PRIVATIZAÇÕES: BALANÇO E DESAFIOS José Roberto Mendonça de Barros Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Elizabeth Cechin Coordenadora-Geral da Área de Privatização Lara Caracciolo Amorelli Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental Ao finalizar o ano de 1997, o Programa Nacional de Desestatização consolida-se como um projeto bem sucedido e que superou as expectativas do próprio Governo, quanto a seus resultados em termos de receitas e diminuição da dívida pública, além dos efeitos indiretos sobre redução de custos de produção, aumento do investimento e da competitividade do produto nacional. O programa de privatização brasileiro sofreu mudanças significativas ao longo do período 1981-1997. No período 81-94, este tratava da desestatização de empresas do setor industrial, privatizações essas que puderam ser realizadas sem a necessidade de um ambiente regulatório definido, pois visavam maximizar receita para abater dívidas ou investir em infra-estrutura. Em 1997, o Conselho Nacional de Desestatização deu andamento aos processos da RFFSA, do setor elétrico, da CVRD e iniciou o processo de desestatização do subsetor portuário, por meio dos Programas de Modernização e de Arrendamento de áreas e instalações. Os programas estaduais trataram, principalmente, das empresas do setor elétrico e de saneamento. De modo paralelo, o setor de telecomunicações iniciou o processo da banda B. Na verdade, desde o início do Governo Fernando Henrique, o foco das desestatizações tem sido os serviços públicos, objeto de concessão, permissão ou autorização, com o propósito de alavancar os investimentos em infra-estrutura para responder às necessidades do crescimento econômico sustentado, reduzir os custos, e aumentar a competitividade das exportações. Empresas de grande porte, como as geradoras de energia federais e as do setor de telecomunicações estão com seus processos iniciados e com cronograma para que as privatizações ocorram no próximo ano. Assim, o PND tem impacto no chamado "custo Brasil", pois a privatização de empresas, a concessão de serviços públicos e o programa de arrendamento significam aumento dos investimentos nessas empresas e serviços, trazendo efeitos positivos sobre a eficiência e competitividade dos demais segmentos da economia. Um bom exemplo disto é a modernização do sistema de transportes, propiciada pelo arrendamento de diversos terminais portuários e pela recente inclusão das rodovias federais no PND, que propiciará a redução do custo com transportes e consequente redução no preço final dos produtos. Nos últimos 15 anos a evolução dos investimentos públicos no setor de infra-estrutura tem sido modesta em função do desequilíbrio das contas do Governo. Assim, o atual esforço tem sido no sentido de buscar recursos na iniciativa privada, por meio da agilização e ampliação do Programa Nacional de Desestatização, atualmente voltado para os programas de concessões e arrendamentos; incentivo aos programas estaduais de privatização; venda de participações minoritárias e de ações que excedam ao controle acionário. Esse processo requer a criação de ambiente regulatório bem definido como forma de estabelecer regras claras e transparentes para os agentes do processo, elementos fundamentais para a maximização do valor de alienação ou de arrendamento. A concessão de serviços públicos demanda o reordenamento do papel do Estado, que passa a desempenhar, com mais eficiência, suas funções típicas de regulador e fiscalizador. Ao Estado caberá propiciar condições adequadas para o crescimento dos investimentos privados nos projetos de infraestrutura, mantendo-se atento à qualidade dessa futura prestação de serviços, garantindo maior benefício para consumidores e usuários. Em termos de receitas, as desestatizações arrecadaram US$ 26916 milhões e tranferiram dívidas da ordem de US$ 6316 milhões, de 1995 a 1997. Já no período anterior, de 1991 a 1994, as receitas foram de US$ 8608 milhões, com tranferência de dívida de US$ 3266 milhões. Desses totais, só em 1997, foram arrecadados US$ 7825 milhões com a desestatização das empresas e serviços incluídos no PND, cerca de US$ 14390 milhões com as desestatizações estaduais, e US$ 5021 milhões com o processo da Banda B, incluídas as tranferências de dívidas. As privatizações, tanto federais quanto estaduais, têm se caracterizado pela ocorrência de ágios expressivos. Isto se deve: a maior confiança que os investidores estão tendo no Programa (baixos riscos coletivos; processos transparentes e sem contestação), que mostrou-se permanente e com regras definidas; ao maior valor de vários ativos por estarem inseridos em alguma cadeia produtiva, inclusive logística; ao grande potencial de mercado existente, devido à demanda reprimida do setor serviços; e a elevada redução de custos, via gestão privada. Cabe salientar, que existe consenso dentro e fora do governo, de que as perspectivas do desenvolvimento do Programa são muito otimistas, com a expectativa de que se continue a alcançar resultados tão bons quanto os obtidos até o momento. Os novos setores e sub-setores incluídos, recentemente, no PND, são: saneamento; rodovias federais; além da maior participação de instituições financeiras (programa dos bancos estaduais; IRB; etc.). Todos representam potencial de captação de investimentos nacionais e estrangeiros. Com a inclusão de trinta e um portos e das rodovias federais no PND, o Governo objetiva: reduzir o Custo Brasil; aumentar a competitividade entre os portos e dentro do próprio porto, reduzindo seus custos; elevar os investimentos nos setores portuário e rodoviário, resultando num incremento da competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Na verdade, ferrovias, rodovias, hidrovias e portos fazem parte de uma grande revolução de logística pela qual passa o Brasil. Além disso, a presença de investidores privados estrangeiros nos leilões da LIGHT; CERJ; COSERN e COELBA reflete a credibilidade da desestatização no Brasil e traduz o forte interesse do capital externo no setor elétrico brasileiro, encorajando, certamente, a participação de novos empreendedores internacionais nos desdobramentos futuros desse processo, com a alienação dos ativos das geradoras federais, integrantes do Sistema ELETROBRÁS. O êxito dessas privatizações fica assegurado, também, pela qualidade dos participantes dos consórcios ganhadores, que reúnem empresas operadoras tradicionais e de reconhecida competência no setor elétrico mundial, como a EDF, a maior empresa de eletricidade do mundo, e empresas americanas, já com experiência no setor. Este fato é importante se comparado ao período inicial, quando houve a participação intensa de fundos de pensão e pequena participação externa. Pode-se concluir que o programa de desestatização nacional é um dos melhores do mundo, empreendidos até o momento. Apesar de ter recebido várias críticas por sua pretensa lentidão, mostrou-se adequado, enquanto preocupado não só com a privatização em si, mas empenhando-se, enquanto projeto de Governo, para que fosse produzida, concomitantemente a este, uma reestruturação dos setores que desta necessitassem, com a criação de agências e órgãos reguladores. Na verdade, a única coisa que se conseguiu provar, é que os diversos serviços e empresas privatizadas passaram a ser muito mais eficientes após sua desestatização, que os investimentos vêm se elevando de forma drástica, e que o país está se tornando mais produtivo. A privatização tem sido um dos processos mais auditados da história recente do país: seja pelo TCU, Congresso, oposição, imprensa e entidades civis. Como resultado, e após mais de 50 operações de venda (de 1990 a 1997, somente no âmbito do PND), nem uma vírgula sequer resultou contestada. Finalmente, é percepção generalizada que em 1998 os gastos de investimentos resultantes dos processos de desestatização serão parte fundamental na explicação do desenvolvimento econômico. janeiro de 1998