FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste
Alquimy Art
Curso de Especialização em Arteterapia
Pós-Graduação lato sensu
A Arteterapia e a Escuta Humanizada no Trabalho com a
Terceira Idade
Maria Florência Castelo Branco Coêlho Linhares
Goiânia, GO
2007
Maria Florência Castelo Branco Coêlho Linhares
A Arteterapia e a Escuta Humanizada no Trabalho com a
Terceira Idade
Monografia apresentada à FIZO-Faculdade
Integração Zona Oeste – SP e ao Alqimy Art, – SP,
como parte aos requisitos para obtenção do título
de Especialista em Arteterapia.
Orientadora: Profª Esp. Celnia Teresinha Bastos
de Paula Costa.
Goiânia, GO
2007
FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste
Alquimy Art
Curso de Especialização em Arteterapia
Pós-Graduação lato sensu
A Arteterapia e a Escuta Humanizada no Trabalho com a
Terceira Idade
Monografia apresentada pela aluna Maria Florência Castelo Branco Coêlho
Linhares,
ao
curso
de
Especialização
em
Arteterapia
em
____27_/____10__/____2007__ e recebendo avaliação da Banca Examinadora,
constituída pelas professoras:
Prof ª Esp. Celnia Teresinha Bastos de Paula Costa – Orientadora.
Profª Drª Cristina Dias Allessandrini - Coordenadora da Especialização.
Profª Especialista Flora Elisa de Carvalho Fussi – Convidada.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS..................................................................................................... 05
RESUMO..........................................................................................................................
06
ABSTRACT...................................................................................................................... 07
TRAJETÓRIA PESSOAL..............................................................................................
09
ESCUTA HUMANIZADA..............................................................................................
15
DESCOBERTAS E TRANSFORMAÇÕES.................................................................. 21
CONDIÇÃO SOCIAL DO IDOSO NO BRASIL.........................................................
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 35
AGRADECIMENTOS
A Deus, a quem devemos nos voltar e agradecer, agora e em todos os
momentos da vida.
Ao meu esposo pela paciência, compreensão, carinho e dedicação estando
sempre ao meu lado, dando-me força o tempo todo.
Aos meus filhos Guido, Luis, Francisco Neto, João de Deus, Antônio José,
Julia Maria, às minhas noras e genro, sempre presentes na minha história de lutas e
conquistas.
Aos meus netos e bisnetos pelo carinho.
Aos meus irmãos, cunhados, sobrinhos por acreditarem no meu potencial.
As pessoas da Terceira Idade as quais representaram a “alma” desta pesquisa
e me ensinaram não só ver com os “olhos do coração”, mas a reconhecer e valorizar o
mundo deslumbrante que se esconde nos vales das perdas e nos penhascos das dores
emocionais.
À direção da Instituição pela disponibilidade e confiança na pesquisa.
Aos professores pelos conhecimentos e pela oportunidade de desenvolver
um trabalho tão humano.
Aos amigos e colegas da especialização que me ajudaram a superar com
força e confiança cada obstáculo desta caminhada.
A minha amiga Abadia que me acompanha desde a Faculdade e mais uma
vez no trabalho da pesquisa, com carinho e compreensão.
E a todos que, com incentivo e apoio, contribuíram para mais este sucesso!
RESUMO
O processo Arteterapêutico ocorre através da utilização de recursos artísticos em
contexto terapêutico de modo a facilitar o processo de amplificação da consciência e do
autoconhecimento. A Escuta Humanizada de Carl Ranson Rogers (1978) enfatiza a
necessidade de uma escuta diferenciada, humanizada, marcada por alguns aspectos
fundamentais como: Aceitação Incondicional, Empatia, Congruência. Esta pesquisa
desenvolveu-se com a aplicação da Arteterapia em contexto terapêutico associada à
Escuta Humanizada e objetivou evidenciar no grupo de idosos, a interferência da
Arteterapia no potencial criativo e interativo do idoso, despertando suas habilidades e
devolvendo sua autonomia no viver, enquanto a Escuta Humanizadas evidenciava para
o idoso sua importância no ambiente terapêutico através da escuta profunda, permeada
por uma autêntica intenção de entrar em contato com o que as palavras traziam em suas
entrelinhas. As sessões semanais, desenvolvidas no Centro de Trabalho ComunitárioC.T C., tiveram seus dados coletados nos relatórios semanais, observações diretas e
fichas individuais. A metodologia utilizada foi a pesquisa retrodutiva na perspectiva
construtivista. O somatório das técnicas evidenciou no grupo a melhoria na:
autenticidade, segurança, autonomia, motivação interna para novos eventos, sorrisos,
brincadeiras, que no inicio da pesquisa não se evidenciavam, além de uma maior
consciência no idoso de suas verdadeiras necessidades, inclusive na sua valorização
pessoal e social, evidenciando sua transformação.
Palavras-chaves: Arteterapia, Escuta Humanizada de Carls R. Rogers, idoso,
Transformação, Auto-estima, Autoconhecimento.
ABSTRACT
The artherapeutic process is conducted by the use of artistic tools in a therapeutic
context with the objective of easing the way to amplify the consciousness and the selfknowledge. The Humanized Listening of Carl Ranson Rogers (1978) emphasizes the
need of a differentiated and humanized listening, marked with some fundamental
aspects such as: Unconditional Acceptance, Empathy and Congruency. This research
was developed with the implementation of artherapy in a therapeutic context with
association with the Humanized Listening. The objective of the study was to show the
interference of the artherapy in an elderly group in regards to the creative and
interactive potential of the individuals that could lead to improve their skills and recover
their living autonomy while the Humanized Listening demonstrated its importance in
the therapeutic environment through the deep listening overlaid with the authentic
intention to have contact with the actual meaning of the words. Data were collected and
registered in weekly reports during the weekly sessions performed at the Center of
Community Work (C.C.W.). Direct observations were taken in separate reports. The
methodology used was based on a retroductive research under a constructivist
perspective. The conjunction of the techniques applied in the study demonstrated
improvement in the group: in authenticity, confidence, autonomy, internal motivation
for new events, smilings, amusements as not evident in the beginning of the research,
besides the greater consciousness of the elderly with their actual needs, including their
personal and social values.
