Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) Minicurso – Cristalografia e Difração de Raios-X Terceira aula: O Difratômetro Laudo Barbosa (13 de Novembro, 2006) 1 Plano de apresentação • Arranjo experimental (círculo de focalização, geometria de Bragg-Brentano) • Óptica de feixe (colimação, fendas soller, monocromadores) • Modos - e -2 • Detectores (tubo PMT + cintilador, contador proporcional, cintilador) • Influência da óptica sobre a qualidade dos dados adquiridos (ex: tamanho de cristalitos) 2 Geometria elementar (Lei dos Senos) 3 L1 L2 2 1 L2sen1 L1sen2 Consideremos um triângulo genérico, de lados L1, L2, L3, e ângulos 1, 2, 3 L1sen2 = L2sen1 L3 L1 sen1 senL 2 2 L1sen3 3 L1 L2 2 L1sen3 = L3sen1 1 L3 L1 sen1 senL 3 3 L3sen1 senL senL senL 1 3 2 1 2 3 3 Geometria elementar (triângulos circunscritos) Consideremos um triângulo inscrito num círculo L2 2 3 L1 3 L1 2 1 L3 Retângulo L2 2 L1 L3 L3 3 1 1 L2 Acutângulo Obtusângulo 4 Triângulo circunscrito retângulo A hipotenusa coincide com o diâmetro do círculo 3 L1 L3 2 1 L2 L1 L2 L3 D 2 2 2 2 L3 D L1 sen1 senL senL senL90 D 3 2 2 3 3 o 5 Triângulo circunscrito obtusângulo Três triângulos isósceles com lados iguais R, dos quais vemos que: L3 R 2 1 L2 3 L1 1 ( 2 ) ( 3 ) 2 ( 2 3 ) como 1 2 3 2 3 1 1 2 φ Vemos também que: φ L1 2 Rcos 2 Rcos(1 2 ) Dsen1 L1 sen1 senL2 2 senL3 3 D 6 Triângulo circunscrito acutângulo Três triângulos isósceles com lados iguais R, dos quais vemos que: i 2 2 L1 3 L3 1 i i ( j k ) ( j k ) 3 1 i 2 i ( j j ) ( k k ) 1 2 Vemos também que: 2 3 L2 i 2 i ( i ) ( j 2 2 k ) i ( i ) ( 22 i ) i i 2 Donde: Li 2 Rsen 2i 2 Rsen i Dsen i L1 sen1 L2 sen 2 L3 sen 3 D 7 Teorema de Euclides (base para a difratometria de alta resolução) Pelo que vimos, para qualquer triângulo inscrito num círculo, teremos L1 sen1 L2 sen 2 L3 sen 3 D Para dois triângulos circunscritos que compartilham um lado L: L sen1 L sen 2 D 1 2 L Se um dos lados é fixo, o ângulo oposto a este lado é sempre o mesmo, qualquer que seja o triângulo circunscrito (Teorema de Euclides) 1 2 8 Focalização Raios luminosos que partem de um ponto do círculo e são refletidos em outro ponto do mesmo círculo podem, de acordo com o Teorema de Euclides, ser focalizados num terceiro ponto. Fonte de raios-x Detector Para que haja focalização, devem ser dispostos “espelhos” (cristais) adequadamente sobre o perímetro do círculo L Mesmo que o feixe seja divergente, os cristais (cristalitos) que estiverem dispostos sobre o círculo e alinhados segundo a condição de Bragg têm o feixe refletido focalizado sobre o mesmo ponto. Círculo de Focalização Numa amostra composta por um grande número de pequenos cristais orientados aleatoriamente, sempre haverá focalização. 9 Difratometria, Geometria de Bragg-Brentano Difratometria = medida do espectro de difração; Dada a direção do feixe incidente, So , busca-se medir a intensidade da difração numa direção S; O ângulo entre S e So é 2 . So S Geometria de Bragg-Brentano: -Fonte e detector se movem ao longo de um círculo (círculo do difratômetro), em cujo centro é fixada a amostra; 2 - O movimento é sincronizado, de modo que os focos do feixe incidente e difratado estejam sobre um círculo de focalização; - O raio do círculo de focalização varia com , o raio do círculo do difratômetro é fixo; - Possibilidades: - (amostra fixa) -2 (detector ou fonte fixos). 10 Óptica para difratometria de alta resolução Fendas de colimação: horizontal e vertical, definem a área de iluminação sobre a superfície da amostra Fendas SOLLER: eliminam (reduzem) a divergência do feixe em uma direção d o Monocromadores: cristais orientados, de modo que só há feixe transmitido quando 2dseno=λ Ar Amostra Fendas anti-scattering: evitam que espalhamento por moléculas de ar seja captado pelo detector 11 (λ) Monocromatização por filtro de absorção Io I(x) x I ( x) I o e x ( ) 1x ln II o λ (*) Para filtrar a linha K de um material de número atômico Z, usa-se material de número atômico Z-1 (*) Esta técnica não tem resolução suficiente para eliminar a linha Kα2 12 Monocromatização por cristal o d "Rocking Curve" 2dsen=o Intensidade o 1.0 Quádruplo Duplo Simples f() [u.a] 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 20 40 60 80 100 [u.a] 13 Difratômetro de alta resolução (exemplo de configuração) So 2 S 14 Detectores de raios-x Para detectar raios-x, é necessário converter a energia dos fótons em algo observável A energia em questão é pequena ( 1-10 KeV por