Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Efeito do Tratamento com Extratos Hidroalcólico e Cetônico do Rizoma de Zingiber officinale (gengibre) no Modelo Experimental de Pleurisia induzida por BCG em camundongos. Mário Oliveira Lima São José dos Campos, SP 2003 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Efeito do Tratamento com Extratos Hidroalcólico e Cetônico do Rizoma de Zingiber officinale (gengibre) no Modelo Experimental de Pleurisia induzida por BCG em camundongos. Mário Oliveira Lima Dissertação de mestrado apresentada Programa de Pós-Graduação em no Ciências Biológicas, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo A. B. Lopes Martins São José dos Campos, SP 2003 L699 Lima, Mário Oliveira Efeito do Tratamento com Extratos Hidroalcólico e Cetônico do Rizoma de Zingiber officinale (gengibre) no Modelo Experimental de Pleurisia induzida por BCG em camundongos. Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total parcial desta dissertação, por processo fotocopiador ou transmissão eletrônica. Aluno: Mário Oliveira Lima Data:27/01/2004 ou Mário Oliveira Lima Banca Examinadora: Prof. Dr. Rodrigo A. B. Lopes Martins (Orientador) Prof. Dr. José Carlos Cogo (Presidente) Prof. Dra. Simone Teixeira (Membro Externo – USP/SP) Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&D – UNIVAP São José dos Campos, 20 de novembro de 2003 Dedicatória Dedico esta dissertação à minha querida Fernanda, por toda a tolerância e esforço na realização deste trabalho, e a minha linda Isabela, que faz com que a minha vontade de vencer seja mais intensa a cada dia. Agradecimentos Primeiramente a Deus, que me encaminhou sempre no sentido certo Aos meus pais e irmãos, abrindo-me as portas da docência, oferecendo-me a graduação. Ao meu querido amigo, irmão e orientador Prof. Dr. Rodrigo Martins, por quem tenho muito respeito e admiração. Agradeço pela paciência e atenção, e por todo o aprendizado e confiança em mim depositada. Em especial a minha querida amiga Patrícia Martins pela ajuda e compreensão. Muito obrigado !!!! Resumo Extratos de planta têm sido usados por séculos como uma maneira popular de tratar várias desordens da saúde. Durante os últimos dez anos o estudo desses extratos atraiu a atenção dos farmacologistas devido à necessidade da descoberta de novas drogas para velhas patologias. Gengibre, o rizoma do Zingiber officinale Roscoe (Zinziberaceae), é um constituinte comum da dieta do mundo e dele foi relatado que seus extrato apresentam algumas atividades farmacológicas. Aqui nós investigamos os efeitos de dois extratos brutos diferentes - hidroalcólico e cetônico - de rizomas do gengibre, no modelo de pleurisia, em camundongos, induzida por BCG. Nossos resultados demonstraram que ambos extratos de Zingiber officinalle foram capazes de reduzir significativamente a migração das células inflamatórias à cavidade pleural em resposta à injeção de BCG. Entretanto, o extrato cetônico demonstrou um efeito mais pronunciado na redução da migração celular. Palavras-chaves: BCG; plantas medicinais; cavidade pleural; tuberculose Abstract Plant extracts have been used for centuries as a popular manner to treat several health disorders. During the last ten years the study of those extracts has attracted the attention of pharmacologists due to the necessity of new drugs discovery to old pathologies. Ginger, the rhizome of Zingiber officinale Roscoe (Zingiberaceae) is a commom constituent of diet worldwide and it has been reported that its extracts present some pharmacological activities. Here we investigate the effects of two different crude extracts, hydralcoholic and ketonic, of ginger rhizomes on the model of BCG-induced mice pelurisy . Our results demonstrated that both extracts of Zingiber officinalle were able to significantly reduce inflammatory cells migration to pleural cavity in response to BCG injection. However, the ketonic extract demonstrated the most powerful effect in reducing cell migration. Keywords: BCG; Ginger; medical plants; pleural cavity; tuberculos Índice 1- INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................1 1.1 - A REAÇÃO INFLAMATÓRIA .................................................................................................1 1.1.1 – Mediadores Químicos do Processo Inflamatório ................................................3 1.4 - VASOS LINFÁTICOS NA INFLAMAÇÃO ..................................................................................9 1.3 –INFLAMAÇÃO E MIGRAÇÃO CELULAR ............................................................................... 10 1.4 – BCG E INFLAMAÇÃO ....................................................................................................... 13 1.5 – HISTÓRICO DO ZINGIBER OFFICINALE ............................................................................. 16 1.5.1 Descrição botânica, farmacológica e propriedades biológicas do gengibre.19 2 - OBJETIVOS .......................................................................................................................... 25 3 – MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 26 3.1 - ANIMAIS ............................................................................................................................ 26 3.2 - PREPARAÇÃO DE EXTRATO HIDROALCÓLICO E CETÔNICODO Z. OFFICINALE – .............. 26 3.3 - A INDUÇÃO DA PLEURISIA EM CAMUNDONGO................................................................... 27 3.4 - CONTAGEM TOTAL DE LEUCÓCITOS................................................................................. 27 3.5 - CONTAGENS DOS LEUCÓCITOS DIFERENCIAIS ................................................................. 28 3.6 - OS PRODUTOS QUÍMICOS E OS REAGENTES ................................................................... 28 3.7 - ANÁLISE ESTATÍSTICA....................................................................................................... 28 4 - RESULTADOS...................................................................................................................... 29 4.1 - O EFEITO DO EXTRATO HIDROALCÓLICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O NÚMERO TOTAL DE LEUCÓCITOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS ................... 29 4.2 - O EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O NÚMERO TOTAL DE LEUCÓCITOS MONONUCLEARES NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS ......................................................................................................................... 30 4.3- O EFEITO DO EXTRATO HIDROALCÓLICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O NÚMERO TOTAL DE EOSINÓFILOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS .................. 31 4.4 - EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O NÚMERO TOTAL DE NEUTRÓFILOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS................. 32 4.5 - O EFEITO DO EXTRATO CETÔNICO DO ZINGIBER OFFICINALEDO SOBRE O NÚMERO TOTAL DE LEUCÓCITOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS.............................. 33 4.6 - O EFEITO DO EXTRATO CETÔNICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O ACÚMULO DE CÉLULAS MONONUCLEARES NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS........... 34 4.7 - O EFEITO DO EXTRATO CETÔNICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE O ACÚMULO TOTAL DE EOSINÓFILOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS............................. 35 4.8 - O EFEITO DO EXTRATO CETÔNICO DO ZINGIBER OFFICINALE SOBRE NÚMERO TOTAL DE NEUTRÓFILOS NA PLEURISIA INDUZIDAS POR BCG EM CAMUNDONGOS ................................. 