Autores pré-modernos – Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos MONTEIRO LOBATO Quando Pedro I lança ecos o seu grito histórico e o país desperta estrouvinhado à crise duma mudança de dono, o caboclo ergue-se, espia e acocora-se de novo. Pelo 13 de maio, mal esvoaçava o florido decreto da Princesa e o negro exausto larga num uf! o cabo da enxada que o velho mundo venha quem nele pegue de novo. A 15 de novembro, troca-se um trono vitalício pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se ante o inopinado da mudança. O caboclo não dá pela coisa. (...) Nada o desperta. Nenhuma ferramenta o põe de pé. Social, como individualmente, em todo os atos da vida, Jeca, antes de agir, acocora-se. Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da espécie. Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro movimento após prender entre os lábios a palha de milho, sacar o rolete de fumo e disparar a cusparada d´esguicho, é sentar-se jeitosamente sobre os calcanhares. Só então destrava a língua e a inteligência. - Não vê que... De pé ou sentado as idéias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa. De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “ aquentá-lo” , imitado da mulher e da prole. Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras. Nos mercados, para onde leva a quitanda domingueira, é de cócoras, como um faquir do Bramaputra, que vigia os cachimbos de brejeúva ou de o feixe de três palmitos. Pobre Jeca Tatu! Como és bonito o romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo... ( Monteiro Lobato. Urupês) Autor • • • Intelectual polêmico e autor de histórias infantis Jeca Tatu ( crítica ao Brasil agrário, atrasado e ignorante cheio de vícios e vermes) Idealizava o país moderno crendo na ciência e no progresso do mesmo. Obra • • • • • • • Autor regionalista do Pré-Modernismo. Destacou-se no conto. Sem pretensão de desenvolver uma renovação psicológica ou estética na literatura. Considerado um bom contador de histórias, mas ainda preso ao modelo literário realista. Enquadrado no Pré-Modernismo mas se mostrou conservador com as inovações do Modernismo “Paranóia ou mistificação” ( crítica ao expressionismo das pinturas de Anita Malfatti) Um dos primeiros autores de literatura infantil em nosso país. AUGUSTO DOS ANJOS A Idéia De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas Cai de incógnitas criptas misteriosas Como as estalactites duma gruta?! Vem da psicogenética e alta luta Do feixe de moléculas nervosas, Que, em desintegrações maravilhosas, Delibera, e depois, quer e executa! Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas do laringe, Tísica, tênue, mínima, raquítica ... Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra No mulambo da língua paralítica. • • • • • Representante de uma experiência única na literatura universaç ( Simbolismo é único com o cientificismo naturalista) Por sua época foi situado entre os pré-modernistas Única obra do poeta: Eu (1912) Agressividade no vocabulário Interpreta dramaticamente a matéria, vida e cosmos • • • • • Termos antipoéticos( escarro / verme / germe ) Temáticas inquietantes : prostituição / cadáveres em decomposição Nota-se a presença da dor dos escritores simbolistas em sua obra Considerado um poeta emotivo e científico Inovou ao utilizar o tom coloquial em alguns de seus poemas.