Avaliação do nacionaldesenvolvimentismo com ênfase no atraso educacional Samuel de Abreu Pessoa Ibre – FGV/RJ VII Seminário de Economia de Belo Horizonte Roteiro 1. O padrão de política econômica do pós-guerra até a redemocratização: nacional desenvolvimentismo 2. O atraso educacional brasileiro em perspectiva: 1. Comparação com outras economias 2. Impacto atraso educacional sobre produto e renda 3. 4. 5. 6. Impacto atraso educacional sobre a demografia Impacto atraso educacional sobre a desigualdade Impacto atraso educacional sobre a criminalidade Havia alternativa? 1. Contrafactual: gasto de 6% do PIB desde 1950 2. Exemplo: o caso da empresa Light 7. Por que embarcamos no nacional desenvolvimentismo? 8. Projeto de desenvolvimento hoje 1. O padrão de política econômica do pósguerra até a redemocratização: nacional desenvolvimentismo Nacional desenvolvimentismo: • Forte estímulo à acumulação de capital físico • Penalização da agricultura e carência de estímulo a pesquisa em agricultura tropical • O setor público estatiza os serviços de utilidade pública • Economia fechada • Desequilíbrio macroeconômico permanente Nacional desenvolvimentismo: • Descuido com a educação principalmente com educação básica • Forte intervenção na economia, principalmente: – No mercado financeiro: repressão financeira – Políticas setoriais • Projetos faraônicos com taxa de retorno duvidosa: – Brasília – Segundo PND do Governo Geisel • Além destas características neste período a economia enfrentava a transição demográfica Resultados: • Forte migração para os grandes centros urbanos • Favelização e, após os anos 80, forte elevação da criminalidade • Apesar de termos conseguido industrializar o país e, no início dos anos 80, apresentarmos padrão de comércio soviético – Restou a elevadíssima dívida social do nacional desenvolvimentismo – A industrialização não produziu desenvolvimento econômico muito menos social Proponho a seguinte questão: • Por que a sociedade e, principalmente, as esquerdas, foram às ruas nos anos 50 para lutar pelo ‘petróleo é nosso’ mas não foram às ruas para defender educação pública e gratuita de qualidade para todos? • Trata-se de uma das questões mais perturbadoras, penso eu, em história do pensamento social no Brasil • Do ponto de vista das políticas públicas e das políticas econômicas trato o interregno democrático e o período militar como um único período • VAMOS AOS FATOS… 19 00 19 0 19 5 1 19 0 1 19 5 2 19 0 2 19 5 3 19 0 3 19 5 4 19 0 4 19 5 5 19 0 5 19 5 6 19 0 6 19 5 7 19 0 7 19 5 8 19 0 8 19 5 9 19 0 9 20 5 0 20 0 05 Crescim entoPopulacional 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 0.00 140 taxa matr. bruta - primário (%) 120 taxa matr. bruta - secundário (%) 100 taxa matr. bruta - terciário (%) 80 60 40 20 0 1933 1939 1945 1951 1957 1963 1969 1975 1981 1987 1993 1999 2005 19 5 19 1 5 19 3 5 19 5 5 19 7 5 19 9 6 19 1 6 19 3 6 19 5 6 19 7 6 19 9 7 19 1 7 19 3 7 19 5 7 19 7 7 19 9 8 19 1 8 19 3 8 19 5 8 19 7 8 19 9 9 19 1 9 19 3 9 19 5 9 19 7 9 20 9 01 G astosPúblicoscomEducação(%PIB) 5.00 4.50 4.00 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 0.00 ano 1950 % %PIBdesp. custopor aluno- custopor aluno- custopor alunoP em fundamental médio superior I educação B prop. PIB prop. PIB prop. PIB valor valor valor per capita per capita per capita 1,40 299 0,10 3948 1,33 22276 7,50 1955 1,58 348 0,10 3349 0,95 33605 9,50 1960 1,72 375 0,08 3509 0,78 42115 9,39 1965 2,44 551 0,11 2028 0,42 41882 8,73 1970 2,87 676 0,11 1937 0,32 23586 3,84 1975 2,62 927 0,11 2348 0,27 14390 1,67 1980 2,44 1074 0,10 1767 0,16 17310 1,57 1985 2,88 1235 0,12 1904 0,18 16874 1,61 1990 3,77 1573 0,15 1838 0,18 24268 2,33 1995 3,90 1300 0,12 1418 0,13 18209 1,63 2000 4,00 1235 0,11 1269 0,11 15044 1,32 2004 4,00 1531 0,13 1052 0,09 11423 0,95 2. O atraso educacional brasileiro em perspectiva: comparação com outras economias Como que a educação eleva o produto? • A educação eleva o salário do trabalhador • Duas possibilidades: – Sinalização – Capital humano • Evidência empírica é amplamente favorável à teoria do capital humano • Logo, na