TECNOLÓGICOS: FERRAMENTAS OU SOLUÇÃO? Maria da Graça França Corsi- Monteiro LARAMARA - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual O trabalho realizado com crianças e jovens portadores de deficiência visual vem desafiando os professores e profissionais de áreas afins, no sentido de oferecerem maior riqueza de materiais, que favoreçam a vivência e o aprimoramento de experiências. Para tanto, utilizam-se de algum recurso como meio para atingir um fim. A prática educacional torna-se dinâmica e eficiente quando estratégias e recursos são usados como ferramentas indispensáveis à motivação e ao interesse do aluno. Contando com recursos pedagógicos e partindo da adaptação de materiais, os professores esforçam-se para tomar acessível o conteúdo escolar, mesmo estando cientes de que seu esforço ainda não é o suficiente. Restam a convivência em casa e na comunidade, a rotina e os entraves provocados por várias situações do cotidiano. No trabalho com alunos portadores de deficiência visual, os recursos educacionais, ópticos e tecnológicos são instrumentos valiosos e facilitam a construção do conhecimento. Graças a eles, o aluno tornar-se-á consciente de que é capaz de tomar decisões, assumir responsabilidades, para então alcançar sua autonomia e sua independência. Esta não é tarefa fácil e deve ser desempenhada em parceria com a família. Felizmente, a conscientização dos diferentes profissionais envolvidos no atendimento primário à criança tem permitido que os encaminhamentos passem a ocorrer de modo consciente e sem demora, para que as famílias sejam de fato acolhidas, ouvidas e envolvidas no processo educacional acompanhado o desenvolvimento de seus filhos, A preocupação em empregar "recursos especiais" leva profissionais e pais a adquirir ou almejar uma grande variedade deles, crendo realmente na solução do problema. Outros se sentem frustrados diante das dificuldades sócio-econômicas que impossibilitam equipar, como desejariam, suas casas, salas de aula ou centros de atendimento. Pessoalmente, já vivi problemas semelhantes e também desejei contar com brinquedos novos e interessantes, recursos ópticos e tecnológicos de última geração. Concluí que poderia exercer minha função dignamente e com eficácia utilizando-me, primeiramente, do conhecimento teórico e da vivência prática, para criar ou reinventar recursos que com a mesma eficiência auxiliam meus alunos. Sabemos da importância e da versatilidade que estes recursos podem oferecer, não devendo ser encarados como solução, mas como ferramentas, tornando o trabalho mais dinâmico. Os processos de construção do conhecimento para a criança e de redescoberta para o adolescente são estimulantes para professores e pais. No entanto, o interesse por um novo equipamento pode não ser tão espontâneo, tornando a tarefa desafiadora e exigindo a criatividade do professor. Destaca-se aí a questão da afetividade e a dificuldade para efetuar situações novas, cujos resultados poderão levá-lo a encarar a perda, a derrota, sua dificuldade para lidar com as frustrações. Temos que estar atentos e oferecer apoio, procurando preservar o aspecto emocional. Atualmente podemos contar com vários recursos tecnológicos para auxiliar no desempenho de diversas atividades. Em orientação e mobilidade, já é possível substituir a bengala e o cão guia por um equipamento que oferece informações sobre relevo e obstáculos; na leitura em braile e em tintas; através de sintetizadores de voz, sistemas de magnificação de imagem por vídeos; em casa e na cozinha, utensílios sonoros e com marcação em braile e tipos ampliados; na informática, por meio de softwares e demais equipamentos que, acoplados ao micro, favorecem a escrita, a leitura, a produção e a impressão de textos em braile e tinta. Além da possibilidade de combinar recursos ópticos e tecnológicos, garantindo manuseio simplificado do equipamento. Temos comprovado a eficácia destes recursos e verificado que os usuários passaram a apresentar maior velocidade e ritmo na execução de atividades escolares e profissionais. Sem dúvida, todos esses recursos oferecem inúmeras possibilidades, diminuindo a distância entre o possível e o inacessível e tornando viável a atuação do indivíduo portador de deficiência nos diversos setores da vida como ser ativo, participante e consciente de seu papel social. Contudo, devemos considerar o estudo, a pesquisa e a investigação como recursos indispensáveis ao crescimento do profissional. Creio firmemente que podemos lançar mão de muitos recursos, ainda que simples, porém, funcionais. Não basta possuir armários e bancadas repletos de recursos se desconhecemos suas finalidades. Devemos estar bem esclarecidos sobre seu funcionamento, serventias e real utilidade, pois mais importante que o ter é o saber fazer, e só saberá fazer aquele que conseguir aliar ao conhecimento a prática, o bom senso e a criatividade. Bibliografia utilizada Capovilla, Fernando César; Gonçalves, Maria de Jesus; Macedo, Eliseu Coutinho (organizadores). Tecnologia em (Re)Habilitação Cognitiva – Uma perspectiva multidisciplinar. Ed. Edunise – pág 379-380.