Competência de Liderança Professora conteudista: Maria Aparecida Sanches Sumário Competência de Liderança Unidade I 1 LIDERANÇA ...........................................................................................................................................................1 1.1 Definição de liderança...........................................................................................................................3 1.2 O poder e a liderança.............................................................................................................................6 1.3 Liderança bem-sucedida, eficaz e eficiente ............................................................................... 12 1.4 Estilos de liderança .............................................................................................................................. 19 1.4.1 Liderança baseada em princípios segundo Stephen Covey ................................................... 23 1.4.2 A liderança segundo o pensamento de Peter F. Drucker ........................................................ 27 1.4.3 Liderança segundo Peter Senge ........................................................................................................ 29 1.4.4 A liderança orientada para resultados de Dave Ulrich ............................................................ 30 1.5 Abordagens sobre liderança ............................................................................................................. 32 1.5.1 Abordagem comportamental............................................................................................................. 33 1.5.2 Abordagem contingencial ................................................................................................................... 40 1.5.3 Teoria caminho-meta ou caminho-objetivo de House ........................................................... 42 1.5.4 Modelo de liderança situacional de Hersey & Blanchard ...................................................... 47 1.6 Liderança e propósitos organizacionais ...................................................................................... 51 1.6.1 Liderança carismática ........................................................................................................................... 53 1.6.2 Liderança transformacional ................................................................................................................ 56 1.6.3 Liderança visionária ............................................................................................................................... 58 Unidade II 2 CONCEITUAÇÃO DE COMPETÊNCIA ......................................................................................................... 60 2.1 Competência .......................................................................................................................................... 61 2.2 Competências essenciais ....................................................................................................................71 2.3. Classificação das competências: domínio e aplicação ......................................................... 74 2.3.1 Competências organizacionais .......................................................................................................... 77 2.3.2 As competências essenciais da efetividade humana – negociação de resultados ...... 78 2.4 Competitividade e competências .................................................................................................. 82 2.5 Competência funcional...................................................................................................................... 84 3 COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA................................................................................................................ 85 3.1 Tipos de competências segundo Klemp Jr.................................................................................. 87 Unidade III 4 ATRIBUIÇÕES DA LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES ........................................................................ 94 4.1 Competências gerenciais................................................................................................................... 95 4.2 Papéis e competências respectivas ............................................................................................... 98 4.3 Transformações de um novato em um perito ........................................................................ 119 Unidade IV 5 SISTEMA DE LIDERANÇA – PNQ – PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE ................................122 5.1 Fundamentos do Prêmio Nacional da Qualidade..................................................................122 5.2 Critérios do PNQ com relação à liderança ...............................................................................126 5.3 Prática e aplicação dos fundamentos........................................................................................132 5.3.1 Pensamento sistêmico ....................................................................................................................... 133 5.3.2 Aprendizado organizacional ............................................................................................................ 134 5.3.3 Cultura de inovação............................................................................................................................ 134 5.3.4 Liderança e constância de propósitos ......................................................................................... 136 5.3.5 Orientação por processos e informações ................................................................................... 137 5.3.6 Visão de futuro ..................................................................................................................................... 139 5.3.7 Geração de valor .................................................................................................................................. 150 5.3.8 Valorização das pessoas .....................................................................................................................151 5.3.9 Conhecimento sobre o cliente e o mercado ............................................................................. 154 5.3.10 Desenvolvimento de parcerias ..................................................................................................... 154 5.3.11 Responsabilidade social .................................................................................................................. 156 6 ORGANIZAÇÕES GANHADORAS DO PNQ – COMPETÊNCIAS REQUERIDAS ..........................157 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Unidade I Nesta unidade convido você, aluno leitor, para discutirmos sobre os conceitos e estilos de liderança, incluindo os propósitos com relação à liderança organizacional. Se o assunto é conduzir pessoas, saber um pouco sobre poder nos ajudará a entender 5 como melhor liderá-las. 1 LIDERANÇA Liderança é comunicar o valor e o potencial das pessoas com tanta clareza que elas passam a ver isso em si mesmas. Stephen Covey INTRODUÇÃO As mudanças ocorridas no mundo dos negócios e das 10 organizações trazem à tona várias questões, entre elas o papel da liderança. Segundo Soto (2002), as novas realidades macroeconômicas e as tendências em um mundo globalizado estão modificando o ambiente comercial e industrial, e isso requer organizações competitivas, que possam responder de 15 forma positiva a essa realidade e à tendência dos mercados futuros. Para atender a essas novas exigências, compete aos líderes conhecer e poder transformar a cultura organizacional dentro de uma dinâmica competitiva de esforço, adaptação, desafios e mudança constante. 20 A liderança tem desempenhado um papel fundamental nas relações humanas, e a capacidade de liderar torna-se associada 1 Unidade I ao sucesso ou fracasso das equipes e organizações. Embora a liderança seja algo que as pessoas vivenciem de alguma forma no cotidiano, o conceito varia de pessoa para pessoa, o que leva a inúmeras discussões sobre o tema. 5 Quando falamos em liderança, as pessoas conseguem identificar líderes como Gandhi, Nelson Mandela, Adolf Hitler, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, papa João Paulo II, Henry Ford, Bill Gates, entre outros. No entanto, o que torna essas pessoas, com características tão diferentes, líderes? O que elas 10 possuem em comum? Os líderes nascem prontos ou podem se desenvolver? Qual o estilo de liderança mais apropriado? Desde os primórdios da humanidade estamos organizados em hierarquias, com claros relacionamentos de dominação entre os membros. Segundo Gardner (1996, p. 23), os “processos de 15 dominação” observáveis em primatas não humanos são evidentes, assim como entre crianças que estão em idade pré-escolar. 20 As crianças dominantes controlam os brinquedos, iniciam e organizam jogos, ajudam a manter o grupo unido; as crianças menos dominantes orientam-se com referência aos mais dominantes. Tamanho, força, habilidade, inteligência, atratividade e gênero, tudo isso contribui para determinar quais organismos ocuparão posições superiores na hierarquia social emergente (Gardner, 1996, p. 23). As primeiras pesquisas sobre liderança tratavam da identificação de características de líderes e não líderes, ou entre líderes bem-sucedidos e malsucedidos. Alguns consideram que a liderança teria a ver com fatores de personalidade, outros, com características físicas. O que é inquestionável é o papel da 30 liderança como fator decisivo na definição dos rumos de uma organização e na motivação para o cumprimento dos propósitos estabelecidos. Ela passa a ser a catalisadora do potencial, com vistas a torná-lo realidade. 25 2 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Considerando o caráter fundamental da liderança para o sucesso das organizações, abordaremos as questões que nos levem a uma compreensão básica sobre o tema. 1.1 Definição de liderança 5 Para ser líder é preciso ter um caráter forte o suficiente para fazer a coisa certa. Caráter é algo mais profundo do que personalidade. É a maturidade moral e o compromisso de agir corretamente com as pessoas. James Hunter Ao analisarmos o tema liderança nos deparamos com inúmeras definições propostas ao longo dos anos. A maioria 10 dessas definições – apresentadas abaixo – tem um ponto em comum: liderança é a capacidade de influenciar pessoas para a consecução de um objetivo numa dada situação. Etimologicamente, liderar significa conduzir, e líder é o que conduz o grupo. Assim, Lacombe & Heilborn (2003) dizem que 15 liderar é conduzir – de acordo com uma visão do futuro, baseada num conjunto coerente de ideias e princípios – um grupo de pessoas, influenciando seu comportamento e suas ações para atingir objetivos de interesse comum desse grupo. Kim & Mauborgne (apud DuBrin, 2006) definiram liderança 20 como a habilidade de inspirar confiança e apoio entre as pessoas de cuja competência e compromisso depende o desempenho. Bennis (apud Lacombe & Heilborn, 2003) faz referência à diferença entre administrar e liderar: diz que administrar é assumir responsabilidade, é fazer acontecer, enquanto liderar é 25 influenciar, guiar em direção a um dado objetivo. Assim, o líder age sobre os recursos emocionais e espirituais da organização, tendo por base os valores, comprometimentos e aspirações da instituição, enquanto o administrador age sobre os recursos 3 Unidade I físicos da organização: seu capital, habilidades humanas, matérias-primas e tecnologia. Liderança é a influência que uma pessoa exerce sobre outros indivíduos e sobre as atividades do grupo. Essa influência, segundo 5 Krech (1969, p. 489), envolve situações de comportamento interpessoal – casos de interação –, em que o líder influi o seguidor, e este, por sua vez, influencia o líder. Assim, em algum momento de nossa vida estaremos exercendo a liderança. Sempre que uma pessoa procura influenciar o comportamento de outra, 10 a primeira é considerada um líder potencial e a segunda um liderado potencial. Para Tannenbaum & Schmidt (1973), a liderança baseia-se em três aspectos ou forças, e é através dessas forças que o líder será capaz de escolher o estilo de liderança que adotará naquele 15 momento, com aquelas variáveis, para poder sintonizá-las. São elas: • forças no gerente: vêm a ser a motivação interna do líder e os fatores externos que agem sobre ele; 20 • forças no subordinado: são a motivação externa, proveniente do líder, e os fatores externos que atuam sobre os subordinados; • forças na situação: são as condições pelas quais a liderança é exercida. Bergamini (1994, p. 3) aponta dois aspectos comuns às 25 definições de liderança: primeiro, que a liderança está ligada a um fenômeno grupal, isto é, que envolve duas ou mais pessoas. Segundo, que se trata de um processo de influência, exercido de forma intencional pelos líderes sobre seus seguidores. A posição de liderança em um ambiente de trabalho está 30 relacionada ao processo de interação entre as pessoas, isto é, a como elas interagem para alcançar as metas e os objetivos da 4 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA organização. Portanto, liderar é ter a capacidade de influenciar um grupo rumo à realização de metas feitas previamente. Daí se deduz que a posição de liderança está associada ao desenvolvimento de certas habilidades, como saber lidar com a 5 complexidade; saber manter, buscar e integrar parceiros; saber comunicar-se; saber desenvolver a cultura da organização; saber assumir responsabilidades e ter visão estratégica, desenvolver qualidades como determinação, integridade e intuição. Segundo DuBrin (2006), intuição é uma maneira de saber ou de raciocinar 10 com base na experiência. Ao se fazer uso dela, o julgamento e o equilíbrio são efeitos automáticos. Entretanto, se definimos liderança como sendo somente a capacidade de influenciar pessoas, podemos pensar que qualquer um pode exercer liderança. Esse enfoque, porém, não esgota o 15 tema. Primeiro, porque a influência deve ser, de certa maneira, sancionada pelos seguidores; segundo, porque uma definição completa de liderança precisa considerar também o contexto em que o líder está inserido, o simbolismo que esse dirigente representa e, por último, a missão que ele tem de atingir os 20 objetivos propostos dentro do contexto real e organizacional em que atua. Nesse sentido, McGregor (1999) afirma que a liderança não é uma propriedade do indivíduo, mas sim uma relação complexa entre as seguintes variáveis: 25 • características do líder; • as atitudes, necessidades e outras características pessoais dos seguidores; • características da organização, tais como sua finalidade e estrutura. 