36 5 - DISCUSSÃO......................................................................................................................... 37 6 - CONCLUSÕES..................................................................................................................... 41 7 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 42 Lista de Gráficos Gráfico 1A: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato Hidroalcoólico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número total de leucócitos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.29 Gráfico 1B: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato Hidroalcólico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número de células Mononucleares na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.30 Gráfico 1C: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato Hidroalcoólico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número de Eosinófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.31 Gráfico 1D: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato Hidroalcoólico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número de Neutrófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.32 Gráfico 2A: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato cetônico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número total de leucócitos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.33 Gráfico 2B: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato cetônico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número de células Mononucleares na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.34 Gráfico 2C: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato cetônico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número total de Eosinófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.35 Gráfico 2D: Efeito da administração intraperitoneal da raiz do Extrato cetônico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número de Neutrófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. Pg.36 Lista de Figuras Figura 01: Processo de vasodilatação e alteração de permeabilidade vascular, que ocorrem classicamente na fase aguda do processo inflamatório. Pg.5 Figura 02: Fotomicrografia de mastócitos, principal célula armazenadora de Histamina e Serotonina em Humanos e Roedores, respectivamente. Pg.6 Figura 03: Cascata do Ácido Araquidônico, que leva a produção de mediadores inflamatórios clássicos, envolvidos no Fenômeno da Inflamação. Pg.8 Figura 04: Mecanismo de “rolling” de leucócitos, até o momento de sua fixação e preparação para o processo de transmigração. Pg.11 Figura 05: Mecanismo de adesão e transmigração de leucócitos, demonstrando a expressão de moléculas de adesão até o momento de sua fixação e preparação para o processo de transmigração. Pg.12 Figura 06: Composição da parede bacteriana das micobactérias do complexo MTC, que representam o verdadeiro fator de virulência destas bactérias. Pg.15 1 1 - Introdução 1.1 - A Reação Inflamatória A reação inflamatória representa um conjunto de reações locais e gerais do organismo contra uma agressão. Ela é composta de uma série de fenômenos complexos que se associam e se complementam uns aos outros formando uma reação em cascata. A resposta inflamatória visa, em última instância, combater o agente agressor e eliminar produtos resultantes da destruição celular, promovendo condições ideais para a reparação do tecido lesado. Quando um tecido sofre uma injúria ou lesão, ocorre uma reação local que denominada de inflamação. Primeiramente, duas teorias foram postuladas, no sentido de caracterizar a reação inflamatória: a) Teoria Humoral – a resposta inicial partiria do sangue e dos fluidos teciduais, que contém sistemas enzimáticos complexos, responsáveis por diversos eventos relacionados a reação inflamatória; b) Teoria Celular – Alternativa a Teoria Humoral - postulada por Metchnikoff, afirmava que as células brancas que apareciam durante a Reação Inflamatória eram as responsáveis pela proteção do organismos contra infecções. O fato da inflamação ser produzida por diferentes irritantes e manter características uniformes, levou a sugestão de que os sintomas são causados por mensageiros químicos gerados no local da reação, e que são agora conhecidos como mediadores químicos da inflamação. A reação que ocorre durante as primeiras horas após a injúria é independente da natureza do agente nocivo, sendo a resposta bastante similar, mesmo após uma grande variedade de estímulos. As principais mudanças observadas envolvem basicamente 03 processos: 2 1) Mudança do calibre do vaso, e do fluxo da microcirculação, que leva à uma vasodilatação arteriolar. 2) Aumento da permeabilidade vascular que leva a formação de exudato rico em proteínas e edema local. 3) Migração de leucócitos do sangue circulante para o local da lesão. Estes leucócitos têm função decisiva no combate ao estímulo lesivo, não somente devido a sua função fagocitária, como também pela produção e liberação de mediadores químicos (DALE, 1984) Atualmente já se sabe que o sistema nervoso e fatores endócrinos também interferem agudamente na reação inflamatória (GARCIA-LEME, 1985; FOREMAN, 1987). A resposta inflamatória parece ser, na verdade, parcialmente mediada por componentes (sistemas enzimáticos) presentes nos fluidos corporais como: Sistema de coagulação; Sistema fibrinolítico; Sistema calicreína-cininas; Sistema complemento (LEWIS, 1986). A inflamação pode ser aguda, de duração relativamente curta (minutos, várias horas ou poucos dias), ou crônica (de maior duração). Os sinais clínicos da inflamação aguda são calor, rubor, tumefação e dor. Isso ocorre devido ao aumento do fluxo sangüíneo, e ao aumento da permeabilidade vascular, a infiltração de leucócitos, a liberação de agentes álgicos e, principalmente, devido aos efeitos induzidos pelos mediadores inflamatórios. 3 Os mediadores podem originar-se do plasma das células ou possivelmente do tecido agredido. E podem ser divididos nos seguintes grupos (COTRAN et al., 1991): Ø Aminas vasoativas: histamina e serotonina. Ø Proteases plasmáticas: - O sistema (cinina bradicinina e calicreína); - O sistema complemento (C3a; C5a; C5b-C9); -O sistema coagulação-fibrinolítico (fibrinopeptídios, produtos de degradação da fibrina). Ø Metabólitos do ácido araquidônico (AA): - Via ciclooxigenase (endoperóxidos, prostaglandinas, tromboxane); - via lipoxigenase (leucotrieno; HPETE; HETE). Ø Constituintes lisossômicos (proteases). Ø Radicais livres derivados do oxigênio. Ø Fatores ativadores das plaquetas (PAF). Ø Citocinas. Ø Fatores de crescimento. 1.1.1 – Mediadores Químicos do Processo Inflamatório Aminas Vasoativas As duas aminas, histamina e serotonina (5-hidroxitriptamina), são especialmente importantes porque estão disponíveis em reservas pré -formadas e constituem os primeiros mediadores a serem liberados durante a infl amação. 4 A Histamina é amplamente distribuída nos tecidos, sendo armazenada principalmente nos mastócitos, que estão normalmente presentes no tecido conjuntivo adjacente aos vasos sangüíneos. Também é encontrada em basófilos e plaquetas. A histamina pré -formada está presente nos grânulos dos mastócitos e é liberada por degranulação destas células em resposta a uma variedade de estímulos, tais como: 1) lesão física como traumatismos, frio ou calor; 2) reações imunes envolvendo anticorpos; 3) fragmentos do complemento denominados anafilotoxinas; 4) proteínas de liberação da histamina derivadas de leucócitos; 5) neuropeptídeos; 6) citocinas (interleucina 1 e 8); No ser humano, a histamina causa dilatação arteriolar e aumento da permeabilidade vascular das vênulas. É considerada o principal mediador da fase imediata de aumento de permeabilidade vascular, produzindo lacunas venulares. Na verdade, o aumento da permeabilidade dos vasos sangüíneos no sítio inflamatório é condição primordial para permitir a subseqüente migração de células de defesa (leucócitos) para o local da inflamação. No entanto, este processo permite não somente a transmigração de células inflamatórias de dentro dos vasos sangüíneos para o tecido, como também o extravazamento de proteínas plasmáticas, como a albumina. Por sua vez, o extravazamento de proteínas plasmáticas para o tecido induz um aumento da pressão osmótica em direção ao tecido, forçando também o extravazamento de líquido, acarretando o edema inflamatório. (ver esquema a seguir). 