Nos limiares da pobreza e do estigma: um diálogo entre Simmel e Goffman1
Claudinéia Pereira Coura
O presente texto tem como principal objetivo discorrer sobre os fundamentos do
fenômeno da pobreza na sociologia de Simmel a partir do ensaio intitulado El Pobre de 1908,
além da tentativa de relacioná-la com a dimensão do estigma trabalhada por Goffman em
Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada, obra de 1963. O enfoque dado
por Simmel sobre a temática estabelece uma forma de pensá-la como uma construção social e, ao
mesmo tempo, como uma construção relacional, já que é expressa pela interdependência entre os
indivíduos considerados pobres e os não pobres. Nesta perspectiva, da mesma forma que a
pobreza pode ser entendida como uma reação social que se estabelece de acordo com
determinada situação, podemos também pensar o estigma como produto desta mesma reação. Isto
nos leva a pensar sobre como a dimensão do estigma é configurada na cidade onde há, como bem
discutiu Simmel em outro estudo, uma prevalência da atitude blasé e da indiferença e, por
extensão, da capacidade que o homem metropolitano adquiriu de não “discriminar”, tornando-se,
por vezes, atomizado.
Acrescido a isso, é importante, ainda, destacar nos escritos de Simmel, a cidade como o
lugar da busca pela diferenciação e pela liberdade pessoal. Ou seja, como podemos pensar os
limites e/ou a articulação da busca por uma marca ou diferença pessoal com àquela já
estabelecida como a desviante/estigmatizante? Como a sociedade classifica e hierarquiza as
diferenças? Como a dissociação motivada pela indiferença é trabalhada pelo autor? Como se dão
as interações entre os pobres e não pobres em Simmel e entre os normais e os estigmatizados em
Goffman? A partir da tentativa de compreender tais dimensões é que poderemos refletir sobre
como os conceitos de pobreza e estigma se articulam para pensarmos a interação social no
espaço, sobretudo no espaço urbano, além de analisar de que maneira se dão as formas de
ajustamento do pobre e do estigmatizado à sociedade e a forma como estes manipulam sua
própria identidade e se apresentam no espaço público.
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Este texto é parte integrante da dissertação de mestrado intitulada: Juventude e Segregação urbana em Belo
Horizonte: um estudo de trajetórias e representações sociais no Conjunto Taquaril, defendida em março de
2009 no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Para que possamos discutir as questões propostas, o texto foi dividido em três momentos:
o primeiro discorrerá sobre as contribuições trazidas no ensaio El Pobre de Simmel para que,
num segundo momento, possamos relacioná-las com a dimensão do estigma. Por fim, tentaremos
refletir sobre as implicações das categorias discutidas pelos autores na sociabilidade urbana.
A pobreza como categoria analítica
Para dissertar sobre um dos tipos sociais presentes na cidade, Simmel em seu ensaio El
Pobre desenvolve muito mais que uma sociologia da pobreza, trazendo para a obra, dimensões
presentes em outros estudos. A pobreza, neste sentido, constitui-se como uma categoria analítica
para pensarmos o objeto mesmo das ciências sociais: (...) “as forças, relações e formas, por meio
das quais, os homens se sociam” (1983, p. 64). Desta maneira, a pobreza não será aqui tratada
como uma expressão da injustiça social ou mesmo será resgatada sua construção histórica.
Interessa discutirmos a pobreza como uma forma de sociação, de interação social presente na
sociedade, tal como nos propõe Simmel. Suas proposições teóricas remetem, principalmente, aos
fundamentos do vínculo e controle sociais. O ensaio, portanto, traz, sobretudo, uma contribuição
para a teoria geral da sociedade.
Simmel introduz o texto trazendo uma discussão sobre a correlação entre direito e dever.
O estabelecimento desta correlação é importante para entendermos a forma como a sociedade lida
com os pobres e sobre o sentido da conduta moral. Para cada um de seus direitos, o homem tem,
na mesma medida, um dever correspondente. O direito se pronuncia como elemento primário de
cada indivíduo já que se converte, ele mesmo, no dever do outro. As relações de prestação e de
assistência são, pois, derivadas desta correlação onde a primazia do direito se constitui. Mas
observamos, claramente, o caráter normativo desta aferição, já que como destaca Simmel,
“nuestros deberes – se dice – son deberes para com nosotros mismos; no existen otros (Simmel,
2002, p. 218). O conteúdo do dever pode ser a atitude para com os outros, mas sua forma e seu
incentivo como deveres advem das interioridades de cada indivíduo. Ou seja, é o próprio
indivíduo quem decide até que ponto os direitos dos outros são deveres dele. Simmel ressalta que
as variadas concepções sobre a assistência aos pobres são, com freqüência, baseadas no dualismo
presente na conduta moral. Deste fato resulta que o direito daquele que necessita é o fundamento
de toda a assistência ao pobre, oferecida pela coletividade/Estado como um dever seu. Este
fundamento equivale a dizer que, sendo a assistência um direito, o pobre não se sujeitaria à
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humilhação e à desqualificação social de receber, o que Simmel chama de socorro. É importante
enfatizar que o autor procura com esta explicação determinar o sentido interno do socorro,
convertendo-o em um conceito fundado na relação do indivíduo com a coletividade. O direito ao
socorro seria figurado na mesma base que se estabelece o direito ao trabalho ou à existência.
