Diversidade e diferenciação do público e do privado na Educação Superior do Brasil Sumário PRÓLOGO: PROPOSTA PARA UM DIÁLOGO INTERCULTURAL ...................... 1 DIVERSIDADE E DIFERENCIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR........................ 2 SOBRE DIVERSIDADE E DIFERENCIAÇÃO: CONCEITOS E CONTEXTOS................................... 3 ABORDANDO DIVERSIDADE E DIFERENCIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ......... 4 CONSENSO E DIVERSIDADE? – OS DISCURSOS TRANSNACIONAIS........................................ 5 A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: DIVERSIDADE E DIFERENCIAÇÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO ..................................................................................... 7 CONTEXTUALIZANDO: A SITUAÇÃO EDUCACIONAL DO BRASIL ......................................... 7 UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DA DIVERSIDADE E DO PÚBLICO-PRIVADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ...................................................................................................... 9 A DIVERSIDADE DO E NO PÚBLICO E PRIVADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: UMA POLÍTICA EM AÇÃO ........................................................................................................ 12 Da diversidade estrutural do sistema: jurisdições estatais e segmentos privados...... 12 Da diversidade institucional do público e do privado ............................................... 16 Da diversidade programática: aspectos de qualidade do público e do privado......... 18 DIVERSIDADE E UNIDADE NO CORAÇÃO DO ESTADO E DA UNIVERSIDADE: EM SUPERAÇÃO DOS LIMITES DA MODERNIZAÇÃO INSTRUMENTAL ......................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 24 Diversidade e diferenciação do público e do privado na Educação Superior do Brasil Maria-Beatriz Luce1 UFRGS, Porto Alegre, Brasil [email protected] Resumo Análise da crescente diversidade institucional e programática verificada na Educação Superior no Brasil, bem como das estratégias de diferenciação adotadas no plano das políticas públicas e das organizações terciárias de ensino, permite exame mais percuciente do sentido da reforma educacional e do planejamento institucional. Questiona-se criticamente a diferenciação institucional e programática no caso de países que ainda não atingiram a massificação da educação e que gravitam nos sistemas econômico e científicotecnológico. Prólogo: proposta para um diálogo intercultural Organizamos esta sessão sobre “Políticas de educação na América Latina: o público e o privado em questão” com o objetivo de problematizar as relações entre pressões externas e tensões internas que vivenciamos nos espaços da política nacional de educação e das universidades de nossos países, nesta época em que se tornam bastante evidentes condições de crise e reformas estruturais e institucionais. A questão ora destacada para análise apresenta-se pela emblemática dicotomia público-privado, mas compreende, por certo, exame do papel do Estado e de toda a composição da esfera pública, suas configurações e articulações com os interesses privados no campo da Educação Superior, da pesquisa e da formação profissional. Neste texto, elaborado especialmente para o debate com colegas pesquisadores, focalizo uma tendência atual internacionalmente reconhecida da Educação Superior (UNESCO, 1995) e que é também diretriz oficial para a Educação Superior no Brasil (Ministério da Educação, 2000), a diversificação institucional e programática. Apresentando algumas faces da diversidade de estruturas e formas, examino estratégias de diferenciação adotadas nos planos das políticas públicas e das organizações terciárias de ensino do país, as quais despertam preocupação sobre o sentido político e eventuais conseqüências destas medidas, notadamente quando as condições sociais e de produção científico-tecnológica são tão adversas. Com isto pretendo contribuir para o repensar da condição latino-americana e dos projetos de integração regional, assim como para a discussão mais ampla sobre a problemática da globalização nas reformas educacionais. Sem dúvida, minha visão é marcada pela intimidade com uma universidade pública consolidada, embora aproveite também muitas oportunidades de trabalho em órgãos de gestão e fomento das atividades finalísticas da Educação Superior, em associações de 1 Com suporte dos bolsistas de Iniciação Científica vinculados ao Núcleo de Estudos de Política e Gestão da Educação, UFRGS: Nelson Scarpinski (PIBIC/CNPq-UFRGS), Patrícia Souza Marchand (PIBIC/CNPqUFRGS), Letícia Schmarczek Figueiredo (FAPERGS. 1 educadores, pesquisadores e dirigentes universitários, e em faculdades e universidades privadas, construindo planos de democratização da educação e da gestão institucional. Os problemas, contradições, dilemas e possibilidades aqui tratados, no entanto, devem interessar ao conjunto da sociedade. Especialmente, por pretendermos – no Congresso da LASA - uma reflexão crítica mais aprofundada sobre nossos fazeres e pensares acadêmicos, potencializada pelo diálogo intercultural entre cidadãos que se reconhecem artífices e artefatos destes mesmos processos de política educacional e institucional. O ponto de partida é um sentimento de preocupação ou inconformidade com o sentido e o conteúdo de muitas das diretivas reformistas da Educação Superior em meu país. Por isso, a disposição para problematizar – como ensinou Paulo Freire – até o nível da indignação, de modo a acumular o impulso que leva à possibilidade de teorização da superação da realidade existente – i.e. à proposição de perspectivas. Mas essa, já sabemos, só acontece quando conseguimos nos reunir, interrogar criticamente sobre a natureza e a qualidade moral de nossa sociedade e avançar em direção ao levantamento de alternativas fundamentadas – que sustentam lutas solidárias por objetivos emancipatórios2. Um propósito, por suposto, além deste texto. Aqui, inicialmente, situo as noções de diversidade e diferenciação aplicadas à Educação Superior, para, a seguir, apresentar alguns aspectos pelos quais vem sendo reconfigurado o sistema universitário no Brasil. Na análise da dinâmica que produz sua diversidade institucional e programática, procurei evidenciar o papel do Estado e a organização dos interesses privados, que permitem problematizar a política educacional em curso. – Qual o movimento, o sentido, da reforma educacional proposta? e – A quem interessa? são as questões que orientaram o percurso de interpretação. Diversidade e diferenciação na Educação Superior Diversidade e diferenciação tornaram-se categorias analíticas dos sistemas e instituições de Educação Superior, nas últimas décadas, quando se verifica grande expansão da oferta deste nível de ensino e se debatem as formas como as universidades respondem ou podem responder às pressões econômicas, sociais e políticas contemporâneas. Assim sendo, a par de resultar em um recurso para comparação entre distintos modelos e processos organizacionais, estas categorias têm contribuído muito para a compreensão da complexa questão das mudanças nos sistemas de Educação Superior e sua relação com as políticas nacionais. Não fora esta matéria suficientemente polêmica, acrescentam-se mais recentemente as questões relativas a integração regional e globalização, que permitem examinar com mais amplitude contradições entre diversidade e unidade, entre diferenciação e homogeneização; e, destarte, as pressões externas e as tensões internas do público e do privado nas políticas educacionais da América Latina. Neste quadro, ainda, ficam esboçados os próprios limites e possibilidades das teorizações sobre diversidade e diferenciação, assim como dos discursos que conferem a estas categorias estatuto estratégico nas políticas educacionais e na gestão dos sistemas ou das instituições de ensino terciário. 2 Expressão e noção obviamente inspiradas também em Boaventura de Sousa Santos (2000). 