O trabalho com projetos didáticos:
integrando a leitura e a
produção de textos
Profa. Ana Carolina Perrusi Brandão
UFPE - Centro de Educação/ CEEL
Setembro - 2006
Temas a serem tratados:
Conceito de projeto didático
 Projeto didático e tema gerador –
pontos de encontro e diferenças
 Um exemplo de projeto didático
 Questões e dúvidas sobre o tema

Para refletir...

Fragmento 1:
A aula teve início às 13:30h. A professora formou uma fila e entrou na
sala com os alunos. Os alunos sentaram em suas mesinhas e
cantaram várias músicas fazendo os gestos que a professora fazia. Em
seguida a professora formou uma nova fila para irem ao banheiro.
Na volta para a sala as crianças ouviram uma história gravada em fita
K7. A maioria ficou em silêncio e parecia acompanhar a historinha. Em
seguida, a professora propôs uma atividade: cortar pedaços de papel,
fazer bolinhas e colá-las numa folha de papel ofício. O tempo gasto
com esta atividade foi muito grande pois a professora ia de um em um
entregando a cola e explicando como deveriam fazer: "primeiro
coloque um pinguinho de cola no papel, depois rasgue uma tirinha
deste outro papel, amasse formando a bolinha e cole". Para os alunos
que iam terminando a professora dava uma folha com o desenho de
um coelho para que as crianças colorissem....

Fragmento 2: A professora senta no chão, numa roda junto com os alunos.
Diz: "hoje vamos começar vendo se aconteceu alguma coisa nova no nosso
minhocário". O minhocário passava de mão em mão, as crianças tentavam
contar o número de minhocas, observavam sua cor, se haviam crescido ou
engordado. A professora perguntou o que a turma já sabia sobre as minhocas.
Todas falavam ao mesmo tempo e a professora foi tentando organizar as falas
das crianças: "ela não perna", "ela não tem braço", "ela não tem osso", "ela não
pode ficar no sol". A professora perguntou: "por que a minhoca não pode ficar
no sol?" Uma criança falou "porque ela fica seca e morre". Profa: "E por que ela
fica seca?" Outra criança respondeu: " porque ela não respira" Profa: "Por onde
é mesmo que a minhoca respira?" Criança: "pela pele". A professora perguntou:
"que mais a gente já sabe sobre a minhoca?" Uma criança disse: "ela não pode
ficar na água". Outra disse: "ela não pode ficar na chuva". A professora
completou: "é, ela não pode ficar na chuva por causa da água... E por que a
minhoca é tão importante para a terra ?" Uma criança falou: "porque ela ajuda
as folhas". A professora perguntou: "Como assim? Explica melhor pra gente ..."
A criança disse: "o cocô dela é um remédio..." Profa: "o cocô dela é um
remédio e serve para quê?" Várias crianças: "para as plantas." Profa: "E qual é
o nome desse cocô?" Algumas crianças: "húmus". A professora : "húmus... E o
que mais a gente já pesquisou e aprendeu?" Uma criança diz"" ela não tem
pernas", outra fala "ela cava buracos" e professora perguntou: "e por que ela
cava buracos?" Uma criança: "para a água entrar". A professora completa: "é...
enquanto ela anda por baixo da terra, vai formando uns túneis e isso ajuda a
água a entrar na terra... por isso que a minhoca faz bem para as plantas...." A
professora pede para uma criança colocar o minhocário no seu lugar e segue
conversando sobre a visita que farão a um local em que se fabrica húmus para
vender....
Que diferenças podem ser observadas
entre as duas práticas?
Atividades desconectadas, vazias
de significado
X
Participação ativa dos alunos, valorização
de seus interesses, real ampliação de
conhecimentos.
Um pouco de história..
 O método dos projetos foi proposto por
diversos autores americanos a partir de 1908.
Dewey (1859-1952) – o ensino deve basear-se
na AÇÃO, e não na instrução; a escola deve
estar ligada à vida e aos problemas da
comunidade em que está inserida, o
conhecimento não é “gratuito”, está sempre
interessado nos objetivos que possam ser
alcançados.
Propôs o sistema de projetos, que segundo ele deveria
ter as seguintes características:
 deve girar em torno de algo que é, ao mesmo tempo,
de interesse da classe e da comunidade local;
 é algo que envolve toda a classe ou grupos de
alunos. Também deve envolver pessoas fora sala e
da escola;
 deve envolver trabalho manual e intelectual;
 exige um ensino globalizado (todas as disciplinas se
voltam para a resolução dos problemas que surgem
durante o desenvolvimento do projeto);
 deve desenvolver da capacidade dos alunos de
buscar informação/ “aprender a aprender”.

PROJETOS DIDÁTICOS
Para Jolibert (1994), um projeto se constitui em
um trabalho no sentido de resolver um
problema, explorar uma idéia ou construir um
produto que se tenha planejado ou
imaginado. O produto de um projeto deverá
ter necessariamente significado para quem o
executa.
* Ex., Produzir um livro de receitas juninas, fazer
uma horta, resolver o problema do lixo acumulado
no terreno ao lado da escola...
Por que, então, trabalhar com projetos?

AS ATIVIDADES REALIZADAS EM SALA PASSAM A TER
UM MAIOR SIGNIFICADO PARA OS ALUNOS, POIS
TODAS ELAS ESTÃO ARTICULADAS VISANDO A UM
“PRODUTO FINAL” , QUE É
DESEJADO E
COMPARTILHADO POR TODO O GRUPO

A PERSPECTIVA DE ALCANCAR UM PRODUTO FINAL
GERA UMA MAIOR MOTIVAÇÃO E INTERESSE POR
PARTE DOS ALUNOS

ASSIM, EM GERAL, O PROJETO RESULTA NUMA
APRENDIZAGEM
SIGNITICATIVA
(OU
SEJA,
PRAZEROSA, QUE TEM SIGNIFICADO PARA OS ALUNO,
QUE TEM RELAÇÃO COM SUA VIDA, QUE LHE DESAFIA,
QUE
TRAZ,
DE
FATO,
UMA
AMPLIAÇÃO
DE
CONHECIMENTOS ...)

