2° CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS RIBEIRÃO PRETO - SP ÁREA TEMÁTICA: TRANSFORMAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Autor Antonio Vico Mañas E-mail: [email protected] RESUMO A maioria das organizações ligadas ao terceiro setor não possui acesso ao processo de tratamento da informação e de sua transformação em conhecimento. Na raiz deste problema está a falta de cultura da informação devida a diversas circunstâncias, dificuldades e questões que as envolvem. Todavia, as organizações do terceiro setor, como entidades irradiadoras de informação não só na comunidade em que estão inseridas, devem estar munidas de recursos que possibilitem o tratamento adequado dos dados para extração e disseminação de informação. Mais que informação, uma organização do terceiro setor, com o capital intelectual que possui (heterogêneo, diversificado e com grande quantidade de voluntários) deve acrescentar sabedoria à informação e fornecer conhecimento à comunidade / sociedade. Neste artigo discutese a utilização da gestão do conhecimento no ambiente (político, econômico e social) em que convivem as organizações do terceiro setor, a partir da análise da bibliografia encontrada, com o objetivo de interpretar os diferenciais, necessidades e competências dessas organizações. Palavras-Chave: Sistema de Informação, Conhecimento e Terceiro Setor. INTRODUÇÃO O ambiente sócio-econômico vive momentos de transição. A competitividade em todas as áreas passou a ser fundamental e a gestão do conhecimento, segundo Terra (2000), adquire um papel central. As transformações ocorridas nos últimos anos, foram impulsionadas, principalmente, pelo avanço tecnológico. Vive-se, atualmente, numa sociedade baseada na informação e no conhecimento. Outrora, vantagens como localização, acesso à mão-de-obra barata, capital financeiro, recursos naturais, instalações e propriedades eram mais determinantes do que pessoas com acesso rápido à informação e com a sua capitalização em conhecimento. As organizações buscam vantagem competitiva valorizando as pessoas e por via da adaptação de suas tecnologias de informação e comunicação, o que tem ocasionado o surgimento de novas organizações, isto é, estruturas criadas para atuar no seu ambiente, baseadas no conhecimento. Estas organizações aproveitam-se de sistemas de informação e comunicação para compartilhar o conhecimento com os envolvidos. Sua forma de ser faz com que ao aproveitar-se de sistemas integrados de informação compartilhem o conhecimento entre todos aqueles que participam do processo de dinamização do capital intelectual da organização. Entretanto, a economia do conhecimento demanda novas formas organizacionais, que sejam orgânicas, flexíveis, que aparentemente se assemelhem a situações caóticas, mas suficientemente coordenadas de maneira tal, que o conhecimento possa ser criado, armazenado, recuperado e reutilizado. Com o surgimento de novas bases, isto é, o conhecimento, a sociedade e as organizações sofrem mudanças. As conseqüências estão interligadas a períodos de incerteza e crises que, par-e-passo à mundialização dos mercados e à informatização, geram a necessidade de compreensão e só então, a possibilidade de criação de diferenciais competitivos, que venham a assegurar a sobrevivência das organizações neste novo contexto. Neste contexto, então, percebe-se a necessidade de criação de uma mentalidade empresarial/empreendedora que priorize o tratamento de informações, tanto estruturadas quanto não estruturadas. O desenvolvimento e garantia de sucesso das organizações pode ser entendido como possível, graças, cada vez mais, à capacidade de coletar, tratar, interpretar e utilizar a informação de forma eficaz. A maioria das organizações ligadas ao terceiro setor não possui acesso ao processo de tratamento da informação e de sua transformação em conhecimento. Na raiz deste problema está a falta de cultura da informação devida a diversas circunstâncias, dificuldades e questões que as envolvem. Todavia, as organizações do terceiro setor, como entidades irradiadoras de informação não só na comunidade em que estão inseridas, devem estar munidas de recursos que possibilitem o tratamento adequado dos dados para extração e disseminação de informação. Mais que informação, uma organização do terceiro setor, com o capital intelectual que possui (heterogêneo, diversificado e com grande quantidade de voluntários) deve acrescentar sabedoria à informação e fornecer conhecimento à comunidade/sociedade. 2 Neste artigo discute-se a utilização da gestão dos sistemas de conhecimento no ambiente (político, econômico e social) em que convivem as organizações do terceiro setor, a partir da análise dos resultados encontrados em uma série de estudos bibliográficos, com o objetivo de interpretar os diferenciais, necessidades e competências dessas organizações. 1 SISTEMA Por sistema entende-se alguma coisa constituída em uma série de componentes interdependentes em constante interação, com o intuito de efetivar a consecução de um ou mais objetivos. No sentido de fortalecer a conceituação , parece valer a pena resgatar não só as idéias centrais que levaram à teoria dos sistemas, como também os modelos de diversos autores sobre o assunto. O primeiro resgate é de Ludwig Von Bertalanfy, in Vico Mañas (2001), considerando que, em sua concepção de modelo de sistema aberto, entendia-o como um complexo de elementos em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente. Considera-se que um sistema é sempre parte (componente) de um sistema maior e portanto pode ser visto como subsistema integrado a outros, dentro de um esquema que é representado por ações / energias que alimentam um processo de transformação, obtendo conseqüentemente, saídas. Enquanto o sistema é representado pelo movimento de entrada, processamento e saída, fortalecem-se as avaliações que geram controles e conhecimentos capazes de permitir correções ou desvios que levem aos resultados propostos. Associando o conceito de sistema ao de organizações sociais tem-se, nestas, características que demonstram que não há limite de amplitude, mas necessita de produção e manutenção via entrada, tal qual energia que movimenta o sistema. Além disto, entendese que as organizações sociais são sistemas essencialmente inventados