Key Words: Artherapy, Carls Rogers' Humanized Listening, Elderly, transformation,
self-esteem, self-knowledge.
LINHARES, Maria Florência Castelo Branco Coelho
A Arteterapia e a Escuta Humanizada no Trabalho com a
Terceira Idade
Maria Florência Castelo Branco Coelho Linhares – Goiânia; [s.n.], 2007.
35 p.
Monografia (Especialização em Arteterapia) – FIZO,
Faculdade Integração Zona Oeste. Alquimy Art, SP.
Palavras Chaves: Arteterapia, Escuta Humanizada de Carl R.
Rogers, Terceira Idade, Transformação, Auto-estima; Autoconhecimento.
1. TRAJETÓRIA PESSOAL
De acordo com Ferguson (1995), a transformação é como uma viagem sem destino
final. No entanto, há estágios durante a viagem, os quais são surpreendentemente fáceis de se
delimitar, baseados em milhares de relatos históricos e nos abundantes relatórios de
pesquisadores contemporâneos. Fala também, das várias armadilhas existentes como as
cavernas, as areias movediças e cruzamentos perigosos são peculiares ás viagens individuais,
mas há desertos, cumes e algumas estradas, montanhas observados por quase todo mundo que
percorre.
As transformações vividas no relato de Ferguson (1995), experienciei em vários
momentos. Quando anteriormente tinha medo de enfrentar, de fazer algo, não dar conta, por
medo das críticas, preferindo a fuga. Minha cultura me impedia determinar maior liberdade de
ação.
Quando vim morar em Goiânia houve uma grande mudança em minha vida, tinha que
enfrentar o novo o diferente, não tinha a quem recorrer nas dificuldades ou desentendimentos
familiares, pois, minha mãe, minha avó não estavam por perto para me ajudar a resolver
minhas lamúrias. Contudo eu estava vivendo um momento diferente e porque não dizer, bom.
Tinha que enfrentar meus problemas de maneira criativa, tornando saudáveis. Como comecei
a trabalhar, tinha que conciliar a profissão, e ser dona de casa e assim a cada enfrentamento o
novo surgiam como também a forma adequada para resolver aparecia.
Trabalhei vinte anos na comunidade onde moro, participei da criação da mesma, como
também da Creche e Escola, sai de lá por uma grande decepção, o importante é que esta
experiência adquirida durante estes anos me serviram muito. Assim tem sido minha trajetória,
hoje acabo de fazer um curso superior e mal termino de realizar este meu sonho estou
enfrentando mais um desafio fazendo a especialização que tanto desejei com a finalidade de
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adquirir novos conhecimentos para minha realização como também colocar a serviço do
outro. Com o curso de Arteterapia esses desafios têm se tornado mais leves e quando os
medos querem voltar a aparecer, lembro, que o grande passo já foi dado e que é necessário ir
em frente, nunca desanimar, procurando transformar os obstáculos que possam aparecer.
Como diz Ferguson (1995), a prisão que é a nossa atenção fragmentada, controlada,
desgastada, planejada, lembrando, mas não sendo. Na necessidade de lidar com as
preocupações cotidianas, privamos nossa percepção do milagre da percepção.
Descobri que ser criativo é caminhar de maneira diferente por um caminho que já foi
percorrido antes, procurando descobrir as ferramentas que temos para melhorar a cada dia,
não sendo necessário acontecimentos extraordinários, na verdade, as melhores inovações são
geralmente as mais simples.
Conforme Allessandrini, (2005), ser criativo não é somente um dom, e sim um
fundamental ingrediente para todos aqueles que pretendem ultrapassar os obstáculos e
atingirem seus sonhos.
Criatividade é a habilidade exclusiva do ser humano, cada vez mais valorizada, que
transforma coisas, transforma o mundo. Sem criatividade fica mais difícil você identificar
uma oportunidade, solucionar um problema. É necessário a cada dia que nasce procurarmos
sair da rotina, passar a ser mais observador, é um pensar diferente é ir além daquilo que
aprendemos antes, melhor fazer desta aprendizagem uma nova forma de ver ou fazer
diferente. É desenvolver nossa imaginação, sensibilidade e intelecto em função de nós
mesmos e dos outros (ALLESSANDRINI, 2005).
Segundo Ostrower (1989) ser criativo é procurar repensar o nosso dia-a-dia, é sair da
rotina, confiantes que somos capazes de melhorar o que já fazemos e sempre de olhos abertos
para os acontecimentos. É olhar sempre para frente, sendo positivo, aberto e agindo com
liberdade, procurando deixar de lado as cobranças da sociedade, os medos.
11
De acordo com Allessandrini (2005), o elemento criador na aprendizagem pode ser
visto agente mobilizado da ação de romper o limite, o se surpreender diante do inesperado que
desafia a ação, superar-se enquanto processo oculto e consciente de autonomia na relação do
interno com o externo, o homem vive o processo de transformação de seu potencial de ser,
criar, fazer, renovar e aprender.
Depois de tantas descobertas e habilidades que existem dentro de mim, é impossível e
até um tanto egoísta ficar só comigo as maravilhas que Deus me deu, o caminho agora é
continuar colocando estes dons a serviço do outro.
Enquanto fazia minha graduação já começava a me preparar para uma especialização,
conversando com uma professora e expressando o meu desejo ela me falou da Arteterapia e
logo entrei em contato com as coordenadoras e fiquei a esperando o inicio do curso. A cada
módulo, descobertas foram acontecendo, os materiais e recursos usados no curso ofereceram
inúmeras possibilidades de trabalhos e descobertas interiores, despertando e explorando o
meu lado criativo, dentre todos, o que me tocou profundamente foi o do Barro Criativo. Este
mobilizou sensações, sentimentos, trazendo a possibilidade de uma nova descoberta, um
resgate, um ressignificar de minha própria história.
