Curso de Psicologia
Maria Cristina Suares Lima
FILHO: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTRANHAMENTO
Salvador
2014
Maria Cristina Suares Lima
FILHO: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTRANHAMENTO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso
de Psicologia do Centro Universitário Jorge Amado,
como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia.
Orientador:
Chalhub.
Salvador
2014
Professor
Mestre
Anderson
Almeida
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a Jesus e aos Espíritos Superiores a dádiva da vida e o
amparo espiritual, em todos os momentos da minha existência.
Aos meus pais, João (in memoriam) e Beatriz, a oportunidade desta
existência, sem os quais não teria experienciado, nas inter-relações familiares, as
lutas naturais e necessárias ao processo desenvolvimental humano e espiritual.
Às minhas filhas, Xênia e Teila, que na convivência em família, me
proporcionaram aprendizado e crescimento, enquanto mãe e educadora.
Ao meu marido Luis Alberto, por sua generosa paciência, cumplicidade e
companheirismo em todos os momentos, cujo incentivo e apoio, tornaram
possível esta graduação.
Aos meus professores, pela compreensão para com as minhas dificuldades;
pela generosidade em compartilhar conhecimentos; pela dedicação, carinho e
orientação no processo de aprendizado; por suas noites mal dormidas e
exaustivas horas de trabalho, em prol do nosso aprimoramento acadêmico.
Agradeço ao efetivo estímulo, principalmente de Kátia Jane Bernardo e
Anderson Chalhub. A este último, meu mestre, pelos esclarecimentos zelosos e
desafiadores na supervisão clínica, ao esculpir esta terapeuta, por sua paciência
na orientação e condução deste trabalho, por acreditar em minhas capacidades,
cujo incentivo nas horas mais difíceis, foi fundamental.
Aos meus colegas, principalmente aos mais queridos, especialmente à minha
turma de origem (2010.1), pela parceria e saudável convivência dentro e fora da
academia, pelo compartilhamento de aprendizados, incentivo profissional e pela
construção dos laços de amizade.
Aos meus psicoterapeutas Ubirajara Costa e Sandra Meneses, pelo generoso
incentivo das minhas capacidades enquanto pessoa, psicoterapeuta, na condução
para o autoconhecimento, aprimoramento e transformação do meu Self.
Aos clientes, pela generosidade em compartilhar suas vidas comigo. À
Psicologia e a Doutrina dos Espíritos que fizeram de mim uma pessoa melhor.
Enfim, a todos que tornaram possível esta jornada, colaborando para meu
aprendizado, oportunizando desenvolvimento, enquanto ser humano, filha, irmã,
mulher, companheira, mãe, amiga, colega e psicoterapeuta.
Meus cumprimentos! Muitíssimo grata!
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida.
Ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se
oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria
pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!
(Friedrich Nietzsche, 1930)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................6
2. DIFERENCIAÇÃO DO SEL...............................................................................9
3. INFLUÊNCIAS DOS SISTEMAS PARENTAL E SOCIOCULTURAL NA
CONSTRUÇÃO DA DIFERENCIAÇÃO DO SELF AO LONGO DA VIDA.......16
4. ESTRANHAMENTO: UM OLHAR PARA A DIFERENCIAÇÃO......................22
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................29
6. REFERÊNCIAS...............................................................................................33
Filho: uma experiência de estranhamento
Maria Cristina Suares Lima¹
Anderson Almeida Chalhub²
Resumo
Este trabalho objetiva analisar o entrelace entre a diferenciação psicológica e
cultural de pais e filhos na experiência de estranhamento. Desta forma, busca
especificamente entender as influências dos sistemas parental e sociocultural na
construção do self ao longo da vida, identificar, nos mesmos, valores, crenças e
mitos transmitidos, vinculados a esta experiência, e compreender o estranhamento
sob o olhar da diferenciação do self. Para tanto, utiliza como metodologia a pesquisa
bibliográfica e revisa conceitos fundamentais da Teoria Sistêmica, vinculadas aos
estudos sobre família. A diferenciação do self é um processo natural do
desenvolvimento humano e como tal deve ser encarado. A depender das
expectativas dos pais e dos filhos, a diferenciação pode ser percebida como
estranhamento, o que causa frustração, culpa, inquietação e conflito entre os
membros do sistema familiar. Geralmente, a família luta para que o filho permaneça
indiferenciado, enquanto o filho luta para manter suas crenças e valores recémconstruídos em contato com a sociedade e a cultura, o que causa estranhamento no
sistema.
Palavras-chave: Diferenciação do self. Família. Estranhamento.
¹ Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Jorge Amado. Endereço para correspondência:
Rua 1, nº 18, 1ª Etapa, Castelo Branco – Salvador – Bahia. E-mail: [email protected]
² Psicólogo pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da
Bahia. Professor, Pesquisador e Orientador pelo Centro Universitário Jorge Amado. E-mail:
[email protected]
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1. INTRODUÇÃO
O que leva alguns pais a se queixarem que seus filhos lhes parecem
estranhos? Frequentemente, nas situações do cotidiano, como estagiária na clínica
em psicoterapia de família, escutamos queixas dos pais referentes aos
comportamentos atípicos de seus filhos. Elas versam sobre a personalidade deles,
sobre as diferenças entre eles e o estranhamento causado por esses
comportamentos, diferenciados dos valores e crenças transmitidos pela família.
Estas situações são altamente frustrantes, culpabilizadoras e provocadoras de
inquietação
e
conflitos
em
pais,
familiares
e
educadores,
que
buscam
direcionamento para a educação de seus filhos. Por outro lado, também deparamonos com determinadas situações nas quais estávamos observando esses filhos e
percebemos que eles não se parecem com os pais: não gostam do que eles gostam,
não apreciam o que eles apreciam e seus valores, muitas vezes, são bastante
diversos.
Os pais, em geral, se propõem a serem bons modelos, em estarem
presentes, ampararem, orientarem, cuidarem. Mas, para uns, todo esforço resulta
inútil. Esses pais questionavam quando e como erraram e por que seus filhos são
tão diferentes deles, estranhos a eles, ou onde aprenderam a comportarem-se deste
ou daquele modo. Muitas vezes, as pessoas próximas a elas ou os próprios
membros da família ampliada, comentavam entre si: “Fulano é tão diferente do pai!”,
“Sicrano parece um ser estranho naquela família”, “Aquela filha é a ovelha negra da
família.” Uma situação que poderá ilustrar essa afirmativa é aquela em que os pais
resolvem as situações conflitantes, dialogando com seus pares e subsistemas,
enquanto que os filhos escolhem resolver os impasses ou conflitos através da
agressividade ou até mesmo da violência física.
O estranhamento pode ser percebido como uma angústia ou ansiedade, tanto
na perspectiva dos pais, quanto dos filhos, que vivenciam essa experiência como
sendo dolorosa, e muitas vezes disruptiva, nos entrelaces das relações familiares.
Na perspectiva dos pais, é dolorido porque eles estranham os filhos, seres do seu
mais profundo afeto e dedicação incondicional, quando em determinado momento
das suas inter-relações, eles apresentam ou demonstram crenças e valores éticomorais diferenciados daqueles transmitidos inter e transgeracionalmente. A ponto de
lhes parecerem verdadeiros estranhos, comparados, até mesmo a estrangeiros no
seio do sistema familiar, cuja linguagem, hábitos, mitos e crenças se chocam com os
7
do núcleo. Já na perspectiva dos filhos, essa angústia parece ser vivenciada como
uma incompreensão, uma rejeição ou desvalorização por parte dos pais, aqueles
que deveriam amá-los incondicionalmente, apoiá-los, mas que, no entanto, os
rejeitam por possuírem idéias e opiniões próprias e diferentes do sistema familiar.
Esses filhos sentem-se tratados como “ovelhas negras” e são apontados como os
portadores dos sintomas familiares, os bodes expiatórios, os culpados pelas
discordâncias e pelas disfunções familiares.
Situações como estas traduzem também a inquietação desta pesquisadora,
conduzindo-a a reflexão sobre a experiência do estranhamento sob a perspectiva da
diferenciação do self, cuja teorização versa sobre a diferenciação entre o self de
uma pessoa e o self familiar. Isto vai direcionando a uma compreensão de que esta
diferenciação
se
refere
a uma
sucessão
de
mudanças ocasionadas
ou
impulsionadas pela necessidade de individuação da pessoa, pela necessidade de
construção da própria identidade, que sendo singular, é, portanto, diferente da dos
demais membros do sistema familiar.