30 Tendo em vista o ambiente competitivo global em que vivemos, a liderança deve criar uma arquitetura social capaz de 5 Unidade I gerar capital intelectual em um contexto em que se obtenha o máximo de eficiência no desempenho. Isso permite responder de forma adequada e rápida às mudanças. Na escola de administração científica, Taylor considerava as 5 pessoas como instrumentos, apêndices da máquina e, portanto, manipuláveis pelos seus líderes. Os trabalhadores deveriam se adaptar à gerência. A função do líder era a de estabelecer e fazer cumprir critérios de desempenho para atender aos objetivos organizacionais. Taylor reduziu o homem a gestos e movimentos, subtraiu 10 sua capacidade de desenvolver atividades mentais de tal forma que, depois de uma aprendizagem rápida, funcionava como uma máquina. A redução do trabalho mental também é enfatizada na medida em que a superespecialização de tarefas levou a simplificação do trabalho a um nível elevado, desprovendo o 15 indivíduo de sua capacidade pensante (Dallagnelo, 1994). Na escola de relações humanas, conforme Elton Mayo, a organização deveria se desenvolver em torno dos trabalhadores considerando sentimentos e atitudes. Segundo esse pensamento, a função do líder passaria a ser a de facilitar a consecução dos 20 objetivos, dando oportunidade aos liderados de se desenvolverem. Diante do exposto, vale a pena discutir como os líderes desempenham esse papel, a natureza da liderança, as habilidades, as teorias, os estilos de liderança e o poder nas organizações. Para entender o processo de liderança nas organizações é 25 preciso verificar como os gerentes utilizam o seu “poder” para influenciar o comportamento das pessoas. 1.2 O poder e a liderança O melhor de todos os líderes é aquele que ajuda seus seguidores a não precisarem mais dele. Lao Tsé 6 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Se podemos dizer que liderar é influenciar pessoas na direção de um determinado objetivo, em que ponto esse conceito de influenciar difere do conceito de poder? Influenciar tem um significado muito próximo ao de poder, 5 pois se refere também à habilidade de mudar comportamentos, mas tende a ser mais sutil e menos direto que o poder. Poder indica a habilidade de afetar os resultados com maior facilidade do que a influência, dizem Lyness & Thompson (apud DuBrin, 2006). 10 Portanto, definiremos poder como sendo a habilidade de influenciar pessoas por meio do controle dos recursos organizacionais. Dito de outra forma, poder é a habilidade de conseguir que uma pessoa faça aquilo que se quer. Segundo Lacombi (2003), o poder é a capacidade de controlar indivíduos, 15 eventos ou recursos, impondo a vontade própria e fazendo com que aconteça aquilo que se deseja. Faces do poder Segundo David McCleland, existem duas faces do poder: 20 • Face negativa: se expressa em termos de domínio/ submissão. — Se eu vencer, você perde! — Pessoas vistas como peões de xadrez, isto é, sendo usadas ou sacrificadas segundo conveniências. — Atitude voltada contra quem exerce o poder. 25 • Face positiva: caracteriza-se por uma preocupação com os objetivos do grupo. — Implica exercer influência em favor de e não sobre os outros. — Mais eficácia no exercício do poder. 7 Unidade I Etzioni (apud Hersey, 1986) faz a diferenciação entre poder pessoal e poder de posição, e sustenta que o poder deriva de uma função organizacional, de influência pessoal ou de ambos, de maneira que a melhor situação para os líderes é quando 5 possuem os dois tipos de poder: o pessoal e o de posição. • Poder de posição: os gerentes que conseguem realizar um trabalho em virtude de sua posição na organização e que induzem o comportamento de seus subordinados possuem o “poder sobre”. 10 • Poder pessoal: os gerentes cujo poder deriva de seus subordinados e que influenciam o comportamento deles possuem o “poder junto a”. DuBrin (2006) diz que um ponto de partida útil é o reconhecimento de que o poder pode ser usado para incentivar 15 os interesses da organização ou os interesses pessoais. Ele os classifica como: 20 • Poder socializado: uso do poder para alcançar fins construtivos. Ex.: um gerente que tenta alcançar o poder para desenvolver um programa de total satisfação do cliente. • Poder personalizado: uso do poder principalmente para grandeza de ganhos pessoais. Os gerentes e os profissionais em cargos de chefia usam com frequência o poder que têm para influenciar seus liderados à 25 medida que conhecem as fontes e os recursos do poder para conseguir seus objetivos. O poder de posição dos gerentes vem de três fontes: recompensa, coerção e legitimidade. 30 8 • Poder de recompensa: as pessoas concordam com os desejos ou orientações de outrem porque isso produz benefícios; portanto, alguém que possa distribuir recompensas que outros considerem valiosas terá poder sobre eles. O fato de COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA uma pessoa ser capaz de dar benefícios ou recompensas a outras é entendido de forma positiva, é considerado vantajoso trocar favores com ela (Robbins, 1998). 5 Para French & Raven (apud Aguiar, 1997), esse tipo de poder está relacionado à estrutura organizacional, em que os gerentes influenciam o comportamento de seus liderados utilizando-se de uma variedade de recompensas para motivar o funcionário. Esta é a forma de poder mais condenada, pois quase não 10 se utiliza da negociação e da ética na organização, mas sim da imposição de vontades, da punição e da ameaça 15 20 25 30 • Poder coercitivo: é utilizado para se conseguir o que se quer com base em ameaças e punições. As pessoas reagem a esse poder por medo dos resultados negativos que possam advir. Ele se apoia na ameaça ou na aplicação de sanções físicas ou psicológicas, como infligir dor, gerar frustração através de restrições de movimento etc. Uma pessoa que exerça esse tipo de poder é capaz de tornar as coisas difíceis para os outros e por isso eles evitam zangála (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar,1997), esse poder está relacionado à capacidade do gerente de punir como meio de influenciar o comportamento de outras pessoas. A punição se manifesta de várias maneiras, desde a advertência até a demissão. É uma poderosa ferramenta de intimidação. O poder coercitivo é o controle dos outros por meio do medo, e as punições típicas dentro das empresas incluem, principalmente, deixar de promover o funcionário ou despedi-lo. Funciona como uma restrição ao poder legítimo e é referido como poder subordinado, diz DuBrin (2006). 9 Unidade I 5 10 15 • Poder legítimo: representa o poder que uma pessoa recebe como resultado de sua posição na hierarquia organizacional. É uma posição de autoridade que oferece poderes de coerção e de recompensa. O poder legítimo, porém, é mais amplo do que o poder para coagir ou recompensar. Inclui a aceitação, por membros de uma organização, da autoridade de uma posição. A pessoa tem o direito – considerando sua posição e as responsabilidades de seu cargo – de esperar que você concorde com pedidos legítimos (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar, 1997), esse poder deriva do local específico ocupado por uma pessoa dentro da organização. As bases do poder legítimo são os valores culturais, a aceitação da estrutura social, especialmente da hierarquia de autoridade, e a nomeação por uma autoridade legítima. Quando o indivíduo deixa o cargo, o poder continua a existir na posição e não pode seguir com o indivíduo. A eficácia dos poderes coercitivos e de recompensa depende 20 das percepções das necessidades dos funcionários e do quanto temem a punição, ou, ainda, da importância que dão ao fato de serem membros da organização, diz DuBrin (2006, p. 303). O poder dos gerentes também se origina de duas características pessoais que são conhecimento e personalidade, 25 que resultam no poder de especialização ou competência e no poder de referência. 30 10 • Poder de especialização ou competência: é a influência exercida como resultado de habilidade especial ou conhecimento. A especialização tornou-se uma das mais poderosas fontes de influência à medida que o mundo se tornou mais orientado tecnologicamente. Como os empregos se tornam mais especializados, cada vez mais ficamos dependentes de especialistas para alcançar metas. COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA As pessoas têm experiência e conhecimento para ganhar respeito e suas avaliações são acatadas nos assuntos em que são peritos. Algumas pessoas não passam informações para reter esse tipo de poder (Robbins, 1998). 5 10 15 Para que a especialização seja uma eficaz fonte de poder, os integrantes do grupo devem respeitá-la. O exercício do poder da especialização é o ponto de partida lógico para a criação de uma base de poder, diz DuBrin (2006). • Poder de referência: sua base é a identificação com a pessoa que tem recursos desejáveis ou traços pessoais. Se eu admiro e me identifico com você, você pode exercitar poder sobre mim porque quero agradá-lo. O poder daquele que influencia é baseado no desejo do influenciado de ser parecido ou de identificar-se com ele. (Robbins, 1998) Para French & Raven (apud Aguiar, 1997), esse é o poder de influenciar o outro pela força do seu carisma ou por características pessoais que são admiradas e que servem como referência. Tem como base a identificação com o outro, o desejo de ser semelhante ao outro. Portanto, os três primeiros tipos de poder (de recompensa, coercitivo e legítimo) têm como base o poder de posição, enquanto nos outros dois (competência e referência) as bases de poder são pessoais. Segundo Kelman (apud Hollenbeck, 1999), é provável que existam três tipos de respostas ao tipo de poder: 25 obediência, identificação e internalização. 20 Base do poder Recompensa Coercitivo Referência Legítimo Especialização Resposta Obediência Identificação Internalização 11 Unidade I A obediência ocorre quando as pessoas se comportam de forma conformada com as diretrizes de outras, porque isso resulta em recompensas ou evita punições. A identificação como resposta ocorre quando as pessoas 5 aceitam a direção ou a influência de outra por se identificarem com ela. O poder legítimo e o de especialização podem estimular a internalização, pois ambos recorrem à credibilidade pessoal – o grau em que a pessoa é percebida como detentora de 10 autoridade ou experiência. A credibilidade pode ser usada para convencer as pessoas da importância intrínseca das atitudes e comportamentos que estão sendo demandados. 