Uma análise da mudança organizacional: um estudo de caso de uma instituição de ensino superior Paulo Daniel Batista de Sousa (UFPR – FAG) e-mail: [email protected] Rua Marechal Deodoro, 1653 Bloco 4 apto 41 85802-210 Cascavel/PR Telefone: (45) 2229074 Eduardo Angonesi Predebon (UFPR) e-mail: [email protected] Rua Des. Motta, 1243/1001 80250-060 Curitiba/PR Milena Brustolin Mohr (FAG) e-mail: [email protected] Rua Presidente Bernardes, 1645 Res. Olinda apto 08 85801-180 Cascavel/PR 1 Uma análise da mudança organizacional: um estudo de caso de uma instituição de ensino superior RESUMO O objetivo deste artigo é apresentar os resultados de um estudo realizado em uma universidade privada, no Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil. Parte-se da idéia de que as mudanças no ambiente físico e institucional devem ser vistas como um processo de mudança organizacional, já que possuem um grande potencial de interferência sobre vários aspectos da organização. Os resultados da pesquisa trazem evidências de que as pressões institucionais rumo à modernização do ensino superior brasileiro afetaram a forma organizacional e a conduta estratégica da instituição estudada, alterando, sobremaneira, suas estruturas e posicionamentos de gestão. PALAVRAS-CHAVES: Ensino Superior; Mudança Estratégica; Ambiente. 1 - INTRODUÇÃO As instituições de ensino superior têm sido objeto de numerosos debates críticos nas ciências sociais nos últimos anos. A necessidade crescente do desenvolvimento de programas, cursos e atividades de ensino são uma exigência da globalização, que coloca a atividade acadêmica e, especialmente, as instituições de ensino como players do mercado globalizado (DELANTY, 2001). Esse novo cenário colocou as instituições de ensino em uma posição delicada, propiciando o surgimento de novas organizações educacionais para atender a demanda crescente e a nova realidade do mercado de ensino brasileiro, que exige, cada vez mais, preços competitivos e boa qualidade de serviços em um curto espaço de tempo. O aumento da oferta desses serviços, juntamente com a elevação do mercado potencial gerado pela receptividade à sua implementação, mereceu uma reflexão mais atenta e estruturada do Ministério da Educação brasileiro. Antigamente, as políticas de ensino superior brasileiras levaram o sistema de credenciamento de instituições e de autorização de cursos a uma burocratização excessiva, além da formação de vários cartéis, com reservas territoriais de mercado e a constituição de cartórios com poder de emitir diplomas de ensino superior, por prazo ilimitado e sem avaliação de qualidade. Segundo dados do Ministério da Educação, no período de 1980 a 1994, no Brasil, houve um crescimento de 20% das matrículas, com redução de 3,5% no número de instituições de ensino superior e um crescimento de 26% no número de cursos. No período seguinte, de 1994 a 1999, houve um crescimento de 23% no número de instituições de ensino superior, com uma expansão de 43% nas matrículas. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002) Essas mudanças “evolutivas” ocorreram pela implementação de algumas práticas pelo Ministério da Educação, entre elas, temos: primeiramente, uma divisão mais clara de responsabilidades entre o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação; segundo, uma clara divisão de responsabilidades dentro do ministério entre a SESU (Secretaria de Ensino Superior) e o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais); e terceiro, a incorporação do sistema de avaliação, segundo critérios automáticos, no processo de supervisão, ou seja, nos processos de credenciamento, recredenciamento e descredenciamento de instituições e de autorização, fechamento, reconhecimento e suspensão do reconhecimento de cursos. 2 Essa posição do Ministério da Educação visou a um maior controle social, objetividade e transparência na condução do controle da qualidade da expansão do ensino superior no Brasil, apesar de apupos em contrário, que afirmam que essa atuação seria autoritária, centralizadora e burocrática. Apesar desse ambiente ebulitivo, algumas instituições de ensino optaram por apresentar novas e arrojadas abordagens da educação e aprendizagem, visando à obtenção de diferenciais competitivos, como condição fundamental para a sobrevivência no turbulento mundo do ensino universitário brasileiro. Esse trabalho propõe uma aplicação dos conceitos do modelo de análise da mudança em organizações, que seriam influenciadas por fatores de natureza cognitiva e de natureza institucional, proposto por MACHADO-DA-SILVA, FONSECA e FERNANDES (1999), por meio de um estudo realizado em uma organização de ensino superior do Bolsão Sul-matogrossense, na região Centro-Oeste do Brasil. O trabalho está estruturado em cinco seções, além dessa introdução. A primeira apresenta uma revisão da literatura, estabelecendo o quadro referencial teórico. A segunda seção introduz as principais alterações estruturais ocorridas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, no período compreendido entre 1995 e 2002. Na terceira seção, discutem-se as mudanças organizacionais ocorridas na instituição foco do estudo. Na quarta seção, discutem-se as mudanças ambientais, seus reflexos e influências. E, na última parte, apresentam-se as considerações finais a que o estudo permitiu chegar. 