pelo homem e, portanto imperfeitos e ainda sujeitos à variabilidade e instabilidade das ações humanas. Têm, esses sistemas, funções, normas e valores que interagem como subsistemas, técnico, social e cultural, comprovando que qualquer sistema tem sempre mais de um subsistema. Pode entender-se um sistema, como uma rede de informação, verificando-se que uma organização está sempre imersa num espaço contínuo de informações, que uma informação isolada não possui valor intrínseco, que é um tipo de associação que se faz pelos indivíduos, entre as informações disponíveis que determina o valor que elas podem ter contextualmente. Em conseqüência, a validação de uma informação depende do modo como ela é associada e isto conduz a uma reinterpretação na ação consecutiva e a um outro objetivo a ser dado. Cada vez mais, os esquemas sistêmicos não correspondem ao que se poderia esperar atualmente de uma organização, isto porque ela torna-se cada vez mais um sujeito cognitivo e não um sistema fechado. 3 O componente de uma organização pode ser identificado cada vez mais não pela sua função, mas como sendo um ator, e neste caso, a comunicação não estaria reduzida à troca de informações ou dados. A nova dimensão deve compreender igualmente os processos coletivos de produção de sentido, pelos quais seus componentes se engajam uns em relação aos outros. Esta complexidade remete ao entendimento dos acontecimentos e coisas como estilo dominante. Desse estilo depreendem-se posições que são caracterizadas pela dissociação, pela separação, pelo quebrar em partes um todo. Há, então, o esforço de obter saber. Isto é atinente ao ser humano e está também acoplado a um treinamento que força e reforça de maneira automática a que, cada um quando na procura de saberes, divida os fenômenos e não a unir e relacionar acontecimentos. É aí que surge o grande problema: há que se esforçar para entender as relações, as interconexões dos fenômenos. Entende-se como necessidade básica colocar no contexto, globalizar, se é possível utilizar esta palavra fugindo dos padrões que a ela hoje se atribuem, mas querendo confirmar que se faz necessário ligar, unir e isto remete a Morin, conforme Vico Mañas (2001: 258): “A organização complexa é um conceito, ao mesmo tempo que transparece como idealista e realista”. A complexidade de um sistema transita ao mesmo tempo de forma antagônica e complementar. É a dialógica entre ordem / desordem / organização. 2 O QUE É CONHECIMENTO PARA UMA ORGANIZAÇÃO? Dados e informação não são conhecimento, apesar de que em muitas circunstâncias sejam assim considerados. Para Vico Mañas (2001), dados representam conjunto de fatos simples, discretos e objetivos sobre eventos, podendo, numa organização, ser entendidos como registros estruturados de transações oriundas de operações corriqueiras, rotineiras e informação é o dado que uma vez trabalhado permite ao gestor tomar decisões. Geralmente, é entendida como uma mensagem sob a forma de documentos visuais e/ou audíveis. Informação é acima de tudo contextual e acrescenta conhecimento. O conhecimento possui um valor maior que o dado e a informação, pois está relacionado à capacidade de agir. É intuitivo e, conseqüentemente, de difícil definição. Seu conceito está sempre ligado à experiência e aos valores do usuário e ainda, acima de tudo, relacionado a padrões de reconhecimento, analogias e regras implícitas. Outro fator característico do conhecimento consiste no fato de que possui discernimento. Ou seja, o conhecimento é capaz de avaliar novas situações a partir de experiências anteriores, podendo fornecer julgamentos que possibilitem seu próprio aprimoramento e conseqüente evolução. Sua atuação ocorre seguindo normas práticas, desenvolvidas por meio de tentativa e erro, que visualizam padrões e possibilitam agilizar resolução de problemas. Finalmente, o conhecimento, entende-se que opera segundo valores e crenças, pois reside nas pessoas e pode levar a diferentes interpretações para uma mesma situação. O conhecimento pode ser passado mas jamais deixa de ser propriedade de cada um. Davenport, T. & Prusak, L. (1998), afirmam que a ação, resumidamente pode ser considerada como algo que se faz com o conhecimento. 4 Há dois tipos distintos de conhecimento: o tácito, que se refere à experiência, ao poder de inovação e à habilidade dos colaboradores de uma organização para realizar as atividades do dia-a-dia; o explícito, que está relacionado aos procedimentos, aos bancos de dados, etc. O conhecimento tácito para Nonaka, I. & Takeuchi, H. (1997), é o representado pelas experiências individuais, que é trocado e compartilhado diretamente por meio do contato pessoal, e certamente mais difícil de ser transmitido. O conhecimento explícito, para os autores, é conhecimento formal da organização e que pode ser encontrado nas formalizações que a organização tem sobre si mesma. O maior desafio de uma organização é transformar o conhecimento tácito em explícito, isto é, colocar o conhecimento em um formato utilizável para que a organização possa acessá-lo de maneira adequada. A interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, conforme apresentado na Fig. 1, resulta, de acordo com Nonaka & Takeuchi (1997), em quatro modelos de conversão do conhecimento, quais sejam: a) Socialização – que é o processo de compartilhamento de experiências entre os indivíduos de um grupo, desenvolvendo-se freqüentemente por meio da observação, imitação e prática. Desta maneira é possível conseguir a transferência do conhecimento tácito entre estes indivíduos e a associação de um mesmo tipo de conhecimento a diferentes contextos individuais; b) Externalização – que é o processo de organização do conhecimento tácito em conhecimento explícito por meio de metáforas, analogias, conceitos, hipótese ou modelos. A externalização cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito; c) Combinação – que é o processo de sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento. Essa forma de conversão do conhecimento envolve a combinação de conjuntos diferentes de conhecimento explícito, por exemplo, a classificação, sumarização, pesquisa e categorização das informações com a utilização da tecnologia de banco de dados, pode vir a levar à criação de novos conhecimentos. d) Internalização – que é o