1.3 Liderança bem-sucedida, eficaz e eficiente Eficiência é fazer certo as coisas; eficácia são as coisas certas. Drucker (1996) 15 Para melhor compreendermos o sentido de liderança eficaz, conceituaremos eficácia e eficiência. Para Drucker (1996), a base da liderança eficaz é compreender a missão da organização, defini-la e estabelecê-la de forma clara e visível. O líder fixa metas e prioridades, bem como fixa e mantém os padrões. Os 20 líderes eficazes raramente são permissivos, têm responsabilidade. Outro requisito vital para a liderança eficaz é obter confiança: é a crença em sua integridade. As ações de um líder e suas crenças professadas devem ser congruentes, ou ao menos compatíveis. A liderança eficaz não se baseia em ser inteligente; baseia-se 25 principalmente em ser consistente (Drucker, 1996, p. 75). Complementando essa ideia, podemos dizer que eficiência é o meio de realizar corretamente um processo, em curto prazo, com o menor número de erros, de forma que sua 12 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA qualidade esteja garantida. Já eficácia1 é o resultado desse processo conduzido eficientemente, é a obtenção dos resultados almejados segundo o que havia sido previsto, é o êxito obtido ao se atingir as metas propostas, aproveitando as 5 oportunidades oferecidas. Segundo Lacombe: Eficaz: alcança o objetivo visado; capacidade de atingir a meta, os resultados. Eficiente: produz o máximo de rendimento útil com o mínimo dispêndio com relação aos recursos materiais, aos recursos humanos e ao tempo. 10 É preciso ficar claro que objetivo é apenas o que se quer alcançar. Já a meta quantifica o objetivo. Por exemplo: objetivo: emagrecer; meta: 10 kg até dezembro de 200X. A meta temporal 15 (no caso, dezembro de 200X) é obrigatória, caso contrário o tempo fica indefinido. Numa empresa, pode-se ter: objetivo: elevar a produtividade; meta: de 7t/h-h2 para 10t/h-h até julho de 200X. Segundo Bass (apud Hersey, 1999), quando o líder tenta 20 influenciar o comportamento de alguém para que este realize alguma tarefa, essa liderança será considerada bem-sucedida ao se atingirem os resultados desejados em função do poder de posição do líder, e será considerada malsucedida quando os objetivos não forem alcançados. 25 A liderança será considerada bem-sucedida, eficaz e eficiente quando a pessoa subordinada a esse condutor executar a tarefa Eficácia é atingir o objetivo. Muitas vezes se considera o quão perto se chegou do objetivo ou o quanto se superou o objetivo. Imagine que uma empresa tem quatro equipes de vendas e cada uma delas tem como objetivo “vender $ 100.000 no mês”. Se sua equipe superou os $ 100.000 foi eficaz, pois alcançou o objetivo. Ser eficiente tem a ver com o desempenho. É algo sempre relativo e comparativo. Admita que sua equipe, para vender $ 100.000, tenha tido gastos de $ 20.000; e outra equipe vendeu $ 100.000, mas gastou apenas $ 18.000. Esta, portanto, foi mais eficiente que sua equipe. Eficiência tem a ver com o uso de recursos. 2 Lê-se: sete toneladas por homem-hora. 1 13 Unidade I porque deseja fazê-la, vendo-a como compensadora. Podemos dizer que a influência na realização da tarefa utiliza não só o poder de posição, mas também o poder pessoal. A eficácia se apresenta como um contínuo, que pode variar de muito eficaz 5 até ineficaz. Bemsucedido Liderança tentada A B Eficaz Ineficaz Fonte: Hersey & Blanchard (1986, p. 137). Portanto, liderança no gerenciamento de pessoal, na área administrativa, envolve tanto eficiência quanto eficácia na execução das metas. Para tanto, os gestores têm como função constituir a própria equipe de trabalho, analisar e planejar 10 as tarefas, motivar o pessoal, monitorar desempenhos e recompensar a eficiência. Vamos analisar o texto de Hersey & Blanchard (1986): 15 20 25 14 Suponhamos que o gerente Álvaro tenta influenciar o indivíduo José para que este realize certa tarefa. A tentativa de Álvaro será considerada bem-sucedida ou malsucedida em razão da medida em que José executar a tarefa. Não se trata de uma situação excludente tipo ou/ou (...). (...) Se o estímulo de liderança de Álvaro for compatível com as expectativas de José e este se sentir contrariado e executar o trabalho só por causa do poder de posição de Álvaro, podemos dizer que o líder foi bem-sucedido, mas não eficaz. José reagiu conforme Álvaro queria porque seu superior tem o controle dos prêmios e das punições, e não porque José vê suas COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA próprias necessidades sendo satisfeitas ao atender aos objetivos do gerente ou da organização. 5 (...) Os gerentes podem ter sucesso, mas ser ineficazes, exercendo apenas uma influência de curta duração sobre o comportamento dos outros. Por outro lado, se os gerentes forem bem-sucedidos e eficazes ao mesmo tempo, sua influência tenderá a levar a uma produtividade e desenvolvimento maiores na organização. Ainda segundo Hersey & Blanchard (1988), esse referencial de sucesso versus eficácia é uma forma de avaliar a resposta a um evento comportamental específico, e não de avaliar o desempenho ao longo do tempo. Uma avaliação a longo prazo não é o resultado de um único evento de liderança, mas a 15 somatória de muitos eventos diferentes. 10 Um líder eficaz em uma organização, segundo DuBrin (2006), deve ter habilidades cognitivas apropriadas, ou habilidade mental e conhecimento; um grau realista de autoconfiança – característica que determina sua qualidade de manter-se calmo 20 sob pressão; confiabilidade – característica que determina sua integridade comportamental; e, principalmente, inteligência emocional. A inteligência emocional é considerada por DuBrin (2006, p. 267) como o fator de maior contribuição para a eficácia da 25 liderança. A paixão pelo trabalho e pelas pessoas é um aspecto particularmente importante da inteligência emocional: é difícil inspirar os outros se você não é apaixonado pelas suas principais atividades de trabalho. A inteligência emocional refere-se a qualidades como a 30 compreensão dos próprios sentimentos, a empatia pelos outros e o controle das emoções. Segundo DuBrin (2006, p. 44), esse tipo de inteligência tem a ver com a habilidade de conectar-se com 15 Unidade I as pessoas e de compreender suas emoções. Daniel Golerman descobriu, mediante pesquisa, que os líderes mais eficazes são parecidos num aspecto essencial: todos têm um alto grau de inteligência emocional. DuBrin (2006) caracteriza, também, a habilidade de administrar polaridades como uma das práticas da liderança eficaz. DuBrin cita o filósofo Koestenbaum, que faz referência à administração de polaridades como o atributo principal da liderança, dizendo que elas são inevitáveis em todos os 10 aspectos da vida: queremos viver, mas não podemos fugir da morte. Como posso me dedicar plenamente à família e também ao trabalho? Sou chefe ou amigo? Amante ou juiz? Como conciliar minhas necessidades com as de minha equipe? Paradoxos como esses são parte da vida. Toda interação 15 comercial ou de trabalho é uma forma de confronto – um conflito de prioridades, uma luta de dignidades, uma batalha de ideias. Não se trata de um convite para você travar uma batalha épica entre bem e mal, entre o certo e o errado. O que se quer mostrar é que é preciso tomar cuidado para não 20 bater com a cabeça na parede. As polaridades fazem parte da ordem natural das coisas. Como agimos ou, melhor dizendo, como reagimos a essas polaridades é que determinará ou diferenciará a grandeza da mediocridade. 5 O que pode determinar a eficácia de um líder em uma 25 organização? Estamos preocupados não só com o resultado de uma determinada tentativa de liderança, mas com a eficácia da unidade organizacional durante um espaço de tempo. Likert (1975) identifica três variáveis que são úteis para estudar 30 a eficácia ao longo do tempo: causal, interveniente e de resultado final. Variáveis causais: são as variáveis que influenciam o curso dos desenvolvimentos numa organização e seus resultados. Essas 16 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA variáveis independentes podem ser alteradas pela organização e sua gerência. Não estão fora do controle da organização, como as condições gerais dos negócios. Exemplos de variáveis causais: estratégias, habilidades e comportamentos de liderança, decisões 5 gerenciais, políticas e estrutura da organização. Variável independente (x) ou causal: XY. É uma variável antecedente que influencia, determina ou afeta outra variável. É um fator, condição ou causa determinante para determinado resultado. É também designada de variável explicativa. 10 Exemplos: • O número de reclamações dos clientes (Y) é menor quando aumenta o nível de treinamento (X) dos funcionários. 15 • O tempo de reação (Y1) a um estímulo visual (X1) é significativamente mais rápido do que o tempo de reação (Y2) a um estímulo auditivo (X2). • O barulho forte e inesperado (X) acelera o pulso (Y1), eleva a transpiração (Y2) e dilata as pupilas (Y3) dos indivíduos. Variáveis intervenientes: as estratégias, habilidades e comportamentos de liderança e outras variáveis causais afetam 20 os recursos humanos, isto é, as variáveis intervenientes de uma organização. Refletem-se na dedicação aos objetivos, na motivação e no moral dos membros e nas suas habilidades de liderança, comunicação, solução de conflito, tomada de decisão e solução de problemas. 25 Variável interveniente (W): XWY. Essa variável se coloca entre a causal (X) e a dependente (Y), ampliando, diminuindo ou anulando a influência de (X) sobre (Y). Darley & Latané (1968) demonstraram que, quando há maior número de espectadores, o comportamento de ajuda numa situação de emergência é 30 menos provável, a responsabilidade pessoal de ajuda se dilui. De acordo com esses autores, o número de espectadores (W) 17 Unidade I afeta a responsabilidade pessoal (X) que, por sua vez, afeta o comportamento de ajuda (Y). Variáveis de resultado final: as variáveis de saída ou resultado final são as variáveis dependentes que refletem as 5 realizações da organização. Na avaliação da eficácia, talvez mais de 90% dos gerentes de organização só olham para os índices de resultados. Assim, em geral a eficácia de gerentes é determinada pelos lucros líquidos; a eficácia de professores universitários é determinada pelo número de artigos e livros publicados; a 10 eficácia de técnicos de futebol é determinada pelo número de vitórias ou derrotas do time. Quando se tem uma variável independente ou causal, logicamente se tem a variável dependente ou consequente (Y): É a variável afetada, influenciada ou determinada pela 15 variável independente (X). É também designada por variável de resultado. Hersey & Blanchard (1988) demonstram a relação entre as três classes de variáveis como estímulos (variáveis causais) que atuam sobre o organismo (variável interveniente) e criam 20 certas respostas (variáveis de saída), conforme mostra o quadro abaixo: Variáveis causais Variáveis intervenientes Estratégias, habilidades e estilos de liderança; Compromisso com os objetivos, motivação e moral da equipe; Decisões gerenciais; Filosofia organizacional, objetivos, políticas e estruturas; Tecnologia etc. Habilidade para liderar, comunicações, resolução de conflito, tomada de decisão, solução de problemas etc. Variáveis de resultado final Produção (saída); Custos; Vendas; Lucros; Relações gerência/ sindicatos. Fonte: Hersey & Blanchard (1988) 18 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA As variáveis intervenientes referem-se à construção de desenvolvimento da organização e tendem a produzir metas de longo prazo. Essa é a parte da eficácia que muitos gerentes negligenciam, 5 porque enfatizam tanto o potencial de longo prazo quanto o desempenho de curto prazo. O nível ou a condição das variáveis intervenientes é produzido em grande parte pelas variáveis causais que, por sua vez, têm influência sobre as variáveis de resultado final. 10 As tentativas dos membros de uma organização para melhorar as variáveis intervenientes, alterando diretamente essas variáveis, em geral terão muito menos êxito que as tentativas de modificá-las por meio da alteração das variáveis causais. Da mesma forma, os esforços para melhorar as variáveis 15 de resultado final pela modificação das variáveis intervenientes geralmente serão menos eficazes do que seriam se a modificação fosse nas variáveis causais. 1.4 Estilos de liderança Líderes natos podem existir, mas, com certeza, poucos dependerão deles. A liderança deve e pode ser aprendida. 20 Drucker (1996) Em 1960 foi publicado o livro Autocracia e democracia: uma investigação experimental, que tinha como conteúdo um novo estudo sobre “estilos de liderança”. Kurt Lewin orientou, na década de 1930, Ralph White e Ronald Lippitt numa pesquisa 25 que tinha como participantes três grupos de crianças submetidas a lideranças diferentes: autocrática, democrática e liberal (laissez-faire)3. Essa teoria foi denominada “Os três estilos de White e Lippitt”. Laissez-faire [pronuncia-se: lecê-fér] é uma expressão francesa que significa “deixa andar”, “deixa rolar”. 