5 Figura 01: Processo de vasodilatação e alteração de permeabilidade vascular, que ocorrem classicamente na fase aguda do processo inflamatório. 6 Após estabelecido o edema inflamatório, o sistema linfático deverá se encarregar da drenagem do conteúdo extravasado, fazendo com que as condições normais sejam restabelecidas ao final de todo o processo. A serotonina é um segundo mediador vasoativo pré-formado com ações semalhantes as da histamina. Está presente em plaquetas e células enterocromafins, e nos mastócitos de roedores. A liberação de serotonina de plaquetas é estimulada quando estas se agregam após contato com colágeno, trombina, ADP e complexos antígeno-anticorpo. A agregação e liberação plaquetárias também são estimuladas pelo Fator de Ativação Plaquetária (PAF), proveniente dos mastócitos durante reações mediadas por imunoglobulinas. Deste modo, a reação de liberação plaquetária resulta em aumento da permeabilidade durante reações imunológicas (COTRAN, R.S., KUMAR, V. & COLLINS, T., 2000). Figura 02: Fotomicrografia de mastócitos, principal célula armazenadora de Histamina e Serotonina em Humanos e Roedores, respectivamente. 7 Sistema de Cininas As cininas, representadas pela bradicinina, Lys-bradicinina e Met-Lysbradicinina, são peptídeos vasoativos potentes liberados a partir de substratos protéicos, denominados cininogênios, pela ação de certas proteases, conhecidas genericamente como cininogenases (ANTUNES, 2001,APUD TIBIRIÇÁ, 2001). A bradicinina é um potente agente que aumenta a permeabilidade vascular. É também responsável pela contração do músculo liso, dilatação dos vasos sangüíneos e dor, quando injetada na pele (COTRAN, R.S., KUMAR, V. & COLLINS, T., 2000). Metabólitos do Ácido Araquidônico (AA): Prostaglandinas e Leucotrienos Quando as células são ativadas por diferentes estímulos, os lipídeos da membrana são rapidamente remodelados para dar origem a mediadores biologicamente ativos, os quais servem como sinais intracelulares ou extracelulares. Os produtos do AA participam de uma série de processos biológicos, incluindo inflamação e hemostasia. São mais bem vistos como autacóides (ou ainda eicosanóides), ou hormônios locais de curto alcance, que uma vez formados, exercem seus efeitos localmente e, então, decompõem-se espontaneamente ou são destruídos de maneira enzimática. Os eicosanóides são sintetizados por duas classes principais de enzimas: a) ciclooxigenase, originando prostaglandinas e tromboxano; b) lipooxigenase, originando leucotrienos; (ver esquema a seguir). Os eicosanóides podem mediar praticamente todas as etapas da inflamação. São encontrados em exsudatos inflamatórios, e sua síntese é aumentada em locais de inflamação. Agentes estruturalmente distintos que podem suprimir a atividade da enzima 8 ciclooxigenase (aspirina, nimesulida, indometacina, meloxicam, piroxicam, denominados antiinflamatórios não esteroidais) são capazes de inibir o processo inflamatório in vivo. A via da enzima ciclooxigenase leva à geração de prostaglandinas (PGD 2, PGE2, PGF 2 , PGG e PGH etc.). Como as prostaglandinas desempenham um importante papel no processo inflamatório, uma interferência em sua síntese determina uma sensível redução nas alterações proporcionadas pela inflamação (BAKHLE E BOTTING, 1996), visto que a inibição da síntese de prostaglandinas é o mecanismo de ação de muitos antiinflamatórios não-hormonais. (INSEL, 1996 APUD GOODMAN E GILMAN,1996;) Figura 03: Cascata do Ácido Araquidônico, que leva a produção de mediadores inflamatórios clássicos, envolvidos no Fenômeno da Inflamação. 9 Estudos em reação inflamatória e o desenvolvimento de novas drogas ou terapias sempre dependeram da existência de modelos animais apropriados. Apesar da maioria das doenças inflamatórias severas apresentar natureza crônica, os modelos de inflamação aguda são importantes e necessários (SEDGWICK E LESS, 1986). 1.4 - Vasos Linfáticos na Inflamação O sistema de vasos linfáticos e linfonodos filtram e policiam os líquidos extravasculares. Juntamente com o sistema de fagócitos mononucleares, representam uma segunda linha de defesa que entra em ação sempre que uma reação inflamatória local não consegue conter e neutralizar o agente causador da lesão. Os vasos linfáticos são canais extremamente delicados e difíceis de serem visualizados em secções teciduais comuns pois se colapsam prontamente. São revestidos por endotélio delgado e contínuo com junções celulares frouxas e superpostas, membrana basal escassa e ausência de sustentação muscular, exceto nos ductos maiores. O Fluxo linfático na infl amação é aumentado, e parece ser o grande responsável pela drenagem do líquido do edema do espaço extravascular. Não apenas líquido, mas também leucócitos e restos celulares chegam a linfa. Válvulas estão presentes nos vasos linfáticos permitindo que o conteúdo linfático flua apenas no sentido proximal. (COTRAN, R.S., KUMAR, V. & COLLINS, T., 2000). 10 1.3 –Inflamação e Migração Celular Os eventos que ocorrem na fase aguda da inflamação estão intimamente relacionados, e culminam em seu objetivo primordial que é o transporte de leucócitos para o local da lesão. Os leucócitos têm importância fundamental na ingestão e destruição de agentes ofensivos como bactérias, micobactérias e outros microorganismos, assim como na degradação de tecidos necróticos e antígenos estranhos ao organismo. Leucócitos circulantes são capazes de migrar dos vasos sangüíneos para os tecidos, tanto em situações normais como patológicas. É bem aceito que a migração de leucócitos, a partir do sistema vascular, ocorre por um processo em várias etapas ditadas pela ativação seqüencial de proteínas adesivas e seus ligantes em ambas células endoteliais e leucócitos (para revisão ver WAGNER E ROTH, 2000). Monócitos, linfócitos e polimorfonucleares, migram através de mecanismos similares, mas diferem quanto a suas respostas a fatores quimiotáticos e inflamatórios, particularmente quanto a aspectos qualitativos e quantitativos da expressão de moléculas de adesão (DRANSFIELD et al., 1992; SPRINGER, 1994; AGER, 1996; LI et al., 1996). O Início da migração ocorre com a “captura” pela parede vascular, dos leucócitos polimorfonucleares (PMNs) do sangue circulante, seguido do fenômeno denominado “rolling” (Figura 04) ao longo da parede vascular. Este processo de “marginação” é o comportamento normal de PMNs circulantes. Apenas após estímulos apropriados, é que os leucócitos que estão “rolando”, fixam-se ou aderem-se firmemente as células endoteliais e estão, pois, posicionados para a migração para o tecido. A captura e a aderência dos PMNs, ao longo das paredes dos vasos, é possível devido a ligação reversível destas células a moléculas 11 adesivas glicopotéicas transmembrana, denominadas “selectinas”, encontradas tanto nas células endoteliais quanto nos próprios leucócitos (BEVILAQUA & NELSON, 1993; ALBELD A et al., 1994; LUSCINSKAS & LAWER, 1994; CROCKETT-TORABI & FANTONE, 1995; TEDER et al., 1995; PARA REVISÃO VER WAGNER E ROTH, 2000). O sinal que inicia o próximo passo - adesão firme - é postulado ser um evento mediado por receptor em resposta a citocinas inflamatórias, ou um evento propagado por sinais de selectinas ativadas (CROCKETT-TORABI & FANTONE, 1995; SIMON et al., 1995; ZIMMERMAN et al., 1996; MCEVER & CUMMINGS, 1997; WILLIAMS & SOLOMKIN, 1999;). Desta forma, as selectinas podem promover a transição ordenada para o processo de adesão através da indução da expressão de integrinas, culminando com o sucesso da migração celular (Figura 05). As Integrinas pertencem a um grupo de glicoproteínas heterodiméricas encontradas em PMNs e outras células hematopoiéticas que medeiam a interação célula-célula e célula-matriz extracelular (HYNES, 1992; LUSCINSKAS & LAWER, 1994;). Figura 04: Mecanismo de “rolling” de leucócitos, até o momento de sua fixação e preparação para o processo de transmigração (COTRAM et al., 2000). 