Resiliência é uma ajuda importante para superar dificuldades Originalmente, resiliência é um termo emprestado da física. "Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada no corpo deformado é devolvida quando a tensão incidente sobre ele cessa", define o economista e escritor Tom Coelho, especialista em qualidade de vida no trabalho pela USP. É o que acontece quando o elástico retoma seu aspecto inicial após passar pela distensão. A concepção de resiliência já virou título da literatura de auto-ajuda também. Recém-lançada pela Editora Vozes, o livro "Resiliência - A Arte de Dar a Volta por Cima", de Rosette Poletti e Barbara Dobbs, apropria-se do conceito científico da deformação elástica para propor a neuro-elasticidade. Ou seja: a surpreendente capacidade de algumas pessoas no enfrentamento de adversidades. Doutor em Psicologia e professor do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Aliança, George Souza Barbosa diz que a resiliência não se limita à superação de obstáculos. O sujeito resiliente seria capaz de transformar problemas em trampolins para o seu desenvolvimento. "Trata-se de viver a experiência transcendental do renascer das amarras da adversidade. Porém, não na condição de vitimizados, mas enriquecidos pela experiência do sofrimento", diz. Resiliência é a força inabalável que transformou o catador de latinhas Roberto Vasconcellos no designer internacional de bolsas Roberto Vascon, 46 anos. "Meu nome é determinação", diz ele. Foi essa mesma garra que permitiu à professora universitária Elaine Castro, 32 anos, superar problemas financeiros. "Fui fiadora de uma amiga e tive de vender muitas coisas para cobrir a dívida. Tinha dois empregos e um bebê, estudava e oferecia suporte para um marido desempregado e em depressão. Só alguém resiliente passa por esses desafios sem adoecer, sem perder os sonhos", opina. A artista plástica Silvana de Mello Ramos, 42 anos, conta que descobriu-se mais forte diante da paralisia do pai, preso ao leito há dez anos por conta de um acidente vascular cerebral, o derrame. "Levantei, sacudi a poeira e acreditei que tínhamos de passar por aquilo. Percebi o quanto me deixo envergar e o quanto isso me fortalece. Posso estar desmoronando, limpo as lágrimas, suspiro e enfrento tudo com alegria". Entre famosos e anônimos, a história da humanidade está cheia de figuras resilientes. "Quando prisioneiro em Auschwitz, o psicólogo Victor Frankel dizia que as pessoas que tinham um propósito na vida sobreviveram ao holocausto. Muitas cometeram suicídio por já terem a morte como certa, minando a chance de buscar alternativas. Frankel relata que se imaginava palestrando em uma sala com calefação sobre sua experiência no campo de concentração e isso o aquecia nos dias mais frios", relata a psicóloga Lisete Barlach. Autora da dissertação de mestrado "O que é Resiliência Humana: uma Contribuição para a Construção do Conceito", Lisete garante que qualquer pessoa pode desenvolver propriedades resilientes. "Nos anos 60, pensava-se que a resiliência era inata em certas pessoas, mas vimos que essa habilidade pode ser cultivada. Elementos como a religiosidade e arte ajudam nesse processo de re-significação do evento traumático vivido pela pessoa" diz.