3 19 Unidade I O resultado da pesquisa demonstrou que os indivíduos se comportam de forma diferente, de acordo com os tipos de liderança a que são submetidos. O líder autocrático era dominador, agressivo e tinha o poder 5 de decisão centralizado nele. O resultado foi o seguinte: 10 15 20 25 Houve forte tensão, frustração e agressividade; nenhuma espontaneidade nem iniciativa, nem formação de grupos de amizade. Embora aparentemente gostassem das tarefas, não demonstraram satisfação em relação à situação. O trabalho somente se desenvolvia com a presença física do líder. Quando este se ausentava, as atividades paravam e os grupos expandiam seus sentimentos reprimidos, chegando a explosões de indisciplina e de agressividade. A liderança autocrática (também chamada de autoritária) baseia-se no uso do poder de coerção e posição, que despende alta quantidade de energia, procurando o maior controle possível sobre as ações e reações do liderado, o que tende a gerar passividade e alienação. Ameaças, punições e pressões por parte do líder se multiplicam. Isso significa atenção contínua no sentido de evitar desvios dos padrões rigidamente estabelecidos e presença física constante de uma figura de autoridade para assegurar o cumprimento das atividades (Ramos, 2004, p. 7). O líder democrático era comunicativo e seu objetivo era orientar e motivar o grupo, tornando-o participativo. O resultado foi o seguinte: 30 20 Houve formação de grupos de amizade e de relacionamentos cordiais entre os meninos. Líder e subordinados passaram a desenvolver comunicações espontâneas, francas e cordiais. O trabalho mostrou COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA um ritmo suave e seguro, sem alterações mesmo quando o líder se ausentava. Houve um nítido sentido de responsabilidade e comprometimento pessoal. 5 10 15 Na liderança democrática, o grau de controle exercido sobre os liderados é menor. Os relacionamentos face a face tendem a ser mais frequentes. O liderado, por sua vez, goza de um espaço confortável para atuar, desde que não ameace a autoridade, experiência, prestígio e conhecimento dos que ocupam posições de liderança. As normas, regras e procedimentos normais são reduzidos: isso libera o líder da necessidade de exercer um controle maior sobre o liderado, uma vez que este tem consciência dos limites tolerados pelo contexto social (Ramos, 2004, p. 8). O líder liberal (laissez–faire) era ausente; deixava a tarefa da tomada de decisão para o grupo. O resultado foi o seguinte: 20 25 30 Notou-se forte individualismo agressivo e pouco respeito com relação ao líder. A produção foi medíocre, as tarefas se desenvolviam ao acaso, com muitas oscilações, perdendo-se muito tempo com discussões mais voltadas para motivos pessoais do que relacionadas com o trabalho em si. Na liderança liberal (laissez-faire), o líder não se envolve com as atividades de áreas de seus funcionários e exerce pequenas influências. Conhecida como “deixa rolar”, essa liderança tem menor visibilidade para os funcionários. O tipo autocrático pode ser mais eficaz em situações estruturadas e com objetivos bem definidos. Apesar de oferecer mais segurança aos liderados em momentos de tensão, provoca um clima socioafetivo negativo 21 Unidade I 5 10 e alguma agressividade interna que pode conduzir a uma fraca coesão do grupo. Por outro lado, o tipo democrático parece ser mais eficaz em situações moderadamente estruturadas e com objetivos pouco claros. O incentivo à participação estimula a satisfação e promove uma elevada coesão do grupo. No entanto, ao repartir as responsabilidades, pode aumentar os níveis de ansiedade de alguns membros do grupo. Em relação ao tipo liberal, este pode conseguir elevados níveis de motivação, mas em contrapartida pode ser desacreditado e visto como fraco (Ramos, 2004, p. 10). Autoritário Democrático Liberal O líder determina as tarefas. Os membros são livres para trabalhar, podem escolher e a divisão das tarefas é deixada ao grupo. O líder não participa da atribuição de tarefas. A execução das atividades são ditadas pela autoridade, uma de cada vez, de modo que futuros passos ficam, em grande parte, incertos. A atividade é discutida. Os passos gerais para as metas do grupo são esquematizados e, quando o aconselhamento técnico é necessário, o líder sugere dois ou mais procedimentos alternativos, entre os quais o grupo pode escolher. Subsídios são oferecidos pelo líder, que deixa claro que ele fornecerá informações quando solicitado. Fora isso, o líder não toma parte na discussão. É pessoal nos elogios e críticas do trabalho de cada um; permanece distante da participação ativa. O líder é “objetivo” ou Evita fazer comentários “orientado aos fatos” em sobre as atividades dos seus elogios e críticas. membros, a não ser quando interrogado; não tenta avaliar. Fonte: Lewin (1959). Tannenbaum & Schmidt (1973) descreveram uma ampla faixa de estilos na forma de um contínuo que vai desde o comportamento autoritário, centrado no chefe, até o 15 comportamento democrático ou centralizado no subordinado, conforme figura abaixo: 22 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Centrado no líder Centrado no grupo Uso de autoridade pelo líder Área de liberdade do uso subordinado para tomar decisões O líder decide e anuncia a decisão O líder vende a decisão O líder apresenta a ideia e solicita perguntas O líder apresenta decisões provisórias sujeitas a mudanças O líder apresenta o problema, recebe sugestões e toma a decisão O líder define O líder os limites, permite os grupos que os tomam a subordinados decisão funcionem dentro dos limites gerais Fonte: Tannenbaum & Schmidt (1973), adaptação de Arkheia (2008). Às vezes esse contínuo se estende além do comportamento do líder democrático, até incluir um estilo laissez-faire, que permite aos subordinados fazerem o que quiserem. Não estar incluído no contínuo pode significar ausência de liderança. Nesse modelo a estratégia do líder é baseada em três forças: primeiro, na força do líder (seus valores, sua competência); segundo, na força do grupo subordinado (suas necessidades de independência ou dependência, responsabilidade, conhecimento e experiência); por último, na força da situação (o tipo de 10 organização, a natureza da tarefa, o tempo). 5 1.4.1 Liderança baseada em princípios segundo Stephen Covey A liderança, sob o ponto de vista de Covey (1998), baseia-se em princípios, em leis naturais. Essa abordagem conduz a um novo paradigma ao discutir a vida das pessoas e a liderança que elas exercem nas organizações e sobre outras pessoas, 15 baseadas em princípios invioláveis e leis naturais na dimensão 23 Unidade I humana. Essas são as leis do universo referentes às relações e às organizações humanas que fazem parte da condição, da percepção e da consciência dos indivíduos. A percepção é um processo pelo qual um indivíduo recebe 5 um conjunto de estímulos por meio dos sentidos, os seleciona, os compara e os interpreta convenientemente. Segundo Kemp (1975, p. 13), percepção é “o processo pelo qual um indivíduo se apercebe do mundo que o rodeia”. Os diferentes órgãos sensoriais (olhos, ouvidos, tato etc.) estão submetidos a uma multidão de 10 estímulos, produzindo uma sensação no indivíduo. Essa sensação é uma resposta imediata dos órgãos sensoriais aos estímulos. A sensação é um fato fisiológico, já que se trata de uma resposta do organismo aos estímulos, enquanto a percepção constitui a tomada de consciência dessa reação. Mais que um simples 15 fenômeno sensorial, a percepção é uma conduta psicológica complexa, que corresponde a um quadro de referência particular elaborado segundo a nossa experiência pessoal e social, diz Moderno (2000). Os princípios são leis naturais comprovadas e validadas por 20 si próprias, que não se alteram, mas que indicam um caminho e se aplicam em todos os momentos e em todos os lugares, a partir de valores, ideias, normas e ensinamentos fundamentados na realidade. Ao contrário dos valores, que são subjetivos e internos, os princípios são objetivos e externos, operando sob obediência a 25 leis naturais, independentemente das condições vigentes. Covey (1996) entende que o líder é alguém capaz de desenvolver uma cultura ou um sistema de valores baseados em princípios. Entretanto, esse é um grande desafio que somente será alcançado por líderes com visão, coragem e humildade 30 para aprender e crescer continuamente. Esse é um aprendizado que, segundo Covey, acontece ouvindo, observando tendências, percebendo e antecipando necessidades do mercado, avaliando sucessos e erros do passado, e observando as lições que a consciência e os princípios ensinam. 24 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA A liderança baseada em princípios considera os seguintes requisitos: imparcialidade, presteza, igualdade, justiça, integridade, honestidade e confiança. Líderes baseados em princípios, segundo Covey (1994), possuem as seguintes características: 5 1. Estão continuamente aprendendo: sua competência e capacidade de realização de tarefas estão sempre em expansão. Desenvolvem novas habilidades e interesses. A maior parte da energia para o aprendizado e o crescimento é espontaneamente gerada e autoalimentada. 10 2. Estão voltados para o serviço: encaram a vida como uma missão, e não uma carreira. A cada dia se colocam voluntariamente à disposição do serviço. 15 20 25 30 3. Irradiam energia positiva: têm aparência alegre, agradável e feliz. Sua atitude é otimista, positiva e seu espírito é entusiasta, esperançoso e cheio de fé. 4. Acreditam nas outras pessoas: acreditam no potencial subjacente de todas as pessoas. Não se sentem engrandecidos ao se defrontarem com as fraquezas dos outros. Não rotulam as pessoas, evitam prejulgar, categorizar ou estereotipar. Essa atitude cria um ambiente propício ao crescimento e à oportunidade. 5. Sua vida é equilibrada: são socialmente ativos, possuem vários amigos. Mantêm-se atualizados em relação aos assuntos e eventos mais recentes. São intelectualmente ativos, com muitos interesses. São fisicamente ativos. Divertem-se imensamente, distraem-se muito. Possuem um humor saudável. São dotados de alta consideração e honestidade para consigo mesmos. Reconhecem seu próprio valor, que se manifesta através de sua coragem e de sua integridade. Comunicam-se de forma aberta, simples, direta e não manipuladora. Pensam em termos de contínuos, prioridades e hierarquias, mas mantêm 25 Unidade I 5 10 15 20 25 30 26 princípios absolutos. Suas ações são proporcionais à situação, ponderadas, temperadas, moderadas, sábias. Vivem sensatamente no presente, planejam cuidadosamente o futuro e adaptam-se com flexibilidade às circunstâncias mutáveis. Têm boa vontade em admitir e esquecer erros, em executar com alegria as tarefas que os esperam. Não precisam manipular, seja através do medo ou da autopiedade. 6. Sentem-se genuinamente felizes com os sucessos dos outros. Aceitam tanto o elogio quanto a culpa de forma equilibrada. Para eles o único fracasso real é a experiência através da qual nada foi aprendido. 7. Disponibilidade de correr riscos: um de seus princípios definidos é a flexibilidade. Sua segurança está em sua iniciativa, expediente, criatividade, força de vontade, coragem, energia e inteligência, em vez de depender da segurança, proteção e abundância das áreas de conforto. Buscam “territórios desconhecidos”, certos de que irão ao encontro do crescimento e de novas contribuições. 8. São sinérgicos: são catalisadores de mudanças. Trabalham de forma árdua e inteligente, sendo extremamente produtivos, mas de formas novas e criativas. Em trabalhos de equipe procuram complementar suas fraquezas com a força dos outros. Delegam poderes para obter resultados, uma vez que confiam nas forças e capacidades alheias. 9. Não se sentem ameaçados pelo fato de outros serem mais fortes em determinados aspectos. Em negociações, procuram focalizar os interesses e preocupações das outras pessoas em vez de disputar posições. Aos poucos, sua sinceridade é reconhecida pelos outros, que se tornam parte de um processo criativo de solução de problemas. Chegam então a soluções sinérgicas, superiores às obtidas por conciliação, em que todos cedem e recebem pouco. COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 10. Exercitam-se pela autorrenovação: regularmente exercitam as quatro dimensões humanas – física, mental, emocional e espiritual. Mantêm atividades físicas regulares (aeróbicas, alongamento e resistência). 5 11. Exercitam sua mente através da leitura, da solução criativa de problemas, escrevendo ou visualizando. Emocionalmente, esforçam-se para ser pacientes, desenvolver empatia e aceitar a responsabilidade por sua vida, suas decisões e reações. 10 Como afirma Covey (1996), o líder do futuro será o mesmo do presente. Não haverá mudança de pessoal, mas uma mudança interna: alguém se torna o líder do futuro através de uma completa transformação, que se dará com base em princípios. A causa é a insatisfação originada na decepção, no fracasso, 15 na morte, em relacionamentos perturbados ou rompidos com familiares ou amigos, na violação da confiança, na fragilidade pessoal, no desânimo, no tédio, no descontentamento, na saúde debilitada, nas consequências de más decisões, na solidão, na mediocridade, no medo, em problemas financeiros, na falta de 20 segurança no emprego ou na vida desequilibrada. A insatisfação gera abertura para novos modelos de vida pessoal, nos quais elementos comuns de humildade e sacrifício pessoal levem à mudança total baseada em princípios. 