Assim,
o
processo
de
desenvolvimento da pessoa
diferenciação
do
self
é
essencial
para
o
na família, pois faz parte do processo de
amadurecimento, isto é, fundamental para a pessoa tornar-se “si mesma” o que é
natural do processo de desenvolvimento humano sadio. Segundo Papero (1998), na
família, os filhos experimentam o pertencimento (o saber-se membro da família)
como partilham de suas crenças, valores, regras, segredos e mitos. Da mesma
forma experimentam a diferenciação (afirmação da sua singularidade, da sua
individuação e do seu direito de pensar e expressar-se, independentemente dos
valores defendidos por sua família). Assim, a angústia trazida ou provocada pela
diferenciação dos filhos, pode ser entendida como natural e inerente ao
desenvolvimento humano.
Daniels e Weingarten (1983 apud McGOLDRICK, 1995/2011, p. 42) dizem
que educar filhos é um processo “gerador de desenvolvimento”, que “proporciona
uma oportunidade” de aperfeiçoamento e expressão de si mesmo, “de aprender” o
que pode vir a ser, de se tornar “alguém diferente”. Citam ainda, que os pais
entrevistados no seu estudo, afirmavam que os filhos os desafiam a serem mais do
que pensam, a darem mais do que imaginam ter para dar. McGoldrick (1995/2011,
p. 42) vê essa perspectiva de desenvolvimento de pais e filhos “[...] na riqueza de
8
seu contexto global de relacionamentos familiares multigeracionais, assim como
dentro de seu contexto social e cultural.”
Assim, este trabalho é relevante para a Psicologia porque abre novas
perspectivas para o atendimento psicológico às famílias e filhos em processo de
diferenciação. Devido à escassez do tema, servirá também como referência para
futuras pesquisas, ampliando estudos na perspectiva sistêmica, possibilitando uma
visão mais contemporânea do entrelace das relações familiares com o processo de
desenvolvimento humano.
Também contribuirá com as Ciências Sociais e Humanas
para o
entendimento das relações familiares, na construção e no fortalecimento dos seus
vínculos, possibilitando compreensão da necessidade dos filhos seguirem seus
próprios caminhos e construírem suas próprias pontes na travessia do rio da vida.
Para desenvolver este trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica com
buscas de palavras-chaves (família, diferenciação do self, estranhamento) nas
bases de dados de acesso eletrônico (BVSpsi, Scielo, LILACS, PsycINFO) e em
livros do campo da psicologia e psicoterapia com temáticas de família. Foram
realizadas leituras exploratórias, seletivas, críticas e interpretativas do material
encontrado, tendo sido devidamente fichados e organizados, segundo os critérios
para pesquisa bibliográfica. (GOMES, Romeu, 2004; GIL, 2010).
Por se tratar de pesquisa bibliográfica, revisamos conceitos fundamentais das
Teorias Sistêmicas, vinculadas aos estudos sobre família, assim como conceitos de
diferenciação do self, transmissão intergeracional, transgeracional, sistema parental
e estranhamento, apresentados por Bowen, Carter, McGoldrick, Cerveny, e Bowlby
e outros autores que discutem o tema. Assim, analisou-se o entrelace entre a
diferenciação
psicológica
e
cultural de pais e
filhos na experiência
de
estranhamento, objetivo geral deste trabalho. Para tanto, precisamos compreender a
Teoria da Diferenciação do Self, entender as influências dos sistemas parental e
sociocultural na construção do self ao longo da vida, identificando nos mesmos,
valores, crenças e mitos transmitidos, vinculados à experiência de estranhamento,
bem como identificar aspectos da qualidade inter-relacional entre pais e filhos, e
compreender o estranhamento sob o olhar da diferenciação do self, que são os
objetivos específicos.
9
2. DIFERENCIAÇÃO DO SELF
Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas do desejo da
Vida por si mesma. Khalil Gibran (1883 – 1931/2006. p. 28).
A diferenciação da pessoa inicia-se no próprio processo desenvolvimental da
família, à medida que as relações vão se ajustando para lidar com as entradas,
saídas e desenvolvimento dos seus membros. Estes passam por processos de
expansão e contração, exigindo transformações ao longo do seu ciclo vital, de modo
significativo.
Carter e McGoldrick (1995/2011) nomearam essas mudanças de estágios do
ciclo de vida familiar, estabelecendo seis fases de transformação: a) saindo de casa:
jovens adultos solteiros; b) a união de famílias: o novo casal; c) famílias com filhos
pequenos; d) famílias com adolescentes; e) lançando os filhos e seguindo em frente;
f) famílias no estágio tardio.
Na primeira fase, ocorre a diferenciação do self (de si mesmo) em relação à
família de origem, quando são desenvolvidas as relações íntimas com novos
parceiros, adultos, a definição profissional e busca da independência financeira.
(CARTER;
McGOLDRICK,
1995/2011).
Na
segunda
fase,
os
jovens
se
comprometem com um novo sistema, formando um novo casal (sistema marital),
havendo um realinhamento dos relacionamentos com as famílias ampliadas (as
famílias de origem de cada um dos cônjuges) e os amigos. (CARTER;
McGOLDRICK, 1995/2011).
Na terceira fase, chegam os novos membros (filhos) dentro do sistema
conjugal, e o casal cria espaço para eles, buscando unir-se nas tarefas de educação
dos mesmos, nas tarefas domésticas e financeiras, havendo novo realinhamento
com a família ampliada para inclusão dos papéis de pais e avós. (CARTER;
McGOLDRICK, 1995/2011). Na quarta fase, é necessário aumentar a flexibilidade
das fronteiras familiares para incluir a interdependência dos filhos e as fragilidades
dos avós. Portanto, há uma necessidade de mudança nas relações entre pais e
filhos para permitir movimentos do adolescente para dentro e para fora do sistema
familiar. Isto requer novo foco nas questões conjugais e profissionais, e um
reajustamento devido à necessidade de cuidar da geração mais velha. (CARTER;
McGOLDRICK, 1995/2011).
Na quinta fase, é necessário aceitar as várias saídas e entradas no sistema
familiar, ocasionadas pela necessidade desenvolvimental dos filhos, jovens adultos.
10
Ocorre uma renegociação no sistema conjugal enquanto díade, e realinhamento das
relações para inclusão de parentes do novo casal e netos. Normalmente nesta fase
ocorre a necessidade de lidar com a incapacidade ou morte dos pais (avós).
(CARTER; McGOLDRICK, 1995/2011). Na sexta e última fase há a aceitação da
mudança dos papéis geracionais (transição do papel de pais para avós), em função
da manutenção do funcionamento dos interesses próprios ou do casal, em face do
declínio fisiológico. Ocorre necessidade de apoiar um papel mais central na geração
do meio (filhos casados e com filhos) e de lidar com o luto da perda do cônjuge,
irmãos,
iguais
(amigos)
e
preparação
para
a
própria
morte. (CARTER;
McGOLDRICK, 1995/2011).
Segundo Avis (1985 apud McGOLDRICK, 1995/2011, p. 42), “a família
tradicional frequentemente não apenas encorajava, mas inclusive exigia padrões
disfuncionais tais como a super-responsabilidade das mães por seus filhos e a
complementar sub-responsabilidade ou desobrigação dos pais.” No entanto, não se
pode esquecer que os estudos de Carter e McGoldrick (1995/2011) foram realizados
com famílias norte-americanas, possivelmente da década de 80, quando seus
estudos começaram a ser publicados. Para Bruscagin (2012), as exigências de
padrões comportamentais diferem de cultura para cultura. Para os padrões culturais
das famílias brasileiras da década de 90, essa super-responsabilidade das mães era
considerada normal, pois havia uma interdependência significativa entre a mãe e os
filhos, diferente das famílias norte-americanas por considerar superproteção ou
dependência (BRUSCAGIN, 2012). Cerveny e Berthoud (1997/2010 e 2002/2011)
propuseram uma divisão do ciclo vital das famílias brasileiras em quatro etapas,
assim definidas: fase de aquisição, fase adolescente, fase madura e fase última.
A fase de aquisição, como diz o próprio termo, é o período mais central e
específico, de maior ênfase nas famílias que se iniciam, englobando o nascimento
da mesma através da união do casal. É caracterizada geralmente, pela aquisição de
um lugar para morar, trabalho que sustente as condições de sobrevivência, filhos
pequenos (até a pré-adolescência), renegociação dos valores e regras de
relacionamento adquiridas pelos cônjuges em suas famílias de origem e que irão
influenciar na família que desejam formar. Ou seja, há uma reorganização no
sistema em função da definição de novos papéis. Já a fase adolescente se refere ao
período em que os filhos entram na adolescência, bem como os desafios e
11
transformações pessoais e relacionais enfrentados pela família, pelo casal e pelo
adolescente. (CERVENY; BERTHOUD, 1997/2010 e 2002/2011).