fóton) Temos que integrar a energia de um grande número de fótons e/ou amplificar o sinal observado. No caso da difração de raios-x, a intensidade do feixe difratado é tipicamente baixa ( < 105 fótons por segundo) Não é praticável a integração temos que amplificar o sinal de cada fóton detectado Em geral, os detectores exploram as interações de fótons que produzem elétrons (efeito fotoelétrico) para converter raios-x em sinal elétrico. O sinal é amplificado para produzir uma grandeza observável (*) Exceção: detectores “fotográficos” Nestes ocorre integração da intensidade sobre um longo período de exposição do filme fotográfico 105 e/s 1051.6x10-19C/s =1.6x10-14A 15 Tubo fotomultiplicador Tubo fotomultiplicador (PMT) é um dispositivo que converte fótons em um grande número de elétrons Os PMTs são sensíveis à faixa próxima do visível Não são diretamente aplicáveis à detecção de raios-x 16 Cintilador A absorção de raios-x por distintos materiais leva à excitação de elétrons ligados; A des-excitação pode levar à emissão de fótons de menor energia Há muitos materiais que emitem luz na faixa do visível quando excitados por raios-x (processos de fluorescência e fosforescência) Alguns destes materiais são produzidos especialmente para a conversão de radiação ionizante (raiosx, alfa, beta, gama ...) em luz visível. São chamados cintiladores O par PMT+Cintilador é um dos mais usados na detecção de partículas em geral 17 Contador proporcional Os gases nobres são muito eficientes para captar fótons e liberar foto-elétrons (ionização) (ligam-se em moléculas estáveis, cujo principal processo para absorção de energia é a liberação de elétrons) Como os gases são também “transparentes”, é relativamente fácil coletar os elétrons liberados. Basta aplicar um campo elétrico Como os elétrons adquirem energia do próprio campo elétrico, eles podem também ionizar as moléculas do gás e gerar ionizações secundárias Detector Amplificador Há um processo de amplificação no interior do próprio detector a gás Relação sinal/ruído excelente 18 Regiões de operação do detector a gás Contador proporcional 19 Detectores sensíveis a posição DSP Janela ativa Fonte de raios X No caso da difração de raios-x, os detectores sensíveis a posição são utilizados para reduzir o tempo de coleta de dados Amostra Círculo do difratômetro 20 Fotos de um difratômetro 21 Influência da óptica – Tamanho de cristalito Seja a diferença de caminho óptico entre as frentes de onda difratadas por dois planos cristalográficos adjacentes d 0 1 Sabemos que, se =2dsen=λ, temos interferência construtiva na direção dada por. Todos os planos emitem em fase. Para =λ/2 ou =(2n+1)λ/2 temos interferência destrutiva m Se ’ é tal que a diferença de caminho óptico entre os dois primeiros planos seja, por exemplo, λ/4. Entre o primeiro e o terceiro, = 2λ/4 = λ/2 interferência destrutiva. Entre o segundo e o quarto, o terceiro e o quinto .... , =λ/2 interferência destrutiva. Regra geral: se ’ é tal que a diferença de caminho óptico entre os dois primeiros planos seja, por exemplo, λ/2n. há interferência destrutiva entre os planos 1 e n+1, 2 e n+3 .... Se o cristal fosse perfeito (infinito) haveria interferência destrutiva para todas as defasagens, exceto nλ. Ou seja, o pico de difração ocorreria apenas para um valor exato de Como todo cristal é finito algumas defasagens não são eliminadas por interferência destrutiva 22 Influência da óptica – Tamanho de cristalito =2mdsen=2tsen =mλ (t =“espessura”) A diferença de caminho óptico entre as ondas espalhadas pelo primeiro e pelo último plano é: 2tsen=m 0 d 1 Variando ligeiramente o valor de , saímos da condição de Bragg e a amplitude não atinge valor máximo Amp. m (m-1) m (m+1) Δ Sejam 1 e 2 os limites – em torno de – para os quais a interferência não é completamente destrutiva Int. 2tsen1 (m 1) 2tsen 2 (m 1) 21 22 2 23 Influência da óptica – Tamanho de cristalito A largura do pico de difração observado, B, pode ser estimada como Int. B 12 (22 21 ) 2 1 21 22 2 Os ângulos 2 e 1 são dados por 2sen 1 (m 1) 2sen 2 (m 1) t ( sen 2 sen 1) 2tcos 2 sen 2 1 2 2 1 como 2 1 : 1 2 2 sen 2 2 t ( )cos 2 1 2 1 2 1 t Bcos 0.9 Bcos 24 Influência da óptica Largura de linha (graus) 0.1 =1.54 Angstrom o =60 0.01 1E-3 1E-4 0 20 40 60 80 100 Espessura (micrômetros) Em resumo: • A óptica define a mínima largura de feixe observável • Caso não seja “fina” o bastante, o perfil observado oculta informações estruturais sobre a amostra 25