12 Figura 05: Mecanismo de adesão e transmigração de leucócitos, demonstrando a expressão de moléculas de adesão. 13 1.4 – BCG e Inflamação Em 1882, Robert Koch identificou o bacilo da tuberculose como o agente etiológico de doenças infecciosas como uma importante causa de mortes da época na Europa. Mesmo nos dias atuais, mais pessoas morrem pela infecção por Mycobacterium Tuberculosis, do que quaisquer outros patógenos. As micobactérias, especialmente Mycobacterium Tuberculosis, estão entre os microorganismos dramaticamente causadores de infecções que vem aumentando sua ocorrência com morte no mundo (CHRÉTIEN, 1995). Supõe-se que 60 milhões de pessoas sofram da tuberculose ativa, e aproximadamente um terço da população total do mundo é infectado por M. tuberculosis. No Brasil, 100.000 novos casos de tuberculose são relatados anualmente (INGE ET AL., 1993; ARRUDA ET AL., 1998;). A infecção da tuberculose é causada por M. tuberculosis , M. bovis ou pelo M. africanum. Devido à próxima relação filogenétic a e patogênica, as três espécies foram agrupadas como o complexo M. tuberculosis (MTC) e são considerados agentes etiológicos permutáveis da tuberculose em humanos e animais ( MENEZES-DELIMA-JÚNIOR HENRIQUES, 1997;) A resposta imune humana encontrada na tuberculose é controlada principalmente pela imunidade celular através de células-T ativadas (KAUFMANN, 1995), conduzindo a uma potencialização do mecanismo micobactericida de macrófagos através da produção de IFN-gama (FLYNN et al., 1993). Recentemente, MOHAMMED et al., (2003) observou que os pacientes com tuberculose pulmonar desenvolvem efusão pleural com altos índices de proteína. As junções mesoteliais aderentes pleurais promovem a adesão mesotelial célula14 célula e contribuem para a integridade pleural. Os autores sugerem que na pleurisia por tuberculose, a micobacteria causa a liberação do fator de crescimento de endotélio vascular a partir de células mesoteliais e conduzem a exudação de proteína por alteração das proteínas da junção de aderência entre células mesoteliais. Em 1997, MENEZES-DE-LIMA-JÚNIOR et.al., caracterizaram a reação de pleurisia induzida pelo bacilo Mycobacterium bovis Calmette-Guerin (BCG) em camundongos e investigaram o papel de mediadores químicos e de citocinas no acúmulo dos granulócitos induzidos por BCG em 24h. A injeção intratorácica de BCG em camundongos, é capaz de induzir uma reação inflamação bifásica com acúmulo intenso de leucócitos em 24h e após 15 dias. Os neutrófilos foram observados em maior número na cavidade pleur al em 4 e em 24h, enquanto que células mononucleares e eosinófilos foram observados após 24h. Uma nova onda de migração de células (neutrófilos e mononucleares) foi observada após 15 dias. Em outro grupo de experimentos, MENEZES-DE-LIMA-JÚNIOR et al. (1997b) observaram que a chegada dos neutrófilos começou após 2h da infecção, e o pico de migração ocorreu em 4h. Neste tempo os neutrófilos foram encontrados ingerindo micobactérias, exclusivamente em altas doses infectantes. 15 Figura 06: A figura 06 ilustra a composição da parede bacteriana das micobactérias do complexo MTC, que representam o verdadeiro fator de virulência destas bactérias. A ocorrência de cepas resistentes a terapias multidrogas, e a ameaça da expansão da AIDS fazem com que o problema da tuberculose seja altamente preocupante no mundo, e a procura por novas drogas contra essa patologia é de interesse crescente. O ressurgimento da tuberculose no mundo desenvolvido, combinado com a magnitude da epidemia em todo o mundo, torna imperativo proje tar uma estratégia coesiva para a prevenção, para os tratamentos e à pesquisa de novas drogas (MENEZES-DE-LIMA-JÚNIOR, 1997). Neste contexto, as substâncias obtidas de plantas podem constituir novas fontes de drogas para a 16 ameaça da tuberculose. Nos últimos dez anos, o estudo de extratos de plantas tem aumentado, atraindo a atenção dos farmacologistas devido à necessidade da descoberta de novas drogas para as velhas patologias, incluindo as doenças infecciosas. 1.5 – Histórico do Zingiber officinale Os extratos de planta têm sido utilizados por muitos séculos, de maneira popular para curar diversas patologias. Durante as últimas décadas, o estudo dos considerados “produtos naturais” vem ganhando impulso no Brasil, principalmente com o objetivo de explorar melhor a riqueza de nossa biodiversidade, e oferecer alternativas mais baratas de medicamentos, para as populações mais carentes. Deve-se ressaltar que somente aproximadamente 30% da população brasileira tem acesso a medicamentos industrializados, em função dos altos preços praticados no Brasil. Desta maneira, seguindo indicações seculares, assim como resultados prévios obtidos em nosso laboratório, vimos estudando uma planta de alto potencial terapêutico em diversas patologias. Ginger, o rizoma do Zingiber officinale Roscoe (Zinngiberaceae), originário do sudeste asiático e artificialmente introduzido no Brasil, por volta de 1500, é um componente comum da alimentação em diversos países do mundo, e há muito é conhecido por suas propriedades medicinais. São os rizomas desta espécie que constituem o verdadeiro gengibre doce do comércio ("rizoma gingiberis", dos farmacêuticos), especiaria muito apreciada e já conhecida na Europa no tempo de Dioscórides, isto é, há cerca de 2.000 17 anos. O seu encontro, no estado silvestre, no sudeste da Ásia e no arquipélago Malaio, confirma ser originária da Ásia tropical, onde a sua cultura tem grande importância, não somente para o consumo local da densíssima população indígena de tão vasta parte do globo, como também para a exportação destinada a países ocidentais que absorvem grandes quantidades. Embora desde época muito remota a Europa recebesse sempre o GENGIBRE mais como droga do que como condimento, o qual lhe chegava após a longa viagem pelo mar Vermelho e o golfo Pérsico, foi o descobrimento do caminho marítimo para a Índia, realizado por Vasco da Gama em 1490, que deu à cultura e ao comércio deste produto um impulso formidável: os navios portugueses regressavam da Índia com grandes carregamentos do rizoma de GENGIBRE e a procura deste, sendo intensa, levou os lavradores das vizinhanças dos vários portos do Malabar a aumentarem suas plantações. Esse impulso jamais cessou desde então, não obstante a planta haver sido introduzida em todos os outros países tropicais, principalmente nas Antilhas e na costa oriental da América Central e da América do Sul, em todos os quais se achava naturalizada e sub-espontânea, sendo que em alguns deles tomou notável desenvolvimento (Pio Corrêa, XXXX). O GENGIBRE contém, entre diversas outras substâncias, o gingerol, resina mole com a densidade de 1,090, que é o princípio ativo, além de sub -resina, matéria extrativa, goma, alta porcentagem de amido, matéria azotada, o sesquiterpeno "zingibereno" e óleo volátil amarelo esverdeado, muito aromático, este na porcentagem de 1.075 a 3.00 %, e com densidade variável, pelo menos conforme a procedência (0,830 a 0,878 na Jamaica, 0,885 nas Filipinas, 0, 893 no Brasil); o croma particular da planta deve -se ao óleo volátil, cujo ponto de ebulição 18 ascende a 246o, tendo o índice de refração N 30° D-1.4830 e o índice de Saponificação 14. Uma antiga análise que conhecemos (Pio Corrêa, XXXX), que encontrou nos rizomas procedentes de Calcutá (Índia) a seguinte Composição: 49.34% , de amido, 13.44%, de matéria indeterminada, 9.60 % de água, 7.45 % de celulose, 7.02 % de cinzas, 6.30 % de albuminóides, 4.58 % de óleo fixo e resina. 