MONTEIRO LOBATO
(1882 – 1948)
José Bento Monteiro Lobato
Principais obras:
Contos: Urupês (1918); Cidades mortas
(1919); Negrinha (1920).
 Literatura infanto-juvenil: Reinações de
Narizinho (1931); Viagem ao céu
(1932); As caçadas de Pedrinho (1933);
Geografia de Dona Benta (1935);
Histórias de tia Nastácia (1937) = Sítio
do Pica-Pau Amarelo

Monteiro Lobato

Extraordinária figura de intelectual e
homem de ação (escritor + editor +
empresário + fazendeiro), polemista de
mão cheia, errando e acertando com a
mesma ênfase, Monteiro Lobato é um
dos grandes nomes da Literatura
Brasileira do início do século XX.
A polêmica do petróleo

“O escândalo do petróleo” (1936)= Na
luta pela defesa das reservas naturais
brasileiras, que vinham sendo inescrupulosamente exploradas por grandes
empresas multinacionais, denúncia o
jogo de interesses que envolvia a
extração do petróleo e o envolvimento
das autoridades brasileiras com os
interesses internacionais.
ARTIGO & POLÊMICA

“Paranóia ou mistificação” (1917- O
Estado de São Paulo) = Critica
conservadora e violenta a exposição de
pintura expressionista (arte moderna)
de Anita Malfatti, pintora paulista recémchegada da Europa, considerando seu
trabalho resultado de uma deformação
mental.
“Paranóia ou mistificação”

“Há duas espécies de artistas. Uma
composta dos que vêem normalmente
as coisas e em conseqüência disso
fazem arte pura, guardando os eternos
ritmos da vida, e adotados para a
concretização das emoções estéticas,
os processos clássicos dos grandes
mestres. [...]
“Paranóia ou mistificação”

[...] A outra espécie é formada pelos
que vêem anormalmente a natureza, e
interpretam-na à luz de teorias
efêmeras, sob a sugestão estrábica de
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como
furúnculos da cultura excessiva. São
produtos do cansaço e do sadismo de
todos os períodos de decadência: são
frutos de fins de estação, bichados ao
nascedouro. [...]
Obras de Anita Malfatti
A literatura geral
de Monteiro Lobato
Destacam-se Urupês – Cidades mortas
– Negrinha.
 Livros de contos com a ambivalência
pré-modernista:
 Temática nova.
 Técnica narrativa e linguagem
tradicionais.

URUPÊS (1918)
URUPÊS
Esse livro de contos, considerado por
muitos como a obra-prima de Monteiro
Lobato, tornou-se um clássico da
literatura brasileira. É um fenômeno
sem precedente que provoca um
terremoto literário, outro sociológico e
outro político. A primeira edição,
lançada em 1918 foi toda ilustrada
pelo próprio Lobato.
URUPÊS
São vários contos retratando aspectos
da realidade brasileira nos quais
denuncia, numa linguagem vigorosa, o
drama da exclusão social que ainda
persiste no Brasil pós Lobato. Velha
Praga é uma reportagem sobre os
grandes incêndios produzindo estragos
na lavoura e na economia do país,
comparáveis a uma grande guerra.
URUPÊS
Refere-se ao nosso caboclo como
"funesto parasita da terra... inadaptável
à civilização". Em Urupês, Monteiro
Lobato contrapõe aos heróis da
literatura indigenista o caboclo, o pobre
Jeca Tatu, indiferente ao
desenvolvimento do país.
URUPÊS
O livro provocou muita polêmica por seu
conteúdo racista. Mais tarde, Lobato
reconheceu que o retrato do caboclo era
injusto, que a culpa não era do Jeca mas
sim daqueles que eram os verdadeiros
responsáveis pela sua miséria e
abandono.
URUPÊS
Contos: Os faroleiros - O engraçado
arrependido - A colcha de retalhos - A
vingança da peroba - Um suplício moderno
- Meu conto de Maupassant - Pollice verso
- Bucólica - O mata-pau - Boca torta - O
comprador de fazendas - O estigma - Velha
Praga - Urupês
JECA TATU

