EFEITO DA IMUNOMODULAÇÃO DA
NUTRIÇÃO ENTERAL EXPERIMENTAL
ASSOCIADA A SEPSE
Dr. SÉRGIO SLIVA
Introdução
Além de nutrir, dietas enterais
especializadas podem ter efeitos
farmacológicos, modulando as
respostas inflamatória e imunológica, e
melhorando a morbidade e mortalidade
de pacientes críticos e
imunosuprimidos.
Introdução
Nutrientes Imunomoduladores
MACRONUTRIENTES
Aminoácidos
Glutamina*
Arginina
Lipídios
Omega-3*
MICRONUTRIENTES
Vitaminas
Vitamina A
Vitamina C
Vitamina E
Minerais
Zinco
Selênio
Zaloga et al al. Nutr Clin Pract, 19, 2004
Glutamina
• Constitui >50% dos aminoácidos do músculo
esquelético
• Transporta nitrogênio do músculo para
outros órgãos
• Aminoácido não-essencial, mas
condicionalmente essencial no
hipercatabolismo
Zaloga et al al. Nutr Clin Pract, 19, 2004
Glutamina – Principais Funções
INTEGRIDADE DA MUCOSA
INTESTINAL
PROLIFERAÇÃO DE CÉLULAS
IMUNES
SÍNTESE DE GLUTATIONA
Biossíntese
nucleotídeos
Síntese
hexosaminas
Coleção de
amônia
Sinalização de
moléculas
Equilíbrio
ácido-básico
Combustível
metabólico
Biossíntese
glicose/glicogênio
Síntese
protéica
GLUTAMINA
Biossíntese da
glutationa
Modulação da
resposta inflamatória
Pool de aa
Síntese
uréia
Montgomery et al. Biochemistry. A Case-oriented Approach, 1996
Glutamina e Stress
• Redução das Concentrações Sanguíneas:




Trauma
Choque
Grandes cirurgias
Sepse
• Conseqüências:




Alterações na dinâmica protéica
Atrofia da mucossa intestinal
Depressão da função imune
Pior prognóstico do paciente
Montgomery et al. Biochemistry. A Case-oriented Approach, 1996
Glutamina – Estudos Clínicos Selecionados
ESTUDO
N
MÉTODO
RESULTADOS
Ziegler et al. Ann
Intern Med, 1992
45 TMO
(controle=24)
26d – 0,57g/kg/d Gln
 BN,  infecções, re-colonização do
TGI,  permanência hospitalar
Schloerb et al.
JPEN, 1993
29 TMO
(controle=16)
30d – 2,83
g/100mL/d Gln
 Cultura microbiana positiva
O’Riordain et al.
Ann Surg. 1994
22 cirúrgicos
(controle=10)
6d – 0,18g/kg/d GlyGln
 Síntese DNA células T
Van der Hulst et al.
JPEN, 1997
20 dça inflamat,
câncer (contr=10)
12d – 0,23g/kg/d Gln
Tempo de vida das células intestinais
Powell-Tuck et al.
Gut, 1999
168 c/ indicação
(controle=85)
8d – 20g/d Gln
Permanência hospitalar em cirúrgicos
Jiang et al. JPEN,
1999
120 cirúrgicos
(controle=60)
6d – 0,5g/kg/d AlaGln
BN, preservação da permeabilidade
intestinal, permanência hospitalar
Van Acker et al. Am
J Clin Nutr, 2000
23 cirúrgicos
(controle=10)
8-10d – 0,21g/kg/d
Ala-Gln
Suplementação não inibiu síntese
endógena de Gln
Glutamina e Peritonite/Sepse
Estudos Experimentais Selecionados
ESTUDO
MÉTODO
RESULTADOS
Ling et al. JPEN,
2001
NPT + Desafio bacteriano
intraperitoneal
 Resposta imune local, sistêmica e de
órgaos remotos
Ikeda et al. JPEN,
2002
NPT + Injúria intestinal:
isquemia/reperfusão
 Sobrevida
Yeh et al. World J
Gastroenterol, 2005
NPT + peritonite séptica
 Expressão do RNAm das citocinas
inflamatórias e TNFα
Yeh et al. Cytokine,
2005
VO (dieta semi-sólida) +
sepse derivada do intestino
 Resposta imune
Singleton et al. Crit
Care Med, 2005
Gln IV c/ SF + sepse
derivada do intestino
Preveniu injúria pulmonar, disfunção
metabólica do tecido pulmonar e
mortalidade
Singleton et al.
