FACULDADE VALE DO CRICARÉ DIREITO DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA I AULA Nº 01 – Língua, Linguagem e fala Linguagem verbal e não verbal Elementos da comunicação Funções da linguagem Prof.ª ANDRÉA MANOEL 23-02-2015 1 O que significa exatamente comunicar? Sua raiz é a palavra comum: comunicar é o ato de tornar comum, conhecido. Várias linguagens podem ser utilizadas para exercermos atos de comunicação: O choro de um bebê, a linguagem dos surdos, o código Morse, as placas e sinais de trânsito, as bandeiras mostradas nas corridas de automóveis, etc. 2 Linguagem é todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. 3 A linguagem humana cumpre três funções básicas: Representação simbólica do pensamento. Exteriorização psíquica. Interação social – comunicação. 4 A linguagem varia de acordo com o sistema de sinais que utiliza: Linguagem verbal (do Latim verbalis, que vem de verbum, que significa “palavra”.) Linguagem não verbal 5 A linguagem que mais utilizamos para praticar atos de comunicação é a língua. A língua é a linguagem que usa a palavra como sinal de comunicação. É um sistema de natureza gramatical, formado por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras para sua combinação. Pertence a um grupo de indivíduos. É uma instituição social de caráter abstrato. É exterior aos indivíduos que a utilizam. Caracteriza-se através da fala, que é um ato individual de vontade e inteligência. 6 Língua é o conjunto de sinais baseado em palavras. É um organismo vivo que se modifica ao longo do tempo. Palavras novas (através de empréstimos, neologismos e gírias) surgem para expressar conceitos igualmente novos; outras deixam de ser utilizadas (as arcaicas), sendo substituídas. 7 Não confundir língua com escrita. São dois sistemas distintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. Muitas pessoas utilizam a língua sem saber utilizar sua forma escrita. Há muitas línguas ágrafas, isto é, que não são representadas por nenhuma forma escrita. Existem no mundo todo aproximadamente seis mil línguas, das quais apenas 110 possuem escrita. 8 A Fala é a realização concreta da língua, feita por um indivíduo da comunidade num determinado momento. É um ato individual que cada membro pode efetuar com o uso da linguagem. 9 Língua Falada X Língua Escrita A língua falada é espontânea e natural. A língua algumas regras. escrita precisa seguir São expressões de um mesmo idioma, porém cada uma tem a sua especificidade. 10 A língua falada é a mais natural, aprendemos a falar imitando o que ouvimos; A língua escrita só é aprendida depois que dominamos a língua falada; Ela não é uma simples transcrição do que falamos; Está mais subordinada às normas gramaticais, portanto requer mais atenção e conhecimento de quem fala; É um registro, permanece ao longo do tempo. A língua falada tem caráter efêmero. 11 LÍNGUA FALADA Palavra sonora. LÍNGUA ESCRITA Palavra gráfica Requer a presença dos É possível esquecer interlocutores. interlocutor. o Ganha em vivacidade. É mais objetiva. É espontânea e imediata. É mais sintética. A redundância é um recurso estilístico. Uso de palavras-curinga, Comunicação unilateral. de frases feitas. É repetitiva e redundante. Ganha em permanência. 12 LÍNGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA O contexto extralinguístico é Mais correção na elaboração das frases. importante. Evita a improvisação. A expressividade permite Pobreza de recursos não prescindir de certas regras. linguísticos; uso de letras, sinais de pontuação. A informação é permeada Ausência de cacoetes de subjetividade e linguísticos e influenciada pela presença vulgarismos. do interlocutor. Recursos: signos acústicos e O contexto extralinguísticos, gestos, extralinguístico tem entorno físico e psíquico. menos influência. 13 Embora todos no Brasil falem o português, existem usos diferentes dessa língua em decorrência de inúmeros fatores, entre os quais: Fatores regionais Fatores culturais Fatores contextuais Fatores naturais 14 A língua não é una (com N mesmo), ou seja, não é indivisível. Ela pode ser considerada um conjunto de dialetos. Há várias línguas dentro da oficial. Cada região tem seus falares, cada grupo sociocultural tem o seu. Pode-se até afirmar que cada cidadão tem o seu. A essa característica da Língua damos o nome de variação linguística. 