Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional-IPPUR Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional Sociedade e Território Professor: Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro Discentes: Carla Hirt e Hernando Sáenz Seminario lll Resumo: SIMMEL, G. Formas de Interação Social: el intercambio, la lucha, la dominación, la sociabilidad - In LEVINE, G. Sobre la individualidad y las formas sociales. Escritos escogidos. Universidad Nacional de Quilmes, Quilmes, 2002. pp. 111/208. / Tipos Sociais: el extranjero, el aventurero e el pobre, pp. 209/219. Capitulo II. Formas de interação social. 1. O intercambio A maiorias das relações humanas são compreensíveis como um intercambio. O intercambio é uma ação reciproca, onde há uma relação que envolve aos indivíduos que intervêm nela de forma simultânea. Simmel associa o intercambio que é o econômico com o conceito de sacrifício, que é subjetivo. Quando se consegue um objeto, associam se a ele, sentimentos de valor relacionados com a renúncia que o individuo tem que fazer desse bem útil que poderia usar de outra maneira. Os indivíduos procuram um maior valor nas coisas que conseguem no intercambio. As coisas que precisam de maior esforço tem o maior valor, pelo sacrifico que impõem ao individuo. Uma de essas coisas é o trabalho. Em este contexto a pessoa tem que sacrificar tempo de ócio, tem que sacrificar se para puder conseguir outros bens. No intercambio o valor do sacrifício e de beneficio são iguais, mas quando não acontece essa situação pode ter lugar um desencontro entre o valor e o preço. O Intercambio é o processo por o qual o bem é econômico muito mais que quando ele é consumido. O desejo de algo e o sacrifício para obtê-lo, esta presente no surgimento de uma circulação econômica de valores. Através do intercambio muda se as condições afetivas por valorações objetivas. Respeito dos economistas que dizem que o valor surge na escassez, Simmel agrega que ele também surge quando os objetos são desejados no intercambio. De essa maneira é possível explicar porque algumas pessoas pagam muito mais por um objeto o qual no contexto geral tem um menor valor. Dado que antigamente as pessoas sentiam aversão pelos intercâmbios, a generalização deste só tem lugar depois quando começa a ser reconhecido como forma alternativa e pacifica de obtenção de bens que antes aconteciam pela luta ou pelo robô - com a troca diz Simmel há incluída uma noção de submissão-. Só com intercambio se pode falar de valor econômico e de vida econômica. Também é neste contexto que se pode ter certa normatividade e objetividade ausente nas outras formas. Finalmente, Simmel descreve os fundamentos culturais do intercambio. Simmel acredita que o intercambio teve como antecessor o robô e que o primeiro é um tratado de paz. Surge então uma regulação social que é suprasubjetiva, a qual anuncia a objetividade nas trocas livres de posse entre os indivíduos e que constitui a essência de “trueque”. O valor econômico reside exclusivamente na relação recíproca que se estabelece entre vários objetos, cada um determinando o outro e devolvendo-lhe a significação que ele recebeu. A importância do intercambio para a sociedade está no fato de sua realização econômica e histórica da relatividade das coisas; o intercambio eleva a coisa singular e sua significação para o homem isolado por cima de sua singularidade, mas não na esfera do abstrato, mas na vida da ação recíproca que, ao mesmo tempo é a substancia do valor econômico. Na sociedade moderna, monetária, existe a tentativa de buscar a objetivação e quantificação, mesmo das relações intersubjetivas, através do dinheiro. Inicialmente, existia a interação entre conteúdos. Atualmente observamos o predomínio da interação pela forma. O dinheiro homogeneíza e quantifica os conteúdos, contudo, o que motiva o intercambio é o conteúdo. Assim, os intercâmbios atuais se dão de forma incompleta, subtraída da subjetividade, uma vez que a natureza em que estas interações se dão é continuamente modificada e racionalizada. 2. A luta A luta é uma forma de socialização. É já uma distensão das forças adversárias; o fato de que termine na paz é uma expressão que demostra que a luta é uma síntese de elementos. O que comumente aparece como dissociação é sim, uma das formas elementares de socialização. A luta significa o elemento positivo que, com seu caráter unificador, forma uma unidade impossível de romper, embora possa dividir-se na ideia. Tanto a contraposição como a composição negam a relação de indiferença. A sociedade como se apresenta na realidade é o resultado de ambas categorias de ação recíproca, as quais, portanto, tem ambas um valor positivo. A unidade é a síntese geral das pessoas, energias e formas que constituem um grupo: é a pluralidade. É o resultado de uma cooperação de uma pluralidade de energia associadas. Vimos