A fase madura remete ao período em que os filhos atingem a idade adulta e
saem de casa e a família vive a maturidade. É quando o casal tem oportunidade de
se redescobrir, reencontrar seu tempo a dois, enfim de reestruturar sua vida. É
caracterizada por transições nas quais, conflitos e ambiguidades estão presentes,
pois surgem novas obrigações, como a de cuidar dos pais (avós) que se encontram
na terceira ou quarta idade. Também ocorre nesta fase a formação da família
canguru, ou seja, quando os filhos que têm por volta de 25 a 35 anos, mais ou
menos independentes economicamente, ainda não saíram de casa. Também ocorre
a entrada de novos membros na família extensa, e com isso há uma nova
renegociação das regras de convivência e padrões de relacionamento. (CERVENY;
BERTHOUD, 1997/2010 e 2002/2011).
A fase última trata do período de vida em que normalmente os cônjuges já
estão aposentados, geralmente não têm nenhum filho vivendo com eles e o tempo
se desacelera. Embora tenha sido ampliada com o aumento da perspectiva de vida,
é caracterizada pelo envelhecimento dos cônjuges, que por sua vez irá influenciar
peculiarmente nas transformações da estrutura familiar e parental, seja pela viuvez
de um dos cônjuges, ou por questões práticas de moradia, manutenção financeira,
ou por questões pessoais de adaptação às novas condições emocionais de perda de
funções e papéis. (CERVENY; BERTHOUD, 1997/2010 e 2002/2011). Cerveny
(2002/2011) compara essas fases com a metáfora das fases da lua: a fase de
aquisição é a lua nova, a fase de adolescente é a lua crescente, a fase madura é a
lua cheia e a fase última é a lua nova. (CERVENY; BERTHOUD, 1997/2010 e
2002/2011).
Essas fases são permeadas por diferenciações do self das pessoas e da
família, que variam de pessoa para pessoa e de família para família, de acordo com
a diversidade cultural das mesmas. A diferenciação do self é fundamental na
avaliação do funcionamento individual e familiar, e de como os membros da família
respondem ao ciclo de vida e às mudanças ambientais. Segundo Bowen (1978 apud
PAPERO, 1998), a diferenciação do self engloba a capacidade do indivíduo
distinguir o sistema intelectual ou racional do sistema emocional, e a competência de
preservar a autorreflexão e autonomia num contexto de intimidade profunda com as
pessoas mais próximas. O processo de diferenciação do self é formado por duas
12
dimensões distintas e inter-relacionadas: uma, no nível intrapsíquico, refere-se à
capacidade de autorregulação, à capacidade de distinguir pensamentos de
sentimentos e a decisão entre ser direcionado pelo sistema emocional ou pelo
intelectual. A outra, no nível interpessoal, refere-se à capacidade de resguardar a
autonomia, ao mesmo tempo em que vivencia intimidade com outras pessoas.
(PAPERO, 1998; NEVES, 2011).
Bowen (1978 apud PAPERO, 1998; NEVES, 2011) especifica dois níveis de
diferenciação: o nível básico, independente do processo relacional, determinado
pelo nível de separação emocional da família de origem, cujo componente mais
importante é o self sólido, correspondente à parte do self que é impermeável à
influência de outras pessoas, formado pelas crenças e conhecimentos, não
influenciados pela coação da aprovação dos outros; o nível funcional, dependente
do processo relacional e influenciado pelo nível de ansiedade crônica nos sistemas
relacionais do indivíduo, cujo componente importante é o pseudo self (ou falso self),
permeável à influência de outros e refere-se aos conhecimentos e crenças
adquiridas na relação com outras pessoas (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998;
NEVES, 2011; KERR, 1984/1988; SKOWRON; FRIEDLANDER, 1998 apud NEVES,
2011).
Desta forma, a teoria boweniana destaca a necessidade de descobrir o que
acontece nas gerações precedentes à família nuclear, para compreendê-la,
ampliando o olhar sobre a família extensa para tornar compreensíveis ao
psicoterapeuta e à própria família, os nós que permanecem confusos no estudo
exclusivo (ou estrito) da família. (PAPERO, 1998; MARTINS, RABINOVICH, SILVA,
2008). Na família, as crianças experimentam tanto a diferenciação quanto o
pertencimento. Este último é o direito de compartilhar, conhecer-se membro da
família, partilhar suas crenças, regras, valores, mitos e segredos.
Toda criança nasce fusionada ao self familiar, mas durante o seu
desenvolvimento, sua principal tarefa será diferenciar-se do mesmo, para adquirir
autonomia e independência. Essa diferenciação é necessária para o processo
desenvolvimental e para o funcionamento saudável da pessoa dentro do sistema
familiar, cujo processo requer que o indivíduo se torne um self diferenciado da sua
família de origem, mas mantendo relação com a mesma, ou seja, afirme sua
singularidade, sua individuação, seu direito de pensar e agir independente dos
13
valores preservados pela família (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998; MARTINS;
RABINOVICH; SILVA, 2008).
Os pais devem favorecer este processo, apoiando, incentivando e orientando
este
desenvolvimento,
apresentando
fronteiras
mais
flexíveis
(MINUCHIN;
FISHMAN, 2007) para permitir que o filho, ao alçar voo próprio, sinta-se seguro para
o enfrentamento de novas fases. Se o filho desenvolve um self menos diferenciado,
poderá ser mais “vulnerável às aflições da vida” (PAPERO, 1998, p. 80), ou seja,
poderá desenvolver baixa tolerância às frustrações, e ceder perante a influência de
outras pessoas, tornando-se dependente delas. Isto significa que poderá possuir
menos capacidade intelectual para agir, ou ainda, se sua diferenciação for mínima,
provavelmente terá dificuldades relacionais e será mais reativo às falas dos
membros da família e de outras figuras de autoridade. (BOWEN, 1978 apud
PAPERO, 1998).
A pessoa indiferenciada não sente segurança emocional para agir. Afirma
Papero (1998) que vários fatores, como a ansiedade e a transmissão da
indiferenciação como uma herança familiar, influenciam as ligações emocionais não
resolvidas. Assim, a gênese dessas ligações emocionais, está na fusão da pessoa
em relação a seus pais. Neste caso, a pessoa poderá necessitar de outra pessoa
para atuar com self, pois possuem pouca autonomia, e tendem a fundir-se com
outros, experimentando dificuldades quando se separam delas. (PAPERO, 1998).
“Essa necessidade pode variar de uma simbiose real” a “um grau muito baixo de
fusão.” (PAPERO, 1998, p. 79). Seja como for essa necessidade de completude que
a pessoa tenha, Papero (1998) diz que ela é transmitida, desde a família de origem,
a todas as relações futuras.
As
pessoas
que
tiveram
grandes
dificuldades
de
se
afastarem
emocionalmente de suas famílias, tendem a romperem relações entre si, produzindo
um corte emocional. Disto se compreende que, a forma como a pessoa lida com a
indiferenciação de sua família de origem pode levá-la a cortar relações com a
mesma. Bowen (1978 apud PAPERO, 1998, p 91) afirma que, “a pessoa que foge
do lar está tão emocionalmente ligada a ele quanto aquela que lá permanece e se
utiliza de mecanismos interiores para controlar essa ligação.”
Disto se compreende que o saudável tanto para o indivíduo quanto para a
família é desenvolver uma diferenciação. “Quanto mais alto o nível de diferenciação
apresentado por uma pessoa e por uma família, menos ligações emocionais
14
indiferenciadas” elas precisarão gerenciar em seus relacionamentos, e mais
independência emocional elas possuirão. (PAPERO, 1998, p. 78). Um self familiar
diferenciado propicia aos seus membros uma educação baseada na diferenciação
do self. Todavia, alguns membros podem se diferenciar bastante e apresentar um
grau muito elevado de diferenciação do self, demonstrando uma capacidade
autônoma de discriminar e escolher seu próprio funcionamento, ou seja, decidir se
suas ações serão movidas ou gerenciadas pelo sistema emocional ou intelectual. Se
a escolha do modo de funcionamento da pessoa é diferente da forma de
funcionamento da família, isto a torna diferenciada desta, o que pode conduzir os
pais a pensarem que seus filhos lhes são completamente estranhos. (BOWEN, 1978
apud PAPERO, 1998; NEVES, 2011).