Este encontro para mim foi muito enriquecedor, começando com a sensibilização antes
de usar o material, que ofereceu um encontro comigo mesma através da música, o bater do
tambor se aprofundando e penetrando no meu ser a cada instante e, ao mesmo tempo, pude
reviver momentos maravilhosos de minha infância. Quando criança gostava muito de brincar
com o barro. Meus avós tinham um sítio e todos os finais de semana lá estavam, eu, meus
irmãos e primas reunidos brincando de fazer comidinhas debaixo da mangueira e buscando o
barro na beira do rio para fazer vasilhames e também móveis da casa das bonecas.
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Figura 1 - Sítio dos meus avós, minha infância.
Como foi maravilhoso poder reviver mentalmente este passado, buscando experiências
agradáveis no inconsciente. Eram brincadeiras saudáveis, divertidas e prazerosas. Agora,
conhecer o barro num contexto terapêutico foi agradável e enriquecedor. Logo que fechei os
olhos, os olhos de minha alma se abriram e comecei a dialogar com o barro, sentir seu cheiro,
afagar de maneira carinhosa, ampliando possibilidades e grandes descobertas.
Para Gouvêa (1989 p. 84):
Da natureza secreta do barro percebe-se também um revelar e esconder. A
concretude do barro desperta a psique de quem o manuseia e algo do próprio
existencial do indivíduo acaba por revelar-se sem que agrida o seu silêncio, sem
expor sua alma, seus medos. A revelação se dá no processo, o brilho cresce ao
aproximar-se do centro da alma e só verão aqueles que tiverem olhos para ver.
Segundo Bozza (2000, p.14), pode-se afirmar que:
Trabalhar com argila em contexto terapêutico não é novidade, mas o método
“Argila Espelho da Auto-Expressão”, da forma como é proposto, vai além do
simples modelar algo, pois se constitui num conjunto de procedimentos que levam
ao maior conhecimento da dinâmica e da estrutura da personalidade do sujeito, bem
como facilita, por meio da materialização em argila de tais conteúdos, o trabalho
subseqüente.
No primeiro contato que tive com o barro, enquanto o aquecia, comecei a sentir a
transformação o calor e ao mesmo tempo, as recordações das boas vivências e experiências da
infância reapareciam. Quando comecei a afagar o barro e em seguida fazer uma bola, este
momento foi muito acolhedor, não senti vontade de fechar totalmente a bola e ao encostá-la
em cima do coração, senti uma energia muito forte saindo do barro e penetrando em mim
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como que naquele momento tudo estivesse se renovando dentro do meu ser, parecia que ele
me alimentava e renovava, minha energia aumentava, minha disposição e até mesmo minha
saúde. Foi maravilhoso!
Figura 2 - Módulos do barro, início da transformação interior.
Para Ostrower (1998, p.266), criar, formar, dar uma forma às coisas não depende
necessariamente da capacidade de verbalizar ou conceituar. Depende, sim, de um
novo senso interior de forma, de equilíbrio e justeza das formas, enfim, depende da
sensibilidade conscientizada, ordenada, significadora do ser humano. De suas
profundezas afluem à intuição e um sentimento de empatia com a matéria, a qual,
ao ser transformada, vai sendo formada.
Todos os momentos deste encontro foram gratificantes, aconteceu um fato
interessante, nas primeiras experiências, fomos convidadas a jogar o barro no chão e eu não
quis fazer assim, meu desejo era de explorar o máximo, acariciar, apalpar e poder obter uma
forma, modelando as sensações, os sentimentos e os pensamentos que o barro oferece e no
diálogo com ele surgia o encontro comigo mesma no processo criativo, de harmonia e
tranqüilidade.
No quarto exercício ao entrar em contato com o meu mundo interior, dialogando com
o barro, surgiram imagens terríveis, e começou a sair de dentro de mim um sentimento ruim,
de mágoa, de dor, de tristeza e de raiva, surgindo em minha mente às pessoas que há algum
tempo me magoaram, me injustiçaram e me causaram muito sofrimento.
14
Sendo assim, ao pegar o barro, peguei com muita força e quanto mais eu jogava o
barro no chão, mais vontade eu tinha e as lembranças ruins pareciam que estavam se
deslocando de dentro de mim e sendo liberadas, me acalmei e fui fazer os outros exercícios,
aquele restinho de sentimento que ainda existia e me atrapalhava, sumiu.
Na semana seguinte, quando me encontrei com um daqueles que havia me feito viver
os dissabores, pude confirmar que na vivência tinha conseguido transformar meus
sentimentos, pois conversei com a pessoa e o sentimento e me senti em Paz.
Segundo Allessandrini (2000), “algo significativo acontece, o sujeito de posse da sua
forma pode dominar os conteúdos transformando-os em um significado (conteúdo)
significante (forma)”. Ainda diz: “que viver de forma criativa é deixar emergir o que temos de
melhor”.
De acordo com Ostrower (1987, p. 166), “Ao exercer o seu potencial criador,
trabalhando e criando em todos os âmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e dá
um sentido. Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. E é do mesmo modo necessário”.
Trabalhar com o barro me deu a oportunidade de despertar e de explorar o meu lado
criativo, com coragem para expressar, para fazer e ser. Aproveitarei as grandes descobertas
criativas, das quais pensava não existirem em mim, resgatando e re-significando a maneira de
estar no mundo. Se anteriormente já pensava em dar a minha parcela de contribuição na
construção de um mundo melhor, diante de tantas descobertas, me sinto cada vez mais
responsável, firme, confiante e com maiores possibilidades para enfrentar os desafios,
deixando de lado os medos que possam surgir, fazendo cada vez mais, parte deste mundo que
tanto precisa de mim.