que os conflitos podem ser uma forma integradora no grupo. A oposição de um elemento frente a outro em uma mesma sociedade não é um fator social meramente negativo. O desaparecimento das energias repulsivas e destrutoras de um grupo não produzirá necessariamente uma vida mais plena de comunidade. O resultado mais provável será a indiferença - o desaparecimento das energias de cooperação e afeto, de ajuda mútua e harmonia de interesses. A oposição pode provocar a sensação de não estarmos sendo completamente oprimidos. Quando se exterioriza na prática, a oposição pode produzir um equilíbrio interior (às vezes para os 2 elementos) que pode salvar relações. Quando as relações não tem ação prática, não são verbalizadas e não se busca a unidade, esta função é feita pela forma latente da luta: a aversão e repulsão recíprocas, que se traduziria em ódio e combate caso houvesse algum contato entre as partes. O antagonismo excita a consciência quanto maior a igualdade sobre a qual ela produz. Em um ambiente de paz e afeto, a hostilidade é um ótimo meio para proteger e conservar a associação. A energia com que a dissonância se manifesta é um aviso que nos convoca a suprimir o motivo da distensão (assim como a dor que anuncia uma enfermidade em um corpo). As desavenças entre pessoas íntimas podem ter consequências mais trágicas que entre estranhos, todavia, nas relações mais profundamente arraigadas é onde elas se dão com mais frequência, ao passo que em outras relações, perfeitamente morais, porém pouco profundas sentimentalmente, vivem aparentemente com mais harmonia e menos conflitos. O fenômeno socialmente importante de “respeito ao inimigo” pode não existir quando a inimizade se produz entre pessoas que haviam pertencido a uma mesma unidade. Simmel chama a atenção para algumas formas de luta, no processo de interação social. O jogos antagônicos, em que o atrativo para a luta e a vitória por si mesma é o motivo único, e em alguns casos não existe nenhum premio para a vitória do mesmo jogo, ou seja, não contém na sua motivação sociológica nada mais que a própria luta. A regulamentação destas lutas são, com frequência, rigorosas e impessoais, e ambas as partes observam seu código de honra, com disciplina que poucas vezes se dá nas formas de união e cooperação. Na luta jurídica, existe um objeto da concorrência. A obstinação e a tenacidade muitas vezes não tem o caráter ofensivo, e sim de defesa no sentido profundo. É o instinto individualista e não sociológico da luta que determina estes casos. As pretensões de ambas as partes são defendidas com objetividade, sem desviar-se com considerações pessoais ou exteriores. Assim, a batalha jurídica é uma luta absoluta, onde o subjetivo não é possível, diferente das demais. A submissão comum à lei faz com que a batalha jurídica ocorra sobre uma base de unanimidades entre os inimigos. O não condicionamento da luta se produz pela negação da unilateralidade, e é determinada pelas normas e condições comuns. Nas lutas acima das causas, a luta toma uma importância maior do que a própria causa. Mesmo quando uma causa já é reconhecidamente inalcançável para um indivíduo, o fato de ele entregar/dedicar a sua vida (e, em alguns casos, envolva a vida de outros sujeitos) por uma causa, já basta para que ele se satisfaça. Através da luta, mesmo que seja por uma causa perdida ou não imediatamente realizável, pela simples associação à causa, e não na causa em si, ocorre a interação social (é a diferença entre um sujeito que questiona o imperialismo e outro que luta contra o imperialismo). 3. A dominação Para o autor, mesmo nas relações de submissão mais opressoras e cruéis, subsiste sempre num certo grau de liberdade (com exceção da coação física). Ela se limita a exigir por nossa liberdade um preço que estou disposto a pagar, assim, existe a interação. Assim, mesmo na dominação existe uma ação recíproca em que o afã de domínio se dá por satisfeito quando o fizer ou padecer do outro, seu estado positivo ou negativo, aparecem ao sujeito como fruto da sua própria vontade. A ação recíproca é mutuamente determinada e parte dos dois (ou mais) centros pessoais, subsiste mesmo nos casos de subordinação completa, e faz desta subordinação uma forma “social”, mesmo nos casos em que a opinião corrente considera que a “coação” de uma das partes priva a outra de toda ação espontânea e anula um dos lados da ação recíproca. Quanto a autoridade, ela supõe, em muito maior grau do que costumamos acreditar, a liberdade do submetido. Esta autoridade pode se produzir de duas maneiras: Quando uma personalidade superior atua autoritariamente e sua importância se torna uma qualidade positiva, por despertar fé e confiança nos subordinados; Quando uma força supraindividual (Estado, Igreja, escola, etc) confere a uma personalidade um prestígio e um poder de decisão final, diferente do