PROMOVE O ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS DE
ORGANIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE TAREFAS ENTRE OS
ALUNOS, BEM COMO DE ADMINISTRAÇÃO DE ESPAÇO E
TEMPO, EM FUNÇÃO DAS ETAPAS PREVISTAS PARA O
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

ESTIMULA OS ALUNOS A FAZER ESCOLHAS E
COMPROMETER-SE COM SUAS ESCOLHAS, ASSUMINDO
RESPONSABILIDADES

POSSIBILITA A REALIZAÇÃO
COLETIVO E INTERDISCIPLINAR
DE
UM
TRABALHO
Pontos de encontro e diferenças entre
propostas de trabalho com tema gerador e
com projetos didáticos

TEMAS GERADORES
Pretende garantir a articulação entre as
diferentes áreas do conhecimento, que
seriam integradas naturalmente sob um
mesmo “guarda-chuva”, ou seja, o tema
especificado.
Ex., ciclo natalino, povos indígenas, entre
outros...
Algumas semelhanças...

Tentativas de superar atividades desarticuladas,
descontextualizadas e sem significado para os
alunos

Busca articular a realidade sócio-cultural em que
está inserido o aluno, considerando seus interesses
e os conhecimentos acumulados pela humanidade

Caráter globalizador no tratamento dos temas a
serem estudados
Porém, nos projetos...

o produto final é marcado desde o início do trabalho
e isso traz certas conseqüências importantes:
elemento motivador e direcionador das atividades +
mergulho num tópico mais especificado

é possível um trabalho interdisciplinar sem “forçar
barras”...

serão tratadas apenas as áreas de conhecimento
que naturalmente se integram aos objetivos
pretendidos ou questões levantadas, considerandose o produto final que se deseja alcançar
Um exemplo...
PROJETO DIDÁTICO:
Contos de Assombração – profa
Marília Coutinho
OBJETIVO
Ler e produzir contos de assombração para
elaboração de um “livro-coletânea” com
contos elaborados pelos próprios alunos.
 FAIXA ETÁRIA
8/9 anos.

CONTEÚDOS ENVOLVIDOS:
Linguagem oral; linguagem escrita: leitura
e produção de contos, resenhas e
convites; revisão textual; trabalho
cooperativo e respeito às decisões do
grupo.


RECURSOS MATERIAIS
Livros
de
literatura
(contos
de
assombração e de fadas), papel ofício,
xerox, lápis de cor, caderno dos alunos.
DURAÇÃO
4 meses.

PROPOSTA FINALIZAÇÃO
Produzir um livro com contos de
assombração para ser exposto na Feira
de Conhecimentos da escola.
 AVALIAÇÃO
Dar-se-á no decorrer de o projeto
através da observação da participação
e envolvimento dos alunos na
realização das atividades e etapas
propostas.

Etapas previstas:

Conversa inicial sobre a possibilidade de
escrita de um livro de contos de
assombração para ser exposto na Feira de
Conhecimentos,
um
evento
que,
tradicionalmente, acontece na escola ao final
do ano letivo;
 Leitura de diversos contos de assombração,
originários de países diferentes. Leitura de
contos de fada para que os alunos percebam
possíveis semelhanças e ou diferenças entre
esses dois gêneros literários;

Produção semanal (individual ou coletiva) de
um novo conto de assombração;

Nas últimas quatro semanas que antecedem
a Feira de Conhecimentos, iniciar o trabalho
de escolha dos contos que serão incluídos no
livro, como também atividades mais
sistemáticas de revisão textual;

Produção de ilustrações para o livro;

Após a seleção dos contos, iniciar o processo
de organização do livro: definir como será a
capa, o título, a ordem de apresentação dos
contos e dos autores, o índice etc.;
 Escrita coletiva de uma resenha para ser
apresentada na quarta capa do livro;
 Elaboração de convites dirigidos às pessoas
da comunidade escolar e familiares
informando sobre o lançamento do livro, na
Feira de Conhecimentos;
 Reprodução de um livro para cada aluno e
exposição dos volumes na Feira de
Conhecimentos.
Re-significando o ler e escrever na sala
de aula: algumas reflexões
O início... “produzir textos era um
suplício para meus alunos...”
 Rotina semanal de bons livros de
literatura
 Interesse por contos de assombração
 2o. Semestre: proposta do projeto
 Elaboração de um “roteiro para a
produção escrita” (o que uma boa
história de assombração deveria ter)

Proposta de troca de cadernos entre as
crianças e leitura em casa
 Leitura de resenhas e produção coletiva
de uma resenha para o livro
 Produção de convites

Mãos à obra!!!

Olhos e ouvidos abertos para o que
ocorre na sala de aula e fora dela

Observar a reação dos alunos a sua
proposta

Elaboração do planejamento POR
ESCRITO
Referências bibliográficas

BRANDÃO, Ana Carolina P, SELVA, Ana Coelho V.,
COUTINHO, Marília. In: SOUZA, Ivane P. e
BARBOSA, Maria Lúcia, F. de F. (orgs.). Práticas de
leitura no ensino fundamental. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005.

LEITE, Lúcia Helena A. Pedagogia dos projetos:
intervenção no presente. Revista Presença
Pedagógica, v. 2, no 8, março/abril de 1996. pág. 2433.
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