4.7 2.4.8 2.5 2.5.1 2.6 2.6.1 2.6.2 2.6.3 2.6.4 2.6.5 2.6.6 2.6.7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................15 CONCEITO DE PLANEJAMENTO .................................................................15 CONCEITO DE ESTOQUE ............................................................................15 Funções dos Estoques................................................................................16 CONCEITO DE ATENDIMENTO....................................................................16 MRP - MATERIAL REQUIREMENT PLANNING ............................................17 Origem do MRP ..........................................................................................18 Conceito de Cálculo de Necessidade de Materiais .....................................18 Necessidades para execução do MRP .......................................................20 Programa-Mestre de Produção ...................................................................20 Lista de Materiais ........................................................................................22 Registros de estoques ................................................................................25 Cálculo do MRP ..........................................................................................25 Parametrização Fundamental do Sistema MRP .........................................31 JIT - JUST IN TIME ........................................................................................33 Objetivos do Sistema “Just In Time” ...........................................................34 KANBAN.........................................................................................................36 Regras de Funcionamento do Sistema Kanban..........................................37 Funções do Kanban ....................................................................................38 Tipos de Kanban .........................................................................................43 A Dinâmica do Sistema Kanban com Um Cartão .......................................47 A Dinâmica do Sistema Kanban com Dois Cartões ....................................49 Escolha dos Itens kanban ...........................................................................50 Determinação do Número de Cartões Kanban ...........................................51 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 O CASO WHIRLPOOL S.A............................................................................53 APRESENTAÇAO DA EMPRESA..................................................................53 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR ANALIZADO..............................................54 LEVANTAMENTO DE DADOS E ANÁLISE DO PROBLEMA ........................54 NECESSIDADES E SOLUÇOES LEVANTADAS...........................................58 ANÁLISE DAS SOLUÇOES E RESULTADOS...............................................64 CONSIDERAÇOES FINAIS ......................................................................................70 REFERÊNCIAS.........................................................................................................73 APÊNDICES .............................................................................................................75 11 1 1.1 INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO DO PROBLEMA As constantes mudanças no mercado competitivo, atualmente, levam cada vez mais as empresas a buscarem melhorias contínuas em seus processos, visto que, para manter os lucros previstos e ao mesmo tempo não afetar a competitividade de seus produtos aumentando preços ao consumidor, o custo de produção deve ser o mais enxuto possível. Como parte da formação destes custos, o estoque tem grande influência, entretanto uma redução significativa dele precisa ser amplamente planejada e estudada, pois ele pode surpreender com problemas até então ocultos aos gestores. Como forma de acompanhar tal melhoria, o indicador de atendimento pode apresentar o quanto esta redução de estoques está sendo eficaz e promover outras melhorias no processo como um todo. Desta maneira, o presente estudo visa focar como as alterações no método de planejamento, usando o MRP e o sistema puxado, podem atender tal necessidade de aperfeiçoar o processo produtivo. Sabendo que o cenário inicial da área onde o estudo de caso é aplicado, possui tendência visível de problemas de atendimento, mesmo que com elevados estoques, o estudo objetiva sanar este problema que impacta, embora não visível ou estratificado, no resultado da empresa. 12 1.2 OBJETIVO GERAL Dado o cenário descrito acima, este trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem do MRP e do sistema puxado, analisando os impactos de cada método na cadeia produtiva, focado no nível de estoques e no índice de atendimento proporcionado. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Como objetivos específicos deste trabalho, podem-se destacar: • Apresentar os conceitos de estoque e atendimento; • Apresentar o MRP e sua lógica de cálculos; • Introduzir o JIT e apresentar uma de suas ferramentas - o Kanban; • Testar hipóteses, implementar a solução e avaliar os resultados na empresa focada. 1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO O presente trabalho restringe-se à análise do atendimento e dos estoques no sistema puxado e MRP. O estudo foi aplicado a um determinado fluxo de produção de uma empresa multinacional do ramo de eletrodomésticos, envolvendo a área produtiva e a área consumidora, com comparações mensais que podem ser validadas, pelo fato de que, mesmo em meses distintos, apresentarem impactos e oscilações similares. Delimita-se o estudo da saída de dados destes dois sistemas, e 13 demonstração da lógica de cálculos utilizada em seu processamento, não visando, por outro lado, as possíveis melhorias na entrada de dados nestes sistemas. 1.5 METODOLOGIA Em função deste trabalho buscar resposta ao problema proposto, ele pode ser classificado como uma pesquisa. Além disso, com base nos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratória que visa a familiaridade com o problema, buscando torná-lo explícito e aprimorar as idéias. Do ponto de vista de procedimentos técnicos, é uma pesquisa-ação, pois o pesquisador é responsável pela busca da solução para o problema dentro do cenário empresarial. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO O documento é dividido em quatro partes, sendo que a primeira apresenta os conceitos fundamentais mais relevantes, as duas subseqüentes tratam da fundamentação teórica sobre o MRP e o sistema puxado e a última, apresenta o estudo de caso que utiliza esta fundamentação como base para a análise de seus resultados. O capítulo 2 aborda os conceitos e métodos de planejamento e estoques, de forma que, na etapa de formação fundamental, são expostos essencialmente pontos intrinsecamente ligados ao tema do presente estudo, para facilitar o entendimento dos demais capítulos. 14 No que tange ao MRP, a segunda grande etapa deste capítulo é apresentada em oito subdivisões, um breve histórico, o formato de cálculo utilizado pelo MRP e o que se utiliza para tal. Em seguida, é apresentado através de um exemplo bastante didático, como uma rodada do MRP mostraria as necessidades do sistema produtivo, comparando com previsões de atendimento e estoques. Por fim, a parametrização do sistema é focada como um fator decisivo para o cálculo. A terceira etapa é destinada ao estudo do Just In Time, focando no Kanban, suas regras e características, bem como tipos e exemplos práticos de implementações. Com fácil ligação à propostas de estoque para o sistema, esta etapa apresenta contrapontos ao estudo do MRP visto anteriormente. Neste sentido é apresentado o estudo de caso no capítulo 3, com características particulares, estudos comparativos e análises dos resultados. Como finalizações do trabalho, encontram-se as considerações finais abrangendo as recomendações e referências utilizadas. 15 2 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA CONCEITO DE PLANEJAMENTO Segundo Correa et al. (2001, p. 37), “planejar é entender como consideração conjunta da situação presente e da visão do futuro, influencia as decisões tomadas no presente para que se atinjam determinados objetivos no futuro”. Já Martins e Laugeni (2005, p. 226) definem planejamento de forma mais macro sendo um “processo lógico que descreve as atividades necessárias para ir do ponto no qual nos encontramos até o objetivo definido”. Entretanto, ambos enfatizam aspectos importantes para um bom processo de planejamento, como clareza nos objetivos definidos, um conhecimento fiel da realidade presente e a importância de um sistema que traduza adequadamente essas visões. 2.2 CONCEITO DE ESTOQUE Para Correa et al. (2001, p. 49), “estoques são acúmulos de recursos materiais em fases específicas de processos de transformação”. Estes estoques podem ser utilizados de forma positiva ou acarretar algo negativo à organização. Subdividem estoques em: • Matéria-prima – entre fornecedor e processo de transformação; • Material Semi-acabado – entre processos de transformação para se obter o produto acabado; 16 • Produtos Acabados – entre a indústria e o cliente ou revenda. 