primeiro caso em que a autoridade brota das qualidades pessoais. É necessário crer na autoridade, ela exige a cooperação espontânea do elemento subordinado e isso constitui um acontecimento sociológico, Por mais que a autoridade carregue um frio caráter de norma, deixe lugar a críticas por parte do submetido, o prestígio aparece como uma forma de homenagem voluntária ao superior. Na consciência do dirigido é corrente que não possamos nos defender contra a autoridade, enquanto o impulso que nos leva até um homem prestigioso contém sempre um sentimento de espontaneidade, por parecer que esta entrega brota de nossa personalidade, que é uma escolha livre. Mais adiante, o autor vai recorrer à consciência para explicar a submissão. Na consciência moral nos sentimos subordinados a um preceito que não parece surgir de nenhum poder humano, pessoal. Só em nós mesmos percebemos a voz da consciência, apesar de ela parecer proceder de uma instancia situada fora do sujeito. O caráter dúbio do preceito moral pode ser explicado pelo fato de que por um lado, ele se apresenta como um mandato impessoal, ao que estamos submetidos incondicionalmente (pelo convívio social), sem que, por outro lado, nos imponha nenhum poder exterior, mas unicamente nosso impulso próprio e íntimo. A sociedade aparece frente ao indivíduo com preceitos, cuja coação o indivíduo se habitua. Assim, pode ocorrer que sua natureza se forme ou modifique de tal modo que trabalhe de forma conveniente como se movido por um instinto, com uma vontade imediata, sem consciência de uma lei. Porém, pode ocorrer também que a lei viva na consciência individual como algo imperativo, procedente de uma autoridade social, mas sem que a sociedade esteja realmente por traz dela com seu poder de coação. Para Simmel, os tipos de subordinação podem ser classificados pelo poder exercido por um indivíduo; por um grupo ou; por um poder objetivo social ou ideal. O poder exercido por um grupo tem como consequência uma considerável unificação do grupo, e é equivalente nas duas formas características de subordinação: i) Quando o grupo constitui uma unidade interior e o líder dirige as forças do grupo no mesmo sentido do grupo, e a superioridade só significa que a vontade do grupo encontra no chefe uma expressão e corpo unitários. A desigualdade entre as relações de todos os subordinados com a cabeça dominante é que da firmeza à forma social. As diversas distancias que os subordinados se encontram do chefe cria entre eles, uma gradação firme e definida e com frequência o lado interno desta distancia é constituído pela inveja, a repulsão e o orgulho; ii) Quando a unificação de um grupo em oposição ao dominador – ter adversários comuns é, em geral, um dos meios mais poderosos para obrigar os indivíduos ou os grupos a unirem-se. Isso é mais intenso quando o inimigo comum é, ao mesmo tempo, o senhor comum. Contudo, mais adiante no texto, o autor lembra que a submissão comum nem sempre resulta em unificação (ex: Com a legislação inglesa contra os presbiterianos e católicos, o ódio dos ortodoxos foi superado pelo o que os presbiterianos professavam aos católicos e vice-versa). O amor comum a um mesmo indivíduo, em virtude dos ciúmes, pode ser um motivo de inimizades entre os sujeitos. O matiz particular que apresenta os ciúmes quando se refere ao poder a que estão subordinadas as duas partes é que a que consegue ganhar o afeto da personalidade discutida triunfa sobre seu rival em um sentido particular e com um poder particular Interiormente, o homem mantém uma relação dúbia com a subordinação. A maioria dos homens não pode viver sem seguir uma direção e, sentindo-se assim, buscam o poder superior que lhes livre desta responsabilidade, eles procuram uma severidade limitadora e reguladora que os proteja não só contra o exterior, mas contra eles mesmos. Com relação ao tribunal superior o autor discorre acerca das consequências unificadoras da subordinação a um poder individual. Quando o tribunal superior falta, o conflito entre opositores tende a ser resolvido por meio do choque de forças. Assim, o fato de que exista ou não, em uma sociedade ou para uma sociedade, um “tribunal superior” constitui uma característica sociológica de primeira ordem. Não é necessário que este seja um ser soberano no sentido ordinário e extremo da palavra. O reino do “intelectual”, com seus conteúdos particulares ou representantes, constituem sempre um tribunal superior. Sobre a subordinação em uma pluralidade, para os que se encontram em situação de servidores, normalmente é mais favorável pertencer a um circulo amplo do que ser subordinado a um indivíduo ou pequenos grupos, em função da característica de objetividade impressa nas ações do grupo para com seus subordinados. A eliminação de certos sentimentos, impulsos e atitudes que só atuam na conduta individual dos sujeitos é comumente