15 O ancião boquiaberto. quedou-se estático e O velho ficou parado e de boca aberta. O coroa ficou na dele mosqueando. O véio encarangô. O cavalheiro de idade permaneceu quieto, em atitude contemplativa. 16 Variação linguística • Variação histórica • Variação geográfica • Variação social • Variação estilística 17 As diferentes modalidades de variação linguística não existem isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: Uma variante geográfica pode ser vista como uma variante social, considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se que o meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade, preserva variantes antigas. O conhecimento do padrão de prestígio pode ser fator de mobilidade social para um indivíduo pertencente a uma classe menos favorecida. 18 Níveis de linguagem Em decorrência do caráter individual da fala, podemos observar vários níveis de fala, também chamados níveis de linguagem ou registros: Nível coloquial-popular Nível formal-culto Nível profissional ou técnico Nível artístico e literário Nível giriático (as gírias) 19 Um texto é uma forma de comunicação que coloca em relação um emissor (que fala ou escreve) e um receptor (ouvinte ou leitor). Elementos da comunicação: 20 As funções da linguagem As funções da linguagem organizam-se em torno de um emissor (quem fala), que envia uma mensagem a um receptor (quem recebe), usando um código , que flui através de um canal (suporte físico) num dado contexto (referente). 21 Exercícios 1) Identifique o nível de linguagem a que pertencem os trechos abaixo: CONVERSA NA FILA Conversavam, na longa fila do cinema : -E o seu caso com a Belmira? -Encerrado, depois de um incidente onfálico. Observei-lhe que não ficava bem ir à praia de tanga, quando ainda emergia daquele problema cirsônfalo. - E ela ? - Não gostou, e rompemos. Nossa ligação teve fim celíaco. E você com a Isadora? 22 - Mal, meu caro. Sabia que ela é Hipmóbata? E o pior de tudo: com loxodromismo. De noite é aquela confusão no apartamento: batidas nos móveis, objetos quebrados, e ela volta com acrodinia, com meralgia ou com podalgia. - Que lástima. - Depois, a Isadora se destingui por um total aprosexia. Não adianta falar com ela que tome cuidado, que se proteja. Sua desatenção é mesmo esplâncnica. - Caso sério. - Pois é . Mas vamos mudar de assunto? José Olímpio 23 Tucão: Quidoca, eu não mandei você vigiá o Juvelino Sabonete e seus capanga? Quidoca: Mas chefe, eu vigiei, fiz tudinho qual o sinhô mandô! Tucão: Você é mesmo um imbecil! Não sei como confio em tu, que parece mais um verme que um homi. Quidoca: Que é que é isso, chefe? O sinhô me deixou triste, dizendo todas essas coisas de mim. Afinal eu sempre fui leal pro sinhô, até considero o chefe como um pai! Tucão: Chega de dizê tanta bobage, home! Se eu tivesse um filho como tu, seria um grande castigo. Imagine! Eu mando tu fazê uma coisa e tu faz o contrário. [...] Sai! Sai 24 Eu tropeava nesse tempo. Parece que foi ontem!... Era por fevereiro, eu vinha abombado da troteada. - Olhe, ali na restinga, à sombra daquela mesma reboleira de mato, que está nos vendo na beira do passo, desencilhei, e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma sesteada morruda. - Despertando, ouvindo o ruído manso da água tão limpa e tão fresca rolando sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira... e fui-me à água que nem capincho! [...] - E solito e no silêncio, tornei a vestir-me, encilhei o cavalo e montei. Simões Lopes Neto - Contos gauchescos e lendas do Sul 25 Joia beira de mar beira de mar beira de maré na américa do sul um selvagem levanta o braço abre a mão e tira um caju um momento de grande amor de grande amor Copacabana Copacabana louca total e completamente louca a menina muito contente toma a coca-cola na boca um momento de puro amor de puro amor Caetano Veloso 26 "Pô, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedaço aqui no Sampa, quem sabe tu te anima e acha por aí um point pra botá o nome de Madalena, Tagliaferro, Cláudio Santoro [...] e Radamés Gnattali. Esses caras não foi cruner de banda a la "Trogloditas do sucesso", mas se a tua moçada não manjar quem eles foi, dá um look aí na enciclopédia Britânica ou no Groves Internacional e tu vai sacá que o astral do século 20 musical deve muito a eles." Júlio Medaglia (carta do maestro Julio Medaglia ao jornal Folha de São Paulo, 4/10/90) 27 "O capitão-general apareceu finalmente na sacada central do paço, e os olhos do povo e dos sobrados se voltaram para o palácio. O seu melhor uniforme, trespassado de bandas, coberto de dourados e veneras, reluzia.” Autran Dourado - Me traz um copo d’água rapidinho que eu estou morrendo de sede. A gente correu muito pra chegar aqui, o carro pifou lá perto da mercearia. 