pior das hipóteses, cada ano de escolaridade eleva a produtividade do trabalhador em 10% • A elevação da produtividade do trabalhador enseja um processo de acumulação de capital • A composição destes dois últimos efeitos explicam 35% do diferencial de renda Brasil-EUA Diferenciais de renda devido à educação T a b e la1 :D ife r e n ç ad eR e n d aP e rC a p itac o m R e la ç ã oa oB r a silD e v id aàE d u c a ç ã o D ife r e n ç ad eR e n d aP e rC a p itaE x p lic a d ap e laE d u c a ç ã o C o r é iad oS u l 7 6 % J a p ã o 6 6 % T a iw a n 7 7 % C h ile 8 9 % E sta d o sU n id o s 3 5 % E a Argentina... • O produto por trabalhador da economia Argentina é 60% maior do que o Brasileiro • A relação capital-produto é bem próxima entre as economias: da ordem de 2,7 • A produtividade total dos fatores também é bem próxima: da ordem de 65% da americana • A diferença explica-se por educação Comparação Brasil-Argentina 3.0 100 2.5 80 2.0 60 1.5 40 KY-AR 1.0 KY-Brasil 20 PTF-AR 0.5 PTF-Brasil - - Relação capital-produto Produtividade total dos fatores (PTF) 120 3. Impacto atraso educacional sobre a demografia Fertilidade e Educação - 1991 Transição demográfica – Brasil e Coréia 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 Brasil (IBGE) 0.5 Coréia (PWT) 2006 2002 1998 1994 1990 1986 1982 1978 1974 1970 1966 1962 1958 1954 1950 1946 1942 1938 1934 1930 0.0 4. Impacto atraso educacional sobre a desigualdade • Neste ponto vale frisar que a desigualdade também esteve fortemente associada ao desequilíbrio macroeconômico, recorrente no período Tabela: Decomposição da desigualdade (Brasil, 1990) 30-50% Educação Segmentação do mercado de trabalho 5-15% Setor de atividade 1% Informalidade 2-5% Regional Descriminação do mercado de trabalho 5% Gênero 2% Cor 5% Experiência 50-83% Total Fonte: Barros e Mendonça, 1995 5. Impacto atraso educacional sobre a criminalidade Criminalidade • Forte aumento a partir dos anos 90 • Espelho do argumento de Levitt para o Brasil – Distinção entre os fatores determinantes de: • Crimes contra o patrimônio • Crimes violentos Criminalidade - Variáveis • Porcentagem de mães adolescentes • Proporção de crianças de 5 a 15 anos criadas sem o pai ou sem a mãe em 1991 • Porcentagem de Jovens na população • Taxa de fecundidade em 1980 • Presença do estado • População total • Porcentagem de crianças de 4 a 6 anos fora da escola em 1991. • Grau de urbanização do município • Favelização • Desigualdade • Crescimento econômico e nível da renda Criminalidade - Dados • Os dados utilizados são de 642 dos 645 municípios paulistas • Os dados de criminalidade são dados oficiais da Secretaria de segurança de São Paulo • Os dados demográficos, educação e favelização foram retirados dos censos 1991 e 2000 Crime Contra o Patrimônio • Taxa de fecundidade, porcentagem das crianças criadas sem o pai são variáveis relevantes para explicar a ocorrência desse tipo de crime • Desigualdade é uma variável relevante para entendermos esse tipo de crime • População total do município e presença do estado se mostraram significativas em todas as formulações Crime Contra o Patrimônio • Nenhuma das variáveis educacionais é relevante na nossa amostra • Mães adolescentes e porcentagem de jovens não são significativas para essa forma de criminalidade Roubos e furtos Variaveis Constante Educação Urbanização Gini PIB Crescimento Pré-escola População Favelização Presença do Estado Jovens Fecundidade Mães solteiras Mães adolescentes R2 Regressão I -1,62 0,17 -0,08 0,13 0,55 -0,21 0,85 Regressão II 1,77 0,69 0,08 0,19 0,72 -0,07 0,60 0,13 0,05 -0,70 1,10 0,46 0,52 Regressão III 1,34 0,40 0,12 0,17 0,82 -0,01 0,43 0,17 0,07 -0,60 0,98 0,23 0,50 0,10 0,61 Crimes Violentos • Vemos que uma vez controlado pelos fatores demográficos, desigualdade da renda não é relevante • A variável de educação relevante é a fração de crianças entre 4 e 6 anos fora da escola • As variáveis econômicas explicam muito pouco da variação de crimes violentos nos municípios paulistas Homicidios Variaveis Constante Educação Urbanização Gini PIB Crescimento Pré-escola População