2 Caberá, pois, mesmo que sumariamente, situar origens e aplicações destes termos à Educação Superior, já como um plano da problematização deste tema. Na seqüência, registra-se o incipiente tratamento dos mesmos nas investigações sobre as mudanças em curso no Brasil e destacam-se referências indicativas de discursos oficiais influentes sobre diversidade e diferenciação no cenário internacional e latino-americano. Sobre diversidade e diferenciação: conceitos e contextos Em busca de uma sintética definição destes termos, encontra-se usualmente diversidade como um critério pelo qual se pode descrever, comparar, classificar e avaliar sistemas, instituições, programas e funções da Educação Superior, em qualquer ponto no tempo e espaço. Refere-se, por conseguinte, a um estado ou qualidade relativa de um todo e suas partes. Correlatamente, diferenciação designa um processo pelo qual se examina ou interpreta a dinâmica de mudança, pela qual um sistema ou instituição é levado a determinado estado de diversidade. Por isso, pode-se encontrá-la também como uma estratégia no planejamento institucional e na reforma educacional. A literatura sobre este assunto é tributária de contribuições originárias das ciências biológicas e da ecologia3 e das ciências sociais 4, baseadas nas noções modernas de evolução e progresso, bem como da tradicional orientação metodológica analíticodescritiva (positivista), tendo prosperado com a aplicação destas na pesquisa sobre sistemas nacionais ou sub-nacionais de Educação Superior e em estudos comparativos de âmbito internacional. Embora partindo de comum paradigma epistemológico e sócio-cultural, logo são identificáveis distintas posições entre autores que com estes mesmos conceitos e processos trabalharam; tanto em termos de definição da missão própria à Universidade ou de suas funções e modelos organizacionais, tanto quanto a respeito das implicações éticas e políticas (principalmente sobre a desejabilidade) da diversidade e das estratégias de diferenciação, revelam um amplo arco conceitual e explicativo. Todavia, ao apresentarem suas interpretações e preferências, reconhecem as complexas interações do ambiente (social, econômico, político e normativo) com as instituições de Educação Superior e, por conseguinte, a importância de uma clara identificação das unidades e categorias de análise (como nível de agregação e foco/perspectiva sobre diversidade). Esta observação pareceme ser crucial porque sabemos que tais estudos e questões são ordinariamente usados como referência para o planejamento, o controle e a avaliação de sistemas de Educação Superior (macro) ou de suas instituições (micro) – uma prática que precisa ser mais cautelosa. Outro aspecto relevante é que a maior parte dos trabalhos examina diversidade e diferenciação em sistemas educacionais que já atingiram “a massificação”, inclusive no nível terciário de ensino. Além disso, em todos os casos estudados, a diversidade institucional e/ou programática apresenta-se como uma característica valorizada para o sistema e/ou as instituições de Educação Superior ou como uma questão importante na arena de discussão e definição das políticas públicas ou institucionais - o que ainda não é o 3 Desde Charles Darwin e outros sobre mimetismo, diferenciação e seletividade. Com destaque para Durkheim, Parsons e outros sobre divisão do trabalho e especialização na estrutura organizacional. 4 3 caso, genericamente, da América Latina; nem obviamente, o do Brasil, conforme pretendo demonstrar a seguir e já havia indicado em texto anterior (LUCE, 1998). Dentre os estudos ora referidos é pertinente mencionar as publicações da IAU, a Associação Internacional de Universidades, abrigada pela UNESCO em Paris, ou do CHEPS, o Centro de Estudos sobre Política de Educação Superior, na Universidade de Twente, da Holanda, no continente europeu; na América do Norte, a questão da diversidade é bastante disseminada e muito mais polêmica, mas pode ser representada pela importância das coleções de Educação Superior da Jossey-Bass, sediada em São Francisco da Califórnia, e do ACE, Conselho Americano de Educação, baseado no D.C.. Algumas destas e outras, poucas obras que citarei pontualmente, são melhor identificadas ao final deste texto. Do conjunto destes estudos considero bastante interessantes as análises apresentadas por MEEK, GOEDEBUURE et al. (1991, 1993 e 1996) resultantes de uma série de seminários sobre políticas de Educação Superior, nos quais foram tematizados os efeitos pretendidos e não pretendidos de políticas nacionais reformistas, notadamente os decorrentes da nova ênfase nos métodos mais remotos ou indiretos de direção e regulação das universidades pelos governos e na accountability; assim como, especificamente, a problemática da diversidade em sistemas já acima caracterizados. Em que pese uma compreensível afinidade entre os vários autores, também daqueles sistemas de ensino oriundos, há entre aqueles suficientes diferenças em suas plataformas teóricas e experiências profissionais que permitem o desvelamento de alguns pontos, dentre outros, que merecem subseqüente problematização: a naturalização da diferenciação na Educação Superior, devida à evolução da especialização nas disciplinas acadêmicas, constituintes da universidade; a legitimidade e potencialidade política da diversidade, ou melhor, de distintas formas de incluir/excluir conhecimentos e grupos sociais das e nas universidades; ou as aparentes contradições entre o discurso (publicizado?) central, normatizador, e as forças instrumentais de gestão do Estado nacional, das estruturas supranacionais e das corporações profissionais e empresariais (privatizantes?), que tendem a homogeneizar. E, ainda, mais: - Seremos capazes de uma problematização totalizadora (em sentido epistemológico e societal) destas perspectivas? Abordando diversidade e diferenciação na Educação Superior no Brasil Uma relativamente extensa revisão da literatura brasileira5 não aponta este tema como uma idéia ou categoria recorrente na análise da Educação Superior no país. Há, obviamente, muitos estudos que identificam as principais características estruturais dos sistemas e das instituições deste nível de ensino e que descrevem ou criticam as dinâmicas que as produzem. Utilizam, em decorrência, indicadores e interpretam fenômenos que, sem dúvida, são associados com ou estão contidos no referencial conceitual e analítico sobre diversidade e diferenciação, mas poucos os tratam como tal. Mesmo os documentos de governo, como exposições de motivos nas emendas constitucionais, leis e regulamentações, ou planos e projetos, todos abundantes nesta 5 Abrangendo resumos de teses e dissertações, anais de reuniões da ANPED e ANPAE e seis periódicos nacionais importantes, todos de 1990 em diante, além do acervo de livros da UFRGS. 4 década, omitiram o tema ou trataram-no de modo vago, conquanto sempre subentendido, até recentemente. O ano de 1997, com a implantação da nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pode ser estabelecido como um marco formal na matéria, pois permitirá ao Ministério da Educação e do Desporto tratar, efetivamente, de desocultar e desatar a diversificação institucional e programática na Educação Superior brasileira, conforme as pretensões declaradas já no plano inicial de governo. Diz-se isso porque é possível observar que as bases das condições atuais em que opera a diferenciação no sistema e nos estabelecimentos do nível superior de ensino foram de mais longa data instituídas e acompanham a expansão da oferta de vagas, assim como a transfiguração conceitual e estratégica do significante Universidade, vinculada às mudanças econômicas, sociais e políticas mais estruturais, das quais a reforma do Estado e a internacionalização da economia são exemplos. A trama da questão problematizada nesse painel, o público e o privado, é evidente em tal percurso e subjacente em todas essas formações, como bem ilustram análises da crise brasileira reunidas por TRINDADE (1999), sob o provocativo título “A universidade em ruínas: na república dos professores”. Por esta razão, neste texto, procuro tomar uma dimensão temporal ampliada para demonstrar as variações ocorridas em algumas características estruturais do sistema de educação superior, nos tipos de instituição de ensino e nas funções exercidas ou atividades oferecidas, ao mesmo tempo situando certas políticas nacionais adotadas. A intenção é, como dito, podermos discutir algumas linhas para a investigação dos caminhos e dos efeitos da dinâmica de diferenciação, especialmente no que se refere ao posicionamento do Estado face aos interesses sociais e privados. É provocar mais uma frente de problematização da (falta de) democratização da educação superior no país. Consenso e diversidade? – os discursos transnacionais Nos últimos anos, no cenário mundial, vieram à luz alguns documentos de política da Educação Superior que têm suscitado amplo debate. Sua discussão no Brasil e, creio, na América Latina é ainda bastante limitada, ou melhor, confinada, no caso de meu país, nos círculos de dirigentes universitários e de pesquisadores especializados – como CATANI & OLIVEIRA (1999), RISTOFF (1999), TRINDADE (1999b e 1999c), SGUISSARDI (1999), Aguiar (1998), FONSECA (1998) - sem alcançar a amplitude e a avaliação crítica que merecem por seu potencial de influência junto às células formuladoras das diretrizes nacionais do setor. Observando-se as distintas origens, abrangências e finalidades de cada um dos aludidos documentos, que inclusive lhes conferem sentidos políticos diversos, em diferentes ambientes de repercussão, cabe, dado o escopo deste texto, indicar que todos parecem coincidir na valorização da diversificação de estruturas e programas como qualidades e tendências da Educação Superior, para a contemporaneidade. Suficiente motivo para reforçar a necessidade de investirmos no estudo mais aprofundado dos elementos sobre os quais foram firmadas as respectivas posições, bem como de acompanharmos de perto o que muda (e o que não muda) e como (não) mudam nossos sistemas e instituições universitárias, nas particulares tradições e circunstâncias de nossos países e da região. 