processo de incorporação do conhecimento explícito no conhecimento tácito. O que se observa no processo de internalização é a capacitação individual do conhecimento que foi extraído para a organização. É uma forma pela qual o conhecimento explícito de aprendizagem por meio de manuais ou documentos volta a assumir um contexto abstrato e subjetivo para cada um dos indivíduos da organização. O conhecimento na organização tem por objetivo melhorar capacidades, competências, habilidades dos colaboradores, ajudar nos processos de melhoria contínua, inovação, tomada de decisão, etc. Muito do que já existe, em tecnologia de informação, está vinculado ao conhecimento explícito. Há grandes armazéns de dados que possuem registradas as experiências e políticas da organização, bem como uma grande diversidade de dados sobre o seu ambiente interno (processos e rotinas) e externo (clientes, beneficiários, fornecedores, governo e concorrentes). A partir dessa base de dados única, instrumentos computacionais e de telecomunicações podem extrair informações úteis ao processo decisório. 5 Socialização Combinação Externalização (Conteúdo Conceitual) TÁCITO Internalização EXPLÍCITO (Conteúdo Operacional) Fig.1 – Ciclo de Conversão do Conhecimento. Fonte: Autor. 3 DEFINIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO Na tentativa de definir um termo bastante atual e que encontra questionamentos na literatura atual, a proposta é partir de alguns conceitos mais utilizados ou aceitos. Pode afirmar-se que gestão do conhecimento é um conjunto de procedimentos, infra-estrutura tecnológica, práticas e instrumentos que venham a permitir a efetiva aquisição, organização e distribuição de informações relevantes para as pessoas certas no tempo certo, de tal maneira que, possibilitem capacita-los a contribuir na realização de seus objetivos de atuação e do negócio a que estão vinculados sempre por intermédio de ações que possam ser entendidas ou valoradas como eficazes. É uma área muito abrangente e atualmente, tratada de diferentes maneiras. Dependendo da área de atuação e interesse recebe enfoques distintos de acordo com os pesquisadores, estudiosos e profissionais de negócios envolvidos. Em Meta Data Coalition (1999), encontra-se a seguinte definição: gestão do conhecimento é uma disciplina que promove uma abordagem integrada para identificar, gerenciar e compartilhar de forma sistêmica todos os recursos de informação de uma organização, incluindo banco de dados, documentos, políticas e procedimentos, assim como, especialidades não articuladas e experiências residentes na mente de cada indivíduo dentro de uma organização. A gestão do conhecimento pode ser entendida como uma coleção de processos que dirige a criação, disseminação e utilização do conhecimento para atingir, com plenitude, os objetivos pré-estabelecidos por uma organização. Definições freqüentemente associadas à gestão do conhecimento encontram-se amiúde na literatura. Dentre elas podem ser destacadas dentre as mais usuais: Memória organizacional; Aprendizado organizacional; Ecologia da informação e Inteligência competitiva. Administrar o conhecimento, em uma organização, é um processo complexo, devendo estar apoiado em diversas tecnologias de informação e de comunicações para a efetiva gestão do conhecimento nessa organização. Considerando ainda que a gestão do conhecimento não consegue ser implementada ou de fato utilizada após a sua implantação como um sistema de procedimentos sem que implique em mudança de cultura, tem-se percebido no mundo das organizações que há necessidade de que o conhecimento seja 6 compartilhado, focado em determinados objetivos mais amplos da organização e principalmente de seu negócio. Cabem neste texto alguns conceitos para o encaminhamento de definições sobre a gestão do conhecimento. Estas definições, encontradas na seqüência, possibilitam o entendimento e a aplicação do processo complexo citado anteriormente: a) Memória Organizacional ou Coletiva É o conjunto de todo o tipo de documentos, diagramas, cartas, relatórios ou quaisquer artefatos e documentos que se tenha ou possa se ter registro na organização. Considerando que a memória individualizada pode desagregar a eficácia de uma organização, interessa a essa mesma organização, ter a propriedade da informação, isto é da memória do que ocorre no seu dia-a-dia. Depender de uma pessoa ou de diversas pode significar não atingir os objetivos maiores, se necessário na operacionalização de ações, quando ela ou elas, a(s) pessoa(s), não esteja(m) presente(s) por qualquer motivo, conforme Vico Mañas (2001). Em Lévy, P. (1993), entende-se que, para que esses artefatos (documentos, etc.) possam vir a representar a memória coletiva ou organizacional necessitam estar inseridas num contexto, isto é, seu processo de criação e desenvolvimento não pode ser perdido, bem como sua relação e associação com os demais formadores desse conjunto. b) Aprendizado Organizacional Segundo Nonaka, I. & Takeuchi, H. (1997), é um processo de mudança adaptativo e gerativo influenciado pela experiência passada, concentrado na modificação ou no desenvolvimento e criação de rotinas, apoiado pela memória organizacional. Diz Spender, J. C., in Fleury e Oliveira Jr. (2001), que os atuais gestores, tem suas limitações, baseadas principalmente, na escassez de pessoas disponíveis para levar a organização à economia globalizada. Isso não quer dizer que o trabalho das pessoas seja desqualificado, mas diz respeito aos agentes humanos que podem reunir recursos intangíveis com recursos convencionalmente gerenciados e, assim, aumentar o valor para o cliente. Nada fácil de ser entendido e aplicado, o que se tem dessas colocações é que, os gestores buscam respostas na gestão do conhecimento é ter respostas e ajuda para tornar o capital humano, em seu sentido mais amplo, central para sua análise. Por capital humano entende-se o conhecimento e as habilidades, bem como a capacidade auto-reflexiva de identificar e encontrar novas fontes de conhecimento e de habilidades. c) Ecologia da Informação É uma discussão que coloca o homem como o centro das atenções da organização e conseqüentemente a tecnologia em posição periférica. Nesta conceituação procurase estudar para entender e então passar a considerar o ambiente informacional