UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE PESSOAS ADRIANA INÊS FRIGO LIMA LIDERANÇA: O DISCURSO E A PRÁTICA CRICIÚMA, JULHO DE 2008. ADRIANA INÊS FRIGO LIMA LIDERANÇA: O DISCURSO E A PRÁTICA Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gestão de Pessoas. Orientador: Prof.(Dr. MSc). Rosemari Duarte CRICIÚMA, JULHO DE 2008. Ao meu pai, um homem de princípios À minha mãe, uma mulher de sacrifícios Ao Irineu e ao Artur , por tudo... AGRADECIMENTO A realização deste trabalho foi possível graças à contribuição de um conjunto alargado de pessoas que me ajudaram a ultrapassar as dificuldades surgidas, tornando mais simples a passagem pelas diferentes fases até sua concretização. Não citarei nomes, apenas agradeço aos amigos, colegas de turma e às pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este trabalho fosse possível e, como não poderia deixar de ser, aos meus “amigos de sangue” e, por último, à minha família mais próxima que me ajudou a cumprir mais esta etapa. A todos vocês dedico este trabalho. “A liderança é a arte de conseguir que um outro faça alguma coisa que você quer feita porque ele quer fazê-la”. (Dwight D. Eisenhower) RESUMO O ritmo acelerado das inovações desafia as mais brilhantes estratégias e a sociedade exige cada vez mais das empresas. É neste novo cenário que o papel do líder assume importância, fazendo da liderança um diferencial competitivo no mercado, pois o estilo de liderar reflete no desempenho dos seguidores e também no sucesso da organização. O presente trabalho explora a temática da liderança, reconhecendo-a como fator fundamental para enfrentar as dificuldades de implementação de processos de mudança nas organizações. Procura articular a leitura do fenômeno da liderança nas organizações e as questões que suscitam, com a compreensão da dimensão intersubjetiva, grupal e inconsciente, presente nas organizações e no exercício da liderança. Longe da pretensão de esgotar este assunto, o intuito principal foi o de buscar entender como a liderança pode acontecer efetivamente e quais os principais entraves que dificultam sua verdadeira aplicação. Cabe, ressaltar que embora neste novo cenário se façam necessárias novas atitudes e novas posturas e que tais comportamentos são amplamente divulgados nas organizações, o que se pode perceber empiricamente, é que o comportamento ainda não está devidamente alinhado com o discurso. A pesquisa realizada foi do tipo qualitativo, quanto a abordagem do problema. Explicativa, do ponto de vista dos objetivos e quanto aos procedimentos técnicos, do tipo bibliográfico. O propósito deste trabalho é repassar o que tem sido apresentado pelos estudiosos do tema, comentando alguns pontos específicos, detendo-nos mais demoradamente na visão atual de liderança como condução de grupo. Apresentando ao final as conclusões sobre o que foi visto. O trabalho demonstrou a importância das diversas formas de liderar e a influência que um indivíduo exerce sobre outros e seu impacto nas organizações. Palavras-chave: Teorias administrativas; Teorias de Liderança; Liderança e Transformação. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................7 1.1 1.2 1.3 2 Justificativa ...................................................................................................9 Metodologia da Pesquisa............................................................................11 Apresentação..............................................................................................11 LIDERANÇA NAS DIVERSAS TEORIAS ADMINISTRATIVAS .......................13 2.1 A Origem das Organizações .......................................................................13 2.1.1 Administração e Teorias Organizacionais............................................15 2.1.1.1 Escola Clássica ................................................................................17 2.1.1.1.1 A Administração Científica de Taylor............................................19 2.1.1.1.2 A Teoria Clássica de Fayol ...........................................................23 2.1.1.2 A Escola das Relações Humanas ....................................................25 2.1.1.2.1 A Teoria das Relações Humana de Elton Mayo ...........................28 2.1.1.2.2 Os Estudos de Mary Parter Folet..................................................31 2.1.1.3 Escola Estruturalista.........................................................................34 2.1.1.3.1 A Burocracia de Weber.................................................................35 2.1.1.3.2 A Teoria Estruturalista ..................................................................36 2.1.1.4 A Escola Comportamental................................................................39 2.1.1.5 Teoria dos Sistemas Abertos ...........................................................43 2.1.1.6 Teoria das Contingências.................................................................46 3 LIDERANÇA ......................................................................................................49 3.1 Definição de Liderança ...............................................................................49 3.2 Teorias da Liderança ..................................................................................50 3.2.1 Teoria dos Traços da Personalidade ...................................................51 3.2.2 Teoria Comportamental .......................................................................54 3.2.3 Teoria Situacional ................................................................................55 3.2.4 Teoria da Liderança Carismática .........................................................55 3.2.5 Teoria da Liderança Transformacional ................................................57 3.2.6 Teoria da Liderança Visionária ............................................................58 3.2.7 Liderança Servidora.............................................................................59 3.2.8 Liderança Distribuída ...........................................................................60 4 LIDERANÇA: UM NOVO PARADIGMA............................................................62 4.1 O Modelo das Cinco Disciplinas de Peter Senge........................................62 4.1.1 O Novo trabalho do líder......................................................................67 4.2 Liderança e Motivação de Equipes de Trabalho .........................................74 4.3 A Necessidade de Uma Nova Forma de “Liderar” ......................................78 4.4 Entraves que Dificultam o Exercício da Liderança......................................84 5 CONCLUSÃO ....................................................................................................89 REFERÊNCIAS.........................................................................................................91 7 1 INTRODUÇÃO A literatura existente sobre liderança, ainda que profusa e profícua, está longe de esgotar o assunto. Os enfoques são os mais variados, tanto nos compêndios de Sociologia e de Psicologia, como nos de Ciência Política e de Administração, entre outros. Não menos extensa também é a bibliografia existente sobre as organizações, de todos os tipos, finalidades e tamanhos, num constante evoluir de conceitos e estratégias operacionais. A intenção da monografia, longe de pretender fazer um trabalho teórico de fôlego, é tão somente a de identificar quais os entraves que dificultam o exercício efetivo da liderança. Que tipo de liderança se faz necessária no contexto atual? Quais as relações entre estilo/tipo de liderança e modelos de gestão? Quais as possibilidades para o exercício da verdadeira liderança? É possível minimizar a figura do administrador/gerente/chefe e apostar na figura do líder? No mundo contemporâneo, as mudanças são cada vez mais constantes, as competições mais acirradas e o ambiente sempre mais desafiador. As organizações não operam apenas em mercados regionais relativamente seguros, atualmente elas concorrem em uma economia globalizada complexa, altamente incerta e imprevisível. O ambiente organizacional vem sofrendo diversas mudanças, entre elas, mudanças tecnológicas, a diversidade cultural, novas exigências dos clientes, novos modelos de gestão cada vez mais sofisticados e as diferentes expectativas da sociedade modificando as relações de trabalho, afetando o comportamento das organizações e obrigando as mesmas a revisar sua postura quanto à visão e à ação estratégica. Diante do exposto, pretende-se por este trabalho contribuir para explorar a importância da liderança na história da administração e investigar determinantes e conseqüências da liderança nas organizações, assim como o papel do indivíduo como liderado e líder e ainda a influência dessa relação para os resultados da organização. 8 Embora o campo da liderança sempre tenha atraído o interesse de cientistas sociais e particularmente de psicólogos, o fenômeno da liderança em organizações ganha destaque a partir dos anos 80 (BRYMAN, 1996, apud PINTO, 2005). O conceito de liderança envolve, em suas definições mais usuais, três elementos: influência, grupo e objetivo. Os líderes tratariam de influenciar, induzir e impactar o comportamento de outros, processo que se dá em um contexto grupal. O último elemento envolve a idéia de direção - o comportamento dos membros do grupo é influenciado no sentido de objetivos determinados. Esses elementos tiveram destaque e foram aplicados na teoria e pesquisa sobre liderança marcadamente até a metade dos anos 80. A partir de então, as definições empregadas utilizam a idéia da "gestão do simbólico". A característica fundamental da liderança, na perspectiva simbólica, seria promover valores que forneçam significados partilhados sobre a natureza da organização (BRYMAN, 1996, apud PINTO 2005). Desta forma, o líder conforma o sentido de direção e propósito através da articulação de uma visão de mundo. Zaleznik, enfatizando a compreensão da gestão pelo simbólico, aponta os líderes como àqueles que “mudam a forma das pessoas pensarem sobre o que é desejável, possível e necessário” (BRYMAN, 1996, apud NANUS, 2000). Compreender a relação líder-liderado é pensar nas transformações drásticas pelas quais vêm passando a administração e a vida em organizações. Julga-se necessário conhecer as teorias mais clássicas que facilitam a tipificação de liderança, assim como a evolução do comportamento humano nas diversas teorias administrativas, com enfoque em resultados ou melhores performances dessa relação. Pesquisadores da temática da liderança, como Kotter e Zaleznik, buscaram a distinção entre liderança e gerência/administração, apontando, como elemento central, a orientação para a mudança. A gerência estaria centrada no presente, voltada para o bom funcionamento de um sistema ou da organização existente, gerando estabilidade e não apresentando questões sobre a identidade e propósitos organizacionais (KOTTER, 1997). 9 Os líderes teriam carisma, enquanto a base de poder dos gerentes seria a hierarquia, os líderes estariam mais preocupados com o “porquê” enquanto os gerentes com o “como” (KETS DE VRIES, 1997). Kets de Vries (1997) afirma, no entanto, que o gerente vem sendo colocado na posição de bode expiatório neste debate, pois na realidade ambas as qualidades e habilidades são necessárias para um líder eficaz. Este autor destaca dois papéis a serem desempenhados pelo líder: o carismático e o instrumental. O primeiro estaria ligado justamente à dimensão simbólica e imaginária do trabalho do dirigente: como concede o poder e dá energia a seus subordinados. O papel instrumental estaria vinculado à visão dos líderes como arquitetos organizacionais. Eles projetam, estruturam e controlam sua organização. Este foco não muda a situação de fato, apenas a oculta. Poder e dominação estiveram presentes no passado, continuam nos dias atuais e o futuro não promete muitas mudanças. As técnicas de gestão de pessoas e as teorias de liderança foram e são adequadas aos indivíduos e seus comportamentos ao longo da história. Abordagens mais recentes sobre liderança enfatizam a necessidade de aprofundar o conhecimento desta problemática considerando-a como um relacionamento, uma reciprocidade entre líder e seguidores nos planos social, simbólico, identitário e cultural. 1.1 Justificativa Durante quase todo o século passado, as pessoas tinham uma visão relativamente limitada do papel que poderiam desempenhar nas organizações, basicamente devido à natureza estática da sociedade, não havendo nenhuma necessidade real de enfatizar as práticas de administração e tão pouco se despendia tempo em avaliar o ambiente que cercava as organizações. Quando se pergunta aos administradores: “Qual é sua maior responsabilidade, ou, qual é seu problema mais importante” a resposta usualmente é: “A administração do pessoal”. Sabe-se que o administrador deve ser uma pessoa preparada para 10 assumir os diversos níveis de responsabilidade diretiva dentro de uma organização. Sua principal missão é assumir a liderança para conseguir a cooperação dos diferentes membros da unidade que dirige. No passado, a literatura de administração prestava pouca atenção à administração da força de trabalho nas operações. No seu lugar, a atenção se dirigia para os modelos quantitativos e para os aspectos técnicos das operações. Ao mesmo tempo, os psicólogos e os estudiosos das organizações realizaram importantes investigações acerca do comportamento humano nas empresas. Devido a estes estudos, hoje se sabe que o ser humano tem recursos sinergéticos ou forças com as quais pode contar, em outras palavras, ele tem um estilo próprio para interagir com outras pessoas. Ocorre, lamentavelmente, que nem sempre ele é capaz de aproveitar estes recursos adequadamente, seja por ignorância ou porque a situação ou grupo com que está convivendo não reagem favoravelmente a seu estilo. Especificamente dentro do ambiente empresarial, um estilo de liderança ineficaz, deteriorará a moral e o clima da organização. Alguns sintomas poderão traduzir-se em rotatividade, absenteísmo, aumento do número de acidentes, incremento do número de produtos defeituosos, maior quantidade de reprocessos, aumento do número de reclamações e, em geral, uma notável queda da moral e da motivação, provocando uma grande redução da produção. Fundamenta-se assim a importância para todo administrador, gerente ou pessoa que exerce uma chefia e tem subordinados, conhecer suas próprias características individuais em termos do estilo que caracteriza sua ação. Essa parece ser a etapa mais importante que se deve estabelecer quando o rumo pretendido é o desenvolvimento amplo das potencialidades pessoais e desenvolvimento de lideranças Poder-se-ia resumir tudo o que foi exposto na seguinte problemática: Qual seria o método pelo qual fosse possível desenvolver, as capacidades daqueles que se preparam para administrar empresas? Daqui surge a necessidade da discussão sobre o tema liderança, que permita às pessoas conhecer e aceitar seu próprio estilo de liderança, evidenciando os pontos fortes e os pontos fracos, com a finalidade de aproveitar esses pontos fortes, corrigir os pontos fracos, crescer e desenvolver-se como líderes. 