5 Resumidamente, identifico algumas destas fontes documentais com significativa expressão política internacional, para evidenciar a complexidade epistemológica, metodológica e política que agrega a questão, para a qual estudos comparativos e críticos precisam decididamente dar mais atenção. São estes: relatórios de três comissões nacionais encarregadas de avaliar os sistemas de ensino superior dos respectivos países e propor-lhes reformas; e os documentos de posição de dois organismos internacionais, de natureza distinta, ambos com atuação sobre a Educação Superior, notadamente nos países dependentes e emergentes. O Relatório ATTALI (1998) propõe uma reforma no sistema francês e a construção de um modelo europeu de ensino superior, com vistas a maior homogeneidade na definição da missão das universidades e das grand école, em termos de qualidade e harmonização de cursos e diplomas (comparabilidade), para promover mais inclusão social e educação permanente, e mantém a diversidade institucional e programática existente. O Relatório BOYER (1998) endossa as principais características do sistema norte-americano de educação superior, marcado por sua orientação eminentemente pública, administração estadualizada e diversidade de objetivos e programas acadêmicos, propondo que os aperfeiçoamentos necessários sejam feitos por segmentos, como o novo modelo que recomenda para o ensino de graduação nas universidades de pesquisa, fundamentado na indissolubilidade entre ensino e pesquisa e na importância do acesso dos jovens aos melhores professores, aos pós-graduandos e às instalações mais sofisticadas. O Relatório DEARING (1997) toma como critério para estabelecer objetivos e metas para a educação superior a noção de sociedade do conhecimento, com suas exigências econômicas e sociais; analisa os elementos que compõem as instituições de ensino, como currículos, pessoal funções e organização, detendo-se sobre a problemática do financiamento (público e privado) para propugnar pela melhoria dos salários de docentes e pesquisadores, e a valorização da pesquisa e da qualidade do ensino, que culminaram com a ampliação dos fundos públicos, a fim de garantir a competitividade do país nestes campos. Já os documentos dos organismos internacionais, por sua natureza, são endereçados objetivamente à concertação sobre pluralidades e pressupõem possibilidades de generalização e “ teorização”. A UNESCO oferece um conjunto de textos submetidos a amplas discussões regionais e temáticas, com especialistas e representantes governamentais, durante toda a década de 1990, em que se destacam o Documento de Política para a Mudança e o Desenvolvimento da Educação Superior (1995) e os anais da Conferência Regional de Havana (1996) e da Conferência Mundial sobre Educação Superior no Século XXI (1998). Nestes é marcante o reconhecimento da necessidade de democratizar o acesso à universidade e ao conhecimento nela gerado com o irrenunciável investimento dos estados. A diversificação de estruturas institucionais, de programas, da população estudantil e das fontes de financiamento é vista como uma tendência geral, promovida por fatores externos como o aumento da demanda social, as restrições financeiras e as mudanças tecnológicas e de organização do trabalho, mas também por fatores internos como a especialização dos campos científicos, as atividades inter e multidisciplinares e as possibilidades das novas técnicas da informação e comunicação. De outra parte, o Banco Mundial (1995) oferece suas “lições” colhidas no pressuposto da diminuição dos recursos fiscais para a Educação Superior: maior eficiência de gestão e diversificação para alcançar opções mais baratas e flexíveis de ensino (as modalidades póssecundárias) e novas fontes de financiamento. Por isso passa a priorizar seu apoio (cada vez 6 mais competitivo) a programas nacionais e regionais de excelência e a sistemas de avaliação do desempenho e credenciamento institucional. Ainda que de forma esquemática, também nestas fontes fica evidente a complexidade em que diversidade e diferenciação na Educação Superior são articuladas às esferas do público e do privado. A Educação Superior no Brasil: diversidade e diferenciação do público e do privado Considero interessante, para a compreensão das peculiaridades do sistema de Educação Superior brasileiro e de como este vem reagindo às pressões externas e nas tensões internas, tomar inicialmente uma perspectiva histórica sobre sua dinâmica de diferenciação e de convergência, e sobre o movimento nas fronteiras entre o espaço público e o espaço privado. O foco da atenção, porém, incidirá sobre os últimos anos, quando importantes inflexões vêm ocorrendo. É este quadro longitudinal e focalizado que nos oferece suficientes elementos para discutirmos, comparativa e criticamente, os fundamentos das atuais propostas de políticas educacionais na América Latina e, assim, articularmos um papel protagonista de seus investigadores. Entretanto, antes de adentrar ao tema específico, proponho apenas alguns elementos de contextualização da condição econômica, política e social relacionados à configuração do sistema educacional do país, que apresenta diversas singularidades quando comparado ao conjunto de nossa região e alguns paradoxos internos, também relevantes para as finalidades do debate coletivo. Contextualizando: a situação educacional do Brasil É de domínio amplo que o Brasil é um dos países com maior extensão territorial (maior que a porção contínua dos Estados Unidos), população (cerca de 170 milhões) e PNB (US$ 590 milhões); mas também que mantém uma das mais desiguais e excludentes situações sociais: 13% da população são ainda analfabetos, 23% estão abaixo da linha de indigência e 47% da renda é apropriada pelos 10% mais ricos, o que compõe o coeficiente de Gini em 0,60 (IPEADATA, 2001). As diferenças regionais e entre setores de uma mesma área metropolitana ou até mesmo de uma cidade são também muito impressionantes. Refletem a história colonial e as tradições econômicas, políticas e sócioculturais que transitaram no país pelo século XX, acrescidas dos efeitos perversos da reestruturação macro-econômica e da reforma do Estado desde as últimas décadas. Correlatamente, a situação educacional do país, numa perspectiva comparada, revela médias de escolarização ainda muito baixas como resultado da repetência e da deserção escolar precoce. Os indicadores de qualidade e eqüidade do próprio sistema de ensino “permanecem muito distantes dos padrões desejados pela sociedade e necessários ao desenvolvimento nacional”, como admite a autoridade governamental (CASTRO, 1999, p. 7), ao registrar as conquistas rumo à universalização do ensino fundamental e a melhoria da eficiência do setor. 7 Gráfico 1 População brasileira estudando ta x a d e m a tríc u la 1 4 0 .0 % 1 2 0 .0 % 1 0 0 .0 % 8 0 .0 % 6 0 .0 % 4 0 .0 % 2 0 .0 % 0 .0 % E n s in o F u n d a m e n ta l ta x a b r u ta E n s in o M é d io E n s in o S u p e r io r ta x a líq u id a Fonte: SCHWARTZMANN, 2001. Com efeito, a escolarização líquida da população brasileira de 7 a 14 anos passa de 67%, em 1970, para 95,8%, em 1998, quando se alcançam 127,6% de escolarização bruta. Todavia, apenas 30,4% da população de 15 a 17 anos estão freqüentando o ensino médio, apesar do acentuado aumento do número de vagas nos últimos anos. O Gráfico 1, acima, ilustra o grande funil da escolarização brasileira; portanto o déficit de Educação Superior. Agora, na vigência de pressões para a redução das desigualdades e a viabilização de políticas sociais, dado que a estabilidade econômica e a consolidação da democracia interessam bem mais longe que as fronteiras nacionais e a dignidade dos cidadãos (sic), temos conseguido alguns significativos avanços (ainda que às expensas de outros fatores da “qualidade de vida social”): São 55 milhões de matrículas no país, i. e. quase 1/3 da população! Destas matrículas, mais de 53 milhões são na educação básica. E, logicamente, massiçamente na rede de escolas públicas gratuitas, como confirma logo adiante a Tabela 1. Aliás, é oportuno exemplificar que a democratização do acesso ao ensino médio, em tempos de encolhimento da classe média, corresponde não apenas à expansão da oferta de vagas nas escolas estatais (de 46,5% em 1980 passam a 84,24% em 1999) mas também a uma redução do número absoluto das matrículas em escolas privadas e a um “rebaixamento da qualidade do ensino (idem, p. 13), com “falta de professores qualificados nas disciplinas básicas – Química, Física, Matemática e Biologia” (idem, p. 14) e 54,8% de matrículas no período noturno, em prédios inadequados e mal equipados (INEP, Censo Escolar, 1998). Tabela 1 Distribuição da matrícula por nível de ensino e participação da rede pública: Brasil – 1998 Nível de Ensino Matrícula Total Rede Pública % Rede Pública Educação Infantil 5.733.273 4.135.854 72,14 Ens. Fund. 1ª a 4ª 20.939.076 19.220.984 91,79 Ens. Fund. 5ª a 8ª 15.120.666 13.561.411 89,69 Ensino Médio 7.769.199 6.544.835 84,24 Ensino Superior 2.369.945 832.022 35,11 55.315.419 47.128.928 85,20 Total Fonte: INEP/MEC apud CASTRO, 1999. 