2.27 % de óleo volátil e 1.01% de nitrogênio. O óleo essencial é complexo (canfreno direito. felandreno e cineol), tendo emprego na indústria da perfumaria. A maior parte dos rizomas exportados da China, da Cochinchina, da Índia, do Ceilão, da Jamaica, da Serra Leoa e de outros países, é consumida pela indústria na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha, e em menor escala por outras nações. Nas duas primeiras, o GENGIBRE entra, em quantidades consideráveis, na fabricação de várias bebidas refrigerantes, principalmente da "ginger-ale", de reputação mundial, e da 'gingerbeer" ou cerveja de gengibre. Quantidades menores, porém ainda elevadas. são absorvidas pela "Jamaica ginger", das Antilhas; pelo forte licor "khaung" dos chineses, pela "ingwerbier' dos alemães e pela gengibirra dos portugueses, esta também outrora fabricada no Brasil. O extrato alcoólico do gengibre serve, em gra nde escala, para aromatizar águas gasosas e outras bebidas e o pó faz parte da composição do famoso "caril" indiano, agora adaptado à cozinha de todos os povos civilizados. Compota e vários outros doces de GENGIBRE, de que os ingleses e norte -americanos fa zem um consumo formidável, são preparados na China, na India, nas Filipinas e um pouco mais nas Antilhas. No Brasil, este rizoma serve apenas à confecção de várias gulodices, tais como a cocada de gengibre", a "amoda" (doce feito com 19 farinha e rapadura), o 'pé de moleque" e a "cramônia", uma mistura com melaço e farinha de mandioca. Os portugueses do século XVI também já faziam doce de gengibre. Mas parece que preferiam o rizoma preparado em salada. cortado em pedacinhos e misturado a outras verduras. Os no ssos sertanejos dão o nome de “Cachaça queimada" à aguardente de cana em que infundem rizomas de GENGIBRE. 1.5.1 Descrição botânica, farmacológica e propriedades biológicas do gengibre. Descrição Botânica Gengibre – Zingiber Karst (Amomum Zingiber L ., Curcuma longifolia Wall, Z. aromaticum Noronha, Z. majus Rumph., Z. missionis Vall., Z.officinale Roscae), da família das Zingiberáceas. Erva de rizoma perene, reptante, articulado, anguloso e muito ramoso, de 1-2 cm de espessura, ligeiramente achatado, carnoso, revestido de epiderme rugosa, amarelada ou pardacenta, tendo na parte superior, pequenos tubérculos anelados e muito aproximados, resultantes da base dos antigos caules aéreos, e na parte inferior numerosas raízes adventicias, cilíndricas, brancas e carnosas; caules eretos, de 30 –120 cm de altura, guarnecidos de bastantes folhas dísticas, sendo as basilares reduzidas a simples bainhas glabras e estriadas no sentido longitudinal; as bainhas superiores, amplixiculares na base, terminam com um limbo séssil, linear, lanceolado, acuminado, até 28 cm de comprimento e 3 cm de largura, com numerosas punctuações translúcidas e nervuras secundárias finas, aproximadas e paralelas, partindo da nervura média e dirigindo-se muito obliquamente para ápice do limbo, 20 sendo que no ponto de junção deste com a bainha há uma lígula bífida, prolongada lateralmente em duas aurículas; flores verde-amareladas, hermafroditas, zigomorfas, dispostas em espigas ovóides ou elipsóides, de 4-6 cm, no ápice; brácteas florais surbobiculares, às vezes obovadas, até 25 mm, esverdeadas, frequentemente com as margens amareladas, punctuadas de roxo, cada uma envolvendo uma só flor curto-pedicelada; cálice de 1 cm, 3 denteado, corola com tubo de 2 cm e lobos lanceolados, agudos; tabelo ovado- oblongo, purpúreo e com punctuações amarelas, mais curto que os lobos da corola; fruto cápsula 3-locular, abrindo-se em três valvas; sementes azuladas e com albúmen carnoso. (CORREA, 1984) Atividade Farmacológica Relatada – Etnofarmacologia Há 2000 anos a Europa já conhecia esta planta, ou pelo menos o seu rizoma. Desde então, até a Idade média, a “droga” foi se tornando cada vez mais conhecida e fazia parte das fórmulas terapêuticas mais complicadas, como são os electuários, “diaphoenix”, diascordium” theriaga, além de outros menos importantes, conhecidos como tônicos diaforéticos. Dessa última época em diante, talvez mesmo na primeira década do Século XVI, as virtudes medicinais do gengibre foram relegadas a segundo plano, passando então a ocupar lugar de destaque como: condimento, aromático e carminativo. Trata-se mesmo de um condimento estimulante dos órgãos digestivos, considerado indispensável, para tal fim, pela população de vários países tropicais. Na atualidade apenas tem emprego, internamente, como sialagogo, últil contra as dispepsias atônitas acompanhadas de cólicas flatulentas e, 21 externamente, como odontálgico e revulsivo (CORRÊA,1984; KASAHARA et al.,1983; YAMAHARA et al.,1988; PHILLIPS et al., 1993). Tem grande apreço para combater as afecções reumáticas, (SRIVASTAVA E MUSTAFA, 1989,1992), paralisia, beribéri, cólera mobus, e o catarro crônico. Na África do Norte o gengibre é considerado afrodisíaco. A verdade é que, a despeito de tantas restrições, os farmacêuticos continua m preparando vários produtos com o precioso rizoma: eletuários, emplastros, extratos etéreo (piperoidina de gengibre ou zingiberina), infusão, pastilhas, pílulas, pós, etc. Estes últimos, em contacto com a membrana pituitária, provocam espirros; colocados sobre a língua, desenvolvem saliva abundante e ingeridos isoladamente, causam ardor no estômago. São, entretanto, um bom corretivo da ação dos purgantes drásticos, por isso mesmo julgados indispensáveis na Inglaterra para associar aos purgantes destinados as crianças lactentes. Atividade Farmacológica Comprovada Estudos mais recentes em laboratório (SERTIÉ et al., 1992), demonstraram que o rizoma de Zingiber officinale (gengibre) foi capaz de reduzir lesões gástricas induzidas por HCl / ethanol em ratos, assim como previnir atividade ulcerogênica. O mecanismo pelo qual os extratos do gengibre são capazes de previnir lesões gástricas induzidas por etanol ainda permanece desconhecido, necessitando de estudos adicionais. Dados não publicados demonstram que o gengibre não altera o pH do suco gástrico, nem tampouco o volume secretado. Experimentos iniciais ainda revelaram que os extratos de gengibre também não alteram a motilidade uterina no modelo de útero isolado de ratas na fase de estro 22 fisiológico. Estes resultados foram bastante promissores, levando a continuidade dos trabalhos com o referido extrato. (SERTIÉ et al.,1992). Após estes resultados, um composto anti-ulcerogênico muito potente foi recentemente isolado dos rizomas de Z.officinale ( (+)-angelicoidenol-2-o-b-D-glicopiranoside; ( YOSHIKAWA et al., 1994). CAO et al. (1993) reportaram uma atividade “scavenger” de ânions superóxidos do extrato de gengibre. Atividade esta, confirmada em experimentos realizados em nosso laboratório (dados não publicados). Além disso, SHARMA et al. (1994) demonstraram que os produtos de