2 - REFERENCIAL TEÓRICO Nos estudos organizacionais, o ambiente nem sempre foi visualizado como um fator determinante das ações e decisões. MORGAN (1996) ressalta que, no princípio, as organizações eram tratadas como sistemas fechados, onde a ênfase recaía, exclusivamente, sobre o planejamento interno e no aperfeiçoamento do processo produtivo. Com o ocorrer do tempo, passou-se a considerar as organizações como sistemas abertos, que interagiam com o ambiente, influenciando-o e sendo por ele influenciadas. SCOTT (1998) esposa esta mesma opinião, considerando que toda organização existe em um ambiente físico, tecnológico, cultural e social específico, que influencia as estruturas e as operações organizacionais, à medida que é igualmente influenciado por estas. Nesse sentido, a teoria, tanto quanto a pesquisa, tem gerado idéias sobre o processo que define e explica a mesma questão em ambientes organizacionais e sua influência sobre a conformidade ao ambiente (ROSSETO e ROSSETO, 2000). Para TORTATO e MACHADO-DA-SILVA (1999) o ambiente organizacional encontra-se em permanente estado de mudança, o que torna crucial a observação e o estudo desse fenômeno, que evolui a passos largos e rápidos, tornando a análise organizacional cada vez mais complexa. PEREIRA (2000) complementa que não só a organização estaria em contínua mudança, mas igualmente seus ambientes, onde as organizações poderiam redefinir, mudar e influenciar seu ambiente em causa própria. Tais mudanças, segundo CRUBELLATE e MACHADO-DA-SILVA (1998), influenciariam inclusive o próprio papel do Estado contemporâneo, que seria obrigado a abandonar seu caráter essencialmente intervencionista e começar a agir como instância reguladora da sociedade. Ao realizarem um estudo em uma universidade pública, CRUBELLATE e MACHADO-DA-SILVA (1998) evidenciaram a fortíssima pressão ambiental existente no meio educacional, sustentada por premissas econômicas relacionadas a padrões adequados de eficiência e eficácia e a escassez crescente de recursos públicos. 3 Essa situação auxiliou na compreensão e visualização de que o ambiente externo, teoricamente construído, pode ser visto como fenômeno objetivo, mas sujeito a diferentes interpretações dos membros organizacionais. Logo, a interdependência entre organização e ambiente seria mediada por fatores internos às organizações que afetariam a percepção e a interpretação dos agentes organizacionais em relação às pressões contextuais (CRUBELLATE e MACHADO-DA-SILVA, 1998). Ao elaborarem-se e difundirem-se regras e procedimentos as organizações adquirem legitimidade e suporte contextual (DIMAGGIO e POWELL, 1991; SCOTT 1998). E, dessa forma, ao adequarem sua forma organizacional às pressões exteriores, submetendo-se a regras, normas e procedimentos, conquistam legitimidade social (HATCH, 1997). Esta busca pela legitimação social é uma das características do ambiente institucional, que ocorre por meio da conformidade da organização com as normas e regras socialmente estabelecidas (SCOTT, 1995; SCOTT, 1998). O ambiente seria, de certa forma, uma elaboração cognitiva: as empresas com quem concorrer, o rol de fornecedores e clientes, enfim o domínio de atuação seria uma opção organizacional regida pela concepção de mundo. Dessa forma, no âmbito dessa delimitação, criam-se regras e procedimentos organizacionais considerados legítimos, aos quais a organização se sujeita para sobreviver (MACHADO-DA-SILVA, FONSECA e FERNANDES, 1999). Essa delimitação caracteriza o fenômeno do isomorfismo, forma de institucionalização de regras e estruturas organizacionais, ou seja, a tendência à padronização das formas e estruturas organizacionais dentro de um dado setor (VASCONCELLOS e VASCONCELLOS, 2000). SCOTT (1998) ressalta que o isomorfismo seria uma das principais formas de ligação estratégica entre os ambientes institucionais, pela incorporação de regras institucionais em suas próprias estruturas, tornando as organizações mais homogêneas, mais similares na estrutura, com o passar