8 Uma perspectiva histórica da diversidade e do público-privado na Educação Superior no Brasil Diferentemente da América Espanhola, que teve suas primeiras universidades já ao início da colonização, a coroa portuguesa impediu-as no Brasil. Assim sendo, ficava o ensino superior, no período colonial, limitado aos cursos de Filosofia e Teologia ministrados pelos jesuítas e, após sua expulsão do reino português, em 1759, pelos franciscanos, em conventos. Contava-se, então, apenas com instituições privadas, que se mesclavam ao Estado pelo regime do padroado (CUNHA, 1999). Com a transferência da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foram criadas as primeiras instituições estatais de formação superior profissional – as faculdades de Medicina, Direito e Engenharia –, na Bahia e no Rio de Janeiro, que co-existiram com as escolas religiosas logo progressivamente limitadas à formação clerical, no decorrer do período imperial (18221889). Tem-se, assim, a matriz da Educação Superior no país: leiga e estatal, com estabelecimentos/cursos de formação profissional isolados, centralmente mantidos e controlados. Os primeiros governos republicanos, sob a égide do liberalismo e do positivismo, pretendiam romper com a exclusividade do Estado no ensino superior. No entanto, os vínculos do professorado das faculdades estatais com os novos dirigentes fizeram com que fossem mantidas, a par da iniciativa governamental de estados federados e de grupos particulares. Pode-se, com isto, interpretar que este foi o primeiro movimento de diversificação da Educação Superior no Brasil, definindo os principais segmentos institucionais até hoje existentes: o público, com estabelecimentos federais e estaduais, e o privado, com estabelecimentos confessionais e particulares. Nota-se, também, que se constitui, desde então, a legitimação do ensino superior não-federal pelo reconhecimento oficial dos cursos, mediante inspeção estatal regular e registro de diplomas na repartição ministerial, uma fonte latente de tensões e, evidentemente, de homogeneização da oferta curricular. Outro elemento importante a registrar é a “universidade temporã”, como bem caracterizou CUNHA (1985), posto que, antes de 1920, no Brasil, nenhuma universidade existiu e que, de fato, apenas a partir de 1934, com a criação da USP - Universidade de São Paulo, é introduzido um novo modelo conceitual e organizacional. Aliás, o advento e desenvolvimento da USP e da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro (FAVERO, 1999) já sinalizam suficientemente que a diferenciação na Educação Superior guarda complicadas relações com o modelo político e econômico, seja com a democratização do ensino e o papel das elites, a pesquisa científico-tecnológica e a formação profissional, o nacionalismo e a cooperação internacional, ou com a construção de novas hegemonias regionais e mesmo institucionais. Os textos de FERNANDES (1984) e QUEIROZ, PONTES e FERNANDES (1984), elaborados por ocasião do cinqüentenário da instituição e, com outros, recuperados à memória atual pelo GT de Políticas da Educação Superior, da ANPED, são ricos subsídios para a compreensão deste fenômeno, em perspectiva longitudinal. De 1945 a 1964, prosperam instituições de ensino superior no país e muitas das faculdades e escolas são aglutinadas em universidades e federalizadas, em movimento que pode ser interpretado como de homogeneização interna e externa (interinstitucional e programática). Algumas universidades confessionais são também criadas no período, 9 trazendo mais um elemento de diversidade. Mas tanto as universidades públicas quanto as privadas mantém o padrão (originário da USP) que inclui uma tensionante diversidade interna, as escolas tradicionais de formação profissional e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, concebida como centro gerador de cultura para as demais. Todas as unidades universitárias, no entanto, muito seletivas e notadamente devotadas ao ensino. Ao final do “período populista”, 65% dos estudantes universitários brasileiros freqüentavam universidades (CUNHA, 1982), o que atesta uma importante inflexão no modelo institucional do sistema, que também já evidenciava grande diversidade regional e institucional de qualidade, apesar de formalmente haver uma padronização curricular e de organização interna nas universidades ou estabelecimentos isolados. Os anos sessenta foram tempos de crítica e politização versus constrangimentos nas universidades brasileiras. O elitismo, a excludência do vestibular eliminatório (que gerava contingentes de jovens aprovados nos exames seletivos e sem acesso ao ensino superior), a alienação social, econômica e política dos currículos e a obsolescência da hierarquia docente (a estrutura de cátedra), alimentavam intensos debates e provocaram, no bojo das medidas de controle político subseqüente ao golpe de 1964, profundos traumas na comunidade acadêmica e uma ruptura programática: as aulas, as bibliotecas e as reuniões vigiadas; o desenvolvimento nacional tornado uma “questão técnica”; a cooperação norteamericana substitui a vertente intelectual a européia. – Poder-se-á caracterizar o movimento também como uma diferenciação ético-política e com repercussões sobre as concepções acerca do papel do Estado e autonomia universitária? A Reforma Universitária, orientada pela Lei 5540, de 1968, vem impor um novo papel para o governo federal em matéria de Educação Superior: a regulação forte e propositiva, de cunho tecno-burocrático. Com esteio na ideologia do planejamento, é criado um sistema de ensino superior, sob jurisdição normativa e de controle da União, no qual havia um modelo institucional, a universidade humboldiana-americana. As principais características então impostas às instituições existentes foram: novos objetivos (pesquisa e extensão) e nova estrutura organizacional (departamentos e centros); nova organização acadêmica (carreiras curtas, ciclo básico, matrícula por disciplina e créditos, semestralização do calendário). Paralelamente, tratou o governo de incentivar a pósgraduação e a pesquisa, instituindo, nas universidades federais, uma carreira docente nacional, isonômica e com gratificação para o tempo integral e a dedicação exclusiva. Um programa de modernização administrativa, construção de campi universitários fora dos perímetros urbanos e o processo orçamentário centralizado completavam a reforma. Todas estas medidas representaram mudanças muito drásticas nas estruturas e nas práticas acadêmicas, na cultura e nos valores universitários brasileiros. Representaram, por isso, um significativo movimento de convergência institucional e programática, notadamente homogeneizadora, mas que trazia consigo algumas contradições e escapes. Talvez a principal contradição interna da Reforma Universitária de 1968 tenha sido a introdução de valiosos elementos da democracia acadêmica que se alargará até recentemente, com a extinção da cátedra e a regulamentação dos concursos públicos para docentes, com a eleição de dirigentes pela comunidade universitária, os colegiados como instância decisória e a garantia da representação estudantil nestes. Contudo, há quem lembre que, com isto, professores e estudantes ficaram por demais envolvidos nas disputas sobre as novas estruturas internas, em detrimento da atuação nas questões políticas gerais. 10 A compreensão da dinâmica da Educação Superior brasileira, posterior a este ordenamento estrutural e organizacional, não pode descuidar de que à época vinha ocorrendo um acentuado aumento da demanda, associado à urbanização da população e à industrialização. A pressão desta demanda, a arquitetura de contenção da resistência política e o projeto desenvolvimentista somaram-se, fazendo com que os militares oportunizassem um desvio no leito da Reforma Universitária. Tem-se, então, nos anos setenta, o desenvolvimento de um modelo de expansão por diferenciação na Educação Superior; o sistema, ainda com o paradigma normativo unitário cede espaço à proliferação de estabelecimentos da iniciativa privada, isolados (não-universitários), voltados inteiramente para o ensino, localizados no interior dos estados ou nas periferias metropolitanas. Neste tipo de instituição, os cursos noturnos e de fim de semana, para a formação profissional em Direito, Economia e Administração e para as Licenciaturas (formação de professores) em Letras, Pedagogia e Ciências Sociais e Humanas predominaram; seus docentes eram profissionais com precários vínculos de trabalho e formação acadêmica; assim como os alunos, a classe média empobrecida e aspirante de mobilidade social. Com efeito, a impressionante expansão de matrículas no ensino superior, - cerca de 46.000 em 1950, 93.000 em 1960, 425.000 em 1970 e mais de 1 milhão em 1977 – só poderia ter acontecido por uma marcante estratificação em que os indicadores sócioeconômicos dos alunos e professores guardam elevada correlação com seus atributos acadêmicos. Este fenômeno da expansão via privatização, interiorização e degradação acadêmica é analisado por