11 A compreensão da organização como estrutura social, constituída ao mesmo tempo por atores e por sujeitos psíquicos, impõe o reconhecimento da imensa complexidade que envolve os processos de mudança, tornando a sua dimensão racional apenas uma das faces do processo. Enriquez (1997b) observa que as mudanças sociais levam tempo para amadurecer e para se apresentar como necessárias, sendo decorrente desta compreensão uma visão mais modesta quanto às suas possibilidades. A perspectiva psicanalítica das organizações e do exercício da liderança evidencia que a busca de processos sistêmicos, estratégicos e coerentes, esbarra sempre nas questões humanas, no universo fantasmático, no desamparo, no desejo de afirmação narcisista, no circuito das pulsões. 1.2 Metodologia da Pesquisa Através da revisão bibliográfica sobre a temática liderança, percorrendo as principais teorias administrativas e também as teorias sobre liderança, que por diversas décadas buscaram explicar como se dá este processo, buscam-se esclarecimentos para uma questão que empiricamente se pode observar em todo o tempo dedicado a atividades junto a área de gestão de pessoas: como ocorre o processo de desenvolvimento da efetiva liderança? Sendo que este processo, em muitas situações, acontece apenas na teoria, na prática o que se pode observar são verdadeiros “chefes” ocupando posições de liderança. 1.3 Apresentação O primeiro capítulo busca resgatar, dentro da história, como aconteceu a formação das primeiras organizações, e com o decorrer do tempo, como estas foram se estruturando, adaptando-se às transformações do mundo e da sociedade que ditavam diversas formas de administrar as organizações. No segundo capítulo tratar-se-á do assunto que realmente desencadeou a elaboração deste trabalho, a Liderança. Assim sendo, interessa observar que, inicialmente, ou seja, 2.300 anos antes de Cristo, entre os egípcios, entendia-se que os faraós, (então líderes), exerciam 12 esta função porque eram “deuses” porque “filhos de um deus”. Da mesma forma pensavam e agiam os líderes da história religiosa pré-cristã. Assim Abraão, Moisés, Davi e Salomão comandavam o povo em nome de Deus, do qual recebiam orientação e ordens. Os gregos, mais humanistas, passaram a fundamentar a liderança na lei, na ordem, na justiça, no julgamento, na compreensão e no conselho, na perspicácia, no valor e na atividade. No período áureo da filosofia grega destacava-se a capacidade de pensar como requisito fundamental da liderança. A discussão direta e clara do funcionamento da liderança surgiu quando Niccolò Maquiavel, em 1513 D.C., no seu livro “O Príncipe” estabeleceu os princípios necessários para a subsistência de um governo forte, não excluindo o uso da força sempre que se torne indispensável para governar. Todavia é preciso ressaltar que a análise mais sistemática da liderança foi a de Thomas Carlyle, no século XIX, que se referia a uma liderança heróica e que privilegiava os traços do líder. Posteriormente a estes estudos várias teorias foram desenvolvidas, buscando explicar a origem da liderança, se ela é inata, se aprendida ou conquistada. Sobre elas esta monografia se debruçará neste capítulo. Por fim, no terceiro e último capítulo, a pesquisa irá concentrar-se nas teorias mais atuais e nas visões mais críticas a respeito do tema abordado. 13 2 2.1 LIDERANÇA NAS DIVERSAS TEORIAS ADMINISTRATIVAS A Origem das Organizações Desde os primórdios o homem se associou a outros para conseguir atingir seus objetivos. O homem, portanto, aprendeu, desde cedo, que precisava de outro homem para trabalhar em conjunto e alcançar determinadas metas, o que modificou completamente à estrutura social e comercial da época, provocando profundas mudanças. Deste trabalho em conjunto surgiram às empresas rudimentares, que datam da época dos assírios, babilônicos, fenícios, egípcios, gregos e romanos. Mas, a história da administração é recente e surge com o aparecimento das grandes corporações. Foi à revolução industrial que provocou o aparecimento de grandes empresas e da moderna administração. (FERREIRA, 2002) A organização é parte de um fenômeno mais geral da natureza, em que se observa a evolução de um processo no qual formas mais simples e uniformizadas, evoluem para formas mais complexas, através de estruturas mais sofisticadas e diferenciadas. Organizações são criações artificiais do homem, voltadas para a realização de alguma tarefa que esteja acima da capacidade de realização individual. Neste sentido a organização é sempre a manifestação da realização humana através da ação cooperada. (AKTOUF, 1996) As organizações são tão antigas quanto a história do homem (Gibson, 1981), como também são as idéias sobre como administrá-las (Rodrigues, 1987). Ao longo do tempo, as pessoas se reuniram para alcançar determinadas metas, primeiro em famílias, depois em tribos e, posteriormente em unidades políticas mais sofisticadas. Parte de nossas vidas faz parte de alguma organização. Estas organizações de que fazemos parte podem ser formais ou informais. Ambas as organizações das quais fazemos parte durante nossa vida têm objetivos e metas. Além de objetivos e metas as organizações possuem métodos 14 para alcançar tais objetivos, e por fim, as organizações definem verbas para que esses objetivos sejam alcançados. (AKTOUF, 1996) Existem vários aspectos em comum nas organizações, mas existe um que é essencial: toda e qualquer organização é formada de pessoas que a administram e uma depende da outra. As organizações estão inseridas na nossa vida e é essencial que, na vida, assim seja. As empresas servem aos indivíduos que fazem parte de uma sociedade, fornecendo e preservando o conhecimento e proporcionando carreira. O ser humano tem baseado todo o seu desenvolvimento histórico desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, através de organizações, voltadas para a sobrevivência das pessoas e para a preservação da espécie. A partir do momento em que é concebido e durante toda a sua vida, o homem está inserido em organizações. (ETZIONI, 1980). Segundo Chiavenato uma organização “é um arranjo sistemático de duas ou mais pessoas que desempenham papéis formais e compartilham de um propósito definido comum”. Uma organização pode também ser descrita como uma entidade capaz de captar recursos (humanos, materiais, tecnológicos) do ambiente que a cerca, combiná-los em proporções e de modo tal que é obtido um produto - do qual em natureza é qualitativamente diferente dos recursos que o geraram - e esse produto tem a finalidade de ser reabsorvido pelo meio-ambiente. A medida da efetividade de uma organização é, em conseqüência, a disposição do meio-ambiente de recompensá-la pelo seu resultado de tal forma, que lhe permita manter seus fatores. (PALADINI, 1994). A organização, como parte de um contexto social, tem um papel maior, no conjunto de toda a sociedade, em escala mundial: atender a uma necessidade específica provocada por esse mesmo contexto social. É um processo de divisão social do trabalho pelo qual agrupamentos específicos de pessoas, atribuem-se funções específicas. Como meio principal de realização do trabalho produtivo e a criação de valor econômico, as organizações estão entre as instituições mais importantes da sociedade. As organizações são também um meio importante pelo qual as pessoas satisfazem suas necessidades de realização individual e de filiação social; é através 15 delas que os valores culturais são perpetuados de geração a geração (Nadler et al., 1994). 2.1.1 Administração e Teorias Organizacionais O termo administração vem do latim, ad (junto de ou em direção de) e ministratio (prestação de serviço), portanto, administração é uma ação de prestar um serviço. Contemporaneamente, administração não é somente relacionado ao governo ou à condução de uma empresa, e sim todas às atividades que envolvem planejamento, organização, direção e controle. A tarefa da administração é a de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio de planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos de maneira mais adequada à situação. (CHIAVENATO, 1997, p.12). Segundo Stoner (1999, p.5) “a administração já foi chamada como a arte de fazer coisas através de pessoas. Até hoje, nenhuma definição para a Administração foi universalmente aceita, pois as definições mudam com o passar do tempo”. Ainda, para o mesmo autor, “administração é o processo de planejar, organizar, liderar e controlar os esforços realizados pelos membros da organização e o uso de todos os outros recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos” (STONER, 1999, p.5) Sempre existiu no decorrer da história da humanidade alguma forma, ainda que rudimentar, de administrar as organizações, desde as mais simples até as mais complexas. A administração é uma arte e uma técnica que remonta aos primórdios da civilização e vai crescendo em escopo e complexidade na medida em que crescem as cidades e se organizam os Governos. (MAXIMIANO, 2000). O desenvolvimento das idéias e teorias acerca da Administração foi extremamente lento até o século XIX, acelerando-se incrivelmente no início do século XX. A influência de filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, nas tarefas 16 de Administração na Antigüidade é marcante. Com o surgimento da Filosofia Moderna, destacam-se Bacon e Descartes. A organização eclesiástica da Igreja Católica influenciou de certa maneira o pensamento administrativo. Igualmente, a organização militar trouxe grande influência para a Administração, contribuindo com alguns princípios que a Teoria Clássica, mais adiante, iria assimilar e incorporar. A Revolução Industrial veio produzir o contexto industrial, tecnológico, social, político e econômico de situações, problemas e variáveis, a partir do qual teria início a Teoria Clássica da Administração. Também os economistas liberais (como Adam Smith, James Mill, David Ricardo, John Stuart Mill e outros) deram algum suporte para o aparecimento de alguns princípios de Administração que teriam enorme aceitação posteriormente. A ciência da Administração e a Teoria Geral da Administração representam, hoje, as conquistas de uma longa história, no campo do conhecimento humano que despontou no início do século XX, no quadro da 2ª Revolução Industrial. Tal como a conhecemos hoje, elevada ao status de ciência, a Administração é o resultado da contribuição de inúmeros engenheiros, psicólogos, sociólogos, economistas, matemáticos e estatísticos, contadores e advogados. (MAXIMIANO, 2000). Desde a pré-história, existe algum tipo de administração. À medida que a humanidade foi evoluindo, houve a necessidade clara de se administrar este processo complexo em que foi se transformando a humanidade. O desenvolvimento de teorias de administração para tornar o processo mais fácil data de anos recentes, nos séculos XVIII e XIX. Estas teorias foram criadas devido à necessidade de planejar, organizar, direcionar e controlar o processo administrativo. As teorias nos ajudam a entender processos essenciais. Segundo Stoner (1999, p.22) “teoria é um conjunto coerente de pressupostos elaborado para explicar as relações entre dois ou mais fatos observáveis”. A teoria é aquela que embasa todas as nossas ações dentro da 17 organização e sobre todos os seus stakeholders1. Todas as teorias da administração são produto do ambiente; de forças sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e culturais. Situações de nosso dia-a-dia tornam bem claras as teorias administrativas, pois em cada situação vemos a relação com as teorias. É importante salientar, que não existe uma teoria, modelo ou padrão para os acontecimentos; e a teoria que é eficaz em um determinado lugar pode não ser eficaz em outro determinado local. A teoria geral da administração começou a atribuir ênfase às tarefas, com a administração científica de Taylor. A seguir, a preocupação básica passou para a ênfase na estrutura com a teoria clássica de Fayol e com a teoria burocrática de Weber, seguindo-se mais tarde a teoria estruturalista. A reação humanística surgiu com a ênfase nas pessoas, por meio da teoria comportamental e pela teoria do desenvolvimento organizacional. A ênfase no ambiente surgiu com a Teoria dos Sistemas, sendo completada pela teoria da contingência. Esta, posteriormente, desenvolveu a ênfase na tecnologia. Cada uma dessas cinco variáveis - tarefas, estrutura, pessoas, ambiente e tecnologia - provocou a seu tempo uma diferente teoria administrativa, marcando um gradativo passo no desenvolvimento da Teoria Geral da Administração. Cada teoria administrativa procurou privilegiar ou enfatizar uma dessas cinco variáveis, omitindo ou relegando a um plano secundário as demais. (MORGAN, 1996). 2.1.1.1 Escola Clássica Com o início da Revolução Industrial, na Inglaterra, e a invenção da máquina a vapor, por James Watt, em 1776, houve uma brusca mudança no processo de produção provocando um enorme surto de industrialização, que se 1 São as partes interessadas que sofrem o impacto do funcionamento de uma organização. Os stakeholders incluem: empregados, acionistas, fornecedores, clientes, concorrentes, mercado, sociedade, comunidades próximas, mídia e imprensa e gerações futuras. 18 estendeu rapidamente por a toda a Europa e Estados Unidos. Isso fez com que novos processos administrativos fossem adotados e são estes que estudaremos a seguir. A Revolução Industrial desenvolveu-se em duas fases que se diferenciam especialmente por causa dos tipos materiais que geram: energia e empregados. A primeira fase, que compreende o período entre 1780 a 1860, denominase como a revolução do carvão (como principal fonte de energia) e do ferro (como principal matéria-prima). Começa com a introdução da máquina de fiar, do tear hidráulico e posteriormente do tear mecânico, do descaroçador de algodão provocando a mecanização das oficinas e da agricultura.O trabalho do homem do animal e da roda d'água é substituído pelo trabalho da máquina, surgindo o sistema fabril: o antigo artesão transforma-se no operário e a pequena oficina patronal sede lugar à fabrica e à usina. (SILVA, 2006). As novas oportunidades de trabalho provocam migrações e conseqüente urbanização ao redor de centros industriais. Há uma revolução nos meios de transportes e comunicações: surge a navegação a vapor, a locomotiva a vapor, o telégrafo e o telefone. É o início do capitalismo. A segunda fase que vai de 1860 a 1914, é a revolução da eletricidade e derivados do petróleo (como as novas fontes de energia) e do aço (com a nova matéria-prima). É a introdução definitiva da maquinaria automática e da especialização do operário. Há uma intensa transformação dos meios de transporte e nas comunicações: surge a estrada de ferro, o automóvel, o avião o telégrafo sem fio e o rádio. (DINIZ, 2006) O capitalismo financeiro consolida-se e surgem as grandes organizações multinacionais (como a Standard Oil, a General Electric, a Westinghouse, a Siemens, a Dupont, a United States Steel, etc). Ao final desse período, o mundo já não era mais o mesmo. E a moderna administração surgiu em resposta a duas consequências provocadas pela Revolução Industrial, a saber: 1. Crescimento acelerado e desorganizado das empresas que passaram a exigir uma administração científica capaz de substituir o empirismo e a improvisação; 2. Necessidade de maior eficiência e produtividade das empresas para fazer face à intensa concorrência e à competição no mercado. 