gengibre administrados por via oral por 26 dias foram capazes de suprimir significativamente a artrite induzida por Mycobacterium tuberculosis. Em 1995, GUH e colaboradores demonstraram que o gingerol isolado do extrato de Zingiber officinale foi capaz de inibir a agregação plaquetária induzida por ácido araquidônico e colágeno. BHANDARI e colaboradores (1998) demonstraram que o extrato de gengibre foi capaz de reduzir os níveis plasmáticos de colesterol em coelhos alimentados com dieta enriquecida com colesterol. O tratamento com extrato de gengibre foi capaz de reduzir significativamente a formação de placas ateromatosas quando comparadas ao grupo controle. BORDIA et al., (1997) também demonstraram em humanos, que a administração de uma dose diária de 10g por indíviduo foi capaz de reduzir a agregação plaquetária induzida por diferentes agentes, sem alterar o sistema fibrinolítico e os níveis de colesterol plasmático, e ainda, de reduzir os níveis de colesterol plamático em pacientes hipercolesterolêmicos. Recentemente, trabalhos do nosso laboratório (PENNA et al., 2003) demonstraram o efeito antiinflamatório do extrato de Zingiber officinale nos 23 modelos clássicos de edema de pata e edema de pele induzidos por diferentes substâncias. Estes estudos demonstraram que o extrato alcoólico de Z.officinale foi capaz de reduzir o edema de pata induzido por carragenina composto 48/80 e serotonina, em ratos, além de se mostrar eficaz em reduzir também significativamente o edema de pele em ratos, induzido por serotonina, de maneira dependente da dose. O estudo sugere que o efeito anti-edematogênico dos extratos possa ser devido à um efeito de antagonizar os receptores de serotonina. Propriedades Microbiológicas Atividades antifúngicas HABSAH et al., (2000), realizaram estudos para atividade antimicrobiana de 13 espécies, da família Zingiberaceae, somente a espécie Costus discolor mostrou forte atividade fungicidade para Aspergillus ochraceous. YIN E CHENG (1998), demonstraram o efeito inibitório do extrato em solução aquosa de várias especiarias, inclusive o gengibre, contra dois fungos Aspergillus niger e Aspergillus flavus . O gengibre, no entanto, não mostrou atividade. RAMOS et al. (1996), demonstraram as propriedades mutagênicas de plantas comumente utilizadas na medicina tradicional. Foi realizado um “screening” para atividade genotóxica de 13 extratos de plantas medicinais preparadas em solução alcoólica, usadas na medicina popular de Cuba e, entre elas, o Zingiber officinale (gengibre). Os testes citogenéticos realizados não foram significantes para o gengibre. 24 Atividades Antibacterianas GUGNANI E EZENWANZE (1985) demonstraram que o extrato alcoólico de gengibre, possui uma significante atividade antibacteriana contra Escherichia coli, Proteus Streptococcus vulgaris, Salmonella typhymurium, Staphylococcus aureus, viridans, porém apresentou uma fraca atividade para Streptococcus faecalis e nenhuma atividade para Pseudomonas aeruginosa. CHEN et al. (1985). demonstraram as propriedades antibacterianas de algumas especiarias, inclusive do gengibre, onde os extratos passavam por um tratamento de aquecimento. A raíz de gengibre apresentou atividade inibitória somente para Micrococcus luteus . Todas as especiarias testadas perderam suas atividades antibacterianas após aquecimento à 100º durante 20 minutos. JANES et al. (1999). realizaram estudos com cepas de bactérias produtoras de bacteriocinas isoladas das especiarias alho e gengibre. Algumas substâncias foram analisadas, isoladas e identificadas. No alho isolou-se o Leuconostoc mesenteroides e na raíz de gengibre isolou o Lactococcus lactis, ambas bacteriocinas foram inibidas por enzimas proteolíticas. A bacteriocina do alho chamou-se de leucocin BC2 e a do gengibre de lactocin G13. A leucocin BC2 inibiu um pequeno espectro antimicrobiano, inibindo apenas as espécies Bacillus, Enterococcus e Listeria. A lactocin G13, apresentou amplo espectro antimicrobiano, inibindo as espécies: Bacillus, Clostridium, Listeria, Enterococcus, Leuconostoc, Pediococcus e Sthaphylococcus. Nenhuma das bacteriocinas inibiu as bactérias Gram negativas testadas (JANE et al., 1995). 25 2 - Objetivos O objetivo do presente estudo foi investigar a atividade anti -inflamatória de dois extratos - cetônico e hidroalcoólico - de Zingiber officinale (gengibre) , mais especificamente sobre a migração de leucócitos, utilizando para isto, o modelo experimental de pleurisia induzida por BCG em camundongos. 26 3 – Materiais e Métodos 3.1 - Animais Todos os experimentos foram realizadas de acordo com as normas do comitê de ética Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) em relação as exigências e cuidados com os animais. Os experimentos foram realizados em camundongos C57Bl/6, macho s, pesando entre 20 e 25 g mantidos em condições padrão de temperatura (22-25ºC), e umidade relativa (40-60%) com do ciclo claro/escuro, e livre acesso a comida e água. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Central da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Todos os animais foram colocados em uma caixa comum e divididos aleatoriamente em grupos de seis animais. 3.2 - Preparação de extrato hidroalcólico e cetônicodo Z. officinale – O extrato do Z. officinale foi obtido como descrito previamente (SERTIE et al. 1992). Momentaneamente, os rizomas do Z. officinale foram coletados no mês de março na cidade de Caraguatatuba, estado de São Paulo e identificados pela equipe de funcionários do herbarium do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências - Universidade de São Paulo (SP), Brasil. Material fresco (200 g) foram descascados, cortados finamente e extraídos com 1000 ml do etanol de 70% (extrato de Zo) e 1000 ml de Me 2CO (extrato cetônico ZoK). Após 2 dias de maceração ambos os extratos foram filtrados e concentrados sob a pressão reduzida em 50ºC. O extrato de ZoK foi pulverizado (magnésio 1,0 equivalente a magnésio 50,0 do rizoma fresco). A massa viscosa obtida do extrato de Zo foi lipolizada (magnésio 1,0 equivalente a magnésio 16,7 do rizoma fresco). As 27 experimentações farmacológicas foram realizadas com o material seco dissolvido em 0,9% salina. 3.3 - A indução da pleurisia em camundongo A reação de pleurisia foi induzida por injeção intratorácica (i.t.) de 100 microlitros (8 x 10 6 bacilos) da solução agonista (BCG), pela técnica de SPECTOR (1956) modificada por HENRIQUES et al., (1990) para camundongos. Resumidamente, seringas de 1 mL com agulhas 13 x 5 foram utilizadas, sendo adaptadas através do uso de um cursor, passando a medir aproximadamente 3 mm de comprimento. A agulha é introduzida do lado direito da cavidade torácica dos camundongos para realização da injeção do estímulo, e um volume igual de salina estéril (100µl) foi injetado nos animais do grupo controle. O tratamento dos camundongo com extrato de Z. officinale foram executados sempre por injeções intraperitoneais em diferentes doses, de ambos extratos, após 30 minutos do desafio com BCG. Os extrato foram injetados sempre no mesmo volume de 0,5 ml/cavidade peritoneal. 3.4 - Contagem total de Leucócitos Após quatro horas do desafio com BCG, os animais foram sacrificados com inalação do CO2. O tórax foi imediatamente aberto e a cavidade pleural lavada com 1 ml de PBS heparinizado (20 IU.ml-1) e o volume total foi recuperado. A contagem total das células da cavidade pleural foi realizada em câmara de Neubauer, após diluição de 10 µl do líquido pleural em 390 µl da solução do turk (1:40). O material coletado foi contado sob um microscópio óptico (ampliação de 10 X). Os resultados foram expressos em No total de células/cavidade. 