Shock, 2005
Gln IV c SF + sepse e ARDS
 Sobrevida, atenuação da ARDS
Arginina - Conflitos
• Tem efeito imunomodulador
• Controvérsia: suplementação na sepse?
 Não: Ochoa et al, Nutr Clin Pract, 19, 2004
Heyland et al, Nutr Clin Pract, 19, 2004
 Sim:
Zaloga et al, Nutr Clin Pract, 19, 2004
• Seu benefício ou risco parece depender da
quantidade administrada
Metabolismo da Arginina
metilargininas
Glutamina
PROTEÍNA
DIETA
Glutamina
Glutamato
Prolina
DIETA
Arginina
PROLINA
GLUTAMATO
Citrulina-N
o
l
ic
CITRULINA
NOS
O
C
NH3
lo da Uré ia
c
i
C
ARGININA
Creatina fosfato
ORNITINA
URÉIA
ON
NO
CREATINA
Arginase
AGMATINA
Zaloga et al al. Nutr Clin Pract, 19, 2004
putresceno
POLIAMINAS
Óxido Nítrico
•
•
•
•
•
Mediador da resposta imune
Neurotransmissor
Radical livre citotóxico
Vasodilatador
Fator antiaterogênico, antiproliferativo e
antitrombolítico
• Forma peroxinitrito potente oxidante
 Injúria e morte celular (macrófagos e
fagócitos)
Zaloga et al al. Nutr Clin Pract, 19, 2004
Lipídios
• Triglicerídeos de Cadeia Longa (TCL)
 n-3: óleo de peixe
 n-6: óleo de soja
 n-9: óleo de oliva
• Triglicerídeos de Cadeia Média (TCM)
 Óleo de coco
Montgomery et al. Biochemistry. A Case-oriented Approach, 1996
Ômega-6 e Ômega-3
Ácido Docosaexaenóico
(DHA)
Ácido Araquidônico
(AA)
Ciclooxigenase
5-lipooxigenase
Ácido Eicosapentaenóico
(EPA)
5-lipooxigenase
Ciclooxigenase
PGH2
TXA2
LTB4
PGI2
LTC4
PGD2
LTD4
PGE2
LTE4
PGF2
Levuglandinas
PGH3
TXA3
PGI3
PGD3
PGE3
PGF3
LTB5
LTC5
LTD5
LTE5
Linder, MC. Nutritional Biochemistry and Metabolism with Clinical Applications , 1991
Problemas dos Ômega-6
• Alteração da contagem total de linfócitos, sua
proliferação e citotoxicidade
• Alteração da produção de citocinas e células NK
• Efeitos imunomoduladores na geração de mediadores
lipídicos durante hipercatabolismo, sepse, choque e
trauma
• Pacientes críticos: adm. recomendada
< 0,12g/kg/hora
Montgomery et al. Biochemistry. A Case-oriented Approach, 1996
Lipídios na
Resposta Inflamatória e Imune
• Depende da proporção de n-3:n-6
• A competição do n-3 com o n-6 resulta em:
 Supressão da formação de mediadores próinflamatórios (LT4 e TX2)
 Favorecimento da formação de mediadores
com
 potencial inflamatório (séries 5 e 3)
Montgomery et al. Biochemistry. A Case-oriented Approach, 1996
Ômega-3 e Ômega-6 – Conclusão
A melhor proporção de n-3:n-6 é de 1:2
•  relação LTB5/LTB4
• Modulação mais favorável da
síntese de mediadores lipídicos
Duarte, 2003.