19 No campo específico da administração das empresas, coube a dois engenheiros o lançamento dos fundamentos de uma Teoria Geral da Administração, dando origem à chamada Escola Clássica da Administração. O primeiro deles foi o norte-americano Frederick Taylor (1856-1915), com sua obra “Shop Management” (Gerência de Fábrica), lançada em 1903, que teve uma repercussão enorme nos meios acadêmicos e empresariais. O segundo - grego de nascimento, porém educado na França - foi o também conhecido engenheiro Henri Fayol (1841-1925), com seu trabalho “Administration Industrielle et Generale”, publicado em 1916, que, como o livro de Taylor, ganhou um prestígio extraordinário. Do ponto de vista didático, costuma-se dividir a Escola Clássica ou Teoria Clássica da Administração em dois grupos: o primeiro grupo encabeçado por F. Taylor chamado “Administração Científica”; e o segundo liderado por H. Fayol, denominado “Teoria Clássica da Administração”. Assim, a abordagem clássica da Administração cobre duas áreas distintas: a operacional, de Taylor, com ênfase nas tarefas e a administrativa, de Fayol, com ênfase na estrutura organizacional. 2.1.1.1.1 A Administração Científica de Taylor Frederick W. Taylor, nascido nos Estados Unidos, homem comum, tornou-se a personalidade que mais influenciou os estudos da administração, podendo ser comparado com Thomas Edson e Henry Ford, por sua grande colaboração ao progresso. Filho de família de princípios rígidos foi o primeiro a estudar a racionalização e a eficiência no trabalho. Durante seus estudos, foi muito influenciado pelos problemas sociais e empresariais decorrentes da Revolução Industrial, na época mais aguda do então denominado “capitalismo selvagem”. Iniciou sua vida como operário, em 1878, passando a capataz, contramestre, chefe de oficina e engenheiro, em 1885. Seu estudo aconteceu em uma época bem propícia, pela abundante mãode-obra desqualificada e barata, pela quase ausência de leis trabalhistas e sindicatos; pelo aparecimento de indústrias automobilísticas e crescimento das demais que gozavam de grande poder econômico. 20 Tinha consigo a convicção de que com a participação de todos (empregado e patrão) no aumento da produtividade, todos sairiam ganhando. Sua principal fonte de inspiração era a máxima eficiência produtiva, visando à empresa e não ao trabalhador. (CHIAVENATO, 2000). Taylor entendia que o operário tem a função de trabalhar apenas e que o que separa a função do gerente do trabalhador é que o gerente deve pensar e planejar; já o trabalhador chamado por ele de operário, não precisaria ser inteligente, bastando-lhe obedecer e fazer. Como no filme de Charlim Chaplin - Tempos Modernos, viver alienado não era nada deselegante para Taylor. Percebe-se que desde essa época, já havia uma tendência da distinção entre as funções de gerência e de execução. (FERREIRA, 1997) Naquela época, o sistema de pagamento era por peça ou tarefa, o que muitas vezes levava o patrão a forçar demasiado o ritmo de produção, criando conflitos com os empregados, ou levando esses a reações que terminavam por afetar negativamente a produção. Isso levou Taylor a examinar o problema da produção em seus mínimos detalhes. Iniciou suas observações e estudos pelo trabalho do operário, no “chão da fábrica”, tendo posteriormente estendido suas conclusões também aos níveis de administração. Taylor registrou cerca de 50 patentes de invenções sobre máquinas, ferramentas e processos de trabalho. Trabalhando junto aos operários, no nível de execução, Taylor realizou um paciente trabalho da análise das tarefas de cada operário, decompondo seus movimentos e processos de trabalho, aperfeiçoando-os e racionalizando-os gradativamente. Chegou à conclusão de que o operário médio produzia potencialmente muito menos do que era capaz, com o equipamento disponível. Daí, a idéia mecanicista de fazer com que o trabalhador se ajustasse à máquina. Taylor começou seu trabalho em uma indústria como operário, para poder aprender e entender o funcionamento dos processos, e assim, propor inovações (STONER; FREEMAN, 1999). Observou, igualmente, que o trabalhador mais esforçado perdia o estímulo e o interesse ao receber remuneração igual ao que produzia menos e concluiu pela necessidade de criar condições para pagar mais ao operário que produzisse mais. (SILVA, 2006) 21 Na realidade essa racionalização nada mais era do que o redesenho de processos de trabalho visando aumentar a produtividade, sendo esta a mais bem sucedida forma de se trabalhar até os dias atuais. A influência dos seus estudos não foi somente nas indústrias, mas na vida pública e privada de todas as empresas. Suas idéias partiram do chão de fábrica das indústrias, mas acabaram por alçar vôo e extrapolar o mundo dessas empresas e penetrar em diversos aspectos de vários tipos de organização. Sempre enfatizou a busca pela eficiência na produtividade dando ênfase às tarefas. Portanto, tudo o que tem a ver com a maximização de recursos, uniformidade e padronização, trabalho em menor tempo e sem desperdício, aprende-se com Taylor. Em seu livro “Gerência de Fábrica”, Taylor expõe as seguintes conclusões: 1. O objetivo de uma boa administração é pagar salários altos e ter baixos custos unitários de produção. 2. A administração deve aplicar métodos científicos de pesquisa e experimentação, a fim de formular princípios e estabelecer processos padronizados que permitam o controle das operações fabris. 3. Os empregados devem ser cientificamente colocados em serviços ou postos em que os materiais e as condições de trabalho sejam cientificamente selecionados, para que as normas possam ser cumpridas. 4. Os empregados devem ser cientificamente adestrados para aperfeiçoar suas aptidões e, portanto, executar um serviço ou tarefa de modo que a produção normal seja cumprida. 5. Uma atmosfera de cooperação deve ser cultivada, entre a Administração e os trabalhadores, para garantir a continuidade desse ambiente psicológico que possibilite a aplicação dos princípios mencionados. Posteriormente, em uma fase que se costuma caracterizar com o 2º período de Taylor, este chegou à conclusão de que não basta a racionalização do trabalho operário, mas, que necessariamente, essa racionalização deve abranger toda a empresa, a estruturação geral da empresa. 22 Assim, em seu livro “Administração Científica”, Taylor concluiu que a baixa produtividade do trabalho – que chegava a um terço do que seria normal – decorre não apenas do operário, mas, também de um sistema defeituoso de administração, dos métodos ineficientes de Organização e da falta de uniformidade das técnicas e métodos de trabalho. Nesse livro, Taylor enumera as bases da administração científica: 1. Estudo do tempo e padrões de produção 2. Supervisão funcional 3. Padronização de ferramentas e instrumentos 4. Planejamento de tarefas e cargos 5. O princípio da exceção 6. Utilização de instrumentos para economizar tempo 7. Fichas de instrução de serviço 8. A idéia de tarefa, associada a prêmios de produção. 9. Sistema de classificação dos produtos e dos insumos (matéria prima, etc). 10. Sistema de delineamento das rotinas de trabalho. Ao abordar a questão dos tempos e movimentos, a idéia de Taylor era a de eliminar os desperdícios do esforço humano, substituindo movimentos inúteis por outros mais eficazes, treinar os operários com vistas à maior especialização, de acordo com as tarefas e estabelecimento de normas de atuação. Paralelamente, procurava melhorar a eficiência do operário e o rendimento da produção, permitindo maior remuneração (prêmios) pelo aumento da produção. (CHINEE, 2000) Dos seguidores auxiliares de Taylor, destaca-se Frank Gilberth, na área dos estudos sobre tempos e movimentos e sobre a fadiga. Outro importante colaborador foi Harrington Emerson que, não só popularizou a Administração Científica, como desenvolveu os primeiros trabalhos sobre seleção e treinamento de empregados. É o autor dos “Doze Princípios da Eficiência”. As contribuições de Taylor estão muito presentes na vida das empresas. Afinal, o que dizer então dos robôs de linha de montagem informatizados hoje? Não seria isso a busca pela maior produtividade em um menor tempo e porque não dizer com um melhor aproveitamento sem desperdício? No momento em que estamos 23 vivendo, Taylor continua atual. Na verdade, Taylor é o pai de todos os processos de automação. Por mais que se tenha criticado o trabalho mecânico e repetitivo de Taylor, ele ainda está presente em muitas e grandes organizações devido ao seu potencial produtivo. Nos tempos atuais, o paradoxo “o trabalhador não precisa ser inteligente, basta obedecer e fazer” acompanha as empresas, só que elas não querem mais funcionários que apenas executam e que não pensam. Cada um tem que ser autônomo na sua função, ou seja, é preciso pensar estrategicamente, taticamente e operacionalmente. 2.1.1.1.2 A Teoria Clássica de Fayol Conforme assinalamos antes, ao lado da Administração Científica de F. Taylor, desenvolvida nos Estados Unidos, surgiu na França o outro pilar da Escola Clássica, comandado por Henry Fayol - também engenheiro , nascido na Grécia e educado no França, onde trabalhou e desenvolveu seus estudos. Enquanto na Administração Científica a ênfase está colocada na tarefa que realiza cada operário, na Teoria Clássica de Fayol e seus seguidores a ênfase é posta na estrutura da organização. No fundo, o objetivo das duas correntes é o mesmo: maior produtividade do trabalho, maior eficiência do trabalhador e da empresa. A Teoria Clássica da Administração partiu de uma abordagem sintética, global e universal da empresa, com uma visão anatômica e estrutural, enquanto na Administração Científica a abordagem era, fundamentalmente operacional (homem/máquina). Em Silva (2006), encontramos o relato que a experiência administrativa de Fayol começa como gerente de minas, aos 25 anos e prossegue na Compagnie Comantry Fourchambault et Decazeville, até os 47 anos, uma empresa em difícil situação, que ele administra com grande eficiência e, em 1918, entrega a seu sucessor em situação de notável estabilidade. Fayol sempre afirmou que seu êxito se devia não só às suas qualidades pessoais, mas aos métodos que empregara. Exatamente como Taylor, Fayol 24 procurou demonstrar que, com previsão científica e métodos adequados de gerência, os resultados desejados podem ser alcançados. Sua teoria da Administração está exposta em seu famoso livro “Administração Industrial e Geral”, publicado em 1916 e, basicamente, está contida na proposição de que toda empresa pode ser dividida em seis grupos de funções, a saber: 1. Funções técnicas, relacionadas com a produção de bens e serviços da empresa. 2. Funções comerciais, relacionadas com a compra e venda. 3. Funções financeiras, relacionadas com a procura e gerência de capitais. 4. Funções de segurança, relacionadas com a proteção e preservação dos bens e das pessoas. 5. Funções contábeis, relacionadas com os inventários, registros, balanços e estatísticas. 6. Funções administrativas, relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções da empresa, pairando sempre acima delas. Nenhuma das cinco funções essenciais tem o encargo de formular o programa geral da empresa. Essa atribuição compete à 6ª função, a função administrativa, que constitui, propriamente, a Administração. Para deixar clara essa função coordenadora, Fayol assim define o ato de administrar: 1. Prever: visualizar o futuro e traçar o programa de ação. 2. Organizar: constituir o duplo organismo da empresa, material e social. 3. Comandar: dirigir e orientar o pessoal 4. Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos. 5. Controlar: verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. Ainda, para Fayol, a Administração não se refere apenas ao topo da organização: existe uma proporcionalidade da função administrativa, que não é privativa da alta cúpula, mas, ao contrário, se distribui por todos os níveis 25 hierárquicos. Segundo ele, tudo em Administração é questão de medida, de ponderação e de bom senso. Os princípios que regulam a empresa devem ser flexíveis e maleáveis, e não rígidos. São princípios fundamentais de Fayol: 1) divisão de trabalho, 2) autoridade e responsabilidade, 3) disciplina, 4) unidade de comando, 5) unidade de direção, 6) subordinação dos interesses individuais ao interesse geral, 7) remuneração justa ao pessoal, 8) centralização, 9) linha de autoridade, 10) ordem, 11) equidade, 12) estabilidade do pessoal, 13) iniciativa e 14) espírito de equipe. A Teoria Clássica de Fayol concebe a organização em termos de estrutura, forma e disposição das partes que a constituem. Assim, a estrutura e a forma de organização marca a essência da Teoria Clássica. Vários seguidores de Fayol realizaram estudos relevantes sobre a Teoria da Administração, destacando-se entre eles: Luther Gulick:, James D. Mooney, Oliver Sheldon, Lyndal F. Urwick: Vê-se, pois, que divisão do trabalho é o elemento comum mais importante entre Taylor e Fayol, mas enquanto na Administração Científica a divisão do trabalho se processa ao nível do operário, fragmentando as tarefas, na Administração Clássica a preocupação com a divisão se opera ao nível dos órgãos que compõem a organização, isto é, os departamentos, divisões, seções e unidades. A escola clássica deve ser vista como uma primeira tentativa de adaptar o homem à máquina, através dos métodos de Taylor, fazendo deste uma parte integrante do processo de produção mecanicista sem se preocupar com suas particularidades e diferenças em relação às máquinas. Também elaborou os primeiros métodos administrativos, através de Fayol, procurando estruturar os diversos setores desta. Porém as críticas à Escola Clássica gerou uma nova visão organizacional como será visto a seguir. 2.1.1.2 A Escola das Relações Humanas Diferentes momentos socioculturais implicaram a construção de paradigmas, ou seja, conjunto de padrões, regras, modelos, idéias/ideologias e valores que norteiam um grupo social em determinada época, considerando-se a influência de tecnologias, as condições de produção, as necessidades, os desejos e 26 os anseios de indivíduos/grupos, bem como seu nível de conhecimento.(CANÊO, 2005). A hegemonia da mentalidade clássica suscitou entre os trabalhadores uma insatisfação crescente com as condições desumanas de trabalho. Devido a esse descontentamento um grupo de pesquisadores passou a investigar numa empresa as condições ambientais que otimizassem a produtividade. A pesquisa ficou conhecida como Experiência de Hawthorne2. Descobriu-se que qualquer variação ambiental aumentava a produtividade. Apesar da experiência ter deixado mais perguntas que respostas, ela serviu para mostrar que as relações humanas no trabalho eram essenciais para a Administração. Assim, deu-se o surgimento da Escola das Relações Humanas, que se caracterizou por enfatizar a adaptação do homem à organização e vice-versa. (PALADINI, 2002). A Teoria das Relações Humanas, surgiu nos Estados Unidos como conseqüência imediata das conclusões obtidas na Experiência em Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração. As origens da Teoria das Relações Humanas são: 1. A necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo americano. 2. O desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a psicologia e a sociologia. 3. As idéias da filosofia pragmática de John Dewey3 e da Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin4 foram capitais para o humanismo na administração. 2 Em 1927, Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos (National Research Council), iniciou uma experiência em uma fábrica da Wester Eletric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne e cuja finalidade era a de determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários medida através da produção. A experiência foi coordenada por Elton Mayo, e estendeu-se à fadiga, acidentes no trabalho, rotatividade do pessoal (turnover) e ao efeito das condições de trabalho sobre a produtividade do pessoal. 