Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear Jorge Cruz DI/FCT/UNL Programação para as Ciências Experimentais 1º Semestre 2005/2006 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 1 Regressão Linear : Um Exemplo Exemplo • Um dado produto é fabricado numa linha de produção por lotes. Os lotes são encomendados pelos clientes e têm um número variável de exemplares do produto, de acordo com a ordem do cliente. • A empresa produtora está interessada em desenvolver um modelo de produção, de forma a poder prever – Qual o tempo que demora cada lote a ser produzido – Quais os lotes que são produzidos em mais ou menos tempo que o esperado, de forma a poderem ser analisados os factores que facilitam ou dificultam o fabrico. • Para fazer esse estudo a empresa detém um histórico da produção de vários lotes no passado. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 2 Regressão Linear : Um Exemplo • O modelo desenvolvido tem em conta que – Antes de se começar a produzir o produto é necessário gastar um dado tempo (t0: tempo de setup) para preparar um conjunto de recursos (ex: máquinas e instalações). – Uma vez estabelecida essa preparação o número de peças produzidas é basicamente proporcional ao tempo, demorando um tempo t1 a fabricar cada peça. • Assim parece apropriado um modelo do tipo, em que o tempo T necessário para se produzirem P peças é dado por: T = t 1 P + t0 • O problema consiste pois em determinar os valores de t0 e t1 a partir dos dados históricos. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 3 Análise de Dados – Regressão Linear • Este problema é apenas um exemplo de aplicação da técnica de análise de dados, denominada, regressão linear, que na sua forma geral se pode descrever por: – Regressão Linear: Dado um conjunto de dados, xi e yi verificar se eles estão numa relação linear Y = m X +b • O problema tem dois subproblemas: – Determinar os valores de m e b mais apropriados aos valores dos vários pares de valores <xi,yi>. – Avaliar se é razoável assumir a relação linear acima, ou seja, se os pares de valores <xi,yi> a “suportam” (isto é, se existe uma boa correlação linear entre X e Y). 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 4 Análise de Dados – Regressão Linear • Podemos ilustrar esta técnica com dois exemplos gráficos Os valores de m (inclinação da recta) e de b (intersecção da recta com o eixo Y) são idênticos nos dois casos y y x X e Y têm uma forte correlação linear 4 Novembro 2005 x X e Y têm uma fraca correlação linear Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 5 Determinação de m e de b • O tratamento matemático para a determinação dos valores de m e b é relativamente simples e consiste em determinar os valores de m e b que minimizem o erro entre os resultados esperados e os resultados experimentais. • Para cada ponto <xi,yi> o erro “experimental” é dado por ei = yi – (m xi + b) O erro E que se pretende minimizar é o erro quadrático médio, E = Σ e i2 • Assim sendo o problema reduz-se a determinar os valores de m e b que minimizam o erro E. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 6 Determinação de m e de b • O mínimo de uma função em relação a uma variável ocorre quando a derivada dessa função em ordem a essa variável é nula. Assim sendo há que obter os zeros da derivada de E em relação a m e a b. – Nota 1: Assume-se uma função contínua e continuamente derivável, caso contrário o mínimo pode não ocorrer no zero da derivada. – Nota 2: A função E tem duas variáveis, m e b. A análise em Rn justifica que o mínimo deve corresponder ao zero das duas derivadas. – Nota 3: Como o mínimo de E = F coincide com o mínimo de E2 = F, pode minimizar-se F = E2 = Σei2 • Os valores de m e b que minimizam o erro são assim determinados como aqueles que verificam F F =0 e =0 m b 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 7 Determinação de m e de b F • Ora =0 b Σ (yi – m xi – b)2 =0 b Σ – 2 (yi – m xi – b) = 0 Σ (yi – m xi – b) = 0 Σ (yi – m xi) – n b= 0 Σ (yi – m xi) b= n F • Por outro lado, =0 m Σ (yi – m xi – b)2 =0 m Σ – 2 xi (yi – m xi – b) = 0 Σ xi (yi – m xi – b) = 0 Σ (xi yi – m xi2 – b xi ) = 0 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 8 Determinação de m e de b Σ (yi – m xi) • Usando agora o valor de b = na fórmula n Σ (xi yi – m xi2 – b xi ) = 0 permite-nos obter o valor de m: Σ (xi yi – m xi2 – 1/n xi Σ (yi – m xi)) = 0 Σ (n xi yi – n m xi2 ) – Σ xi Σ (yi – m xi) = 0 n Σ xi yi – m n Σ xi2 – Σ xi Σ yi + m Σ xi Σ xi = 0 m [n Σ xi2 – (Σ xi)2] = n Σ xi yi – Σ xi Σ yi ... obtendo-se assim 4 Novembro 2005 n Σ xi yi – Σ xi Σ yi m= n Σ xi2 – (Σ xi)2 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 9 Determinação de m e de b • Assim, dados vectores X e Y, com n valores de xi e yi os valores de m e de b podem ser obtidos através das fórmulas n Σ xi yi – Σ xi Σ yi m= n Σ xi2 – (Σ xi)2 Σ (yi – m xi) b= n • Em Octave, estas fórmulas podem calcular-se através do seguinte conjunto de equações Sx = sum(X); Sy = sum(Y); Sxx = sum(X.