em sua totalidade de forma que venha a abranger aspectos como a cultura organizacional, além de seus valores e crenças a respeito da informação. De acordo com Davenport & Prusak (1998), somente tecnologia não basta, na era da informação há elevados gastos que precisam ser feitos, a maioria deles sem que exista contrapartida de utilização, em proporções semelhantes. d) Inteligência Competitiva Pode ser encarada como uma estratégia para as organizações. Objetiva identificar, descobrir o que está ocorrendo no ambiente externo. Saber o que ocorre ao redor de seu negócio ou de seu setor é fundamental para qualquer organização. Segundo Lesca (1996), e Vico Mañas (1999 e (2000), é esse conhecimento que dá aos 7 executivos condições de ter atitudes que levem a tomar decisões que permitam a uma organização obter vantagem sobre os seus concorrentes. Exatamente por este motivo que é tão importante a implementação de sistemas de informação. Não necessariamente é preciso o envolvimento de tecnologia de informação super avançada, apesar de cada vez mais as organizações estarem dependentes de sua ação. O que importa substancialmente é saber o que se quer, integração de objetivos e de estratégias e uma direção clara que faça com que se use toda e qualquer informação. Entende-se que há diversas razões para que uma organização venha a preocupar-se com a gestão do conhecimento, entre elas podem ser destacadas as de Keen, P., 1991, Nonaka, I. & Takeuchi, H. (1997), Terra (1999), Vico Mañas (1999), etc.: a) Desafios da Globalização/Mundialização A integração do mundo da economia leva as organizações à necessidade de ter que produzir mais bens com menos recursos. Como resposta a essas necessidades de mercado, as organizações passam, com freqüência, a optar pela não concentração apenas em suas áreas principais (“core competences”), conforme ensinam Hamel e Prahalad (1995), mas tornando-se organizações altamente diversificadas e verticalmente integradas, de acordo com Vico Mañas (2001). Essa variedade de negócios e tipos de operações reduz as oportunidades de que o conhecimento importante venha a permear pela organização de maneira informal e natural, gerando como conseqüência a maior necessidade de gestão do conhecimento; b) Organizações Virtuais Negócios que antes tinham sua tônica baseada na organização via fronteiras geográficas, estão cada vez mais sendo reorientados, em matrizes de extrema complexidade, para os mercados, produtos e processos. Uma organização virtual é uma “quase-firma” gerada a partir de ligações digitais entre várias organizações que extrapolam suas bases geográficas, sendo praticamente impossível identificar seus limites (KEEN (1991). Toda organização que avança, como virtual, aumenta as suas necessidades de gestão do conhecimento; c) Transitoriedade das Pessoas A mobilidade da mão-de-obra é um fato de nossa vida cotidiana e a base do conhecimento de uma organização se altera a cada reposição.Considerando que as organizações utilizam a gestão do conhecimento, elas tendem a transformar conhecimento em ativo transferível; d) Agregar Valor aos Produtos e Serviços Referenciando-se o que vem se tornando o caso da maioria das organizações. A composição de produtos, bem como a forma com que são oferecidos/fornecidos aos clientes/beneficiários, incorporam uma bagagem de conhecimento sem precedentes. A intensidade de conhecimento nos produtos também é resultado de uma tendência a customização em massa, que vem introduzindo um conhecimento cada vez maior das necessidades particulares do cliente/beneficiário, naquilo que antes era entendido como um produto fechado, isto é, padrão; e) Capacidade de Inovação No momento atual, mudanças rápidas e freqüentes implicam na obsolescência mais rápida do conhecimento, segundo Senge, P. (2000) e Vico Mañas (2001) 8 além da necessidade de conseguir curvas de aprendizado muito acelerado pelas limitações de tempo; bem como, conseguir uma base de conhecimento que tenha consistência, e que permitirá às organizações melhores condições para o melhor e maior aproveitamento das oportunidades que venham a surgir no seu ambiente negocial. 4 A IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO De maneira geral, a implantação nas organizações, de sistemas de gestão do conhecimento, encontram dificuldades. As resistências diminuíram substancialmente entre as décadas de 1990 e 2000. O interesse pela busca e implementação tem aumentado e as dificuldades persistem ainda no campo do conhecimento do processo básico de gerenciamento da informação e conseqüentemente no do conhecimento, uma vez que ainda é pequeno, faltam recursos humanos e financeiros para a própria implantação e ainda, falta de uma cultura voltada ao uso adequado da informação e do conhecimento dentro das organizações, cujos focos estejam direcionados para as suas estratégias e linguagens entre os seus diferentes setores, conforme De Long, D.; Davenport, T.; Beers, M. (1997). De uma forma bastante abrangente pode-se afirmar que as etapas que delineiam a prática da gestão do conhecimento nas organizações, constituem-se basicamente de criação, utilização, retenção e medição do conhecimento, como será explicado a seguir: 1- Criação do Conhecimento É uma fase que consiste, em basicamente, transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito. Transformar os conhecimentos individuais em conhecimento organizacional. Esforços nesse sentido podem incluir a criação de fóruns de discussão de temas que venham a interessar à organização; 2- Utilização do Conhecimento Não adianta investir na criação do conhecimento se não houver, na organização, uma cultura de pesquisa voltada para o aproveitamento desse conhecimento. Nesse aspecto tem-se que dar a mão à palmatória, a tecnologia da informação e das comunicações faz, efetivamente, a diferença que pode ser entendida como positiva e salutar; 3- Retenção do Conhecimento Reter, nesse caso, pode ser interpretado de acordo com dois sentidos distintos: o de assimilar ou o de preservar o conhecimento. No caso da assimilação, a criação de modelos conceituais possibilita um melhor compartilhamento e armazenamento do conhecimento gerado. O segundo, que trata da preservação do conhecimento, considera o conhecimento gerado como patrimônio, podendo, portanto, vir a transformar-se