Afirma a teoria boweniana que o sinal de um bom equilíbrio ou ajustamento
pessoal é a objetividade racional e a individualidade, pois uma pessoa diferenciada é
capaz de distinguir o pensar do sentir, balanceando-os ou equilibrando-os, ou seja, é
capaz de ser espontânea, de vivenciar fortes emoções sem perder o equilíbrio
emocional. Isto quer dizer que é capaz de resistir ao poder dos impulsos emocionais,
de escolher saídas definitivas e tomar novos rumos, uma vez que consegue pensar
independentemente, decidir e agir de acordo com suas crenças. Do que se
compreende, que também é capaz de relacionar-se intimamente com os outros
(familiares, amigos, pessoas muito próximas que compõem a família extensa,
pessoas das suas relações sociais e de trabalho) mantendo uma construção
reflexiva sobre eles e ainda assim permanecer independente da família de origem.
Todavia o grau de diferenciação depende do curso da história da família, embora a
pessoa possa atingir os níveis mais altos de diferenciação através de processos que
envolvam toda a família. (PAPERO, 1998; NEVES, 2011).
A escala de diferenciação do self proposta por Bowen (1978 apud PAPERO,
1998; NEVES, 2011), embora utilize um método quantitativo, não foi construída com
o objetivo de atribuir um nível exato de diferenciação, pois se refere ao nível básico
de diferenciação. Além disso, é sabido que o nível atribuído a uma pessoa ou
indivíduo é impreciso, e avaliar a diferenciação de um indivíduo, demanda uma
ampla quantidade de informações sobre várias pessoas. (KERR, 1988 apud NEVES,
2011). Desta forma, Bowen (1978 apud PAPERO, 1998) estabeleceu os níveis de
diferenciação do self em uma escala que vai de 0 a 100:
15
O nível zero, o “mais baixo possível do funcionamento humano” indica uma
“indiferenciação completa” (NEVES, 2011, p. 8) onde as pessoas não apresentam
“nenhuma capacidade de discriminar e escolher entre seu funcionamento baseado
no sistema emocional ou intelectual.” (PAPERO, 1998, p. 79). Nos níveis mais
baixos as pessoas podem ser extremamente reativas, isto é, podem apresentar
respostas emocionais impulsivas, não reflexivas, ou opostas a estas. São altamente
influenciadas pelos sentimentos e opiniões de outras pessoas. Comportam-se de
forma
automática,
guiando-se
apenas
por
seus
instintos
e
sentimentos,
demonstrando pouca racionalidade. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998). Isto quer
dizer que as pessoas menos diferenciadas vivem num mundo controlado pelas
emoções, são menos flexíveis e emocionalmente dependentes dos outros. Tendem
a ter suas respostas dirigidas por suas emoções e possuem dificuldade em sustentar
uma solidez do self [ou solidez do eu para Neves, (2011) ou solidez do ego para
Papero (1998)] nas relações, conduzindo a uma maior angústia psicológica. Estas
pessoas têm maior necessidade de união e menos impulsionamento para a
individualidade. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998; NEVES, 2011).
Nos níveis médios as pessoas apresentam capacidade para diferenciarem-se,
todavia retornam ao comportamento automatizado quando ansiosas. Constroem um
falso eu, ou pseudo-self, isto é, suas crenças e conhecimentos são aprendidos e
incorporados de outras pessoas. Isto significa que, se pressionadas, podem ceder e
concordar sobre outros princípios que não os seus, tomando decisões antes de
correrem o risco de assumir posições que desagradem os outros. Têm tendência a
desenvolverem sintomas físicos, emocionais e sociais sérios, porém momentâneos,
devido à grande capacidade de recuperação que possuem. Por apresentarem baixo
nível de ansiedade, suportam os problemas com calma e relativo equilíbrio.
(PAPERO, 1998).
No nível mais alto estão as pessoas que apresentam princípios consolidados,
buscando alcançar seus objetivos, pois são “capazes de manter seu raciocínio”
(PAPERO, 1998, p. 80) sob as mais diversas condições, estando capacitada para
funcionar emocionalmente ou intelectualmente a depender das circunstâncias
apresentadas. Têm opinião segura, mas não necessitam expressá-las rígida ou
dogmaticamente, pois, são capazes de considerarem as opiniões alheias,
analisarem
seu
modo
de
pensar,
trocarem
velhas
crenças
por
novas,
responsabilizando-se por seus atos perante a família e a sociedade. Tolerantes e
16
respeitosas, despreocupadas com seu lugar na hierarquia, buscam serem éticas na
avaliação do outro, e dificilmente desenvolvem sintomas diante de estresse.
(PAPERO, 1998).
Para Bowen (1978 apud PAPERO, 1998; NEVES, 2011) as pessoas que
estão entre os níveis 85-95 da escala já são consideradas bem diferenciadas, pois é
muito difícil alguém alcançar o nível 100, porque, mesmo os que apresentam nível
elevado de diferenciação, conservam uma parte significativa de não-diferenciação.
Por manifestarem uma maior flexibilidade relacional e utilizarem o melhor das suas
capacidades adaptativas, toleram a angústia e passam o mais tranquilamente
possível por provas e tensões inevitáveis (PAPERO, 1998; NEVES, 2011). Isto quer
dizer que estas pessoas são mais capazes de lidar com emoções fortes, com as
frustrações, com a incerteza e a ambiguidade, mantendo-se calmos nas relações de
maior proximidade. (BOWEN, 1978 apud NEVES, 2011).
Pode-se compreender que, uma família que possua conhecimento acerca do
funcionamento do seu sistema e forte motivação para mudança, possa ter um self
familiar
altamente
diferenciado,
impulsionando
seus
membros
também
à
diferenciação. (NEVES, 2011).
3. INFLUÊNCIAS DOS SISTEMAS PARENTAL E SOCIOCULTURAL NA
CONSTRUÇÃO DA DIFERENCIAÇÃO DO SELF AO LONGO DA VIDA
“Eles vêm através de vós, mas não de vós, e apesar de estarem convosco,
não pertencem a vós.” Khalil Gibran (1883 – 1931/2006. p. 28)
O sistema familiar é formado por dois subsistemas: o parental (pais), o de
maior influência dentro do sistema, e a fratria (filhos). Dependendo da posição que
um dos membros ocupe no sistema, podemos ter um filho parental, exercendo o
papel de pai ou mãe, ou um pai ou mãe na fratria exercendo o papel de filho/filha. O
sistema parental pode ainda incluir um avô/avó ou tia/tio e excluir um dos pais
(MINUCHIN; FISHMAN, 2007). É a partir das inter-relações na família de origem
(sistema familiar) que se estabelecem e se concretizam as relações com a família
extensa ou ampliada e com outros sistemas da sociedade (BAPTISTA; CARDOSO;
GOMES, 2012).
Embora, nos dias atuais, as escolas e as instituições governamentais também
devam cumprir o papel social de promover a educação e a socialização da pessoa,
ainda é a família a primeira instituição com a qual as pessoas mantêm os contatos
17
iniciais e estabelecem as primeiras relações (principalmente nos primeiros meses
dos bebês, antes destes irem para uma creche). Então, a família é a responsável por
várias funções, tais como: a promoção da educação, socialização, provisão
econômica, geração de proteção e afeto, transmissão de valores ou condutas éticas
e morais, culturas, regras, sentimentos, crenças, mitos, conceitos, e papéis de seus
membros (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012). Por sua vez, os pais
aprenderam as funções ou papéis da família com seus respectivos pais, transmitindo
a herança cultural da família, que perpassa gerações (BAPTISTA; CARDOSO;
GOMES, 2012), pois as influências ou heranças familiares não se restringem ao
contexto nuclear (pais e filhos), mas extrapolam-se a outros familiares, antecessores
aos pais, através dos legados familiares deixados pelas gerações passadas.
(PENSO; COSTA; RIBEIRO, 2008).
Assim, são os pais quem primeiramente influenciam diretamente o
desenvolvimento dos filhos, através da transmissão de conhecimentos tanto formal
quanto comportamental, por meio da observação do comportamento dos adultos
tidos como modelos (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012), embora as influências
do contexto sociocultural (PENSO; COSTA; RIBEIRO, 2008). A essa transmissão,
percebida com a repetição de padrões educacionais e comportamentais, entre pais e
filhos e entre uma geração e outra, nomeia-se como “transmissão geracional,
intergeracional ou transgeracional” (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012, p.16).
Essa influência no desenvolvimento dos filhos pode acontecer de vários
modos. Um deles é quando os pais interferem nas habilidades cognitivas e nas
personalidades dos filhos através das tarefas que lhes oferecem para cumprirem,
pelo modo como reagem a seus comportamentos particulares, pelos valores que
promovem
ao
estabelecerem
condutas
adequadas
e
pelos
padrões
de
comportamentos que transmitem (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012). Outro
modo é quando selecionam muitos dos outros contextos sociais aos quais os filhos
estão expostos, como os locais que visitam, onde estudam e os meios com os quais
se entretêm, com quem brincam ou se relacionam e como passam pelos momentos
de crise (PENSO; COSTA; RIBEIRO, 2008). Ou seja, os pais influenciam no
desenvolvimento de novas relações, desde as de parentesco, amizade, laborais até
a construção de um novo núcleo familiar (MINUCHIN; FISHMAN, 2007; CARTER;
McGOLDRICK, 2011).