2.2.1 Funções dos Estoques Tubino (2000) destaca as seis principais funções do estoque: • Garantir a independência entre as etapas produtivas; • Permitir uma produção constante; • Possibilitar o uso de lotes econômicos; • Reduzir os lead times produtivos; • Fator de segurança; • Obtenção em vantagens de preços. Segundo Shingo (1996, p. 38) “[...] a presença de estoque tem o efeito de abrandar ou resolver uma série de problemas de produção. Na verdade, pode-se argumentar que ele tem um efeito narcotizante”. Ele ainda complementa afirmando que “[...] estoque é considerado um mal absoluto que dever ser totalmente eliminado”. 2.3 CONCEITO DE ATENDIMENTO “Atendimento, num processo produtivo, está intrinsecamente ligado à entrega do volume de produção planejado ao cliente subseqüente, seja ele interno ou externo” (FULLMANN et al., 1989 p. 54). O atraso na entrega é definido por Martins e Laugeni (2005, p.332) como 17 “atrasar a entrega dos pedidos até quando haja disponibilidade de recursos para executá-los. Há o risco de desagradar os clientes, com todos os custos decorrentes e com a possível perda deles”. Nesta afirmação há um contraponto com Shingo (1996), quando este último considera o estoque como um mal absoluto, não considerando-o como uma forma de garantir o atendimento dentro de cenários adversos. Já segundo Fullmann et al. (1989) a principal razão pela qual o atendimento ao cliente é importante, mesmo sendo difícil quantificá-lo, é a possibilidade de se afetar vendas futuras pela instabilidade do seu processo de entrega de produtos. 2.4 MRP - MATERIAL REQUIREMENT PLANNING Slack et al. (1999, p.326) definem MRP de duas formas diferentes, porém relacionadas, “elas auxiliam as empresas a planejar e controlar suas necessidades de recursos com o apoio de sistemas de informação computadorizados. O MRP tanto pode significar o planejamento de necessidades de materiais como o planejamento dos recursos de manufatura”. “A sigla MRP ou MRP I, vem do idioma inglês, originalmente material requirement planning” (TUBINO, 2000 p.129). 18 2.4.1 Origem do MRP “O MRP surgiu da necessidade de se planejar o atendimento da demanda dependente, isto é, que decorre da demanda independente” (MARTINS e LAUGENI, 2005, p. 354), que de acordo com Slack (1999), são aquelas fora do controle da empresa. Slack et al. (1999, p.327) ainda afirmam que, “Oliver Wight, que, juntamente com Joseph Orlicky, é considerado o pai do MRP moderno, descreveu o planejamento dos recursos de manufatura como um “plano global” para a empresa”. Com essa concepção, o MRP precisava evoluir pelo fato de que, [...] até os anos 60, as empresas sempre tiveram que executar cálculos manualmente, de modo a garantir que teriam disponíveis os materiais certos nos momentos necessários. Entretanto, com o advento dos computadores e a ampliação do seu uso nas empresas a partir dos anos 60, surgiu a oportunidade de se executarem esses cálculos detalhados e demorados, com o auxilio de um computador, de forma rápida e relativamente fácil. Durante os anos 80 e 90, o sistema e o conceito do planejamento das necessidades de materiais expandiram e foram integrados a outras partes da empresa (SLACK et al.,1999, p.327). 2.4.2 Conceito de Cálculo de Necessidade de Materiais Para Correa et al. (2001, p. 88), O conceito de necessidades de materiais [...] baseia-se na idéia de que, se são conhecidos todos os componentes de determinado produto [...], podemos, com base na visão de futuro das necessidades de disponibilidade do produto em questão, calcular os momentos e as quantidades que devem ser obtidas, de cada um dos componentes para que não haja falta nem sobra de nenhum deles, no suprimento das necessidades dadas pela produção do referido produto. Slack et al.(1999) apresentam, didaticamente, como funciona o cálculo de necessidade de materiais através do exemplo de uma festa que você pretende 19 planejar para daqui a 2 semanas na sua residência. Seriam convidados 40 pessoas, que possuem distintos gostos como cerveja, refrigerante ou vinho, além de sanduíche e aperitivos – que você também está disposto a servir. Antes de realizar as compras, certamente serão verificados os estoques já existentes para que não sejam adquiridos produtos desnecessários; Por outro lado, se alguns pratos são gerados através de uma receita, é necessário se multiplicar os ingredientes pelo equivalente número de pessoas, utilizando a mesma estratégia de se analisar anteriormente o que já se possui, a fim de não ocorrer falta ou excessos. Além de calcular o quanto é necessário de cada item, talvez queira considerar a possibilidade de preparar e congelar parte da comida na semana anterior, enquanto o resto será preparado no dia anterior ou no próprio dia da festa. Portanto, deverá decidir quando cada item será necessário, de modo que possa comprar no momento correto. Ao planejar sua festa, você estará tomando uma série de decisões inter-relacionadas sobre o volume (quantidade) e o momento em que os materiais serão necessários.[...] Empresas de manufatura podem fabricar e vender centenas de diferentes variações de produtos finais, para centena de clientes regulares, assim como para centenas de clientes que só compram ocasionalmente. Muitos desses clientes podem variar sua demanda pelos produtos. As implicações disso são similares às de preparar 75 festas numa semana, 40 na próxima, 53 na seguinte, todas para diferentes grupos de convidados com diferentes necessidades, que mudam constantemente de idéia sobre o que querem comer e beber. (SLACK et al.,1999, p.327) Correa et al. (2001), também utilizam um exemplo similar para apresentar didaticamente este conceito. Para eles, além da quantidade, é enfatizado que se possua no tempo correto anteriormente a ação, o planejamento desta, a fim de se otimizar o tempo total empregado. Para ambos os casos, tornam-se evidente inicialmente, que é necessário um estudo sobre a demanda a ser avaliada para a obtenção do produto final – no exemplo detalhado, o número de participantes da festa. 20 2.4.3 Necessidades para execução do MRP “Para executar os cálculos de quantidade e tempos descritos, [...] os MRP normalmente requerem que a empresa mantenha certos dados em arquivo de computador, os quais, quando o programa MRP I é rodado, podem ser verificados e atualizados” (SLACK et al.,1999, p.328). As entradas e saídas do MRP são mostradas na figura 01, apresentando as necessidades para se obter o planejamento das necessidades de materiais, que por sua vez geram os planos ou ordens. Carteira de Pedidos Lista de Materiais Ordens de Compra Programamestre de produção Planejamento das Necessidades de Materiais Planos de Materiais Previsão de Vendas Registros de Estoques Ordens de Trabalho Figura 01 - Desenho esquemático do Planejamento de necessidades de materiais (MRP I) Fonte: Slack et al.,1999, p.329 2.4.4 Programa-Mestre de Produção Tubino (2000, p.88) define programa-mestre da produção como “[o] 21 encarregado de desmembrar os planos produtivos estratégicos de longo prazo em planos específicos de produtos acabados [...] para o médio prazo, no sentido de direcionar as etapas de programação e execução das atividades operacionais da empresa”. Já Correa et al. (2001, p. 204) acrescentam que “[o programa mestre de produção] coordena a demanda do mercado com os recursos internos da empresa”. Ambos, entretanto, concordam com Slack et al. (1999) quando estes são incisivos ao afirmar que o importante é que todas as fontes de demanda sejam consideradas, bem como os estoques definidos. O programa-mestre de produção é constituído de registros com escala de tempo que contém, para cada produto final, as informações de demanda e estoque disponível atual. Usando esta informação, o estoque disponível é projetado à frente no tempo. Quando não há estoque suficiente para satisfazer a demanda futura, quantidades de pedidos são inseridas na linha do programa-mestre. (SLACK et al.,1999, p.333) 2.4.4.1 Previsão de Demanda A previsão de demanda é ironicamente descrita por Slack et al.(1999, p.331): “Dirigir uma empresa que utiliza previsões baseadas no passado pode ser comparado a dirigir um carro olhando apenas no espelho retrovisor. Apesar das dificuldades, muitas empresas não têm alternativas – devem fazer previsões”. Essas previsões, de acordo com Tubino (2000), são compostas por cinco etapas básicas (objetivo do modelo, coleta e análise de dados, seleção da técnica de previsão, obtenção de previsões, monitoração do modelo) e consistem em modelos matemáticos a fim de minimizar possíveis erros. 22 2.4.5 Lista de Materiais Para o cálculo do MRP é necessário a lista de materiais, do inglês bill of material, que “mostra quais e quantos itens são necessários para fabricar ou montar outros itens” (SLACK et al.,1999, p.336). Este é o conceito básico da BOM, visto que atualmente ela apresenta outras variáveis como roteiro de fabricação e custos. Da mesma maneira que poderíamos utilizar uma estrutura para apresentar a receita do sanduíche, do exemplo da festa, uma empresa necessita de uma BOM - Bill Of Material de seus produtos para que se possa executar os cálculos de necessidades da fabricação do item final. Um exemplo na obra de Slack et al.