IGUALDADE PROFISSIONAL COMO FACTOR DE CRESCIMENTO CONFERÊNCIA INTERNACIONAL 10 de Novembro de 2010 – Teatro da Trindade, Lisboa Género, família e trabalho não pago na Europa: mudanças, persistências e políticas. Bernardo Coelho [email protected] O papel das políticas Desigualdades persistentes na divisão do trabalho não pago entre homens e mulheres Desigualdades na intersecção entre o lugar público e privado das relações sociais de género Partilha trabalho não pago Transformações em torno dos regimes e ordenamentos de género na família Efeitos das desigualdades nas dinâmicas relacionais A família em transformação silenciosa: valores e papéis de género Valorização, em todos os países da Europa, da família segundo moldes não tradicionais como elemento central da vida dos indivíduos. Afirmação de ordenamentos de género de tendência igualitária. A família mais próxima devia ser a principal prioridade na vida de cada um (médias) ESS (round 2) 2004 Os homens deviam ter tantas responsabilidades como as mulheres em relação à casa e aos filhos (médias) ESS (round 2) 2004 Vida quotidiana Olhar para o repetitivo da organização do quotidiano familiar permite desocultar dissonâncias entre ideais de género igualitários e práticas marcadas pela desigualdade. Divisão das tarefas domésticas Percentagem de pessoas que afirma trabalhar mais de metade do total de tempo dedicado pelo agregado às tarefas domésticas* 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Homens Mulheres ESS (round 2) 2004 * Num dia normal de semana. Casais em que ambos trabalham Grécia Portugal Espanha Ucrânia Estónia Eslováquia Eslovénia Polónia Rep.Checa Hungria Irlanda Suíça Luxemburgo Bélgica Holanda Áustria Alemanha França Reino Unido Islândia Dinamarca Finlândia Suécia Noruega 0 A percentagem de mulheres que tem a seu cargo mais de metade do tempo total do agregado familiar dispendido em tarefas domésticas é muito superior aos homens que se revêem na mesma situação. Não se verificam diferenças entre os países nórdicos e a restante Europa mas o fosso aumenta significativamente em dois países da Europa do sul: Portugal Grécia. Família Madureira Ensino secundário Trabalhador do comércio tradicional António (48) Maria (44) David (11) Licenciada Programadora cultural numa câmara municipal Feminização das responsabilidades familiares O duplo investimento nas carreiras profissionais resulta numa situação de forte sobrecarga da mulher. “Isso é mais a área dela [Maria]… Olhe, ela normalmente cozinha e eu normalmente como. Ela normalmente limpa as coisas e eu normamelmente sujo-as (…)” António Madureira, 48 anos, trabalhador comércio tradicional. Efeitos da desigualdade O tempo passado em família é percebido como mais agradável do que stressante; mas os conflitos tantas vezes escondidos emergem em torno da divisão do trabalho não pago. Percebe-se uma incorporação dos tradicionais lugares e papéis de género – incorporação feminina auto-censurada. Opinião sobre o tempo passado em família Fonte: ESS, round3, 2006 Frequência de desacordos no casal devido à divisão das tarefas domésticas, por sexo Mulheres Homens 0 20 24 Norue ga 60 41 22 51 43 Re ino Unido 54 França Bé lgica 31 44 34 41 46 46 Hungria Es lové nia Es lováquia 35 42 22 França 53 23 24 25 Holanda 25 Bé lgica 37 Luxe m burgo 39 10 35 Polónia 34 Es lové nia 32 25 Es lováquia 32 24 Es tónia 24 Ucrânia Portugal Gré cia Nunca ESS (round 2) 2004 69 64 Ocas ionalm ente 20 22 11 14 Frequentem ente 26 25 36 28 32 44 24 36 32 38 19 31 18 18 58 67 Ocas ionalm ente ESS (round 2) 2004 20 34 48 Gré cia 17 29 50 Portugal Nunca 40 32 42 Es panha 29 21 50 Re p.Che ca 33 22 30 58 26 34 22 38 42 Hungria 43 29 33 Irlanda 42 24 30 40 27 18 23 42 41 Áus tria Suíça 24 41 33 Ale m anha Ucrânia 49 45 37 25 Es tónia Es panha 31 38 26 12 42 19 47 52 40 34 15 Re ino Unido 31 39 28 47 29 16 44 47 34 Is lândia 34 28 100 Dinam arca 30 54 80 25 38 59 Irlanda Polónia 24 60 27 30 36 Suíça Finlândia 40 25 Sué cia 22 40 39 Luxe m burgo Re p.Che ca 24 29 Áus tria Holanda 28 20 Norue ga 23 35 34 Dinam arca Ale m anha 30 51 0 100 50 14 Is lândia 80 46 