3 John Dewey (1859-1952), filósofo, tornou-se um dos maiores pedagogos americanos, contribuindo intensamente para a divulgação dos princípios do que se chamou de Escola Nova. Para Dewey, o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está dirigido para a experiência. As idéias são hipóteses de ação e são verdadeiras quando funcionam como orientadoras dessa ação. 27 4. As conclusões da Experiência em Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo. Os pensadores que integraram esta escola acreditavam que a teoria anterior apresenta tendência de tornar o ser humano um elemento como qualquer outro na empresa e, com isso, desumanizava o trabalho. Para eles, a Escola Clássica e, em particular, a Administração Científica, empregava procedimentos rudes, com bases supostamente científicas, objetivos definidos de forma que aos operários não restava alternativa que não fosse acatá-los. Enquanto a Escola Clássica enfatizava a figura “homo oeconomicus5”, a Escola de Relações Humanas criou a figura do “homo social6” (PALADINI, 2004). Segundo autores clássicos da Administração, as mais relevantes origens da Teoria das Relações Humanas estão ligadas ao advento das ciências humanas, principalmente à psicologia e à sociologia. A Escola de Relações Humanas, por exemplo, empregou o conceito de grupo primário, já existente na sociologia, aplicando-o ao modelo administrativo proposto por seus pensadores. Difícil é saber se decorreu da estruturação da Escola das Relações Humanas a influência destas ciências no modelo administrativo das organizações ou se este impacto já se verificava antes. A Escola de Relações Humanas reúne pensadores respeitáveis, como, por exemplo, John Dewey, Kurt Lewin , Elton Mayo e Vilfredo Pareto. Esta Escola introduziu, com considerável êxito, noções de democratização do trabalho. Parte deste êxito deve-se ao processo cultural vigente nos Estados Unidos no final da década de 20, quando se buscava mais liberdade nas atividades de produção e na própria ação dos cidadãos em geral. Considerou-se a motivação como o grande estímulo para levar os operários a desenvolver operações no sentido de atingir objetivos globais da empresa. (ASANOME, 2001). 4 Kurt Lewin (1890-1947) foi o psicólogo que deixou a herança mais importante para o movimento das Ciências do Comportamento. Ele constituiu a passagem das Relações Humanas para o movimento seguinte e orientou e ou inspirou a maior parte dos pesquisadores dedicados à Administração e à Psicologia ndustrial de década de 1960. 5 O homo oeconomicus ou o homem econômico é uma ficção, formulada segundo procedimentos científicos do século XIX que aconselhavam a fragmentação do objeto de pesquisa para fins de investigação analítica.O homo economicus nada mais é do que um pedaço de ser humano, um fragmento, um resto, a sua parcela que apenas produz e consome, segundo "leis" deduzidas da observação, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência. 6 Conceito no qual o homem é motivado, principalmente, pela necessidade de reconhecimento, de participação e de aprovação social nas atividades dos grupos sociais onde vive. 28 Nesta abordagem, introduziu-se o conceito de grupos informais. Segundo esta escola, os grupos informais caracterizam-se pelos seguintes aspectos: (1) comunicação direta, freqüente e intensa entre seus membros; (2) existem interações de vários níveis entre eles; (3) os elementos do grupo possuem interesses comuns ou similares; (4) os componentes do grupo buscam suprir necessidades relativas a segurança, aprovação social, afeto, aceitação etc. e (5) as relações sociais no grupo não são regulamentadas e nem dispõem de organogramas. Com o advento da Teoria das Relações Humanas, uma nova linguagem passa a dominar o repertório administrativo: fala-se agora em motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo etc. Os antigos conceitos clássicos de autoridade, hierarquia, racionalização do trabalho, departamentalização, princípios gerais da Administração etc. passam a ser duramente contestados. 2.1.1.2.1 A Teoria das Relações Humana de Elton Mayo George Elton Mayo – cientista social australiano chefiou a já citada experiênia de Hawthorne. Foi um movimento de resposta contrária à Abordagem Clássica da Administração, considerada pelos trabalhadores e sindicatos como uma forma elegante de explorar o trabalho dos operários para benefício do patronato. Essa alta necessidade de se humanizar e democratizar a administração nas frentes de trabalho das indústrias aliada ao desenvolvimento das ciências humanas, à psicologia e à sociologia, dentre outros, e às conclusões da Experiência de Hawthorne fez brotar a Teoria das Relações Humanas. (DINIZ, 2006). A Experiência de Hawthorne tinha por objetivo inicial estudar a fadiga, os acidentes, a rotação do pessoal (turnover7) e o efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. Essa experiência também foi motivada por um fenômeno apresentado de forma severa à época na fábrica: conflitos entre empregados e empregadores, apatia, tédio; alcoolismo, dentre outros. Na primeira fase se pretendia confirmar a influência da iluminação sobre o 7 Trata-se de cálculo que permite à empresa descobrir a rotatividade de pessoal em uma determinada área ou mesmo em termos globais na empresa toda. É um coeficiente encontrado entre o número de contratações e o número de demissões em um determinado período. 29 desempenho dos operários. Os observadores não encontraram correlação direta entre as variáveis, não havendo comprovação do objetivo inicial, e sim a preponderância do fator psicológico sobre o fisiológico. Na segunda fase ocorreu o desenvolvimento dos seguintes campos: social, gerado pelo trabalho em equipe, e de liderança, gerado pelos objetivos comuns. As condições da sala experimental permitia que se trabalhasse com liberdade e menor ansiedade: supervisão branda (sem temor do supervisor, desempenhando um papel mais para orientador), ambiente amistoso e sem pressões, proporcionando um desenvolvimento social e a integração do grupo entre si. Seguiu-se a terceira fase, por meio do Programa de Entrevistas, que compreendia entrevistas com os empregados para conhecer suas opiniões e sentimentos, por ela constatou-se a existência de uma organização informal de operários; em que existia lealdade e liderança de certos funcionários em relação ao grupo. A punição não era formalizada, mas aplicada pelo grupo ao membro. Houve grande aprovação e em conseqüência disso, criou-se a Divisão de Pesquisas Industriais. Consequentemente veio a quarta fase, tendo como foco de observação a igualdade de sentimentos entre os membros do grupo e a relação de organização formal e informal, que tinha por finalidade a proteção contra o que o grupo considerava ameaças da Administração. Em Asanome, 2001 encontramos a descrição das conclusões da experiência: • Nível de produção é resultante de Integração Social: é a capacidade social do trabalhador que estabelece o seu nível de competência e eficiência; quanto mais integrado socialmente no grupo de trabalho, tanto maior será a disposição de produzir; • Comportamento Social dos empregados: verifica-se que o comportamento do indivíduo se apóia totalmente no grupo. Os trabalhadores não agem ou reagem individualmente, mas como membros de um grupo. Amizade e agrupamento social devem ser considerados aspectos relevantes para a Administração; • Recompensas e Sanções sociais: são simbólicas e não-materiais, porém, influenciam decisivamente a motivação e a felicidade do trabalhador. As 30 pessoas são motivadas pela necessidade de “reconhecimento”, de “aprovação social” e “participação”. A motivação econômica é secundária na determinação da produção do empregado; • Grupos Informais: definem suas regras de comportamento, suas formas de recompensas ou sanções sociais, punições, seus objetivos, sua escala de valores sociais, suas crenças e expectativas, que cada participante vai assimilando e integrando em suas atitudes e comportamento; • As Relações Humanas: são as ações e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre as pessoas e o grupo, permitindo uma atmosfera na qual cada pessoa é encorajada a exprimir-se livre e sadiamente. Cada pessoa procurar se ajustar às demais pessoas do grupo para que seja compreendida e tenha participação ativa, a fim de atender seus interesses e aspirações; • A Importância do Conteúdo do Cargo: o conteúdo e a natureza do trabalho têm enorme influência sobre o moral do trabalhador, tornando-o produtivo ou desmotivado. Trabalhos repetitivos tendem a se tornar monótonos e maçantes afetando negativamente as atitudes do trabalhador e reduzindo sua eficiência; • Ênfase nos aspectos emocionais: é a preocupação com as emoções e sentimentos dos funcionários. Elementos emocionais, não-planejados e até mesmo irracionais do comportamento humano devem ser considerados dentro da organização. Após esse estudo, a empresa passou a ser visada também como um conjunto de indivíduos e de relações de interdependências que estes mantêm entre si, em função de normas, valores, crenças e objetivos comuns e de uma estrutura tecnológica subjacente. O homem social é um ser complexo, que ao mesmo tempo é condicionado pelos sistemas sociais em que se insere e motivado a agir por necessidade de ordem biológica e psicosocial. Os valores que orientam o comportamento de cada indivíduo são, de um lado, derivados das necessidades que constituem a fonte de valores sociais; de outro, transmitidos ao indivíduo pelos sistemas sociais dos quais participa. Motivado pela organização mediante a satisfação de suas necessidades, o indivíduo não focaliza o “salário ou benefícios financeiros” como ponto central, mas a remuneração no ciclo motivacional é um componente integrante. 31 Para Elton Mayo: “O conflito é uma chaga social, a cooperação é o bemestar social” (WAHRLICH, 1986) 2.1.1.2.2 Os Estudos de Mary Parter Folet Mary Parker Follett nasceu em Boston, Massachusetts, em 1868, e graduou-se na Faculdade de Radcliffe, onde se especializou em Economia, Governo e Filosofia. Seguindo seu treinamento acadêmico, seus interesses continuaram a alargar-se amplamente nos domínios das Ciências Sociais e sua aplicação aos problemas do dia. Seus contatos com empresas e suas observações da liderança das mesmas levaram-na à conclusão de que a empresa e sua administração constituem um dos elementos mais dinâmicos da sociedade Ocidental. Estava convencida, contudo, de que as bases psicológicas subjacentes à filosofia da administração não tinham sido ainda percebidas. Até sua morte, em 1932, aplicando seu treinamento de cientista social, analisou as operações de muitas empresas nos Estados Unidos e da Inglaterra e tornou-se uma das maiores autoridades sobre organização. Contudo a despeito de seus apelos para que os administradores considerassem os fatores psicológicos inerentes a suas funções, relativamente poucos líderes de empresas lhe prestaram atenção. Só depois da segunda guerra mundial, estudiosos e praticantes começaram a dar séria consideração às contribuições para a compreensão das empresas que podem advir das ciências sociais Na década de 1920, Mary Parker Follet foi a única pesquisadora a entender os limites da Administração Científica de Taylor, defendendo a dimensão criativa dos trabalhadores. A partir de 1927, novas experiências começam a surgir no sentido de um melhor aproveitamento do trabalho humano. O homem passou a ser visto como unidade isolada, diferente portanto das máquinas, e sofreria influências no seu trabalho em razão do ambiente físico, movimentos dispendiosos e ineficientes, fadiga. Mary Parker Follet foi a primeira a pesquisar e analisar a motivação humana partindo de valores individuais e sociais. O enfoque passou a ser na 32 integração das pessoas e coordenação de suas atividades. Assim foram elaborados quatro princípios: a) contato direto: as pessoas que trabalham perto, devem estreitar os contatos para melhor coordenação. b) planejamento: os executores do trabalho devem estar envolvidos no mesmo desde o planejamento. c) relações recíprocas: todos os elementos de um dado conjunto devem estar estritamente relacionados. d) processo contínuo da coordenação: toda decisão é um momento de um processo, uma pessoa dever ser considerada importante à medida que tem influência dentro do processo e não por motivos hierárquicos. Elaborou-se também a chamada “Lei da situação”, ou seja, uma pessoa não deve receber ordens de outra pessoa, mas ambas devem concordar em receber ordens da situação. É o momento que irá determinar a atitude a ser tomada. Mary Parker Follet , no primeiro capítulo de: Profeta do Gerenciamento que é uma reedição de alguns capítulos de Creative Experience, de 1924 - foi à primeira estudiosa a introduzir o conceito de circularidade na interação dos seres humanos. O que se entende por comportamento circular são a confrontação e o jogo livre na exposição de idéias em uma discussão aberta. As idéias das pessoas são recolhidas e sobre elas se oferece uma nova “simbiose” que pode ser absorvida por outro. Há uma integração das diferenças. Surgindo um conflito, as soluções só podem ser encontradas somente com a participação de todas as partes, não por meio de uma “psicologia de adaptação”, mas de uma “psicologia de invenção”. As idéias, conceitos e preceitos desenvolvidos por Follet foram rejeitados nos anos 30 e 40, e por isso pouca gente ouve falar dela hoje em dia. Na verdade, os ensinamentos de Follet eram incompreensíveis, naquela realidade. A sociedade estava dominada por uma crença profunda na luta de classes. Patrões e empregados em eterna posição antagônica. No Brasil, houve uma tentativa de resgate da obra de Follet. Na década de 90, a Editora Quallitymark lançou Mary Parker Follet: Profeta do Gerenciamento, 33 reunindo as principais passagens de seus livros. Não foi o bastante: o título está fora de circulação e só pode ser encontrado em sebos e bibliotecas. Os conceitos desenvolvidos por Follet, no início do século passado, foram (re) descobertos por outros estudiosos da Administração anos mais tarde. A questão é que o mundo da Administração não deu a Mary Parker Follet o reconhecimento que lhe é devido. Ela se antecipou a muitos dos “gurus” que hoje veneramos, falando antes o que eles vieram a repetir muitos anos depois. Surgiram críticos em relação às idéias da escola de RelaçõesHumanas. Principalmente por sua predileção pelas pessoas. A Escola das Relações Humanas não introduziu o conceito de liderança, mas ampliou-se consideravelmente. Ao centrar toda sua atenção no homem, a escola chegou a envolver um certo grau de complexidade ao conceito, talvez decorrente do papel fundamental no processo administrativo que a Teoria das Relações Humanas conferiu à figura do líder. Analisando o conceito exposto pelos autores desta Escola conclui-se que o líder deve ter duas características básicas: inicialmente, sua capacidade de influenciar, de conduzir, de levar pessoas a adotarem determinadas ações, posturas ou comportamentos; a seguir, a visibilidade de sua ação, isto é, a capacidade do líder de se destacar e se diferenciar dos demais. Um aspecto extremamente relevante a considerar é que a Escola das Relações Humanas não confundia liderança com imposição. Antes, o líder era visto como alguém que influenciava mas não procedia controles e acompanhamentos rígidos. (GRAHAM, 1997) A Escola de Relações Humanas enquadrou a liderança como fenômeno típico dos grupos sociais, o que significa definir um contexto onde cada pessoa, com suas próprias características de preferências, personalidade, conhecimento, caráter, dinamismo, capacidade de relacionamento, por exemplo, interage com um grupo, que possui igualmente suas próprias características, sejam definidas em termos de seus