OLIVEN (1990), que chama atenção para a “paroquialização” do ensino superior brasileiro como uma estratégia na cooptação política da classe média pelo Estado autoritário. Esta limitação conceptual, de objetivos e de repercussão no projeto universitário, que pode ser sumariamente ilustrada na situação de 1981, quando havia mais de 800 faculdades isoladas, 250 destas com menos de 300 alunos, e apenas 65 universidades, 7 destas com mais de 20.000 alunos. Paradoxalmente, os planos de desenvolvimento econômico e segurança nacional levam, ainda nos anos setenta, a uma forte política de desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa, que fertiliza principalmente nas universidades públicas. A expansão e qualificação deste segmento acadêmico, conquanto limitado, produz mais uma evidente diferenciação no sistema de ensino superior brasileiro, entre os tipos de instituição – universidades e instituições isoladas – e internamente, nas universidades, entre graduação e pós-graduação, seus docentes, discentes e recursos acadêmico-científicos. A década de oitenta, reconhecida como a Década Perdida, na América Latina, devido aos efeitos das restrições na capacidade de investimento, também repercute em estagnação das matrículas no ensino superior: apenas 11,50% entre 1980 e 1992, quando é retomado o crescimento. Neste período, o setor privado passa por severa crise que será diagnosticada por anacronismo acadêmico e inviabilidade econômica das instituições isoladas e pequenas. O remédio foi a agregação destas para formarem as chamadas “novas universidades” (BRAGA, 1989), que se constituíram sob diversas formas institucionais e jurídicas: algumas tornaram-se públicas, abrigadas por governos estaduais ou municipais, em poucos casos; outras privadas, sob competência confessional ou particular, ou ainda como comunitária – definida como não-estatal mas de interesse público. Este novo elemento da diversidade institucional, que floresceu na região sul do país, pode ser associado a fatores da herança cultural européia, da experiência com o modo de produção cooperativado e dos valores de participação política. 11 As “novas universidades” representam, pois, um movimento de convergência, para instituições maiores, mas com óbvia diferenciação sobre as anteriores formas organizacionais, os perfis de clientela, os programas acadêmicos e os serviços técnicos e tecnológicos complementares. Todavia, não suficiente para descaracterizar a diversidade institucional e a estratificação acadêmica do sistema de ensino superior brasileiro, ao final do século, que merece uma análise mais detalhada, a seguir. A diversidade do e no público e privado na Educação Superior no Brasil: uma política em ação Conforme já indicado, a diversificação de estruturas e formas vem se constituindo em uma tendência contemporânea da Educação Superior, no plano internacional, embora, nesta escala de análise, já se possam visualizar algumas categorias disseminadas, pelas quais será possível o estudo comparativo morfológico e da dinâmica estratégica, de interesse para o campo das políticas públicas. No Brasil, como ora ilustrado, a formação de nível superior sempre foi um objeto político do Estado, que atuou como regulador, pela via normativa, de controles em processo, ou pelo financiamento, seja sobre as instituições estatais (públicas, oficiais) ou privadas. Em movimentos no sentido de diferenciação ou homogeneização institucional e programática, muitas vezes paralelos – e, por isso, contraditórios – chega o país ao final do século XX, com uma situação relativamente precária de qualificação cultural, profissional e científico-tecnológica, segundo os padrões exigidos na competitividade global. Esta avaliação das dificuldades em que estamos para evitar órbitas progressivamente excludentes no cenário da sociedade do conhecimento, complica-se com as limitações mais imediatas da crise fiscal e de disponibilidades de fundos públicos privados para investimentos em educação. O quadro estável de crescente concentração de renda (BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA, 2001) reforça a importância de situar-se o tratamento da Educação Superior no conjunto das políticas educacionais, com focalização nas desigualdades sociais. Destarte, o modelo de sistema de ensino superior – suas instituições, objetivos e critérios de acesso – fica em xeque; como também a diversificação atual e a diferenciação induzida pelo Estado (SILVA JR; SGUISSARDI, 1999), se postas como estratégia para a expansão e melhoria [da relevância social] da Educação Superior. Examinemos, portanto, algumas possibilidades iniciais de abordagem desta problemática: Da diversidade estrutural do sistema: jurisdições estatais e segmentos privados O ordenamento constitucional e legal brasileiro preceitua o dever do Estado garantir a educação escolar pública e o “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um” (CF, art. 208, V; LDB, art. 4º , V). Mas reconhece também que “o ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I – cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino; autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo poder público; III – capacidade de auto-financiamento, ressalvado o previsto no artigo 213 da 12 Constituição Federal” (CF, art. 209, com redação da LDB, art. 7º ). Tem-se, pois, atualizada a tradição de instituições públicas e instituições privadas de ensino, assim como a ampla função normativa e de controle do Estado sobre estas – cujos limites e instrumentos sempre têm sido objeto das mais acirradas disputas nos processos constituintes, legislativos e da administração educacional no país. A configuração do Estado, estabelecida na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, como parte das negociações na transição democrática, é composta por três instâncias político-administrativas: a União, os estados - com o Distrito Federal, e os municípios. Todas três com atribuições em matéria de educação e com competência para organizar, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino (CF, art. 211; LDB, ar. 8º ). Desdobra-se no setor da educação, portanto, a diretriz de descentralização, amplamente aplicada no novo ordenamento nacional, que ainda guarda muitos recursos e incumbências para a União mas reconhece maior autonomia para os estados e os municípios (estes limitados a normatizar apenas a Educação Infantil e o Ensino Fundamental de sua jurisdição). Os elementos constitutivos dos sistemas de ensino federal, estaduais e municipais são definidos na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. Assim, o sistema federal compreende as instituições de ensino mantidas pela União e mais as instituições de educação superior privadas (LDB, art. 16); os sistemas estaduais compreendem as instituições de ensino mantidas pelos respectivos poderes públicos estaduais e mais as instituições de educação superior mantidas por municípios de sua jurisdição, além das instituições privadas de ensino fundamental e médio (LDB, art. 17); os sistemas municipais compreendem as instituições de ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo respectivo Poder Público Municipal e as instituições privadas de educação infantil localizadas no município (LDB, art. 18). Nestas disposições, com a concorrência de outras, verifica-se que, embora reconhecida a autonomia de municípios para criar e manter ensino superior, não lhes é concedida competência normativa sobre este nível e nem lhes é facultado aplicar os recursos orçamentários vinculados à educação (25% ou mais, se tal dispuser a Lei Orgânica Municipal) – uma providência para evitar que as pressões das elites locais inviabilizem a educação básica. Complementarmente, a LDB define que à União “cabe a coordenação da política nacional da educação, articulando os diferentes níveis e sistemas de ensino e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias” (LDB, art. 8º ); e, ainda, especificamente com relação ao ensino superior, “assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidades sobre este nível de ensino” (idem, art. 9º , VIII). A incumbência de “autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema” (idem, art. 9º , IX) poderá ser delegada pela União aos estados que mantenham instituição de educação superior. Posta está, no plano normativo, de forma inequívoca, a responsabilidade do governo federal quanto à política de educação superior e às condições de manutenção e desenvolvimento deste nível de ensino no país. A complexidade jurisdicional, porém, requer o regime de colaboração entre entes federados – da União com os estados que mantenham ensino superior ou do estado com seus municípios que mantenham ensino 13 superior -, seja um trato planejado, concertado e geralmente submetido a acordos de ordem legislativa. Já as relações de exercício do poder normativo e de gestão interna na jurisdição federal são, logicamente, complicadas porque envolvem precipuamente as tensões entre mantenedoras com interesses, em princípio, de natureza distinta - as públicas e as privadas. Estas últimas ainda segmentadas por