27 Sué cia Finlândia 40 34 25 17 19 15 Frequentem ente Os dados do ESS 2004 revelam percentagens relativamente elevadas de europeus que afirmam que pelo menos ocasionalmente entram em desacordo com o seu companheiro por causa da divisão das tarefas domésticas. As mulheres são quem em maior percentagem afirma que nunca entra em desacordo por este motivo – Incorporação de papeis de género Conflictos e tarefas domésticas As dinâmicas familiares são fortemente constrangidas por valores de género conflituantes. Contudo, persiste uma auto-censurada incorporação dos tradicionais papéis de género. “É o mais injusto possível (…) ele trouxe estes maus hábitos de casa, a mãe dele nunca o obrigou a fazer nada. Mas, em certa medida, eu também tenho culpa (…)” Maria Madureira, 44 anos, programadora cultural “(…) Não, não é justo. Mas quando eu começo a fazer alguma coisa ainda faço pior. O melhor é nem pensar em ajudar.” António Madureira, 48 anos, trabalhador comércio tradicional. Abrindo a porta entre o privado e o público As desigualdades na esfera privada encontram um eco racionalizador nos lugares que homens e mulheres ocupam na esfera pública – no trabalho pago. Trabalho extraordinário (%) Homens 0 20 Norw ay 21 Sw eden 21 31 27 19 35 Belgium Luxembourg 39 Sw itzerland 38 Czech Rep. 28 Poland 28 Estonia 20 Ukraine 19 41 35 23 21 Occasionally 48 34 18 52 34 20 60 France 28 9 52 31 15 33 27 40 Belgium 14 29 57 Luxembourg 74 Sw itzerland Hungary 60 45 Czech Rep. Slovakia 39 36 43 Frequently 46 21 21 22 12 41 42 21 20 21 47 Ukraine 44 39 21 33 22 34 65 Portugal 57 Greece 57 Never 25 18 59 Estonia Spain 32 14 57 Slovenia 19 17 46 Poland 6 51 61 50 25 33 30 18 54 37 37 36 55 57 30 Denmark 29 Netherlands 42 26 34 42 50 16 28 Ireland 23 27 37 26 39 27 35 Slovenia Sw eden 18 42 22 33 56 35 21 100 Austria 25 33 Hungary 80 31 Germany 26 20 60 42 25 35 Ireland ESS (round 2) 2004 48 40 37 UK 38 24 39 Netherlands Never 18 20 Norw ay Iceland 48 44 Austria Greece 41 26 0 100 Finland 57 26 28 Portugal 47 29 Germany Spain 44 36 France Slovakia 50 35 14 UK 80 35 23 Denmark 60 29 18 Finland Iceland 40 Mulheres Occasionally 12 20 13 23 23 30 Frequently Convergências e divergências • A convergência de opiniões a respeito de duas áreas tão importantes – trabalho e família - mostra que valorizam o mesmo. • A convergência, entre homens e mulheres, numa visão mais igualitária dos ordenamentos de género na família – ultrapassagem dos modelos tradicionais male breadwinner. • A divergência nas práticas e as desigualdades mostram que cada um ainda se sente mais responsável pelo seu “antigo” domínio principal (efeitos de género). • Mas a desigualdade de ocupação de tempos mostra a penalização claríssima das mulheres. Que diferença podem fazer as políticas? Igualdade de género e políticas de emprego As políticas são geralmente cegas ao género. Deve ser feita a análise das políticas e recomendações em função dos seus efeitos e impactos de género. Os países com maior grau de apoio público aos cuidados com as crianças são aqueles onde se verifica maior continuidade do trabalho ao longo do ciclo de vida quer para os homens, quer para as mulheres. Parentalidade e empregabilidade Políticas de cuidados com as crianças e apoio à família As políticas mais bem sucedidas de cuidados com as crianças foram encontradas nos países que consideram estes cuidados como tarefa e responsabilidade da sociedade e não apenas assunto privado das famílias. Alguns dos países com as mais elevadas taxas de fertilidade na Europa são aqueles onde as políticas públicas permitem aos pais e mães uma boa combinação entre trabalho e cuidado com as crianças. QUALIDADE DE VIDA EM TEMPOS DE CRISE Sessão de apresentação Workcare Synergies “Trabalhar e Cuidar na Europa” Auditório Afonso de Barros – Ala Autónoma – ISCTE-IUL 16 de Novembro de 2010 - 15:00 horas Uma mulher devia estar preparada para reduzir o seu trabalho remunerado para o bem da sua família (médias) ESS (round 2) 2004 Quando os empregos são poucos, os homens deviam ter prioridade em ocupá-los em relação às mulheres (médias) ESS (round 2) 2004