Simmel intenta aproximar-se do processo de diferenciação social presente desde às sociedades
primitivas onde a assistência ao pobre se justificava mediante o vínculo orgânico seja de caráter
biológico, religioso ou metafísico. Nestas sociedades o direito dos pobres era mais fortemente
acentuado. Na concepção cristã medieval o socorro ou a esmola se configuravam como dever
daquele que oferece e não como direito daquele que recebe. Já nas sociedades modernas a
assistência ao pobre se estabelece como uma instituição pública desde que em consonância com o
bem estar da coletividade.
É importante nos determos ao fato de que a posição social do pobre varia de acordo com
cada tempo histórico e cada sociedade. Nas sociedades primitivas, por exemplo, a assistência se
dava a partir do princípio de que o pobre se estabelecia como um fim em si mesmo e, desta
forma, fazia parte da totalidade social. Nas sociedades medievais, o pobre era, substancialmente,
um meio para que fosse possível o que podemos chamar, de transferência de posições, relação
onde o “doador” recebia mais que o “donatário”.
A sociedade moderna retoma o caráter
teleológico na relação com o pobre, mas considerando-o relacionado com a prosperidade do todo
social. A dimensão da assistência como uma instituição pública se configura como uma dimensão
sociológica muito importante. Seu conteúdo é propriamente pessoal, pois tem como objetivo
amenizar carências individuais. Neste sentido, ela se diferencia das demais instituições no caso,
privadas, que objetivam a prestação de serviços não aos indivíduos diferenciados, mas à
totalidade dos indivíduos. Mas como destaca Simmel, embora a instituição pública se dirija ao
indivíduo e à sua situação concreta, a forma moderna da beneficência encontra no indivíduo sua
ação final, mas não o seu fim último. Nesta concepção, a moderna beneficência ainda pretende
favorecer a todos os cidadãos ao se utilizar a assistência como um mecanismo de controle social
da pobreza. Para o autor, a assistência ao pobre não se propõe como um instrumento para a
viabilidade da equalização material entre ricos e pobres, senão para a manutenção da estrutura
social vigente. O que se propõe é “justamente mitigar ciertas manifestaciones extremas de la
diferencia
social de modo que aquella estructura pueda seguir descansando sobre esta
diferencia “ (Simmel, 2002, p. 223). Acrescenta-se o fato de que na relação entre deveres e
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direitos, o Estado não compreende o pobre como titular do direito, mas todo o cidadão
contribuinte que paga para que os pobres não venham a se figurar como uma ameaça social.
Desta forma, caso a assistência seja insuficiente, não é o pobre aquele que deverá reivindicar
melhoras junto ao Estado e sim os contribuintes. Esta visão centralista com relação ao pobre
torna-se, para Simmel, uma tensão sociológica entre o fim imediato e o mediato de uma ação.
Simmel coloca uma questão instigante que diz respeito a uma das várias tensões
visibilizadas pelo autor em suas diversas obras. Ao pensarmos no pobre como uma matéria
inerte frente ao Estado, destituímos desta relação sua via de mão dupla. Como ressalta o autor, o
pobre não só é pobre, como também cidadão. Ele participa de uma unidade política e dos direitos
comuns concedidos a todos os cidadãos. Sua dupla posição que se estabelece ora como o termo
último da ação do socorro/assistência, ora como um objeto sem direito, não impede o pobre de
fixar-se como cidadão. Fernández (2000) em seu artigo intitulado La construcción social de la
pobreza em la sociologia de Simmel, chama a atenção para originalidade da obra de Simmel
sobre a temática da pobreza. O autor
faz um resgate das principais teorias sobre os
comportamentos considerados característicos dos pobres. Duas grandes correntes são trazidas por
ele: a teoria da cultura da pobreza, mais conhecida como a subcultura dos pobres, desenvolvida,
principalmente, por Oscar Lewis; e a teoria estrutural que tem como principal representante,
Julius W. Wilson que, em contraposição com a teoria anterior, ressalta as causas exógenas da
pobreza. Segundo o autor, estas teorias, principalmente, a primeira, tem sido desenvolvidas de
forma que o universo do pobre tem se apresentado de maneira dissociável do restante da
sociedade. Fernández (2000) pontua que as teorias mencionadas,
mecanismos através dos quais a
no lugar de discutir os
pobreza se dá como uma construção social, enfatizam a
descrição das características dos pobres em contraposição às características dos não pobres.