*X); Sxy = sum(X.*Y); m = (n * Sxy – Sx*Sy) / (n*Sxx – Sx^2) b = (Sy – m * Sx) / n 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 10 Correlação entre X e Y • Para medir a qualidade da relação linear entre X e Y pode usar-se o coeficiente de correlação r. n Σ xi yi – Σ xi Σ yi r= [n Σ xi2 – (Σ xi)2] [n Σ yi2 – (Σ yi)2] • Este coeficiente (cuja derivação exige um maior conhecimento de estatística) varia entre 1 (correlação perfeita) e 0 (correlação nula). • O seu valor em OCTAVE pode ser obtido através das equações anteriores e ainda de: Syy = sum(Y.*Y); r = (n * Sxy – Sx*Sy) / sqrt ((n*Sxx – Sx^2)* (n*Syy – Sy^2) 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 11 Armazenamento de Dados • Quando a quantidade de dados é grande, não é razoável ou mesmo possível introduzi-los “manualmente” num programa. • Tipicamente esses dados são armazenados em ficheiros que têm de ser lidos pelos programas que os tratam. • As funções básicas de manutenção de ficheiros (criação, alteração e destruição, localização, acesso ao seu conteúdo, etc.) são definidas no sistema de ficheiros (file system) , componente do sistema operativo (Operating System Windows, Linux, MacOS, ...). • Todas as linguagens de programação têm acesso a essas funções básicas (primitivas), implementadas através de chamadas ao sistema, mas que são disponibilizadas ao nível da linguagem através de instruções próprias. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 12 Armazenamento de Dados • Existe uma grande variedade de formas nessas instruções mas algumas características são razoavelmente gerais: – Antes de se escrever ou ler num ficheiro, este tem de ser aberto num modo apropriado (leitura, escrita, leitura/escrita,...). – Na abertura de um ficheiro, este é associado a um “canal” com um identificador (tipicamente um número) único. Todos os acessos ao ficheiro referem esse valor e não o nome com que o ficheiro é conhecido no sistema de ficheiros. – Os acessos de leitura e escrita de dados dos ficheiros dependem da forma como os dados são codificados. Estes podem ser armazenados como texto ou numa forma codificada que optimiza o espaço. – Após todos os acessos pretendidos terem sido executados, o ficheiro deve ser fechado. • Como estas operações podem ser muito variadas, vamos centrar-nos nos acessos a ficheiros texto em OCTAVE. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 13 Entrada de Dados • Após a abertura de um ficheiro texto, ele pode ser lido de duas formas básicas: – Leitura carácter a carácter, sendo tarefa do programador interpretar as sequências de caracteres como números, palavras, etc... – Leitura de acordo com determinados padrões (templates) em que existem primitivas da linguagem que interpretam directamente os caracteres para o tipo de dados pretendido. • Por exemplo, assumamos que um ficheiro tem a sequência de caracteres “ 23 45.2 ”. Neste caso podemos – ler os 11 caracteres e tendo em atenção os espaços interpretar esses caracteres como dois números (um inteiro e outro decimal). – Indicar como padrão de leitura um inteiro seguido de um decimal que são retornados em variáveis indicadas. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 14 Saída de Dados • O armazenamento de dados num ficheiro segue passos semelhantes. A abertura de um ficheiro em modo escrita, cria um ficheiro, que pode ser escrito de duas formas básicas: – Escrita carácter a carácter, sendo tarefa do programador criar as sequências adequadas de caracteres para representar números, palavras, etc... – Escrita de acordo com determinados padrões (templates) disponibilizados por primitivas da linguagem. • Por exemplo, para se escreverem os dados 23 e 45.2 num ficheiro ( “ 23 45.2 ”), pode-se – escrever os 11 caracteres sequencialmente, isto é, ‘ ’,‘ ’,‘2’,’3’,‘ ’,‘ ’,‘4’,‘5’,‘.’,’2’,‘ ’ – indicar como padrão de escrita um inteiro (com 4 dígitos, seguido de um espaço, seguido de um decimal com 5 casas, incluindo uma casa decimal, seguido de um espaço. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 15 Exemplo de Regressão Linear • Assumamos pois um ficheiro em duas colunas, em que 188 40 145 – A primeira coluna representa o número de peças de cada lote (Pi) – A segunda coluna, o número de horas necessárias para produzir esse lote (Ti) ......... 