Ômega-3 e Peritonite/Sepse
Estudos Experimentais Selecionados
ESTUDO
MÉTODO
RESULTADOS
Chyi et al. Clin Nutr,
2000
Dieta VO - Oleo peixe x
Açafrão – sepse intestinal
Sem diferença na sobrevida.
Chao et al. Nutrition,
2000
NPT – Óleo de peixe x
Açafrão – sepse intestinal
Sem diferença nos níveis de citocinas
e LTB4. OP:  acúmulo de gordura
hepática
Lanza-Jacoby et al.
Nutrition, 2001
NPT x 4 dias – Óleo de peixe
x Soja – sepse intestinal
 Sobrevida; evitou a supressão
induzida pela sepse da proliferação de
linfócitos e a liberação da IL-2
Sepse

Causa principal de morte e complicações em
pacientes cirúrgicos e vítimas de trauma =>
disfunção de múltiplos órgãos.

Pouca melhora do índices de mortalidade desde
1970. Prováveis razões:

Falha no desenvolvimento de novas abordagens
terapêuticas
 dificuldades:
interpretação errônea de dados pré-clínicos
e de estudos experimentais (não mimetizam
adequadamente a sepse humana)Duarte, 2003.
Sepse Experimental - Modelos
1)
Infusão Endovenosa de Endotoxinas
Ratos: necessidade de infusão de grande quantidade (tóxica).
Humanos: sensíveis à pequenas quantidades. Modelo de
choque endotóxico, mas não de sepse
Riedemannn et al. J Clin Invest, 112, 2003
2)
Infusão Endovenosa de Bactérias Vivas
Bom para grandes animais – induz alterações graves no débito
cardíaco e na perfusão tecidual
Silverstein et al. Infect Immun, 68, 2000
3)
Ligadura e Perfusão do Ceco
Representa situação mais próxima daDuarte,
peritonite
2003. em humanos
Wicherman et al, J Surg Res, 29, 1980
Sepse Experimental - Modelos
4) Inoculação Intraperitoneal de Bactérias Fecais
Animais parecem tolerar suas próprias fezes
5) Inoculação Intraperitoneal de Escherichia coli
Desenvolvimento de sepse em ratos com alta mortalidade –
simula foco séptico, com liberação contínua e lenta de
bactérias ou suas toxinas na circulação
Ahrenholz e Simmons. Surgery, 88, 1980
Sebben et al. Acta Cir Bras, 21(3), 2006
Objetivo Geral
• Avaliar peso e tempo de sobrevida de
ratos, antes e após insulto inflamatório,
com o uso de fórmula enteral
imunomoduladora (grupo de estudo) ou
fórmula padrão-normal (grupo-controle).
Objetivos Específicos
• Comparar a evolução de peso dos ratos do GI e
do GP, antes, após a indução da inflamação e no
momento da morte;
• Comparar, após a morte, os níveis de neutrófilos
pulmonares entre os grupos de dieta
imunomoduladora (GI) e dieta padrão-normal
(GP);
• Comparar o tempo de sobrevida entre os dois
grupos.