eliminada nestas relações. Em relações que exijam legalidade, objetividade e imparcialidade, será mais vantajoso que a dominação seja de um grupo e não de um indivíduo. Já, um subordinado que necessite de maior compaixão e altruísmo de seu superior, não se beneficiará em um domínio objetivo de uma pluralidade. Muitas vezes a objetividade da conduta coletiva é negativa, e consiste simplesmente na eliminação de certas normas as quais normalmente submete-se a personalidade individual, e é ao mesmo tempo uma maneira de dissimular esta eliminação e tranquilizar a consciência. Todos os indivíduos que interviram na decisão podem amparar-se no fato de ter sido esta uma decisão coletiva, mascarando sua conduta com a desculpa de que só buscava os melhores resultados para a comunidade. Existe uma diferença fundamental entre a associação de uma coletividade encarnada num organismo, designadas como pessoas jurídicas verdadeiramente ou metaforicamente – e a de uma pluralidade representada por uma multidão concreta que se encontra reunida. Uma massa de pessoas em contato material sofre a influencia de incontáveis sugestões e ações nervosas, que arrebatam do individuo a serenidade e a reflexão e a ação individual. Assim se explicam as bruscas mudanças de opinião das massas e as observações sobre a “estupidez” das coletividades. O autor atribui isso ao número incalculável de influencias que se cruzam nas multidões, se fortalecem, se quebram se desviam, se reproduzem e despertam os mais obscuros e primitivos instintos e uma paralisia hipnótica, que leva a multidão a obedecer aos extremos a todo impulso sugestivo. A isso se soma a embriaguez do poder e a falta de responsabilidade individual na multidão. O fato das unidades sociais abstratas procederem de um modo mais objetivo, frio e consequente que o indivíduo, irreflexivo e extremo, e, ao contrário, que as massas concretas agirem de um modo mais impulsivo, irreflexivo e extremo, o mesmo pode ser, dependendo do caso, favorável ou desfavorável aos indivíduos submetidos a elas. Quando a subordinação não é a um indivíduo nem a uma pluralidade, mas a um princípio impessoal e objetivo, fica excluída toda a ação recíproca, ao menos a imediata, o que parece ser a causa de que esta forma de subordinação não possui o elemento da liberdade. Quem está subordinado a uma lei objetiva se sente determinado por ela, mas não a determina de modo algum. Todavia, para o homem moderno, objetivo, que sabe distinguir entre a esfera da espontaneidade e a da obediência, a submissão a uma lei ditada por poderes impessoais, subtraídos de toda influência, é o estado mais digno. Quando a lei não é bastante forte ou ampla, faz falta a pessoa, e quando a pessoa não é suficiente, é necessário recorrer à lei. Quando a subordinação é definida a partir de um objeto concreto, este tipo de domínio pode levar consigo uma incondicionalidade humilhante na submissão, uma vez que o homem submetido pelo fato de pertencer a uma coisa - e descende psicologicamente à categoria de simples coisa. Exemplo: quando domina o princípio patrimonial, ao quais os súditos pertencem ao território, ou então, no caso das relações patriarcais mais rudimentares, onde os filhos pertenciam aos pais. Quando o meio da soberania é uma coisa, o subordinado é quem se converte em um objeto. 4. A prostituição Simmel realiza a seguinte analogia entre a prostituição e o dinheiro: “La indiferencia con que aquel se presta a todo tipo de empleo, la infidelidad con la que se separa de cada sujeto, porque no estaba vinculado con ninguno, la objetividad, que excluye toda relación íntima y que le da su carácter de puro medio, todo esto justifica una analogía adecuada entre el dinero y la prostitución” (p.188) Simmel afirma que o dinheiro jamais é o mediador mais adequado para uma relação entre os seres humanos, pois proporciona o serviço mais perfeito, objetivo e simbólico. A subjetividade é subtraída das relações. No caso da prostituição, se relaciona com o prazer comprado, operando uma separação da personalidade. A prostituição mostra o caso aberrante da utilização de uma pessoa como meio e como fim. A mulher acaba perdendo valor, pois, na maioria dos casos existe uma superioridade de quem dá o dinheiro sobre quem o recebe. 