Símbolo do caboclo – preguiçoso na
primeira versão, doentio e subnutrido a
partir das demais versões - , a ponto de
tornar-se o personagem literário mais
famoso do país. Ainda hoje Jeca
significa o caipira desengonçado, o
matuto palerma, o ser rústico contrário
à civilização moderna.
JECA TATU

Jeca Tatu surge no pequeno ensaio que
fecha Urupês. A visão caricatural é tão
terrível que Sérgio Milliet diz ser o
personagem uma “vingança do
fazendeiro malogrado” (frustrado por
prejuízo). Monteiro, de fato, não poupa
o caboclo paulistano. Apresenta-o como
incapaz, sem iniciativa, preguiçoso,
boçal, fatalista, preso a superstições e
crendices.
JECA TATU
“Raça a vegetar de cócoras, incapaz de
evolução, impenetrável ao progresso.”
 “Vive apenas do que a natureza
esparrama pelo mato.(...) Seu grande
cuidado é espremer todas as
conseqüências da lei do menor
esforço.”
 “Cultiva a deusa Cachaça, divindade
que entre eles ainda não encontrou
heréticos.”

JECA TATU

Mais tarde, Lobato procurou
compreender melhor o caboclo, vendoo mais como vítima do atraso do que
propriamente como causador da
miséria nacional.
CIDADES MORTAS (1919)
CIDADES MORTAS
Foi publicado originalmente em 1919 numa
edição da Revista do Brasil. Reúne os
primeiros escritos de Lobato, ainda
estudante em Taubaté, e contos que
escreveu antes de seguir para os Estados
Unidos para ocupar um posto no
Consulado brasileiro em Nova Iorque.
CIDADES MORTAS
Nos contos transparece a transição na
agricultura brasileira provocada pela
grande crise do café, ocorrida em 1929. É
um retrato bem nítido do que era São Paulo
nos anos 20. Numa pintura realista, mostra
as cidadezinhas decadentes do Vale do
Paraíba, onde brilhara a civilização do café,
as quais vão sendo abandonadas pelos
fazendeiros, comerciantes e autoridades,
restando apenas o caboclo.
CIDADES MORTAS
Contos: Cidades mortas - A vida em Oblivion Os perturbadores do silêncio - Vidinha ociosa Cavalinhos - Noite de São João - O pito do
reverendo - Pedro Pichorra - Cabelos compridos
- O resto de onça - Porque Lopes se casou - Júri
na roça - Gens ennuyeux - O fígado indiscreto O plágio - O romance do chopin - O luzeiro
agrícola - A cruz de ouro - De como quebrei a
cabeça à mulher do Melo - O espião alemão Café! Café! - Toque outra - Um homem de
consciência - Anta que berra - O avô do Crispim
- Era no Paraíso - Um homem honesto - O rapto
- A nuvem de gafanhotos - Tragédia dum capão
de pintos.
NEGRINHA (1920)
NEGRINHA
Muitos consideram que neste livro estão os
melhores contos escritos por Lobato. Sem
dúvida são os mais emotivos e que mais
agradaram ao público. Alguns contos
foram escritos antes de sua viagem aos
Estados Unidos, outros depois do retorno.
NEGRINHA
O livro contém verdadeiras preciosidades
no tratamento do idioma e os personagens
são mais urbanos e mais mundanos que os
dos livros anteriores. Segundo Alfredo Bosi,
é um livro heterogêneo onde reponta com
maior insistência o documento social
acompanhado do costumeiro sentimento
polêmico e da costumeira vontade de
doutrinar e reformar.
NEGRINHA
Contos: A primeira edição de Negrinha continha
os seguintes contos: Negrinha - Fitas da vida - O
drama da geada - O bugio moqueado - O
jardineiro Timóteo - O colocador de pronomes.
Edições posteriores incluem: O fisco - Os negros
- Barba Azul - Uma história de mil anos - Os
pequeninos - A facada imortal - A policitemia de
Dona Lindoca - Duas cavalgaduras - O bom
marido - Marabá - Fatia de vida - A morte do
Camicego - Quero ajudar o Brasil - Sete grande Dona Expedita - Herdeiro de si mesmo.
LITERATURA INFANTIL