diferenças que também podem ser dispostas em gradientes, conforme disposições sobre patrimônio, valores de contribuição do alunado e participação de docentes, discentes e comunidade no processo decisório, entre outras. A propósito, é pertinente destacar que a expansão e a organização dos interesses privados no setor educacional – e os conflitos internos entre estes – fizeram com que desde a Constituição Federal (1988, art. 213) ficasse explicitada uma tipologia de instituições privadas: comunitárias, confessionais e filantrópicas, que professavam - e tiveram reconhecido – seu “interesse público”, habilitando-se a receber recursos públicos, mediante algumas condições. Posteriormente, a LDB (1996, art. 19 e 20) formaliza como categorias administrativas das instituições de ensino a pública e a privada, enquadrando nesta última, além das mencionadas, as instituições particulares, o que significa, implicitamente, admitir dentre instituições de ensino o caráter empresarial. Este movimento representa, sem dúvida, a legitimação de um processo de diferenciação de objetivos e padrões administrativos, que parece ter (e deva ter) continuidade na diferenciação de critérios e instrumentos de supervisão do Poder Público. Um fato relevante, neste sentido é a subcategorização estatística iniciada com o Censo da Educação Superior de 1999, que já desmembra os dados das instituições privadas em particulares e comunitárias/confessionais/sem-fins-lucrativos. A Tabela 2, a seguir, quantifica a diversidade estrutural das instituições de Educação Superior no Brasil, segundo as jurisdições dos sistemas de ensino e a dependência administrativa, ilustrando a grande proporção de instituições privadas - que corresponderá a uma proporção relativamente menor de matrículas, devido ao menor porte dos estabelecimentos. Observe-se, porém, que dentre as instituições municipais constam algumas (ou muitas) criadas por Poder Público Municipal, por meio de Lei Municipal, mas que não são de fato mantidas pelo mesmo, em função das restrições legais já comentadas e do fundo público municipal; há umas dentre estas que, inclusive, não são gratuitas e que poderiam ser melhor enquadradas como instituições comunitárias e até particulares – numa depuração dos sistemas já iniciada e que, por certo, ainda se faz necessária. Um alerta também deve ser feito com relação à diminuição do número de instituições federais, que não significa encolhimento da oferta de ensino, posto que na década de noventa houve aglutinação de estabelecimentos isolados em novas universidades e novos investimentos, para dotar novos estados da federação – recentemente desmembrados – de uma universidade federal, como é tradição no país. Tabela 2 Instituições de ensino superior por sistemas de ensino e dependência administrativa e tipo de instituição: Brasil, 1980, 1990, 1999 Ano Sistema federal Instituições Instituições federais privadas Sistemas estaduais Instituições Instituições estaduais municipais Total de instituições Públicas 1980 1990 56 55 682 696 53 83 91 84 200 1999 50 905 66 60 176 Fonte: INEP, 2001. 14 222 Privadas Total Outra observação importante é que os números da Tabela 2 estão a indicar apenas uma das faces dos amplos processos de expansão e de privatização que vem ocorrendo na Educação Superior, que, todavia, carecem de ser examinados em níveis de análise mais detalhados para que se percebam outros movimentos que concorrem e decorrem do novo ordenamento legal e institucional e das práticas político-administrativas nos diversos sistemas, o federal e os estaduais – e, principalmente, das complexas relações entre os interesses públicos e privados. Alguns desses níveis de análise mais detalhados serão explorados mais adiante, com categorização por tipo de instituição, cursos oferecidos e indicadores de qualidade. Primeiro, destaco a expansão e a privatização na oferta do ensino de graduação, mantendo a dependência administrativa como unidade de análise, porque bem retrata a diferenciação no ritmo da dinâmica da iniciativa privada comparativamente à do Poder Público, em qualquer de suas três instâncias. Gráfico 2 Evolução da matrícula de graduação por dependência administrativa: Brasil, 1980-1999 2.500.000 2.000.000 Total Federal 1.500.000 Estadual 1.000.000 Municipal Privada 500.000 0 1980 1985 1990 1995 1999 Fonte: INEP, 2001. Buscando ilustrar outros aspectos da diversidade, o Gráfico 3, a seguir, proporciona uma noção do problema da distribuição espacial da Educação Superior no território nacional, segundo as macro-regiões, em que é evidente a densidade de instituições privadas de ensino na região Sudeste. Tomar esta situação como “natural”, atribuindo-a apenas à concentração de população e renda ou ao perfil da economia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que potencializariam um “mercado” regional, parece-me insuficiente, por desconhecer fatores políticos, culturais, empresariais ou da organização da educação básica incidentes na demanda pela formação terciária ou na atratividade comercial do setor educacional. Mais um argumento sobre a importância do aprofundamento nas análises e para o questionamento sobre o papel do Estado na regulação da oferta de Educação Superior. 15 Gráfico 3 Distribuição regional das instituições de educação superior públicas e privadas: Brasil, 1999 600 500 400 300 P ú b lic o 200 P riv a d o 100 0 N o rte N o rd e s te S u d o e ste S ul C e ntro O e ste Fonte: INEP, Censo da Educação Superior, 1999. Da diversidade institucional do público e do privado Historicamente, como vimos, a Educação Superior no Brasil se estabelece em instituições isoladas de formação profissional e acadêmica, denominadas faculdades, escolas ou institutos. As universidades foram tardias e, não obstante a Reforma Universitária de 1968 tenha preconizado a universidade científica ou “humboldianoamericana” como paradigma, sempre foram a exceção, seja no número de instituições ou pelo volume de matrículas que conseguiam abrigar, quer no segmento público ou no privado. A esta limitada diversidade institucional correspondia também uma certa diversidade programática, ou seja de objetivos, conteúdo e, em realidade, de (não limitada) qualificação acadêmico-científica. Razão pela qual, a noção de diversidade institucional era de fato ausente e carente de legitimidade na educação Superior no Brasil. Pode-se dizer que as instituições isoladas foram, via de regra, vistas como uma segunda classe, uma excrescência tolerada no sistema. Uma ruptura objetiva com esta postura veio acontecer no atual governo, desde a divulgação das primeiras diretrizes para a Educação Superior, que visavam a retomada da dinâmica de expansão de vagas e apontavam a diversificação institucional como uma estratégia para tal. Foi consagrada no Decreto 2306, de 1997, que regulamenta o sistema federal de ensino. Neste mister, esclarece objetivamente a admissibilidade de formas jurídicas de natureza civil, fundacional ou comercial, e indica cinco categorias de organização acadêmica: I- Universidades, II- Centros Universitários, III- Faculdades Integradas, IV- Faculdades e V- Institutos Superiores ou Escolas Superiores (art. 8º ). As universidades são caracterizadas, como tradicionalmente, pela indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, admitindo-se a inovação de universidades especializadas. Os centros universitários devem ser pluricurriculares e, segundo a norma, atender a critérios de excelência (art. 12), para gozar de prerrogativas de determinada autonomia, como a criação de cursos e programas, remanejar ou ampliar vagas nos cursos existentes. 16 Tabela 3 Instituições de ensino superior por dependência administrativa e tipo de instituição: Brasil, 1980, 1990, 1999 Ano 1980 1990 1999 Instituições Federais Un F&In 34 36 39 - F 22 19 11 Un 20 40 83 Instituições Privadas F&I F CUn 19 643 74 582 72 711 39 Instituições Estaduais Un F&I F 9 1 43 16 67 30 36 Instituições Municipais Un F&I F 2 89 3 81 3 2 55 Fonte: INEP, 2001. A Tabela 3, acima, assim como a Tabela 4 e o Gráfico 4, a seguir, oferecem ilustração da diversidade ora existente e do processo de diferenciação em curso nas últimas duas décadas, conforme o tipo de instituição de Educação Superior e a dependência administrativa, seja pelo número de estabelecimentos ou pela matrícula de graduação. Fica evidente a diferença entre a oferta do Poder Público, federal, estadual ou municipal, e da iniciativa privada. Complementarmente a este panorama da situação e da dinâmica na organização institucional, pode-se detalhar a diversidade institucional registrada no último Censo da Educação Superior (1999) que, como dito, inclui as novas categorias institucionais e distingue as subcategorias do ensino privado. Assim, observa-se que, de certo modo, as instituições privadas sem fins lucrativos aproximam-se mais do tipo-padrão, a universidade, do que as instituições particulares, que, por sua vez, fazem sua bases nas faculdades isoladas e aderem mais rapidamente ao novo tipo, o centro universitário. Especula-se que o fato esteja relacionado a que as ordens religiosas e organizações comunitárias tenham sido precursoras na iniciativa de Educação Superior, já que os interesses empresariais só recentemente foram de forma aberta admitidos; que as universidades pressupõem corpo docente mais qualificado e profissionalizado no magistério, com o que as condições de gestão democrática e de trabalho na instituição seriam mais demandadas e mais toleradas pelos seus dirigentes. Tabela 4 Instituições particulares e privadas sem fins lucrativos por tipo de instituição, matrículas de graduação, vagas oferecidas e concluintes: Brasil, 1999 Total Universidades Centros Univ. Fac.Integrad. Inst.Isoladas Instituições Particulares Com./conf./fil. Cursos Particulares Com./conf./fil Docentes Particulares Com./conf./fil Matrículas Particulares Com./conf./fil Concluintes Particulares Com./conf./fil 526 379 26 57 22 17 47 25 431 280 2467 2917 863 1873 347 256 290 146 967 642 36865 56088 14087 37571 4922 3641 3777 2884 14079 11992 651362 866561 267267 627285 97854 63118 72277 40682 213959 155476 83463 111938 30488 72768 13138 9089 213959 155476 28514 24541 Fonte: INEP, Sinopse da Educação Superior, 1999. 