Escolhi fazer minha pesquisa numa Instituição Filantrópica que acolhe pessoas da
terceira idade oferecendo oficinas de arte, recreação, atividades culturais, Religiosas e de
socialização. São moradores da própria comunidade e adjacências.
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A Instituição é mantida através de doações de pessoas físicas e jurídicas, bazar, horta,
etc... O grupo é composto de senhoras com idades variadas de 60 a 83 anos, de vez em
quando aparecia um senhor que tocava seu violão para alegrar o grupo. Os encontros
aconteciam semanalmente.
O método de análise de dados utilizado foi com base na Análise Retrodutiva de Garcia
(2002) na perspectiva construtivista, baseando-se nos dados coletados nos relatos e material
produzido no Ateliê arteterapêutico realizado com um grupo de idosas.
Foram colhidas, para a realização desta pesquisa, a autorização da instituição e das
idosas participantes para que todo o material produzido pelo grupo pudesse ser registrado,
analisado e publicado.
Figura 3 - Grupo da terceira idade.
2. ESCUTA HUMANIZADA
Nasci em uma família em que o idoso era respeitado, era aquele que com sua
sabedoria transmitia aos mais novos suas experiências de vida. Por isso sempre tive muito
respeito pelas pessoas que conseguem chegar nesta fase de suas vidas, procurando ouvi-las,
dar atenção, respeitá-las, assim como procurando exaltar que suas fragilidades não as tornam
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improdutivas e que são importantes para a família e para a sociedade. Procurei trabalhar
atentamente com a escuta humanizada onde Rogers (1978) enfatiza a necessidade de uma
escuta diferenciada, humanizada, que deve ser marcada por alguns aspectos fundamentais:
* Aceitação Incondicional - É a capacidade do facilitador em aceitar o outro sempre de
maneira positiva, entendendo que o outro a sua maneira está procurando se sentir bem e se
encontrar. Se o facilitador acredita e tem claro dentro de si a tendência atualizante, fica mais
fácil aceitar o outro, mesmo não concordando: aceitar não significa concordar. Em um
ambiente onde a pessoa sinta-se verdadeiramente aceita e acolhida, livre de ameaças, ela
tende a ser ela mesma e a entrar em contato consigo própria para buscar aquilo que julga
importante para o seu crescimento pessoal.
* Empatia - O facilitador deverá ser capaz de se colocar no lugar do outro sempre,
tendo desta forma, provavelmente mais condições de entender a pessoa que se encontra diante
de si, seus motivos, seus medos e sentimentos e conseqüentemente mais condições de não
julgar ou direcionar a relação de ajuda.
* Congruência - Significa autenticidade por parte do facilitador quanto aos seus
sentimentos em relação à pessoa que está sendo ajudada. Ao ouvir a maneira como a pessoa
se posiciona perante o mundo e as formas como interage com o outro, coloca a relação então
iniciada a serviço da pessoa como uma possibilidade de ilustrar seu “modo de ser”. O
facilitador, nesse contexto, tem a possibilidade de expressar os sentimentos e sensações que a
pessoa lhe desperta numa postura de cuidado, carinho, respeito e, principalmente,
autenticidade. É direito da pessoa ajudada saber o que o facilitador sente a respeito do que ela
está dizendo.
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Muitas vezes o arteterapeuta através de seu conhecimento teórico cria uma barreira
entre si e a pessoa, perde a disponibilidade verdadeira em ouvir o outro, abre mão de sua
intuição, percepção, do não julgamento e do acolhimento. Rogers fala de uma escuta que ouve
para além das palavras, mesmo que através delas:
Quando digo que gosto de ouvir alguém, estou me referindo evidentemente a uma
escuta profunda. Quero dizer que ouço as palavras, os pensamentos, à tonalidade
dos sentimentos, o significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às
intenções conscientes do interlocutor. Em algumas ocasiões ouço, por trás de uma
mensagem que superficialmente parece pouco importante, um grito humano
profundo, desconhecido e enterrado muito abaixo da superfície da pessoa. [...]
Assim, aprendi a me perguntar: sou capaz de ouvir os sons e de captar a forma do
mundo interno dessa outra pessoa? Sou capaz de ressoar tão profundamente sobre o
que está sendo dito, a ponto de entender os significados que ela teme e ao mesmo
tempo gostaria de me comunicar, tanto quanto os que ela conhece (1983 p. 05).
Amatuzzi (1990) reafirma os pressupostos de Rogers ao afirmar que ouvir é mais que
observar é estar em relação e, portanto, tornar-se presente. O ouvir é um abrir-se para o outro,
pré-verbal, experiencial. E é através da vivência desse nível pré-verbal que o contato e a
relação terapêutica são instaurados. Para isso, é imprescindível que tanto o facilitador quanto
a pessoa sintam-se bem e verdadeiramente disponíveis nessa relação de troca. No instante em
que o terapeuta assume e comunica seus sentimentos em relação à pessoa, além de lhe dar o
direito de pensar a respeito, a tendência é que ela também assuma os seus sentimentos, livre
de ameaças, apoiada na aceitação, na autenticidade e no acolhimento.
O arteterapeuta trabalha com as emoções e vontades do paciente naquele momento,
aqui e agora, e os desdobramentos que desta situação decorrem. Portanto, o indivíduo
encontra-se num momento de desequilíbrio, no qual não percebe alternativas em responder às
suas perguntas e neste período vê-se fragilizado pela ausência de fluidez entre sua necessidade
(figura) e sua totalidade (fundo), conforme ressalta Tellegan (1984). Através do arteterapeuta,
cria um espaço vivencial no qual a pessoa não fala sobre o acontecimento, mas sim revive
uma nova experiência que possibilita uma transformação que desperta uma nova visão
integradora. Vale ressaltar que o indivíduo, neste momento, encontra-se em crise, isto é, vê-se
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impossibilitado em restabelecer sua auto-regulação, percebendo-se incapaz em satisfazer suas
vontades e desejos.