Favelização Presença do Estado Jovens Fecundidade Mães solteiras Mães adolescentes R2 Regressão I -1,62 -0,35 0,12 0,32 -0,57 -0,21 0,15 Regressão II 1,77 -0,09 0,08 0,46 -0,28 -0,17 0,10 0,21 0,30 -0,10 0,83 0,17 0,35 Regressão III 1,34 -0,05 0,19 0,36 -0,26 -0,12 0,06 0,17 0,43 -0,12 0,40 0,22 0,40 0,13 0,42 Diferenças entre crimes violentos e crimes contra o patrimônio • População total do município deixa de ser relevante para crimes violentos • A proporção de favelas só é relevante para crimes violentos • As demais variáveis demográficas permanecem significativas • As variáveis econômicas são pouco importantes como determinante de crimes violentos • As variáveis demográficas são ainda mais relevantes quando tratamos de crimes violentos 6. Havia alternativa? Exercício contrafactual: • Como seríamos se investíssemos de 6% a 12% do PIB em educação desde 1950? • Os anos médios de escolaridade seriam o dobro • A renda per capita seria 40% maior 16,0 14,0 gasto em educação % do PIB - contrafactual 12,0 gasto em educação % do PIB - observado 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 1950 0,0 Exercício contrafactual: • Como seríamos se tivesse a partir de 1930 mantido todas as crianças até o ensino médio – – – – Neste exercício ajustaremos a demografia O PIB seria o dobro A população seria metade Seria muito caro! • É necessário pensar transições mais suaves Contrafactual: Evolução do PIB per capita Reais de 2005 25.0 Observado 20.0 Universalizar a educação Universalizar a educação e considerar fecundidade 15.0 10.0 - 1933 1935 1937 1939 1941 1943 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 5.0 16 14 1933 1935 1937 1939 1941 1943 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 Contrafactual: Gasto público em educação % do PIB 20 18 real universal universal + fert 12 10 8 6 4 2 Cálculo da TIR da educação • Atualizaremos os cálculos de Langoni (1974) • A taxa interna de retorno da educação mede a ‘taxa de juros equivalente’ se a educação fosse uma decisão financeira • Isto é, qual é a taxa de juros implícita em uma aplicação financeira cujo aporte de recursos ao longo do tempo fosse os gastos com a escola além do custo de oportunidade do tempo e o retorno fosse a ganho de salário • Neste cálculo não se considerou os ganhos da educação que não sejam mediados pelo mercado de trabalho T a b e la 9 :C o m p a r a ç ã o c o m L a n g o n ie 3 0 a n o s d e T r a b a lh o ( e m % ) A n o s d e E d u c a ç ã o 1 9 6 0 1 9 6 9 1 9 8 1 1 9 8 9 1 9 9 6 0 a 4 4 8 , 1 3 2 , 0 1 7 , 4 2 3 , 0 1 6 , 0 4 a 8 2 3 , 8 1 9 , 5 1 3 , 1 1 4 , 4 1 0 , 4 8 a 1 1 1 4 , 8 2 1 , 3 2 0 , 2 3 8 , 0 1 4 , 4 1 1 a 1 5 4 , 9 1 2 , 2 1 6 , 9 1 8 , 6 1 2 , 9 2 0 0 3 1 0 , 8 1 2 , 2 1 4 , 8 1 8 , 6 Estudo de caso: Light Motivação: À época, estendia-se interminável e confuso um debate em torno da origem do capital da companhia Light and Power, concessionária canadense que controlava todos os serviços públicos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Américo acabou com o debate fazendo adquirir em Toronto, sede da empresa, todos os seus balanços, desde a instalação no Brasil no começo do século. O patrimônio líquido fora formado, essencialmente, com lucros retidos, cabendo discutir se estes haviam sido excessivos, tratando-se de uma empresa que desfrutava de monopólio assegurado pelo governo para prestar serviços imprescindíveis. A discussão se clarificou, mas Américo se expôs à retaliação de poderosos interesses. (Celso Furtado, A Fantasia Organizada, 1997, 136.) Motivação • Lula em entrevista para o jornal ‘O Globo’ em 2006 antes do segundo turno com referência às tratativas da Petrobrás com a Bolívia, comentou: “Eu não quero que a Petrobrás se comporte como as empresas multinacionais dos anos 50. Quero que a Petrobrás se comporte como as empresas multinacionais se comportam hoje: cobre o preço justo e tenha o lucro justo.” Light • Oferta cresceu à frente da demanda até o início dos anos 30 • Lento processo de estatização do setor • Fortíssimos sinais de carência de oferta nos anos 40 e 50 • A partir dos anos 60 a geração torna-se