5. A sociabilidade A sociedade é uma realidade com duplo sentido. Por um lado, estão os indivíduos em sua existência imediatamente perceptível, os que levam a cabo os processos de associação, que se encontram unidos em uma unidade maior que se chama “sociedade”; por outro lado, se encontram os interesses que, habitando nos indivíduos, motivam tal união: interesses econômicos ou ideais, bélicos ou eróticos, religiosos ou beneficentes. O impulso dos homens à sociabilidade se dá pelas necessidades e interesses especiais, mas muito além de seu conteúdo especial, todas as associações estão acompanhadas de um sentimento e uma satisfação no fato de que uns se associam com outros. Em alguns casos, a associação pode ser um “fardo”, mas que é mantida através da ação recíproca entre os indivíduos. O autor faz relaciona a sociabilidade, a arte e o jogo, pois a sociabilidade que destila por fora das realidades da vida social a pura essência da associação, do processo associativo como um valor e uma satisfação. A sociabilidade é a forma lúdica da associação. A sociabilidade em sua forma pura não tem uma finalidade, nem um conteúdo, nem tampouco um resultado fora de si mesma, está orientada por completo para as personalidades, para as trocas intersubjetivas sem intencionalidade que não a da convivência. Já na sociedade, ao contrário da sociabilidade, o “tato” é de uma importância especial, posto que ele guia a autorregulação do indivíduo em suas relações interpessoais, precisamente onde os interesses exteriores ou diretamente egoístas não proporcionam regulação alguma. Quando uma conexão começa no nível sociável, finalmente, chega a cerca de valores pessoais, ele perde a qualidade essencial de sociabilidade e transforma se em uma associação determinada pelo conteúdo. A sociabilidade é a abstração da associação. Requer que a interação seja da forma mais pura, mais transparente e com o maior compromisso. A sociabilidade se torna uma mentira quando as intenções e os acontecimentos da realidade prática ingressam ao discurso e à conduta desta. A sociabilidade cai então em uma simulação, onde pode se enredar na vida real. Simmel fala do jogo social, e cita o caso do erotismo cuja forma de jogo é o flerte. A sociabilidade joga com as formas da sociedade, o flerte joga na forma do erotismo. No caso da conversa, quando essa se torna prática e fica séria, perde seu caráter social deixa de ser sociável. Sem dúvida, sua natureza exclui as realidades das relações interativas entre as pessoas e “constrói seu castelo no ar”. O que a move em tais relações é o fato de não reconhecer nenhum propósito fora delas. Toda sociabilidade é nada menos do que um símbolo da vida, como mostra o fluir de um jogo divertido, mas mesmo assim, um símbolo de vida, cuja semelhança se altera em função da distância percorrida no jogo (como a arte que é mais livre e fantástica quando mais se nutre de uma relação profunda e verdadeira com a realidade). Se sociabilidade se separa do jogo, se torna uma farsa vazia, até uma esquematização sem vida orgulhosa de sua insensibilidade. É possível criticar a superficialidade das relações sociais. A vida do indivíduo pode ser uma coisa morta, sem significado, ou um jogo simbólico, em cujo encanto estético se concentra as finas e sublimes dinâmicas da existência social e suas riquezas. Na associação todas as tarefas e todo o peso da vida se realizam como num jogo artístico, numa simultânea sublimação e elucidação, em que as forças pesadas da realidade se sentem como a distância, esquivadas de graça e fugazes. Capitulo III. Tipos sociais: O estrangeiro e o pobre. O EXTRANGEIRO Neste caso, o autor volta a colocar a relação entre dois opostos: a migração e a sedentariedade. O estrangeiro é, para Simmel, o migrante em potencial, que, mesmo que tenha detido/parado, não está totalmente assentado. Fixa se num círculo espacial, mas sua posição depende de que não pertence a ele desde sempre e de que traz ao círculo qualidades que não pode vir do círculo. Dá se também a dupla condição de proximidade e distancia, "... a distância, dentro da relação, significa que o próximo está longe, mas o ser estrangeiro significa que o distante está próximo”. Simmel descreve a estreita relação entre estrangeiros e comerciantes, pois considera que os últimos estão em condições de desenvolver estas atividades. Quem é por essência móvel, entra ocasionalmente em contato com todos os elementos do grupo, mas não se liga organicamente a nenhum pela fixidez de parentesco, localidade, da profissão. O estrangeiro não é proprietário territorial nem em sentido físico, nem em sentido vital (fixado em um ponto no círculo social). Por mais estima que tenha, não despertará no outro jamais a sensação de proprietário territorial. Tem, por esta condição de proximidade e distância, uma qualidade de objetividade - descrita pelo autor como uma forma positiva - de interesse particular, atuando segundo suas próprias leis, eliminando as modificações e ênfases casuais, cujas diversidades subjetivas e individuais produzirão imagens completamente diferentes de um mesmo objeto. Após, Simmel associa objetividade e liberdade. Para o estrangeiro, não existem considerações que se tomem como prejuízos e afetem a compreensão, a percepção e a estimação dos objetos. Porém, em algumas ocasiões, pode haver um perigo quando o estrangeiro é o agitador de revoltas no país onde ela está (pela sua percepção objetiva dos fatos). Outra expressão é a relação entre proximidade