Método
1. Tipo de Estudo
Randomizado, prospectivo e
experimental
2. População
30 ratos adultos, 15 recebendo dieta
padrão (GP) e 15 recebendo dieta
imunomoduladora (GI)
Formulação das Dietas
PADRÃO NORMAL
IMUNOMODULADORA
Calorias/mL
2,0
2,0
Distribuição
calórica
Proteína: 25%
Carboidratos: 55%
Lipídios: 20%
Proteína: 25%
Carboidratos: 55%
Lipídios: 20%
Fonte de Proteínas
Caseinato de cálcio
Caseinato de cálcio + glutamina suplementar
(160 mg/dia: 35 g/dia para homem de 70 kg:
rato de 275 g ou 0,275 kg = ~0,14 g/dia)
Fonte de
Carboidratos
Oligossacarídeos (polímeros de Oligossacarídeos
glicose)
(polímeros de glicose)
Fonte de Lipídios
Triglicerídeos de cadeia longa Triglicerídeos de cadeia longa ômega-6 e
ômega-6 (óleo de soja) (100%)
ômega 3 (2:1) (óleo de soja + óleo de peixe)
Proteínas (g/dia)
5
4,85 + 0,15 de glutamina
Carboidratos
(g/dia)
11
11
Lipídeos (g/dia)
1,8 de óleo de soja
1,2 de óleo de soja e
0,6 de óleo de peixe
Volume total
40 mL
40 mL
Método
Dia 0
Dia 1
Dia 7
Dia 8
Término
Jejum
Peso
Início
inicial
dos
ratos
das
da dieta às
dietas às 17:00 h
8:00 h
Peso dos
ratos
Dia 9
Indução
da
sepse pela
manhã
Oferecidas
ração e
água na
gaiola
Dias
subseqüentes
Oferecidas
ração e água
na gaiola
Peso na morte
Análise de
neutrófilos
pulmonares
Método
•
•
•
Ratos pesados em balança única e padronizada.
Seleção de peso aproximado de 275-300 g.
Indução da sepse:
•
•
•
•
Peritonite por meio da inoculação de suspensão padrão de
Escherichia coli 0,5 x 108 UFC/ml (Laboratório de Microbiologia
da PUCPR).
Via peritoneal, 0,8 ml da solução => punção da região do
quadrante inferior direito;uso de agulha 13 x 4,5 G.
Bactéria Escherichia coli, ATCC 25922, LOTE 1184.
Após óbito: laparotomia e coleta de secreção peritoneal para
cultura, sendo semeada em meio seletivo para bactérias gramnegativas, ágar Mac Conkey (Laboratório de Microbiologia da
PUCPR).
Resultados
Peso e Mediadores Inflamatórios entre os
Grupos
Dieta Padrão
Período
Início
(todos)
Final da
Dieta
Morte
N
30
15
15
Peso (g)
287,46,6
270,316,9 267,96,6
Neutrófilos
pulmonares
(cel/campo)
-
-
12,53,4
Dieta Imunomoduladora
p
-
Final da
Dieta
15
0,001* 285,113,6
0,6**
-
-
MédiaDP; *p entre início e final da dieta; **p entre final da dieta e morte
Morte
15
p
-
268,95,8
0,5*
0,0002**
10,23,1
NS
Resultados
Neutrófilos Pulmonares Após a Morte
18
NEUTROFILOS (cel/campo)
p=0,1287
16
14
12
10
8
±Desvio
6
Grupo de Estudo
Grupo Controle
padrão
±Erro padrão
Média
Resultados
Evolução de peso nos três momentos
290
287,4±6,6
287,4±6,6
285,1±13,6
285
Inicial
Término da Dieta
Óbito
Peso (g)
280
275
270,3±16,9
268,9±5,8
267,9±6,5
270
265
260
255
Controle
Estudo
p<0,001 para o grupo controle do início ao término da dieta; p=0,01 nos pesos no final da dieta, entre os dois grupos;
p=0,0002 para o grupo de estudo, do término da dieta até o óbito.
Conclusão
A dieta imunomoduladora com manipulação da
glutamina e dos ácidos graxos ômega-6 e
ômega-3:
1)
Preservou o peso dos ratos
•
2)
3)
Melhora do anabolismo? Otimização das calorias e nutrientes
ingeridos?
Não apresentou diferença no tempo de vida
Não apresentou diferença na resposta
inflamatória
•
Tamanho da amostra?
Download

Efeito da Imunomodulação da Nutrição Enteral