17 Já o Gráfico 4, demonstra que a expansão das matrículas de graduação tem início depois de 1985 e toma grande aceleração nos últimos anos da década de 1990. As universidades foram, marcadamente, as instituições responsáveis por esta dinâmica. Gráfico 4 Evolução da matrícula de graduação por tipo de instituição de educação superior: Brasil, 1980-1999 2500000 2000000 Universidades 1500000 Fac. Int e Cen. Un. 1000000 Faculdades 500000 Total 0 1980 1985 1990 1995 1999 Fonte: INEP, 2001. Da diversidade programática: aspectos de qualidade do público e do privado As diferenças em termos de programas e serviços oferecidos pelas instituições de Educação Superior, no Brasil, dependem, em grande parte, das definições normativas e das práticas de gestão dos órgãos de supervisão e avaliação dos respectivos sistemas de ensino, por sua vez inseridas na política nacional de educação e suas determinações. Mas dependem, também, de definições da própria instituição (ou sua mantenedora) quanto à missão institucional e a seu posicionamento estratégico. Dentre os vários aspectos que poderiam ser examinados para caracterizar a diversidade programática do público e do privado na Educação Superior, dados os limites das fontes e dos níveis de análise utilizados neste texto, destaco apenas alguns, relacionados à função de ensino e as principais variáveis a esta função associadas. De acordo com a nova LDB (art. 44), na Educação Superior, são reconhecidos cursos e programas: I- de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; II- de pósgraduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino; III- cursos de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino; e IVcursos seqüenciais, por campo de saber, de diferentes níveis e abrangências, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino. Esta última categoria, os cursos seqüenciais, são uma novidade introduzida na LDB, por iniciativa vinculada ao governo, surpreendendo como fórmula normatizada o campo educacional, e pode ser considerada como um recurso de diferenciação programática entre 18 e nas instituições. Por definição e em realidade, todas as universidades e centros universitários oferecem cursos de graduação, pós-graduação e extensão. As exigências normativas da pós-graduação, tradicionalmente bastante controlada (por agência governamental específica, a CAPES), fazem com que a oferta dos cursos de stricto sensu – mestrado e doutorado- seja um elemento importante na diferenciação programática entre as universidades e, especialmente, destas com os centros universitários, federações e instituições isoladas de ensino superior, no continuum de diversidade segundo os níveis de ensino ofertados. Já os cursos seqüenciais, que se diversificam em cursos seqüenciais de complementação de estudos, com destinação individual ou coletiva, conduzindo a certificado, e de formação específica, somente com destinação coletiva e conduzindo a diploma, são ainda experimentados por um número restrito de instituições e, têm servido para apontar diferenças de posicionamento entre instituições particulares e públicas ou entre universidades e instituições isoladas. São vistos com desconfiança pelas instituições mais qualificadas e tradicionais, posto que podem representar apenas mais uma fórmula de alcançar mais rendimentos financeiros sobre a capacidade acadêmica instalada, sem considerar as implicações pedagógicas de aumentar o número de alunos por turma e diversificar as salas de aulas com alunos submetidos a distintos processos seletivos de ingresso e com distintos interesses, idade e experiência acadêmica e profissional. Mas também não se desconhece que podem possibilitar atendimento a parcelas da população que não obtiveram condições de ingresso pelas vias tradicionais ou que desejam atualização profissional, inclusive substituindo com vantagens oportunidades anteriormente oferecidas como cursos de extensão, a exemplo do que fazem algumas universidades, inclusive públicas, para a educação continuada de professores de educação básica junto a licenciaturas regulares. Creio que um exame mais detalhado da dinâmica dos cursos seqüenciais no país proporcionará interessantes observações sobre a questão da diversidade programática, o público e o privado, face a temas como democratização/ elitização do acesso ao conhecimento, nos planos institucionais e societal. Ou, ainda, face ao tema da desregulamentação do ensino superior, seus processos seletivos, diretrizes curriculares e condições de oferta. Em nível subseqüente, a diversidade programática é revelada pela variável campos de conhecimento ou de atuação profissional. O Gráfico 5, a seguir, indica a acentuada concentração de cursos de graduação nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas (Administração, Direito, Comunicação Social, entre outros) e Ciências Humanas (Pedagogia, História, Filosofia, entre outros) reconhecidos como cursos de fácil implantação e de baixo custo. Estes cursos estão presentes na oferta de todas as instituições, salvo as especializadas em outros campos de saber; são proporcionalmente mais oferecidos pelas instituições privadas e dentre estas pelas particulares, como o mesmo gráfico indica. Os condicionantes desta situação são, obviamente, também ligados a características sócioeconômicas do alunado e das regiões em que se situam. De outra parte, tem-se as exigências ou limitações impostas a alguns cursos de formação profissional, notadamente na área da saúde. 19 Gráfico 5 Distribuição proporcional dos cursos por área de conhecimento: Brasil, 1999. 35 ,0 30 ,0 25 ,0 total 20 ,0 P riva do 15 ,0 10 ,0 5,0 Eng Tec nolo gia Letr as e Arte s Terr a Exa tas & Hum ana s Soc iais Apli cada s 0,0 Fonte: INEP, Censo da Educação Superior, 1999. Outra perspectiva sobre a diversidade programática, conforme as áreas de conhecimento, é dada pela distribuição proporcional das matrículas nestes mesmos cursos, ilustrada a seguir no Gráfico 6. Observa-se, aí, que há concentração ainda mais acentuada nos cursos de Ciências Sociais Aplicadas (42,6% do total das matrículas), a ponto de reduzir a significação relativa de todas as demais áreas. Gráfico 6 Distribuição proporcional das matrículas de graduação por área de conhecimento em instituições públicas e privadas : Brasil - 1999 60 50 40 30 20 10 0 Total Biológicas Agrárias Eng Tecnologia Letras e Artes Saúde Exatas & Terra Humanas Sociais Aplicadas Privada Fonte: INEP, Censo da Educação Superior, 1999. Portanto, cabe interpretar que, em realidade, há não apenas pouca diversidade na formação superior sendo oferecida à população, mas que possivelmente estamos sob uma força homogeneizadora de cursos pouco vinculados a pesquisa e com mais reduzido impacto sobre qualquer alavancagem de desenvolvimento tecnológico e econômico, em que 20 pese seu potencial valor social e humanístico. Exemplo contundente é o registro de 1266 novos cursos de graduação autorizados/reconhecidos, dos quais 392 são de Administração, 132 de Ciências Contábeis e Econômicas, 66 de Turismo, e assim por diante (MEC, 2001), que caracterizam o que SAMPAIO (1998) havia percebido como ampliação do leque de opções curriculares e fragmentação de carreiras para atrair novas clientelas com baixo investimento adicional. Endosso sua problematização sobre a relação entre a fragmentação de carreiras e a diversificação do sistema de ensino superior no país. Algumas das estatísticas disponíveis permitem apreciar o movimento de expansão das oportunidades de trabalho docente, segundo os aspectos de diversidade já examinados. Considerando o Gráficos 7, a seguir, verifica-se que no segmento das universidades é onde de fato evolui o número de postos de trabalho, posto que nos estabelecimentos isolados há um aumento muito discreto destes e nas federações ou faculdades integradas ocorre diminuição. Gráfico 7 Evolução do número de funções docentes por tipo de instituição: Brasil, 1980-1999. 