HISTÓRIA DA MATEMÁTICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL:
ELABORANDO QUADRINHOS
Sven Glint
Universidade Estadual do Centro-Oeste
[email protected]
Karolina Barone Ribeiro da Silva
Universidade Estadual do Centro-Oeste
[email protected]
Resumo:
Este trabalho apresenta resultados parciais de um projeto de iniciação científica vinculado ao
Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de
Guarapuava. O projeto tem como objetivo a elaboração de histórias em quadrinhos envolvendo
tópicos de História da Matemática, para alunos do 6° e 7° anos do Ensino Fundamental. Os
temas paras as histórias foram sugeridos por professores da rede pública de Guarapuava. Entre
os mais mencionados estão frações e números decimais. As histórias foram desenhadas a lápis,
com traços de cartuns e fazem parte de uma trama maior, denominada Jardim das Portas. Os
personagens principais são o garoto Antares e a gatinha falante Meissa.
Palavras-chave: História em quadrinhos. História da Matemática. Educação Básica.
Introdução
No curso de licenciatura em Matemática da UNICENTRO, caracterizado
principalmente por formar professores para a Educação Básica, deve-se levar em
consideração, dentre outros documentos, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná
(PARANÁ, 2008), que propõem conteúdos estruturantes (números e álgebra; grandezas
e medidas; geometrias; funções; tratamento da informação) que devem ser abordados
por meio de tendências metodológicas da educação matemática, dentre as quais figura a
História da Matemática.
A História da Matemática no ensino vem se destacando entre os teóricos da
educação matemática há algum tempo, o que pode ser percebido, dentre outros, pelo
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fato de ter ocorrido em 2002 a publicação do volume The ICMI Study1 especial sobre
História na Educação Matemática (FAUVEL e MAANEN, 2002), sob responsabilidade
da International Commission on Mathematics Instruction (ICMI). Tal documento faz
parte de uma série de textos que têm a finalidade de abordar assuntos de importância na
educação matemática atual, refletindo a grande variedade de questões e preocupações
neste campo.
Fauvel e Maanen (2002) citam argumentos a favor da utilização da história da
matemática em sala de aula, afirmando que ela possibilita a melhora significativa no
aprendizado da matemática bem como a visão sobre a natureza do conhecimento
matemático e da atividade matemática; contribui para elaboração de atividades
significativas para o ensino da matemática; promove a visão da matemática como uma
atividade humana e cultural e proporciona o gosto para estudar matemática.
Contudo, apesar do seu potencial didático, muitas vezes a História da
Matemática é deixada de lado pelos professores da Educação Básica ou é tratada de
forma superficial (FERNANDES et al., 2011), não cumprindo a proposta das Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná de que esta tendência metodológica promova uma
aprendizagem significativa, que propicie ao estudante entender que o conhecimento
matemático é construído historicamente a partir de situações, muitas vezes, concretas e
necessidades reais (PARANÁ, 2008, p.66).
Além disso,
A história da matemática, quando utilizada nas aulas, geralmente é
abordada na forma de narrativas envolvendo nomes, locais e datas e
não desperta o interesse dos alunos. Para utilizá-la como recurso
metodológico eficaz é fundamental que o professor dê asas à sua
criatividade para propor tarefas e elaborar atividades atrativas
(Parmegiani, 2012, p. 1).
Uma forma de o professor expressar esta criatividade se manifesta na utilização
de história em quadrinhos. Araújo et al.(2008) destacam a história em quadrinhos como
possível recurso didático-pedagógico, enfatizando que esta forma de literatura é
bastante acessível ao público, podendo levar o aluno a compreender melhor o conteúdo
de uma disciplina. Estudos como o de Nunes (2004) e Tonon (2009) relatam melhora no
1
Mais informações em: <http://www.mathunion.org/icmi/publications/icmi-studies-publications/icmistudy-volumes-niss/>. Acesso em: 11 abr. 2014.
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processo de ensino e aprendizagem da matemática quando são utilizadas histórias em
quadrinhos.
Devido ao exposto anteriormente, se justifica o interesse pelo tema História da
Matemática em quadrinhos.
Da escolha dos temas
Para decidir quais seriam os tópicos de História da Matemática abordados nos
quadrinhos a serem desenhados pelo primeiro autor deste trabalho, foi feita a análise de
livros didáticos de Matemática (incluindo o manual do professor) utilizados em escolas
públicas de Guarapuava, para verificar se e como a História da Matemática era
apresentada. Na sequência foram escolhidos alguns temas, com o auxílio dos livros
analisados e de questionários respondidos por 18 professores de 14 escolas públicas de
Guarapuava, atuantes em diversos níveis de ensino. Nesses questionários, os professores
tiveram a oportunidade de sugerir assuntos que eles considerassem pertinentes para uma
abordagem em quadrinhos. As sugestões mais populares foram: Frações e Números
Decimais, Equações de Grau 1 e 2, Álgebra e Funções.
Entretanto, nas conversas pré e pós questionário, vários professores que não
citaram Frações/ Números decimais relataram uma grande dificuldade por parte dos
alunos na compreensão e domínio desses conteúdos, incluso alunos do final do Ensino
Fundamental, e mesmo do Ensino Médio.
Dessa forma priorizou-se na escolha dos temas o assunto mais comentado e
sugerido: Frações.