Para que este processo seja satisfatório, há a necessidade de uma transformação que é
mediada pelos ajustamentos criativos que o indivíduo estabelece com seu meio para que suas
necessidades sejam alcançadas, ou seja, cria-se um processo de ajustamento e reavaliação que
possibilita mudanças, fechando, assim, a figura do momento. Todo este movimento proposto
pela Gestalt é à busca da awareness, ou seja, a percepção, conscientização da necessidade
significativa à pessoa, daquilo que lhe faz sentido, se apropriando de sua totalidade e
integridade.
Figura 4 - Alegria da descoberta, saber que ainda são capazes.
Nesse processo de mudança, a escuta proposta por Rogers mostra-se particularmente
útil, uma vez que traz conseqüências significativas para a pessoa.
Constato, tanto em entrevistas terapêuticas como nas experiências intensivas de
grupo que me foram muito significativas, que ouvir traz conseqüências. Quando
19
efetivamente ouço uma pessoa e os significados que lhe são importantes naquele
momento, ouvindo não suas palavras, mas ela mesma, e quando lhe demonstro que
ouvi seus significados pessoais e íntimos, muitas coisas acontecem. Há, em
primeiro lugar, um olhar agradecido. Ela se sente aliviada. Quer falar mais sobre
seu mundo. Sente-se impelida em direção a um novo sentido de liberdade. Torna-se
mais aberta ao processo de mudança (1983 p. 06).
No trabalho com o idoso, a escuta humanizada favorece uma abertura para a pessoa
que procura ajuda para poder continuar sendo ela mesma. Essa pode inclusive ser a primeira
oportunidade para a pessoa se mostrar e assumir-se de forma não ameaçadora, o que
proporciona descobertas únicas e preciosas acerca de si, de sua postura diante da vida e dos
relacionamentos que estabelece com o outro.
Portanto requer do arteterapeuta a tarefa de estar vigilante para considerar a realidade
da pessoa como ela a vê, tal como ela a significa, não lhe impondo suas verdades, induzindo
ou sugerindo caminhos, não hierarquizando seus valores, mas priorizando o que é importante
naquele momento, respeitando sua individualidade, suas vivências e sentimentos, bem como
favorecendo sua livre expressão, de forma não julgadora, exercitando a inclusão e aceitação
(condições fundamentais para uma escuta humanizada).
.Essa escuta diferenciada favorece o contato, o encontro da pessoa consigo mesma e o
exercício de suas potencialidades enquanto um ser de possibilidades.
Portanto de acordo com Rogers (1983) quando se ouve uma pessoa, não se ouve
apenas suas palavras, mas sim a ela mesma, total e a pessoa se sente mais aliviada, aberta as
mudanças que vão acontecendo.
Para tanto, procurei estar bem presente, caminhando e ajudando a enfrentarem com
maior dignidade esta fase de suas vidas e ao mesmo tempo perceberem que podem se livrar de
suas angústias, ansiedades e trabalharem suas perdas. Fazer com que se sintam valorizadas,
aproveitando da grande sabedoria interior e descobrindo que ainda são capazes de dar novo
sentido para suas vidas, dentro da realidade em que estão vivendo, com alegria e satisfação,
inclusive tornarem-se agentes do seu processo.
20
As técnicas de Arteterapia possibilitaram um trabalho com segurança e ao mesmo
tempo a alegria de poder presenciar as transformações das senhoras que antes diziam “não ter
mais nada para aprender”, tendo como bagagem a ansiedade, angústias e sofrimentos, com
isso diziam que “meu mundo desmoronou”, e de repente com o despertar da criatividade as
possibilidades de mudança de perspectiva, a cortina se abri e passam a ter uma nova visão,
começam a se soltar, sentirem que ainda são capazes de transformar o que pensavam não ter
mais jeito e com facilidade aprendem a lidar com os problemas que possam surgir.
No início houve resistência por parte de algumas das senhoras, medo de se exporem,
de não saber lidar com as tintas, de não dar conta, diziam não ter mais nada para aprender,
agora podemos perceber as mudanças nessas pessoas, antes se sentiam vazias, desvalorizadas
ou mesmo deixadas de lado, sem rumo porque já são velhas e de repente começam a si
descobrir procurando ocupar o seu tempo em coisas úteis, estando disponíveis para continuar
crescendo, aprendendo, buscando novas realizações.
Percebi esse crescimento, através do trabalho de Arteterapia para os idosos, onde
demonstraram um movimento de crescimento e renovação. O trabalho com a Arteterapia
possibilitou o contato consigo mesmo, com as outras pessoas e com o ambiente, tornando-se
pessoas mais alegres, saudáveis, descobrindo que ainda são importantes e que ainda tem
muito a aprender e desenvolver.
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Figuras 5 - Descobertas e transformações.
3. DESCOBERTAS E TRANSFORMAÇÕES
Com a sensibilização aquelas pessoas que pareciam enferrujadas diminuíam a rigidez
se tornando mais flexíveis e aumentando a abertura para o novo, sentindo-se capazes de
realizar algo que já pensavam não ser possível, aliás, muitas pareciam estar esperando só há
sua hora final chegar, e como que num passo de mágica aparece um convite para virem
participar de um atelier terapêutico onde começam a despertar os seus potencias, sentem que
ainda dão conta de desenvolver suas habilidades através do potencial criativo, de que a vida
ainda tem muito para ser vivida e com alegria vão descobrindo a beleza e a riqueza que ainda
possuem.
Através da criatividade, despertam para muitas possibilidades de ação, de realização.
A cada encontro que acontecia era percebido o crescimento dessas pessoas, e as descobertas a
22
cada dia, suas energias sendo renovadas, com isso acontecem às transformações e passam a
dar novo significado para suas vidas.
Outra coisa que nos chama atenção é o entrosamento, a troca de experiência, a
confiança, o carinho que existe uns com os outros e com a facilitadora. A simplicidade e
experiência de vida dos participantes nos ensinam muito a cada encontro.