18
Entretanto, essa influência é bidirecional, ou seja, há uma troca de
ensinamentos e aprendizados entre pais e filhos. Desta forma, os filhos também
influenciam no modo como os pais interagem com eles, interferindo no
comportamento dos mesmos, através do seu temperamento, aparência, capacidade
verbal, novos conhecimentos, pois as transmissões também ocorrem em uma
perspectiva global, já que a pessoa está inserida em vários outros contextos sociais
e culturais (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012). A pessoa ao aprender novas
crenças e padrões comportamentais no ambiente sociocultural, vai influenciar os
pais, no ambiente familiar, ao transmitir a eles os novos aprendizados. Assim, a
herança geracional pode sofrer modificações criativas e transformações, além de se
repetir, durante a transmissão geracional (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012).
Isto quer dizer que, os sistemas sociais e culturais, como sistemas maiores
que
englobam
o
familiar,
também
têm
grande
influência
na
formação,
desenvolvimento e diferenciação do self da pessoa (BRUSCAGIN, 2012), pois é nas
inter-relações sociais que a pessoa copia comportamentos diferentes dos padrões
familiares adquiridos, adicionando-os aos já existentes, transformando-os ou
modificando-os e ampliando-os. Afirma Bruscagin (2012), que as heranças culturais
de cada pessoa influenciam no seu modo de agir com as crises e reagir aos
problemas psicológicos, afetando a dinâmica familiar. (BRUSCAGIN, 2012). Desta
forma, o pensamento de Bruscagin (2012) vem corroborar o pensamento de
Baptista, Cardoso e Gomes (2012).
A
família
também
muda
e
transforma
seus
valores
e
crenças
transgeracionalmente, ao encontrar culturas diferenciadas das suas, ao ser afetada
na sua dinâmica, pelas heranças culturais pessoais dos seus membros,
desenvolvendo ao longo de sua história, “uma cultura própria, sempre inserida em
um contexto mais amplo histórico e socioeconômico”, pois a cultura não é
transmitida transgeracionalmente de forma imutável, já que é uma construção que
se faz na história das relações dos diferentes grupos (BRUSCAGIN, 2012. p. 182).
Por ser a família um sistema aberto e flexível, ela se movimenta tanto nos contextos
intergeracionais (família de origem do casal – todos que fazem parte da rede de
apoio parental), multidimensionais (diferentes áreas da vida da pessoa – funções e
papéis exercidos) e pluricontextuais (históricos, culturais, subculturais ou pátrios,
socioeconômicos e de gêneros). (GALANO, 2012).
19
Todavia, não se pode esquecer que, existe uma correlação entre a qualidade
da relação conjugal e a qualidade das relações parentais, associadas ao
desenvolvimento e ao comportamento dos filhos, o que significa dizer que as
relações conjugais favorecem relações parentais de alta ou baixa qualidade, já que o
sistema parental é um importante influenciador no processo desenvolvimental dos
filhos, embora as diferenças de pessoa para pessoa (PAPERO, 1998; NEVES,
2011). Pode-se entender então, que os valores, crenças e mitos transmitidos
intergeracionalmente (entre gerações) e transgeracionalmente (por várias gerações)
vão influenciar positiva ou negativamente os membros do sistema familiar, tanto no
subsistema parental quanto na fratria, promovendo ou provocando estranhamento
entre esses membros e subsistemas, principalmente quando estes desenvolvem
valores diferentes daqueles comuns ao sistema familiar (PENSO; COSTA; RIBEIRO,
2008; BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012).
De acordo com Bowlby (1990), o estabelecimento e a qualidade dessas
relações vão depender de como foi estabelecido o modelo de apego, seguro ou
inseguro, pois este irá fornecer a base para a formação de um Modelo Funcional
Interno (MFI) que justificará a continuidade desse apego por toda a vida. Ou seja, o
modelo de funcionamento interno guiará o comportamento da pessoa no modo como
ela enxergará o mundo, suas expectativas, a si mesmo e suas relações
subsequentes (BOWLBY, 1990).
Isto
quer
dizer
que,
tanto
crianças
quanto
adultos,
demonstrarão
autoconfiança e segurança para buscarem outros contatos e manterem outros
relacionamentos, sem perderem o contato com os pais. Se desenvolverem um
modelo de segurança, através da responsividade sensível e calorosa dos pais às
solicitações deste adulto quando criança, isso vai levá-las a ver outras pessoas
como confiáveis e bondosas, e a si mesmas como merecedoras desta atenção. Este
é o padrão de comportamento típico do apego seguro (BOWLBY, 1990).
Desta forma, o apego seguro, que propiciará uma base segura para as
relações, propiciará também condições para a diferenciação do self da pessoa,
contribuindo para que a mesma possa desenvolver-se ao longo da vida, ao sentir
segurança e apoio das suas bases parentais, que a ajudarão caso sinta
necessidade. Isto quer dizer que, esta segurança promoverá a autoconfiança
necessária para que a pessoa diferencie-se do self familiar, além da díade. Contudo,
também na díade do sistema parental, a pessoa de confiança é importante figura de
20
ligação, pois ela irá fornecer ao seu parceiro a base segura, a partir da qual poderá
atuar. Estes padrões comportamentais irão influenciar as futuras gerações
familiares. (BOWLBY, 1990).
Aquelas pessoas que evitam contatos e relacionamentos e se tornaram
inseguras, são as que desenvolveram um modelo inseguro/evitativo no contato com
os pais. Já as que oscilam entre a busca de contato ou de manutenção de uma
relação e a resistência ao mesmo, tornando-se ora coléricas, ora passivas,
apresentam comportamento típico do apego inseguro/resistente. (BOWLBY, 2006).
A ênfase sobre os estudos da transmissão geracional de padrões
comportamentais nos fornece sustentação teórica para entender as relações
familiares, a transmissão de valores, o comportamento dos filhos e o modo como os
mesmos interferem nas inter-relações, tanto familiares quanto pessoais e muitas
vezes até profissionais, provocando conflitos transgeracionais e intergeracionais.
(PENSO; COSTA; RIBEIRO, 2008).
Bowlby
(1990)
afirma
que
a
relação
familiar
caracterizada
por
interdependência, confiança e compromisso, proporciona ao indivíduo satisfação nas
relações, maior bem estar em relação à proximidade ou distância e menos
ansiedade ou preocupação sobre suas relações, típico do apego seguro. Isto quer
dizer que a qualidade das relações do sistema parental vai influenciar diretamente
no tipo de apego desenvolvido pela pessoa, pois este modelará seu funcionamento
interno por toda a vida, desde as relações familiares até as relações sociais,
influenciando assim, na capacidade do indivíduo diferenciar-se. (BOWLBY, 2006b).
Diz ainda o mesmo autor que, quando a situação é contrária a esta, o
indivíduo pode apresentar um apego inseguro (evitativo ou ansioso/ambivalente).
Desta forma, pode apresentar padrão de comportamento mais propenso a vivenciar
ciúme e a ter uma preocupação obsessiva com seus relacionamentos. Dependem
demais de suas relações e de seus parceiros, apresentando zelo excessivo (apego
ansioso) ou demonstram medo da intimidade, restringindo esses momentos e a
proximidade, apresentando menos dependência de seus pares e menos angústia
nas situações de conflito (apego evitativo) (BOWLBY, 1990). Então, se a criança
desenvolve apego seguro ou inseguro, de acordo com os cuidados maternos que lhe
foram dispensados na infância, pode transformar-se num adulto seguro ou inseguro.
(BOWLBY, 1990; 2006b).
21
Segundo Bowlby (1990; 2006a), a base segura determina que o padrão das
relações familiares vivenciados por uma pessoa, durante sua infância, terá grande
importância para o desenvolvimento final de sua personalidade, o que nos leva a
entender que a desvinculação, desligamento ou libertação dos vínculos familiares
pode provocar um retorno a comportamentos instintivos mais infantis e regressivos.
Assim,
os
aspectos
positivos
(afetos,
papéis
sociais,
padrões
de
comportamento) ou negativos (agressividade, violência) advindos da herança
familiar entre gerações, são influenciadores e transformadores da construção da
pessoa (BOWLBY, 2006a). De acordo com isso, pode-se entender que essas
heranças também sofrem por sua vez, influências dos contextos culturais.