Além desses, outros como Tangram, Sequência de Fibonacci,
Sólidos de Platão e Sistema de Numeração Egípcia foram selecionados por serem
prestigiosos na História da Matemática e adequados para o 6º e 7º anos das escolas
visitadas para as entrevistas e por serem frequentemente abordados nos livros dos
respectivos anos. Além disso, o Problema de Monty Hall foi selecionado para
representar o tópico raciocínio lógico.
Na TAB. 1 são apresentados todos os temas sugeridos pelos professores e a
respectiva frequência de escolha.
Tabela 1 – Sugestões dos professores
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Posição Tema
Frequência
1
Frações/ Números Decimais
7
2
Equações Graus 1 e 2/ Álgebra
5
3
Funções
3
4
As Quatro Operações Básicas
2
Geometria Plana
2
Medidas (superfície, volume, etc.)
2
MMC
2
Teorema de Pitágoras
2
Teorema de Tales
2
Sistemas Lineares
2
Situação-Problema
2
Área
1
Conceito de Número
1
Conjunto dos Números Inteiros
1
Conjuntos Numéricos
1
Contribuição da Matemática Grega
1
Divisão de Números Naturais
1
Fatoração
1
Geometria Analítica
1
Inequações
1
Perímetro
1
Plano Cartesiano
1
Polinômios
1
Racicínio Lógico
1
Tabuada
1
Tangram
1
Total
46
12
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Do processo artístico da produção das histórias
A partir do início do projeto precisava-se definir como as histórias em
quadrinhos seriam elaboradas, ou seja, que tipos de materiais seriam usados na
produção, o tipo de traço dos desenhos, se a abordagem seria mais casual ou mais
focada em relatar a História da Matemática, enfim, diversas questões apareceram nas
primeiras semanas do projeto.
Para um melhor aproveitamento das histórias produzidas, precisou-se definir um
público-alvo específico. Assim, decidiu-se após a análise dos questionários que as
histórias seriam produzidas com traços simples de cartuns, a lápis, e com conteúdos do
6º e 7º anos do Ensino Fundamental, pois são assuntos com maior carência de atividades
criativas e diferenciadas nas escolas visitadas, além disso, esses conteúdos oferecem
uma oportunidade mais ampla de se aliar história da matemática e o tema mais
escolhido, frações, de maneira mais casual.
Das Histórias
Para escrever os textos dos quadrinhos foram utilizadas, além dos livros
didáticos anteriormente mencionados, obras consideradas clássicas em história da
matemática e conhecidas pelos professores da Educação Básica, como Boyer (1974) e
Eves (2004).
As histórias produzidas são capítulos quase independentes de uma trama base,
apresentada no capítulo 1. A história como um todo é denominada Jardim das Portas, e
conta a saga de um menino, Antares, que recebe de seu moribundo avô um regador
mágico. Ao usar esse objeto, o garoto é transportado para um novo mundo, o Jardim
das Portas. Lá ele encontra a outra personagem da história, a gatinha falante Meissa,
que adora matemática e tenta influenciá-lo ao gosto pela área por meio de curiosos
desafios, e relatos intrigantes.
A seguir apresenta-se uma das histórias produzidas:
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Considerações finais
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Acredita-se que a criatividade na abordagem de conteúdos e o tratamento da
História da Matemática levam o aluno a compreender melhor o conteúdo da disciplina.
Nesse sentido, as histórias foram criadas, com traços simples, a lápis, a fim de
apresentar alguns problemas e assuntos clássicos na História da Matemática de uma
maneira simples, casual e entretedora.
Ao final do projeto de iniciação científica, todas as histórias serão
disponibilizadas em sites na internet com o intuito de constituírem material de apoio
para professores e alunos da Educação Básica e de cursos de licenciatura em
Matemática.
Referências
ARAÚJO, G. C.; COSTA, M. A.; COSTA, E. B. As histórias em quadrinhos na
educação: possibilidades de um recurso didático-pedagógico. A MARgem - Estudos,
Uberlândia, n. 2, p. 26-36, jul./dez. 2008.
BOYER, C. B. História da Matemática. Tradução Elza F. Gomide. São Paulo: Edgard
Blücher, 1974.
EVES, H. Introdução à História da Matemática. Tradução Hygino H. Domingues.
Campinas: Ed. Unicamp, 2004.
FAUVEL, J.; MAANEN, J. V. (Ed.) History in Mathematics Education. The ICMI
Study. Kluver Academic Publishers, 2002.
FERNANDES, E. S.; RAMOS, A. L.; MIRANDA, P. R. A história da matemática como
caráter motivador no ensino fundamental. Revista de Educação Matemática da
UFOP, Ouro Preto, v. I, p. 139-141, 2011.
NUNES, C. B. A geometria em quadrinhos. In: ENCONTRO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 8., 2004, Recife.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da
Educação Básica. Matemática. 2008. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_mat.pdf>.
Acesso em: 11 abr. 2014.
PARMEGIANI, R. A história da matemática em quadrinhos. In: JORNADA
NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 4., 2012, Passo Fundo.
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TONON, S. F. T. R. As histórias em quadrinhos como recurso didático nas aulas de
matemática. Em Extensão, v. 8, n. 1, p. 72 - 81, jan./jul. 2009.
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Sven Glint - SBEM