É impressionante o desenvolvimento do grupo no atelier terapêutico, reforçando a
motivação em continuar e confirmando o poder da Arteterapia em nossas vidas, ou seja, ela
nos desperta para a transformação através da percepção de si e do outro.
Depois de alguns encontros uma das integrantes fez uma explicação do que era
Arteterapia para ela dizendo o seguinte: “para mim a Arteterapia é como se eu visse em minha
frente uma estrada toda coberta de capim e de sujeira e aos poucos este capim e esta sujeira
começam a desaparecer, vai se descobrindo, vai limpando e fica tudo claro pra gente, e tudo
fica mais claro, hoje sou uma outra pessoa”, achei muito inteligente esta comparação. Outra
diz: “eu agora estou vendo as coisas com outros olhos, estou mais aberta, mais alegre,
descobri que sou capaz de fazer muita coisa”.
23
Figura 6 - Entrosamento do grupo.
Confirmamos que a Arteterapia é o processo terapêutico que usa a arte, seus materiais
expressivos, e técnicas para promover transformações e cura. Atua como agente facilitador e
indutor do despertar inconsciente os valores ocultos. Nesse processo, materiais e técnicas
expressivas fazem com que os fatos do inconsciente venham à tona facilitando a possibilidade
de trabalhar esses conteúdos, de forma mais branda, sem forçar ou induzir a pessoa a reagir
diante dos conteúdos emergidos.
Para Ciornai (2000, p. 10), “a arteterapia facilita este entrar em contato com o poder
criador de cada um; ao criar o belo, a pessoa entra em contato com o belo em si; ao expressar
raiva, revolta, indignação, a pessoa percebe a força do seu poder pessoal”.
24
Figuras 7 - Despertando para transformações.
Portanto, um trabalho criativo pode evocar um problema (bloqueio, trauma,...) e
permitir que a energia seja depositada nesse trabalho, liberando-a e aliviando o problema sem
que a pessoa necessariamente tenha consciência de qual fato ou trauma que está sendo
trabalhado, organizando a expressão do problema através da arte, do uso dos materiais e das
cores sob a orientação do arterapêuta.
Dentro do ateliê terapêutico o trabalho ocorre no nível das imagens trazidas do
inconsciente que a arte vai trabalhar.
Figura 8. - Da insegurança para transformação.
25
De acordo com Chiesa (2004, p. 41), “o combustível do atelier terapêutico é a
criatividade. O atelier terapêutico é um espaço consagrado à criação, um laboratório de
experiências, um lugar acolhedor que possibilita a expressão, a comunicação e a construção”.
Reforça em outra citação sua (2004, p.45), que, “no atelier terapêutico a
experimentação de diversos materiais expressivos facilita o despertar para os níveis sensóriomotor, perceptual-afetivo e cognitivo-simbólico, estando o criativo presente em todos os
níveis”.
Durante a pesquisa tive a oportunidade de trabalhar com diversos materiais artísticos
explorando e vivenciando o processo. As pessoas que participaram dos encontros se
relacionaram muito bem com os materiais mobilizando as sensações, sentimentos e os demais
significados que precisavam ser liberados, facilitando uma tomada de consciência de si
mesmas. O grupo sempre participou com entusiasmo e decisão, é um grupo atuante que na
comunidade, fazem parte de eventos e trabalhos manuais e comunitários.
Góis (1993) ressalta que o Trabalho Comunitário utiliza-se da própria teoria social de
modo a privilegiar o trabalho com grupos, contribuir na formação da consciência crítica e na
construção de uma identidade social além de facilitar a transformação do indivíduo em sujeito
ativo de sua história. Desta forma, almeja mudanças contra a exclusão de qualquer espécie
humana, o resgate da subjetividade do sujeito e a colaboração através da conscientização dos
espaços relacionais que vinculam a história deste indivíduo, enquanto ser capaz de
transformar sua história.
Surge assim a natural necessidade de estar sempre em contato consigo mesmo, e com
o outro, de comunicar-se autenticamente, fazendo uso da linguagem e de símbolos
representativos em uma vivência em comunidade.
Para Freire (2000), o diálogo é condição fundamental para qualquer tipo de
crescimento pessoal e comunitário. A ação dialógica constitui o primeiro passo para a
26
autonomia da comunidade, pois é a palavra, enquanto célula do processo dialógico, que traduz
o mundo e é a linguagem.
Na visão de Campos (2002), as relações comunitárias que constituem uma verdadeira
comunidade não são as relações de dominação e sim as relações igualitárias, que se dão entre
pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Relações essas que implicam que todos
possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças
sejam respeitadas, onde a partir da existência de uma dimensão afetiva as pessoas sejam
amadas, estimadas e benquistas. A pessoa poderá através da sua fala, exercer o diálogo assim
como, a partilha de saberes, a liberdade e autonomia.
Assim, é impossível compreender o homem como ser isolado, sem perceber sua
realidade existencial, já que é através de suas experiências com seus semelhantes é que
constrói e é construído. A maneira através da qual as pessoas representam o mundo é o
principal determinante de sua ação (LEWIN, 1965).
Trabalhando este grupo pude perceber o quanto às pessoas se preocupam uns com os
outros, quando alguém está triste o outro já vem ao seu encontro para oferecer ajuda, se
alguém não está dando conta do trabalho o outro já manifesta sua ajuda imediatamente o mais
bonito todos se chamam pelo nome.
Uma das conceituações de comunidade mais interessantes é atribuída a Marx (1977,
citado por Kowarzik, 1989, p. 52) ao dizer que um tipo de vida em sociedade “onde todos são
chamados pelo nome”; esse “ser chamado pelo nome” significa uma vivência em sociedade
onde a pessoa, além de possuir um nome próprio, isto é, além de manter sua identidade e
singularidade, tem possibilidade de participar, de expressar sua opinião, de manifestar seu
pensamento, de ser alguém autêntico.