1.4.2 A liderança segundo o pensamento de Peter F. Drucker O pensamento de Drucker representa uma ruptura em 25 relação à Teoria dos traços.4 Como afirma Drucker (1996), líderes natos podem existir, mas, com certeza, poucos dependerão Teoria dos traços de personalidade: é a teoria mais antiga a respeito de liderança. Um traço é uma qualidade ou característica da personalidade. Segundo essa teoria, o líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas e através dos quais pode influenciar o comportamento delas. A teoria dos traços parte do pressuposto de que esses traços de personalidade podem ser definidos e utilizados para identificar futuros líderes potenciais. Os traços mais comumente apontados foram: 1. Traços físicos: energia, aparência e peso. 2. Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança. 3. Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa 4. Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa. 4 27 Unidade I deles. A liderança deve e pode ser aprendida. O que define o líder é o atendimento a quatro condições básicas de liderança apresentadas pelos líderes por ele estudados: 5 10 1. a única definição de líder é de alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são pensadoras, outras, profetas. Os dois papéis são importantes e muito necessários, mas, sem seguidores, não podem existir líderes; 2. um líder eficaz não é alguém amado e admirado. É alguém cujos seguidores fazem as coisas certas. Popularidade não é liderança, resultados, sim; 3. os líderes são bastante visíveis, portanto, servem de exemplo; 4. liderança não quer dizer posição, privilégios, títulos ou dinheiro. Significa responsabilidade. A personalidade de liderança, o estilo de liderança e os traços 15 de liderança não existem: “a polêmica sobre características e traços é pura perda de tempo”, diz Drucker. No entanto, na obra Administrando em tempos de grandes mudanças, Drucker (1999) esclarece que o líder deverá desenvolver o que ele chama de competências para atuar nos ambientes atuais, de sucessivas 20 mudanças. Essas competências teriam caráter mais subjetivo, como a empatia, a disposição para correr riscos ou para conviver com a pressão. Elas devem ser identificadas pelo líder através do autoconhecimento. Muitos fatores devem ser considerados para que cada 25 um compreenda seu próprio estilo de liderança, bem como o impacto deste sobre os outros e sobre o desempenho. Os líderes simbolizam a situação organizada que lideram e, portanto, devem influenciar de maneira construtiva; tentar lidar com a ambiguidade que permeia muitas situações de interação; tentar 30 interpretar os esquemas dos que estão envolvidos; personificar por meio do uso da linguagem apropriada os rituais e as outras 28 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA formas de discurso simbólico e valores que conduzem a formas desejáveis de ação organizada. Com a evolução dos estudos sobre liderança, surgiram outras abordagens, novos nomes para designar os estilos. Cada estilo 5 engloba diferentes comportamentos, como veremos a seguir. 1.4.3 Liderança segundo Peter Senge De acordo com Senge (1995), 10 15 a nova visão de liderança enfoca funções delicadas e importantes, tendo em vista que os dirigentes têm as funções de projetista, regente e professor. É deles a responsabilidade de construir organizações nas quais as pessoas possam expandir suas capacidades de entender a complexidade, definir objetivos e aperfeiçoar modelos mentais, ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem. Assim, todo líder é projetista, professor e regente. Projetista: para construir o alicerce da empresa, referente aos propósitos e valores essenciais dela, para definir políticas e estratégias que os realizem, bem como para criar processos de aprendizagem efetivos. 20 Professor: para fazer aflorar os modelos mentais das pessoas e ajudá-las a reestruturar suas visões da realidade e assim ser capazes de enxergar as causas subjacentes dos problemas, aquilo que não está explícito, que não está escancarado. 25 Regente: para catalisar os esforços das pessoas na realização da missão da empresa. Na condição de “dirigente-professor”, ele não “ensina” as pessoas a atingirem seus objetivos, mas trata de promover a 29 Unidade I aprendizagem, ajudando as pessoas a desenvolver conhecimentos sistêmicos. Portanto, é impossível reduzir a liderança natural a um conjunto de técnicas ou habilidades. 1.4.4 A liderança orientada para resultados de Dave Ulrich Ulrich (2000, p. 20) afirma que, na última década, “desenvolver 5 melhores líderes consistia em identificar e aprimorar os atributos da liderança”. Como a maioria das organizações trabalha visando ter lucros, ou com foco em algum resultado, Ulrich propõe que a liderança seja orientada para resultados. O estudo da utilização desses atributos faz-se necessário, porquanto a liderança eficaz 10 exige atributos aliados a resultados. Assim, “os atributos que não induzem ou não se conectam com os resultados não são relevantes” e “os líderes que não estão conseguindo resultados almejados não estão verdadeiramente liderando”, diz Ulrich (2000, p. 44). 15 20 No que se refere ao conjunto de atributos, Ulrich (2000) propõe classificá-los em três grupos que formam a abordagem ser – saber – fazer: o que são, o que sabem e o que fazem com resultados: 1. Como os líderes são – valores, motivos, traços pessoais, caráter. 2. O que os líderes sabem – habilidades, capacidades. 3. O que os líderes fazem – comportamentos, hábitos, estilos. 25 Os modelos de atributos do líder de sucesso se agrupam em quatro categorias, sendo elas: 1. definição da trajetória (visão, clientes e futuro); 2. mobilização do comprometimento pessoal (envolvimento de outras pessoas, compartilhamento do poder); 30 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 3. desenvolvimento das capacidades organizacionais (construção de equipes, gerenciamento da mudança); 4. demonstração do caráter pessoal (hábitos, integridade, confiança). Para que se alcance o equilíbrio entre os fatores atributos e resultados, Ulrich (2000, p. 213) propõe um círculo, denominado círculo virtuoso dos atributos e resultados, desencadeado quando os líderes compreendem o que precisam saber e fazer para serem bem-sucedidos. Tornar-se um líder orientado para 10 resultados, para Ulrich (2000), depende de catorze iniciativas: 5 1. comece com foco absoluto nos resultados; 2. assuma responsabilidade pessoal e integral pelos resultados do grupo. 15 3. comunique as expectativas e alvos ao pessoal do grupo, de forma clara e específica. 4. determine o que você deve fazer pessoalmente para melhorar os resultados. 5. utilize os resultados como critério de teste para a continuação ou implementação de práticas de liderança. 20 25 6. envolva-se em atividades e oportunidades de desenvolvimento que o ajudem a produzir melhores resultados. 7. conheça e utilize ao máximo as capacidades de todos os membros do grupo e ofereça a cada um as oportunidades de desenvolvimento adequadas. 8. experimente e inove em todas as áreas sob sua influência, buscando constantemente novas maneiras de melhorar o desempenho. 30 9. mensure os padrões certos e aumente o rigor das mensurações. 31 Unidade I 10. parta constantemente para a ação; os resultados não melhorarão por si mesmos. 11. aumente o ritmo ou a velocidade do grupo. 5 10 12. procure o feedback de outros na organização sobre as maneiras como você e seu grupo melhorarão os resultados. 13. assegure-se de que os subordinados e colegas percebem que sua motivação como líder é a obtenção de resultados positivos e não a conquista de ganhos pessoais ou políticos. 14. modele os métodos e se esforce pelos resultados a serem adotados e obtidos pelo grupo. 1.5 Abordagens sobre liderança 15 Ser diferente é um grande recurso para a própria segurança emocional. Confere a máxima importância aos sentimentos das pessoas, ao clima de calor humano, ao relacionamento amistoso e à afeição dos outros. Robbins (1999) Por volta dos anos 30 surgiu a Teoria dos traços de personalidade, que buscou por atributos de personalidade 20 – sociais, físicos e intelectuais – que descrevessem líderes (liderança inata) e os diferenciassem dos não líderes. Já foi visto que, para a teoria dos traços de personalidade, um traço é uma qualidade ou característica da personalidade. Segundo essa teoria, o líder é aquele que possui alguns traços 25 específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas. Ele apresenta características marcantes de personalidade, através das quais pode influenciar o comportamento das demais pessoas. 32 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA A teoria dos traços parte do pressuposto de que certos indivíduos possuem uma combinação especial de traços de personalidade que pode ser definida e utilizada para identificar futuros líderes potenciais. 5 Os traços mais comumente apontados foram os seguintes: 1. traços físicos: energia, aparência e peso; 2. traços intelectuais: adaptabilidade, entusiasmo e autoconfiança; 10 agressividade, 3. traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa; 4. traços relacionados à tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa. Segundo Cartwright & Zander (apud Ferreira, 1997), ao analisarem os resultados da pesquisa de traços de liderança, os 15 indicadores mostraram que, embora algumas capacidades mínimas sejam comuns a todos os líderes, elas estão amplamente presentes nos não líderes e, em dada situação, os traços de um líder são totalmente diversos dos de outro líder em situação diferente. As descobertas de mais de meio século nos levam a acreditar 20 que existem alguns traços que aumentam a probabilidade de sucesso de um líder, mas nenhum garante o sucesso. A teoria dos traços não considera as necessidades dos seguidores e ignora fatores situacionais. 1.5.1 Abordagem comportamental Do final dos anos 1940 até meados dos anos 1960, pesquisas 25 deram ênfase aos estilos de comportamento que os líderes demonstravam. Eles imaginavam que muitas características associadas à liderança podiam ser adquiridas. Veremos algumas teorias comportamentais. 33 Unidade I Estudos da Ohio State University A teoria comportamental da Ohio State University teve início no final dos anos 1940. Os pesquisadores procuraram identificar dimensões independentes do comportamento do 5 líder, chegando a duas categorias que respondiam pela maioria dos comportamentos de liderança descritos pelos subordinados, conforme quadro abaixo. Itens similares aos encontrados no questionário de descrição do comportamento do líder Itens de estrutura inicial ou estrutura de iniciação: 1. Conta para os membros do grupo o que é esperado. 2. Promove o uso de procedimentos padronizados. 3. Toma decisões quanto aos métodos de trabalho. 4. Esclarece as relações de papéis entre os membros do grupo. 5. Estabelece metas específicas e acompanha de perto o desempenho. Itens de consideração: 1. É fácil conviver com ele. 2. Põe em prática as ideias geradas pelo grupo. 3. Trata a todos da mesma forma. 4. Permite que os seguidores saibam das mudanças por vir. 5. Explica as ações a todos os membros do grupo. Fonte: Wagner III; Hollenbeck (1999). Estrutura inicial ou estrutura de iniciação (categoria orientada para a tarefa): o líder define e estrutura o seu papel e o 10 dos subordinados na busca da realização de metas. A estruturação inclui o comportamento que tenta organizar o trabalho, relações de trabalho e metas. O líder caracterizado com alta pontuação em estrutura inicial pode ser descrito como alguém que organiza grupos e suas tarefas, espera que mantenham padrões definidos 15 de desempenho e dá ênfase a prazos. DuBrin (2006) entende que a estrutura de iniciação “descreve o grau para o qual o líder estabelece a estrutura para os 34 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA membros do grupo”. A estrutura é iniciada mediante atividades, como a designação de tarefas específicas, a especificação de procedimentos a serem seguidos, a esquematização do trabalho e o esclarecimento das expectativas. Consideração (categoria orientada para as pessoas): o líder terá relações de trabalho caracterizadas por confiança mútua, respeito pelas ideias dos subordinados e interesse por seus sentimentos. O líder com alta pontuação em consideração pode ser descrito como alguém que ajuda seus funcionários, é amigo, 10 disponível e trata a todos igualmente. 5 Segundo Stodgill & Coons (apud DuBrin, 2006) a consideração descreve o grau para o qual o líder cria um ambiente de apoio emocional, conforto, amizade e confiança. Ele o faz por meio de um tipo de comportamento que inclui ser amigável e acessível, 15 sempre buscando o bem-estar pessoal do grupo, mantendo-o informado dos novos desenvolvimentos e fazendo pequenos favores aos integrantes do grupo. De acordo com essa teoria, todos os líderes, em qualquer situação e cultura, revelariam os mesmos traços psicológicos. 