Monteiro Lobato foi um dos primeiros
autores de literatura infantil em nosso
país e em toda a América Latina.
Personagens como Narizinho,
Pedrinho, a boneca Emília, Dona Benta,
Tia Nastácia, o Visconde de Sabugosa
e o porco Rabicó ficaram conhecidas
por inúmeras gerações de crianças em
vários países.
LITERATURA INFANTIL

Na década de 1970, as histórias da
turma foram adaptadas para a tevê e
levadas ao ar no programa seriado O
Sítio do Pica-pau Amarelo, sendo
reapresentadas em momentos
posteriores. Tal qual no conjunto de
suas obras, também na produção
infantil Lobato aproveita para transmitir
às crianças valores morais,
conhecimentos sobre nosso país,
nossas tradições, nossa língua.
LITERATURA INFANTIL

Além de misturar realidade e fantasia
em doses sábias, Lobato soube
valorizar o universo brasileiro,
utilizando-se de referenciais mais
próximos das crianças brasileiras do
que a mitologia e a paisagem
européias. Em seu sítio, não há apenas
matos, riachos, animais costumes
interioranos. Há neles também sacis,
cucas, caiporas e mulas-sem-cabeça.
LITERATURA INFANTIL

Pode-se afirmar que o escritor
nacionalizou o imaginário infantil do
país. A postura compreensiva de Dona
Benta e a simplicidade generosa de Tia
Nastácia e do Tio Barnabé garantem a
ausência do moralismo adulto,
corriqueiro na literatura infantil da época
e que, conseqüentemente, subordinava
a inventividade e a liberdade das
crianças aos valores repressivos da
família patriarcal.
LITERATURA INFANTIL

A linguagem é coloquial e acessível, sem,
entretanto, cair na banalidade estilística que
aparece em boa parte da literatura infantil
brasileira até hoje. Mesmo que os tempos
tenham evoluído e certas informações
contidas nessa produção literária já estejam
ultrapassadas, vale lembrar que a literatura
infantil de Lobato exerceu, durante 50 anos,
a insubstituível função de despertar o gosto
pela leitura em milhares de crianças
brasileiras. Assim, essa literatura merece ser
sempre lembrada e lida.
LOBATO: PATERNALISMO
OU PRECONCEITO?

Especialistas em educação infantil
vêem hoje com reserva alguns dos
valores transmitidos pela literatura
infantil de Lobato, especialmente no
tratamento dado à negra e serviçal
Nastácia.
LOBATO: PATERNALISMO
OU PRECONCEITO?

A pesquisadora Marisa Lajolo, contudo,
lembra que esse tratamento é
contraditório. Em algumas situações a
negra (Tia Nastácia) é tratada de forma
carinhosa e até paternalista pelos
membros da família, enquanto em
outras é discriminada e maltratada,
como ocorre freqüentemente em
diálogos com a boneca Emília.
LOBATO: PATERNALISMO
OU PRECONCEITO?

“ – Cale a boca! [...] Você só entende
de cebolas e alhos e vinagres e
toicinhos. Está claro que não poderia
nunca ter visto fada porque elas não
aparecem para gente preta. Eu, se
fosse Peter Pan, enganava Wendy
dizendo que uma fada morre sempre
que vê uma negra beiçuda...
LOBATO: PATERNALISMO
OU PRECONCEITO?

- Mais respeito com os velhos, Emília! –
advertiu Dona Benta. – Não quero que
trate Nastácia desse modo. Todos aqui
sabem que ela é preta só por fora.
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MONTEIRO LOBATO (1882 – 1948)