Para Roberto DaMatta, o que
faz do Brasil, o Brasil?
Interpretações do Brasil
Principais idéias
de DaMatta
•Uso da sociologia comparada
•Indivíduo e pessoa => paradoxo brasileiro
Brasil
X
“diferentes, mas juntos”
“você sabe com quem está falando?”
EUA
“diferentes, mas separados”
“quem você pensa que é?”
Interpretações do Brasil
Indivíduo X Pessoa
•Brasil:sistema social opera entre dois eixos
•indivíduo: sujeito das leis universais e modernizadoras
• Pessoa:sujeito das relações sociais e hierarquizantes)
•Não é unitário como na Índia (renunciante) ou nos EUA (universal)
“(...) iguala em um plano e hierarquiza em outro, o que - como
resultado- promove uma tremenda complexidade classificatória, um
enorme sentimento de compensação e complementaridade(..)”
CMH, pág 149
• “Qual é a nossa atitude diante da lei que deve valer para todos?”
Indivíduo é para quem as leis são feitas, o anônimo, o “João
Ninguém” e se define por oposição a pessoa (sistemas de
relações pessoais, de compadrio, de troca de favores).
Interpretações do Brasil
“É como tivéssemos duas bases através das quais
pensássemos o nosso sistema. No caso das leis gerais e
da repressão, seguimos sempre o código burocrático ou a
vertente impessoal e universalizante, igualitária do sistema.
No caso das situações concretas, daquelas que a vida nos
apresenta, seguimos sempre o código da relações e da
moralidade pessoal, tomando a vertente do “jeitinho”, da
“malandragem” e da “solidariedade” como eixo de ação. Na
1ª escolha, nossa unidade é o indivíduo; na 2ª é a pessoa.
A pessoa merece solidariedade e um tratamento diferencial.
O indivíduo, ao contrário, é o sujeito da lei, foco abstrato
para quem as regras e a repressão foram feitos”
CMH, pág 169
Interpretações do Brasil
Quais são os modos de navegação
social descritos por DaMatta? Como
e quando eles são acionados?
Interpretações do Brasil
Malandragem”, “Jeitinho”
e “você sabe com quem
está falando?” são modos
de navegação social
“
Interpretações do Brasil
O que é o Jeitinho?
Qual a diferença do jeitinho para o
“você sabe com quem está falando?”
Interpretações do Brasil
E o que é malandragem? O que
difere do Jeitinho?
Interpretações do Brasil
Modos de navegação social
“Você sabe com quem está falando?”
Rito autoritário
representações rituais no Brasil:
carnaval, semana da pátria, procissões religiosas (contexto
de festa) e a expressão “você sabe com quem está
falando?”
 Def. ritos: “eventos culturais e sociais(...) que são bons para
revelar processos também existentes no dia-a-dia e, até mesmo, para
se examinar, detectar e confrontar as estruturas elementares da vida
social”
(Mariza Peirano – “Análise Antropológica de Rituais” in O Dito e o feito)
Interpretações do Brasil
Você sabe com quem
está falando?
•Separação autoritária de duas posições sociais
1ª => adaptativa - integração e cordialidade (jeitinho,
malandragem) - aspiração ao mundo da casa (seguro)
2ª => hierárquica - mundo da rua é “hostil” (desconfiança )
“você sabe com quem está falando?” =>
implícita - usada apenas em situação de conflito, “quando
alguém não reconheceu seu lugar”
É desagradável porque quebra o pacto “silencioso e
cordial” de uma sociedade onde cada um deve saber o seu
lugar.
Interpretações do Brasil
Modos de navegação social:
 Jeitinho : cantada, harmonização
“´jeitinho´ e ´você sabe com quem está falando?´ são, pois,
dois modos de enfrentar uma mesma situação. O primeiro
vai pelo caminho da paciência e conciliação; já o segundo
apela para o conflito, fazendo com que a relação englobe a
lei” (O que é o Brasil? Pág 50)
Interpretações do Brasil
Modos de navegação
social
 Malandragem : profissionalização do “jeitinho”
“O malandro, portanto, seria um agente profissional do
jeitinho e na arte de sobreviver nas situações mais
difíceis:naquelas que ele está claramente fora ou longe das
leis” (O que é o Brasil? Pág 51)
“O malandro, diferentemente do bandido, rouba com jeito,
invocando simpatia, empatia e laços humanos” (pág 52)
Interpretações do Brasil
“Você sabe com que está falando no Brasil e
nos Estados Unidos?”
Um dos artigos da coletânea Tocquevilleanas. Notícias da
América, publicada em 2004.
Tais artigos foram escritos para O Estado de São Paulo
(2001-2004) e para o Jornal da Tarde (1993-2001), quando o
autor se encontrava lecionando nos EUA
O que ocorreu no vôo nos EUA?
Interpretações do Brasil
Da Matta diz que o Brasil é híbrido,
pois é um sistema social equilibrado
e dividido entre o indivíduo e a
pessoa. O que ele quer dizer com
isso?
Interpretações do Brasil
O que DaMatta chama de
individualismo? É igual ao do senso
comum? Por que?
Interpretações do Brasil
Indivíduo e Pessoa
“O
universalismo é demandado em público pelo
Estado Moderno, individualista e impessoal, mas o
particularismo continua a imperar no plano pessoal
e doméstico”
Conta de Mentiroso, pág 160
Interpretações do Brasil
“É como tivéssemos duas bases através das quais
pensássemos o nosso sistema. No caso das leis gerais e
da repressão, seguimos sempre o código burocrático ou a
vertente impessoal e universalizante, igualitária do sistema.