20 Foram feitas inúmeras pesquisas nas quais se pretendia isolar traços de liderança – tais como energia, ambição, inteligência, integridade, autoconfiança – que estivessem consistentemente ligados à liderança. Na verdade, essas pesquisas fracassaram, pois foram encontrados cerca de 25 oitenta traços, mas só cinco deles eram comuns a quatro ou mais investigações. Estudos da Michigan University Os estudos feitos pelo Centro de Levantamento e Pesquisa da Michigan University tinham como objetivo localizar 30 características comportamentais de líderes que pareciam estar relacionadas a medidas de eficácia de desempenho. Investigaram as diferenças em resultados obtidos por gerentes centrados 35 Unidade I na produção e gerentes centrados nos funcionários, assim caracterizados: 5 10 • Orientação para a produção: estabeleciam padrões rígidos de trabalho, organizavam as tarefas cuidadosamente, determinavam os métodos de trabalho a serem seguidos e supervisionavam bem de perto a realização das tarefas. • Orientação para o funcionário: davam ênfase às relações interpessoais, tinham interesse pelos subordinados e aceitavam as diferenças individuais. Encorajavam os membros do grupo a participar do estabelecimento das metas e de outras decisões de trabalho, assim como ajudavam a garantir o alto desempenho, gerando confiança e respeito entre os componentes do grupo. Os pesquisadores da Michigan University chegaram 15 a conclusões que favoreciam fortemente os líderes de comportamento orientado para o funcionário. Eles eram associados a maior produtividade do grupo e a maior satisfação no trabalho. Os líderes orientados para a produção tendiam a ser associados à baixa produtividade do grupo e à satisfação no 20 trabalho mais baixa (Robbins, 1999). Sobre esse resultado, segundo DuBrin (2006), os estudiosos descobriram que os grupos de trabalho mais produtivos tendiam a ter líderes centrados nos funcionários mais do que centrados na produção. Além disso, os estudos concluíram que os líderes 25 mais eficazes eram os que mantinham relacionamento de apoio com a equipe, assim como tendiam a usar o processo de tomada de decisão em grupo mais do que individual, assim como encorajavam os funcionários a atingir metas de alto desempenho. 30 36 Para Blake & Mouton (1982), o termo orientação para não é específico para indicar a quantidade de produção real ou o real comportamento para com as pessoas, mas sim para indicar a natureza e a força das premissas que estão presentes por detrás COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA de um determinado estilo gerencial. Quando o gerente aborda uma determinada situação, ele não atua conforme a realidade objetiva, mas conforme a apreciação subjetiva5 que ele faz da situação, baseando-se em seus próprios pressupostos. 5 Grade gerencial ou grid gerencial Blake & Mouton (1964) propuseram uma grade gerencial, baseados nos estilos de “preocupação com pessoas” e “preocupação com produção”, que representa as dimensões da Ohio State de consideração e estrutura inicial ou as dimensões 10 da Michigan de orientação para as pessoas e orientação para a produção. A grade gerencial é a representação gráfica de uma visão bidimensional que apresenta 81 posições diferentes, nas quais o estilo do líder deve se encaixar. A grade distingue cinco estilos 15 básicos de liderança: Alta 9 Preocupação com as pessoas Posição 1.1 – Gerência empobrecida: preocupação mínima, tanto com a produção quanto com as pessoas. Esse estilo algumas vezes é chamado de liberal (laissezfaire), porque o líder abdica de seu papel de liderança. 8 7 1.9 Gerência de clube de campo 9.9 Gerência em equipe 6 5 5.5 Gerência de organização humana 4 3 2 Baixa 1 1.1 Gerência empobrecida 1 2 Baixa 9.1 Obediência-Autoridade 3 4 5 6 7 Preocupação com a produção 8 9 Alta Fonte: Wagner III; Hollenbeck (1999). A apreciação subjetiva depende da interpretação de cada indivíduo, portanto, de acordo com suas crenças e valores. 5 37 Unidade I 5 10 15 20 25 30 38 Segundo Robbins (1999), o gerente na posição 1.1 não está preocupado nem com as pessoas nem com a organização, espera pouco e oferece pouco, fazendo o mínimo para evitar a demissão. Comumente justifica sua apatia e improdutividade atribuindo culpa a algo fora dele e, com essa racionalização, acredita que justifica sua conduta e não admite que a causa seja seu não envolvimento. Em relação ao planejamento, confere amplas atribuições sem especificar metas e programações, deixando cada um dos subordinados por sua conta Quanto à organização do trabalho, acredita que não há o menor problema em deixar sob a responsabilidade dos subordinados, pois considera que conhecem sua tarefa melhor que ninguém. Posição 1.9 – Gerência de clube de campo: muita preocupação com os empregados e pouca preocupação com a administração. Cria um ambiente de trabalho amigável e confortável, mas compromete o trabalho. Segundo Robbins (1999), o gerente na posição 1.9 baseia-se nas incertezas criadas por ele mesmo e não nas propriedades objetivas da situação. Em seu empenho para evitar a rejeição, mostra-se atencioso, bondoso e, sobretudo, solícito no atendimento às pessoas. Ser diferente é um grande recurso para sua própria segurança emocional. Confere a máxima importância aos sentimentos das pessoas, ao clima de calor humano, ao relacionamento amistoso e à afeição dos outros. Para ele é fundamental sentir a compreensão, o apoio e a aceitação dos que o rodeiam. Posição 9.1 – Gerência de obediência/autoridade: muita preocupação com a produção e a eficiência e pouca preocupação com as pessoas. Os gerentes que adotam este comportamento podem conseguir que as tarefas sejam realizadas, mas não proporcionam um bom ambiente de trabalho. COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 5 10 Segundo Robbins (1999), o gerente na posição 9.1 é estimulado, ao mesmo tempo, pela necessidade do poder, de controlar e dominar, e pelo medo do fracasso, da derrota e da perda de controle. Ele se empenha firmemente porque sua meta é vencer e provar a si mesmo que é capaz de dominar a todos e de não se submeter a ninguém. Procura até as últimas consequências evitar o fracasso, mas, se é malsucedido, ele se enraivece e imputa a culpa aos outros. Na maioria das vezes conclui que não se pode confiar nas pessoas e dessa conclusão emana sua ideia de autossuficiência. Posição 5.5 – Gerência moderada ou do meio do caminho: adequação entre a orientação para a produção e para as pessoas. Gerente realista. 15 20 25 30 Segundo Robbins (1999), o gerente na posição 5.5 é participativo, busca causar boa impressão, obter aceitação do seu grupo, ser sociável, angariar um extenso círculo de relacionamento, demonstrar status. Por outro lado, a motivação negativa deste gerente é causar má impressão, tornar-se marginalizado pelo grupo, cair no ridículo, sentir-se impopular e isolado, mesmo que sua posição possa ser a mais válida. Assim, o gerente 5.5 faz o possível para conquistar popularidade, desenvolvendo maneiras agradáveis nos seus relacionamentos. Posição 9.9 – Gerência de equipe: muita preocupação tanto com a produção quanto com as pessoas. Essa posição fundamenta-se nas necessidades organizacionais de produção, assim como nas necessidades das pessoas. Busca a participação ativa e a integração das pessoas por meio da responsabilidade compartilhada na consecução de metas claras e desafiadoras. A grade gerencial apresenta uma definição de estilos de liderança e não informações tangíveis para o esclarecimento da questão de 39 Unidade I liderança. Assim, também não se pode afirmar que o estilo 9.9 seja o mais apropriado em todas as circunstâncias. Parte-se do princípio de que não existe um único estilo de liderança válido para toda e qualquer situação, visto que cada situação requer um tipo de 5 liderança para alcançar a eficácia dos funcionários. 1.5.2 Abordagem contingencial A palavra “contingência” significa incerto ou eventual, o que pode suceder ou não. A teoria das contingências estabelece que situações diferentes solicitam práticas diferentes, fazendo uso das teorias tradicionais, comportamentais e de sistemas, 10 separadamente ou combinadas, para resolver problemas das organizações. A abordagem contingencial defende a ideia de que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único modelo organizacional. De maneira que não existe uma única forma 15 de alcançar os objetivos altamente variados das organizações dentro de um ambiente também altamente variado: a estrutura de uma organização e seu funcionamento são dependentes da interface com o ambiente externo. A mais notável contribuição dos autores da abordagem 20 contingencial está na identificação das variáveis que produzem impacto sobre a organização, como ambiente e tecnologia, sendo que as diferenças ambientais exigem diferentes relações organizacionais, ou seja, um modelo próprio para cada situação, e diferenças tecnológicas conduzem a diferentes desenhos 25 organizacionais. Para esta teoria, líder é aquele capaz de ajustar um grupo específico de pessoas, com características específicas, em situação específica e sob condições extremamente variadas, identificando que atitude, procedimento ou técnica administrativa poderá, 30 em um momento específico, contribuir melhor para a obtenção dos objetivos organizacionais. Segundo Santos (1997), existe 40 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA em cada situação particular um conjunto específico de vários fatores que conduz à escolha de uma determinada forma de organização do trabalho. Entre esses fatores, podem-se citar: • os procedimentos técnicos de produção; 5 • as características da população disponível (compreendendo também os supervisores e os gerentes); • os grupos sociais existentes, as relações que existem entre eles e suas estratégias. Teoria da contingência de Fiedler 10 Fred Fiedler descreveu o efeito moderador da situação entre a personalidade do líder e a eficácia do grupo. A expressão “estilo de liderança” significa, em geral, o comportamento do líder tal como ele é percebido pelos seguidores ou subordinados, mas para Fiedler (1967) estilo de liderança refere-se às necessidades 15 e motivos do líder e não propriamente aos comportamentos explícitos. Esse autor propõe que o desempenho eficaz do grupo depende da combinação apropriada entre o estilo de interagir do líder com seus subordinados e o grau em que a situação dá 20 controle e influência ao líder. Fiedler (1967) desenvolveu um instrumento, a que chamou questionário do colega de trabalho menos preferido (CTMP, ou LPC – Least Prefered Coworker), para medir se uma pessoa é orientada para tarefas ou para relacionamentos. Além disso, isolou três critérios situacionais 25 – relações líder x membro, estrutura da tarefa e poder da posição –, acreditando que eles possam ser manipulados para criar a combinação apropriada com a orientação comportamental do líder. As três dimensões contingenciais que vão definir os fatores situacionais-chave são assim descritas: 30 1. relações líder x membro: determinam o grau de segurança, confiança e respeito que os subordinados têm em seu líder; 41 Unidade I 2. estrutura da tarefa: determina o grau de procedimento que as missões de trabalho têm (isto é, se são estruturadas ou desestruturadas); 5 3. poder da posição: o grau de influência que um líder tem sobre variáveis de poder, como contratações, demissões, atos disciplinadores, promoções e aumentos de salário. Fiedler (1987) associou-se a Joe Garcia (1987) e criaram a Teoria do recurso cognitivo, que atualiza a teoria anterior 10 de Fiedler. Na nova teoria os autores analisam duas proposições: 1. Líderes inteligentes e competentes formulam planos, ações e estratégias de ações mais eficazes do que líderes menos inteligentes e menos competentes. 15 2. Líderes comunicam seus planos, decisões e estratégias através dos comportamentos diretivos. A nova teoria prevê três comportamentos: 20 1. Comportamento diretivo. Resulta em bom desempenho apenas em ambientes onde há alta inteligência e apoio sem tensão. 2. Em situações tensas, há uma correlação positiva entre experiência no cargo e desempenho. 25 3. As capacidades intelectuais do líder correlacionam-se com o desempenho do grupo em situações em que o líder percebe as situações como não tensas. 1.5.3 Teoria caminho-meta ou caminho-objetivo de House O estudo sobre liderança desenvolvido por Robert House, chamado de Teoria caminho-objetivo, classificou o líder em 42 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA quatro categorias: diretivo, apoiador, participativo e orientado para realizações: • o diretivo dá a direção de como as tarefas devem ser realizadas; 5 • o apoiador é atento às necessidades dos subordinados; • o participativo utiliza as sugestões dos subordinados em suas decisões; • o orientado desafiadoras. 10 para realizações determina metas A teoria foi desenvolvida a partir de 1970 por Martin Evans e Robert House e representa uma aproximação com a teoria contingencial, pois focaliza a situação e o comportamento do líder, não os traços dele. É, atualmente, uma das abordagens mais respeitadas de liderança. Essa teoria extrai elementos-chave da pesquisa de 15 liderança da Ohio State University e da Teoria motivacional da expectativa6, com os seguintes fatores inter-relacionados: • o grau da crença da performance no trabalho; • o valor dessas crenças para cada pessoa. 