(1999), também similar ao da obra de Correa et al. (2001), apresenta uma estrutura para a montagem de um produto na forma de organograma. Pelo fato de Martins e Laugeni (2005) apresentarem uma estrutura mais complexa e também similar, utilizamos este último como base para demonstração dos conceitos de lista de materiais. A figura 02 apresenta a BOM de uma mesa, denominada pelo código MP1000, e com a estrutura necessária para a construção de uma unidade. 23 Figura 02 – Estrutura de uma mesa como produto final. Fonte: Martins e Launegi (2005, p.363) 2.4.5.1 Níveis da Estrutura Segundo Slack et al. (1999, p.337), “A estrutura do produto mostra que alguns itens formam outros, que por sua vez formam terceiros. No MRP, denominamos isso de níveis de estrutura: O produto final é considerado o nível 0. Os itens e submontagens que formam o produto final estão no nível 1, os itens que formam as submontagens estão no nível 2 e assim por diante.” Dessa forma, podemos avaliar a estrutura da mesa apresentada anteriormente, e concluir que ela é formada por um item submontado denominado suporte, por um tampo e por oito parafusos. Todos estes são considerados itens de nível 1 para o cálculo do MRP. 24 “Como nem sempre é fácil gerar representações gráficas como a da “estrutura de produtos”, às vezes usamos uma representação alternativa das mesmas informações, chamada “lista de materiais indentada”, do inglês indent bill of materials” (CORREA et al., 2001, p. 92). A tabela 01 exemplifica a estrutura da mesa na forma indentada. Tabela 01 – Estrutura Indentada da mesa MP1000 Nível Código 0 MP1000 Mesa Descrição Qtde. Item Requerida Unidade Fantasma Peça 1 MP1200 Suporte 1 Conjunto 2 MP1300 Parafuso 2 Peça 2 MP1210 Pé 4 Peça 3 MP1211 Cedro 2 MP1220 Travessa de 15 3 MP1221 Angelim 2 MP1230 Travessa lateral de 6 2 Peça 2 MP1240 Travessa transversal de 6 1 Peça 3 MP1211 Cedro 2 MP1400 Cola 1 MP1100 Tampo 2 MP1110 Pranchão 2 MP1400 Cola 1 MP1300 Parafuso 0,00288 4 0,0024 m³ Peça m³ 0,00096 m³ 0,05 Kg 1 3 0,08 8 X Peça Peça Kg Peça Fonte: Primária, 2006 Vale notar que a estrutura indentada apresenta o item MP1200 como fantasma, ou seja, “só existe para efeitos de planejamento. Não é item de estoque. É montado somente na hora de montar a mesa MP1000. Praticamente todos os softwares MRP contemplam sua existência” (MARTINS e LAUGENI, 2005, p.363). Um ponto de destaque, segundo Correa et al. (2001, p. 92) trata da nomenclatura comumente utilizada “[...],no jargão do MRP, de itens “filho” os componentes diretos de outros itens, estes correspondentemente chamados de itens 25 “pais” de seus componentes diretos.” 2.4.6 Registros de estoques De acordo com Correa et al.(2001, p. 112), “O impacto da falta de acurácia dos dados de estoque é, em grande número de casos, letal par sistemas MRP.” Isto ocorre, pelo fato de que, O arquivo de lista de materiais fornece ao MRP a base de dados dos ingredientes ou estrutura de produtos. Em vez de simplesmente tomar esses ingredientes e multiplicá-los pela demanda, de modo a determinar as necessidades totais de materiais, o MRP reconhece que alguns dos itens necessários podem já estar em estoque. Este estoque pode estar na forma de produtos finais, estoque em processo ou matérias-primas. É então necessário, começando pelo nível 0 de cada lista, verificar quanto estoque há disponível de cada produto final, submontagens e componentes, para que se possa calcular o que é chamado de necessidade líquida – a quantidade extra necessária para, juntamente com o estoque, atender à demanda. Para fazer isso, o MRP requer que seja mantido registros de estoque. (SLACK et al.,1999, p.340) “Muitos autores e consultores sugerem que o percentual mínimo de acurácia para dados de posição de estoques para que o MRP tenha mínima chance de sucesso é de 95%” (CORREA et al., 2001, p. 113). 2.4.7 Cálculo do MRP O cálculo do MRP é definido por Slack et al. (1999), como um processo sistemático que utiliza informações de planejamento para satisfazer a demanda nos itens, calcula as quantidades e momentos de reposição. A figura 03 apresenta como é realizado o cálculo das necessidades líquidas. 26 Nível 0 Programa-mestre de produção Registro de Estoques Ordens de trabalho para os itens de nível 0 Nível 1 Lista de Materiais Registro de Estoques Ordens de trabalho para os itens de nível 1 Nível 2 Lista de Materiais Registro de Estoques Ordens de trabalho para os itens de nível 2 Figura 03 - O cálculo das necessidades líquidas no MRP Fonte: Slack et al. (1999, p.342) Pode-se observar que a mecânica de funcionamento do MRP acontece nível a nível, partindo do programa-mestre de produção e explodindo a necessidade de materiais, observando a quantidade deste em estoque. Antes de descer para o próximo nível da estrutura do produto, o MRP verifica quanto dos materiais necessários já estão disponíveis em estoque. Ele gera então as “ordens de trabalho” ou requisições para as necessidades líquidas dos itens que serão feitos na fábrica. Essas necessidades líquidas formam, então, o programa que será explodido da lista de materiais de nível único para o próximo nível abaixo da estrutura. [...] Este processo continua até que se chegue ao nível mais baixo da estrutura do produto (SLACK et al., 1999, p.341) Correa et al. (2001, p. 113), ainda são mais precisos e afirmam que as necessidades líquidas dos itens pai transformam-se em necessidades brutas dos itens filhos. 27 2.4.7.1 Registros Básicos do MRP Conforme Correa et al.(2001, p. 102), “o registro básico do MRP é organizado na forma de uma matriz (linha e colunas), [...] [estas colunas] representam os períodos de planejamento e, [...] tudo o que ocorre no período 1, por exemplo, será representado na coluna 1. O mesmo vale para os outros períodos de planejamento.” Observando a tabela 02, podemos notar como estão dispostas as linhas e colunas dos registros básicos. Tabela 02 – Registro básico do MRP HOJE Períodos 1 2 3 4 5 Parafuso Necessidades Brutas 100 230 400 Recebimentos Programados 100 Lote=1 Estoque Projetado 380 280 380 380 150 0 Recebimentos de Ordem Planejadas LT=3 250 Liberação de Ordens Planejadas ES=0 250 380 600 6 7 8 380 600 0 0 0 380 600 Fonte: Adaptado de Correa et al. (2001, p. 102) É enfatizado ainda o significado das linhas destes registros. São elas: • Necessidades Brutas, que são exatamente as necessidades de disponibilidade do item numa data futura; neste caso, 230 parafusos teriam uma saída esperada de estoque no período 4. • Recebimentos programados, que seriam o oposto da necessidade bruta, ou seja, a data esperada de entrada de certo material em estoque. • Estoque disponível projetado, representando a quantidade do material prevista para o final do período (considerando o balanço entre a quantidade em estoque ao final do período anterior, menos as saídas 28 de estoque esperadas no período, mais as entradas de estoque esperado no período). Vale ressaltar que é essa linha que o MRP utiliza para processar o cálculo das necessidades líquidas. • Recebimento de ordens planejadas, representando a quantidade que deverá ser disponibilizada no inicio do período correspondente, para atender a necessidade bruta que, de acordo com o MRP, não poderia ser suprida. No caso do período 5, precisaríamos de uma quantidade igual a 250. • Liberação de ordens planejadas, apenas apresenta o período no qual a quantidade prevista na linha de recebimento de ordens planejadas, respeitando o tempo de obtenção do item, precisa ser solicitada. Utilizando o mesmo exemplo do período 5, a quantidade de 250 é apresentada no período 2, pois existe um tempo de obtenção de 3 períodos (LT=3, na tabela 02) A tabela 03 apresenta uma rodada do MRP, do nível 0 ao último nível. O produto utilizado para tal demonstração foi o exemplo já comentado anteriormente da mesa e seu BOM (já apresentado na tabela 01). Já a tabela 04 apresenta a mesma rodada do MRP, porém com as ligações entre a necessidade líquida de um nível transformando-se em necessidade bruta para o item filho. 