28 3.5 - Contagens dos leucócitos diferenciais Para a contagem diferencial de leucócitos, alíquotas de 100 µl da suspensão celular foram utilizados para o preparo de citoesfregaço, com uso de citocentríguga (Shandon) A coloração foi feita pelo método de Mayi -GrunwaldGiemsa e a contagem diferencial das células foi realizada em microscópio óptico com objetivo de imersão em óleo, com aumento de 1.000 vezes. As populações celulares avaliadas foram eosinófilos, neutrófilos e mononucleares. 3.6 - Os produtos químicos e os Reagentes O BCG, cepa moureau (Fundação Ataulpho de Paiva Rio de Janeiro, Brasil), foi gentilmente cedido pela Dra. Maria das Graças Henriques, da Unidade FARMANGUINHOS da Fundação Oswaldo Cruz. O número dos mycobacteria usados em todos os ensaios foi de 3 x 10 6 bacilos como descrito na literatura (SILVA et al., 1985; TOMIOKA et al., 1996;). 3.7 - Análise estatística Os dados foram expressos como a média + erro padrão da média (SEM). Foi empregada a análise de variância (ANOVA), seguida pelo teste do NewmanKeuls-Student. No caso de comparação entre dois grupos, a análise foi executada pelo teste t de Student. Valores de p<0.05 foram considerados significativos. Cada grupo experimental foi composto de 06 animais. Os gráficos representam a média dos dados de três experimentos. 29 4 - Resultados 4.1 - O efeito do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale sobre o número total de Leucócitos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos A injeção intrapleural de BCG em camundongos levou a um acúmulo intenso do leucócitos dentro de 4 h (Fig. 1A). A administração intraperitoneal do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale reduziu significativamente o número total dos leucócitos (86 ± 5%) na dose mais elevada testada (180 mg/kg). (10 6 células/cavidade) Leucócitos Totais 7 . 5 Saline 5 . 0 2 . 5 0 . 0 Gráfico 1A: BCG BCG + Zo 20 mg/kg BCG + Zo 60 mg/kg BCG + Zo 180 mg/kg * O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato Hidroalcólico do Zingiber officinale(Zo) sobre o número total de leucócitos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 30 4.2 - O efeito do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale sobre o número total de Leucócitos Mononucleares na pleurisia induzidas por BCG em camundongos A injeção intrapleural de BCG em camundongos levou a um intenso acúmulo de células Mononucleares na cavidade pleural dentro de 4 h (Fig. 1B). A administração intraperitoneal do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale reduziu significativamente o número total de células mononucleares (65 ±7 %) na dose mais elevada testada (180 5 (106 células/cavidade) Células Mononucleares mg/kg). 4 3 2 * Sal BCG BCG + Zo 20 mg/kg BCG + Zo 60 mg/kg BCG + Zo 180 mg/kg 1 0 Gráfico1B: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato Hidroalcoólico do Zingiber officinale (Zo) sobre o número de células Mononucleares na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 31 4.3- O efeito do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale sobre o número total de Eosinófilos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG nos camundongos foi capaz de induzir um aumento discreto do número de eosinófilos que migraram para a cavidade pleural dentro de 4 h (Fig.1C). A administração intraperitoneal do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale reduziu significativamente o número total de eosinófilos (75 ±5 %) na dose o mais elevada testada (180 mg/kg). (10 células/cavidade) 6 Eosinófilos 1.00 Saline BCG BCG + Zo 20 mg/kg BCG + Zo 60 mg/kg BCG + Zo 180 mg/kg 0.75 0.50 0.25 * 0.00 Gráfico 1C: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato Hidroalcoólico de Zingiber officinale (Zo) sobre o número de eosinófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 32 4.4 - Efeito do extrato hidroalcoólico do Zingiber officinale sobre o número total de Neutrófilos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG em camundongos levou a um intenso acúmulo de neutrófilos na cavidade pleural dentro de 4 h (Fig. 1D). A administração intraperitoneal do extrato hidroalcoólico de Zingiber officinale reduziu significativamente o número total de neutrófilos (51 ± 4, 38 ± 6 e 79 ± 9 %) nas doses de 20, 60 e 180 mg/kg, respectivamente. (10 células/cavidade) 6 Neutrófilos 4 Saline BCG BCG + Zo 20 mg/kg BCG + Zo 60 mg/kg BCG + Zo 180 mg/kg 3 2 1 * * * 0 Gráfico 1D: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato Hidroalcoólico do Zingiber officinale (Zo) sobre o número de Neutrófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 33 4.5 - O efeito do extrato cetônico do Zingiber officinaledo sobre o número total de Leucócitos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG em camundongo, foi capaz de induzir uma intensa migração de leucócitos dentro de 4 h (Fig. 2A). A administração intraperitoneal do extrato cetônico do Zingiber officinale reduziu significativamente o número total de leucócitos (56 ± 6, 55 ± 4 e 44 ± 6 %) nas doses de 20, 60 e 180 mg/kg, respectivamente. 5 . . 5 0 * * 2 . 5 0 . 0 * Sal BCG BCG + ZoK 20 mg/kg BCG + ZoK 60 mg/kg BCG + ZoK 180 mg/kg 6 (10 células/cavidade) Leucócitos Totais 7 Gráfico 2A: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato cetônico do Zingiber officinale (ZoK) sobre o número total de leucócitos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. de seis animais. 34 4.6 - O efeito do extrato cetônico do Zingiber officinale sobre o acúmulo de Células Mononucleares na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG nos camundongos estimulou um acúmulo intenso de células Mononucleares na cavidade pleural dentro de 4 h (Fig. 2B). A administração intraperitoneal do extrato de cetônico do Zingiber officinale não produziu a redução significativa do número total de células mononucleares nas doses usados neste Células Mononucleares 6 (10 células/cavidade) experimento. 4 3 2 Sal BCG BCG + ZoK 20 mg/kg BCG + ZoK 60 mg/kg BCG + ZoK 180 mg/kg 1 0 Gráfico 2B: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato cetônico do Zingiber officinale (ZoK) sobre o número de células Mononucleares na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 35 4.7 - O efeito do extrato cetônico do Zingiber officinale sobre o acúmulo total de Eosinófilos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG nos camundongos estimulou um aumento significativo no número de eosinófilos que migraram para a cavidade pleural dentro de 4 h (Fig. 2C). A administração intraperitoneal do extrato cetônico do Zingiber officinale reduziu significativamente o número total do eosinófilos (93 ± 2, 95 ± 3 e 93 ± 3 %) nas doses de 20, 60 e 180 mg/kg, respectivamente. (10 células/cavidade) Saline BCG BCG + ZoK 20 mg/kg BCG + ZoK 60 mg/kg BCG + ZoK 180 mg/kg 0.1 6 Eosinófilos 0.2 * * * 0.0 Gráfico 2C: O Efeito da administração intraperitoneal do Extrato cetônico do Zingiber officinale (ZoK) sobre o número total de eosinófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 36 4.8 - O efeito do extrato cetônico do Zingiber officinale sobre número total de Neutrófilos na pleurisia induzidas por BCG em camundongos. A injeção intrapleural de BCG nos camundongos levou a um intenso acúmulo de Neutrófilos dentro de 4 h (Fig. 2D). A administração intraperitoneal do extrato cetônico do Zingiber officinale reduziu com muita significância o número total dos neutrófilos (98 6 Neutrófilos (10 células/cavidade) ± 4, 79 ± 11, 77 ± 8 %) nas doses de 20, 60 e 180 mg/kg, respectivamente. 4 Saline BCG BCG + ZoK 20 mg/kg BCG + ZoK 60 mg/kg BCG + ZoK 180 mg/kg 3 2 * 1 * * 0 Gráfico 2D: O Efeito da administração intraperitonial da raiz do Extrato cetônico do Zingiber officinale (ZoK) sobre o número de Neutrófilos na pleurisia em camundongos induzida por BCG. Os resultados são expressos na média ± S.E.M. em seis animais. 