Simmel, durante todo o ensaio, nos deixa claro sua concepção teórica-metodológica sobre o lugar
da pobreza na sociedade. Para ele, o pobre se “ordena organicamente dentro del todo, pertence
como pobre a la realidad histórica de la sociedad, que vive em él o sobre él, y constituye um
elemento sociológico-formal” (Simmel, 2002, p. 226). O pobre, para o autor, apresenta-se como
uma forma assim como o funcionário, o maestro ou professor. Ao mesmo tempo, tal como o
estrangeiro, o pobre encontra-se dentro e fora do grupo/coletividade, mas esta situação não é mais
que uma forma específica de ação recíproca que o coloca em unidade com o todo social. A
doação não se estabelece como uma ação unilateral, pois, segundo Simmel, quem recebe também
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oferece alguma coisa, dele parte uma ação sobre o doador, o que torna a doação uma
reciprocidade, um processo sociológico. Num sentido mais amplo, a reação à doação não recai,
simplesmente, à pessoa individual, mas ao reabilitar sua atividade e condição econômicas e
impedir que ela venha a usar de meios ilegítimos para alcançar bem estar, a coletividade recebe
da pessoa pobre uma reação social. O pobre, portanto, não está apartado da realidade histórica de
sua sociedade como o concebem as teorias mencionadas e se:
“(...) tecnicamente es un mero objeto, en cambio, em un sentido sociológico más
amplio, es un sujeto que, por una parte, constitye com todos los demás la realidad
social, y, por outra parte, como todos los demás, se ecuentra más allá de la unidad
abstracta y transpersonal de la sociedad” (Simmel: 2002, p. 229).
A pobreza, como vimos, é um fenômeno relativo e não pode, por exemplo, ser reduzida à
variável renda. Mas quando falamos de pobre, quem de fato estamos referenciando? A Simmel
não interessa, do ponto de vista sociológico, falarmos de qualquer pobre. O pobre que provoca
uma reação social
é aquele que recebe o socorro. Os pobres que não são socorridos não
estabelecem o caráter relativo do conceito de pobreza. Se considerarmos que é pobre aquele que
não possui recursos para satisfazer suas necessidades básicas, estaremos reduzindo o conceito a
um critério subjetivo, pois não é tarefa fácil elencarmos uma medida da necessidade. Segundo
Simmel, cada contexto, cada classe social possui suas necessidades básicas e o fato de não
satisfazê-las pode significar pobreza. Ou seja, para cada classe há uma medida de pobreza,
podendo haver uma pessoa individualmente pobre, sendo socialmente rica. Mas como aponta
Simmel:
“La relatividad de la pobreza no significa la relación de los recursos individuales con
los fines individuales efectivos – esto es algo absoluto y, en sua sentido interior,
independiente de cuando está más allá del individuo – sino con los fines del individuo
segun su clase, con su a prior social, que varía de clase a clase” (Simmel: 2002, p. 240)
Esta referência nos leva a pensar qual seria, então, o limite inscrito entre a pobreza e a riqueza?
Ou seja, podemos pensar que a pobreza e a riqueza existem no interior de todas as classes e sua
perda ou aquisição pode refletir para os seus membros desqualificação ou status. Pois alguém é
pobre ou rico se comparado com o outro. Para Simmel, o pobre como categoria sociológica “no
es el que sufre determinadas deficiências y privaciones, sino el que recibe socorros o debería
recibirlos, según las normas sociales” (Simmel, 2002, p.243). Neste sentido, a pobreza não pode
ser definida como um estado quantitativo, mas segundo a relação social que se produz ante uma
determinada situação. Nesta perspectiva, a pobreza é o produto de uma reação. Este enfoque de
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método é o mesmo utilizado por Durkheim ao definir o delito por meio do castigo, ou seja, pela
reação que produz e não por seu conteúdo ou essência. Segundo Simmel, “el estado individual,
la estructura interna, no determina ya, em primer lugar, el concepto, sino que esto corresponde a
la teleología” (Simmel, 2002, p. 243). O individual, portanto, fica determinado pelo o modo
como reage a ele, a totalidade que o cerca. Para o autor, o pobre desempenha uma função
determinada dentro da sociedade. Esta função, segundo Simmel: “no se produce por el solo
hecho de ser pobre; sólo cuando la sociedad – la totalidad o los individuos particulares –
reaccionan frente a él con socorros, sólo entonces representa un papel social específico”
(Simmel, 2002, p. 243). O socorro, assim como o castigo no caso do delito, determinada a
categorização do pobre pela sociedade.