29 Tabela 03 – Explosão do MRP – exemplo da mesa Dados Mesa Nível Lote LT ES 0 1 1 0 Suporte Nível 1 Lote 1 LT 0 ES 0 Tampo Nível Lote LT ES 1 1 1 10 Parafuso Nível 1e2 Lote 500 LT 1 ES 100 Pé Nível Lote LT ES 2 1 1 40 Período Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 0 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 0 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 45 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 250 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 80 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Travessa de 15 Nível 2 Lote 1 LT 1 ES 40 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 120 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Travessa lateral de 6 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 400 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Nível Lote LT ES 2 100 2 20 Travessa transversal de 6 Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES 2 1 1 10 Cola 2e2 5 1 5 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 105 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 5 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Pranchão 2 1 3 30 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 76 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Cedro Nível Lote LT ES 3 1 1 2 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 3 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Nível Lote LT ES Angelim 3 1 2 2 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 2 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Fonte: Primária,2006 01 02 03 04 05 06 07 300 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 08 09 10 0 300 0 0 0 300 0 0 0 0 0 300 300 0 0 0 0 10 10 10 10 250 250 250 250 40 40 40 40 40 40 40 40 100 100 100 100 10 10 10 10 300 300 45 45 45 45 45 10 265 265 3000 250 250 250 250 250 3000 250 3000 1200 80 80 80 80 80 40 1160 1160 1200 120 120 120 120 120 40 1120 1120 600 400 400 400 400 400 300 100 300 300 105 105 105 105 105 10 205 205 5 5 5 5 25 21,2 15 8,8 25 15 8,8 15 8,8 8,8 8,8 8,8 30 30 30 30 30 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 795 76 76 76 76 30 749 749 3,54 3 3 3 3 2 2,54 2,54 2,69 2 2 2 2,69 2 2 2,69 30 Tabela 04 – Explosão do MRP – exemplo da mesa Nível Lote LT ES Dados Mesa 0 1 1 0 Período Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 0 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Suporte Nível 1 Lote 1 LT 0 ES 0 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 0 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Tampo 1 1 1 10 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 45 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Nível Lote LT ES Parafuso Nível 1e2 Lote 500 LT 1 ES 100 Nível Lote LT ES Pé 2 1 1 40 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 250 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 80 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Travessa de 15 Nível 2 Lote 1 LT 1 ES 40 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 120 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Travessa lateral de 6 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 400 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Nível Lote LT ES 2 100 2 20 Travessa transversal de 6 Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES Nível Lote LT ES 2 1 1 10 Cola 2e2 5 1 5 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 105 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 5 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Pranchão 2 1 3 30 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 76 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Cedro 3 1 1 2 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 3 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Angelim 3 1 2 2 Necessidades Brutas Recebimentos Programados Estoque Projetado 2 Recebimentos de Ordem Planejada Liberação de Ordens Planejadas Fonte: Primária, 2006 01 02 03 04 05 06 07 300 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 08 09 10 0 300 0 0 0 300 0 0 0 0 0 300 300 0 0 0 0 10 10 10 10 250 250 250 250 40 40 40 40 40 40 40 40 100 100 100 100 10 10 10 10 300 300 45 45 45 45 45 265 10 265 3000 250 250 250 250 250 3000 250 3000 1200 80 80 80 80 80 1160 40 1160 1200 120 120 120 120 120 1120 40 1120 600 400 400 400 400 400 300 100 300 300 105 105 105 105 105 205 5 5 5 5 25 10 205 21,2 15 8,8 25 15 8,8 15 8,8 8,8 8,8 8,8 30 30 30 30 30 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 795 76 76 76 76 749 30 749 3,54 3 3 3 3 2,54 2 2,54 2,69 2 2 2 2,69 2 2 2,69 31 2.4.8 Parametrização Fundamental do Sistema MRP Correa et al. (2001) definem a parametrização do sistema MRP como uma forma de adaptar o seu uso às características específicas da organização. Com atividades que permitem possíveis restrições e melhor caracterização da realidade, a parametrização pode ser considerada fundamental para a correta utilização do MRP. Ao mesmo tempo, historicamente é um processo bastante negligenciado pelas organizações, impactando no possível não reflexo da realidade no sistema. Segundo Fullmann et al. (1989), os parâmetros fundamentais do MRP podem ser divididos em políticas e tamanho de lotes, estoques de segurança e lead times. Lead times é o jargão mais usual, dentro do escopo do MRP, para denominar [...] os tempos de obtenção ou de ressuprimento. Pela lógica utilizada no MRP, a definição de lead time deve ser: o tempo que decorre entre a liberação de uma ordem (de compra ou produção) e o material correspondente estar pronto e disponível para uso. Todas as atividades entre esses dois momentos devem ser incluídas na definição do lead time de um item (SLACK et al., 1999, p.108). De maneira simples, Martins e Laugeni (2005, p.358) definem o estoque de segurança como “a quantidade mínima do item que se deseja manter em estoque”. Já Tubino (2000, p.139), é mais preciso ao afirmar que “estes estoques são projetados para absorver as variações na demanda durante o tempo de ressuprimento, ou variações no próprio tempo de ressuprimento, dado que é somente este período que os estoques podem acabar e causar problemas no fluxo produtivo”. Entretanto, ambos concordam que a forma de determinação do estoque de segurança, está intrinsecamente ligada ao nível de serviço admitido para tal item, que por seguir uma distribuição normal, pode ser relacionado com o número de desvios padrões cobertos pelos estoques de segurança. Desta forma, Tubino (2000, p.140) apresenta a seguinte fórmula: 32 Qs = . Onde: Qs = Estoque de segurança = Número de desvios padrões = Desvio Padrão Vale destacar alguns valores de k (número de desvios padrões), na tabela 05. Tabela 05 – Número de desvios padrão para alguns níveis de serviço Nível de Serviço 80% 85% 90% 95% 99% 99,99% k 0,84 1,03 1,28 1,64 2,32 3,09 Fonte: Tubino (2000, p.140) O outro parâmetro fundamental consiste na determinação do tamanho dos lotes. Correa et al. (2001) definem as seguintes políticas: • Política de lotes mínimos – indica a quantidade mínima para que ocorra a abertura de uma ordem, permitindo qualquer valor acima deste nível mínimo. • Política de lotes máximos – delimita a quantidade máxima da abertura de uma ordem, normalmente oriunda de restrição física de volume no processo. • Política de lotes múltiplos – indica a quantidade múltipla que as ordens devem respeitar; não são permitindo quantidades intermediárias, mesmo que necessárias (neste caso há o arredondamento para cima). Respeita como prioridade a política de lotes mínimos e pode ser 33 delimitada na política de lotes máximos. • Política de períodos fixos – apresenta os recebimentos planejados do total das necessidades calculadas, de todas as necessidades ao longo de períodos futuros, concentradas no início de cada período a fim de liberar ordens periódicas com periodicidade predefinida. 2.5 JIT - JUST IN TIME “O Just in Time (JIT) é uma filosofia que se concentra na eliminação de desperdícios no processo de manufatura. Ele exige que a administração faça todo o possível para ter as peças certas no lugar certo, no tempo certo e exatamente na quantidade certa” (FULLMANN et al., 1989, p. 181). De acordo com Correa e Gianesi (1996) esta filosofia surgiu no Japão, em meados da década de 70, sendo sua idéia fundamental e desenvolvimento creditado à Toyota Motor Company, na pessoa de Taiichi Ono. Martins e Laugeni (2005) acrescentam que inicialmente o foco foi no combate ao desperdício, desenvolvendo-se posteriormente para o que hoje temos como uma filosofia gerencial. Toda atividade que consome recursos e não agrega valor ao produto é considerada como um desperdício. Desta forma, estoques, que custam dinheiro e ocupam espaço, transporte interno, paradas intermediárias – decorrentes das esperas do processo -, refugos e retrabalhos são formas de desperdício e consequentemente devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo (MARTINS e LAUGENI, 2005, p. 404). “Embora haja quem diga que o sucesso do sistema de administração JIT esteja calcado nas características culturais do povo japonês, mais e mais gerentes e acadêmicos têm-se convencidos de que esta filosofia é composta de práticas 34 gerenciais que podem ser aplicadas em qualquer parte do mundo” (CORREA e GIANESI, 1996, p.56). Prova disso, segundo Tubino (2000, p.44), foi que “nos anos 80, com o avanço da economia japonesa, a filosofia JIT passou a receber maior atenção dos estudiosos em sistemas de produção e a filosofia foi universalizada e implantada com sucesso no mundo ocidental”. 2.5.1 Objetivos do Sistema “Just In Time” De acordo com Schonberger (1984), o principal objetivo do JIT, considerando como foco a administração da produção, seria evoluir do sistema empurrado de produção para um totalmente puxado. “O sistema de empurrar o processo de fabricação [...] baseia-se simplesmente no programa montado para a produção, ou seja, numa previsão de demandas futuras dos produtos desdobradas por computador, para programas detalhados para a fabricação ou compra de componentes” (SCHONBERGER, 1984, p.264). Ribeiro (1989, p.40) complementa afirmando que no sistema empurrado, “cada seção executa operações independentes, de acordo com as ordens de fabricação em seu poder e as fornece às seções subseqüentes”. Este sistema de produção poderia gerar estoque desnecessário, mesmo que momentaneamente, quando, por exemplo, um processo posterior por algum motivo não utilizasse o item fornecido por este processo anterior. Já o sistema puxado, é descrito por Correa e Gianesi (1996), como produção a partir de demanda, ou seja, somente seria produzido um item no momento que este gerasse uma necessidade de reabastecimento para repor o item consumido. 