quase que totalmente pública • Em seguida a estatização da empresa não houve redução das tarifas e nem melhora significativa dos serviços • Privatização nos anos 90 Light – duas visões • Nacionalista: O setor público teve que investir pois o setor privada não desejava investir ou cobrava lucros excessivos para fazê-lo (por ex. Américo Barbosa de Oliveira, Econômica Brasileira, vol. III, n. 1, jan/março 1957) • Liberal: – populismo tarifário não garantia a rentabilidade deprimindo o investimento privado – o setor público era obrigado a assumir a atividade (Roberto Campos, Jornal do Commercio de 2/6/57) • A evidência empírica para a Light parece sustentar a visão liberal: cálculo da TIR da empresa a partir dos balanços (Dissertação de mestrado de Marcelo Jourdan, EPGEFGV/RJ, 2006) TIR da BTLP de 1900-1978 (US$ real) 14% 12.47% 12% TIR (em %) 10% 8% 3,65% 6.28% 6% 4.74% 4.04% 4% 3.77% 3.13% 2% 0.21% 0% 1900-1909 -2% 1910-1919 -0.32% 1920-1929 1930-1939 TIR por períodos 1940-1949 1950-1959 1960-1969 TIR de 1900-1978 1970-1978 Light • Clara deterioração da rentabilidade da empresa a partir do Estado Novo • Uma elevação linear tarifária de 16% seria suficiente • Marco regulatório da República Velha – ‘Cláusula ouro’ 50% da tarifa era indexada ao preço do ouro – Similaridade com o IGP como indexador (60% do IGP é indexado ao câmbio – IPA) Custo de oportunidade do setor público assumir o investimento • As taxas de retorno da educação eram (e, infelizmente, ainda são) muito mais elevadas • Nos anos 50 as taxas brutas de matrícula eram de 50%! • A TIR da educação era muito maior do que 10% real • Cálculos análogos foram feitos para as ferrovias entre 1870 até 1914 • As TIR não foram excessivas: 7% ao ano • Na próxima figura apresento o custo do financiamento externo nas últimas décadas Modelo alternativo: Coréia • Mantém as características básicas do nacional desenvolvimentismo com: – Macro em ordem – Economia mais aberta – E forte investimento na área social • Problema: requer muito mais poupança do que a sociedade parece que estava disposta a custear Alternativa liberal de Eugênio Gudin: • Macro em ordem • Investir em progresso técnico para agricultura tropical (EMBRAPA) • Desenhar marco regulatório e deixar o setor de utilidades públicas para o setor privado • Forte investimento na área social, especialmente educação • Alguma proteção à indústria 7. Por que embarcamos no nacional desenvolvimentismo? Porque embarcamos no nacional desenvolvimentismo? • Economia política: o equilíbrio do populismo – Bem conhecido especialmente para cientistas sociais • Ideologia ou visão de mundo: – A industrialização tinha que ser feita a qualquer custo para que o país se liberasse do ‘jugo’ das potências centrais – Isto é, o fato de não termos ‘independência tecnológica’ nos deixava expostos a custos exorbitantes (as famosas trocas desiguais ou perdas internacionais) – Essencialmente acreditava-se que nossos problemas eram externos a nós – Explica a campanha pelo ‘petróleo é nosso’ e a inexistência, mesmo por parte da esquerda, de uma mobilização pela educação básica Exemplo de visão de mundo moldando o pensamento: • Por que não ocorreu a Celso Furtado que havia alguma relação entre educação e crescimento? – Penso que esta é talvez a pergunta mais difícil e interessante em HPE brasileira – CF passou sua vida toda olhando para fora: • Tendência a deterioração dos termos de troca nos anos 50 • Pagamento de royalties e dividendos nos anos 60 • Ausência de um projeto nacional (?) nos anos 70 e dominância das empresas transnacionais nas decisões de investimento (?) • Problema da dívida externa nos anos 80 • Domínio do capital financeiro nos anos 90 – Por que motivo em cinqüenta anos de vida produtiva nunca tenha lhe ocorrido que haja alguma relação entre educação e crescimento? 