É interessante verificarmos o desencadeamento dado na obra de Simmel de cada aporte
discutido. A dimensão social do indivíduo pobre o transforma em uma classe social, assim como
outras tantas presentes na sociedade. Mas o fato de ser pobre não significa que este pertence à
“classe de pobres”. Por exemplo, podemos encontrar um operário pobre, um comerciante pobre,
um artista pobre, mas estes só farão parte da “classe de pobres” mediante o fato de serem
socorridos. Mas é importante enfatizarmos que, o que Simmel chamou de círculo (grupo) da
pobreza, não se mantém por uma ação recíproca ou vínculo entre os seus membros (pobres), mas
sim pela posição coletiva que a sociedade aciona diante dele na forma do socorro. Para nosso
trabalho, é importante ressaltarmos que a reação da sociedade diante do pobre é a forma de
classificá-lo socialmente como tal. Segundo Fernández (2000), nem sempre existiu o pobre, tal
como referenciado aqui. Nas sociedades onde havia a indigência e a miséria sem que houvesse a
consciência de sua presença, os pobres não existiam enquanto fenômeno. Eles eram localizados
nas mesmas categorias que as vítimas de alguma enfermidade ou acidente. Fernández retoma
(2000) Lewis A. Coser para localizar historicamente o surgimento da pobreza:
“La pobreza emerge cuando la sociedad opta por reconocer la pobreza como um estatus
especial y asigna personas especificas a esta categoria. El hecho de que algunas
personas puedam privadamente considerarse a sí mismas como pobres es
sociologicamente irrelevante. Lo que es sociologicamente relevante es la pobreza como
una condicion socialmente reconocida”. (Coser, 1965, p. 232 apud Fernández, 2000, p.
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O reconhecimento da pobreza como um fenômeno inscreve nas sociedades modernas a
inclusão da categoria do pobre como aquele que se encontra numa determinada situação de
privação que o torna passível de receber assistência. Quando o indivíduo aceita receber socorro,
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ele passa da condição relacionada a uma determinada categoria para tornar-se pobre socialmente.
Para Simmel, esta transição pela qual passa o indivíduo, simboliza sua desclassificação formal. A
partir deste instante, o indivíduo que congregava as mais diversas características passa a ser
inserido na categoria de pobre como sendo sua identidade social principal e passa a ser observado
e classificado em virtude do que é feito com ele e com os critérios que empregam a partir desta
classificação. O indivíduo, portanto, passa por uma degradação de status e que irá influenciar na
forma como a coletividade interage com ele. Nesta perspectiva, é importante trazermos a
dimensão do estigma associado à singularidade da degradação de status e à marca do pobre.
Estigma e pobreza
Segundo Fernández (2000), o mero fato de ser ajudado ou assistido degrada. Analisando a
organização da assistência moderna a partir dos escritos de Simmel, Fernández (2000) argumenta
que a forma com a qual ela tem se relacionado com os assistidos possibilita sua degradação. Ser
assistido significa ser estigmatizado e excluído do status de cidadão. Segundo Fernández (2000),
a identidade pública de quem recebe assistência experimenta uma transformação baseada em uma
nova forma considerada socialmente inferior. Sendo sua identidade principal, a pobreza inscrita
no indivíduo acaba por não possibilitar a visibilidade de outras características presentes neste
indivíduo. Assim como ocorre com o louco nos estudos de Goffman (1988), o pobre é associado
imediatamente com o comportamento ou características presentes nas representações sociais do
pobre. A marca ou o estigma se conforma, portanto, como uma identidade social. Como escreve
Goffman já no início de sua obra, “a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o
total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas
categorias” (Goffman, 1988, p. 11). Quando estamos diante do outro, somos levados a
categorizá-lo de acordo com as variáveis de que dispomos em nosso repertório de categorias. Esta
classificação é tomada de
acordo com as representações construídas em cada contexto. A
sociedade acaba criando esteriótipos para cada tipo social de indivíduo e aguarda dele um tipo de
resposta condizente a esta imagem criada socialmente. Na interação face a face, por exemplo,
tendemos a acreditar que a performance do outro deverá estar de acordo com o que esperamos.