35 Além deste objetivo de produzir conforme a demanda, Correa e Gianesi (1996) citam como outro ponto fundamental, a melhoria contínua do processo produtivo, perseguindo a causa do problema através de mecanismos para a redução dos estoques que segundo eles, “tornam os problemas visíveis para que estes possam ser eliminados através de esforços concentrados e priorizados” (CORREA e GIANESI, 1996, p.57). A figura 04 apresenta este comentário de forma ilustrativa. Figura 04 – Redução dos estoques para expor os problemas do processo Fonte: Correa e Gianesi, 1996, p.57 O estoque e o investimento que este representa pode ser simbolizado pela água de um lago que encobre as pedras que representam os diversos problemas do processo produtivo. Deste modo, o fluxo de produção (representado pelo barco) consegue seguir a custa de altos investimentos de estoque. Reduzir os estoques assemelha-se a baixar o nível da água, tornando visíveis os problemas que, quando eliminados permitem um fluxo mais suave da produção, mesmo sem estoques. Reduzindo-se os estoques gradativamente, tornam-se visíveis os problemas mais críticos da produção, ou seja, possibilita-se um ataque priorizado. À medida que estes problemas são sendo eliminados, reduzem-se mais e mais os estoques, localizando-se e atacando-se novos problemas “escondidos” (CORREA e GIANESI, 1996 p.57) 36 Em complemento, Tubino (2000) ainda apresenta o envolvimento total das pessoas no processo da mudança, incluindo níveis gerenciais, e a organização e visibilidade de todo o ambiente de trabalho, como dois outros objetivos do JIT. 2.6 KANBAN Para Fullmann et al. (1989), o Kanban não é um sinônimo de JIT ou de um sistema de estoque zero; Ele é uma das técnicas usadas para se atingir a meta do JIT. “Confundir kanban com JIT é grosseiramente equivalente a igualar motores de veículos ao transporte. Os motores são usados para movimentar (dar energia) aos automóveis. Por sua vez, o automóvel é uma forma de transporte.” (FULLMANN et al., 1989, p.187) De acordo com Ribeiro (1989), o termo kanh e banh são dois vocábulos do idioma Japonês que significam respectivamente: cartão e controle e dos quais deriva o kanban que poderia ser traduzido por controle através de cartão, sinal, registro visível, enfim, controle de informação através da gestão à vista, no próprio chão de fábrica. Da mesma forma que o JIT, de acordo com Tubino (2000), o Kanban também tem seu desenvolvimento creditado aos japoneses na década de 60, com o objetivo de tornar simples e rápidas as atividades de programação, controle e acompanhamento da produção. A idéia do kanban foi copiada do sistema de funcionamento do supermercado onde as mercadorias estão distribuídas em prateleiras, com as informações necessárias colocadas num pequeno cartão. O supermercado, de acordo com a demanda, providencia a reposição das mercadorias vendidas. O supermercado também se responsabiliza pela 37 reposição no prazo, na qualidade, na quantidade e a preços compatíveis. [...] Pelo sistema kanban, eliminam-se os almoxarifados de peças acabadas, que são substituídos por pequenos supermercados próximos aos locais de consumo. A medida que os cartões são trocados por peças nos supermercados, se inicia, automaticamente, a sua reposição pelos setores de fabricação (RIBEIRO, 1989, p.41). 2.6.1 Regras de Funcionamento do Sistema Kanban Seguindo os conceitos orientais para o funcionamento do sistema Kanban a fim de se atingir o JIT, cinco condições básicas são apresentadas por Tubino (2000), que as denomina de “regras de funcionamento do sistema kanban” (TUBINO, 2000, p.203). Estas regras, de acordo com Tubino (2000), maximizam os resultados deste sistema de programação. São assim resumidas: • Regra 1: O processo cliente deve retirar no processo fornecedor os itens de sua necessidade apenas nas quantidades e no tempo necessário. Ribeiro (1989) considera essa regra de funcionamento como primordial, visto que com ela está garantido que o sistema puxado ocorra entre cliente e fornecedor. Pelo fato de se poder retirar o item do processo fornecedor apenas na quantidade e no momento em que ocorrer consumo, qualquer requisição baseada numa previsão que possa ser não efetivada, é proibida. • Regra 2: O processo fornecedor deve produzir seus itens apenas nas quantidades requisitadas pelo processo cliente. Em contrapartida a regra 1, o processo fornecedor também não poderá produzir baseado numa previsão, o que neste caso poderia se transformar em superprodução. Este ponto de vista de Ribeiro (1989), também é complementado 38 por Tubino (2000, p.203), que é incisivo em afirmar que “qualquer produção diferente da autorizada pelo cartão kanban está proibida”. • Regra 3: Produtos com defeito não devem ser liberados para os clientes. • Regra 4: O número de Kanbans no sistema deve ser minimizado. • Regra 5: O sistema Kanban deve adaptar-se a pequenas flutuações na demanda. Tubino (2000) ainda apresenta nessas últimas 3 regras, pontos a serem considerados por estarem intrinsecamente ligados ao JIT: a qualidade (regra 3), a melhoria contínua (regra 4) e a capacidade de resposta rápida a pequenas flutuações de demanda sem a intervenção do PCP (regra 5). 2.6.2 Funções do Kanban Ribeiro (2000) apresenta uma representação esquemática mostrando diferentes opções dos tipos de sistemas e de cartões Kanban. Observe a figura 05. 39 Estoque de Matéria-Prima Fabricação Supermercado Kanban de Fabricação Kanban de Matéria- Prima Kanban de Montagem Kanban de Fabricação Kanban de Fornecedor Fornecedor Montagem Figura 05 – Opções sistemas kanban Fonte: Ribeiro, 1989, p.45 Comparando as opções do sistema Kanban apresentado na figura 5, com as subdivisões dos cartões Kanban na obra de Tubino, percebe-se que este segundo apenas apresenta de forma mais macro uma possível condição real no chão de fábrica. Observe a figura 6, de Tubino (2000), que subdivide o Kanban em “de produção” ou “de requisição”, sendo ela interna ou de fornecedor. 40 KANBAN Kanban de Requisição Kanban de Requisição Interna Kanban de Produção Kanban de fornecedor Figura 06 – Subdivisões dos cartões kanban Fonte: Tubino, 2000, p.197 “O cartão kanban de produção, também chamado de kanban em processo, é empregado para autorizar a fabricação ou montagem de determinado lote de itens, tendo sua área de atuação restrita ao centro de trabalho que executa a atividade produtiva nos itens” (TUBINO, 2000, p.197). Um exemplo do layout normalmente utilizado é demonstrado na figura 07, porém algumas empresas podem alterar o padrão dos cartões, permitindo modificações que satisfaçam à particularidade do processo. A figura 08 apresenta um exemplo utilizado numa empresa de injeção plástica. 41 Processo Centro de Trabalho Número de Item Número Prateleira estocagem Nome do Item Materiais Necessários Código Locação Capacidade no Contecedor Emissão Tipo de Contenedor <<<<<<<<<<Código de Barras>>>>>>>>>> Figura 07 – Cartão kanban de produção Fonte: Tubino, 2000, p.198 Código do Item Descriçao do Item Porta Aparador Quantidade de Peças / Embalagem 122 Tipo de Embalagem Aramado Kanban Injetoras F2 12345600 Local de Armazenagem F3AC2 Figura 08 – Cartão kanban de produção Fonte: Primária, 2006 Este Kanban de produção pode ser comparado com o que Ribeiro denomina na figura 05 de Kanban de montagem ou de fabricação. Já o Kanban do fornecedor ou de matéria-prima, “é usado entre os setores de montagem e o fornecedor” (RIBEIRO, 1989, p.45). De forma geral, “ele autoriza o fornecedor externo da empresa a fazer uma entrega de um lote de itens, especificado no cartão, diretamente a seu usuário interno, desde que o mesmo tenha consumido o lote de itens correspondente ao cartão” (TUBINO, 2000, p.1999). Como exemplo de um cartão Kanban de fornecedor, temos a figura 09 como 42 um padrão para utilização. Nome e código do Fornecedor Horários de Entrega : : : : Ciclos de Entrega < C ódigo de Barras> Local de Estocagem Nome e código do Fornecedor Número do Item Nome do It em Capacidade por Contenedor Número de Emissão Tipo de Contenedor < Código de Barras> Figura 09 – Cartão kanban de requisição Fonte: Tubino, 2000, p.200 O Kanban de requisição interna, não citado por Ribeiro na figura 05, de acordo com Tubino (2000), refere-se à movimentação de materiais, autorizando, por exemplo, o fluxo de materiais entre o centro de trabalho produtor e o centro consumidor dos itens. Observe um exemplo típico de kanban de requisição na figura 10, atentando para os campos de “centro de trabalho precedente” e “centro de trabalho subseqüente”. 