em recursos financeiros, isto é, dinheiro; 4- Medição do Conhecimento Medir o conhecimento organizacional parece, a princípio, viável quando se faz análises do ponto de vista de conhecimento explícito de uma organização e se faz especulações sobre o conhecimento tácito. Portanto, entende-se que é o conhecimento tácito que possibilita a valorização da organização do conhecimento. Essas quatro etapas constituem a linha comum que faz parte, numa organização, em qualquer aplicação da gestão de conhecimento. Intermediando essas etapas distingue-se 9 o componente tecnológico, que surge, como instrumento básico de suporte para a gestão do conhecimento. Pode entender-se que os sistemas atendem às necessidades de conhecimento, considerando alguns grupos de sistemas. Cabe esclarecer que neste artigo não pretende-se abranger todas as possibilidades e nem identificar os componentes tecnológicos. O primeiro grupo de sistemas (de compartilhamento) permite que as pessoas trabalhem de maneira colaborativa e cooperativa, compartilhando dados e informações em tempo real, de tal forma que possa ser criado conhecimento coletivo associado ao empreendimento. No segundo grupo, chamado de armazenamento, encontram-se os sistemas que são produtos voltados para o armazenamento e gerenciamento do conhecimento. Esses sistemas são intimamente relacionados com o conceito denominado conhecimento explícito. E por último, tem-se os sistemas de descoberta de conhecimento. Esses sistemas tratam da criação de conhecimento novo, a partir de dados e informação. Pesquisas têm demonstrado que uma grande carga de informação não leva necessariamente à criação de conhecimento, sendo necessária a utilização de instrumentos computacionais para atuar nessas bases de dados, convertendo dado em informação e informação em conhecimento. 5 A GESTÃO DO CONHECIMENTO NO TERCEIRO SETOR Os novos valores econômicos, como os relacionados com a flexibilização, impõem mudanças importantes a todos os setores da humanidade. A diversidade, a diferenciação, a agilidade imposta por transformações científicas e tecnológicas, com conseqüências de porte muitas vezes descomunal, provoca o que na atualidade costuma ser um termo de ponta, de extrema relevância para todos: a exclusão. O ser humano quando não acompanha a evolução que é imposta pelo mercado e pela pressão da sociedade torna-se um excluído. A tendência em todas as circunstâncias que propõem alterações no rumo dos acontecimentos atuais com prerrogativas, no mínimo, aceitáveis para um futuro com o mínimo de qualidade possível, passa pela busca incansável pela inclusão. Fala-se em inclusão no que tange a questões de alimentação, higiene, educação, saúde, liberdade, dentre tantos outros aspectos relevantes para a vida no planeta. A pauta para essas discussões e soluções alternativas gira sempre em torno da ciência e da tecnologia e nesses campos é que os conhecimentos e as habilidades, exigidos pelo mercado e pela sociedade mudam rapidamente. O governo, primeiro setor e o segundo, que é o setor privado, não atendem às demandas de inclusão, ou por incompetência, por falta de recursos ou por não se tratar de seus objetivos básicos, uma vez que a responsabilidade social é inerente aos organismos, quaisquer que sejam, mas nunca são as suas prioridades máximas. Exatamente por essas circunstâncias é que a própria sociedade, via suas comunidades mais ou menos próximas das exclusões geradas pelas mudanças, que podem ou não ser repentinas, desenvolveu atividades que se propõem a equacionar os problemas, encontrar soluções e buscar recursos para implementar ações que permitam as inclusões cabíveis, cuidando da 10 natureza, do bem-estar, da qualidade de vida e outras coisas que afetam ao ser humano de maneira geral, no presente e poderá afetar no futuro. Organizações são estruturadas com a percepção de que devem estar preparadas para acompanhar e oferecer constante atualização do saber sobre, do saber como, do saber quando e do saber o porquê e para quem. Os dirigentes do terceiro setor têm que dispor de sistemas de informação e de comunicação que sejam capazes de detectar oportunidades de interação com a sociedade, aumentando a vantagem competitiva das organizações que comandam, preparando novas estratégias, que lhes permita sustentá-las. Neste contexto, o papel da gestão do conhecimento é o de apoiar e orientar, a partir de um planejamento estratégico que inclui informação e o conhecimento, que tudo indica seja a melhor maneira de capitalizar o conhecimento organizacional. A gestão do conhecimento visa obter os melhores resultados possíveis em termos de produtividade e capacidade de inovação nas organizações do terceiro setor. É um processo que envolve gerar, coletar, assimilar e aproveitar conhecimento, tornando a sua organização mais inteligente e competitiva. É necessário, também, segundo Terra (1999), que se reúna os elementos básicos: informação, tecnologia de informação, comunicação e capital intelectual individual, visando a construção do conhecimento organizacional. A Administração do conhecimento em organizações do terceiro setor deve manterse focada no conhecimento, apoiada pela implantação de sistemas que atendam a pelo menos os seguintes objetivos: a) criar um repositório de conhecimento proveniente do ambiente interno e externo da organização; b) melhorar o acesso ao conhecimento, por intermédio da utilização de tecnologias colaborativas; c) desenvolver um ambiente e uma cultura organizacional que estimule a criação, transferência e uso do conhecimento; d) desenvolver um ambiente de apoio à decisão onde os dirigentes possam especificar e modelar melhor os processos decisórios, tomando decisões mais racionais; e) gerenciar o conhecimento como um recurso mensurável. Dentre os benefícios conhecidos que são proporcionados pela gestão do conhecimento em uma organização, qualquer que seja, mas principalmente daquelas que trata este artigo, ou seja, a que estiver relacionada com a necessidade de inclusão, agindo no terceiro setor, têm-se: a) compartilhamento de informação, permitindo que surjam várias visões dos dados em vários contextos, viabilizando o fornecimento de soluções para problemas prédefinidos; b) compartilhamento do conhecimento, desenvolvendo o potencial organizacional para futuras ações, a