Para Goffman, em uma interação deste tipo, nós estaremos todo o tempo inferindo o
comportamento do outro. Neste sentido, a coletividade cria uma identidade social virtual que
expressa os atributos esperados de um indivíduo em contraposição à identidade social real que
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corresponde aos verdadeiros atributos contidos no indivíduo. Em sua obra, Goffman se detém à
discrepância existente entre o tipo de identidade social virtual e a identidade social real.
Vale a pena ressaltar o caráter relacional que o autor dá ao estigma, pois este se verifica
onde não há uma correspondência direta entre determinados tipos de atributos e determinados
tipos de indivíduo. Ou seja, há inumeráveis atributos não desejáveis e desejáveis, mas apenas
quando estes não estão em consonância com o indivíduo onde serão imputados, é que podemos
vislumbrar a presença do estigma. O estigma é um “atributo” profundamente depreciativo,
segundo Goffman e torna-se, portanto, um elemento confirmador da normalidade daquele que
não o possui. O indivíduo estigmatizado pode assumir dois papéis importantes para o nosso
estudo. Goffman o classifica, primeiro, como aquele que se encontra na condição de
desacreditado que se configura no momento em que ele é imediatamente reconhecido a partir de
seu atributo depreciador. Mas o indivíduo pode possuir uma característica que, a princípio, não o
expõe deliberadamente. Neste caso, encontramos o que Goffman denominou de indivíduo
desacreditável. Estas duas condições estão diretamente relacionadas aos três tipos de estigmas
trabalhados no livro. O primeiro tipo corresponde às “abominações” do corpo, deficiências
físicas visíveis e perceptíveis. Há também o estigma tribal ligado à raça, nação e religião. Por
fim, há um terceiro tipo importante para a nossa reflexão que diz respeito às características
morais do indivíduo ou relacionadas às condições sociais efêmeras ou permanentes. Neste tipo,
incluem-se os desempregados, categoria próxima da que estamos nos detendo neste estudo. É
importante enfatizar que Goffman utiliza neste terceiro tipo, o elemento “culpas individuais”. Nas
sociedades modernas onde há um predomínio da cultura e do estímulo ao acúmulo e sucesso
materiais, a pobreza é, por vezes, observada como uma incidência individual e, portanto, o
fracasso encontra-se localizado no indivíduo pobre, renegando o caráter estrutural e conjuntural
do fenômeno. Há os estigmatizados que não se reconhecem como tal, mas a maior parte, segundo
Goffman, por ter incorporado completamente as normas sociais e crenças comuns a toda a
sociedade por meio do processo de socialização, vê seu atributo depreciador como marco central
em sua trajetória e as conseqüências de tê-lo. A vergonha, neste caso, encontra-se presente e faz o
estigmatizado considerar “impuro” o atributo que delineia, negativamente, sua imagem. Mas nos
interessa saber como o indivíduo possuidor do estigma responde a tal situação?
Goffman apresenta em sua obra, várias estratégias utilizadas pela pessoa estigmatizada
para possibilitar sua vida social entre seus iguais e os “outros” considerados normais.
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Normalmente, os integrantes de uma determinada categoria de estigma procurarão se reunir em
pequenos círculos sociais onde apenas encontrarão pessoas com as mesmas características
“degradantes”. Este é o caso, por exemplo, de pessoas com a mesma enfermidade. O estigma
torna-se um elemento aglutinador que pode, por vezes, possibilitar a comunicação com
indivíduos “normais”. Há, portanto, dois tipos de conjuntos de indivíduos que possibilitam uma
aproximação, sem traumas, com os estigmatizados. O primeiro conjunto diz respeito aos
indivíduos que compartilham o estigma. E há aqueles chamados informados (que hoje, no senso
comum, poderíamos chamar de “simpatizantes”) que, embora sejam “normais”, assumem uma
postura complacente diante do estigmatizado. É possível, entretanto, reconhecer uma variação
entre os tipos de indivíduos com os quais o estigmatizado irá conviver ao longo de seu processo
de socialização e que contribuirá para que haja uma assimilação do próprio eu e de seus
ajustamentos diante da sociedade. Goffman estabelece quatro modelos de socialização: o
primeiro diz respeito à situação onde os estigmatizados
são socializados num contexto de
desvantagem; aquele onde o círculo de convivência é circunscrito dentro da família ou, no
máximo, vizinhança local e que acaba não possibilitando ao estigmatizado a consciência de sê-lo;
aquele onde o estigma aparece numa fase mais avançada da vida do indivíduo; e, por fim, aquele
modelo onde o estigmatizado passará a ser socializado em um ambiente diferente de onde,
durante toda a vida, foi o lócus identitário principal. Os modelos mencionados constituem-se
como elos diretos entre os estigmatizados e à realidade social.