integrantes (especificidades dos indivíduos - como necessidades, gostos ou conveniências) ou de sua estrutura (relações formais e informais entre as pessoas, por exemplo). A este contexto agrega-se, ainda, o momento vivido; carências, problemas, disponibilidades, objetivos, ambientes e preferências que envolvem o grupo e a situação como um todo. (GRAHAM, 1997) 34 2.1.1.3 Escola Estruturalista A palavra estrutura tem sido usada há algum tempo, tanto nas ciências físicas quanto no campo social. Segundo Ferreira (1993, p.234), estrutura significa disposição e ordem das partes dum todo, ou ainda, um todo, considerado a forma por que se dispõem as suas partes. Já estruturalismo, segundo este mesmo dicionário da língua portuguesa, é interpretado como sendo uma teoria e metodologia do estudo da língua como um sistema de elementos relacionados entre si (FERREIRA, 1993, p.234). Com relação mais propriamente às ciências humanas, o Estruturalismo surgiu para permitir o desenvolvimento e a aplicação de métodos específicos no estudo dos seus objetos analíticos, em uma perspectiva diferente das explicações mecânicas e fundamentadas nas relações de causa e efeito até então desenvolvidas. Segundo Chauí (1999, p.274), a concepção Estruturalista veio mostrar que os fatos humanos assumem a forma de estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos, dando a estes sentidos pela posição e pela função que ocupam no todo. De qualquer sorte, no âmbito das ciências administrativas a escola Estruturalista surge como um esforço de síntese das perspectivas de estudo da estrutura da organização até então existentes. A Administração Científica – mais centrada nos aspectos formais da organização - e a escola de Relações Humanas – preocupada com os aspectos informais. Coube então a esta terceira perspectiva a ligação entre os dois conceitos de organização formal e informal e a apresentação de um quadro teórico mais complexo da organização e o fornecimento de elementos essenciais para a análise comparativa, fundamental neste campo do conhecimento. (CHAUÍ, 1999) Os Estruturalistas ao ampliarem o escopo dos estudos para organizações de procedência cultural, sem fins lucrativos, presídios e hospitais perceberam o inevitável conflito de interesses entre as necessidades da organização e as dos indivíduos. Nesta perspectiva os conflitos podem ser minimizados mas não desconhecidos e jamais totalmente eliminados, e mais, podem inclusive ser 35 utilizados para o crescimento e a resolução de determinados tipos de problemas organizacionais, tendo em vista as chamadas funções sociais do conflito. Assim, introduzem a lógica integrativa ao invés da lógica dicotômica, abrindo campos importantes de estudo na teoria organizacional como as questões do poder, dos próprios conflitos e da alienação. (ARBAGE, 2000) 2.1.1.3.1 A Burocracia de Weber Max Weber, sociólogo alemão se interessou por estudos relacionados à eficiência de diferentes tipos de estruturas gerenciais. Weber estudou as grandes estruturas que se mostraram eficientes na história como: o Império Egípcio, o Exército Prussiano, a Igreja Católica Romana e outras grandes organizações e a partir destas análises desenvolveu a Teoria Burocrática, aonde fazia a descrição de uma organização eficiente ideal. O modelo burocrático de Weber contempla tanto a diferenciação (pela divisão do trabalho e pela especialização) como a integração (pela hierarquia de autoridade, regras e regulamentos escritos) necessária para realizar um trabalho específico. A burocracia de Weber coloca ênfase na racionalidade, na possibilidade de previsão, na impessoalidade, sendo este fator importante dentro da burocracia de Estado, aonde todos devem ser tratados de maneira igual. No início do século XX, Max Weber publicou uma bibliografia a respeito das grandes organizações de sua época. Deu-lhes o nome de burocracia e passou a considerar o século XX como o século das burocracias, pois achava que essas eram as organizações características de uma nova época, plena de novos valores e de novas exigências. A palavra burocracia vem do: francês - bureau (escritório) e do grego – krátos (poder) O termo latino burrus, usado para indicar uma cor escura e triste, teria dado origem à palavra francesa bure, usada para designar um tipo de tecido posto sobre as escrivaninhas das repartições públicas. Daí a derivação da palavra bureau, primeiro para definir as mesas cobertas por este tecido e, posteriormente, para designar todo o escritório. 36 A palavra burocracia dá a idéia do exercício do poder, por meio dos escritórios e das repartições públicas. Segundo o conceito popular, a burocracia é entendia como uma organização onde o papelório se multiplica e se avoluma, impedindo soluções rápidas ou eficientes. Para Weber é exatamente o contrário. Para ele burocracia é a organização eficiente por excelência. Weber apresenta as seguintes características: Caráter legal das normas e regulamentos, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão autoridade.Rotinas do e trabalho.Impessoalidade procedimentos nas padronizados, relações.Hierarquia competência técnica de e meritocracia, especialização da administração, profissionalização dos participantes e completa previsibilidade do funcionamento. As organizações burocráticas, segundo Weber devem apresentar as seguintes características: hierarquia de autoridade, regras e regulamentos formais; divisão de trabalho; seleção formal, impessoalidade e orientação de carreira. Outra contribuição dos estudos de Weber foi à classificação dos tipos de autoridade: autoridade tradicional, autoridade carismática e autoridade legalracional. 2.1.1.3.2 A Teoria Estruturalista Ao final da década de 1950, a Teoria das Relações Humanas experiência tipicamente democrática e americana - entrou em declínio. Foi a primeira tentativa de introdução das ciências do comportamento na teoria administrativa através de uma filosofia humanística e participativa. De um lado ela combateu a Teoria Clássica, mas, por outro, não proporcionou bases adequadas de uma nova teoria que a pudesse substituir. A oposição entre a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas criou um impasse que a Teoria da Burocracia não teve condições de ultrapassar. A Teoria Estruturalista é um desdobramento da Teoria da Burocracia e uma aproximação à Teoria das Relações Humanas. Representa uma visão crítica da organização formal. (ARBAGE, 2000) Segundo Vasconcelos (2007), a Teoria Estruturalista na Administração 37 teve suas origens fundamentadas principalmente: • Na oposição surgida entre a Teoria Tradicional e a Teoria das Relações Humanas – incompatíveis entre si - tornando necessária uma posição mais ampla e compreensiva que integrasse os aspectos considerados por uma e omitidos pela outra e vice-versa. A Teoria Estruturalista pretende ser uma síntese delas, inspirando-se na abordagem de Max Weber. • Na necessidade de visualizar "a organização como uma unidade social complexa na qual interagem grupos sociais" que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade econômica da organização), mas podem se opor a outros (como a maneira de distribuir os lucros). Seu maior diálogo foi com a Teoria das Relações Humanas. • Na influência do estruturalismo nas ciências sociais e sua repercussão no estudo das organizações, o estruturalismo influenciou a Filosofia, a Psicologia (com a Gestalt), a Antropologia (com Claude Lévi-Strauss), a Matemática (com N. Bourbaki), a Lingüística, chegando até à teoria das organizações· com Thompson, Etzioni e Blau. Na teoria administrativa, o estruturalismo se concentra nas organizações sociais. O estruturalismo está voltado para o todo e com o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de o todo ser maior do que a soma das partes são as características do estruturalismo. Para os estruturalistas, a estratégia não é produto de um único arquiteto, mas o resultado da ação de vários agentes e coalizões de agentes no sentido de alcançar seus próprios interesses. Os grupos de subordinados podem entrar nos processos de determinação e distorção de estratégias. No fundo, a estratégia permite mapear a estrutura de poder existente na organização. Os estruturalistas discordam de que haja harmonia de interesses entre patrões e empregados (como afirmava a Teoria Clássica) ou de que essa harmonia deva ser preservada pela Administração através de uma atitude compreensiva e terapêutica (como afirmava a Teoria das Relações Humanas). Ambas as teorias punham fora de discussão o problema do conflito em decorrência do seu caráter prescritivo. Para os estruturalistas, os conflitos, embora nem todos desejáveis, são 38 elementos geradores das mudanças e da inovação na organização. (WERNECK, 2005). A Teoria Estruturalista concentra-se no estudo das organizações, na sua estrutura interna e na interação com outras organizações. As organizações são concebidas como unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos. (exército, escolas, hospitais, igrejas, prisões). As organizações são caracterizadas por um conjunto de relações sociais estáveis e deliberadamente criadas com a explícita intenção de alcançar objetivos ou propósitos. Assim, a organização e uma unidade social dentro da qual as pessoas alcançam relações estáveis entre si, no sentido de facilitar o alcance de um conjunto de objetivos ou metas. (WERNECK, 2005) Enquanto a Teoria Clássica caracteriza o "homo oeconomicus" e a Teoria das Relações Humanas, "o homem social", a Teoria Estruturalista focaliza o "homem organizacional", ou seja, o homem que desempenha papéis em diferentes organizações. Enquanto a Administração Científica e a Escola das Relações Humanas focalizaram as fábricas, a abordagem estruturalista ampliou o campo da análise da organização, a fim de incluir outros tipos diferentes de organizações além das fábricas: organizações pequenas, médias e grandes, públicas e privadas, empresas dos mais diversos tipos (indústrias ou produtoras de bens, prestadoras de serviços, comerciais, agrícolas, etc.), organizações militares (exército, marinha, aeronáutica), organizações religiosas (igreja), organizações filantrópicas, partidos políticos, prisões, sindicatos, etc. A partir do estruturalismo a administração não ficou mais restrita às fábricas, mas passou a ser entendida a todos os tipos possíveis de organizações. Além disso, toda a organização, à medida que cresce torna-se complexa e passa a exigir uma adequada administração.(ARBAGE, 2000) Os estruturalistas além de se preocupar com os fenômenos internos, também se preocupam com os fenômenos que ocorrem externamente nas organizações, mas que afetam os que ocorrem dentro delas, ou seja, os fenômenos internos. Assim, os estruturalistas se baseiam em uma abordagem de sistema aberto e utilizam o modelo natural de organização como base de seus estudos. 39 A análise organizacional passa a ser feita através de uma abordagem múltipla, ou seja, através das análises intra-organizacional (fenômenos internos) e interorganizacional (fenômenos externos). (ARBAGE, 2000) Os estruturalistas efetivaram um equilíbrio no estudo das organizações; em relação aos estudos elaborados até então. Nem pró-administração, nem próempregado. Isto além de um estudo mais amplo sobre qualquer tipo de organização. 2.1.1.4 A Escola Comportamental A Teoria Comportamental da Administração teve origens idênticas à Teoria das Relações Humanas. Parte da reação à Teoria Clássica, mas tenta criar uma situação intermediária entre o formalismo e o informalismo. Cria-se, assim, a teoria da organização formal com o enfoque das relações humanas. Os aspectos mais relevantes desta escola, portanto, acabam sendo novos princípios de administração, novos conceitos de autoridade e nova noção de organização formal. (PALADINI, 2002) O processo de desenvolvimento organizacional pode ser visto como uma proposta básica de uma corrente da administração centrada em autores importantes como Judson, Blau e Scott. A base conceitual desta proposta envolve um conceito particularmente importante: a noção de mudança. Este conceito, na verdade, não foi destacado apenas por esta abordagem, mas sempre foi considerado importante na administração. (PALADINI, 2002) Ocorre, contudo, que foi na escola, que poderia ser chamada de "escola do desenvolvimento organizacional", que se conferiu, um enfoque metodológico e sistemático tanto para conceituá-la quanto para colocá-la em prática. A Escola Comportamental parte de duas rejeições básicas: o homem não pode ser visto de forma simplista (por exemplo, movido apenas por motivos econômicos) nem de forma sentimentalista. E afirma que o homem se adapta a determinados ambientes, pautando seu comportamento por variáveis que acompanham uma situação específica. De certa forma, a “Escola Comportamentalista” - que difunde as idéas da Teoria Comportamental - pode ser vista como uma extensão das idéias da “Escola 40 das Relações Humanas”. Ela baseia-se, principalmente nos estudos do psicólogo norte-americano, Abraham Maslow (1908-1970), segundo os quais a principal motivação do homem em relação ao trabalho está fundada na satisfação de uma "hierarquia de necessidades", começando pelas necessidades psicológicas e estendendo-se ao campo da segurança pessoal e familiar, da situação social, da auto-realização e do grau de estima dentro do grupo, além, evidentemente, do crescimento profissional, necessidades essas que, de uma forma indireta, se relacionam com o salário. (GALVÊAS, 2008) A principal característica desta escola foi a preocupação com o comportamento organizacional (processos e dinâmica organizacional), enfatizando as ciências do comportamento. Os comportamentalistas ou behavioristas vêem a organização como um sistema cooperativo racional. Esta escola teve suas principais origens baseadas na: • Forte e definitiva oposição da Teoria das Relações Humanas em relação à Teoria Clássica; • Consiste em um desdobramento da Teoria das Relações Humanas, rejeitando a sua característica ingênua e romântica, mas aproveitando e reformulando alguns dos seus conceitos tomados como ponto de partida; • Critica a Teoria Clássica , sendo considerada por alguns autores uma antítese à organização formal, aos princípios gerais da administração, ao conceito de autoridade formal e à posição rígida e mecanicista dos autores clássicos. • Com a Teoria Comportamental deu-se a incorporação da Sociologia da Burocracia, ampliando o campo da teoria administrativa. • Critica a Teoria da Burocracia, particularmente no que se refere ao “modelo de máquina” adotado como representativo da organização. • O surgimento do livro de Herbert Simon, em 1947, “O comportamento administrativo”. Os principais pensadores desta vertente são: Herbert A. Simon: autor da obra “Comportamento Administrativo” que representa o marco inicial da Teoria Comportamental . O livro promove um ataque 41 aos preceitos estabelecidos na Teoria Clássica , aceitando com restrições as idéias básicas da Teoria das Relações Humanas. Abraham Maslow, com sua hierarquia das necessidades. A “visão de Maslow” constitui-se numa teoria da motivação humana, hierarquizando por importância as necessidades humanas, colocando-as em uma pirâmide. Para Maslow a motivação humana é conseqüência de uma necessidade insatisfeita: • Uma necessidade se torna premente quando a imediatamente inferior estiver satisfeita.; • Quando as necessidades inferiores estiverem satisfeitas, as dos níveis superiores começam a dominar o comportamento; • Quando uma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita , ela volta a predominar no comportamento; • Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação