XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. EFEITO DE DIFERENTES OFERTAS DE FORRAGEM SOBRE CARACTERÍSTICAS ESTRURAIS DO PASTO E NA VARIAÇÃO DE PESO VIVO ANIMAL EM CAATINGA MANIPULADA1 André Pereira Freire Ferraz 2, Márcio Vieira da Cunha 3, Evaristo Jorge Oliveira de Souza 4, Edwilka Oliveira Cavalcante5, Gêsica Samíramys Mayra da Silva Brito6, Camila Sousa da Silva7, Mércia Virginia Ferreira dos Santos8 Introdução No Brasil, o sistema de produção animal é baseado principalmente na criação a pasto (Ferraz e Felício, 2010; Silva et al., 2013), utilizando-se para isso uma área de aproximadamente 159 milhões de hectares, dos quais 64% corresponde à pastagens cultivadas e 36%, pastagens naturais (IBGE, 2006). No semiárido brasileiro, o principal recurso forrageiro é a vegetação nativa da Caatinga, formada principalmente por árvores e arbustos, grande parte caducifólia. No Semiárido brasileiro, a maioria dos animais é criado em sistemas de produção extensivos, tendo como base alimentar a vegetação da Caatinga, que, na maioria das vezes, é insuficiente para o atendimento das exigências nutricionais em quantidade e qualidade de forragem para os animais. Desse modo, a elevação do ganho de peso está entre as principais dificuldades enfrentadas pelos produtores (Ítavo et al., 2011). Além disso, devido a sazonalidade na massa de forragem da Caatinga, em determinadas épocas do ano o ecossistema da pastagem é submetido ao superpastejo, que pode danificar as plantas forrageiras, prejudicando sua rebrota ou mesmo eliminando algumas espécies do pasto. É imprescindível, dessa forma, manejar a vegetação da Caatinga em sua capacidade suporte, ou seja, na máxima taxa de lotação que irá atingir um nível desejado de desempenho animal, sem comprometimento do ecossistema (Allen et al., 2011). Nesse sentido, Nabinger et al. (2006) afirma que deve-se ajustar a lotação animal em função da massa de forragem, o que significa controlar o nível de oferta de forragem. Assim, objetivou-se com o presente trabalho avaliar o efeito de diferentes ofertas de forragem sobre características estruturais do pasto e na variação de peso vivo animal em Caatinga manipulada no Semiárido pernambucano. Material e métodos A pesquisa foi realizada na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em uma área de Caatinga raleada e enriquecida com Mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.) e capim-corrente (Urochloa mosambicensis (Hack.) Dandy), ambos plantados por meio de sementes na década de 1980. Segundo Köppen, o clima da região é classificado como BSw’h’, quente, semiárido, caracterizado por apresentar estação chuvosa do verão ao outono. Na Figura 1 encontram-se os dados meteorológicos monitorados durante o período experimental e obtidos a partir de uma estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) localizada no campus da UFRPE/UAST. A área experimental foi dividida em 12 piquetes de 584 m2 (20 m x 29,2 m). Foi avaliado o efeito de quatro ofertas de forragem (OF) sobre a massa de forragem (MF), altura do pasto (AP) e na variação de peso vivo animal. As ofertas estudadas foram: 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 kg de forragem (MS)/kg de peso vivo (PV). Foram utilizados ovinos sem padrão racial definido, não castrados, com peso vivo médio inicial de 23 kg. Antes da estação de pastejo, os animais foram vermifugados com solução oral de Ivermectina a 0,08% p/v administrada de acordo com o peso vivo de cada animal. Em cada piquete foram instalados bebedouros e saleiros para fornecimento de sal mineral e água a vontade. Os animais foram pesados, antes e após a estação de pastejo, em balança mecânica com capacidade para 300 kg e distribuídos nos piquetes, de acordo com as ofertas de forragem avaliadas, de forma que, a quantidade de animais por piquete foi obtida pela divisão do valor da MF (kg de MS) do piquete pela OF pretendida (kg MS kg PV-1). Os animais foram então adicionados ao piquete de modo que a soma de seus pesos vivos se aproximassem ao máximo do quociente MF OF-1. Desse forma, nos piquetes 1, 6 e 11 foram utilizados três animais, e nos demais piquetes, dois animais, sendo que todos foram utilizados para o cálculo da variação de peso. Após a estação de pastejo, que teve uma duração de 39 dias e foi realizada do mês de junho até meados de julho de 2013, foram realizadas medições da MF e AP pós-pastejo. Para estimativa da MF em cada piquete foi utilizado o método do rendimento visual comparativo (Haydock & Shaw, 1975). Este método consiste em selecionar, no pasto, cinco padrões de referência, os quais são coletados. Para cada padrão foram coletadas três repetições utilizando-se quadrados de 1 x 1 m. Após a coleta dos padrões referência, foram 1 Parte da pesquisa de mestrado do primeiro autor. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal da UFRPE/UAST. E-mail: [email protected]. 3 Professor adjunto do Departamento de Zootecnia, UFRPE/Recife. 4 Professor adjunto de Zootecnia – UFRPE/UAST. 5 Graduanda em Zootecnia e integrante do Programa de Iniciação Científica CNPq – UFRPE/UAST. 6 Graduanda em Zootecnia – UFRPE/UAST. 7 Graduanda em Zootecnia – UFRPE/UAST e integrante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica CNPq – UFRPE/UAST. 8 Professor adjunto do Departamento de Zootecnia, UFRPE/Recife. 