43 Número de Item Centro de Trabalho Precedente Nome do Item Número Prateleira Estocagem Capacidade do Contenedor Número de Emissão Tipo de Contenedor Centro de Trabalho Subsequente Número Prateleira Estocagem <<<<<<<<<<Código de Barras>>>>>>>>>> Figura 10 – Cartão kanban de requisição Fonte: Tubino 2000, p.199 2.6.3 Tipos de Kanban De conformidade com a função que o kanban executa no processo produtivo, o cartão pode ter variações em seu tipo e layout básico para atender algumas necessidades específicas deste processo. Entretanto, de acordo com Tubino (2000), este cartão que funciona como um sinal para autorizar ou não produção, movimentação ou consumo, necessita de um painel ou quadro para sinalizar tais necessidades. Este quadro é denominado “painel porta-kanban” e é reconhecido como o mais tradicional de uma série de outros tipos de se obter o mesmo resultado desta. Para Tubino (2000, p. 201), “no painel porta-kanban, existe uma coluna para cada item existente no respectivo supermercado”. Estas colunas, conforme Ribeiro (1989), são subdivididas em 3 cores – vermelho, amarelo e verde, além de uma linha para cabeçalho; Conforme se utiliza uma embalagem disposta no supermercado para, por exemplo, um Kanban de produção, o cartão Kanban é retirado da embalagem consumida e levado para o quadro. A colocação deste cartão 44 deve obedecer a quantidade limitada pelo dimensionamento disposto na linha do cabeçalho e sempre colocada no quadro de forma ascendente, ou seja, de baixo para cima. A produção deverá, depois de terminado o lote do item, retirar de forma descente os cartões do quadro, ou seja, a retirada é realizada inicialmente do cartão mais crítico para o menos crítico (do vermelho para o verde). Observe dois exemplos do painel porta-kanban, nas figuras 11 e 12. Cabeçalho Urgência Atenção Condições Normais de Operação Figura 11 – Painel Porta-kanban Fonte: Primária, 2006 Nesta figura, podemos perceber como é disposto cada cor e seu respectivo significado. O exemplo da aplicação pode ser notado na figura a seguir. 45 Figura 12 – Painel Porta-kanban – Exemplo prático Fonte: Primária, 2006 Uma variação do painel porta-kanban é o painel informatizado, que de acordo com Tubino (2000), pode ser empregado para acelerar o fluxo de informações em relação ao método de cartões kanban convencional, inclusive com fornecedores, além de sanar o grande problema da perda de cartões no processo produtivo. Um exemplo da adoção deste quadro informatizado é percebido na figura 13. Figura 13 – Painel Porta-kanban Informatizado – Exemplo prático Fonte: Primária, 2006 Os outros dois tipos de Kanban existentes, e ainda bastante utilizados por suas particularidades, são, de acordo com Tubino (2000): • Quadrado Kanban: “Consiste em identificar no chão de fábrica, um espaço 46 predefinido [...] com capacidade para um número predeterminado de itens. A reposição se dará no momento que este quadrado kanban ficar vazio, sendo então preenchido todo o espaço com novos itens” (TUBINO, 2000, p.202). De acordo com Ribeiro (1989), o uso deste tipo de Kanban geralmente é direcionado para itens de grande volume ou com difícil colocação em uma embalagem. Observe a figura 14, apresentando um exemplo onde a demarcação é utilizada para este fim. Figura 14 – Quadrado kanban – Exemplo prático Fonte: Primária, 2005 • Kanban Contenedor: “Em situações em que existem contenedores específicos para cada tipo de item, pode-se substituir o cartão Kanban por um cartão afixado no contenedor, com todas as informações necessárias a sua produção ou movimentação” (TUBINO, 2000, p.202). Um exemplo deste tipo de Kanban pode ser apresentado na figura 15, onde é visível a utilização de um carrinho apropriado para um determinado item, contendo 47 um cartão que o permite identificá-lo. Ainda na foto, pouco atrás deste carrinho podemos ver um carrinho igual e vazio, sinalizando necessidade de produção. Figura 15 – Kanban Contenedor – Exemplo prático Fonte: Primária, 2006 2.6.4 A Dinâmica do Sistema Kanban com Um Cartão De acordo com Schonberger (1984), no sistema Kanban com apenas um cartão, o cliente retira peças do supermercado quando necessário e o cartão de produção que acompanhava a caixa é levado para o quadro obedecendo a regra 1, já apresentada. Observe a figura 16. Em seguida, o processo fornecedor produz o item mais crítico do supermercado retirando o Kanban do quadro e colocando-o na caixa de volta ao supermercado, atendendo agora a regra 2, que pode ser observada na figura 17. 48 Figura 16 – Consumo kanban com cartão único. Fonte: Multibras, 2006 Figura 17 – Produção kanban com cartão único. Fonte: Multibras, 2006 Vale ressaltar que na figura 16, o item mais crítico do supermercado fora produzido com prioridade sob os demais. 49 2.6.5 A Dinâmica do Sistema Kanban com Dois Cartões Ainda segundo Schonberger (1984), no sistema Kanban com duplos cartões, o cliente consome as embalagens que estão no supermercado da linha, obedecendo a regra 1. Os cartões de retirada que acompanhavam estas caixas, permitem a compra de peças no supermercado do fornecedor. Visualizando a figura 18, é possível observar tal situação. Figura 18 – Consumo kanban com cartões duplos. Fonte: Multibras, 2006 Em seguida, concluindo o exemplo com a figura 19, a regra 2 é atendida quando o Kanban de retirada autoriza o cliente a retirar uma embalagem do supermercado. O Kanban de produção que estava na caixa é levado então para o quadro e sua produção é autorizada. 50 Figura 19 – Produção kanban com cartões duplos. Fonte: Multibras, 2006 Vale ressaltar que, de forma similar ao funcionamento do Kanban com cartões duplos, a sistemática para o funcionamento do Kanban com fornecedores é aplicada. Tubino (2000, p.208), apenas reforça que “deve haver um entrelaçamento de informações entre os setores de PCP das duas empresas [...] no nível de planejamento e de programação diária [...]”. 2.6.6 Escolha dos Itens kanban De acordo com Ribeiro (1989), uma fase bastante importante para a implantação do Kanban é a escolha dos itens que apresentem características particulares com funcionamento do kanban pós seu dimensionamento. Basicamente se prioriza os itens com alta atividade e pequena variação de consumo e itens. A figura 20 apresenta uma representação dos itens de prioridade para a esta escolha. Os quadrantes I e IV por possuírem alta freqüência de consumo e relativa quantidade, são os mais adequados. Os demais itens não necessariamente 51 necessitam ser descartados, mas devem sofrer melhorias, como alterações de embalagens para melhor se adaptarem ao funcionamento do Kanban. Figura 20 – Quadrantes de escolha dos itens kanban. Fonte: Primária, 2006 2.6.7 Determinação do Número de Cartões Kanban “O número de cartões kanban e a quantidade representada por cartão estão diretamente relacionados com a velocidade de consumo na linha de montagem e o tempo de reposição necessário ao ressuprimento dos lotes. O ideal é o balanceamento perfeito entre produção e consumo” (RIBEIRO, 1989, p.51). Para um correto dimensionamento do número total de cartões que satisfaça este balanceamento, de acordo com Tubino (2000), inicialmente é necessário se verificar as variáveis que compõem o cálculo. A expressão a seguir apresenta em sua primeira parte a determinação do número de cartões Kanban de produção; Já a segunda parte representa o número de cartões kanban de movimentação. 52 N= D D ⋅ Tprod ⋅ (1+ S) + ⋅ Tmov ⋅ (1+ S) Q Q Onde: N = Número total de cartões kanban no sistema; D = Demanda média diária do item (itens/cartão); Q = Tamanho do lote por contenedor ou cartão (itens/cartão); Tprod = Tempo total para um cartão Kanban de produção completar um ciclo produtivo, em percentual do dia, na estação de trabalho (%); Tmov = Tempo total para um cartão Kanban de movimentação completar um circuito, em percentual do dia, entre os supermercados do produtor e do consumidor (%); S = Fator de segurança, em percentual do dia (%). “Na prática, apesar de a busca do lote unitário ser contínua, normalmente definimos o tamanho do lote em função de dois fatores: o número de setup que nos dispomos a fazer por dia e o tamanho do contenedor onde serão colocados os itens” (TUBINO, 2000, p.210) Ribeiro (1989) apresenta ainda, a subdivisão da fórmula acima nas respectivas cores do Kanban. Basicamente, são elas: Segurança (dias) x Demanda Média Diária Peças por Contenedor Lead time Reposição (dias) x Demanda Média Diária Peças por Contenedor Demanda no Período Setups no período x Peças por Embalagem Figura 21 – Dimensionamento por cores. Fonte: Primária, 2006 53 3 O CASO WHIRLPOOL S.A. Este capítulo tem por objetivo apresentar o estudo de caso do impacto da alteração no método de planejamento de um setor produtivo, ao converter o tradicional sistema empurrado, com uso do MRP para um sistema puxado, utilizando a filosofia JIT, com o kanban. O estudo foi feito em uma empresa multinacional do ramo de eletrodomésticos, situada no estado de Santa Catarina. A análise compreendeu o setor de serigrafia que representava constantes problemas de atendimento, mesmo que com elevados níveis de estoque. Este setor, entretanto, é considerado fornecedor direto para a linha de montagem e com estes constantes problemas acabava semanalmente afetando a produtividade do produto acabado na linha de montagem. 