1629 As diferentes tomadas do conceito de memória em Paul Ricoeur X Salão de Iniciação Científica PUCRS Bolsista apresentador: Leonardo Marques Kussler (UNIBIC), Prof. Dr. Luiz Rohden (orientador) Faculdade de Filosofia,UNISINOS. Resumo As leituras de Ricoeur frente aos filósofos precedentes tentam mostrar a capacidade da memória como algo que não é significado de imaginação — no sentido de fictício, falacioso, fantasioso, irreal — tão somente, mas como capacidade de poder ser remetido ou “se fazer remeter” ao passado, por determinados dados que estão “arquivados”, de certa forma, na mente humana. O trabalho mostra a importância desta análise da ars memoriae (arte memorial, ou da memória) como referente a algum dado passado. A difícil e contraditória — por certos entendimentos — representação presente de um dado passado e ausente no presente é tomada por uma análise filosófica e, de certa forma, psicológica, tratando do sujeito que faz uso da memória, que se lembra, que busca retomar algo por intermédio da memória. A pesquisa tenta mostrar a importância desses dados que são guardados na memória e que podem ser buscados e, rapidamente, trazidos a sua representação, frente ao constante entrave com o esquecimento. A análise de Paul Ricoeur parte de matizes do pensamento da filosofia antiga, onde já encontramos discussões sobre a temática memorial, passando pelo pensamento moderno, tal como o de Husserl, seguindo então para a vertente contemporânea, onde lemos Bergson, por exemplo. Nas palavras do autor, “... não temos nada melhor que a memória para significar que algo aconteceu, ocorreu, se passou antes que declarássemos nos lembrar dela” (RICOEUR, 2007, p. 40). A memória pode ser encarada não somente como uma ferramenta de guardar dados mnemônicos, mas, sobretudo, como uma capacidade de (re)significação das coisas e de si mesmo; trata-se de uma representação das coisas já apresentadas anteriormente para si, uma possível reconfiguração de tais dados guardados na memória que são despertados pela rememoração. Tal relembrança exige um esforço — ars memoriae diz o autor — que faz com que busquemos tal conhecimento obtido anteriormente que está agora guardado na X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1630 memória. O ato de memorizar algo é a economia de um reaprender tal coisa novamente, mas também exige do autor um trabalho penoso, a fim de que treinando sua memorização, não caia em esquecimento. Vale ressaltar que a temática da memória é abordada por inúmeras linhas de pensamento — da sociologia, da psicologia, da história, do direito, etc. —, o que mostra sua importância e validade atual na pesquisa de âmbito acadêmico. Introdução O presente trabalho visa mostrar a análise feita por Paul Ricoeur acerca da temática memorial em filósofos do período antigo tais como Platão e Aristóteles, bem como em filósofos modernos como Husserl e da contemporaneidade, como Henri Bergson. Vinculado à pesquisa, de âmbito maior “A Metafísica na Hermenêutica Filosófica de Hans-Georg Gadamer”, dirigida pelo prof. Dr. Luiz Rohden, a pesquisa busca desenvolver as noções de memória juntamente com a metodologia de leitura, análise e comparação entre os referenciais teóricos de Paul Ricoeur. Metodologia A metodologia utilizada para a realização da pesquisa foi de análise das reflexões de Ricoeur em suas obras (descritas na referência) e comparação entre as obras do autor na busca da explicitação conceito de memória nos filósofos antigos, modernos e contemporâneos. Resultados (ou Resultados e Discussão) A pesquisa, apesar de basear-se apenas em bibliografia, pôde expandir a visão que comumente se tem da memória e da “arte memorial”. A explicação de tal fenômeno, o funcionamento de tal mecanismo, a discussão e, em certa medida, as contradições dos diversos autores quanto as suas concepções, foram constatados ao longo do trabalho. Entender a memória não somente como um “reservatório de lembranças” pode trazer um entendimento de experiência do sujeito que (re)significa as coisas, (re)apresenta a realidade para si e para os outros. A memória possibilita trazer os dados mnemônicos, ausentes no presente, novamente à tona, trazer o ato de refletir, de se repensar em algo. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1631 Conclusão Provisoriamente, o estudo sistemático do autor pode mostrar que a memória não pode ser entendida somente como uma busca de uma imagem que, no mais das vezes é fantasiosa, mas que pode ser entendida como busca de algum dado que, efetivamente estava guardado e somente estou trazendo sua representação à tona, não imaginando algo sempre irreal. A importância desta pesquisa vai de encontro com o entendimento de que a memória não somente se liga à imaginação enquanto fantasia, mas enquanto representação de coisas reais que, de fato estão aí. A memória também pode ser encarada como a defesa do esquecimento, sendo desenvolvida ao ponto de assegurar os dados na memória com os exercícios de memória – assegurar que acontecimentos ruins do passado não ocorram novamente, como no caso do holocausto, tão citado por Ricoeur. O lembrar-se é uma experiência de (re)significação, (re)conhecimento, (re)criação das coisas e de si. Referências RICOEUR, Paul. O percurso do reconhecimento. Tradução Nicolás Nyimi Campanário. SP: Loyola, 2006. ____________. A memória, a história, o esquecimento. Tradução: Alain François. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009