Sendo a cultura em suas várias manifestações (arte, religião, crenças,
alimentação, rituais, etc.), “um poderoso gerador de significados” (FALICOV, 1998
apud BRUSCAGIN, 2012), dá origem às crenças que interferem nos padrões de
pensamentos,
sentimentos
e
comportamentos,
influenciando
enfática
ou
poderosamente no contexto desenvolvimental e na formação da identidade das
pessoas. Dessa forma, contribui significativamente para o comportamento
diferenciado da pessoa no contexto familiar.
Pode-se entender também, que o nível dessa atuação ou
poder
transformador exercido pela cultura, dependerá de como a família receberá as
influências externas ao seu sistema, de como ela apoiará seus membros, através da
atenção, do carinho, do diálogo e da autonomia dispensados a esses membros.
Dependerá também de como esses membros perceberão o apoio do sistema. Se de
modo positivo ou benéfico, poderá contribuir para aumentar o contentamento e o
bem-estar nas inter-relações. Ou se a percepção desse apoio é fraca, poderá
contribuir para expressões de humor negativo e desentendimentos entre os
subsistemas familiares (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012). Positiva ou
negativamente, como afirma Martins (2005), é na construção das relações familiares
que a pessoa pode se diferenciar da família, por meio das triangulações e
destriangulações, embora, a construção das relações sociais e culturais também
contribua fundamentalmente para essa diferenciação. E essa contribuição das
relações socioculturais, é cada vez mais influenciadora de comportamentos nos dias
atuais, devido à velocidade da troca de conhecimento e informação, que, por sua
vez, solicita compreensão e respeito às diversidades culturais.
22
Logo, a contemporaneidade de um mundo cada vez mais globalizado solicita
a capacidade de aceitar o outro do modo como ele é ou se apresenta no que tange
aos aspectos culturais, étnicos e religiosos. Como “as fronteiras culturais são”
ultrapassadas velozmente em função dos hodiernos meios de “locomoção e
comunicação,” o rápido deslocamento e a comunicação promovem contatos com
diversos “modos de ser, agir e compreender” (BRUSCAGIN, 2012, p. 179), incitando
e provocando mudanças amplas de hábitos e valores nas pessoas, que vão
repercutir em suas relações familiares e sociais, gerando conflitos inter e
transgeracionais. Ao provocar desencontros, gera questionamentos referentes aos
valores, relações familiares e sociais, identidades, conceitos e hábitos, conduzindo
as pessoas a “complexos processos de negociação”, exigindo dos psicólogos,
compreensão cultural das sociedades plurais. (BRUSCAGIN, 2012, p. 180).
Essa conjuntura sociocultural vai influir na construção da diferenciação de
cada pessoa ao longo da vida, determinando muitas vezes, o papel ou a função de
cada uma delas, tanto na família quanto na sociedade, provocando uma
retroalimentação entre os sistemas familiares e culturais e vice-versa. Isto quer dizer
que as heranças culturais de uma pessoa vão influenciar no modo como ela age
com os conflitos ou crises e como reage às problemáticas psicológicas, afetando a
dinâmica familiar, que por sua vez, também desenvolverá uma cultura própria ao
longo de sua história (BRUSCAGIN, 2012).
4. ESTRANHAMENTO: UM OLHAR PARA A DIFERENCIAÇÃO
“Podeis dar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles
têm seus próprios pensamentos.” Khalil Gibran (1883 – 1931/2006. p. 28).
Segundo Ximenes (2000, p. 405), estranhamento é “estranhar” alguma coisa.
Estranhar é “achar estranho; censurar”. Julgar diferente. Estranho é “fora do comum;
inusitado. Desconhecido, misterioso.” Novo; pouco familiar. Oposto aos costumes,
aos hábitos. Então, estranho é aquele que não é familiar, que é desconhecido.
Estranhamento aqui é o desconhecimento daquele, que sendo familiar, não parece
sê-lo, por apresentar-se diferente dos demais membros do mesmo sistema, e/ou por
apresentar padrões de comportamento, valores ético-morais e culturais, sentimentos
e crenças divergentes dos demais membros do sistema familiar. Afirma Di Nicola
(1998), que um ou mais membros da família podem se comportar estranhamente,
podem afastar-se de si mesmos ou de outros membros do sistema familiar. Ou
23
ainda, os membros de uma família podem possuir valores culturais semelhantes,
mas, que ao se encontrarem num novo contexto social, este vai lhe oportunizar uma
incerteza, um estranhamento dos seus próprios valores. (DI NICOLA, 1998).
Essa diferenciação pode se apresentar em diversas nuances, a depender das
relações parentais e fraternas, ou familiares. O estranhamento pode, então, ser
identificado na qualidade inter-relacional entre pais e filhos, ou seja, nas intra ou
inter-relações dos subsistemas familiares (sistema parental e fratria). Também
poderá ser identificado de acordo com o modo de funcionamento interno de cada
pessoa, e em concordância com os valores desenvolvidos pela mesma, que
propiciarão a diferenciação do self, possibilitando provocar estranhamento. Isto leva
a pensar que dependendo da situação provocadora de estranhamento entre os
membros de um mesmo sistema familiar, aquele que é estranhado ou os que
estranham podem erguer e manter fronteiras rígidas para confirmar a sua
sobrevivência, seu próprio modo de funcionamento.
Embora Di Nicola (1998) diga que são os membros da família, aqueles que
estranham, os que erguem barreiras para “legitimar e validar sua dor e suas razões
para valorizá-la e mantê-la” (DI NICOLA, 1998, p. 48). Desta forma, compreende-se
que é a família quem mais levanta barreiras, porque ela cria expectativas sobre o
que pensa e deseja que o filho seja. E se o filho não corresponde a estas
expectativas, então, pode haver estranhamento, incompreensão e barreiras ou
fronteiras rígidas. Mas, de que dor fala Di Nicola? Pode-se entendê-la como
sofrimento provocado pela mágoa e pela zanga dos membros da família, ao não
terem seus valores e crenças aceitos e compreendidos pelos filhos, e vice-versa.
Embora Di Nicola (1998) trate como estranho no seu estudo, o estrangeiro, ou seja,
aquele que vive em meio cultural diferente do seu, isto também se aplica aqui, ao
entender-se que, também há choque cultural na família e o estranho pode ser visto
como o diferente, presente no mesmo meio ambiente, percebido como a ovelha
negra.
Em contraponto a isto, ou não (a depender do ângulo de visão de cada
situação e pessoa), Bowlby (2006b) traz da etologia os conceitos de estranhamento
e familiaridade como sendo importantes para todas as espécies. Afirma o mesmo
autor que a influência etológica vem desde o berço, pois a nossa tendência
enquanto espécie é buscar o familiar, o conhecido, porque este proporciona
segurança, ao passo que o estranho, o desconhecido é tratado com reserva, com
24
distanciamento.
A criança (ou pode-se pensar a pessoa) busca reconhecer o
familiar, e estranha o que não o é. “Ao estranhamento, reage-se de um modo
ambivalente. De um lado, ele é gerador de medo e retraimento, por outro, suscita
curiosidade e investigação.” (BOWLBY, 2006b, p. 154). Desta forma, pode-se
perceber que o estranho é necessário para saber se a criança ou a pessoa está
apegada.
Seguindo o raciocínio de Bowlby (2006b), a sobressalência ou prevalência
opostas, de uma ou outra resposta, procede da influência de muitos fatores, tais
como o nível de “estranheza da situação, a presença ou ausência de uma
companhia”, e do fato da pessoa que responde à situação, “ser madura ou imatura”,
disponível ou indisponível, sadia ou “doente”. (BOWLBY, 2006b, p. 154).
Bowlby (2006b) afirma que no quadro de funcionamento da personalidade,
surgem dois grupos de influências fundamentais. O primeiro se refere à ausência ou
presença, total ou parcial, de uma figura de confiança, disponível e capaz de
fornecer base segura em cada fase do ciclo vital, constituindo as influências
externas ou ambientais. A segunda se refere à aptidão ou inaptidão relativa de uma
pessoa para reconhecer quando outra é digna de confiança, e se está disponível
para oferecer uma base segura. E caso essa disponibilidade aconteça, cooperar
para que se inicie e se mantenha uma relação de compensação mútua, constituindo
assim, as influências internas ou organísmicas. (BOWLBY, 2006b).
Esses dois grupos de influências interagem de modo complexo e circular,
levando, de um lado, aqueles que desenvolveram autoconfiança e competência,
como resposta à responsividade sensível e calorosa dos seus pais, a buscar
oportunamente uma base segura pessoal e iniciar e manter relações mutuamente
gratificantes. Por outro lado, a natureza das expectativas e o grau de competência
que uma pessoa tem, influenciará no seu modo de relacionamento com outras
pessoas, e com o tipo de pessoas que buscará para relacionar-se, e de como estas
o tratarão. Isto significa que, dependendo da natureza das intra e inter-relações
familiares, a pessoa poderá diferenciar-se dos padrões de comportamento
familiares, ou indiferenciar-se à mesma, fusionando-se a essa massa. Embora, a
família lute para manter a pessoa indiferenciada, semelhante aos seus padrões.