20 Os subordinados são motivados pelo líder e há a influência do comportamento do líder nas expectativas dos subordinados. O líder afeta a performance dos subordinados, esclarecendo a conduta que atingirá as metas e que as recompensas/premiações esperadas dependerão da performance dos subordinados. 25 House sugere que o líder deve se comportar de diferentes maneiras em diferentes situações. Diversos autores identificam A teoria da Expectativa, de Vroom, baseia-se na motivação, que é o processo que governa a escolha de comportamentos voluntários alternativos. Segundo essa teoria, uma pessoa pode escolher entre fazer A, B ou C. Segundo Vroom, a motivação da pessoa para escolher uma das alternativas dependeria de três fatores: 1. do valor que ela atribui ao resultado advindo de cada alternativa (que Vroom chama de “valência”); 2. da percepção de que a obtenção de cada resultado está ligada a uma compensação (que Vroom chama de “instrumentalidade”); e 3. da expectativa que ela tem de poder obter cada resultado (que Vroom chama de “expectativa”). 6 43 Unidade I características que diferenciam os líderes carismáticos de seus equivalentes não carismáticos. Robert House identificou três traços: autoconfiança extrema, dominância e convicções fortes em suas crenças. Warren Bennis descobriu que os líderes 5 carismáticos possuíam quatro competências comuns: • uma visão ou sentido de objetivo que os impulsionava; • capacidade de comunicar essa visão de forma clara para que seus seguidores rapidamente se identificassem com ela; • coerência e foco na perseguição dessa visão; 10 • consciência de seus próprios pontos fortes. Segundo DuBrin (2006), uma importante contribuição dessa teoria está no fato de que ela tanto especifica o que os líderes precisam fazer em diferentes situações quanto explica suas razões implícitas de tal comportamento. O comportamento do 15 líder é motivacional na medida em que: • torna a necessidade de satisfação do subordinado contingencial ao desempenho eficaz; • fornece treinamento, direção, apoio e recompensas necessários para o desenvolvimento eficaz. 20 Segundo DuBrin (2006), o líder precisa escolher entre quatro diferentes estilos de liderança para lidar com as demandas contingenciais de uma dada situação: liderança diretiva, liderança de apoio, liderança participativa e liderança orientada pela realização: 25 • liderança diretiva: envolve estabelecer diretrizes sobre padrões e comunicar expectativas. Segundo House (2002), o subordinado sabe o que se espera dele, e o líder programa o trabalho a ser feito e dá a direção. Encontra paralelo com a dimensão de estrutura inicial dos estudos da Ohio State University. 30 44 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA 5 • liderança de apoio: enfatiza e demonstra a preocupação com o bem-estar dos membros e desenvolve relacionamento mutuamente satisfatório. Segundo House (2002), o líder é amigável e demonstra interesse pelas necessidades dos subordinados. Encontra paralelo com a dimensão de consideração da Ohio State University. • liderança participativa: consulta os subordinados e utiliza as sugestões antes de tomar uma decisão. 10 • liderança orientada pela realização: determina metas desafiadoras, procura levar os subordinados ao seu mais alto nível de desempenho, promove a melhoria do trabalho e espera que os integrantes do grupo assumam suas responsabilidades. Segundo a teoria caminho-meta, o líder pode exibir qualquer 15 um desses comportamentos ou todos eles, dependendo da situação, contrastando com a teoria de Fiedler, que considera que os estilos de liderança são fixos. A teoria caminho-meta propõe duas classes de variáveis contingenciais ou situacionais que vão moderar a relação entre 20 o comportamento do líder e os resultados obtidos. São elas as ambientais, que estão fora do controle do subordinado (conforme figura abaixo) e as que fazem parte das características pessoais do subordinado. Os fatores ambientais determinam o tipo de comportamento que o líder deve ter para que os resultados 25 alcançados pelos subordinados sejam maximizados, enquanto as características pessoais dos subordinados determinam como o ambiente e o comportamento do líder são interpretados. (Fatores de contingência) Características pessoais dos membros do grupo Estilos de liderança - Diretiva - De apoio - Participativa - Orientada pela realização Resultados - Produtividade - Moral Exigências da tarefa (Fatores de contingência) Fonte: DuBrin, 2006. 45 Unidade I Segundo essa teoria, os líderes exercem influência nos níveis superiores, concedem reconhecimento pelo esforço e desempenho dos empregados, os apoiam psicologicamente, estimulando o desejo de realização das metas, e podem 5 eliminar restrições do ambiente que possam inibir seu labor. O quadro a seguir apresenta a correlação entre a situação, o estilo de liderança, o impacto nos seguidores e os resultados. Correlação entre a situação e o estilo de liderança Situação Carência de segurança em si mesmo, por parte dos seguidores Falta de interesse no trabalho Estímulo ao estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Tarefas ambíguas Estilo de liderança Impactos nos resultados Seguidores De apoio Incremento de segurança na realização de tarefas Melhor desempenho e satisfação profissional Orientado a resultado Estímulo ao estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Maior esforço; elevação da satisfação e desempenho Participativo Necessidade por parte dos seguidores de fazer sugestões e participar Melhor desempenho e satisfação; menor rotatividade Diretivo Necessidade do caminho para obtenção de retribuições Melhor desempenho e maior satisfação profissional Fonte: Soto (2002). Algumas hipóteses evoluíram da teoria caminho-meta: 10 46 • a liderança diretiva leva à maior satisfação quando as tarefas são ambíguas ou cheias de tensão; COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA • a liderança de apoio resulta em alto desempenho e satisfação quando os subordinados estão executando tarefas estruturadas; 5 • a liderança diretiva pode não ser bem aceita por subordinados com alta capacidade percebida e com experiência considerável; • quanto mais claras e burocráticas as relações formais de autoridade, mais os líderes devem demonstrar comportamento de apoio; 10 15 • quando houver conflito dentro de um grupo de trabalho, a liderança diretiva é a que leva à satisfação maior do empregado; • subordinados com um local de controle interno (acreditam que controlam seu próprio destino) ficam mais satisfeitos com a liderança participativa. • subordinados com um local de controle externo ficam mais satisfeitos com a liderança diretiva. 20 • a liderança orientada para as realizações aumenta as expectativas dos subordinados de que o esforço leva ao alto desempenho quando as tarefas estão estruturadas de forma ambígua. 1.5.4 Modelo de liderança situacional de Hersey & Blanchard A liderança de abordagem situacional é classificada, segundo DuBrin (2006), de acordo com duas variáveis. A do comportamento voltado para a tarefa (como o líder orienta para 25 as tarefas e como é seu relacionamento com seus seguidores) e a da maturidade de seus subordinados (em relação ao desempenho de suas tarefas) 30 • O comportamento voltado para a tarefa é aquele em que o líder comunica os deveres e responsabilidades ao indivíduo ou grupo. 47 Unidade I • O comportamento voltado para o relacionamento é aquele em que o líder se envolve em comunicações de duas ou mais vias. Ele inclui atividades como ouvir, prover, encorajar e orientar. 5 A liderança situacional é baseada na abordagem contingencial, que se concentra no comportamento dos seguidores – pois reflete o pensamento de que são os seguidores que aceitam ou rejeitam os líderes. Independentemente do que o líder faça, a eficácia depende 10 das ações de seus seguidores. Isso é uma dimensão importante, que foi ignorada ou subestimada na maioria das teorias da liderança. Na liderança situacional de Hersey & Blanchard, embora todas as variáveis situacionais (líder, liderados, 15 superiores, colegas, organização, exigências do cargo) sejam importantes, a ênfase recai sobre o comportamento do líder em relação aos subordinados. Hersey & Blanchard (apud Sanford, 1986, p. 187) consideram os liderados “como fator crucial de qualquer processo de liderança”, uma vez que, 20 além de aceitarem ou rejeitarem individualmente o líder, como grupo eles determinam o poder pessoal que o líder possa ter. Segundo Hersey & Blanchard (1986), a liderança situacional baseia-se numa inter-relação entre: 25 • a quantidade de orientação e direção (comportamento e tarefa) que o líder oferece; • a quantidade de apoio socioemocional (comportamento de relacionamento) dado pelo líder; 30 48 • o nível de prontidão (maturidade) dos subordinados no desempenho de uma tarefa, função ou objetivo específico. COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA A maturidade é definida como a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento, considerado em relação a uma tarefa específica. A pessoa não é totalmente imatura ou madura, 5 deve-se considerar a tarefa e verificar o nível de maturidade individual, o nível de maturidade do indivíduo dentro do grupo e o nível de maturidade do grupo. Portanto, a maturidade possui dois componentes: • maturidade psicológica: refere-se à disposição ou motivação para fazer algo (confiança em si mesmo, empenho). O comportamento do líder ilh art mp De r a leg De E4 (Baixo) E2 E3 dir (Comportamento de apoio) Comportamentos de relacionamentos Explica decisões e dá oportunidade para esclarecimentos ua s Per ar Compartilha ideias e facilita a tomada de decisão Co 10 • maturidade de trabalho: refere-se ao conhecimento e à capacidade técnica (instrução, experiência); Transferência de responsabilidade para decisões e implementação Dá instruções específicas e supervisiona o desempenho de perto Comportamento voltado para a tarefa (Orientação) Presteza do seguidor Moderada Alta M4 M3 Capaz e com Capaz, mas disposição ou sem disposição seguro ou seguro Direcionado ao seguidor ter mi na r E1 (Alto) Baixa M2 M1 Incapaz, mas Incapaz, mas com disposição sem disposição ou inseguro ou confiante Direcionado ao líder Fonte: Hersey & Blanchard (1986). 49 Unidade I A liderança situacional trabalha a relação entre a maturidade relativa à tarefa e os estilos adequados a serem adotados à medida que os liderados passam da imaturidade para a maturidade. 5 Cada um dos quatro estilos de liderança – determinar, persuadir, compartilhar e delegar – é uma combinação de comportamento de tarefa e de relacionamento. No comportamento de tarefa, o líder dirige as pessoas dizendo o que fazer, quando, onde e como. No comportamento de 10 relacionamento, o líder empenha-se em que exista uma comunicação bilateral com as pessoas, ele lhes dá apoio, as encoraja. O estilo apropriado a cada um dos quatro níveis de maturidade inclui a dosagem certa de comportamento de 15 tarefa (direção) e comportamento do relacionamento (apoio). Considera que a chave da utilização consiste em avaliar o nível de maturidade dos liderados e comportar-se de acordo com o modelo. O líder deve ajudar os liderados a amadurecerem (maturidade para o trabalho) até o ponto em que sejam capazes 20 e tenham disposição para realizar um trabalho (maturidade psicológica). Podemos considerar a competência e a motivação os pontos fortes da teoria de Hersey & Blanchard no processo de liderança, bem como a visão da maturidade como algo dinâmico. Por outro 25 lado, torna-se difícil medir de forma confiável a maturidade das pessoas. 50 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA Nível de maturidade Estilo apropriado M1 E1 Maturidade baixa Determinar Pessoas que não possuem capacidade nem disposição; são inseguras. O líder dá a direção. M2 E2 Maturidade entre baixa e moderada Persuadir Pessoas que não possuem capacidade, mas confiança em si. Tarefa alta / relacionamento baixo. O líder ainda dá a direção, mas, por causa da falta de capacidade, apoia para reforçar a disposição. Tarefa alta / relacionamento alto. M3 E3 Maturidade entre moderada e alta Compartilhar Pessoas que têm capacidade, mas não têm disposição ou são inseguras. O líder deve apoiar o liderado para utilizar a capacidade que possui. Relacionamento alto / tarefa baixa. M4 E4 Maturidade alta Delegar Pessoas capazes (competentes) e dispostas (seguras). Pouca direção e pouco apoio. Maduros não necessitam de muito apoio. Relacionamento baixo / tarefa baixa. 1.6 Liderança e propósitos organizacionais 5 Em crise não há liderança partilhada, quando o barco está afundando o capitão não pode convocar uma reunião para ouvir as pessoas, tem de dar ordens. Esse é o segredo da liderança partilhada: saber em que situações deve agir como chefe e em que situações atuar como parceiro. Peter Drucker (1997) À medida que as organizações evoluem e diante de um cenário globalizado e altamente competitivo, é natural que surjam novas teorias sobre liderança e que cada vez mais se 10 discuta o papel do líder. Hoje, estuda-se a liderança com uma 51 Unidade I perspectiva estratégica, de forma que o líder crie uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual em um contexto em que se obtenha o máximo de eficiência no desempenho, o que permite responder de forma adequada e rápida às mudanças. 