partir da experiência passada (base do conhecimento), nas diversas visões dos problemas e respectivas soluções; c) estímulo e valorização da imaginação, inovação e criatividade oriundas do capital humano. E como isso é possível? Partindo, num primeiro momento, de que só se conseguirá alcançar os objetivos desejados quando a organização estiver aparelhada com um sistema 11 integrado que dê suporte à geração, coleta, assimilação e utilização do conhecimento. A seguir é fundamental, que se faça um esforço para conseguir a implantação desse sistema que é composta de tecnologia de informação e de comunicação, envolvendo a participação de todos os integrantes da organização. A utilização de instrumentos de gestão do conhecimento possibilitará promover os resultados da organização pela utilização da informação como recurso estratégico. Santiago Jr. (2004), afirma que as organizações ao passarem a considerar o cliente como o principal objetivo de seu processo produtivo e não mais o produto resultado deste. Este fato, evidenciou a importância de prestar atenção sobre as ações tomadas por seus concorrentes, acompanhar a evolução das tecnologias do ambiente externo, definir estratégias de atuação, criar redes de distribuição e estudar ciclos de vida de produtos e serviços. A agilidade e flexibilidade exigirão a partir daí, ações corretas e eficientes. A redução desse tempo de resposta faz com que as organizações, de modo geral, passem a ter novas preocupações, como: 1- Por que não estudar as ações e decisões tomadas no passado e verificar se elas podem ser novamente utilizadas? 2- Não seria positivo analisar os erros cometidos no passado, no intuito de evitar que ocorram novamente? 3- Por que não intensificar a busca por novas oportunidades, a partir do monitoramento externo e interno? 4- Por que não repetir as atividades bem sucedidas? As ações voltadas para gestão do conhecimento devem objetivar melhorias nas mais variadas atividades desenvolvidas pelas organizações. O que se verifica, nas organizações é que a maioria das ocorrências negativas sobre a disponibilidade de conhecimentos recai em questões como as que estão listadas a seguir: 1- Problemas com transferência do conhecimento; 2- Erros devidos à falta de conhecimento; 3- Conhecimento crítico nas mãos de poucas pessoas; 4- Impossibilidade de medição do uso do conhecimento; 5- Perda de conhecimentos relevantes nos momentos adequados; 6- Falta de processos de compartilhamento. A abertura de novas oportunidades de ações/negócios, a existência de um Processo mais inovador, o aumento dos resultados alcançados, a maior transparência junto ao ambiente externo, a melhor retenção de especialistas e a prestação de serviços mais eficiente ao cliente/beneficiário, são os principais benefícios esperados a partir da gestão dos conhecimentos que uma organização detêm. As organizações prevendo a necessidade de informações, a partir do controle sistematizado, estruturam-se em três níveis. Constroem uma pirâmide hierárquica que entre a autoridade, a responsabilidade e a comunicação transitam, via tecnologias e capital humano, dados, informações e conhecimento. Os níveis são representados na estrutura organizacional entre o estratégico, o tático e o operacional e as organizações distribuem-se por corredores que transitam de cima para baixo ou ao contrário, identificando a subordinação de objetivos específicos. Na base da pirâmide encontra-se um processo sistêmico que envolve o informacional e o produtivo, a partir das entradas, seu processamento, saídas que ao ser confrontadas com os objetivos geram retroalimentações. 12 No terceiro setor identificam-se particularidades nesses processos: - Diferentemente de organizações do primeiro e segundo setores, elas obrigatoriamente tem que pensar em projetos e ações relacionados com arrecadação, distribuição, desenvolvimento, acompanhamento de oportunidades, divulgação e orientação e acerto de contas. A ação nos três níveis de suas estruturas, responde sempre a algumas questões, nem sempre nessa ordem, são elas: Para quem?; Quem?; De quem?; Como?; Quando?; Quanto?; O que? E Por que?. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em todas as organizações do terceiro setor verifica-se que seus dirigentes estão conscientes de que necessitam desenvolver sistemas para auxiliá-los no acesso às informações estratégicas, de forma rápida e segura, agilizando as questões relacionadas à gestão das suas organizações, tornando-as mais ágeis, flexíveis, transparentes, portanto eficazes e eficientes, ou seja: competitivas. A gestão do conhecimento acumulado, que deve ser considerado como conhecimento explícito, bem como atender às necessidades de demanda do conhecimento em desenvolvimento, ou seja, a conversão do conhecimento nas organizações, é outro ponto sempre comentado. Um sistema de gestão do conhecimento, conforme apurado nos casos analisados, com essas características, ou parte delas, poderá se tornar um poderoso instrumento da gestão do terceiro setor, capaz de dar suporte aos dirigentes nos seus desafios de aprimoramento das organizações na busca constante pela inclusão salutar e qualitativa do ser humano no meio em que vive e pretende viver no seu futuro. As necessidades básicas de informação nessas instituições entende-se que, inicialmente resumiam-se a arrecadação de bens, prestação de serviços por intermédio de voluntários ou especialistas contratados e à administração dos itens que respondiam às preocupações básicas, ou seja, a arrecadação de bens e a prestação de serviços, bem como do depósito (local) onde estavam. As preocupações maiores dentro das organizações do terceiro setor e de seus gestores, quando relacionadas com as questões decisórias, giram em torno de quatro questões básicas: Troca de informações dentro das organizações; Ligação e coordenação de atividades com outras organizações; Acesso a documentos; e Disseminação da informação. A questão que os gestores principais das organizações do terceiro setor encontram é a de como identificar os elementos e práticas que caracterizam as informações e conhecimentos voltados para a gestão dessas organizações e todas as suas implicações. Identificam-se nas organizações, que buscam ter claramente identificadas as posições concernentes ao pensar, fazer, avaliar e corrigir as ações, não importando se são estratégicas, táticas ou operacionais. Os administradores, dessas organizações podem ser classificados como: 1- Gerais – Representando o maior nível hierárquico de uma estrutura 13 organizacional. Aqueles que ocupam esse nível, cabe responder pelas atividades (todas). 