e todos os níveis atuam conjuntamente dominando as necessidades mais elevadas sobre as mais baixas, desde que estas estejam suficientemente atendidas. • O efeito das necessidades é sempre global, nunca isolado. • Qualquer frustração da satisfação de certas necessidades transforma-se em uma ameaça psicológica (descontentamento). Frederick Herzberg, propôs um modelo motivacional baseado em dois fatores – fatores higiênicos e fatores motivacionais que, para ele, determinam o comportamento das pessoas. Fatores higiênicos ou extrínsecos : são contextuais, relacionados com o meio ambiente onde as pessoas atuam. São de responsabilidade da organização, fora do controle das pessoas. Fatores motivacionais ou intrínsecos: são relacionados ao conteúdo do cargo, à natureza das tarefas inerentes a ele. Estão sob o controle da pessoa. Quando os fatores motivacionais são ótimos provocam a satisfação, quando deficientes evitam a satisfação, sendo chamados de satisfacientes. Dougla M. McGregor, elaborou dois estilos administrativos, opostos e 42 antagônicos que chamou de Teoria X (mecanicista e pragmática) e Teoria Y (baseada na concepção mais moderna da visão comportamentalista). Teoria X: É representada pelos modelos de Taylor, Fayol e Weber, nas quais o homem é visto como máquina, como recurso de produção, concepções consideradas inadequadas sobre o comportamento humano. Teoria Y: Baseia-se em concepções e premissas atuais, baseada em valores humanos e sociais, totalmente opostos à visão clássica da Teoria X. Para David McClelland existem três motivos na dinâmica do comportamento humano: (MONTANA, 1998) a) Necessidade de realização (inovadora):é a necessidade de sucesso pessoal, avaliado em relação a um padrão individual de excelência; b) Necessidade de afiliação (protetora):necessidade de relacionamento próximo, cordial e afetuoso com outras pessoas; c) Necessidade de poder: refere-se à necessidade burocrática de controlar ou gerar influência sobre outras pessoas. d) Vistas em seu aspecto mais amplo pela Teoria Comportamental, as organizações são definidas como resultado de um conjunto de decisões. Seu sucesso ou fracasso, sua fragilidade ou sua consistência, sua evolução ou sua redução, enfim, sua sobrevivência passa a depender destas decisões. A teoria, assim, considera que os processos administrativos constituem-se a partir de processos de tomada de decisão nos diversos níveis da organização. Neste contexto, a Escola Comportamental direciona o comportamento dos líderes, que passam a ser avaliados segundo as soluções que adotam para determinados problemas, ou seja, pelas decisões que tomam. Assim, considera-se aqui como fundamental, na ação do líder, sua capacidade de decidir. 43 2.1.1.5 Teoria dos Sistemas Abertos O aparecimento da Teoria geral dos sistemas forneceu uma base para a unificação dos conhecimentos científicos nas últimas décadas. Ludwigvon Bertalanffy (1901-1972) concebeu esse nome no início da década de 1920, criando em 1954 a Societyfor General Systems Research.Bertalanffy introduziu esse nome para descrever as características principais das organizações como sistemas, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. A Teoria Geral dos Sistemas, teria por finalidade identificar as propriedades, os princípios e as leis característicos dos sistemas em geral, independentemente do tipo de cada um, da natureza de seus elementos componentes e das relações entre eles. De acordo com o autor, existem certos modelos ou sistemas que, independentemente de sua especificidade, são aplicáveis a qualquer área de conhecimento. Um sistema se define como um complexo de elementos em interação de natureza ordenada e não fortuita. A Teoria Geral dos Sistemas é interdisciplinar, isto é, pode ser utilizada para fenômenos investigados nos diversos ramos tradicionais da pesquisa cientifica. Ela não se limita aos sistemas materiais, mas aplica-se a todo e qualquer sistema constituído por componentes em interação. Além disso, a Teoria Geral dos Sistemas pode ser desenvolvida em várias linguagens matemáticas, em linguagem escrita ou ainda computadorizada. Essa nova abordagem trouxe grandes transformações na forma como se analisavam as organizações. Passa-se a ver a organização não apenas interiormente mas leva-se em consideração a relação desta com o meio ambiente e vice-versa. A partir de agora a entrada, a transformação, a saída e o feedback8 devem ser analisados e necessitam estar presentes em qualquer processo de análise. Motta (1989), enfatiza a importância dos papéis, normas e valores. Papéis em relação ao comportamento, normas como expectativas gerais e valores, justificações e aspirações gerais. 8 É o procedimento que consiste no provimento de informação a uma pessoa sobre o desempenho, conduta ou eventualidade executada por ela e objetiva reprimir, reorientar e/ou estimular uma ou mais ações determinadas, executadas anteriormente. 44 Algumas definições que auxiliam na aplicação prática dessa teoria são: a) Sistemas: Conjunto estruturado visando a um fim, no qual existem relações complexas e não triviais entre os elementos constitutivos, de modo que o todo seja mais do que a soma das partes. Exemplo: sistema econômico. b) Sistema Operacional: Conjunto de atividades estruturadas, visando a um objetivo estabelecido, especialmente à produção de bens e serviços econômicos ou socialmente valiosos. Exemplos: empresa, hospital, escola. c) Sistema Administrativo: Conjunto de recursos estruturados, constituídos de pessoas, equipamentos, materiais e procedimentos, destinados a processar uma tarefa administrativa específica. Exemplos: rotina de seleção e controle de produção e materiais, controle de desempenho. d) Sistema de informação: Subsistema do sistema administrativo, destinado a processar o fluxo de informação. Exemplos: sistema contábil, sistema de controle de qualidade. Alguns elementos dos sistemas são: 1. Diretrizes, objetivos, planos, projetos, metas; 2. Entrada (input), saída (output), processamento, meio externo, variáveis endógenas, interface, ambiente externo, variáveis exógenas; 3. Laços positivos (amplificadores) e laços negativos (estabilizadores); 4- Sensor, medidor, controle, correção, retroação, homeostase, regulador, servomecanismo, cibernética de Segunda ordem; 4. Ruído, entropia, anti-sistema, redundância, Alguns dos princípios da dinâmica do sistema são: 1. Todas as partes de um sistema são relacionados. Assim, uma alteração numa das partes do sistema causa necessariamente uma mudança em todas as demais. Isso significa que a otimização dos objetivos requer uma integração do próprio sistema. 2. Em vista da grande complexidade que existe no relacionamento entre as variáveis do sistema e em razão dos muitos laços que interligam os 45 subsistemas, os efeitos das mudanças que incidem sobre o modelo são contraintuitivos e devem ser analisados pela construção e validação de um modelo. 3. Quanto mais rápida a informação e quanto menor o número de estágios de um sistema, menores serão as oscilações produzidas por uma perturbação e mais rápida será a volta ao equilíbrio. Uma distinção importante para a teoria da organização é a classificação das organizações em sistemas fechados ou abertos. Um sistema fechado é aquele que não realiza intercâmbio com o seu meio externo, tendendo necessariamente para um progressivo caos interno, desintegração e morte. Nas teorias anteriores da Administração, a organização era considerada suficientemente independente para que seus problemas fossem analisados em torno de estrutura, tarefas e relações internas formais, sem referência alguma ao ambiente externo, pois as atenções estavam concentradas apenas nas operações internas da organização, adotando-se, para isso, enfoques racionalistas. Um sistema aberto é aquele que troca matéria e energia com o seu meio externo. E, como diz Bresciani (1991), a organização é um sistema aberto, isto é, um sistema mantido em importação e exportação, em construção e destruição de componentes materiais, em contraste com os sistemas fechados de física convencional, sem intercâmbio de matéria com o meio. Rodrigues (1987), estabelece os diferenciais entre sistemas abertos e fechados. Um sistema organizacional rígido e fechado não poderá sobreviver na medida em que não conseguir responder eficazmente às mudanças contínuas e rápidas do ambiente. O sistema fechado tende a se concentrar em regras de funcionamento interno, a reverenciar o controle como critério primeiro da viabilidade organizacional e, por conseguinte, na ênfase aos procedimentos e não em programas. Todo sistema aberto precisa de constante informação do ambiente, para a eficácia nas propostas da organização ao ambiente (correções). O feedback é indispensável à organização que se relaciona com o ambiente. No Brasil, segundo o mesmo autor, é considerável o número de empresas que vivem “sacando no passado”. Devido a grandes realizações passadas, acomodam-se e passam a viver no passado, num ambiente com poucas mutações. 46 Estas empresas talvez alcancem longevidade; atualmente, porém, o ambiente é sujeito a grandes mutações. 2.1.1.6 Teoria das Contingências Na segunda metade da década de 70 mais um enfoque de ciências administrativas chega à América Latina, o enfoque contingencial ou situacional.Esse enfoque representa, em última análise, a constatação de que continua não existindo uma teoria administrativa aplicável a todos os casos e a todas as circunstâncias. Cada um dos enfoques ou combinação de enfoques se presta melhor à análise de certa e determinada situação do que outro enfoque ou combinação de enfoques. (ROCHA, 2007). Contingência significa algo incerto ou eventual, algo que pode ou não ocorrer. Neste sentido a teoria da contingência ou teoria contingencial enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo. Tudo depende. A abordagem contigencial esclarece que existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização. As variáveis ambientais são variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes dentro de uma relação funcional. Na realidade, não existe uma causalidade direta entre essas variáveis independentes e dependentes, pois o ambiente não causa a ocorrência de técnicas administrativas. Em vez de uma relação de causa e efeito entre as variáveis do ambiente (independentes) e as variáveis administrativas (dependentes), existe uma relação funcional entre elas. Essa relação funcional é do tipo "se-então" e pode levar a um alcance eficaz dos objetivos da organização. A relação funcional entre as variáveis independentes e dependentes não implica que haja uma relação de causa-e-efeito, pois a administração é ativa e não passivamente dependente na prática da administração contingencial. O reconhecimento, diagnóstico e adaptação à situação são certamente importantes, porém, eles não são suficientes. As relações funcionais entre as condições 47 ambientais e as práticas administrativas devem ser constantemente identificadas e especificadas. A Teoria contingencial nasceu a partir de uma série de pesquisas feitas para verificar quais os modelos de estrutura organizacionais mais eficazes em determinados tipos de indústrias. Essas pesquisas e esses estudos foram contingentes na medida em que procuravam compreender e explicar o modo pelo qual as empresas funcionavam em diferentes condições. As condições variam de acordo com o ambiente ou contexto que as empresas escolheram como seu domínio de operações. Em outras palavras, essas condições são ditadas de acordo com o seu ambiente externo. Tais contingências externas podem ser consideradas como oportunidades ou como restrições que influenciam a estrutura e os processos internos das organizações. Pesquisas foram realizadas na década de 1960 sobre a relação entre modelos de estruturas organizacionais e a eficácia em determinados tipos de indústria. Os resultados surpreenderam, pois indicava que não havia uma única ou melhor forma e sim que tanto a estrutura quanto o funcionamento das organizações dependiam da relação com o ambiente externo A abordagem contingencial salienta que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único e exclusivo modelo organizacional, ou seja, não existe uma forma única que seja a melhor para organizar no sentido de se alcançar objetivos altamente variados das organizações dentro de um ambiente de trabalho também variado. (CHIAVENATO, 1983.) Os autores neoclássicos procuraram aumentar o grau de abrangência da Escola Clássica, acrescendo aspectos das teorias comportamentais, mantendo as premissas básicas da Teoria Clássica. A abordagem contingencial fez a mesma coisa em relação à teoria dos sistemas. Incorporou os pressupostos da teoria de sistemas sobre a interdependência e a natureza orgânica da organização, bem como o caráter aberto e adaptativo das organizações e a necessidade de preservar a flexibilidade em face das mudanças e procurou meios para unir a teoria com a prática, em um enfoque de sistemas. (SCOTT , 1998) Seus principais pesquisadores foram Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch que pesquisaram sobre os defrontamentos: organização x ambiente, grupo x grupo e indivíduo x organização. O desenvolvimento destas inter-relações conduz à análise das metas 48 organizacionais e dos objetivos dos seus participantes. O trabalho marca o aparecimento da Teoria da Contingência. O próprio nome Teoria da Contingência derivou desta pesquisa. Estudaram-se as características que devem ter as empresas para enfrentar com eficiência as diferentes condições externas, tecnológicas e de mercado. Os autores concluíram que os problemas organizacionais básicos são a diferenciação e a integração. Outro pesquisador Joan Woodward procurou estabelecer uma relação entre sistemas de produção, tecnologia e gerenciamento. Concluiu que a tecnologia adotada pela empresa determina a sua estrutura e o seu comportamento organizacional, ou seja, que as empresas de sucesso adotavam uma estrutura que variava de acordo com a sua tecnologia de produção. Também Alfred Chanler pesquisou sobre mudanças estruturais nas organizações e as suas relações com a estratégia de negócios utilizada e concluiu que a estrutura organizacional (desenho da organização) das grandes empresas americanas foi sendo determinada pela estratégia mercadológica,ou seja, dadas as diferentes estratégias e ambientes, diferentes estruturas organizacionais são necessários:ambientes diferentes novas estratégias diferentes estruturas organizacionais Ainda Tom Buns e G. M. Stalker desenvolveram uma pesquisa visando conhecer a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo de vinte indústrias inglesas. Acabaram por classificar as indústrias em dois tipos: Mecanísticas: mais apropriadas sob condições ambientais estáveis, com ênfase nos princípios da Teoria Clássica (características: divisão do trabalho, cargos ocupados por especialistas, muito centralizadas, hierarquia rígida, formais, predomínio da interação vertical com sistemas de controle simples); Orgânicas: mais apropriadas para condições ambientais de mudança e inovação, com ênfase nos princípios da Teoria das Relações Humanas (características: estruturas flexíveis que nem sempre podem ser fragmentadas, relativamente descentralizadas, tarefas executadas com base no conhecimento, interação lateral, maior confiança nas comunicações). Para Burns e Stalker o ambiente é que determina a estrutura e o funcionamento das organizações. 