28 “A supremacia da civilização ocidental, representada pelo império norteamericano, carece de medidas e atitudes de nível planetário que evitem ao máximo o rastro de destruição deixado em seu curso expansionista. Há urgência de uma nacionalidade outra que a do americanizado mundo contemporâneo.” Revista Cult, dezembro de 2001 29 Testes 1) Suponha um aluno se dirigindo ao colega de classe nestes termos: "Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro". A atitude desse aluno se assemelha à atitude do indivíduo que: a) comparece ao baile de gala trajando "smoking". b) vai à audiência com uma autoridade de "short" e camiseta. c) vai à praia de terno e gravata. d) põe termo e gravata para ir falar na Câmara dos Deputados. e) vai ao Maracanã de chinelo e bermuda. 30 2) Agora suponha que alguém compareça a um baile de gala trajando "short" e camiseta. A atitude dessa pessoa se assemelha à atitude do indivíduo que: a) se dirige a um juiz de direito nos seguintes termos: "Aí, mano, tem jeito de quebrar a minha, aí? To ligado que eu pisei no tomate, mas tá liberado, num rola mais". b) se dirige, por escrito, a um secretário de Estado nos seguintes termos: "Tomo a liberdade de, em nome de todos os moradores, convidar Vossa Excelência a participar dos festejos em honra da padroeira do bairro da Vista Alta". c) se dirige a um colega de classe nestes termos: "Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro". d) ao chegar a sua casa, cumprimenta os familiares, dizendo: "E aí, pessoal, tudo bem? Como passaram o dia?". e) levanta a mão no início da aula e diz: "Professor, será que o senhor poderia comentar o exercício 9 da lição 31 de casa?". 3) Você pode dar um role de bike, lapidar o estilo a bordo de um skate, curtir o sol tropical, levar sua gata para surfar. Considerando-se a variedade linguística que se pretendeu reproduzir nesta frase, é correto afirmar que a expressão proveniente de variedade diversa é a) “dar um role de bike". b) "lapidar o estilo". c) "a bordo de um skate". d) "curtir o sol tropical". e) "levar sua gata para surfar". 32 4) O trecho a seguir é parte de entrevista concedida pelo linguista paranaense e ex-reitor da UFPR, Carlos Alberto Faraco: Pergunta: O senhor acha que existe o falar "certo" e o falar "errado"? Faraco: Há milhares de falares, e a classificação "certo" e "errado" é reducionista, mas o falante não é reducionista. A prática linguística do falante é organizada em termos de uma busca constante de adequação. O falante transita entre um leque imenso de opções linguísticas e entre polos de formalidade e informalidade. E isso é que é o legal da linguagem. Somos todos multilíngues e querem que sejamos unilíngues. Entrevista à revista Folha do Curso, do Curso Positivo. Edição extraordinária, maio de 1998. 33 4) Carlos Alberto Faraco demonstra ter, sobre normas linguísticas, uma visão: a) inflexível, pois não aceita nenhuma norma a não ser a da estrita correção gramatical. b) internacionalista, pois defende que todos nos tornemos poliglotas, quer dizer, falantes de línguas estrangeiras. c) nacionalista, pois condena a presença de estrangeirismos na língua portuguesa. d) tolerante, pois entende que os falantes naturalmente mudam sua maneira de falar de acordo com o contexto. e) autoritária, pois defende que a classificação "certo" e "errado" prevaleça sobre a anarquia representada pela existência de milhares de falares reducionistas. 34 5) A questão toma por base o seguinte fragmento de texto: "Falar difícil" nem sempre causa boa impressão A ânsia de impressionar o interlocutor por meio do uso de palavras raras ou de sentido menos conhecido pode levar o falante a cometer certas inadequações ou impropriedades linguísticas. A ilusão da sinonímia perfeita faz que muitos creiam que a mera substituição de uma palavra por outra mediante consulta ao dicionário possa enriquecer um texto. (...) 