8. Projeto de desenvolvimento hoje Projeto de desenvolvimento hoje • Problema do desenvolvimento: – O desenvolvimento econômico representa, sempre uma complexa negociação entre o presente e o futuro – Neste aspecto não avançamos muito da fábula das cigarras e as formigas • Característica marcante da economia brasileira: – Uma população com perfil demográfico jovem (mas não infantil) apresenta um taxa de poupança muito baixa Projeto de desenvolvimento hoje • Fato estilizado para a economia brasileira – Contrato social vigente requer que o gasto público se eleve continuamente – De 1999 até 2009 90% do crescimento do gasto público além do crescimento do PIB deveu-se à elevação dos: • Benefícios vinculados ao salário mínimo • Ao programa bolsa família – O contrato social vigente produz: • Baixo valor para a poupança nacional • Poupança nacional que é contracíclica 2000.IV 2001.I 2001.II 2001.III 2001.IV 2002.I 2002.II 2002.III 2002.IV 2003.I 2003.II 2003.III 2003.IV 2004.I 2004.II 2004.III 2004.IV 2005.I 2005.II 2005.III 2005.IV 2006.I 2006.II 2006.III 2006.IV 2007.I 2007.II 2007.III 2007.IV 2008.I 2008.II 2008.III 2008.IV 2009.I 2009.II 2009.III 2009.IV 2010.I 2010.II 20.0 Poupança Nacional Bruta % PIB - preços correntes 19.0 18.0 17.0 16.0 15.0 14.0 13.0 12.0 11.0 10.0 Por que a poupança é tão baixa? • Há evidências com dados de cross-section que a poupança e o crescimento correlacionam-se positivamente • Explicações: – Keynes: princípio da demanda efetiva – Clássica: a elevação da renda eleva a poupança dos trabalhadores ativos mas não eleva a despoupança dos inativos Por que a poupança é tão baixa? • A valorização do câmbio no período sugere que a explicação keynesiana não se ajusta bem ao período • Minha impressão: – No Brasil uma série de políticas públicas e regras previdenciárias – elevação do salário mínimo, aposentadoria integral dos funcionários públicos, critérios para concessão do benefício da pensão por morte, etc. – fazem com que o crescimento eleve a renda permanente mais do que a corrente – Isto explicaria correlação negativa entre crescimento e poupança Gráfico de espalhamento: exportações líquidas (% PIB) e taxa de investimento 6.0 Preços constantes de 2000 (deflatores próprios) dessazonalizado (Ver Pastore, Pinotti e Almeida, [2008], em Barros e Giambiagi (org.) 20.0 Exportações Líquidas/PIB (E) 4.0 Taxa de investimento (D) 19.0 2.0 18.0 0.0 17.0 -2.0 16.0 -4.0 15.0 -6.0 14.0 Minha interpretação é que teremos que contar com poupança externa • Qual é a capacidade do Brasil absorver poupança externa? • Penso que quatro características recentes elevaram em muito esta capacidade – Câmbio flutuante – Dívida em moeda local – Parte expressiva do passivo externo líquido em renda variável: IED e portfólio – Elevadas reservas governamentais • Estrutura de financiamento externo próxima à da Austrália • Não me parece impossível déficits persistentes de 4,5% do PIB ao longo de uma década ou mais se... • ... mantivermos as quatro características e se não quebrarmos contratos Figura 14: Fontes de Financiamento e Passivo Externo Líquido 700000 Investimento estrangeiro direto 600000 Investimentos em carteira Derivativos 500000 Outros investimentos 400000 Reservas Passivo externo liquido 300000 200000 100000 -200000 -300000 06 2009 12 2008 06 2008 12 2007 06 2007 12 2006 06 2006 12 2005 06 2005 12 2004 06 2004 12 2003 06 2003 12 2002 06 2002 -100000 12 2001 0 9. Conclusão Conclusão • Em geral o investimento em pessoas tem retorno maior do que em capital físico • Uma economia com elevada restrição de poupança não pode se dar ao luxo de estatizar os setores de utilidade pública • Não se vai muito longe pensando que nossos problemas são externos a nós • Parece-me que estes ensinamentos são ainda mais importantes nestes tempos de retomada de um discurso nacional-desenvolvimentista Conclusão • As características estruturais de nossa economia – Carência de poupança – Facilidade (possível) de financiamento externo – Forte vantagem comparativa em produtos primários • ... apontam que haverá nos próximos anos forte especialização em bens primários Conclusão • Seremos uma economia com forte especialização em bens tradables primários e em serviços • Problema: sem resolver o nó educacional é difícil imaginarmos uma economia moderna com esse padrão de especialização • Serviços modernos são intensivos em capital humano