3.1 APRESENTAÇAO DA EMPRESA De acordo com Multibras (2006), a Whirlpool S.A. é uma empresa do setor de linha branca, presente a mais de 11 anos no Brasil, até então como Multibrás S.A. Eletrodomésticos. Hoje é detentora das marcas Brastemp e Consul, que são líderes a mais de 50 anos no mercado, cujos lançamentos já superam 400 produtos com vendas de aproximadamente 44 milhões de eletrodomésticos no Brasil e no exterior. Pioneira no setor, foi a primeira empresa do Brasil a fabricar todos os produtos de linha branca: refrigeradores, freezers horizontais e verticais, fogões, 54 lavadoras de roupa, secadoras, lava-louças, fornos de microondas, condicionadores e depuradores de ar. Também oferece aos seus consumidores, eletrodomésticos portáteis como batedeiras, cafeteiras, liquidificadores e multiprocessadores com a marca Brastemp. Vendendo para mais de 100 países, tornou-se uma das 100 principais empresas exportadoras no Brasil. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR ANALIZADO O setor de serigrafia da empresa é atualmente ligado a coordenação da gerência de plásticos, que por sua vez tem como principal fornecedor a área de injetoras, também ligada a mesma gerência. Basicamente todos os logotipos e informações legais e de marketing que são serigrafados nas peças plásticas do produto, são processadas nesta área. O setor trabalhava de forma empurrada, atendendo as ordens geradas pelo MRP, que semanalmente (nos domingos) calculava todas as necessidades diárias. 3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS E ANÁLISE DO PROBLEMA A necessidade do estudo surgiu pelos constantes problemas de atendimento que a área de serigrafia da empresa apresentava no decorrer do ano. Mesmo com esforços da supervisão para que se cumprisse o plano sugerido pelo MRP, os altos estoques não geravam confiança e garantia de atendimento. Além disso, a tendência apresentava uma considerável queda neste indicador, conforme mostra a 55 figura 22. Evoluçao Atendimento 99 98,5 98 97,5 97 96,5 96 95,5 95 94,5 y = -0,4971x + 98,977 2005 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Figura 22 – Evolução Atendimento 2005 e parciais (jan-maio) 2006 Fonte: Primária, 2006 Em um brainstorrming realizado entre os envolvidos no processo, aceitou-se inicialmente como verdadeira a idéia de que as constantes alterações no plano de montagem do produto acabado, no qual o item produzido era “filho” - observando a BOM, era o principal causador do desequilíbrio do sistema produtivo. A figura 23, representa a situação dos dias de estoque em maio/2006. 56 Figura 23 – Estoques em dias durante o mês de maio/2006 Fonte: Primária, 2006 Com este cenário, o atendimento (em porcentagem) da área, era o apresentado na figura 24. Figura 24 – Atendimento durante o mês de maio/2006 Fonte: Primária, 2006 57 Analisando agora a idéia de que as alterações na linha de montagem causavam impacto direto na área analisada, verificamos com a figura 25 que essa premissa procede, pelo fato de que sempre que há a incidência de um não atendimento, há alguma mudança de linha. A figura 25 demonstra este fato, com o eixo y do lado esquerdo apresentando a porcentagem de atendimento (linha azul) e o eixo y do lado direito (das barras em vermelho), referente ao número diário de mudanças de linha, ou seja, a realização da montagem final de outro produto que não era o previsto quando calculado o MRP. Essa premissa acaba comprovando também que o esforço realizado pelo corpo de supervisão naquele mês foi válido, pois quando não ocorreram mudanças na linha, o atendimento foi garantido – ou seja, o cálculo do MRP estava correto e a produção efetivou esse plano previsto. Atendimento x Mudanças Linha 120 7 100 6 5 80 4 60 3 40 2 20 1 0 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 Mudança Linha Atendimento Figura 25 – Atendimento x Alterações na linha de montagem Fonte: Primária, 2006 58 Um outro ponto a ser registrado nessa etapa de levantamento de informações, refere-se à reatividade com que os funcionários da área observam o uso de qualquer tipo de identificação na embalagem além da padrão exigida pelo sistema de qualidade da empresa, visto que com freqüência, ocorriam falhas de abastecimento decorrentes da identificação incorreta das embalagens, oriundas, muitas vezes da falta de treinamento das pessoas do setor e clientes. 3.4 NECESSIDADES E SOLUÇOES LEVANTADAS Como avaliado nos gráficos anteriores, uma das necessidades explícitas da área em questão refere-se a manutenção do atendimento, mesmo quando pequenas variações de demanda ocorrem. Estas variações deveriam ditar qual o produto deveria ser produzido naquele momento e não seguindo uma programação congelada e baseada em uma previsão de montagem de produtos finais. Como visto na fundamentação teórica deste estudo, o método que esta sendo avaliado, portanto, é o uso do MRP ou do pull system. A produção, de forma programada e seguindo as quantidades calculadas com base na BOM do produto final, não estaria surtindo os efeitos de atendimento previstos, pelo motivo de que a previsão não estaria sendo cumprida. Os estoques, pelo fato de não haver dados para comparação, não podiam ser classificados como elevados ou sub-dimensionados. É importante ressaltar, mais uma vez, que o cálculo do MRP neste estudo acontece de forma semanal, congelando todas as ordens produtivas baseadas na previsão de produção desta semana em questão. 59 O formato acadêmico sugerido para solução deste problema, utilizou as premissas do sistema puxado de somente produzir baseado no consumo real, buscando chegar à etapa em que o estoque produzido tivesse uma relação direta com a liberação de se produzir ou não determinado item. A figura 26 apresenta o formato utilizado como base para a transformação da produção empurrada para a puxada, baseando-se no consumo real para produção de qualquer item. Figura 26 – Produção baseada no consumo real – Sinalização da situação do estoque Fonte: Multibras, 2006 De forma objetiva, a figura demonstra que a situação do quadro kanban, refletiria a situação do estoque, e baseando-se nesta sinalização, a produção estaria autorizada a produzir determinado item. Com este formato, iniciou-se a etapa de apresentação e aprovação da idéia no setor produtivo, assegurando que os anseios e restrições deveriam ser atendidos. A figura 27 apresenta o primeiro passo para a implantação desta melhoria. Foram estratificados todos os itens dentro da matriz quantidade x freqüência, de modo a avaliar qual seria o dimensionamento previsto para os itens com perfil kanban. 60 55% 6% 34% 5% Figura 27 – Análise de quantidade de itens em cada quadrante do gráfico quantidade x freqüência Fonte: Primária, 2006 Avaliando a figura acima, de forma inesperada, detectou-se que os itens que possuíam uma freqüência maior ou igual a 60% (valor que fora considerado para os quadrantes I e IV) representavam apenas 12% do total dos itens. Essa análise necessitou de um outro gráfico que comprovou que estes 12% contemplavam todos os itens geradores de não atendimento. Para tanto, a figura 28 apresenta a representatividade dos não atendimentos por quadrante. 61 0 Figura 28 – Representatividade de Porcentagem de não atendimento por quadrante Fonte: Primária, 2006 Com isso pode-se destacar que os quadrantes I e IV são responsáveis por mais de 85% dos casos. Para estes, teoricamente a implantação do sistema puxado está calçada com condições ideais (alta freqüência e alta quantidade). Baseando-se nas fórmulas de dimensionamento apresentadas na fundamentação teórica deste e na escolha dos itens dos quadrantes I e IV, chegou-se aos seguintes valores de estoque (em dias), já com um comparativo da situação com o MRP – tabela 06. Tabela 06 – Dimensionamento médio – kanban x MRP – Itens quadrante I e IV Estoque Dimensionado Média Estoque Média Estoque Ganho Proposto Proposto (Kanban) Antes (MRP) 1,03 0,33 1,87 2,59 3,91 1,32 * Valores em dias Fonte: Primária, 2006 Vale ressaltar que este dimensionamento proposto assegura todas variáveis do cálculo kanban, como lead time, lotes mínimos e múltiplos, fator de segurança e demanda média (baseada em histórico de 6 meses e previsão para até 1 mês). A 62 planilha modelo utilizada para tal cálculo, pode ser verificada no APÊNDICE A. Desta maneira, o seguinte fluxo foi determinado para a mudança. A figura 29 apresenta o estado previsto. Figura 29 – Fluxo previsto para a área – Válido para itens quadrante I e IV Fonte: Primária, 2006 Na figura, podemos observar que a serigrafia, como área fornecedora, irá somente produzir para repor a quantidade consumida pela linha de montagem, mesmo que este fato contrariasse uma previsão de produção. O objetivo será repor todo e qualquer cartão consumido. Entretanto, com esta ação, todas as necessidades de melhoria (estoques e atendimento) estavam sendo atendidas, exceto pela existência de outras identificações na embalagem além da já existente, exigida pelo sistema de qualidade da empresa. Para solucionar tal problema, foi validado com a área que o dimensionamento do kanban passaria a ser aplicado em forma de níveis, não necessitando a utilização de cartões. A figura 30 ilustra como isso funcionaria. 