200000 180000 160000 140000 120000 100000 80000 60000 40000 20000 0 Universidades Fac. Int e Cen. Un. Faculdades Total 1980 1985 1990 1995 1999 Fonte: INEP, 2001. Gráfico 8 Evolução do número de funções docentes por dependência administrativa: Brasil, 1980-1999. 200.000 180.000 160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 Total Federal Estadual Municipal Privada 1980 1985 1990 1995 Fonte: INEP, 2001. 21 1999 Já o Gráfico 8 complementa a compreensão do fenômeno, por indicar que o governo federal não vem proporcionando a expansão de postos docentes enquanto que nas instituições estaduais houve mediano crescimento; os novos empregos, consoante os indicadores de instituições e matrículas, estão mesmo é no setor privado. Atente-se, sobre esta variável que indica o número de funções docentes e não o número de professores, sendo comum o acúmulo de funções por docentes quando lecionam em mais de um curso numa federação de faculdades ou lecionam até em mais de uma universidade ou centro universitário, em regimes de tempo parcial. Mais uma importante aproximação da diversidade entre público e privado na Educação Superior pode ser obtida com a comparação sobre a qualificação dos docentes. Como o Gráfico 9 exibe, as instituições públicas apresentam uma situação bem mais favorável do que as privadas, embora o conjunto dos docentes brasileiros tenham ainda poucas oportunidades de pós-graduação. É oportuno lembrar as exigências que pela primeira vez, com a LDB de 1996, se fazem no sentido de que pelo menos 1/3 dos docentes das universidades devam ter mestrado ou doutorado e também de 1/3 com tempo integral – dois fatores associados à possibilidade de produção acadêmico-científica e, conseqüentemente, à mudança do padrão de qualidade do ensino. Gráfico 9 Distribuição das funções docentes por grau de formação em instituições públicas e privadas: Brasil, 1999. 44,7 45,0 40,0 30,0 31,4 35,0 28,6 Sem PósGraduação Especialização 30,0 23,0 25,0 20,0 15,7 Mestrado 16,3 15,0 10,3 Doutorado 10,0 5,0 0,0 Pública Privada Fonte: INEP, Censo da Educação Superior, 1999. Diversidade e unidade no coração do Estado e da Universidade: em superação dos limites da modernização instrumental Os aspectos com os quais até aqui ilustrei a problemática da diversidade e diferenciação na Educação Superior do Brasil, com breve perspectiva histórica, são por certo muito limitados. Baseiam-se apenas em indicadores tradicionais dos sistemas estatísticos sobre as instituições de ensino, produzidos a partir de informações oferecidas pelas próprias ao Poder Público, em sua legítima competência para tal. E, de forma alguma, 22 exploram significativa parcela dos dados que os bancos oficiais colocam à disposição dos pesquisadores e da sociedade em geral. Há nestes muitas mais variáveis – inclusive derivadas dos processos de avaliação institucional e dos resultados do exame nacional de concluintes, o controvertido Provão, ou relativas às desigualdades sociais e raciais, na berlinda neste momento - todo um mundo de relações que podem ser traçadas entre as mesmas, para gerar interessantes elementos de representação do estado da diversidade e dos processos de diferenciação nas e das instituições de ensino terciário, caracterizando também a atuação do Estado e da iniciativa privada. Já foram, porém, estes aspectos, em que predominam a natureza normativa e da formalidade institucional, suficientes para um mapeamento de hipóteses e elementos que podem e precisam ser focalizados com mais abrangência, profundidade e o concurso de outras abordagens teórico-metodológicas, assim como com outras fontes de informação e unidades de análise. Por isso, dispenso a tentativa de concluir o texto com um resumo dos temas articulados, desde o enquadramento conceitual e político de diversidade e diferenciação na educação Superior, com sua inserção na produção acadêmico-científica, até uma síntese das proporções e movimentos entre o público e o privado nas instituições brasileiras. Parece-me que bastam, nas finalidades e circunstâncias deste evento, para nos mobilizar a uma discussão com sentido prospectivo. Retomo, então, a problemática organizadora deste painel, que havíamos posto como a das relações entre as pressões externas e tensões internas vivenciadas nos espaços da política nacional de educação e das universidades de nossos países, enquanto constitutivas e exemplo da questão maior que expressamos como o público e o privado. E que, para mim, chama a pensar sobre regulação e cidadania, mais especificamente sobre gestão pública. Creio que o momento atual do cone sul latino-americano, em que a crise política, econômica e social parece chegar ao ápice, facilita por demais esclarecer o referencial em que pretendo situar o tema da diversidade institucional e programática da Educação Superior, algo que pode ser (e tem sido) visto como uma estratégia operativa de resolução (pública e privada) da propalada crise da universidade ou, num diagnóstico das contingências latino-americanas, da crise do financiamento de complexas, ineficientes, dispendiosas e conservadoras universidades públicas gratuitas (DURHAM, 1998). Um diagnóstico e uma estratégia que podem reforçar o caráter eminentemente tecno-burocrático do núcleo financeiro do Estado, que impede a produção de um novo ordenamento legal e institucional com legitimidade e eficácia para a democratização da educação. Preocupa-me e compromete-me a pesquisa e o debate sobre políticas públicas e gestão da educação em que consigamos reconhecer a gravidade de uma situação histórica nova, que despotencia o Estado e a legitimidade ou possibilidade concreta da administração pública para interrogar as universidades sobre suas finalidades e modalidades. Ou seja, preocupa-me também que não consigamos contextualizar a força e os limites da noção de mercado, seu agente (a empresa) e seu instrumento (a moeda), e da ideologia do darwinismo social. Compromete-me, sim e por isso, o desafio de estudar a diferenciação institucional e programática, numa agenda de construção de uma política nacional de educação que seja parte de um projeto de reforma do Estado dotado de capacidade de indução e intervenção em favor do interesse público concreto. Assim como para a questão política atual não é possível responder ao futuro com o passado ou os fundamentos científicos e técnico-organizacionais que nos trouxeram à racionalidade do Estado mínimo ou meramente regulador, também os sistemas de ensino e 23 a universidade (SANTOS, 1994) precisam ser repensados e “governados” na transição paradigmática do conhecimento, da ordem jurídico-administrativa e societal (SANTOS, 2000). Se a questão da democracia e da república nos trouxe à da igualdade e liberdade; e se a questão da democratização da educação nos trouxe à da escola pública gratuita – quão instigante poderá ser a questão da diversidade e diferenciação na Educação Superior posta em xeque na articulação da política nacional de educação com autonomia e relevância social da universidade! A dialética da unidade e da diversidade, do uno e do múltiplo, da solidariedade e da iniciativa, apenas interrogadas ... e perspectivadas na superação modernização instrumental! Esta postura, teórica e metodológica, advém do entendimento de que a tarefa do investigador é, justamente, a de definir e avaliar a natureza e as alternativas ao que está empiricamente dado. Logo, não professa da posição que reduz a realidade ao que existe, mas a entende como um campo de possibilidades. Reconhece que a razão que critica pode ser a mesma que pensa e propõe, e inclusive legitima aquilo que é criticável. Com os companheiros desta mesa compartilho abaixo uma observação, ainda recente, feita por GENRO (2001, p. 16) a propósito apenas exemplificativo, ao propor atenção à questão do controle público do Estado, no desafio constituirmos instituições capazes de universalizar um Estado democrático, republicano e moldado para produzir “regras com finalidade” - que, ao invés de consagrar desigualdades, sejam instituições mediadoras da vontade humana para a utopia da igualdade. Da mesma fonte (CALAME e TALMANT, 2001) veio-me a inspiração para o título desta seção final do texto. “No caso do Brasil, com todas as limitações e submissões do Estado brasileiro às suas oligarquias, o Estado carregou nos ombros a modernização capitalista e fundou a universidade pública, que funcionou como um centro de modernização cultural e política do país. O cosmopolitismo progressista daí originário, que proporcionou ao Brasil um avanço em todos os fronts, enfrenta agora os seus limites, já que o Estado está endividado e fragilizado, os novos sujeitos sociais estão dispersos e os antigos tornam-se cada vez mais fracos.” __________________________________ Referências Bibliográficas AGUIAR, Márcia Ângela. Sistemas universitários na América Latina e as orientações políticas de agências internacionais. In: CATANI, Afrânio Mendes (org.). Novas perspectivas nas políticas de educação na América Latina no limiar do século XXI. Campinas, SP, Autores Associados, 1998. p. 103-115. 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