do tempo. DIMAGGIO e POWELL (1991) atentam para o fato de existirem três mecanismos que impulsionam as organizações rumo ao isomorfismo: a) isomorfismo coercitivo: resultante das pressões formais e informais exercidas sobre as organizações em situação de dependência e pelas expectativas culturais da sociedade onde se inserem; b) isomorfismo mimético: baseia-se nas incertezas em relação ao ambiente e da observação e imitação de características alheias à organização. c) isomorfismo normativo: relaciona-se à profissionalização, à definição coletiva de condições e métodos de trabalho. Evidentemente, o reconhecimento das pressões isomórficas não implica a eliminação da possibilidade de uma ação diferenciada por parte da organização, especialmente, quanto a possuir um certo grau de autonomia e controle sobre as condições ambientais na busca da concretização de seus objetivos ou na manutenção de seus interesses (MACHADO-DA-SILVA, FONSECA e FERNANDES, 2000). A extensa e complexa discussão sobre o institucionalismo não é o tema deste trabalho, porém não se pode olvidar que as versões iniciais da teoria institucional já colocavam ênfase particular sobre o caráter legitimado das regras institucionais, mitos e crenças, moldando a realidade social e sobre o processo pelo qual organizações tendem a tornar-se impregnadas de valor e significado social (ROSSETO e ROSSETO, 2000). 3 - INDUTORES DE MUDANÇA Aspectos Macroeconômicos A construção da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná: A ponte rodoferroviária propiciará o ligamento da região Centro-Oeste, uma das principais regiões agrícolas do país, com destaque para a produção de soja e milho, com os portos de Sepetiba (RJ) e Santos (SP), através de um 4 corredor 1.300 km quilômetros de extensão. Além disso, esta obra facilitará a interligação com a hidrovia Tietê-Paraná e com os portos de Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC). (FOLHA DA REGIÃO). O início da construção da FERRONORTE: o primeiro trecho de 400 km foi construído entre Aparecida do Taboado (MS) e Alto Taquari (MT), um investimento da iniciativa privada no montante de R$ 1.300.000.000,00 (Um bilhão e trezentos milhões de reais). Na divisa com o estado de São Paulo, precisamente na cidade de Rubinéia a FERRONORTE, se interligará com a FEPASA (Ferrovia Paulista S.A); a partir da região do Alto Taquari, estado de Mato Grosso do Sul, a ferrovia segue para Cuiabá (MT), onde o projeto prevê uma bifurcação da ferrovia formando um Y, seguindo na direção Noroeste até Porto Velho (RO), numa extensão de 1.500 km e na direção Norte com mais 200 km até Santarém (PA). Futuramente, esta ferrovia se unirá à hidrovia do rio Amazonas, interligando totalmente a Região Norte com o restante do Brasil. Quando completo, este corredor de escoamento produtivo terá uma extensão de 1.850 km até o porto de Santos (SP) e de 2.100 km até o porto de Sepetiba (RJ). Calcula-se que esta obra propiciará, no mínimo, uma economia de cinco bilhões de dólares nos próximos quinze anos. (FERRONORTE) A construção da hidrovia Tietê-Paraná: o rio Tietê banha uma extensão aproximada de 800 km2, atravessando praticamente todo o Estado de São Paulo, abrigando paisagens e recursos energéticos que fomentam o surgimento de pólos industriais, além de desenvolver o turismo, o lazer e a cultura regionais. Às margens do Tietê existem cerca de 220 municípios, com uma população aproximada de quatro milhões de habitantes. Ao longo do seu percurso foram construídas seis barragens que geram 25 milhões de Kw de energia elétrica. E, em toda sua extensão podem-se identificar 18 pólos regionais turísticos com boa infra-estrutura. Além do Estado de São Paulo, a hidrovia favorece outros estados da União, tais como: Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, fazendo divisa com uma área de 76 milhões de hectares, cerca de 9% do território brasileiro; essa área incorpora quatro dos cinco maiores estados agrícolas do país. Toda esta região é povoada por cinqüenta milhões de habitantes (33% da população brasileira) e concentra as melhores universidades do país, produzindo mais de 50% do PIB nacional. A construção do gasoduto Brasil – Bolívia: O gasoduto Brasil-Bolívia é, com certeza, um dos maiores feitos, se não o maior, da integração energética na América Latina. Segundo estudos do Governo Federal, o gás natural como matriz energética nacional, deverá passar dos 2.5% (1998) para 12% (2010), contribuindo sobremaneira para o aumento de energia disponível, criando assim, melhores condições de desenvolvimento e competitividade. Alcançado esse crescimento, o Brasil deverá utilizar um volume de 134 milhões de m³/dia, sendo que