No processo de interação entre os normais e os estigmatizados que comporta, pelo menos,
um dos modelos de Goffman, haverá por parte do estigmatizado um controle de informação de
sua identidade pessoal, o que pode ocasionar, por exemplo, em um encobrimento onde a
manipulação da informação pode ocultar o atributo estigmatizante, fazendo com que o
estigmatizado se torne desacreditável. Segundo Goffman, “a manipulação do estigma é uma
ramificação de algo básico da sociedade, ou seja, a esteriotipia ou o perfil de nossas
expectativas normativas em relação à conduta e ao caráter”
(Goffman:1988, p. 61).
É
importante pontuar que o estigma é tanto mais manipulado quanto maior for a consciência do
estigmatizado de que ele é diferente e não condiz com a “normalidade” social. Para o autor, a
instância de manipulação é considerada como aquela pertencente, fundamentalmente, à vida
pública, ao contato entre estranhos ou simples conhecidos, “colocando-se no extremo de um
contínuo cujo pólo oposto é a intimidade” (Goffman, 1988, p. 62). Vale ressaltar que, embora a
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manipulação se dê na esfera pública, o indivíduo poderá, em um momento particular, estar
representando para si mesmo. Em um outro trabalho sobre a representação do eu, Goffman
(2005) deixa claro que quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho
tenderá a incorporar e exemplificar os valores, oficialmente, reconhecidos pela sociedade e, até
realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo, mas mesmo sozinho, ele
poderá estar agindo como se estivesse diante de uma platéia invisível. A sociedade constitui-se,
então, como uma platéia íntima de todos, em todos os momentos, nos recorrendo à metáfora
teatral. Ainda sobre a manipulação e as esferas onde ela é acionada, Goffman (1988) destaca que
há uma divisão do mundo do indivíduo onde ele oculta ou revela sua identidade quando
possível. O mundo, assim, é espacialmente demarcado em lugares “proibidos” e lugares onde o
indivíduo estigmatizado pode se transfigurar e transitar entre sua identidade pessoal e sua
identidade social.
O estigmatizado, portanto, cria uma forma de organização das situações
sociais por meio de sua apreensão da estrutura da interação presente em cada tipo de
comunicação.
A ordem da interação, segundo Goffman (1953), exige que haja uma cooperação entre os
atores envolvidos. Espera-se que cada indivíduo se comporte de maneira moralmente desejável.
O espaço da interação torna-se, por excelência, o espaço da tolerância e esta faz parte do que
Goffman (1988) chamou de barganha. De uma forma em geral, os indivíduos se desdobrarão
para evitar uma “cena”, pois eles conhecem os custos de uma guerra aberta. Neste sentido,
quando o estigmatizado está numa interação face a face com o normal, este o tratará, a princípio,
com se estivesse interagindo com um igual. Em contraposição, o estigmatizado estará oscilando
entre duas posições para que a interação seja completada. O caráter do bom ajustamento exige
que o estigmatizado se aceite, alegre e inconscientemente, como igual aos normais enquanto, ao
mesmo tempo, se retire voluntariamente das situações em que os normais considerariam difícil de
manter uma aceitação semelhante (Goffman, 1988). Há, portanto, um jogo de estratégias onde
ambos os atores, acordam, sutilmente, uma “harmonia” interacional. É interessante observarmos
que Goffman traz, neste ponto, algo semelhante ao que Simmel deslindou sobre o duplo papel do
pobre ante a sociedade. A antinomia presente entre o estar fora e o estar dentro, possibilita uma
ligação orgânica e metafísica entre o pobre e o estigmatizado e à totalidade. Nesta ligação,
permeam infinitas contingências onde estes atores constroem e são objetos de construções
interativas com eles próprios e com os normais. Segundo Goffman, o indivíduo estigmatizado
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pertence à condição submetida à sociedade que lhe diz que ele é um membro do círculo mais
geral que lhe confere “normalidade”, mas ao mesmo tempo, o aponta como diferente. “A
diferença em si, deriva da sociedade, porque, em geral, antes que uma diferença seja importante,
ela deve ser coletivamente conceitualizada pela sociedade como um todo” (Goffman, 1988, p.
134). Como elucidamos, anteriormente, o fato do pobre ser pobre e receber uma reação social por
meio do socorro o faz ser apenas pobre e nada mais. A questão é que, ao conceitualizar a
diferença, a sociedade categoriza, unilateralmente, o indivíduo. Ela circunscreve o estigmatizado
e o pobre em seus atributos que os qualifica como tais e, freqüentemente, procura de diversas
formas ocultar-lhes características que os constituiriam como fazendo parte de outras categorias.