2- Funcionais – Incluem-se aqui as pessoas que tem nível médio ou operacional e gerenciam as tarefas relacionadas às suas atividades. 3- De Projeto – Um administrador de projetos coordena colaboradores e outros recursos em diversas áreas funcionais para alcançar uma tarefa específica. O que se pode inferir no convívio com gestores e organizações do terceiro setor é que as estruturas organizacionais e portanto, os seus sistemas de informação e de conhecimento são formados por basicamente seis processos administrativos que são o resultado de um processo de administração estratégica previamente definido. Os processos todos se encaixam como peças de lógica simples, ou seja: - Estratégia geral, que subordina os planos de serviços, que originam planejamento operacional e previsão orçamentária, dividindo-as em três processos, o de administração de pessoas, o de participação e comunicação e o da administração financeira. A partir daí a monitoração do desempenho e o conseqüente retorno a cada uma das etapas, sempre, sendo necessário ou não. Um dos grandes desafios em planejar um sistema de gestão do conhecimento recai na necessidade de uso, não apenas dos novos conhecimentos como também, daqueles existentes. É importante ressaltar que conhecimento adquirido não precisa ser necessariamente produto da criação mediata, basta que seja novidade na organização. Sistemas de informação bem planejados permitem a gestão do conhecimento, cujo tema central é o aproveitamento dos recursos que já existem na organização para que as pessoas procurem, encontrem e empreguem melhores práticas ao invés de tentar reinventar a roda. Para que este processo seja viável há diversos caminhos a seguir, dentre eles: • Captar, armazenar, recuperar e distribuir ativos explícitos de conhecimento; • Coletar, organizar e disseminar conhecimentos intangíveis; • Criar um ambiente de aprendizado que permite às pessoas transferirem prontamente os conhecimentos, para que eles sejam, rapidamente internalizados e aplicados para a criação de novos conhecimentos. O aprendizado de cada colaborador não garante o aprendizado organizacional. Uma organização só é capaz de aprender, quando passa criar, adquirir, interpretar, transformar e reter conhecimento e modificar, de forma deliberada, seu comportamento para refletir novos conhecimentos, inovações e insights. As organizações num ambiente de alta competitividade têm obrigatoriamente que obter grande capacidade de aprender. O aprendizado adquirido na primeira execução de uma atividade deve ser proliferado para todas as áreas da organização e não pode ficar restrito à poucas pessoas. A função da organização no processo é a de fornecer o contexto apropriado para facilitar as atividades em grupo e criar e acumular o conhecimento individual. Quando uma organização inova, ela processa informações de fora para dentro, com o intuito de resolver problemas existentes e se adaptar ao ambiente atual. Desta 14 maneira, ela também cria novos conhecimentos e informações, de dentro para fora, a fim de redefinir tanto os problemas quanto as soluções. A capacidade de adaptação de uma organização a todo esse ambiente é baseada em dois fatores: O primeiro no fato de possuir recursos e capacidades multidisciplinares e o segundo quanto a abertura a mudanças e conseqüente capacidade de absorção. Acredita-se que, muitas vezes ser bem sucedido nos resultados pode levar à falta de disposição da organização em se adaptar, de reconhecer novos desafios e de responder a eles por meio da geração de um novo conhecimento. No terceiro setor, esta suposta crise não é permitida. Se o objetivo é buscar a inclusão, o envolvimento e a busca pela sobrevivência são fatores que devem encaminhar a organização para a busca de conhecimentos e mantê-los disponíveis e acessíveis a todos, a todo momento, em qualquer atividade de um processo. Algumas vezes dispor a informação sob quem possui determinado conhecimento é mais eficiente do que a mera tentativa de aprendê-lo e ou codificá-lo por meio de tecnologia. Encontrar uma forma de registro e mantê-lo disponível é colocar o conhecimento em formato utilizável para que, a partir daí, a organização possa mensurar sua possível utilização/disseminação. O resgate do conhecimento explícito é possível a partir da codificação dos conhecimentos, feita por meio de relatórios, documentos e procedimentos. Todas atividades e processos funcionais podem ser escritos de maneira clara e de fácil entendimento para que sejam utilizados pelos profissionais ou voluntários da organização.Entretanto, não basta disponibilizar o conhecimento em forma de relatórios, ele precisa ser avaliado e estar acessível às pessoas que podem fazer algo benéfico para a organização e para a comunidade, a partir de seu uso. Já o conhecimento tácito, por se encontrar exclusivamente na cabeça das pessoas, compreende um processo mais complexo para sua captura, pois exige intenso contato pessoal. A transferência deste para as demais pessoas da organização só é possível via contatos face a face e conversas informais. Quando as pessoas conversas, elas trocam informações e, muitas vezes, experiências, que, desta forma, são disseminadas pela organização. Outra grande fonte de conhecimento que não pode ser ignorada é a intuição. Ela nada mais é do que uma expertise comprimida. Quando se aprende completamente todos os passos a serem dados, eles acontecem automaticamente sem o pensamento consciente e, portanto, em alta velocidade. A gestão está sempre à prova. Os processos e a estrutura precisam ser desenvolvidos continuamente para fazer frente às necessidades da organização, que estão sempre em mudança para melhorar as informações de que a administração precisa. O processo administrativo é de responsabilidade da alta direção e cabe a ele decidir sobre: quais processos estão operando bem; quais precisam de atenção mais 15 urgente; e como se encaixam todos juntos. Ao gestor de uma organização do terceiro setor em qualquer atividade e em qualquer