e distância - bem como a objetividade - é o caráter abstrato da relação que se mantém com o estrangeiro. Há uma condição de estranhamento que se manifesta com o decorrer das relações afetivas. Negam lhe as qualidades de ser humano e pode deixar de ser visto em um sentido positivo. Se dá uma não-relação na medida em que não é considerado um membro do grupo. "Apesar de estar aderido ao grupo de um modo inorgânico, o estrangeiro constitui um membro orgânico do grupo, cuja vida unitária detém a condição particular deste elemento. Mas não sabemos caracterizar a unidade peculiar desta posição, se não dizendo se compõe de certa proporção de proximidade e distanciamento, o que caracteriza a relação específica e formal com o estrangeiro" Essa vinculação orgânica se explica por a divisão do trabalho e do papel que cumpre o estrangeiro nela, especialmente pelo papel de comerciante. O POBRE Esta seção começa apresentando a relação entre o direito e o dever, observando que este último tem a característica de justificar-se com nós mesmos. Levanta a diferença entre o terminus ad quo e terminus ad quem. Observa que essa dualidade é analisada à luz da assistência aos pobres. Do ponto de vista social, o autor argumenta que o direito dos necessitados é o alicerce de toda a assistência aos pobres. Parece ser mais tolerável exigir o direito do que cumprir um dever. "Sempre que a assistência aos pobres tem a sua razão suficiente para uma ligação orgânica entre os elementos, o direito dos pobres está mais fortemente acentuado”. Simmel afirma que se pode fazer uma inversão quando o ponto de partida é o dever de quem dá, em vez de os direitos de quem recebe, onde o pobre desaparece completamente. Essas boas ações ajudam a determinar o destino futuro do doador (ex: Doações de empresas que usam sua boa ação como forma de se promover, e descontam valor equivalente dos tributos pagos ao governo). Uma assistência aos pobres de forma diferente ocorre quando há prosperidade do todo social, pois ela é feita voluntariamente ou imposta por lei, para impedir os pobres se converta num inimigo ativo e prejudicial à sociedade. A caridade é destinada a indivíduos, mas sua finalidade é, na verdade, a proteção e promoção da comunidade. Serve como um paliativo, pois, na verdade, não se deseja alterar a atual estrutura da sociedade. Se, de fato, se baseasse nos indivíduos, não haveria limites para a transferência de bens em favor dos pobres. Outra característica é que a caridade é o único ramo da administração em que as pessoas essencialmente interessadas não têm participação alguma. Nesse sentido, se aplica o princípio da administração autônoma. Enquanto o pobre carece de direito, isso não impede sua coordenação no Estado como membro da unidade total política. O pobre está fora do grupo, mas esta situação não é senão uma forma peculiar de interação, que o coloca em unidade com o todo, no seu sentido mais amplo. Assim que resolve a antinomia sociológica do pobre, na qual se refletem as dificuldades éticas e sociais da assistência. Quando pobre é eliminado do processo teleológico, é cortada a interação, e a doação deixa de ser um feito social para se tornara troca um feito puramente individual. A assistência é uma parte da organização do todo, da qual o pobre pertence assim como as classes trabalhadoras. A exclusão singular que sofre o pobre da comunidade que o assiste é característica da sua função dentro sociedade. Há uma transição de acordo com o autor que ocorre com o Estado, que se converte o terminus ad quo e terminus ad quem de todos os benefícios. Outro aspecto importante da socialização humana é a indução moral: se você executar um ato de caridade, ele cria um dever de continuar, dever que encoraja o feito, não somente como uma reivindicação daquele que recebe o benefício, mas também pelos sentimentos do doador. Todo altruísmo, todo benefício, em último extremo não é somente um dever, mas também uma obrigação. A caridade é o cumprimento de um dever que não se esgota a primeira ação, mas continua enquanto existir a ocasião que a determina. Simmel destacou as duas formas na relação entre o dever e direito, já que os pobres têm direito à assistência e existe o dever da assistência - dever que não se orienta para o pobre como o titular do direito, mas para a sociedade a cuja conservação contribui. Mas há outra terceira forma que domina a consciência moral: a coletividade e as pessoas acomodadas têm o dever de socorrer ao pobre, e esse dever tem seu fim no alívio da situação do pobre. Com o ideal de humanidade se impôs o princípio de dotar aos pobres um mínimo de existência. No entanto, a caridade se ancora na ideia de procurar trabalho para os pobres para beneficiar a comunidade. Não há nada que atue com tal indiferença impessoal como a miséria. Quando o Estado libera o município na tarefa de assistência, começaram a