49 3 3.1 LIDERANÇA Definição de Liderança Liderança é um tema recorrente na história da Humanidade. Sem ela, os povos teriam permanecido inertes em suas realizações. Graças aos líderes, surgidos espontaneamente ou por escolha da maioria, o tempo tem sido cada vez mais dinâmico. Muitos desses líderes têm se envolvido com a prática da liderança, outros com a teoria, mas poucos se preocupam em associar o conhecimento. Existem várias definições de liderança: “A liderança é o exercício da autoridade e a tomada de decisões”. (DUBLIN, 1951) “A liderança é a implementação de ações que produzem um padrão consistente na interação dos grupos, dirigida no sentido da resolução de problemas mútuos”. (HEMPHILL, 1954) “Liderança é a influência interpessoal exercida numa situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana à consecução de um ou de diversos objetivos específicos”. A liderança é encarada como um fenômeno social e que ocorre exclusivamente em grupos sociais. A liderança deve ser considerada em função dos relacionamentos que existem entre as pessoas em uma determinada estrutura social, e não pelo exame de uma série de traços individuais. (MEDEIROS et al, 2000) Para Kouzes e Posner (1997, p.33-34): [...] a arte de mobilizar os outros para que estes queiram lutar por aspirações compartilhadas. Nessa definição, uma palavra se destaca: querer. Sem ela, o significado de liderança seria bastante alterado, provocando o desaparecimento de conceitos como escolha, motivação interna e aspirações. A liderança, nesse caso, implicaria algo menos que o envolvimento voluntário da parte dos seguidores. Senge (2000, p.28) define a liderança como: “capacidade de uma comunidade humana configurar seu futuro e, especificamente, de sustentar seus processos de mudanças significativos, necessários para que isto aconteça.” ... “Acreditamos, especificamente, que a liderança se desenvolve, de fato, da 50 capacidade de se reter uma tensão criativa, a energia gerada quando as pessoas articulam uma visão e enxergam a verdade (ou melhor, que possam) sobre a realidade atual. Isto também não é uma idéia nova”. “Liderança é uma visão", diz Peter Drucker. Ou, como expresso nos Provérbios 29:18, "Onde não houver visão, as pessoas sucumbirão". Ainda, para Scholtes (1999) liderar sistemas envolve liderar propósito, tecnologia, relacionamentos, equipes de trabalho e a comunidade, interações e um sistema de liderança. Segundo resenha de alguns autores, efetuada por Paul Hersey e Kenneth Blanchard, "liderança é o processo de exercer influência sobre um indivíduo ou um grupo, nos esforços para a realização de um objetivo, em determinada situação". Podemos perceber que são inúmeras as definições de Liderança, mas que essencialmente todas trazem consigo a idéia de Liderança como sendo a habilidade de conduzir , influenciar e motivar pessoas para contribuam da melhor forma visando atingir objetivos comuns. A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana, principalmente nas empresas e em cada um de seus departamentos. Ela é igualmente essencial em todas as demais funções da Administração: o administrador precisa conhecer a motivação humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar. Para Scholtes (1999, p.423), não há fórmula para liderança, ela é mais do que as abordagens, capacidades e atributos existentes nas diversas teorias, ou seja: [...] Liderança é a presença e o espírito do indivíduo que lidera, e o relacionamento que se cria com as pessoas chefiadas. A boa liderança dá conta das necessidades e valores das pessoas que necessitam ser gerenciadas: leva em consideração as habilidades e capacidades dos indivíduos com quem o líder compartilha essa liderança. Ela se adapta ao propósito e necessidades futuros da organização. A liderança é uma arte, uma jornada interior, uma rede de relacionamentos, o domínio de métodos, e mais, muito mais. 3.2 Teorias da Liderança A liderança ainda é uma arte, a despeito dos esforços dos pesquisadores para torná-la uma ciência. 51 Não há um modo único de liderar as pessoas. Não há a melhor maneira de liderar as pessoas. Os líderes potenciais precisam desenvolver habilidades e obter experiência útil com diversos métodos de exercer influência buscando ativamente oportunidades de praticar o que aprenderam na escola. (Revista Exame, 2000) São as teorias que estudam a liderança em termos de estilo de comportamento do líder em relação aos seus subordinados, isto é, maneiras pelas quais o líder orienta sua conduta, o seu estilo de comportamento ao liderar. A liderança está em todos os lugares, mas ninguém parece poder determinar ou entender o que compõe uma boa liderança. Observa-se nas várias culturas ao redor do mundo, inclusive nas primitivas, que a liderança existe entre todas as pessoas, embora com culturas, raça ou convicções diferentes, ou seja, ela está no inconsciente coletivo. (SILVA, 1998) Não importa onde se olhe na história: desde os animais, os primatas, os humanos, a mitologia grega, a Bíblia, Platão, romanos, ou em qualquer outra sociedade, os líderes aparecem. Até mesmo onde as pessoas não têm estabelecido ou elegido os líderes, chefes ou regras, existe alguém (um líder) que sempre inicia um processo e representa um papel crítico no processo de tomada de decisão de um grupo. (ROCHA, 2007) Liderança sempre foi e será uma parte crucial na vida da humanidade e hoje a liderança ficou mais importante, especialmente para o sucesso de organizações. Os líderes causam um profundo impacto na vida das pessoas e das organizações; por isso, a complexidade do assunto tem levado a uma infinidade de teorias e explicações sobre o que é a liderança, como as teorias dos traços de personalidade, a comportamental, a carismática, a situacional, a transformacional e outras mais consideradas novas teorias, como a visionária, a servidora e a distribuída, entre outras. 3.2.1 Teoria dos Traços da Personalidade A Teoria de Traços de Liderança apareceu em meados dos anos 30 e busca traços sociais, físicos, intelectuais ou de personalidade que diferenciem 52 líderes de não-líderes. Muitas das pesquisas para identificar os traços responsáveis pela capacidade de liderança deram em nada, pois identificaram cerca de 80 traços associados à liderança, sendo que apenas cinco destes eram comuns a quatro ou mais investigações. No geral, as descobertas cumulativas de mais de meio século levaram a concluir que alguns traços aumentam a probabilidade de sucesso como um líder, mas nenhum dos traços garante o sucesso. A teoria focaliza características de personalidade do líder, específicas e marcantes, que destacam e possibilitam o processo de influenciar pessoas. Seus defensores acreditam que indivíduos portadores de determinados traços de personalidade tornam-se especialmente dotados e deste modo, através de um conjunto de traços, detectariam líderes potenciais, como também avaliariam sua eficiência. (PALADINI, 2002). Cada autor vinculado a essas teorias definiu traços para caracterizar o líder eficaz listando atributos de personalidade, sociais, físicos e intelectuais que descrevessem esses líderes e os diferenciassem dos não-líderes, isolando atributos: Físicos: energia, aparência peso; Intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança; Sociais, cooperação, habilidades interpessoais e habilidades administrativas; Relacionados à tarefa impulso de realização, persistência e iniciativa (CHIAVENATTO, 1994). Esta abordagem enfrentou diversas apreciações críticas que indicam a desconsideração da necessidade dos seguidores, a falha em esclarecer a importância relativa de vários traços, a união da causa no efeito e o fato de ignorar fatores situacionais. Podemos dizer que foram limitações da Teoria o fato de não existir nenhum traço universal que possa prever a liderança em qualquer situação; os traços prevêem melhor o comportamento em situações fracas do que em situações fortes; as evidências são pouco claras quanto à separação de causa e efeito. (Seriam os líderes mais autoconfiantes ou o sucesso na liderança é que leva a autoconfiança?). Finalmente, os traços funcionam melhor para prever o surgimento da liderança do que para distinguir entre líderes eficazes e ineficazes. Além de todos estes limitadores, na visão de Chiavenato (apud PINTO, 2005, p. 86), as teorias de traços apresentam os seguintes aspectos falhos: não 53 ponderam a importância relativa de cada uma das várias características e traços de personalidade que realçam os aspectos de liderança. Em outras palavras, nem todos os traços são igualmente importantes na definição de um líder, pois alguns deveriam ter maior realce do que outros. Ignoram a influência e a reação dos subordinados nos resultados da liderança. A pergunta que paira no ar: um indivíduo pode ser líder para todo e qualquer tipo de subordinado? Não fazem qualquer distinção entre traços válidos quanto ao alcance de diferentes tipos de objetivos a ser alcançados. Em algumas missões, alguns traços de personalidade são mais importantes do que outros: uma missão militar de guerra exige traços diferentes de um líder, enquanto uma missão religiosa ou filantrópica exige outros. Ignoram completamente a situação em que a liderança se efetiva. Em uma empresa existe uma infinidade de diferentes situações que exigem características diferentes dos líderes. Uma situação de emergência exige um tipo de comportamento do líder, enquanto uma situação de estabilidade e calma tem características diferentes. Dentro desta abordagem simplista, um indivíduo dotado de traços de liderança é sempre líder durante todo o tempo e em toda e qualquer situação, o que não ocorre na realidade. Um sujeito pode ser o líder inconteste em sua secção onde trabalha e o último a dar palpites em seu lar. Esta teoria pregava que alguns traços de personalidade desejáveis no líder são: inteligência, otimismo, empatia, criatividade, tolerância, amabilidade, flexibilidade, responsabilidade, disposição, confiança, perspicácia, habilidades humanas (por exemplo: conhecimento e determinação), que são transferíveis de uma situação para outra e são essenciais para uma liderança eficaz. (HERSEY; BLANCHARD, 1986). A liderança exige fazer com que as tarefas sejam desempenhadas em função dos esforços do líder para garantir que a unidade de trabalho ou a organização atinjam suas metas. (MISUMI; PETERSON, 1985) Após os trabalhos de Stogdill (1948), a abordagem dos traços perdeu muito o interesse antes despertado, reforçando-se a partir de então o desenvolvimento das abordagens comportamentais. 54 3.2.2 Teoria Comportamental Kurt Lewin, em 1930, entendeu a liderança como um conjunto de comportamentos passíveis de serem aprendidos e não inerentes à personalidade do líder. Um estudo clássico foi o feito por Lewin, Lippit & Withe, em 1939, para pesquisar o impacto dos diferentes estilos de liderança em um clube de meninos na faixa etária de 10 anos. Esta pesquisa consistiu em um experimento realizado com quatro grupos de cinco meninos que se encontravam após as aulas para realizar atividades similares, no mesmo local e com material parecido. “Estes grupos, segundo Aguiar (1981, p.173-174), eram semelhantes em relações interpessoais, em características físicas, intelectuais, de personalidade e em status sócio-econômico.” Os líderes adultos, também em número de quatro, haviam sido treinados para exercer três estilos de liderança (autocrático, democrático e laissez-faire9) e, no intervalo de cada seis semanas, eram mudados de grupo e de estilo, de forma que cada grupo experimentasse diferentes estilos de liderança sob a condução de líderes diferentes. Ao contrário do que possam parecer, estes estudos não demonstraram qualquer superioridade do estilo democrático sobre o autocrático em relação eficácia do líder. Mostrou, entretanto, que os efeitos da personalidade poderiam ser controlados através do aprendizado ou treinamento dos líderes para exercer comando em diferentes estilos e que, dependendo do critério de eficácia utilizado, um estilo de liderança poderia ser mais produtivo do que outro. (MEDEIROS, 2000). Esse tipo de abordagem enfatiza que a liderança pode ser aprendida por meio de técnicas de desenvolvimento pessoal, mudando a afirmação anterior que admitia somente a liderança herdada. Segundo Montana e Charnov (1998, p. 227), “o foco dessa abordagem ao comportamento de liderança proporcionou uma percepção verdadeira das origens e eficácia da liderança, mas sua procura pelo melhor estilo de liderança é um ponto fraco”. 9 Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". 55 3.2.3 Teoria Situacional Influenciados pelas teorias comportamentais, os pesquisadores do fenômeno da liderança prosseguiram analisando-o sob o mesmo vértice de certos padrões ou estilo de comportamento do líder, mas, agora, buscando discriminar as situações nas quais um estilo de liderança e mais eficaz do que outro. Pode-se inferir que a abordagem situacional ou contingencial é uma das mais complexas e contemporâneas das abordagens. Leva ela em consideração a situação em si, passando a examinar os estilos de liderança, habilidades, talentos e, também, as necessidades. (EYNG, 2001). O líder deverá se ajustar às situações previstas e imprevistas. Hersey e Blanchard (1986), consideraram duas dimensões do comportamento de um líder: comportamento de tarefa: adotado para organizar e definir as funções dos membros do seu grupo, explicar atividades que cada um deve executar (o quê, quando, onde e como), compreendendo o estabelecimento de metas e de prazos para a organização, a direção e o controle; comportamento de relacionamento: adotado para manter as relações pessoais entre ele e os membros do seu grupo, abrangendo o ato de ouvir, prestar atenção, dar feedback, facilitar e apoiar. Para Hersey e Johnson (1997), a liderança situacional pode ser afetada por muitos fatores; entretanto, consideramos a relação líder-seguidor uma variável crucial. Além disso, eles afirmam que, embora nenhum estilo seja eficaz em todas as circunstâncias, cada um deles pode ser aplicado a situações específicas que dependem da prontidão do seguidor. Em liderança situacional, a prontidão é definida como a intensidade com que o seguidor está demonstrando sua inclinação e sua disposição para executar uma tarefa específica. 3.2.4 Teoria da Liderança Carismática Carisma é uma palavra grega que significa dom de inspiração divina, tal como habilidade de realizar milagres ou predizer acontecimentos. O sociólogo Max Weber (1947) usou o termo para descrever uma forma 56 de influência baseada não na autoridade da posição ou tradição, mas sim nas percepções que os seguidores do líder têm de que este seja dotado de qualidades excepcionais. Até recentemente, carisma foi muito pouco considerado dentro da literatura a respeito de liderança nas organizações. O tema de pesquisa foi o da liderança política e da liderança de movimentos sociais e cultos religiosos (YUKL, 1997, p.260). Os seguidores destes líderes atribuem a ele capacidades heróicas ou extraordinárias de liderança quando observam determinados comportamentos. Alguns exemplos de pessoas frequentemente citadas como líderes carismáticos incluem: John F. Kennedy, Martin Luther King, Mary Kay Ash (Fundadora da Mary Kay Cosmetics), Steve Jobs (Co-fundador da Apple Computer), Lee Iacocca (Expresidente da Chrysler) e Herb Kelleher (Presidente da Southwest Airlines). As pessoas que trabalham para líderes carismáticos são motivadas a realizar esforços extras no trabalho. Como gostam de seu líder e o respeitam, expressam maior satisfação. Uma controvérsia fundamental é se carisma representa principalmente um resultado das características do líder, das condições situacionais ou do processo interativo de influência entre líder e seguidores. Essa controvérsia caracteriza as perspectivas diferentes das abordagens dos traços situacionais e de influência recíproca dentro da literatura sobre liderança. (ASANOME, 2001) Embora o termo carisma, nos estudos sobre liderança, tenha sido proposto por Carlyle (1841), a atual concepção de liderança carismática diverge da originária porque, enquanto aquela, de Carlyle, apoiava sua teoria na crença de que os grandes homens já nasciam feitos, na atual versão da teoria carismática, são os seguidores do líder que emprestam a ele qualidades heróicas ou extraordinárias, a partir de determinados comportamentos exibidos pelo líder. (EYNG, 2001) Desta forma, segundo Bass (1985), Conger e Kanungo (1987), House (1977), além de outros, grande parte dos estudos sobre o carisma do líder tem se concentrado na discriminação dos comportamentos diferenciadores dos líderes carismáticos dos demais. Conforme Yukl (1989), entretanto, há controvérsias sobre a fonte do carisma ser resultante das características do líder, das condições situacionais ou do processo interativo entre líder e seguidores. 