nível hierárquico (estratégico, tático ou operacional) atuando com planejamento, organização, direção e controle, ou em todas elas, necessita desse vínculo com as pessoas envolvidas para alimentar o sistema de informações que lhe proporcionará sabedoria e com isto competência, sendo eficaz nas decisões enquanto o diaa-dia e o longo prazo exigir, mas sempre em circunstâncias muito constantes e específicas para estar preparado para auferir resultados e poder estar pronto a prestar contas. Cada organização está sujeita, com seus respectivos gestores, a diversos tipos de prestações de contas. É para isso que, cada uma delas, precisa ter condições de equacionar e desenvolver o seu sistema de informações. Não basta apenas sistematizar as informações operacionais é preciso capacitar a organização a integrar as informações de acordo com os seus níveis hierárquicos e decisórios, os estratégicos, os táticos e os operacionais. Devido à sua complexidade, essa integração e relacionamento sempre deixam a desejar, elas nunca estarão completas. Considerando que o que diferencia os sistemas de informações é a agilidade, flexibilidade, transparência e atualização sobre dados em transformação e informações trabalhadas, há que pensar e repensar-se a validade da informação. Se ela agrega ao conhecimento e permite a diferenciação efetiva. As informações merecem dedicação, além de tempo e outros recursos, para que realmente colaborem com os interesses gerais. Elas se diferenciam pelo grau de incerteza que carregam. Os sistemas são organizados para a minimização desses graus de incerteza. Quanto menor a incerteza, maior a validade da informação. É claro que, cada organização do terceiro setor tem suas próprias dimensões a respeito do que agrega valor para si e para aqueles a que presta contas, daí a necessidade do gestor ter de avaliar com cuidado e constantemente as obrigações e as expectativas. O terceiro setor com seus sistemas, sofisticados ou simples, tem o que ensinar aos outros dois setores. As informações que atendem às necessidades dos gestores, parceiros, público em geral e da comunidade e culminam com a prestação de contas que atendam às expectativas. Na verdade são aquelas informações que espelham os acontecimentos, os valores e os desejos dos envolvidos. São aquelas informações que sistematizadas provocam processos condizentes com a missão e os objetivos préestabelecidos e que sejam vistos como naturais, tanto interna, quanto externamente, pela maioria. As informações que fazem parte desses sistemas e que contingencialmente e/ou rotineiramente colaboram nas operações e nas prestações de contas podem ser divididas em: a) Informações aos doadores / patrocinadores. Elas devem demonstrar a consonância com as intenções do doador, com a administração e aplicação de recursos eficientes e eficazes, com a seleção do doador apropriado, com o baixo custo administrativo, com a divulgação do desempenho e com o alto impacto sobre os problemas da e na comunidade. b) Informações Legais e Fiscais. Elas devem estar de acordo com as leis fiscais, orientações legais, condições corporativas, contratos e concessões. Devem possibilitar a verificação da 16 conformidade com os costumes locais, com os regulamentos federais e estatatis e apresentar relatórios de dados e desempenhos verdadeiros. c) Informações para os beneficiários. Elas devem demonstrar as prestações de serviços eficazes e eficientes, o respeito pela dignidade e pelas necessidades individuais das pessoas assistidas. Devem trazer a possibilidade de incorporar e avaliar padrões morais elevados, sigilo dos registros efetivados, redução de dependência dos beneficiados e evitar a burocracia. d) Informações para a Diretoria. É aqui que se divulgam plena e abertamente o desempenho da organização, a sua situação financeira e as ações implementadas. O cumprimento das decisões da diretoria, são dados necessariamente disponíveis, bem como a adesão que a organização, com as suas ações, tem, mantém ou consegue ter à missão. As informações para a diretoria normalmente abordam a administração de recursos, profissionalismo e quais esforços estão sendo feitos para construir o futuro da comunidade, da organização e da própria gestão envolvida. e) Informações para colaboradores (funcionários) e voluntários. Elas devem demonstrar a eficácia da gestão/liderança, incluindo aí, missão, visão e políticas claras, o respeito às necessidades individuais e à diversidade. O treinamento eficaz que possibilita a ação, a disponibilidade de recursos para realizar o trabalho, o tratamento igualitário e justo, as oportunidades de crescimento pessoal, o reconhecimento e a recompensa pelos bons serviços prestados. f) Informações para a comunidade. São aquelas que apontam para a colaboração na liderança da comunidade, com prestação de serviços eficazes e eficientes. Sempre dedicados à comunidade. Estão aqui contidas as informações que podem manter ou provocar os padrões morais elevados, sobre a administração dos recursos da comunidade e o impacto alto sobre os problemas dessa mesma comunidade. g) Informação Institucional. São aquelas informações que demonstram a existência de transparência para as Unidades relacionadas com as orientações da matriz e a conformidade com a imagem. h) Informação para si mesmo. As informações da gestão e da organização como um todo, devem mostrar as ações éticas, a probidade e de como se evita o surgimento de impropriedades. Essas informações permitem a prestação de contas para consigo mesmo, demonstrando os esforços para construir habilidades pessoais que permitam a gestão ou liderança, por intermédio do aprendizado contínuo, a delegação efetiva ou o uso da autonomia, a paixão persistente, a formação de equipes e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAVENPORT, T. & PRUSAK, L.; Working Knowledge: How Organizations Age What They Know. Boston: Harvard Business School Press, 1998. --------------------------------------------; Ecologia da Informação: Por que só a Tecnologia não Basta para o Sucesso na Era da Informação. São Paulo: Futura, 1998. 17 DE LONG, D.; DAVENPORT, T. & BEERS, M.; What is a Knowledge Management Project? Research Note. Documento da Web, URL: www.businessinnovation. ey.com/mko, fev., 1997. 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