desse total, 30 milhões de m³/dia serão fornecidos pelo gasoduto Brasil - Bolívia. Aspectos Microeconômicos Alterações no cenário regional O impacto na região foi automático, atraindo indústrias, incentivando o turismo e implantando novas culturas. Nos últimos cinco anos vários balneários foram construídos, bem como dez novos hotéis, e mais seis estão em construção. A fruticultura aparece como uma alternativa, numa região de predominância da pecuária de corte; o rebanho leiteiro passa a receber mais atenção com a vinda das indústrias de laticínios, e outras indústrias começaram a surgir: frigoríficos de frango e de suínos, fábricas de sabão e de suco de frutas, todas atraídas pelos benefícios oferecidos pela região. (FOLHA DO SUL, 01/06/1998) 5 Além de Aparecida do Taboado-MS, que também possui uma fábrica de brinquedos, outros municípios também foram beneficiados de forma imediata: de acordo com a prefeitura, em Paranaíba-MS mais de vinte e seis indústrias foram instaladas, dentre elas uma fábrica de calçados e um curtume de grande porte; em Três Lagoas-MS foram em torno de sessenta empresas, como Champion (papel e celulose) e Mabel (biscoitos), conhecidas nacional e internacionalmente, estão instaladas e em plena produção; outras fábricas de grande porte, como do ramo de tecelagens e de informática estão em fase de implantação (dados da Prefeitura); no lado paulista, cidades como Andradina, Ilha Solteira, Santa Fé do Sul e Jales também sentiram vertiginosamente suas indústrias crescerem, mas o impacto maior foi no comércio devido ao diferencial de ICMS entre os dois estados, que oferece maior competitividade ao estado de São Paulo quanto aos preços dos produtos. Neste sentido, desde o ano de 1998, o Estado de Mato Grosso do Sul implantou um plano de desenvolvimento com a finalidade de oferecer vantagens econômicas e financeiras para as empresas que se instalassem no estado, oferecendo redução na alíquota dos impostos estaduais e prorrogação no pagamento da parte incidente; projeto encampado pelas prefeituras que também dão vantagens, como isenção de IPTU por cinco anos (em alguns municípios este prazo é maior), terrenos, terraplanagem do terreno e extensão da rede de energia até as fábricas, além de incentivarem empresas afins, cuja produção se complementam formando assim, uma cadeia de fornecedores e compradores na própria região. 4 - A SITUAÇÃO EM ESTUDO Criada em 1995, a instituição foco do estudo, contou inicialmente com os cursos de Pedagogia e Ciências Contábeis, hoje possui também o curso de Administração e Letras, com pedidos formulados junto ao Ministério de Educação e Cultura, para os cursos de Direito e Sistemas de Informação. A oferta crescente de novos cursos e o aumento considerável de vagas nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste, mais especificamente, no Bolsão sul-mato-grossense e em parte do Noroeste do Estado de São Paulo, no período entre 1.995 e 2.002, pode ser visualizado nos gráficos 1 e 2, abaixo. 8000 7000 6000 Universidades Públicas 5000 4000 3000 2000 1000 Universidades Particulares 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Gráfico 1 – Evolução do número de vagas nas instituições de ensino superior (1995-2002) Fonte: Dados da pesquisa (2002) Conforme se visualiza nos gráficos 1 e 2, a criação de aproximadamente três mil novas vagas e de trinta e três novos cursos na região analisada ocasionou mudanças drásticas na instituição, que para fazer frente a tal seqüência avassaladora de alterações no ambiente 6 educacional, implantou-se uma série de medidas, que visavam a consolidar a imagem da instituição e a qualificá-la, técnica e fisicamente, para a acirrada competição pelo mercado educacional local. Dessa forma, a instituição, que funcionou até 1997 em um prédio cedido pelo Poder Público Municipal adquiriu um vasto terreno onde começou a construção de sua sede própria, visando melhor alocar seus recursos técnicos e humanos. Com o término da construção e a inauguração do novo prédio em 1998, a instituição partiu para a consolidação de suas práticas educacionais, através do aperfeiçoamento constante de seu corpo docente e da aquisição de novos equipamentos e materiais de ensino. Em 1999, a instituição inaugurou uma nova edificação em seu campus universitário, com a incorporação de quinze novas salas de aula, uma ampla e confortável biblioteca e um auditório com capacidade para duzentas pessoas sentadas. A ampliação da biblioteca implicou uma melhora em seu acervo, com a aquisição de mais de quatro mil livros novos e a confirmação de assinatura de mais de trinta periódicos especializados. No ano seguinte, sempre no intuito de melhorar a infra-estrutura física de seu campus, instalou, em todas as salas, climatizadores de ambiente. Inaugurou um laboratório central de informática, com a aquisição de trinta novos computadores de última geração, permanentemente disponíveis ao corpo discente. 