No caso das situações concretas, daquelas que a vida nos
apresenta, seguimos sempre o código da relações e da
moralidade pessoal, tomando a vertente do “jeitinho”, da
“malandragem” e da “solidariedade” como eixo de ação. Na
1ª escolha, nossa unidade é o indivíduo; na 2ª é a pessoa.
A pessoa merece solidariedade e um tratamento diferencial.
O indivíduo, ao contrário, é o sujeito da lei, foco abstrato
para quem as regras e a repressão foram feitos”
CMH, pág 169
Interpretações do Brasil
A visão do indivíduo e pessoa no
Brasil é homogênea?
Interpretações do Brasil
A sociedade brasileira não é homogênea em relação à
interpretação da categoria indivíduo
“Enquanto as classes dominantes nutrem uma perspectiva
individualista, sendo responsáveis pelo arcabouço jurídico, político e
institucional da sociedade, na prática elas viveriam como pessoas, na
medida em que, pela mobilização dos seus respectivos capitais de
relações sociais, o sistema de leis impessoais e universalizantes não
se lhes aplicaria em sua totalidade. Por outro lado, as ´classes
populares´, que não dispõem de instrumentos para participar da
produção do aparato jurídico, político e institucional, entretêm uma
visão mais hierárquica e complementar do mundo e vivem, na
prática, como indivíduos, pois sobre elas incidem toda força da lei,
quando (...) não podem articular nenhum capital social” (pág 55)
Lívia Barbosa, “O Brasil pelo avesso: Carnavais, malandros e heróis e as interpretações
da sociedade brasileira”. In: O Brasil não é para principiantes. Carnavais, malandros e
heróis 20 anos depois.
Interpretações do Brasil
E as camadas populares podem
subverter as regras da lei?
Interpretações do Brasil
“É bom frisar que a geografia descrita (...) está longe de ser
considerada pelo autor como determinística, ilustrando apenas
uma das suas possíveis facetas. Ela muda quando, (...),
membros das ´camadas populares´ agem como pessoas,
utilizando-se do capital de relações pessoais de indivíduos das
´camadas dominantes´ com os quais mantém relações ” (pág
55)
Lívia Barbosa, “O Brasil pelo avesso: Carnavais, malandros e heróis e as
interpretações da sociedade brasileira”. In: O Brasil não é para principiantes.
Carnavais, malandros e heróis 20 anos depois.
Interpretações do Brasil
Notícia extraída do jornal O Século
Publicada em 1º de julho de 1908
“ Automóveis fatidicos
O ´chauffeur atira fora a policia e dispara
“Mais uma para se debitar aos automoveis o tirar o sonno à policia (...) que terá mais
uma vez opportunidade para mais uma homenagem do silencio e da impunidade em
favor dos chauffeurs privilegiados e de costas quentes (...)
Vinha o automovel do Marechal Camara, chefe do estado-maior, hoje, cerca de meio
dia, na corrida vertiginosa e cega do costume pela Praça da República , quando um
desalmado, chamado Alvaro Martins de Souza Pereira, teve a lembrança de metter-se
com toda imprudencia e grande falta de patriotismo entre as rodas (...) do fatidico
veiculo .
O automovel (...) limitou-se a atirar no chão o importuno cidadão e passar-lhe por cima
das pernas. (...) Mas o bonito não está ahi. (...) Surge o mantenedor da ordem na praça
de policia (....) que naturalmente desconhecendo o automovel e seu ´chauffeur´ (...)
entendeu obstar-lhe a marcha e applicar-lhe a lei. (...) Mas o chauffeur deitou valentia,
sentindo as costas quentes.
Fomos à ultima hora informados que o praça effectuou a prisão do ´chauffeur´(...) o que
não impediu que lhe dessem fuga por uma saída dos fundos do mesmo quartel”
Interpretações do Brasil
E qual é o Dilema Brasileiro, para
Roberto DaMatta?
Interpretações do Brasil
“Cidadania – a questão da cidadania em um universo
relacional” Roberto DaMatta
 Dilema Brasileiro
“Não há brasileiro que não conheça o valor das relações
sociais e que não as tenha utilizado como instrumentos
de solução de problemas ao longo da sua vida. Não há
brasileiro que nunca tenha usado o “você sabe com quem
está falando?” diante da lei universal e do risco de uma
universalização que acabaria transformando sua figura
moral num mero número ou entidade anômica (…)”
(pág 94)
Interpretações do Brasil
Americanos – Caetano Veloso
In: Circuladô - 1992
“Americanos são muito estatísticos
Têm gestos nítidos e sorrisos límpidos
Olhos de brilho penetrante que vão fundo
(...)
Para os americanos branco é branco, preto é preto
(e a mulata não é a tal)
Bicha é bicha, macho é macho
Mulher é mulher, dinheiro é dinheiro
E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se
Concedem-se, conquistam-se direitos
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo
Nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime”
Interpretações do Brasil
Qual é a diferença entre os conceitos de
Roberto DaMatta (jeitinho e você sabe
com que está falando) e de Sérgio
Buarque de Holanda (o homem cordial)?
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Roberto_da_Matta_2010.2 - Acadêmico de Direito da FGV