FUNÇÕES PSÍQUICAS MECANISMOS DE DEFESA PROF. WILSON KRAEMER DE PAULA Livre Docente – Enfermagem Psiquiátrica COREN SC 6925 INTRODUÇÃO Os mecanismos de defesa mais comumente usados por uma pessoa para lidar com situações desagradáveis ou estados afetivos internos aflitivos constituem um componente essencial do seu caráter. Traços de caráter obsessivo-compulsivos, como organização excessiva e avareza podem inicialmente desenvolver-se em resposta a impulsos instintivos, mas são posteriormente dissociados deles, à medida que assumem um papel central do funcionamento geral da pessoa, mesmo em situações livres de conflito. As defesas podem ser adaptativas e saudáveis, bem como patológicas; no funcionamento normal, elas são decisivas para a preservação do bem estar emocional. Os principais mecanismos de defesa psicológicos descritos são: repressão, racionalização, formação reativa, isolamento, projeção, regressão, sublimação e deslocamento (Anna Freud, 1936; Fenichel, 1945). Todos esses mecanismos podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, e sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos. Repressão A essência da repressão consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a a distância, no inconsciente. A repressão afasta da consciência um evento, idéia ou percepção potencialmente provocadoras de ansiedade e impede, dessa forma, qualquer “manipulação” possível desse material. Entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e que continua causando problemas. Negação Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. Os adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do jeito que são, ou que na verdade nunca aconteceram. Este vôo de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo. A notável capacidade de lembrar-se incorretamente de fatos é a forma de negação encontrada com maior freqüência na prática psicoterápica. O paciente recorda-se de um acontecimento de forma vivida, depois mais tarde, pode lembrar-se do incidente de uma maneira diferente e, de súbito, dar-se conta de que a primeira versão era uma construção defensiva. Racionalização Racionalização é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. É o processo através do qual uma pessoa apresenta uma explicação que é logicamente consistente ou eticamente aceitável para uma atitude, ação, idéia ou sentimento que causa angústia. Usa-se a Racionalização para justificar comportamentos quando, na realidade, as razões para esses atos não são recomendáveis. A afirmação cotidiana de que “eu só estou fazendo isto para seu próprio bem” pode ser a Racionalização do sentimento ou pensamento de que “eu quero fazer isto para você, eu não quero que me façam isto ou até mesmo, eu quero que você sofra um pouco”. Formação Reativa Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que são diametralmente opostos ao desejo real. Trata-se de uma inversão clara e, em geral, inconsciente do verdadeiro desejo. Como outros mecanismos de defesa, as formações reativas são desenvolvidas, em primeiro lugar, na infância. As crianças, assim como incontáveis adultos, tornam-se conscientes da excitação sexual que não pode ser satisfeita, evocam conseqüentemente forças psíquicas opostas a fim de suprimirem efetivamente este desprazer. A supressão se dá pela construção de barreiras mentais contrárias ao verdadeiro sentimento sexual, como por exemplo, a repugnância, a vergonha e a moralidade. Isolamento É um processo psíquico típico da neurose obsessiva, que consiste em isolar e excluir completamente do consciente um comportamento ou um pensamento de tal maneira que as suas ligações com os outros pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas. O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos; o vemos particularmente em ação no tratamento, onde a diretriz da associação livre, por lhe ser oposta, colocao em evidência - sujeitos que separam radicalmente a análise da sua vida, ou determinada seqüência de idéias do conjunto da sessão, ou determinada representação do seu contexto ideoafetivo. Projeção: O ato de atribuir a uma pessoa, animal ou objeto as qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio, é denominado projeção. A projeção é um mecanismo de defesa através do qual os aspectos da personalidade de um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. A ameaça é tratada como se fosse uma força externa e a pessoa com Projeção pode, então, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente do fato de que a idéia ou comportamento é dela mesma. Sempre que caracterizamos algo de fora de nós como sendo mau, perigoso, pervertido, imoral e assim por diante, sem reconhecermos que essas características podem também ser verdadeira para nós, é provável que estejamos projetando. A Projeção trata-se de uma defesa de origem muito arcaica, encontrada particularmente na paranóia, mas também em modos de pensar “normais”, como a superstição. Regressão Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. Freud diferenciou o conceito de regressão em três espécies: tópica, temporal e formal. - Tópica: no sentido do esquema do aparelho psíquico. A regressão tópica é particularmente manifestada no sonho, onde ela prossegue até o fim. Encontra-se em outros processos patológicos em que é menos global (alucinação) ou mesmo em processos normais em que vai menos longe (memória). - Temporal: em que são retomadas formações psíquicas mais antigas. - Formal: quando os modos de expressão e de figuração habituais são substituídos por modos primitivos. A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original. Sublimação É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável. A energia associada a impulsos e instintos socialmente e pessoalmente constrangedores é, na impossibilidade de realização destes, canalizada para atividades socialmente valorizadas e reconhecidas. A frustração de um relacionamento afetivo e sexual mal resolvido, por exemplo, é sublimado na paixão pela leitura ou pela arte. Deslocamento É o mecanismo de defesa onde a pessoa substitui a finalidade inicial de uma pulsão por outra diferente e socialmente mais aceita. Durante uma discussão, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro, entretanto, acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao chão. O Deslocamento é muito corrente nos sonhos, onde uma coisa representa outra. Também se manifesta na Transferência, fazendo com que o indivíduo apresente sentimentos em relação a uma pessoa que, na verdade, lhe represente uma outra no passado. Esse fenômeno, particularmente visível na análise do sonho, encontra-se na formação dos sintomas psiconeuróticos e, de um modo geral, em todas as formações do inconsciente. Funções dos Mecanismos de Defesa Os mecanismos de defesa são inconscientes e automáticos e tem por função: Proteger a personalidade Transformar a Realidade – para torná-la mais aceitável Tornar aceitáveis os impulsos (inconscientes) inaceitáveis