Por vezes, isto pode até acarretar na destituição de alguns direitos. Sobre o fenômeno da pobreza,
Simmel (2002) enfatiza que este constitui um elemento sociológico único e importante pois, o
fato de congregar um número de indivíduos que, por um destino “individual”, ocupa um lugar
orgânico específico com o todo, não constitui em si um fato social, mas sim quando a
coletividade, os “normais” intentam corrigir esta maneira de estar no mundo. A propósito sobre
as formas de regulação da pobreza instituída por meio da assistência pública, esta estabeleceu
uma imbricada relação com os pobres. Simmel trabalha muito bem esta questão. Já foi ressaltado
o fato de que a assistência é uma forma de reconhecer o pobre como fazendo parte da
coletividade. Mas como este reconhecimento se dá? E quais são as implicações para quem
recebe? Fernández (2000) destaca que a identificação do pobre a ser assistido se estabelece de
forma embaraçosa já que o pobre tem que expor sua vida privada. Os trabalhadores sociais, os
investigadores e administradores do bem estar
ou os voluntários locais, tornam-se,
contraditoriamente, os agentes estigmatizadores dos pobres. Fernández (2000) menciona Coser
para dizer da profissionalização da assistência nos países de democracia liberal no século XX.
Esta institucionalização retirou o caráter pessoal da relação com o pobre, tornando-o um cliente
ou público da ação burocratizada da assistência. Assim, “cuando no hay reciprocidad entre el
que recibe y el que da se produce una dependência unilateral” (Fernández, 2000, p. 28) o que
pode reforçar a condição de ser pobre e desencadear um processo de estigmatização e auto
depreciação.
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Algumas reflexões
Para pensarmos as implicações na sociabilidade urbana dos tipos sociais discutidos é
importante considerarmos que a cidade, palco de contradição e lócus da vida moderna, consagra
uma infindável possibilidade de apresentação pública dos indivíduos, já que, estar nela inserido,
representa uma maneira singular de experimentar o mundo. A ambígua condição de abrigar e
conformar a igualdade e a diferença fez da cidade espaço, por excelência, do individualismo e da
busca e garantia da individualidade. Simmel (2002) examina este processo ao discorrer sobre as
formas do individualismo presentes no século XVIII e XIX. No ensaio La liberdad y el indivíduo,
o autor identifica na renascença italiana o centro da individualidade, tal como a conhecemos
hoje. Ele a descreve como a libertação dos indivíduos às formas comunitárias medievais que os
ligava à totalidade, tanto no que diz respeito aos aspectos individuais, quanto às atividades
econômicas presentes na época. Estas formas comunitárias retiravam dos membros seus traços
individuais, inviabilizando, desta forma, o desenvolvimento de uma liberdade calcada na
pessoalidade. A renascença acabou difundindo, sem precedentes, a primazia da vontade de poder
e prestígio ligada ao pensamento livre das amarras históricas. A liberdade, torna-se, portanto, a
reivindicação prioritária em consonância com o fundamento da plena igualdade natural dos
indivíduos. Como destacou Simmel:
“El motivo metafísico fundamenal que se expresaba em el siglo XVIII em la exigência
práctica Liberdad e igualdad fue este: el hecho de que el valor de cualqueir
configuración individual descansa ciertamente en ella sola, en sua autorresponsabilidad,
pero con esto, sin embargo, en aquello que de ella es común a todos” (Simmel, 2002, p.
286).
Nesta perspectiva, o conceito de individualidade envolve, necessariamente, no sentido
prático, o laissez faire e o laissez aller. A liberdade transforma-se, então, no correlato da
igualdade. Mas, segundo o autor, ela também manteve-se na contraditoriedade de seu correlato,
pois tão logo o “eu” encontrou-se fortalecido o bastante no sentimento de igualdade e
generalidade, procurou novamente a desigualdade, mas por meio de seu interior (Simmel, 2002).
