Escola Estadual Sesquicentenário Otto de Sousa Moreira 2º Ano C Concurso de Redação de Português João Pessoa 2011 A Escola Aprendendo com as diferenças Eu, Otto de Sousa Moreira, tenho 17 anos e estou cursando o 2º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Sesquicentenário, localizada em João Pessoa, Paraíba. Sou deficiente visual e estou nesta escola há quatro anos, onde aos poucos venho percebendo mudanças que vem ajudando no meu desenvolvimento e na minha aprendizagem. Quando comecei a estudar no Sesquicentenário encontrei muitas dificuldades para me adaptar, principalmente em relação à falta de materiais em Braille, como livros e exercícios. Muitas vezes, por falta desses materiais, em sala de aula, ficava sem fazer nada, o que dificultava muito no acompanhamento das aulas, Até mesmo para os professores tornava-se complicado, pois os mesmos precisavam muitas vezes, ditar os conteúdos ou alguma atividade para mim, deixando de dar continuidade a aula normalmente para toda turma. Existem algumas dificuldades que ainda enfrento na escola por exemplo em algumas disciplinas que não há matérias adaptados como tabelas, mapas e figuras. Mesmo os professores tentando demonstrar através de algum objeto que pudesse representar as imagens, provas que muitas vezes não são passadas para o Braille a tempo fazem com que eu me atrase bastante tendo que fazê-las em outro dia, no horário de outras aulas, perdendo então assuntos de outras disciplinas. A escola vem procurando amenizar esses problemas e se adequar a essa realidade a da inclusão digital e para isso foi criada uma sala de recursos, onde são desenvolvidas diversas atividades entre elas a de manuscrito, específica para deficientes visuais aprenderem a assinarem o nome completo em letra cursiva. Inclusive já aprendi a assinar o meu completo. As professoras que trabalham nessa sala procuram me ajudar com as matérias que preciso, passando os conteúdos, atividades e provas para o Braille levando para outras instituições que realizam esse trabalho. Apesar da sala de recursos ter todos os equipamentos necessários infelizmente nem todos são usados. Elas também já conseguiram calculadoras específicas para os deficientes visuais, tabelas periódicas e mapas adaptados, até mesmo alguns contos, em Braille, de Machado de Assis, que foram estudados no decorrer deste ano nas disciplinas de Português e Literatura com o apoio de alguns professores, coordenadoras e do pessoal da sala de recursos, tenho participado de várias atividades, tanto dentro da escola como fora dela. Já participei de dois eventos; nos quais toquei flauta; fui conhecer as Falésias do Cabo Branco e alguns pontos turísticos da cidade como atividade da disciplina de Geografia; participei de uma Bienal, narrando o conto “A Igreja do Diabo”, na escola e depois no Espaço Cultural da cidade, juntamente com minha turma, como atividade da disciplina de Português. Venho observando também que a escola está cada vez mais adaptando seu espaço físico de acordo com as necessidades dos alunos especiais. Foram construídas algumas rampas com corrimão para facilitar a locomoção, também foram colocadas placas de identificação, em banheiros e na própria sala de recursos, em Braille. Alguns professores também estão se capacitando, aprendendo a escrita Braille, para poder agilizar mais as atividades em sala de aula. A escola, através das professoras da Sala de Recursos, procura manter sempre contato com minha família, quando realiza reuniões para discutir o que vem sendo feito nela em melhorias ou mostrando as dificuldades que existem também. Minha convivência com o pessoal da escola é boa, as pessoas me ajudam quando preciso. Tenho ainda dificuldades para me locomover sozinho pela escola, até porque ela é muito grande. Mas toda vez que solicito ajuda, tem sempre alguém que me atende. As coordenadoras estão sempre presentes procurando dar todo apoio necessário, tanto nas questões de aprendizagem quanto nas de socialização e adaptação com as professores e alunos. Mesmo com todas essas dificuldades, que tanto eu como a escola enfrentamos, ainda assim consigo estudar e aprender. Falta muito a ser feito, é preciso mais interesse por parte das autoridades em destinar mais recursos, capacitar melhor os profissionais para uma melhor inclusão, onde todos possam ser envolvidos e realmente aprendam que nem todos são iguais, que entre todas as pessoas existem diferenças e que podemos sim conviver e aprender com elas.