Mas, Bowlby (2006b) conclui que o padrão de relações familiares que a
pessoa experimenta, vai influenciar fundamentalmente o desenvolvimento da
personalidade da pessoa, desde a infância, passando pela adolescência até a fase
25
adulta, já que essas experiências atravessam ou perpassam cada ciclo vital.
(BOWLBY, 2006b). Ora, as relações familiares são bidirecionais, e as sociais são
multidirecionais. Portanto, não há mudanças apenas no desenvolvimento familiar,
mas também no desenvolvimento social. É o novo, presente no social que trará a
mudança, proporcionando o estranhamento.
Compreende-se, então, que o funcionamento saudável da pessoa em toda e
qualquer idade, revela a capacidade da mesma para reconhecer outras pessoas que
estejam dispostas e capazes (ou não), a proporcionar-lhe uma base segura, como
também sua aptidão para cooperar com as mesmas numa relação mutuamente
compensadora, ou ainda, optar pela decisão de não cooperar ou de fazê-lo sem
esperar retorno e sem cobranças. Em contraponto, as diversas formas de
funcionamento podem refletir também uma capacidade diminuída das pessoas para
reconhecerem outras de confiança, colaborar com as mesmas e desenvolver
relações gratificantes. Entende-se, então, que os diversos tipos de apego vão
influenciar diretamente na qualidade intrarelacional, inter-relacional e de relações
futuras, tanto na construção quanto na deterioração das mesmas. (BOWLBY,
2006b).
Assim, uma pessoa que funciona de modo saudável, vai ser capaz de trocar
de papéis, ora buscando, ora oferecendo base segura. Isto confirma a teoria
boweniana de que a pessoa diferenciada se sente segura e autoconfiante para
distanciar-se da sua família, buscando outras relações, mas, mantendo vínculo com
a mesma. Enquanto que, aquela indiferenciada, fusionada, desenvolve insegurança,
independência desafiadora e ansiedade nas relações, tornando-se exigente,
ansiosa, ambivalente, e muitas vezes indiferente ao sistema parental, sem, contudo,
diferenciar-se deste, permanecendo fusionada ao mesmo, ainda que esteja
afastada. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998). Entende-se, assim, que a pessoa
que é incapaz de expressar sua necessidade de apoio, ou a expressa de forma
agressiva e exigente, reflete sua falta de confiança no recebimento do mesmo,
mostrando-se
insatisfeita
com o
que pode
receber
e incapaz
de
doar
espontaneamente a outra pessoa, ou seja, a exigência agressiva reflete a
insegurança e a falta de confiança (BOWLBY, 2006b).
Ginzburg (1963/1989 apud DI NICOLA, 1998) diz que mesmo em meio a
culturas diferentes (estrangeiras), uma simples expressão proferida entre os
membros de um mesmo sistema, conduz ao reconhecimento do que é familiar para
26
esses membros. Isto quer dizer que, mesmo em meios adversos ou culturalmente
bem diferenciados, os familiares se reconhecem naquilo que lhes é peculiar, ou seja,
naquilo que lhes é comum, igual ou que lhes une numa massa indiferenciada. Ou
seja, como afirma Bowen (1978 apud PAPERO, 1998), mesmo que a pessoa
alcance o nível mais alto de diferenciação, ainda manterá algum grau indiferenciado,
fusionado à massa familiar, que o levará a se identificar, positiva ou negativamente
aos seus.
Semelhante a isso, a diferenciação, vista como o desenvolvimento de uma
pessoa, “pode tornar estranhos partes familiares de nós mesmos e dos nossos
mundos”, como afirma Di Nicola (1998, p. 44), o que nos remete à parte de nós
mesmos que se diferencia, causando estranhamento aos familiares. Diz ainda Di
Nicola (1998) que
Cada porta que abrimos, é tanto uma entrada quanto uma saída. Ir além do
familiar e do self estabelecido, é entrar numa dança de polaridades: a dança
entre o self e o outro é um eixo entre o estranho e o familiar, entre o ser
pessoal e o social, e uma troca fluida de perspectivas entre os que fazem
parte do grupo e os de fora. (DI NICOLA, 1998, p.44-45).
Isso nos leva a entender o estranhamento como um olhar para a
diferenciação, cujos elementos constituintes do self diferenciado, além dos padrões
comportamentais e dos mitos familiares, são elementos ou padrões e mitos
adquiridos com a cultura, que por sua vez é um sistema maior e mais diversificado
que o sistema parental/familiar. O que nos conduz a outra afirmação de Di Nicola
(1998, p. 45), “do familiar ao estranho, cada pessoa e cada família constrói uma
identidade composta de ser pessoal e social”, confirmando a influência da cultura
como elemento formador da diferenciação e provocador do estranhamento entre os
membros do sistema parental (DI NICOLA, 1998).
Por outro lado, paradoxalmente, a família também estranha o membro
indiferenciado, quando espera que este se diferencie positivamente do self familiar,
e quando a diferenciação não ocorre, frustra suas expectativas. Isto pode ser
explicado pela teoria de Bowen (1978 apud PAPERO, 1998), que discorre sobre as
famílias esquizofrenizantes, enfatizando que elas são caracterizadas por um lado,
pela rede muito estreita de relações, e por outro, pela presença da angústia, que
tende a ser transmitida transgeracionalmente, evidenciando ou esclarecendo daí,
que o saudável é diferenciar-se. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998).
27
Observa-se que a diferenciação pode causar estranhamento no núcleo
familiar, dependendo de cada situação esperada e/ou vivenciada. Sendo a família
uma variedade de sistemas e subsistemas abertos, cujo funcionamento vai do ótimo
ao
disfuncional,
as
mudanças que
atingem um de
seus
membros,
irá
consequentemente, provocar por sua vez, mudanças em outros dos seus membros.
Essas mudanças podem ser percebidas como estranhas aos padrões e valores da
família, podendo ser acatadas ou não, a depender do grau de estranheza que elas
causem ou provoquem (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998).
Desta forma, as mudanças ocorridas com um dos membros do sistema, pode
afetar positiva ou negativamente o funcionamento familiar e vice-versa. Assim, os
sintomas emergem de processos que se desenvolvem no seio da unidade familiar, e
refletem as mudanças de funcionamento das condições familiares, podendo surgir,
piorar, melhorar e desaparecer em resposta às condições apresentadas pela família
e pelo ambiente, refletindo a interação do sistema emocional, dos produtos e dos
processos evolutivos comuns a todos os seres vivos (PAPERO, 1998).
A sucessão ou o encadeamento de comportamentos e interações que
repercutem o sistema emocional possuem traços peculiares de repetência, pois todo
comportamento é produto de uma interação, e as modificações das condições,
resultam em outras que se operam sobre os comportamentos. (PAPERO, 1998).
Uma das variáveis que influenciam o funcionamento do sistema emocional é a
diferenciação do self; a outra é a ansiedade. Desta forma, “as pessoas se
diferenciam uma das outras em termo de funcionamento.” (BOWEN, 1978 apud
PAPERO, 1998, p. 76).
Os níveis de diferenciação podem então ser comparados a uma escala de
maturidade emocional. Esse nível é reconhecido como sendo aquele em que o self
se funde ou se incorpora a outro self, numa relação emocional muito próxima.
Entretanto, há pessoas pouco diferenciadas que conseguem manter suas vidas
dentro de um equilíbrio emocional, sem desenvolver doenças emocionais, como
também há as altamente diferenciadas que podem desenvolver sintomas
emocionais graves em situações de estresse. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998).
Todavia as mais propensas a enfermidades físicas e sociais são as pouco
diferenciadas, porque as mais diferenciadas podem recuperar rapidamente o
equilíbrio emocional. (BOWEN, 1978 apud PAPERO, 1998).
28
A relação primária de uma pessoa com seus pais está situada no ponto
central da diferenciação do self. Tanto pais quanto filhos, movimentam-se no sentido
de maior autonomia emocional. O nível de diferenciação dos pais foi estabelecido
pela relação destes com seus respectivos pais, influenciando até onde pode ir o
progresso familiar, no sentido da autonomia. Quando os níveis de diferenciação e de
ansiedade crônica dos pais não impedem o progresso da autonomia da família, os
filhos sairão do seu processo desenvolvimental com graus mais elevados de
diferenciação (PAPERO, 1998).
