Você é uma Pessoa Resiliente?
Por Samanta Luchini
Você já se questionou a respeito do seu nível de resiliência? Já observou atentamente a sua
reação e o seu padrão de comportamento diante das dificuldades e das coisas que não saem
exatamente do jeito que você planejou? Talvez essa seja uma boa oportunidade.
Nos dias de hoje é bastante comum ver pessoas que preocupam-se excessivamente com
coisas banais; são exigentes consigo mesmas e com todos que estão à sua volta; cobram-se
severamente para que todas as atividades sejam realizadas perfeitamente; tem pressa em tudo
que fazem; irritam-se facilmente no trânsito; tem dificuldades para expressar as coisas que as
aborrecem; raramente organizam-se para tirar férias e curtir as horas de lazer com a família; e,
apresentam dificuldade para lidar com mudanças repentinas.
Caso alguma dessas situações tenha relação com você ou com a sua forma de agir e viver a
vida, acredito que as informações que seguem serão de grande valia.
O termo resiliência vem sendo usado com grande frequência no ambiente corporativo. Um
número cada vez maior de empresas inclui essa competência no perfil que orienta a busca de
novos profissionais no mercado e, além disso, as próprias empresas demonstram estar
engajadas na busca da resiliência, para que tornem-se capazes de enfrentar crises de maneira
assertiva, saindo de forma renovada e fortalecida.
Já faz algum tempo que a área de Gestão de Pessoas se apropriou desse conceito e, neste
artigo, pretendo provocar reflexões acerca do seu real significado e, principalmente sobre a sua
aplicação no nosso dia-a-dia. Adquirir uma postura mais resiliente não só traz benefícios para
nossa atuação profissional. Indo mais além, as pessoas resilientes parecem viver mais e
melhor.
Resiliência é um termo que veio da física, para designar a capacidade que alguns materiais
possuem para absorver impactos e retornar à sua forma original. No universo do
comportamento, está relacionada à capacidade de lidar com adversidades de maneira
eficiente. E com uma importante vantagem - após passar por determinadas situações
adversas, as pessoas resilientes podem conquistar uma sua versão ainda melhor de si
mesmas.
Trata-se de uma competência que nos permite superar as adversidades, transformando
experiências negativas em aprendizado e oportunidade de mudança. É a capacidade de
suportar bem a pressão, ser flexível e usar a criatividade para resolver problemas. Usando a
sempre poderosa filosofia do dia-a-dia, a pessoa resiliente é aquela que “levanta, sacode a
poeira e dá a volta por cima” ou ainda, aquelas que possuem a “postura bambu”, que enverga,
mas não quebra.
Estudos revelam que o profissional de hoje se depara, em média, com 23 adversidades por dia.
Nesse contexto encontram-se os problemas no trabalho, de saúde, financeiros ou de
relacionamento, trânsito, falta de tempo, etc. A reação que apresentamos frente a cada uma
dessas adversidades, está diretamente relacionada ao nosso nível de resiliência. Por isso é
fundamental adquirir novos conhecimentos e habilidades, que nos permitam reagir de forma
mais efetiva.
Outro dado relevante é a pesquisa geral sobre liderança, que aponta que 75% dos grandes
líderes mundiais tiveram uma história de vida bastante difícil e, desde muito cedo, viveram
grandes adversidades. O melhor exemplo disso, em minha opinião, é a trajetória de Viktor
Frankl, que hoje é reconhecido mundialmente como o principal ícone de resiliência. Além de ter
sobrevivido aos horrores do campo de concentração de Auschwitz, durante a segunda guerra
mundial, conseguiu preservar sua sanidade mental e suas brilhantes capacidades cognitivas, a
ponto de desenvolver dentro do campo, umas das mais eficazes abordagens dentro da terapia
psicológica, a logoterapia - a cura através do sentido.
Outro exemplo é o físico britânico Stephen Hawking, que aos 21 anos de idade foi acometido
pela Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma rara doença degenerativa que ainda não tem
cura e paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais. Apesar de
todas as suas limitações físicas, Stephen Hawking jamais parou suas pesquisas e tem
contribuído de maneira excepcional para os avanços científicos no campo da física.
Não poderia deixar de incluir aqui a história do Maestro João Carlos Martins, um brasileiro que
fez muito sucesso no mundo da música clássica e é considerado um dos principais intérpretes
do maior compositor de música erudita, Johan Sebastian Bach. Apesar de ter vivido inúmeras
adversidades envolvendo suas mãos, tão essenciais à vida de um pianista, ele continua
emocionando as pessoas com sua música e levando a o talento brasileiro a lugares onde
talvez ele jamais chegaria.
Mas afinal, o que as pessoas tem de diferente? O permite que elas superem suas dificuldades
e ainda consigam resultados tão impressionantes? A resposta já foi dada – a resiliência, a
atitude que elas escolheram para enfrentar a adversidade.
É importante observar esses modelos, conhecer melhor essas histórias para que possamos
aprender e acrescentar alguns comportamentos na nossa vida diária. Mas é ainda mais
importante estar atento aos elementos que favorecem o desenvolvimento e o aprimoramento
da resiliência. À medida que esses elementos se fizerem presentes no nosso comportamento,
quando estivermos diante de uma dificuldade, maior será o nível de resiliência.
O primeiro elemento é a experiência de controle. Sabemos que determinadas situações se
mostram tão difíceis e complexas, que as pessoas acabam escolhendo a inércia como
resposta e agem como vítimas. Mas sempre existe algo que pode ser feito, sempre existe uma
parte do problema que pode ser alterada, mesmo que seja pequena. Ter experiência de
controle significa manter o foco no que pode ser alterado, ao invés de mantê-lo no que é
imutável. Ter a habilidade de controlar sua resposta ao que aparecer. Lembre-se: não somos
responsáveis pelo que nos acontece, mas somos inteiramente responsáveis pela nossa forma
de reagir ao que nos acontece.
O segundo elemento é a capacidade de assumir responsabilidade. Reconhecer a própria
responsabilidade na situação e exercer de fato seu papel. Agir, ao invés de procurar culpados.
As pessoas de baixa resiliência tendem a achar que tudo é culpa sua ou de alguém. Mas,
infelizmente encontrar culpados não nos permite encontrar a solução do problema. Qual é a
sua tendência de ação quando algo errado acontece? Essa é uma boa maneira de analisar
como está sua capacidade de assumir responsabilidade
O terceiro elemento é a capacidade de limitar o alcance do problema, isto é, evitar que ele
afete outras áreas, assuma uma dimensão maior do que a real ou faça com que a vida toda
fique sem saída. Existe uma frase que diz “o problema tem o tamanho que damos a ele.”
Algumas pessoas são peritas na arte de fazer tempestade em copo d’água e “catastrofizar”
todas as situações.
O quarto e último elemento é a correta percepção frente à duração do problema. Você já
reparou que tudo, tudo mesmo, passa? As pessoas de baixa resiliência tendem a acreditar que
o problema vai durar muito ou para sempre. Já as pessoas resilientes normalmente conseguem
enxergar além da adversidade e isso, por si só, já funciona como estímulo para que assumam
o controle e a responsabilidade que lhes cabe na situação.
Problemas sempre existirão. O segredo é aprendermos a lidar com eles de forma diferente.
Gostaria de finalizar deixando uma frase de Viktor Frankl para a sua inspiração - “Tudo pode
ser tirado de um homem exceto uma coisa: a última de suas liberdades – escolher sua atitude
em um determinado arranjo circunstancial, a escolha do seu próprio caminho.”
Um grande abraço e até breve...
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