27
Figura 9 - Grupo de cantores, sempre alegrando os encontros!
Lane (1985) distingue ainda, em termos de níveis, consciência social de consciência de
classe, esta última é um processo essencialmente grupal e se manifesta quando indivíduos
conscientes de si se percebem sujeitos das mesmas determinações históricas que os tornam
membros de um mesmo grupo, inserido nas relações de produção que caracterizam a
sociedade em um dado momento.
A partir dessa perspectiva, o pertencer a um grupo cujas ações expressam uma
consciência de classe pode ser uma condição para que um indivíduo desencadeie um processo
de conscientização de si e social. Sendo assim, a consciência de classe é uma categoria
basicamente sociológica, enquanto consciência social é uma categoria psicológica; porém são
intersociáveis no plano de ação, tanto individual como grupal.
Desta forma, o ser humano, desde os primórdios da humanidade, vem-se agrupando na
procura de sua plena realização, na tentativa de compreender e ser compreendido, aceitar e ser
aceito, aliviar e ajudar os outros.
28
Para Osório (2000), o campo grupal é constituído por múltiplos fenômenos e
elementos do psiquismo e como se trata de uma estrutura, resulta que todos esses elementos,
tanto os intra como os intersubjetivos, estão articulados entre si, de tal modo que as alterações
de cada um deles vão repercutir sobre os demais, em uma constante interação entre todos.
Cupertino (2001) ilustra a discussão do tema criatividade através de múltiplas
definições, dentre elas a que foi atribuída por Golann (1962) como motivo, como processo por
Stein (1956), como padrão de traços de personalidade por Cattell e Drevdahal (1955) e como
característica cognitiva por Cuilford (1963).
A criatividade traduz uma metodologia, uma forma através da qual a criatividade é
expressa no cotidiano, relações do sujeito com seus semelhantes e aparece como “oposta à
rigidez, como uma das ferramentas mais úteis para o exercício da profissão, pela possibilidade
de abertura que oferece” (CUPERTINO, 2001, p. 21).
4. CONDIÇÃO SOCIAL DO IDOSO NO BRASIL
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE, 2001), com base no Censo
2000, considera idosas as pessoas com 60 anos ou mais, mesmo limite de idade considerado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS 2000) para os países em desenvolvimento.
A longevidade é uma das grandes conquistas do século XX que, juntamente com a
queda da natalidade, está ocasionando um crescimento elevado da população idosa em relação
aos demais grupos etários, caracterizando proeminente fenômeno mundial. O envelhecimento
das populações começou em épocas diferentes, em países diferentes e vem evoluindo em
proporções variantes, cita o Programa para Preparação e Comemoração do Ano Internacional
do Idoso Nações Unidas, (1999).
29
No Brasil, a população idosa cresceu em uma década 17% e atualmente representa
8.6% do total. O processo de envelhecimento da população é relativamente recente, resultado
de políticas e incentivos promovidos pela sociedade e pelo Estado, a saber: avanços no campo
da saúde e redução da taxa de natalidade. Esse processo altera a vida do indivíduo, as
estruturas familiares e a sociedade.
Estudos nacionais apontam, de formas recorrentes, que o processo de envelhecimento
da população brasileira é considerado irreversível e suas conseqüências têm sido, em geral,
vistas com preocupação, por acarretarem pressões para a transferência de recursos à sociedade
impondo desafios para o Estado, bem como para os setores produtivos e as famílias. Cabe
ressaltar que, a proporção da população “mais idosa”, igual ou superior a 80 anos, também
aumenta e provoca alterações dentro do próprio grupo, o que significa que a população
considerada idosa também está envelhecendo.
Após alguns anos de tramitação no Congresso, o Estatuto do Idoso, aprovado em
Setembro e sancionado pelo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva em Outubro de
2003, ampliou os direitos dos cidadãos com idade igual ou superior a 60 anos. Representa um
documento mais abrangente que a Política Nacional do Idoso (LEI de 1994) e institui penas
severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade.
O distanciamento entre a lei e a realidade dos idosos no Brasil é enorme. Segundo
especialistas, para que esta situação se modifique, é preciso que ela continue a ser debatida e
reivindicada em todos os espaços possíveis, pois somente a mobilização permanente da
sociedade é capaz de configurar um novo olhar sobre o processo de envelhecimento dos
cidadãos brasileiros.
As Ciências Sociais e de Saúde se sentem desafiadas no intuito de buscar compreensão
para essa transformação, bem como de fornecer instrumental para avaliar o seu impacto nas
condições de vida e nas políticas públicas.
30
Envelhecer é um triunfo, mas para gozar da velhice é preciso dispor de políticas adequadas
que possam garantir um mínimo de condições de qualidade de vida daqueles que chegam “lá”
(KALACHE, 1994). O envelhecimento é um processo biológico natural que todo ser humano
irá, de alguma forma, experienciar no decorrer de sua existência. Contudo, é tido como
doença ao considerar o idoso uns seres incapazes, improdutivos.
A Organização Mundial de Saúde – OMS adota o termo “envelhecimento ativo” para
expressar o processo de conquista desta visão, “o objetivo do envelhecimento ativo é
promover a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para as pessoas que estão
envelhecendo, inclusive as que são frágeis, incapacitadas fisicamente e que requerem
cuidados” (KALACHE, 1994, p.09).
Campanhas de conscientização da família e da sociedade são vitais para a mudança de
mentalidade no tratamento da questão do envelhecimento. Um exemplo foi a Campanha da
Fraternidade – CF promovida pelas Igrejas Cristãs do Brasil, que no ano de 2003 abordou o
tema “Fraternidade e Pessoas Idosas” e ressaltou a preocupação das Igrejas em criar melhores
condições e expectativas de vida para esta população (CNBB, 2002, p. 13)
O trabalho social direcionado a esta população assume caráter relevante uma vez que
através do mesmo é possível vivenciar momentos de cultura, lazer, garantia de uma referência
de morada para os desamparados.