61 139 Objectivos: • Estabelecer uma relação linear T = t1 P + t0 ; • Escrever um ficheiro em 3 colunas em 188 40 que: – As duas primeiras colunas são como antes – A 3ª coluna, representa a diferença entre o tempo estimado e o tempo gasto efectivamente . 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 606.39 161.35 396.18 145 196.93 357.33 606.39 161.35 396.18 19.51 19.55 -61.39 ............. 61 139 196.93 357.33 -8.03 -82.19 16 Entrada de Dados • A instrução fopen abre o ficheiro com o nome “linear.txt”, em modo de leitura (“r” - read), e atribui-lhe um número de canal ‘fid’, usado posteriormente. • A instrução fclose fecha o canal com número ‘fid. [fid,msg] = fopen("linear.txt", "r"); i = 0; X = []; Y = []; [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”); while !feof(fid) i = i + 1; X(i) = xi; Y(i) = yi; [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”); endwhile; n=i; fclose(fid); 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 188 40 145 ... 113 88 606.39 161.35 396.18 445.69 248.63 17 Entrada de Dados • A instrução [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”) permite ler dados – – – – – do canal de entrada (1º argumento - fid) de acordo com um padrão (template - ,"%i%f") como na linguagem C (3º argumento – “C”) os dados efectivamente lidos são colocados nas variáveis xi e yi o seu número é colocado na variável count. • Neste caso, são lidos 2 números do canal de entrada. O primeiro é um inteiro ("%i") e o segundo é decimal ("%f"). 188 [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”); 40 xi = 188 145 yi = 606.39 ... count = 2 113 88 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 606.39 161.35 396.18 445.69 248.63 18 Entrada de Dados • Quando não há mais dados para ler, a instrução [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”) retorna xi e yi vazios (xi = yi = []) e count = 0. • Normalmente existe uma função “end of file” para indicar se a última leitura já foi feita após o fim do ficheiro. Em Octave essa função é expressa por feof(fid). [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”) F = feof(fid). count = 2, xi = 88, yi = 248.63, F = 0 [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",2) F = feof(fid). count = 0, xi = [], yi = [], F = 1 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 188 40 145 ... 113 88 606.39 161.35 396.18 445.69 248.63 19 Entrada de Dados • A instrução fscanf pode pois ser usada no ciclo abaixo, que instancia os vectores X e Y. i = 0; X = []; Y = []; [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”); while !feof(fid) i = i + 1; X(i) = xi; Y(i) = yi; [xi,yi,count] = fscanf(fid,"%i%f",”C”); endwhile; n = i; • Notas: 1. A chamada de fscanf é feita antes do ciclo. 2. A condição de entrada no ciclo é !feof 3. A variável n guarda o número de pontos X e Y lidos. 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 20 Tratamento dos Dados • Uma vez obtidos os vectores X e Y com n pontos, os parâmetros m, b e r da regressão linear podem ser recalculados, bem como os erros (valores observados e os valores esperados). sx = sum(X); sxy = sum(X.*Y); sxx = sum(X.*X); sy = sum(Y); syy = sum(Y.*Y); m = (n*sxy-sx*sy)/(n*sxx-sx^2); b = (sy-m*sx)/n; r = (n*sxy-sx*sy)/sqrt((n*sxx-sx^2)*(n*syy-sy^2)); E = zeros(1,n); .for i = 1:n E(i) = Y(i) - (m * X(i) + b); endfor; 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 21 Saída dos Dados • As instruções fopen e fclose são semelhantes, mas com modo de escrita (“w” - write). • A instrução fprintf escreve no canal de saída com identificador fid os 3 valores indicados com formatos: – Inteiro com 5 dígitos (1º dado – X(i)) – Decimal, com 7 casas, das quais duas decimais (2º/3º dado – Y(i) e E(i)) – Separados por espaços (no template) e com mudança de linha (“\n”) [fid,msg] = fopen("linear_out.txt", "w"); for i = 1:n fprintf(fid,"%5i %7.2f %7.2f\n", X(i),Y(i),E(i)); endfor; fclose(fid); 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 22 Visualização dos Dados • Ax e Ay , e portanto As, definem os limites dos eixos dos X e Y (na realidade P – nº de peças e T – tempo de fabrico). • Os vários plots destinam-se aos valores X e Y (na forma de pontos – formato “@”, a recta de regressão (Y2 tem os dois pontos limites) . Ax = [0,1.1*max(X)]; Ay = [0,1.1*max(Y)]; As = [Ax,Ay]; Y2 = [m*min(Ax)+b, m*max(Ax)+b]; clearplot; hold on; axis(As); plot(X,Y,'@33'); plot(Ax,Y2,'2'); 4 Novembro 2005 Entradas, Saídas e Análise de Dados Regressão Linear 23