2 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. realizadas avaliações visuais do pasto, atribuindo-se os padrões em 18 pontos por piquete. Para estimativa da MF, as plantas herbáceas foram colhidas rente ao solo, enquanto as forrageiras arbóreas e arbustivas tiveram seus ramos de até 0,6 cm de espessura cortados a até 1,5 m de altura, em relação ao nível do solo. O material coletado foi pesado, acondicionado em sacos de papel e levados para estufa de circulação forçada de ar a 55°C por 72 horas. Nos mesmos pontos de avaliação da MF, foi determinada a altura média do pasto, por meio de uma régua graduada em centímetros, tomando-se duas alturas no estrato herbáceo, a menor e a maior, ambas considerando a menor e a maior distância da superfície do solo até as folhas mais baixas e mais altas, respectivamente, sem esticar as folhas. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro tratamentos e três repetições. Os dados foram submetidos a testes de normalidade (Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk a 5% de probabilidade) e análises de regressão por meio do software SigmaPlot v.12 para Windows, a 1 e a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Houve efeito significativo (P<0,01) das ofertas de forragem (OF) avaliadas sobre as características do pasto póspastejo (Figura 2B) e na variação de peso vivo dos animais (Figura 2A). A menor oferta resultou em menores AP e MF pós-pastejo (Figura 2B), o que pode se tornar relevante quanto a manutenção das plantas forrageiras e à conservação do solo, tendo em vista que a redução na cobertura do solo pode desencadear processos erosivos, por exemplo. Para Bertoni & Lombardi Neto (2010), o pastejo excessivo está entre as principais práticas que favorecem a degradação do solo e da pastagem. Comportamento semelhante foi observado por Neves et al. (2009). Ao avaliarem a MF e AP de uma pastagem natural onde foram mantidas novilhas de corte manejadas sob níveis fixos (4, 8, 12 e 16% PV) de oferta de forragem, os autores verificaram que houve efeito significativo da OF sobre a MF e a AP. Na menor OF (8% PV) os valores de MF e AP remanescentes foram de 1170 kg MS ha-1 e 5,5 cm, respectivamente, enquanto que, na maior OF (16% PV), os valores foram de 1935 kg MS ha-1 e 9,3 cm. A menor OF (4% PV) foi excluída das análises estatísticas pois, segundo os autores, a baixa reserva corporal das novilhas, associada à baixa MF nos piquetes com OF de 4%, acarretou a necessidade de retirada dos animais visando manutenção da integridade física dos mesmos, uma vez que houve óbito devido à baixa OF empregada. Na menor OF avaliada os animais perderam em média 0,32 kg de peso vivo, seguida de 0,020 kg na segunda OF (Figura 2A). Ofertas acima de 2,5 kg MS kg PV-1 promoveram ganhos de peso. Com 3 kg MS kg PV-1 os animais tiveram ganho total médio de 1,18 kg, decrescendo em seguida, com ganhos de 0,8 kg de peso vivo na maior OF. Esses dados corroboram com Greenhalgh et al. (1966), os quais relataram que a relação entre o consumo e a OF é, provavelmente, uma relação curvilínea. Segundo os autores, aumentos da OF promoveriam incrementos na quantidade de forragem consumida e, conforme a OF aumenta, a resposta se tornaria progressivamenete menor. Para Cabral et al. (2006), a resposta produtiva dos animais é função do consumo e, segundo Allison (1985), um dos fatores que afetam o consumo é a OF. Porém, em casos de ofertas de forragem altas pode ocorrer uma subutilização do pasto pelos animais, gerando perdas de forragem por senescência, que diminuem a produtividade do sistema de produção como um todo (Silva e Pedreira, 1997). Assim, os resultados obtidos quanto à variação de peso dos ovinos no presente trabalho devese, possivelmente, a um superpastejo na oferta de 2,0 kg MS kg PV-1 e um subpastejo ocorrido a partir da OF de 3 kg MS kg PV-1. Silva et al. (2013) obtiveram resultados semelhantes ao avaliarem a influência de diferentes condições do pasto, definidas em termos da altura, sobre o ganho de peso de novilhas de corte. Os tratamentos corresponderam a quatro alturas do pasto (100, 200, 300 e 400 mm) geradas por lotação contínua e mantidas através de taxa de lotação variável. Os autores verificaram que o ganho de peso diário variou (P = 0,003) com as diferentes alturas do pasto. Foram registrados maiores ganhos de peso (0,930 kg animal-1 dia-1) no pasto manejado a 400 mm e menores ganhos naqueles manejados a 100 e 200 mm (0,190 e 0,510 kg animal-1 dia-1, respectivamente), sendo que o pasto mantido na altura de 300 mm (0,750 kg animal-1 dia-1) não diferiu daqueles mantidos a 200 e 400 mm. Conclui-se, portanto, que a utilização de ofertas de forragem de 3 kg MS kg PV-1 promoveu ganhos de peso vivo, sem que esse resultado afetasse drasticamente a altura e a massa de forragem do pasto. Agradecimentos A CAPES, pela concessão de bolsa de pós-graduação ao primeiro autor, e ao CNPq pela concessão de bolsa de produtividade aos autores Márcio Vieira da Cunha e Mércia Virginia Ferreira dos Santos. Referências Albuquerque, S. G.; Soares, J. G. G.; Guimarães Filho, C. 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