5 Vale ressaltar aqui a importância dos valores e convicções dos líderes, uma vez que eles modelam os valores culturais da organização. Segundo Soto (2002, p. 233), “as organizações deverão estar comprometidas com sua missão transcendente, criando 10 e mantendo uma cultura, valores que sejam a base de sua rentabilidade, e um compromisso social”. O líder aparece então como figura central, como um construtor da cultura organizacional. O conceito de liderança parece ainda ser um conceito 15 masculino. A explicação mais provável tem a ver com os estereótipos daqueles que tomam a decisão na contratação. Embora muitas pesquisas não demonstrem uma diferença acentuada na forma de condução da liderança, existem indicadores de que as mulheres apresentam uma liderança 20 mais interativa, focalizando a construção do consenso e das boas relações interpessoais, em que a liderança é estabelecida através da criação de redes e de delegação de poder. Outra tendência atual é a autogestão. Manz & Sims (apud 25 Stoner, 1995) sugerem um novo estilo de liderança para grupos autogerenciados, que eles chamam de autoliderança. A autoliderança seria a capacidade dos trabalhadores de se motivarem tanto para realizar tarefas recompensadoras quanto tarefas necessárias, porém pouco atraentes. 30 52 Todas essas abordagens nos levam a refletir sobre a complexidade a respeito do tema liderança, bem como sobre sua importância, uma vez que são os líderes que guiam as organizações e implementam as ações. Vale a pena ressaltar COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA a importância da questão ética na liderança, considerando a relevância de seu papel na condução da organização e das pessoas. Como vimos, não existe um modelo único de liderança. 5 Diante da realidade da globalização, os líderes devem saber enfrentar os desafios que se apresentam nesse cenário cada vez mais competitivo e instável. As lideranças estão se convencendo de que as organizações só conseguirão ser competitivas por meio 10 das pessoas que as constituem, e que para isso precisarão contar com alguns atributos, como motivação, criatividade, qualidade, satisfação de clientes, redução de custos etc. Portanto, para gerir uma organização com êxito faz-se necessária a presença de um líder capaz de desenvolver 15 competências essenciais que lhe permitam guiá-la e a um corpo pluricultural de trabalhadores que atuem de forma ética e responsável. 1.6.1 Liderança carismática Gary Yukl (apud Bergamini & Coda, 1997, p. 259) explica que, em grego, a palavra carisma significa dom de inspiração 20 divina e, portanto, é a habilidade de realizar milagres ou predizer acontecimentos futuros. O carisma em um líder geralmente inspira os membros do grupo e facilita as transformações. Contudo, o carisma depende, em grande parte, da percepção da pessoa e envolve um relacionamento entre o líder e o seguidor 25 (DuBrin, 2006). Os líderes carismáticos são mestres da comunicação. Eles formulam sonhos acreditáveis e apresentam uma visão do futuro como o único caminho a seguir. Inspiram confiança e, com frequência, seus seguidores estão dispostos a apostar a carreira 30 para seguir a visão do chefe; são ativos e usam um estilo de liderança voltado para a ação; são habilidosos na administração 53 Unidade I de suas impressões, o que pode ocorrer tanto no nível físico quanto no intelectual (DuBrin, 2006, p. 287). Segundo Robbins (2002), na teoria carismática os seguidores fazem atribuições de capacidades heróicas ou extraordinárias 5 à liderança quando eles observam certos comportamentos. Ele (apud Maximiano, 2000, p. 355) define carisma como a influência que o líder transformador exerce sobre os seguidores. O carisma apela às emoções dos seguidores e estimula sua identificação com o líder. O carisma é a condição mais importante, mas não 10 a única, para que surja um líder transformador. A teoria da liderança carismática de House House (1976), estudando versões sobre a teoria carismática, defendeu que carisma é um termo comumente usado na sociologia e na ciência da literatura política para descrever líderes 15 que, pela força de suas habilidades potenciais, são capazes de ter um efeito profundo e extraordinário nos seguidores. Esses efeitos são comando real e devoção pelo líder, que inspira os seguidores a aceitar e a executar sem hesitação ou questionamento seus próprios interesses. Segundo House (1977), o termo liderança carismática é usado para referir-se a qualquer líder que tenha efeitos carismáticos em um grau excepcionalmente alto. A definição operacional de líder carismático aguarda pesquisas que permitirão clarear os efeitos citados. House (1977) considera 25 improvável que esses líderes obtenham todos os efeitos carismáticos citados, visto que tais efeitos podem estar presentes e inteirados de maneira complexa. E define carisma como influência exercida no nível das orientações normativas dos subordinados, do envolvimento pessoal com o líder e 30 do desempenho dos subordinados, devido ao verdadeiro comportamento do líder. 20 54 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA House (1977) afirma ainda que os efeitos da liderança carismática são mais emocionais do que racionais: o seguidor é inspirado entusiasticamente, age com obediência inquestionável, lealdade, compromisso e devoção ao líder. O 5 autor faz referência a três características pessoais dos líderes carismáticos: • elevada autoconfiança; • domínio; • convicção na integridade moral de suas crenças. 10 House (1977) aponta algumas proposições da liderança carismática: Proposição 1: As características que diferenciam os líderes de efeitos carismáticos daqueles que não os têm são: domínio, autoconfiança, necessidade de influenciar pessoas e forte 15 convicção na integridade moral de suas crenças (p. 194). Proposição 2: Quanto mais favoráveis forem as percepções dos seguidores com respeito ao líder, mais eles o seguirão como modelo: a. os valores do líder; 20 25 b. as expectativas de que o desempenho efetivo do líder resultará em efeito desejado ou indesejado para o seguidor; c. resposta emocional do líder para o estímulo relatado; d. as atitudes do líder para com o trabalho e a organização (p. 196). Proposição 3: Os líderes que têm efeitos carismáticos são mais frequentemente engajados em comportamentos que dão a impressão de competência e sucesso do que os líderes que não possuem tais efeitos (p. 197). 55 Unidade I Proposição 4: Os seguidores de detentores de efeitos carismáticos apresentam mais probabilidade de articular objetivos ideológicos do que os que não os têm (p. 198). Proposição 5: Os líderes que comunicam, simultaneamente, 5 alta expectativa e confiança nos seguidores e que acreditam que estes possam contribuir para o alcance dos objetivos têm mais probabilidade de ter seus objetivos aceitos pelos seguidores, os quais se esforçam para alcançar metas específicas e desafiam os padrões de desempenho (p. 201). 10 Proposição 6: Os líderes carismáticos têm mais probabilidade de se engajarem em comportamentos que despertam motivos relevantes para o alcance da missão do que aqueles que não têm esses efeitos (p. 203). Proposição 7: A condição necessária para o líder ter efeitos 15 carismáticos nos seguidores é definida em termos ideológicos requeridos pelos seguidores. (p. 205). 1.6.2 Liderança transformacional Segundo DuBrin (2006), líder transformacional é aquele que ajuda as organizações e as pessoas a fazer mudanças positivas no modo com elas conduzem suas atividades. A 20 liderança transformacional está intimamente ligada à liderança estratégica, ela define a realidade organizacional segundo a interpretação que faz da missão e dos valores nos quais a ação organizacional se deve basear. Segundo esse autor, um dos principais fatores que contribuem para a liderança 25 transformacional é o carisma – a habilidade de lidar com os outros com base no charme, no magnetismo, na inspiração e na emoção. Os líderes transformacionais são carismáticos, inspiram os seguidores a transcenderem seus próprios interesses para o 30 bem da organização. Eles exercem uma forte influência sobre 56 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA os liderados, oferecendo-lhes consideração individualizada e estímulo intelectual. Portanto, não basta possuir traços de liderança, conhecer comportamentos de liderança e entender as contingências; o 5 líder precisa conduzir de modo inspirador e impulsionador. A liderança transformacional é construída sobre as bases da liderança transacional. É por isso que elas não devem ser vistas como opostas, embora estudos evidenciem a superioridade da liderança transformacional sobre a transacional, em termos de 10 resultados, quando tratadas de forma separada. A maior parte das teorias apresentadas (estudos de Ohio e a teoria do caminho-meta) refere-se a líderes transacionais. Na liderança transacional, os líderes guiam ou motivam os liderados rumo aos objetivos estabelecidos - tornando mais 15 claros seus papéis e as exigências da tarefa – através de uma variedade de “transações” com eles. O líder ajusta tarefas, recompensa, estrutura e ajuda os seguidores a satisfazerem suas necessidades enquanto trabalham na realização dos objetivos organizacionais. 20 Quanto à transformação, ela ocorre de mais de uma maneira, segundo Hater & Bass (apud DuBrin, 2006): 1. Aumentando o nível de consciência das pessoas sobre a importância e o valor das recompensas designadas e o modo de alcançá-las; 25 30 2. Fazendo com que as pessoas ultrapassem os riscos pessoais pelo sucesso do trabalho em equipe e da organização; 3. Expandindo o foco das pessoas, de satisfações menores para a busca da autorrealização. Ao mesmo tempo, os integrantes do grupo são encorajados a buscar a satisfação das necessidades de níveis mais altos; 57 Unidade I 4. Ajudando os trabalhadores a adotar uma perspectiva ampla, de longo alcance, e a diminuir o foco nas preocupações do dia a dia; 5 10 5. Ajudando as pessoas a entender as necessidades de mudança. O líder transformacionista deve ajudar os integrantes do grupo a compreender a necessidade de mudança, tanto emocional quanto intelectualmente. Esse líder reconhece o componente emocional da resistência à mudança e lida com isso de maneira aberta; 6. Investindo em gerentes com o senso de urgência. Se os gerentes dentro da organização não percebem uma necessidade vital de mudança, a visão do líder não será realizada; 15 7. Compreendendo-se com grandeza. A grandeza inclui o esforço para a eficácia da empresa, como obtenção de lucros, alto valor das ações e uma ética impecável. 1.6.3 Liderança visionária A teoria da liderança visionária trata da capacidade de criar e articular uma visão realista e atraente do futuro para que a 20 organização cresça e melhore a partir do presente. Uma visão extrai energia e emoção das pessoas. Articulada apropriadamente, uma visão cria o entusiasmo. Nanus (apud Robbins, 1999, p. 235) afirma que “as organizações do século XXI exigem uma liderança visionária 25 na medida em que vivemos mudanças tecnológicas aceleradas, globalização, necessidades individuais de clientes e exigências incessantes”. As visões devem ser capazes de criar possibilidades que sejam inspiradoras, únicas, que ofereçam uma nova ordem que possa 30 produzir distinção organizacional. Visões desejáveis deverão 58 COMPETÊNCIA DE LIDERANÇA combinar tempo e circunstâncias, oferecendo uma imagem do futuro percebida como desafiadora, porém factível. A liderança visionária vai além do carisma, como afirma Robbins (2000 p. 400). A liderança visionária é a habilidade de 5 criar e articular uma visão do futuro realista, digna de crédito e atraente, que cresce a partir do presente e o aperfeiçoa. A liderança visionária necessita ser apoiada por planos detalhados, ou seja, uma organização excepcional precisa de uma visão e de um alto nível de atenção nas operações 10 cotidianas. Resumindo, a visão e a boa administração devem andar lado a lado. Os líderes visionários influenciam as opiniões e as atitudes de outras pessoas dentro da organização (Hosmer, 1982). Valem-se de pensamento não linear e acreditam na adoção de estratégias, 15 ou seja, acreditam que suas decisões estratégicas fazem diferença para as organizações e que afetam o ambiente de trabalho. A liderança visionária é voltada para o futuro e preocupa-se em correr riscos. Além disso, líderes visionários não dependem de suas organizações para conceber uma percepção sobre si próprios. Sob 20 a liderança de visionários, o controle organizacional é mantido por meio da socialização, do compartilhamento de visões e da conformidade com um conjunto de normas, valores e opiniões em comum. De certa forma, a liderança visionária é parecida com o componente inspirador da liderança transformacional 25 (Bass, 1985; Yukl, 1994). 59