surgir empresas de caridade que operam sob o princípio da utilidade e contratam funcionários. Aparece uma distinção entre a caridade pública e privada, já que o Estado só da necessidade urgente e imediata. O Estado trabalha em um sentido causal, e a caridade privada em um sentido teleológico. Ou dito de outra forma, o Estado socorre a pobreza, e a assistência privada os pobres. O Estado pode lutar para erradicar a pobreza como um fenômeno objetivamente determinado. A caridade socorre o pobre, mas não com a finalidade de a erradicação da pobreza, mas para ajudar este pobre determinado. O Estado vai ao encontro da sociedade, e a empresa às causas individuais. Simmel tenta resumir dizendo que a relação da coletividade com os seus pobres é uma função socializante tão formal como a que a coletividade tem com o funcionário ou o contribuinte. Compara o pobre com o estrangeiro, ambos localizados fora do grupo e carregam a uma relação peculiar. No caso do pobre, está fora porque é objeto de medidas que a coletividade toma com ele, enquanto o estrangeiro é um elemento a mais na vida do grupo. Contudo, estar fora é estar dentro. Todos os elementos do grupo sentem em menor medida esta dupla posição. A coletividade, com a estrutura assim adquirida, contendo em seu interior o pobre, entra nesta relação de enfrentamento e trata o pobre como um objeto. Por último, destaca que não são todos os pobres que recebem socorro, o que indica certa relativização do conceito de pobreza. Independente da classe social, a pobreza se definirá como a impossibilidade de satisfazer as necessidades típicas do grupo. Existe uma pobreza individual quando o indivíduo tem uma insuficiência de recursos para seus fins, e uma pobreza social quando o indivíduo é pobre sendo socialmente rico. A relativização da pobreza está relacionada ao contrário com os fins do indivíduo de acordo com sua classe, com seu a priori social, que varia de classe para classe. Dado que a pobreza está presente em todas as classes sociais, muitas vezes ela não é socorrida igualmente nelas. Uma forma de fazê-lo é através de presentes, que são muito diferentes dependendo da classe social. Os pobres regalam coisas úteis. Simmel descreve a doação, o furto e troca. Elas são as formas exteriores da ação da reação recíproca que se relacionam imediatamente com a possessão e correspondem aos três motivos para agir: o altruísmo, o egoísmo e o a norma objetiva. Neste último caso, a essência da troca está em que sejam substituídos por outros valores objetivamente iguais, sendo eliminados os motivos subjetivos de bondade ou ganância, já que o conceito puro da troca, o valor do objeto não é medido pelo apetite do indivíduo, mas pelo valor de outro objeto. Sobre a doação, diz que é a que oferece maior riqueza de constelações sociológicas, porque nela a intenção e situação do doador e do receptor se combinam dos modos mais variáveis com todas as suas nuances individuais. Para o estudo sociológico é crucial saber o significado e a finalidade da doação de si mesmos. A dificuldade de dar um presente para o pobre está em que as relações sociológicas maioria não concordam com a doação. "O presente é quase sempre possível quando media uma grande distancia social ou quando existe uma grande intimidade pessoal, mas muitas vezes torna mais difícil com a diminuição da distância social e o aumento da distancia pessoal" Simmel considera que uma pessoa, apesar de ser pobre individualmente, não necessariamente chega a sê-lo socialmente, enquanto não é socorrido. Ser pobre como uma categoria sociológica não é quem sofre determinada deficiência ou privação, e sim quem recebe socorro ou deveria recebê-lo, segundo as normas sociais. A pobreza não é definida em um estado quantitativo, e sim segundo a reação social que se produz com determinada ação. O papel dos pobres na sociedade não se produz pelo simples fato de ser pobre, apenas quando a sociedade (a totalidade dos indivíduos particulares) reage frete a ele com socorro. Só então representa um papel social específico O círculo dos pobres não se mantém unido por uma ação recíproca de seus membros, mas pela atitude coletiva que sociedade como um todo adota frente a ele. No entanto, houve socializações imediatas (associações de pobres), dado o aprofundamento da divisão e da dificuldade para a comunidade de ter força suficiente para fazer uma verdadeira socialização. Apesar disso, se vem experimentando um declínio do caráter solidário dos pobres. Além disso, podemos notar o crescimento da prosperidade geral, a vigilância policial e, acima de tudo, a consciência social que, com uma mistura singular de bons e maus motivos, "não pode suportar" a vista da pobreza, imprimem cada vez mais à pobreza a tendência de esconder-se " O autor conclui, enfatizando que na sociedade moderna existe uma uniformidade dos pobres em termos de significação