PRODUTIVIDADE DE CAPIM MARANDU EM SISTEMA AGROPASTORIL
Jandson Vieira Costa1,
Luis Gonzaga Medeiros de Figueredo Júnior2,
Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo3,
Gynna Silva Azar4
1
Aluno de graduação em Engenharia Agronômica da Universidade Estadual do Piauí Parnaíba, bolsista
PIBIC/UESPI. E-mail: [email protected]
2
Orientador, Prof. Dr. da Universidade Estadual do Piuaí-Parnaíba. E-mail: [email protected]
3
Pesquisadora Dra. da Embrapa Meio-Norte, UEP-Parnaíba. E-mail: [email protected]
4
Profa. Msc. da Universidade Estadual do Piauí-Picos E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A produção convencional de pasto atualmente não responde mais as exigências dos
produtores, principalmente em relação à conservação do meio ambiente, pois em geral,
esse tipo de produção com o passar do tempo causa degradação do solo tornando,
consequentemente a pastagem degradada e diminuindo a produtividade do pasto e
comprometendo assim esse sistema de produção.
Em face da baixa fertilidade dos solos e sazonalidade climática do município de
Parnaíba-PI, localizada na região norte do Estado, faz-se necessário à adoção de
tecnologias que minimizem o impacto ambiental no estabelecimento e manutenção de
pastagens. Nos sistemas agroflorestais (SAFs) as árvores proporcionam algumas vantagens
que não são verificadas em sistemas convencionais de produção, como: fornecem sombra
para o gado, reduzindo o estresse no rebanho e consequentemente proporcionando conforto
térmico, o que gera ganhos de produtividade animal, fixam nitrogênio no solo, melhoram
a ciclagem de nutrientes, melhoram a produtividade e o valor nutritivo do pasto, reduzem a
erosão do solo e protegem as nascentes de rios.
O sistema agropastoril é a combinação da agricultura e criação de animais
domésticos em uma mesma unidade de produção. Combinando culturas vegetais e animais,
esses sistemas permitem uma maior conservação de recursos naturais como água e solo,
reduzindo a necessidade de uso de insumos externos à propriedade, diminuindo os custos
de produção comparativamente aos sistemas de monocultura de pasto.
2
O sistema formado por coqueiros (Cocos nucifera) e pasto de capim-marandu
(Brachiaria brizantha cv. Marandu) poderá contribuir para a conservação do solo,
melhoria da produtividade e qualidade do pasto.
A escolha do coqueiro como componente do sistema agropastoril se deu
principalmente por ser uma cultura bem adaptada às condições edafoclimáticas da região,
além de ser uma alternativa na geração de renda dos pequenos produtores, que têm na
produção animal sua única fonte econômica, bem como ser uma forma de testar o
aproveitamento de uma área com coqueiros já implantados. Já em relação ao capim, é de
conhecimento geral que o gênero Brachiaria se tornou a “bola da vez” para a implantação
de pastagem em especial o cultivar Marandu, conhecido popularmente como braquiarão,
devido principalmente a sua adaptabilidade às diversas condições ambientais bem como a
alta produtividade em reposta ao manejo bem conduzido.
Objetivou-se avaliar produtividade e as características morfológicas do capim
Brachiaria brizantha cv. Marandu em sistema de monocultivo, formado apenas pelo capim
e agropastoril, formado por coqueiros (Cocos nucifera) e capim, pastejados por vacas
leiteiras da raça Girolando.
METODOLOGIA
O projeto de pesquisa foi desenvolvido no Campo Experimental da Embrapa MeioNorte/UEP Parnaíba, no município de Parnaíba-PI, no período de agosto a novembro de
2009, caracterizando o período seco.
Foi utilizada uma área de aproximadamente 3,0 ha de pastagem de capim brachiaria
(Brachiaria brizantha cv. Marandu), sendo 1,5 ha, de consórcio entre pasto e coqueiros
(Cocos nucifera) e 1,5 ha em monocultivo. Os coqueiros adultos foram implantados com
espaçamento de 7 m entre plantas. Cada uma destas áreas foi subdividida em dez piquetes,
com cada piquete sendo pastejado por um período de três dias e ficando em repouso por
27. Foram utilizados bovinos da raça Girolando, com taxa de lotação de 3 UA/ha em
sistema rotacionado.
A pastagem foi irrigada na época seca, através do método de
aspersão fixa de baixa vazão e foi realizada a adubação de acordo com a análise do solo.
Cada uma dessas áreas correspondeu a um tratamento (T): T1-Sistema de Monocultura;
T2- Sistema Agropastoril. Foram coletados durante o período seco dados de temperatura,
pluviosidade e umidade relativa do ar (Quadro 1).