Neves (2011) analisa a diferenciação do self entre pais e filhos numa amostra
quantitativa, com 522 pessoas (189 pais com filhos adolescentes, e 333
adolescentes entre 15 e 19 anos), residentes na zona Norte de Lisboa (73.6%,
N=139), e na área da Grande Lisboa (32.3%, N=61), entre os anos de 2009/2010 e
2010/2011 em Lisboa – Portugal, no que pretendeu: a) analisar a relação entre a
diferenciação do self e a percepção do ambiente familiar; b) investigar as diferenças
entre as dimensões da diferenciação do self dos pais e dos filhos adolescentes; c)
verificar a existência de diferenças nas dimensões da diferenciação do self, em
função do sexo e do grupo etário dos filhos adolescentes. (NEVES, 2011).
Os resultados encontrados foram: a) no que tange à diferenciação do self dos
pais e dos filhos, em relação à percepção do ambiente familiar, este é percebido
como positivo ou bom, já que o nível de reatividade e corte emocional foi baixo. Para
a dimensão fusão com os outros e posição do eu (posição do si mesmo) desses
filhos, o resultado foi percebido como elevada a moderada, sugerindo que quanto
maior é o nível de fusão, menor é a diferenciação; b) os resultados entre a
diferenciação do self dos pais e dos filhos apresenta significativa diferença na
dimensão fusão com os outros, quando os filhos demonstram níveis mais elevados
de indiferenciação que a amostra dos pais; c) os resultados entre a diferenciação do
self em função do sexo apresenta para o sexo feminino, tanto na amostra de pais
quanto de filhos, níveis mais elevados de reatividade emocional e níveis menos
elevados da posição do eu, quando comparados aos indivíduos do sexo masculino.
No que tange à diferenciação do self dos filhos em função do grupo etário, foram
encontradas diferenças apenas na fusão com os outros, cujos adolescentes da faixa
de 15 a 16 anos apresentam níveis mais elevados que os da faixa de 17 a 19 anos.
Martins (2005) realizou uma pesquisa qualitativa em Salvador, na região da
Península Itapagipana, entre março de 1998 a março de 1999, e entre abril de 2004
29
a abril de 2005. Estudou três famílias nucleares de classe média intermediária,
fusionadas com suas famílias de origem, concluindo que a família menos
diferenciada pode “impedir as pessoas de chegarem à diferenciação e à liberdade
plena” (MARTINS, 2005, p. 97), confirmando o estranhamento na percepção
daquele que, na relação familiar não percebe o outro e nem a si mesmo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se a diferenciação como a independência emocional saudável dos
filhos com relação aos pais, e a fusão, como uma dependência emocional ou uma
simbiose com esses pais ou familiares. Percebe-se o processo de diferenciação
como natural e impulsionador do desenvolvimento humano. Contudo, a depender
das expectativas dos pais em relação aos filhos, a diferenciação também pode ser
percebida com estranhamento nessas inter-relações, o que poderá vir a causar
frustrações, culpas, inquietações e conflitos aos membros do sistema familiar.
Geralmente, a família luta para que o filho permaneça indiferenciado a ela, ou
seja, luta para preservar os seus valores e crenças intactos na transmissão inter e
transgeracional, enquanto o filho luta para manter sua individualidade, suas crenças
e valores recém-construídos, influenciados pelo contato com a sociedade e a cultura
externas ao sistema familiar. Entretanto, o processo dessa luta irá depender da ótica
da maturidade ou imaturidade de cada membro do sistema familiar, ou seja, de
como os pais enxergam e aceitam as transformações, ampliações e ressignificações
realizadas pelos filhos, à medida que estes caminham por entre as veredas
divergentes ou estranhas, e familiares, na construção do próprio self. Essa
construção é, portanto, um processo de reconhecimento e estranhamento dos
padrões comportamentais, de valores, crenças e mitos familiares e socioculturais.
Considerando as reflexões mais profundas a que este tema me conduziu,
percebo que a base teórica da diferenciação do self, apesar de muito importante e
necessária, ainda é insuficiente para explicar a complexidade das inter-relações
familiares, pois cada pessoa age e reage de modo diverso, em relação às próprias
expectativas e às expectativas daqueles com os quais convivem. Assim, considero
importante contextualizar a pessoa nas suas inter-relações, tanto familiares, quanto
socioculturais. As crenças, os valores, os mitos, a forma de dialogar consigo mesma,
com os papéis que cada pessoa exerce, dentro do sistema familiar e nos sistemas
mais amplos onde a pessoa está inserida, colaboram para que cada uma funcione
30
de modo diverso da outra, o que a torna exclusiva, particular. Embora haja
particularidades que nos tornem tão iguais, como os sentimentos de fragilidade,
angústia, ansiedade, medo, sensibilidade, amor ou afeto, ou ainda, os diversos
papéis que desempenhamos, a exemplo daqueles exercidos dentro da família e na
sociedade,
o
modo
como
experimentamos
esses
sentimentos
e
como
desempenhamos esses papéis, é o que nos torna tão diferentes, tão singulares, e às
vezes, tão estranhos.
Partindo do pressuposto que, numa família, o que pode haver de mais
importante são os laços afetivos, a cumplicidade e o companheirismo, o
estranhamento pode ser entendido como uma rejeição ao comportamento daquele
que saiu das entranhas mais profundas da mãe e do pai, ou da escolha mais
amorosa dos que optaram pela decisão de serem pais, que, portanto, são os
membros da família, que se pressupõe, mais amam e mais desejam que o filho se
desenvolva e seja feliz. Assim, necessário se faz que envolvam esse filho em laços
que permitam o seu caminhar, e que os filhos também compartilhem esses
sentimentos de afetividade com os seus membros, para que juntos possam sair mais
fortalecidos de cada embate, entendendo que todos possuem forças internas e
externas que os mobilizam a encontrar estratégias de enfrentamento para cada
teste, no processo de desenvolvimento humano de cada pessoa.
Percebemos, desta forma, o quanto é necessário para o profissional da
Psicologia, buscar compreender esses aspectos da qualidade inter-relacional, entre
pais e filhos, e auxiliá-los, considerando as divergências que perpassam as vidas de
cada um, de geração a geração, ainda que estejam unidos por laços de amor. Laços
esses, que muitas vezes não são suficientes para conduzirem os pais à
compreensão das necessidades dos filhos, dos seus valores, crenças e atitudes.
Assim, criar filhos é uma experiência de estranhamento, porque é difícil
aceitar que eles se tornem pessoas diferentes, e apesar disso, continuar a amá-los,
compreendê-los e respeitá-los, oferecendo-lhes suporte para que se sintam
confiantes de que os laços que os mantêm unidos são suficientemente flexíveis,
para permitir que eles sejam o que quiserem ser, ousem e façam suas próprias
escolhas, sem julgamentos. Que os pais possam agir como águias que impulsionam
seus filhos a alçarem voos, infundindo-lhes coragem, ânimo e entusiasmo, sendo os
primeiros a acreditarem em suas capacidades transformadoras, de si mesmos e do
mundo.
31
Desta forma, considero que esta pesquisa não se encerra, mas se inicia aqui,
pois há muito que se investigar e estudar, já que as relações estão sempre se
modificando, influenciadas pelos diversos contextos emocionais, familiares e
socioculturais. Devido também, à grande dificuldade de se encontrar dados de
pesquisa qualitativa e quantitativa para a realidade sociocultural brasileira, no que
tange ao estranhamento no contexto familiar, considero necessário novos estudos
que ampliem o olhar sobre este tema, de extrema relevância no contexto atual da
família brasileira, quando esta apresenta novos formatos ou modelos, carentes de
entendimento. É necessário, portanto, analisar mais profunda e proficuamente estes
aspectos, à luz da Psicologia Sistêmica, principalmente numa perspectiva nova
paradigmática, por esta considerar importante, as contextualizações humanas e
socioculturais.
32
Son: an experience of estrangement
ABSTRACT
The subject of this work aims to analyze the interlace between the psychological and
cultural differentiation of parents and sons the experience of estrangement. Thus,
you need to specifically understand the influences of parental and sociocultural
systems in the construction of self lifelong, identify ourselves, values, beliefs and
myths transmitted, linked to this experience, and understand estrangement from the
perspective of differentiation of self. For this purpose, as the methodology literature,
reviewed the fundamental concepts of Systemic Theory, linked to family studies.
Differentiation of self is a natural process of human development and as such should
be seen. Depending on the expectations of parents and sons, differentiation can be
perceived as estrangement, which causes frustration, guilt, restlessness and conflict
between members of the family system form. Generally, the family struggle for the
son to remain undifferentiated, while the son struggles to maintain their beliefs and
newly constructed values in touch with society and culture, which causes
estrangement in the system.
Keywords: Differentiation of self. Family. Estrangement.
33
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