Dissertações - 1993 INTERPRETAÇÃO E IMAGINAÇÃO EM DUTEXTEÀ 159 L 'ACTTONDE PAUL RICOEUR por Maria de Fátima de Jesus Rodrigues D i s s e r t a ç ã o de Mestrado em Filosofía, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1993. A h e r m e n ê u t i c a ricoeuriana assume-se como uma «Filosofia do Sujeito)). Mas uma «filosofia do sujeito» n ã o se identifica com uma «filosofía da consc i ê n c i a » , ainda que seja indiscutivelmente uma filosofía reflexiva. Assim, é n e c e s s á r i o percorrer as i n ú m e r a s m e d i a ç õ e s que constituem o sujeito, num projecto em que a h e r m e n ê u t i c a se procura efectivar como uma ontologia « l o n g a » da c o m p r e e n s ã o . Esse esforço exprime-se num movimento dialéctico que vai constituindo, em múltiplas figuras, a articulação entre uma arqueologia e uma t e l e o l o g í a do sujeito. Enquanto orientação « a r q u e o l ó g i c a » , a hermenêutica exerce-se como uma crítica do sujeito, como uma desconstruçâo das ilusões e da fascinação imediata que escondem da consciência as raízes do desejo e do involuntário. Tal o r i e n t a ç ã o permite-lhe reconhecer que o caminho de constituição do «si» (sol) s ó é viável através da relação dialéctica com os modos de ser da alteridade pois que a identidade do «si» (soi) n ã o coincide nunca com a simples p r e s e n ç a da c o n s c i ê n c i a a si mesma. A orientação teleológica faz suceder a um primeiro momento «destrutivo» um outro, firmadamente construtivo, onde as a r t i c u l a ç õ e s p r o c u r a r ã o conciliar os conflitos e as múltiplas intencionalidades, sem dissolver no entanto as suas diferenças constitutivas. E na articulação com estes dois modos de constituição do sentido do «si» (soi) que a i m a g i n a ç ã o surge como a m e d i a ç ã o m e t ó d i c a fundamental. Na sua c o n c e p ç ã o da imaginação, Ricoeur parte de duas o r i e n t a ç õ e s que se complementam: o esquematismo kantiano e a teoria husserliana das « v a r i a ç õ e s imaginativas». Do mundo do texto ao mundo da a c ç ã o , da relação com o mundo à relação intersubjectiva com o outro, a i m a g i n a ç ã o permite o surgimento das categorias que pensam e antecipam o possível do ser e do agir: no « v e r . . . c o m o » metafórico da inovação semântica discursiva joga-se analogicamente o «ser...como» prático, que torna o sujeito h e r m e n ê u t i c o sempre simultaneamente um sujeito ético; no «possível» imaginat i v o , uma s u s p e n s ã o m o m e n t â n e a da referência como «jogo» — a referência indirecta ou ficcional que inaugura uma temporalidade intercalar na qual se antecipa o ser e o sentido do sujeito nos seus múltiplos modos de relação num «como...se» descomprometido e experimental essencialmente lúdico. É este «livre j o g o » dos possíveis que permite introduzir o horizonte da criatividade na c o n s t i t u i ç ã o de sentido projectando-se numa intenção teleológica que dá lugar ao horizonte da e s p e r a n ç a como aquele que, sem dissolver as diferenças e as regionalidades, sem recorrer à violência do poder, permite aspirar ao sentido como totalidade.