63 Figura 30 – Substituição do kanban com fichas para níveis visuais Fonte: Primária, 2006 Basicamente, o funcionamento deste respeita as premissas da modalidade kanban quadrado. Com um determinado dimensionamento, no caso acima 02 embalagens no verde, 01 no amarelo e 01 no vermelho – indicada no nível colorido, o cliente retira as embalagens de consumo deste supermercado, deixando à mostra a cor do nível que esta embalagem correspondia. Quando o processo produtivo observa o supermercado, é iniciado a reposição seguindo o mesmo critério do quadro: vermelho- considerado como segurança, amarelo- como tempo de reposição e verde- como lote de consumo. Desta maneira a única necessidade para amplo funcionamento é manter os níveis atualizados (com a proposta de serem plaquetas com fácil substituição) e que o supermercado fique bastante próximo ao ponto de produção. 64 3.5 ANÁLISE DAS SOLUÇOES E RESULTADOS Como avaliação da implantação, vamos inicialmente tratar da questão com potencial problema de adaptação – o uso do kanban de nível. Embora bastante simples, o treinamento fora bastante intenso a fim de que todo funcionário que, em algum momento do processo tivesse a necessidade de saber identificar qual o item a ser produzido e qual a necessidade expressa no kanban, soubesse operar sem o uso de programação – ou seja, de forma puxada, o sistema. A figura no APÊNDICE B apresenta o fluxo criado para o treinamento com a área envolvida Observe as figuras 31 e 32, que apresentam o supermercado na sua fase inicial. Figura 31 – Kanban níveis visuais Fonte: Primária, 2006 65 Figura 32 – Supermercado kanban níveis visuais Fonte: Primária, 2006 Vale notar que os excessos de estoque, para determinados itens foram consumidos ainda de forma empurrada e que os demais itens em nível crítico (vermelho) foram rapidamente produzidos. Quanto os valores de atendimento e estoque, observe respectivamente as figuras 33 e 34. 66 Figura 33 – Atendimento pós implantação Fonte: Primária, 2006 Figura 34 – Estoques pós implantação Fonte: Primária, 2006 67 Vale ressaltar neste ponto a análise dos gráficos de atendimento e estoques. De forma geral, o gráfico do estoque (figura 34) permite avaliar que o formato “dente de serra” esperado possui uma faixa de variação bastante reduzida em relação ao gráfico do estoque antes da implantação. Observe a figura 35, apresentando o boxplot dos estoques, em dias, antes e após a implantação. Vale ressaltar a variação que foi otimizada. Figura 35 – Boxplot de estoque antes e depois Fonte: Primária, 2006 Da mesma forma, o gráfico de atendimento apresenta essa conclusão, onde se obteve uma média de 99,42% frente a uma anterior de 95,81%. Observando o gráfico da figura 36 esta melhora fica mais clara. 68 Figura 36 – Atendimento antes e depois Fonte: Primária, 2006 Assim, a fase de implementação provou melhorias significativas para os itens dos quadrantes determinados (I e IV). Entretanto, para os demais itens, que não possuem freqüência maior ou igual a 60%, verificou-se que somente 13% destes possuíam planejamento previsto para os próximos 4 meses, ainda em MRP, e todos eles para lotes específicos que historicamente não possuem variações de plano de produção. Assim, baseado nas regras então apresentada pela tabela 07, objetivando não possuir um supermercado que raramente seria consumido, estruturou-se o planejamento da área de forma a atender os itens de alto giro ou usualmente denominados “itens normais de linha” para o sistema puxado. Para todos os demais itens, há uma reserva na ordem de 10% de carga máquina na área, para que o tradicional planejamento via MRP possa ser executado. 69 Tabela 07 – Regra criada para planejamento Kanban Condição Frequência >= 60% Lote <=1 dia consumo Lote Mínimo <= 0,3 dias consumo Variação de Demanda (prevista x realizada) <=25% Kanban x x x x Fonte: Primária, 2006 Para condições além das previstas na regra da tabela 07, julga-se mais coerente o uso do MRP, pelo fato dos estoques, mesmo que mínimos, não possuírem consumo, entretanto sendo dimensionados pelo kanban para atender-los quando necessário. 70 CONSIDERAÇOES FINAIS Com consumidores cada vez mais exigentes, as atuais empresas buscam a todo o momento que seus processos evoluam na mesma velocidade que estas necessidades. Muitas delas, como flexibilidade fabril e atendimento JIT, acabam afetando não somente as estratégias organizacionais, mas fundamentalmente a operação no chão de fábrica, onde os processos realmente acontecem. É nesta linha, que as recentes melhorias vêm apresentando resultados extraordinários, onde a análise do problema e a implantação de soluções nascem e são efetivadas no próprio processo produtivo, com as pessoas que estão envolvidas diariamente com aquela área. É neste conceito, que o presente trabalho apresentou seu estudo de caso. Buscando e, principalmente, respeitando as premissas do setor produtivo, embasando suas técnicas em conceitos e exemplos já adotados e participando em sua plenitude, da concepção até a análise dos resultados. Focando em um estudo que visou avaliar se o uso do MRP ou o uso do sistema puxado era o ideal para determinado cenário, baseou-se em dados estatísticos que nos deram suporte para a decisão e conclusão que para determinado grupo, o esforço da implementação compensava o impacto já em curto prazo. Para outro grupo de materiais, os não caracterizados pela freqüência de consumo, este esforço não seria proveitoso e potencialmente estaríamos inserindo 71 desperdícios no sistema produtivo, pelo fato de haver uma quantidade mínima sempre disponível ao cliente. Como análise do primeiro mês de funcionamento, os resultados de atendimento e estoques mostram que se atingiu além do previsto, principalmente pelo fato de não haver, no estado inicial, um avaliação e acompanhamento se aquele estágio poderia ser pontuado como bom ou ruim. De modo geral, também vale destacar que as expectativas dos colaboradores da área foram amplamente ouvidas e concretizadas, com o exemplo da inovação do uso de kanban com níveis visuais, até então nunca utilizado na organização. Com isto, conclui-se que o estudo foi em seu contexto proveitoso e primou por tentar realizar o grande objetivo da engenharia de produção de estar pensando de forma sistêmica, macro e acadêmica, porém fundamentada em toda experiência e realidade das pessoas que fazem acontecer no chão de fabrica. Desta forma, a oportunidade expôs o acadêmico e profissional de forma a acrescentar substancialmente e, em contra partida, entregar uma melhoria de cerca de um dia de estoque e melhora de atendimento na infindável corrida pela melhoria contínua na empresa. Como recomendação para possíveis melhorias, vale destacar um novo estudo, similar em termos de análise de estoques e atendimento, porém com o uso do MRP com uma rotina diária de planejamento e não somente com uma rodada de cálculos semanais. Um outro ponto com potencial desenvolvimento, trata da análise de otimização de embalagens para que seja efetivada uma possível mudança na regra de especificação de um item kanban – de maneira genérica, com lotes tendendo ao unitário. Desta forma, uma gama bem maior de itens poderiam estar sendo 72 absolvidos pelo sistema puxado. Para concluir, a última recomendação seria referente a um estudo de FIFO (first in, first out, ou primeiro que entra, primeiro que sai) para ambientes de supermercado kanban como o implantado, visto que há o risco de obsolescência de algum item pelo fato de não ser respeitado este fluxo, que hoje, no presente trabalho, é gerenciado por procedimentos operacionais na área produtiva, mas que não garantem por si só o funcionamento. 73 REFERÊNCIAS BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais, distribuição física. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1993. CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G. N., CAON, Mauro. Planejamento, programação e controle da produção. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G. N. Just in time, MRP II e OPT – um enfoque estratégico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996. FULLMANN, Claudiney. et al. MRP, MRPII, MRPIII, OPT, GDR. São Paulo: Iman, 1989. MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MULTIBRAS. Treinamentos - Lean Manufacturing para Iniciantes. Disponível em: < https://www3.multibras.com.br > Acesso em 01 nov. 2006. SCHONBERGER, Richard J. Técnicas Industriais Japonesas: Nove Lições Ocultas sobre a Simplicidade. São Paulo: Pioneira, 1984. SHINGO, Shigeo. Sistemas de produção com estoque zero: o sistema Shingo para melhorias contínuas. Porto Alegre: Bookman, 1996. SLACK, Nigel. et al. Administração da produção: Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1999. 74 RIBEIRO, Paulo D. Kanban – Resultados de uma implantação bem sucedida. 5.ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Cop, 1989. TUBINO, Dalvio F. Manual de planejamento e controle da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. WHIRLPOOL. Institucional. Disponível em: < http://www.multibras.com.br > Acesso em 09 nov. 2006. 75 APÊNDICES APÊNDICE A – Planilha modelo para dimensionamento do kanban APÊNDICE B – Seqüência de treinamento utilizado para transformação da área 76 APÊNDICE A – Planilha modelo para dimensionamento do kanban 77 APÊNDICE B – Seqüência de treinamento utilizado para transformação da área