3
Quadro 1- Médias da temperatura, pluviosidade e umidade relativa do ar, dos meses do
período seco coletadas no campo experimental da Embrapa Meio-Norte/UEP Parnaíba-PI
Mês/ano
T ºC (média)
PP (mm)
UR (%)
Agosto/09
27,5
1,1
73,0
Setembro/09
28,3
0,0
74,0
Outubro/09
28,0
0,0
78,0
Novembro/09
28,9
0,0
74,0
A massa de forragem na condição de pré e de pós-pastejo foi mensurada retirando
três amostras usando um quadro de 0,25 m2 por piquete em seis piquetes que foram
escolhidos por sorteio entre os dez, para o sistema agropastoril e para a monocultura sendo
posicionados em pontos representativos da altura média do dossel de cada piquete para
cada tratamento no momento da amostragem, em que a forragem contida no interior do
quadro foi cortada à 30 cm do nível do solo. Para a avaliação dos componentes
morfológicos da forragem foi retirada uma alíquota representativa das amostras colhidas
para a determinação da massa de forragem de pré e pós-pastejo. Essa alíquota foi separada
nas frações lâmina foliar, pseudocolmo (colmo + bainha) e material morto, as quais foram
pesadas, acondicionadas em sacos plásticos e transportadas para o Laboratório da Embrapa
Meio-Norte/UEP Parnaíba onde foram submetidas à secagem em estufa de circulação
forçada de ar a 60ºC por 72 horas. Os valores de massa de forragem foram convertidos
para kg MS/ha e os componentes morfológicos expressos como proporção (%) da massa de
forragem.
O acúmulo de forragem (MS kg/ha) foi calculado a partir da diferença entre a
massa de forragem no pós-pastejo anterior e no pré-pastejo atual. O acúmulo total de
massa seca do período experimental foi calculado através do somatório da produção de
todos os ciclos de pastejo. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente
casualisado (DIC) para análise da forragem, com seis repetições (piquetes) e dois
tratamentos, nos quatro meses de avaliação. As variáveis foram submetidas à análise de
variância, usando os procedimentos PROC ANOVA E PROC GLM DO SAS (2000).
4
RESULTADOS OBTIDOS
Não houve diferença significativa (P>0,05) entre as condições de pré e pós-pastejo
nos dois sistemas, mas observou-se um maior rendimento no sistema de monocultivo em
relação ao agropastoril nas duas condições de pastejo (Tabela 1). Isso pode ser explicado
pelo fato de que no sistema agropastoril as os coqueiros favoreceram o sombreamento do
Capim-Marandu, o que deve ter influenciado a densidade do dossel do mesmo, uma vez
que os fatores ambientais como luminosidade e temperatura devem influenciar diretamente
a estrutura do capim (Frank & Hofman, 1994), contribuindo para um menor rendimento de
massa de forragem nesse sistema do ambiente.
Tabela 1. Rendimento (t/ha) médio da massa de forragem do Capim-Marandu em sistemas
de monocultivo e agropastoril nas condições de pré e pós-pastejo no período seco
CONDIÇÃO
RENDIMENTO MÉDIO DA MASSA DE FORRAGEM (t/ha)
Monocultivo
Agropastoril
Pré-pastejo
5,70 Aa
3,99 Ab
Pós-pastejo
5,37 Aa
3,44 Ab
Letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas iguais não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5%.
Os rendimentos de material vivo e material morto foram superiores nas condições
de pré e pós-pastejo, respectivamente, nos dois sistemas. Esses resultados podem ser
explicados pelo fato de que durante o pastejo os animais consumem maiores quantidades
de material vivo, já que essa parte da planta possui melhor palatabilidade e maior valor
nutritivo, deixando ao sair do pasto maior quantidade de material morto.
Não houve diferença significativa (P>0,05) de material vivo entre os sistemas nas
duas condições de pastejo, sendo observados maiores rendimentos de material morto no
sistema de monocultivo nas duas condições de pastejo (Tabela 2). Esses resultados podem
ser justificados, pois a radiação acelera o processo de senescência das folhas no pasto, e a
exposição ao sol faz com que os animais passem mais tempo pastejando, o que pode
aumentar o acumulo de material morto a pleno sol.
5
Tabela 2. Rendimento (t/ha) médio de material vivo (MV) e material morto (MM) do
Capim-Marandu em sistemas de monocultivo e agropastoril nas condições de pré e póspastejo no período seco
RENDIMENTO (t/ha)
CONDIÇÃO
Pré-pastejo
Pós-pastejo
MV
MM
Monocultivo
Agropastoril
Monocultivo
Agropastoril
3,91 Aa
3,41 Aa
1,79 Ba
0,58 Bb
(68,60%)
(85,46%)
(31,40%)
(14,54%)
2,45 Ba
2,35 Ba
2,92 Aa
1,09 Ab
(45,62%)
(68,31%)
(54,38%)
(31,69%)
Letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas iguais não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5%.