37 5 - DISCUSSÃO A resposta imune humana contra a tuberculose é principalmente controlada pela imunidade celular mediada pela ativação das células T (KAUFMANN, 1995), conduzindo a mecanismos micobactericidas de macrófagos e ainda, a produção de IFN-c (FLYNN et al., 1993). A pleurisia observada na tuberculose é considerado uma condição clínica benigna, uma vez que há pacientes com infecção que são capazes de se recuperar mesmo com ausência de tratamentos (STEAD et al., 1955). Nestas circunstâncias, o compartimento pleural apresenta um exudato rico em células inflamatórias, bem como de células imunes (BARNES et al., 1990, 1993) e fatores solúveis não imunes (OCAÑA et al., 1986; COSTA et al., 1995). Enquanto a tuberculose representa uma doença perigosa causada por uma bactéria intracelular, nosso entendimento acerca das interações celulares e moleculares entre a micobactéria e células hospedeiras está longe de ser completo. Os eventos iniciais durante uma infecção pulmonar primária com o complexo de M. tuberculosis (MCT) são pouco compreendidos e existem poucos modelos para se avaliar a seqüência de eventos que seguem o primeiro contato do hospedeiro com a micobacteria. Neste trabalho usamos a cavidade pleural do camundongo porque é um modelo direto e bem estabelecido (HENRIQUES et al., 1990, 1996, BOZZA et al., 1994, MENEZES-DELIMA-JÚNIOR et al., 1997a). A injeção de M. bovis BCG na cavidade pleural de camundongos induz uma reação inflamatória bifásica intensa, com picos em 24h e 15 dias após o desafio. Em 4h ocorre um influxo dos neutrófilos, que é máximo em 24h. Neste tempo observa-se 38 também um influxo intenso de eosinófilos e células mononucleares. Um outro influxo de leucócito é observado em 15 dias, composto por células mononucleares e alguns neutrófilos (MENEZES-DE-LIMA-JÚNIORS et al., 1997a). No presente trabalho, nós podemos observar que a injeção intratorácica de BCG foi capaz de induzir um influxo significativo dos leucócitos para a cavidade pleural dos camundongos após 4 horas. A administração intraperitoneal dos extratos cetônico e hidroalcoólico de Z. officinale, 30 minutos após as injeções de BCG, foi capaz de reduzir significativamente a migração de leucócitos, com ênfase no efeito de redução observado para o número de neutrófilos. Os neutrófilos são os leucócitos predominantes que chegam aos locais de inflamação aguda, e são capazes de defender o hospedeiro contra infecções bacterianas (MENEZES-DE-LIMA-JÚNIOR et al., 1997b). O acúmulo de neutrófilos está também intimamente associado com a formação de edema e com o recrutamento de outros leucócitos fagocíticos, tais como os monócitos (NOURSHARGH, 1993). O influxo dos neutrófilos induzido por BCG intratorácico está de acordo com a descrição da migração do neutrófilos na cavidade peritoneal de coelhos inoculados com o BCG (APPELBERG, 1992) e na cavidade pleural de coelho após instilação do BCG. Os neutrófilos liberaram os quimiotaxinas induzidos por BCG recrutando monócitos. Estas respostas contribuem para a formação do granuloma na pleurisia da tuberculose (ANTONY et al., 1985). Além disso, os neutrófilos são descritos no exudato pleural de pacientes com tuberculose (MONTGOMERY & LIMÃO, 1933). SAMPAIO et al., (2000) relataram que a endotelina, agindo através dos receptores de ETA, exercem um papel no acúmulo tardio de 39 eosinófilos e de neutrófilos (24h), mas não na fase mais aguda (4h) da resposta dos neutrófilos. O acúmulo de eosinófilos induzido por micobactéria é pouco descrito. Embora a eosinofilia sejam observada em alguns trabalhos, no lavado bronco-alveolar de pacientes com tuberculose (VIJAYAN et al., 1992, NAKAMURA et al., 1993), o acúmulo de eosinófilos induzido por M. tuberculosis ou M. bovis BCG nos modelos experimentais animais não foi, ainda, bem caracterizado. As diferenças que acontecem nas propriedades farmacológicas dos extratos hidroalcoólico e cetônico do Z. officinale têm sido relatadas. SHARMA et al., (1997) observou que a atividade antiemética de Z. officinale difere significativamente dos extratos aquosos, etanólico ou cetônico. Os autores relataram que o extrato aquoso foi ineficaz para proteger contra emese induzida por cisplatina, enquanto os extratos etanólico e cetônico foram capazes de previnir a emese. Entretanto, o extrato cetônico foi claramente mais efetivo na prevenção da emese induzida por cisplatina. Estudos precedentes de nosso grupo demonstram o efeito antiinflamatório do extrato hidroalcoólico dos rizomas do Zingiber officinale no edema do pata e de pele em ratos (PENNA et al., 2003). Neste prévio trabalho nós sugerimos que a atividade antiedematogênica do extrato pode estar relacionada, ao menos em parte, a um antagonismo do receptor da serotonina, embora a via da ciclooxigenase possa também estar envolvida no efeito antiedematogênico e edema de pata de ratos induzido por carragenina. Isto porque o efeito inibitório é observado desde a primeira hora da reação, quando os produtos da ciclooxigenase são mediadores clássicos do fenômeno. Como mencionado na introdução, outros autores relataram o importante efeito anti40 inflamatório do extrato Z. officinale e seus produtos. SHARMA et al., (1994) relatou que o eugenol e o óleo do gengibre possuem potentes propriedades anti-inflamatórias e/ou antireumáticas, usando um modelo de artrite crônica severa, em ratos, induzida pelos bacilos de M. tuberculosis em parafina líquida. KIUCHI et al., (1992) relataram que os rizomas de Z. officinale contêm potentes inibidores da biossíntese de prostaglandinas. MONTREEWASUWAT et al., (1987) relataram anteriormente que as células do granuloma de BCG secretam a prostaglandina F2 alfa (PGF2-alfa) espontaneamente, ou produzem comparáveis níveis de PGF 2-alfa, após estimulação dos macrófagos no exudato peritoneal. SHELLITO E SNIEZEK (1990) relataram também que a liberação estimulada de prostaglandina E2 em ratos injetados com BCG- está aumentada durante a lesão aguda de pulmão, mas a liberação estimulada do leucotrieno B4 foi diminuída significativamente em todos os estágios do inflamação. Os pacientes com tuberculose pulmonar desenvolvem efusões pleurais com um índice elevado de proteínas. O BCG aumenta a liberação do fator de crescimento do endotelial vascular (FCEV) a partir de células mesoteliais pleurais (CMP) e inibe a produção de beta-catenina (proteína da junção aderente) levando a uma permeabilidade aumentada através da monocamada mesotelial (MOHAMMED et al., 2003). Está bem estabelecido que a expressão de beta-catenina, é intimamente relacionada aos prostanóides, mas a relação entre a infecção por BCG e os prostanóides e a beta-catenina ainda é obscura. 41 6 - Conclusões Nossos resultados demonstram claramente que os extratos cetônico e hidroalcoólico de Z. officinale foram capazes de inibir significativamente a migração de leucócitos para a cavidade pleural dos camundongos após a indução da pleurisia pela injeção intratorácica de BCG, com ênfase no efeito do extrato cetônico sobre migração de neutrófilos. Considerando esta importante atividade observada do Zingiber officinale, esta espécie pode representar uma importante fonte de novos compostos e, no futuro, auxiliar no tratamento da tuberculose. 42 7 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ager A (1996). Regulation of lymphocyte migration into lymph nodes by high endothelial venules. Biochem Soc Trans 25:421-428. Albertda SM, Smith CW and Ward PA (1994).Adhesion molecules and inflammmatory injury. 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