57 3.2.5 Teoria da Liderança Transformacional Segundo Robbins (2001, p. 319): [...] embora ambas sejam carismáticas, a maior diferença entre a liderança transformacional e a liderança carismática reside no fato de que enquanto o líder carismático seduz para que sua visão seja implantada e seguida, o líder transformacional estimula seus seguidores para a crítica das situações presentes e da visão dele em relação ao futuro da organização. Endossando seus comentários, cita Avolio e Bass: “O líder puramente carismático pode querer que seus liderados adotem a visão de mundo carismática, e param por aí. O líder transformacional tenta inculcar em seus seguidores a capacidade de questionar não apenas as visões já estabelecidas, mas até aquelas colocadas pelo próprio líder. (AVOLIO E BASS 2004, p.319) A liderança transformacional tem como característica principal o foco do líder no desenvolvimento, envolvimento e transformação de sua equipe, através de estímulos intelectuais, comunicação inspiradora das expectativas, fornecimento de visão, expectativa de desempenho e valorização das atividades. As bases teóricas que defendem este estilo são: sociologia do carisma (WEBER, 1946), teoria da liderança carismática (MORE, 1977), liderança transformacional (BASS, 1985; BURNS, 1978). Este enfoque tem sido considerado um dos mais atuais e mais pesquisados desde 1980 (LOWE; GARDNER, 2001). Segundo Northouse (2004) a liderança transformacional refere-se a emoções, valores, ética, padrões e objetivos de longo prazo. A liderança transformacional refere-se ao processo por meio do qual um indivíduo se engaja com outro e cria uma conexão que aumenta o nível de motivação e moralidade em ambos. (DINIZ, 2006) O líder transformacional está atento às necessidades e motivações dos liderados e tenta ajudá-los a alcançar seu pleno potencial. Os líderes transformacionais conseguem níveis extraordinários de motivação, admiração, comprometimento, respeito, confiança, dedicação, lealdade, e desempenho do seguidor. A liderança transformacional focaliza mais em mudar e em criar o ambiente. A liderança transformacional, segundo Burns (1978), faz com que os líderes posicionem seus liderados em níveis mais elevados de responsabilidade, 58 abdicando de seus interesses próprios em favor da coletividade, acrescentando valores morais para a liderança. 3.2.6 Teoria da Liderança Visionária Esta abordagem de liderança, conforme Robbins (1999), diz respeito à capacidade de criar e articular uma visão realista do futuro para uma organização ou unidade organizacional. Tem como ponto de partida a situação presente e visa à sua melhoria. Este líder deve ter as seguintes habilidades: capacidade de explicar a visão para os outros; habilidade para expressar a visão não apenas verbalmente, mas através do comportamento do líder e capacidade de estender a visão a contextos diferentes de liderança. (DINIZ, 2006). Ainda Robbins (1999) afirma que dominando essas habilidades, o líder visionário poderá conduzir a organização ao crescimento e à melhoria contínua. Os líderes visionários assumem o controle, fazem com que as coisas aconteçam, sonham e depois traduzem esses sonhos em realidade. Os líderes atraem o compromisso voluntário dos seguidores, energizando-os, e transformam as empresas em novas entidades, com maior potencial de sobrevivência, crescimento e excelência. A liderança eficaz energiza uma empresa para maximizar a sua contribuição para o bem-estar de seus membros e da sociedade da qual faz parte. Se os gerentes são conhecidos por suas habilidades de solucionar problemas, os líderes são conhecidos por serem mestres em projetar e construir instituições; eles são os arquitetos do futuro da organização. (NANUS, 2000) E acrescenta: Líderes eficazes são voltados para resultados, adotam visões novas e desafiadoras do que é possível e desejável, comunicam estas visões de tal forma que persuadem os outros a assumir o compromisso com essas novas direções, mostrando-se ávidos por emprestarem seus recursos e suas energias para torná-las realidade. Assim, líderes eficazes constroem instituições duradouras que transformam o mundo... Esse tipo de liderança visionária parece escasso hoje em dia. (NANUS, 2000, p.10) Nanus (2000) define quatro papéis do líder visionário - indicador de direção, agente de mudança, porta-voz e treinador – que juntos definem a função do líder visionário. 59 Uma análise da literatura sobre liderança mostraria que a maior parte é dedicada ao papel de treinador, bem como ao relacionamento de líderes com seguidores, motivação e sistemas de recompensa, carisma e as artes de persuasão, trabalho em equipe e confiança, participação e comunicação e gestão de conflito. Esses fatores são importantes, é claro, mas concentrar-se apenas neles é como um arquiteto que só se preocupa com a forma e esquece a função. 3.2.7 Liderança Servidora O termo foi usado pela primeira vez num artigo, de 1970, escrito por Robert K. Greenleaf (1904-1990), chamado "The Servant as Leader" (O Servidor como Líder). A liderança servidora verdadeira surge daqueles cuja motivação principal é um desejo profundo de ajudar os outros. Greenleaf discute a necessidade de um novo modelo de liderança que ponha como prioridade número um o serviço aos outros: funcionários, clientes e comunidade. Robert Greenleaf (apud Jaworski, 2000) convida as pessoas a considerar o domínio da liderança estabelecido no ser, não no fazer. Ele afirma que a primeira e mais importante escolha que um líder faz é a escolha de servir àqueles que lideram, vendo no seu trabalho a razão fundamental da existência do serviço. Sem esta escolha, a capacidade de liderança fica profundamente limitada. Essa escolha não é uma ação no sentido habitual, não se trata de algo que o líder faça, mas uma expressão do seu ser. A liderança servidora tem como foco líderes que se dedicam aos outros e à missão da organização de aprendizagem. Eles encorajam a participação, o compartilhamento de poder e de informações, reconhecem o valor dos outros, estimulam a criatividade das pessoas, são completamente comprometidas, dão crédito pelas realizações das pessoas, têm um impulso natural para aprender e promovem o senso de comunidade. Para Jaworski (2000), a liderança é a liberação de todas as • possibilidades humanas. Os requisitos da boa liderança são: capacidade de inspirar as pessoas no grupo: movê-las, encorajá-las e colocá-las em 60 • atividade, depois ajudá-las a continuar centradas, focalizadas e operando em plena • capacidade; praticar a liderança sem seguidores, demonstrando que existe confiança e que as • pessoas fazem a diferença; tratar do aprendizado e de como moldar o futuro; criar novas realidades; ter a capacidade de escutar o próximo; buscar o comprometimento seu e o das pessoas, pois ele é a razão do ser para agir; • ajudar a sonhar e formar visões sistêmicas do futuro; e assumir riscos, ser flexível e ser orientado para o próprio resultado. 3.2.8 Liderança Distribuída Na literatura existente, um termo vem sendo usado largamente: “empowerment”. Traduzido, significa dar poder, compartilhar o poder, liderança compartilhada, liderança seguidora, autonomia, autodelegação, autorização, etc.. Thomas e Velthouse (1990) assim definem “Empowerment”: “significa dar poder a alguém. Porém, poder tem vários significados… autoridade, de forma que “empowerment” pode significar autorização ...capacidade ... Contudo, poder também significa energia. Assim, também, autorizar pode significar energizar, que significa fornecer motivação e estímulo. Poder-se-ia afirmar que a palavra “empowerment” ficou popular porque proporciona um rótulo para um paradigma não tradicional de motivação, a mudança que tem forçado uma procura de formas de alternativa de administração, que encoraja compromisso, risco na tomada de decisão e inovação. Este novo paradigma envolve um leve e relaxado controle e muita ênfase no compromisso interiorizado e assumido para a realização da tarefa (GÁVEAS, 2008) O papel do líder, dentro desta nova forma de liderar, é orientar e dar facilidades à equipe para tomar as suas próprias decisões; obter recursos necessários para o desempenho da função; delinear as metas e o plano de implementação da missão; dar feedback construtivo e, quando for o caso, fazer a avaliação de desempenho, focando o nível de compromisso dos membros da equipe. A Liderança distribuída objetiva formar equipes multifuncionais nas quais, 61 o “empowerment” do empregado é um processo desenvolvido por meio de: compartilhamento de informação (visão, metas claras, tomada de decisão, resultados de esforços); desenvolvimento e adoção de uma cultura de delegação de poder; desenvolvimento da competência através de treinamentos e experimentação; suprimento dos recursos necessários para que o funcionário possa ser efetivo nas tarefas; viabilização de apoio, na forma de mentoria, cultural e o encorajamento para o risco da tomada de decisão. (ASANOME, 2001. p.38) Segundo pesquisas de Parker (1995, p.65-66): [...] as equipes mais eficazes e felizes são totalmente autogerenciáveis, ou seja, aquelas que têm responsabilidade e autoridade para cumprir a sua missão; elas exercem a propriedade e o controle sobre as suas tarefas e os seus processos, ou seja, tomam decisões relativas a seu próprio trabalho. Se as equipes interfuncionais são autogerenciáveis para agir, isto significa liberdade para agir com um mínimo de restrições de subordinação, responsabilidade e flexibilidade para fazer as adaptações necessárias ao sistema. Existem dois aspectos quanto à questão do “empowerment”: o grau de clareza com relação à autoridade da equipe e o grau de autoridade da equipe. O verdadeiro “empowerment”, à semelhança da motivação, nasce da própria equipe, os membros agem como se fossem energizados. Portanto, as equipes autogerenciáveis agem com “empowerment”, têm um enfoque claro, envolvem todas as partes interessadas e têm um compromisso. (ASANOME, 2001. p.38-39) 62 4 4.1 LIDERANÇA: UM NOVO PARADIGMA O Modelo das Cinco Disciplinas de Peter Senge As empresas estão diante de um macro sistema marcadas pela incerteza que provoca a necessidade de mudanças. (MEDEIROS, 2000). Em 1990, quinze anos após o início de seus estudos, Peter Senge popularizou as Cinco Disciplinas através do seu livro: “The Fifth Discipline: the art and the pratice of a learning organization” - A Quinta Disciplina - Arte e Prática da Organização que Aprende. (EYNG, 2006) A cerca de duas décadas atrás, quando escreveu A Quinta Disciplina (ed. Best Seller) e atualizou o conceito de learning organization, a "organização que aprende", Peter Senge provocou uma verdadeira revolução no mundo da administração. Senge enumerou as cinco disciplinas, onde cada uma delas pode ser pensada em três níveis distintos: no primeiro as práticas, que é o que se faz. No segundo nível estão os princípios, que são as idéias orientadoras e as novas idéias, insights10 e em terceiro, essenciais, que é o estado de ser daqueles que passam por altos níveis de domínio da disciplina. (EYNG, 2006 p.20-21) Nas organizações que aprendem, os líderes são projetistas, regentes e professores. Eles são responsáveis por construir organizações nas quais as pessoas expandem continuamente suas capacidades de entender complexidades, esclarecer visões e aperfeiçoar modelos mentais compartilhados ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem (SENGE, 1990, p.368). Segundo Peter Senge, as organizações devem desenvolver cinco disciplinas para continuamente estar em processo de aprendizagem: maestria pessoal,relacionada com o autoconhecimento; modelos mentais, que trata de imagens que influenciam o modo como as pessoas vêem o mundo; objetivos comuns, aborda as questões relacionadas à clareza e compartilhamento de objetivos; aprendizado em grupo, relacionada ao desenvolvimento de habilidades coletivas e de ações coordenadas; e pensamento sistêmico, um modelo conceitual, 10 Insight, literalmente, significa perspicácia, discernimento, penetração, introspecção. Subjetivamente, na psicologia aplicada e na pedagogia, diz-se dos flashes que se têm em relação a alguma idéia, relâmpagos que surgem, trazendo luz, claridade para ou sobre determinado assunto. 63 formado por um conjunto de conhecimentos ferramentas que buscam o aperfeiçoamento do processo de aprendizagem como um todo. Peter Senge defende que, para ter sucesso, as organizações precisam lidar com a mudança contínua e aprender sempre (learning organizations). Mas há segundo Senge algumas características que as incapacitam para a aprendizagem como: - Comprometimento com a própria posição dentro da empresa, falta de preocupação com o todo; - Culpa de fatores externos, ou seja, as dificuldades vem dos outros como governo, concorrência, as deficiências internas não são reconhecidas, dificultando a aprendizagem; - Idéia de que proatividade é a atitude de atacar os componentes do ambiente externo e não reconhecer a necessidade de mudança interna; - Imediatismo, falta de visão de longo prazo; - Não percepção de mudanças gradativas, que possam se transformar em grandes ameaças; - Crença de que somente a experiência traz aprendizagem; - Mito do consenso e coesão da alta administração, resultando na impressão de que são uma equipe unida. Conforme Senge, em entrevista à HSM Management, 1998, essas cinco disciplinas são programas permanentes de estudo e prática que levam ao aprendizado organizacional e continuam as mesmas, porque o que importa é adquirir as capacidades fundamentais para a organização. A primeira disciplina: o domínio pessoal significa aprender a expandir as capacidades pessoais para obter os resultados desejados e criar um ambiente empresarial que estimule todos os participantes a alcançar as metas escolhidas. A segunda disciplina, a qual Senge chama de modelos mentais, consiste em refletir, esclarecer continuamente e melhorar a imagem que cada um tem do mundo, a fim de verificar como moldar atos e decisões. A terceira disciplina, visão compartilhada, é estimular o engajamento do grupo em relação ao futuro quando se procura criar e elaborar os princípios e as diretrizes que permitirão alcançar tal futuro. A quarta disciplina, aprendizado em equipe, está em transformar as aptidões coletivas ligadas a pensamento e comunicação, de maneira que grupos de pessoas possam desenvolver inteligência e capacidades maiores do que a soma dos talentos individuais. E finalmente a quinta disciplina, pensamento sistêmico, é criar uma forma de analisar e uma linguagem para descrever e compreender as forças e inter-