35 Há quem, para "falar bonito", lance mão de perífrases e, por exemplo, diga "última flor do Lácio" para referir-se à "língua portuguesa" ou, ao indagar de uma moça a sua idade, peçalhe que diga "quantas primaveras conta". Outros não resistem a perguntar onde está o "busílis" quando querem saber onde está o xis da questão. Esse tipo de linguagem, por desgastado e nada original, cria uma atmosfera jocosa em torno daquele que o usa, visto que a artificialidade do discurso denota a intenção de impressionar - e o efeito acaba sendo o oposto. Thaís Nicoleti de Camargo, Folha de S.Paulo, 19/12/2002, caderno Fovest, p. 6 36 5) O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Assinale a alternativa em que aparece um tipo de inadequação semelhante ao comentado pela autora do texto: a) "Gente, acho que está na hora de irmos embora." - o monitor de um acampamento de férias dirigindo-se às crianças de seu grupo. b) "A pirâmide social brasileira continua com uma base extremamente larga e um topo muito estreito, o que revela nossa grande desigualdade social." - um aluno de pósgraduação em Geografia, durante um seminário universitário. 37 c) "Declaro ter experiência no trato com galináceos e palmípedes em geral, bem como com turbérculos de vária natureza." - trecho de currículo de candidato a uma vaga de técnico em agropecuária. d) "É com grande honra e satisfação que anunciamos a todos a presença, neste evento, de Sua Excelência, o ministro da Educação." - mestre de cerimônias de um evento de lançamento de programa educacional. e) "O mio tem dois pobrema: um ocêis já conhece, o outro não precisa de dizer qual é." - um professor universitário, numa aula do curso de Agronomia. 38 6) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pêro Vaz de Caminha: De plumagens mui vistosas. A terra é mui graciosa, Tem macaco até demais Tão fértil eu nunca vi. Diamantes tem à vontade A gente vai passear, Esmeralda é para os No chão espeta um caniço, trouxas. No dia seguinte nasce Reforçai, Senhor, a arca, Bengala de castão de oiro. Cruzados não faltarão, Tem goiabas, melancias, Vossa perna encanareis, Banana que nem chuchu. Salvo o devido respeito. Quanto aos bichos, tem- Ficarei muito saudoso nos muito, Se for embora daqui. MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de 391994. Janeiro: Nova Aguilar, 6) Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre em: a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade 40 7) Leia: “Línguas não são institutos que servem somente para a troca de informação; não são redutíveis a códigos. Como são bens culturais, as línguas também se empregam com valores simbólicos, são também o território em que os sujeitos procuram definir-se recíproca e reflexivamente. Ao empregar um léxico de origem africana, um escravo não apenas transmitiria, em código talvez secreto, informações a outro escravo, mas também, e em muitas vezes principalmente, afirmaria a identidade africana dos interlocutores, de modo a lhes conferir um estatuto de unidade interna e diferenciação externa.”In Formação Linguística do Brasil BEARZOTI Filho, Paulo - Nova Didática – 2002 41 7) Assinale a alternativa INCORRETA segundo as ideias apresentadas no texto: a) Ao empregar a língua, o indivíduo se afirma como tal numa comunidade e em relação aos outros usuários do mesmo código. b) a troca de informações é uma das funções da língua. c) a língua é fundamentalmente um código. d) um escravo se afirmava individualmente quando usava termos de origem africana. e) o uso de um léxico africano por parte dos escravos lhes garantia coesão interna como grupo social, distinguindo-os externamente de outras comunidades. 42 8) Leia: As línguas constituem sistemas de comunicação verbal. Conquanto a fala seja da maior importância, fator fundamental de humanidade no homem, a nossa capacidade de comunicar conteúdos expressivos não se restringe às palavras; nem são elas o único modo de comunicação simbólica. Existem, na faixa de mediação significativa entre nosso mundo interno e o externo, outras linguagens além das verbais. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 24. 43 8) Segundo o texto, é correto afirmar: a) Nada pode substituir as palavras como forma de comunicação. b) A capacidade humana de comunicação não se limita às linguagens não verbais. c) A fala não é o único elemento a considerar em situações de comunicação simbólica. d) A fala é indispensável na mediação entre nosso mundo interno e o externo. e) Para comunicar conteúdos expressivos, é prioritário dominar as linguagens não verbais. 44