Na Tabela 3 verificam-se maiores rendimentos de colmo e de lâmina foliar nas
condições de pós e pré-pastejo nos dois sistemas, respectivamente (Tabela 3). Não houve
diferença significativa (P>0,05) na proporção de colmo entre os sistemas. Já para a lâmina
foliar observou-se maiores proporções no sistema agropastoril apenas na condição de prépastejo. Provavelmente isso decorre da menor competição entre os perfilhos resultante da
redução da sua densidade em condições de sombreamento (Paciullo et al. 2007).
Em algumas espécies de plantas tropicais, particularmente aquelas de crescimento
cespitoso, como no caso dos capins Brachiaria, o alongamento dos colmos é um
componente importante do crescimento e que interfere significativamente na estrutura do
pasto e nos equilíbrios dos processos de competição por luz (Sbrissia & Da Silva, 2001).
De fato, quando ocorre sombreamento das plantas, uma das respostas principais é o
alongamento dos colmos, primeiramente, e também o alongamento foliar, como forma de
tentar expor as folhas à maior intensidade luminosa (Deregibus et al., 1983). Neste caso, o
sombreamento tende a induzir o alongamento foliar como estratégia para que a planta seja
mais eficiente na captação de luz.
6
Tabela 3. Rendimento (t/ha) de colmo (C) e lâmina foliar (LF) do Capim-Marandu em
sistemas de monocultivo e agropastoril nas condições de pré e pós-pastejo no período seco
RENDIMENTO (t/ha)
CONDIÇÃO
C
Pré-pastejo
Pós-pastejo
LF
Monocultivo
Agropastoril
Monocultivo
Agropastoril
1,11 Ba
1,10 Ba
2,81 Aa
2,31 Ab
(28,39%)
(32,26%)
(71,61%)
(67,74%)
1,61 Aa
1,51 Aa
0,84 Ba
0,84 Ba
(65,71%)
(64,26%)
(34,29%)
(35,74%)
Letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas iguais não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5%.
Observou-se maior altura de plantas na condição de pré-pastejo em relação ao pós
em ambos os sistemas, tendo os animais consumido em torno de 13,46 e 19,48 cm nos
sistemas de monocultivo e agropastoril, respectivamente. Maiores alturas foram
observadas no sistema agropastoril nas duas condições, sendo justificado devido o
crescimento da planta estar condicionado primariamente à obtenção de energia proveniente
da radiação solar, pela interceptação de luz e sua utilização no processo de fotossíntese
(absorção de carbono). Segundo Lemaire & Chapman (1996) a interceptação de luz pode
ser determinada pelas condições de meio ambiente. Assim o sombreamento gerado no
sistema agropastoril deve ter contribuído para um maior crescimento do capim, devido a
necessidade dessa planta procurar luz fora das copas dos coqueiros.
Tabela 4. Altura média do Capim-Marandu em sistemas de monocultivo e agropastoril nas
condições de pré e pós-pastejo no período seco
ALTURA (cm)
CONDIÇÃO
Monocultivo
Agropastoril
Pré-pastejo
57,81 Ab
67,47 Aa
Pós-pastejo
44,35 Bb
47,99 Ba
Letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas iguais não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5%.
7
CONCLUSÕES
O sistema de monocultivo foi superior ao sistema agropastoril em relação à
produtividade, sendo recomendadas mais pesquisas para comprovar a sua superioridade em
relação aos componentes morfológicos desejáveis (material vivo e lâmina foliar).
O sistema agropastoril apresentou maiores alturas de pasto formado por CapimMarandu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEREGIBUS, V.A.; SANCHEZ, R.A.; CASAL, J.J.. Effects of light quality on tiller
production in “Lolium spp”. Plant Physiology, v.72, p.900-902, 1983.
FRANK, A.B.; HOFMAN, L. Light quality and stem numbers in cool-season forage
grasses. Crop Science, v.34, n.2, p.468- 473 1994.
LEMAIRE, G.; CHAPMAN. D. Tissue flows in grazed plant communities. In:
HODGSON, J.; ILLIUS, A.W. (Eds.) The ecology and management of grazing systems.
Wallingford: CAB International, 1996. p.3-36.
PACIULLO, D. S. C.; CARVALHO, C. A. B. de; AROEIRA, L. J. M. et al.
Morfofisiologia e valor nutritivo do capim-braquiária sob sombreamento natural e a sol
pleno. Pesquisa Aagropecuária Brasileira, Brasília, v.42, n.4, p.573-579, abr. 2007.
SBRISSIA, A.F.; Da SILVA, S.C. O ecossistema de pastagens e a produção animal. In:
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001,
Piracicaba. Anais... Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001. p.733-754.
STATISTICAL ANALYSIS SISTEM. SAS. User's Guide. Version. Cary, NC: SAS
Institute, 2000.
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