Com a separação do indivíduo das amarras das instituições tradicionais, sua autonomização o
permitiu e o requereu diferenciado dos demais. Assim, “Ya no importa que se sea em general um
individuo particular libre, sino que se sea este individuo determinado e intransferible” (Simmel,
2002, p.288). O processo de passagem de um individualismo pautado na liberdade, por meio da
igualdade, para um individualismo cunhado na busca pela singularização se deu na passagem do
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século XVIII para o século XIX quando o pensamento histórico de que não só a igualdade entre
os homens é uma exigência moral, senão também sua diferença (Simmel, 2002), encontrou
grandes influências no romantismo que, segundo o autor, cria a base do sentimento e do
experimentar vivencial, pois “o romântico experimenta em el interior de su ritmo interno la
incomparabilidad, el derecho a la singularidad, el agudo y cualitativo excluir-se mutuamente de
sus elementos y momentos, que esta forma de individualismo vê entre las partes constitutivas de
la sociedad” (Simmel, 2002, p. 290). Esta passagem, do que Simmel chamou de um
individualismo quantitativo (séc. XVIII) para um individualismo qualitativo (séc. XIX), marcou
todo um rearranjo de valores na configuração da vida moderna influenciando, profundamente, as
relações dos indivíduos uns com outros sob o signo do individualismo. É importante destacar que
esta reconfiguração se estabelece também com o processo intensificado da divisão do trabalho
tornando o indivíduo, cada vez mais, especializado e mais dependente da complementaridade das
atividades de outros e dos mecanismos tecnológicos e monetários, trazendo conseqüências
significativas para a vida interior. Simmel é um crítico ferrenho à centralidade das condições da
vida metropolitana que redundaram como causa e efeito do processo calculista que propiciou uma
alta
impessoalidade
e
uma
subjetividade
altamente
pessoal
(Simmel,
1987).
Este
desencadeamento, segundo o autor, proporcionou um tipo de homem metropolitano estimulado
desenfreadamente e, ao mesmo tempo, fatigado de seu cenário, provocando o que Simmel (1987)
chamou de atitude blasé, que podemos relacionar com a perda da capacidade de “discriminar”
coisas e pessoas, destituindo, desta forma, sua forma e substancia. A atitude blasé resulta,
portanto, numa recusa a reagir, levando o indivíduo a ter para com os outros, uma posição de
desconfiança, indiferença e reserva. Esta repulsa mútua, configurada como uma dissociação é,
para Simmel, uma forma de socialização muito presente na vida metropolitana.
Toda esta discussão nos remete ao ponto que nos é de interesse neste trabalho e que, de
longe, poderá ser esgotado aqui. Quando pensamos na relação entre diferenciação e indiferença
presentes na cidade e relacionamos com as categorias pobres e estigmatizados, discutidas por
Simmel e Goffman, somos instigados a considerar que, embora, haja um lugar/demarcação
próprios da pobreza e do estigma na sociedade e que haja uma reação social ante a estes
fenômenos, existem espaços cambiáveis entre eles e à totalidade, constituidor de estilos de vida
próprios e que, podem ou não, congregar convenções ou subversões. Como vimos, o indivíduo
portador de um estigma, elabora estratégias de ajustamento, encobrimento etc; que viabilizam o
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fluxo de comunicação entre eles e os “normais” e que os permitem se sentirem parte e inseridos
no todo social. A questão que nos colocamos ao pensarmos nas interações no espaço urbano,
sobretudo, nas sociedades mais complexas e que guardam grandes desigualdades sociais é se a
pobreza encontra-se tanto mais marcada/estigmatiza (e tanto mais condenado estará o pobre)
quanto maior for a sua invisibilidade provocada por sua naturalização. Ou seja, naturalizar a
pobreza a ponto de torná-la “normal” não seria uma forma mais reativa e menos conflitiva
moralmente, tal como discorreu Simmel sobre a conduta moral? Poderíamos dizer que, de um
lado haveria o que podemos chamar de uma atitude blasé coletiva e, do outro, de uma
interiorização da diferença por parte do “pobre”, mas ainda mais acentuada pela indiferença
social? Pensarmos, portanto, estes processos nos espaços urbanos que guardam uma densidade
populacional cada vez maior e que, portanto, há uma maior possibilidade de encontrarmos grupos
de indivíduos próximos, geograficamente, mas distantes, socialmente, implica em considerarmos
sob quais bases se dão as interações entre estes grupos e se há, um deslocamento/transferência
simbólicos nestes espaços.
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Referências
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Cuadernos de Trabajo Social. Madri: Universidad Complutense de Madri, 2000, v. 13, p. 1532.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
GOFFMAN, Erving. Os momentos e seus homens. Textos escolhidos e apresentados por Yes
Winkin. Lisboa: Relógio D’Agua Editores. 1999.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 13° edição,
2005.
MORAES FILHO, Evaristo de. Georg Simmel: sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
SIMMEL, Georg. El Pobre. In: Sobre la individualidad y las formas sociales. Quilmes:
Universidad Nacional de Quilmes, 2002: p. 218-246.
SIMMEL, Georg. La liberdad y el o individuo. In: Sobre la individualidad y las formas
sociales. Quilmes: Universidad Nacional de Quilmes, 2002: p. 283-291.
SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: Velho, Otávio Guilherme. O fenômeno
urbano. Rio de Janeiro, Guanabara, 1987.
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Nos limiares da pobreza e do estigma: um diálogo entre Simmel e