e localização no corpo social, que apura as competências individuais dos seus elementos. Existem pobres cuja posição social é ser pobres. Tirar-lhes seus direitos políticos é apenas uma confirmação dessa situação. Pobreza a partir da sociologia: "um certo número de indivíduos que, por um destino puramente individual, que ocupam um posto orgânico específica dentro do todo, mas este posto está determinado pelo destino e maneira de ser próprio, mas pelo fato de que outros (indivíduos, associações, comunidades) tentem corrigir esta maneira de ser. Assim que o que faz o pobre não é falta de recursos. Sociologicamente, o pobre é o indivíduo que recebe socorro por causa da falta de recursos " Outras questões debatidas: Simmel e a microssociologia: Simmel não pode ser considerado como autor de uma corrente micro-sociológica pois nesta corrente predominam estudos de tipo parcial e fragmentado sobre o comportamento cotidiano. Pelo contrario Simmel desenvolve uma forma de entender o social no individual (nos microacontecimentos) para alcançar uma reflexione sociológica. Para Simmel a sociedade resulta das interações individuais (formas regulares) baseadas na ação reciproca. Também é preciso diferenciar a Simmel como um autor que trabalha o individualismo desde a metodologia: Quando ele descreve seus tipos sociais está desenvolvendo outro tipo de olhar, mas este segue sendo general. Tem ademais uma finalidade teórica que é explicar o social através do individuo. Ele vai analisar essa tensão entre uma crescente individualização e a dominação. O Altruísmo (a luta acima das causas) No caso do altruísmo se fala de um objetivo subjetivo que é a adesão a uma causa (mostrar-se como um militante) que é tão importante para o individuo que a realização pode dar-se independente de que essa causa se realize. O fim da interação é realizar a ideia de que é mobilizado pela causa. Esse altruísmo existe pelo olhar do outro. Subordinação e submissão Em aula discutimos a diferença entre submissão e subordinação. Na submissão, a adoração anula a subjetividade de um dos sujeitos, (ali não há intercambio), enquanto na subordinação não ocorre a alienação da subjetividade de nenhum dos sujeitos envolvidos. Realização no outro, que é associado a uma crença. Nesta subordinação há reciprocidade. Descrevem-se através do exemplo das relações feudais e como elas se transformam na medida em que o dinheiro começa a mediar essa relação. Além da interação personalizada os preços afetam essas relações entre servo e senhor feudal. Sínteses A sociedade e explicada por formas de interação que estão baseadas na reciprocidade. Ela é resultado de diferentes formas de interação social que surgiram na historia cultural, econômica. Essas formas tem o traço comum que e a reciprocidade, realizada através de um intercambio intersubjetivo. O problema e que na sociedade moderna, a economia monetária e a divisão social do trabalho geraram condições novas em que essa interações vão se dar. Tem que ver com a forma, o mercado e muito mais objetivo. O sentido do sacrifício e satisfação e mediado por dinheiro, independente dos conteúdos. A forma dinheiro objetiva as trocas, com o qual afeta a reciprocidade. O dinheiro quantifica a qualidade. As consequências são não só na reciprocidade senão na subjetividade. As mudanças que se inicia pela forma, se da quando tem lugar um duplo movimento que é de aproximação e distanciamento. No posso colocar todo meu conteúdo numa interação porque o dinheiro limita e exige objetividade (A troca como proximidade e como distanciamento). A economia monetária multiplica essa forma na vida dos indivíduos y eles só podem colocar uma parte de seu conteúdo. Afeta natureza em que se da interação social e sobre o plano subjetivo, gerando um modo de funcionamento baseado numa objetivação das experiências, o individuo tem que aprender a suspender os conteúdos temporalmente para que o intercambio se de. O tipo de personalidade é especifico do individuo da modernidade e implicado, mas no totalmente. Esse e o caso do estrangeiro que Simmel descreve. Ele se afasta y se aproxima ao mesmo tempo nas interações. A economia monetária multiplica as interações sociais e exige ao individuo desenvolvê-las. A cidade será o palco, a veículo e o símbolo da modernidade. Finalmente, entre os temas mais contemporâneos que poderiam ser analisados bajo este autor são processos como o fiado nas favelas. Onde as relações estão atravessadas por elementos subjetivos misturados aos objetivos. Outro exemplo é a empresa familiar. As relações não estão totalmente objetivadas (mediadas pelo dinheiro) e não há esse tipo de personalidade que se precisa. Nos grupos fechados a objetividade mediada pelos preços não se impõe por essa situação de proximidade. Há outros elementos diferentes do preço (sendo este externo) que são decisivos como a amizade, família.