100 80 Universidades Públicas 60 40 20 Universidades Particulares 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 0 Gráfico 2 – Evolução do número de cursos nas instituições de ensino superior (1995-2002) Fonte: Dados da pesquisa (2002) Já em 2001, inaugurou um laboratório de línguas, com isolamento acústico e totalmente equipado para o controle e ensino de uma correta pronúncia em qualquer uma das diversas línguas estrangeiras ministradas em seu campus. Visando aumentar sua penetração no mercado educacional e satisfazer as necessidades crescentes da comunidade local, a instituição instalou, entre os anos de 2000 e 2001, cinco novos cursos de pós-graduação, permitindo aos alunos já graduados a continuação e aperfeiçoamento de seus estudos. Em 2002, inaugurou o curso de Letras. Dando continuidade a sua política de melhorias contínuas em sua infra-estrutura, a instituição adquiriu 20 novos computadores para seu laboratório central de informática e, aproximadamente, 1.500 novos livros para sua biblioteca central. Interessante ressaltar que, dada a brutal concorrência, o Centro Educacional Visconde de Taunay não pode efetuar aumentos, tampouco reajustes em suas mensalidades, porém, isso não foi impedimento para que continuasse a oferecer um ensino de ótima qualidade e melhorasse, sensivelmente, sua estrutura física e humana. 7 5 - MUDANÇAS AMBIENTAIS: INFLUÊNCIAS E REFLEXOS Assim, partindo-se da idéia de que as mudanças no ambiente físico e institucional devem ser vistas como um processo de mudança organizacional, já que possuem um grande potencial de interferência sobre vários aspectos da organização, pode-se notar que a instituição passou por uma reformulação de suas práticas até então desenvolvidas, visando otimizar seus resultados, bem como melhorar a qualidade de seus serviços. Como conseqüência destas reformulações, delineou-se uma mudança na estrutura organizacional, visando à institucionalização das novas diretrizes, especificamente no que diz respeito aos objetivos, às metas e às estratégias definidas para a organização. Dessa forma, observou-se uma tendência a um comportamento isomórfico, dada a pressão institucional coercitiva, como já salientaram DIMAGGIO e POWELL (1991). Isso se deve as crescentes mudanças ocorridas em seu ambiente técnico e institucional, em suma, em seu contexto ambiental. Essas pressões do contexto ambiental reforçam os modos de organização existentes através das pressões normativas provenientes do meio exterior. Estas pressões modelam e imprimem uma certa direção às mudanças por intermédio das forças imitativas, normativas e coercitivas (HININGS e GREENWOOD, 1989). 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Pretendeu-se, neste trabalho, contribuir para a discussão do modelo de análise de mudanças organizacionais proposto por MACHADO-DA-SILVA, FONSECA e FERNANDES (1999) através da avaliação crítica de um processo de mudança organizacional de uma instituição de ensino superior, localizada no bolsão sul-mato-grossense. Os resultados da pesquisa trazem evidências de que as pressões institucionais rumo à modernização do ensino superior brasileiro afetaram a forma organizacional e a conduta estratégica da instituição, alterando, sobremaneira, suas estruturas e posicionamentos de gestão. Isto se deve, em grande parte, às exigências legais e às ações dos órgãos reguladores. Assim, as mudanças ocorridas na estrutura de fiscalização e vigilância das organizações educacionais, passando de atividades básicas de inspeção para a função de difusão e acompanhamento de programas e ações que visam a melhora contínua do ensino superior brasileiro, certamente induziram e catalisaram as mudanças organizacionais ocorridas. Tal fato corrobora a afirmação de MINTZBERG e WESTLEY (2000) de que a dimensão ambiental física requer sustentação por parte de sua dimensão institucional associada. Semelhante idéia foi constatada por MACHADO-DA-SILVA e NOGUEIRA (2001) ao evidenciarem a importância do contexto institucional de referência nos processos de mudança organizacional, em especial, no que tange à identidade organizacional. Finalmente, recomendamos a elaboração de pesquisas complementares ao tema proposto, em particular, analisando uma amostra maior de instituições de ensino superior. 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUBELLATE, J.M. MACHADO-DA-SILVA, C.L. 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