Os programas para a Terceira Idade se constituem exemplos privilegiados para
demonstrar que a experiência de envelhecimento pode ser vivida de maneiras distintas. Na
década de 60 alguns programas foram implementados; contudo, foi nos anos 90 que
receberam maior ênfase nas cidades brasileiras. Conselhos e comissões foram criados para
orientar a administração pública desses programas com propostas de medidas para melhorar a
qualidade de vida da população idosa, mesmo em municípios carentes, nos quais a população
com idade superior a 60 anos é relativamente pequena (KALACHE, 1994).
31
Destacam-se três organizações pioneiras nesta área no Brasil: Legião Brasileira de
Assistência – LBA, Serviço Social do Comércio – SESC e as Universidades para a Terceira
Idade.
Infelizmente, a maioria das instituições destinadas a prestar serviços para esta
população não oferece condições para promover a saúde; ainda existem asilos precários com
pouca ou nenhuma estrutura física e operacional adequada.
Os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm diversas dimensões e
dificuldades, mas nada é mais justo do que garantir ao idoso a sua integração na comunidade.
A partir desta idéia, de acordo com o conceito de saúde propostos pela Organização
Mundial de Saúde e com os artigos 2o e 3o previstos no Estatuto do Idoso surgiu o interesse da
implementação deste serviço social no C.T.C. com a intenção de minimizar e promover a
administração do sentimento de ansiedade, o despertar para o potencial criativo, valorizando
as experiências passadas e atuais dos integrantes, e propiciando qualidade de vida saudável
para que o idoso não perca a motivação interna, continue acreditando e mantendo seus
sonhos, para que a criatividade e as mudanças: físicas, biológicas e sociais, mantenham-se em
níveis saudáveis.
32
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi gratificante participar deste grupo, primeiro porque já me encontro nesta mesma
fase da vida, apesar de nunca ter sentido vontade de parar, sempre gostei de participar de
diversos trabalhos, muitas vezes tinha receio de não fazer certo, e como já sendo uma pessoa
na Terceira Idade tinha medo de errar, de ser criticada. Com a especialização me soltei, me
sinto livre para criar e o que é mais interessante é que perdi o medo, hoje me sinto tranqüila e
a cada instante a criatividade brota de maneira espontânea.
A experiência com os componentes do grupo me deram a oportunidade de refletir,
compreender e ser compreendida, de aprendizado e transformação, assim como visto em
Rogers (1983), onde este constata com suas experiências com grupo que [...] “ouvir traz
conseqüências” e a escuta humanizada oportuniza, segundo Rogers (1983, p. 05), “uma escuta
profunda, onde este ouve as palavras, os pensamentos, à tonalidade dos sentimentos, o
significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às intenções conscientes do
interlocutor”.
A associação da Escuta humanizada ao ateliê terapêutico estabeleceu um somatório
positivo promovendo junto aos processos criativos despertados, a segurança necessária,
evidenciada pela escuta.
Figura 10. - Trabalhos de colagem e decolagem na madeira.
33
Os resultados obtidos com este grupo foram fantásticos, as senhoras não pretendem
parar e mesmo tendo concluído a pesquisa vou continuar trabalhando uma vez por mês com o
grupo.
Ao se expressarem no último encontro, pude perceber o desenvolvimento e
crescimento das mesmas através dos relatos e construções que fizeram. “Eu achei
maravilhoso, é uma recreação na cabeça da gente. Ela desperta muita coisa boa, alegra o
coração, eu mudei muito, estou mais alegre, meu coração está mais calmo e feliz, gosto de vir
fazer coisa bonita. Eu gostei de tudo que aprendi”, enquanto outras diziam. “Arteterapia
distrai a mente, trabalha com a cabeça, distrai, desperta a curiosidade e causa bastante
mudanças, hoje eu sou mais calma, eu era muito nervosa com alguns problemas, a gente
esquece”. “A Arteterapia é ótima, desperta tudo de bom, tive muitas mudanças, estou mais
tranqüila, parece que não é nem eu, eu adorei”. “A Arteterapia é muito valiosa na vida e para
o ser humano, porque a gente descobre coisas muito valiosas para melhorar a nossa própria
vida, junto com as outras pessoas, e melhorar muito a convivência com o ser humano, saber
respeitar e compreender a cada um, a gente aprende a ver e a valorizar cada um. Eu adorei, foi
ótimo”. “A Arteterapia para mim é muito importante, para o coração, para a alegria. Eu era
muito estressada, estou mais tranqüila a ouvir os outros melhor. Até com meu netinho eu
mudei muito, o tempo é muito curto. Em todos os sentidos no meu lar, no grupo da terceira
idade estou mais calma, foi bom, muito bom”. “Para mim a arteterapia é uma abertura na
minha mente, ouvir, aprender, eu gosto muito. Muito boa na minha vida, é uma limpeza
mental na cabeça, desperta muita coisa boa, ajuda a entender as pessoas, ajuda a valorizar a
minha pessoa, o ser humano não tem limite, ajuda na descoberta da capacidade, a gente dá
conta sim”. “É o jeito que a gente distrai, aprendi muitas coisas depois de velha. A alegria,
esqueci os problemas, concentrar nas coisas boas, fazer coisas que antes não fazia”.
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Esta pesquisa representa para mim e para o grupo uma pedra encontrada pelo
garimpeiro que aos poucos vai sendo lapidada até adquirir seu brilho total, pois a alegria, a
auto-estima, reaparece, trazendo a tona transformação.
Tendo em vista tão significativos resultados alcançados, sugere-se que estas atividades
tenham continuidade nos C.T. Cs., visto que estes foram criados com a finalidade de
minimizar e promover a administração do sentimento de ansiedade e do despertar para o
potencial criativo entre outros, que foram identificados e constatados neste trabalho,
reforçando as possibilidades de um envelhecer saudável.
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