LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA Reinaldo Alves Souto Professor da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. E-mail: [email protected] Clélia Maria Ignatius Nogueira Orientadora Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo discute a leitura e a interpretação de textos como metodologia para o ensino e a aprendizagem de diversas áreas do conhecimento, em particular a de Matemática. Além de apresentar o resultado do projeto de pesquisa e da implementação de uma unidade didática na qual constam sugestões de atividades à cotidianidade de sala de aula, tem como objetivo socializar a discussão e compartilhar os resultados do estudo que foi desenvolvido no período de um ano, no Programa de Desenvolvimento Educacional ─ PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná ─ SEED, com os docentes das séries finais do ensino fundamental. Nesse trabalho, procurou-se fundamentar a importância da leitura e da interpretação nas aulas de Matemática como estratégia metodológica para o ensino e a aprendizagem dos conteúdos algébricos, em particular, das “expressões algébricas e das equações do 1º grau”. As atividades foram elaboradas e adaptadas aos textos, visando contribuir com a formação do aluno enquanto cidadão que lê e interpreta em qualquer área do conhecimento, em especial na Matemática. Palavras chave: Educação Matemática. Expressões algébricas. Equações do 1º grau. Leitura e interpretação de textos nas aulas de Matemática. INTRODUÇÃO Na escola, o questionamento é sempre em torno dos processos de ensinar e de aprender, principalmente na Matemática, disciplina em que os insucessos escolares dos alunos parecem suplantar os que acontecem nas demais disciplinas. Nesse sentido, o professor precisa indagar a maneira como o aluno aprende a Matemática na escola e fora dela e, de que forma ele relaciona as duas na sua cotidianidade. Por outro lado, percebe-se que a leitura e interpretação de textos também se apresentam como uma das principais dificuldades escolares. Ler e interpretar textos parecem ser atividades que não dizem respeito à Matemática, entretanto, uma das maiores dificuldades XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 dos alunos reside exatamente na compreensão dos enunciados de problemas. Para minimizar esta dificuldade, é preciso que a leitura em Matemática passe a ter mais espaço na vida do aluno, tanto na escola como na sua cotidianidade, deixando de ficar praticamente à mercê da Língua Portuguesa. Segundo alguns estudiosos, a leitura pode-se apresentar como uma das possibilidades para ensinar e aprender Matemática. Para Rabelo (1996), o baixo desempenho dos alunos diante dos conteúdos matemáticos e consequentemente o fracasso escolar são devidos à falta de construção de competência para a interpretação de textos relacionados com a Matemática. Desse modo, a Produção Didático-Pedagógica elaborada como produto do projeto de intervenção em desenvolvimento atualmente no Programa de Desenvolvimento Educacional PDE – do estado do Paraná primou, por oferecer aos alunos que apresentam defasagem na aprendizagem dos conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental (anos finais), um ensino de Álgebra sustentado na Leitura e Interpretação de textos. Visando a formação do aluno enquanto cidadão que lê e interpreta em qualquer área do conhecimento, em especial na Matemática, a intervenção propôs atividades que pretenderam analisar atitudes, procedimentos e dificuldades dos estudantes do 9º ano (EF) diante da leitura e da interpretação de textos nas aulas de Matemática. As atividades são alicerçadas em textos e contextualizadas, para possibilitar aos alunos relações entre as ideias matemáticas e a realidade, levando-os a desenvolver competências como seres sociais nas esferas cultural, econômica e política, para que diante de situações-problema eles possam estabelecer relações matemáticas para solucioná-las. Considerando o anteriormente exposto, este artigo pretende relatar parte da implementação da Unidade Didática elaborada com o intuito de investigar se a Leitura e a Interpretação de textos podem contribuir para a aquisição de conhecimentos da Álgebra por alunos com defasagem na aprendizagem matemática. Esta intervenção foi constituída por uma sequência de atividades hierarquicamente organizada sobre expressões algébricas e equações lineares no formato de textos que contemplam situações-problema sobre os conteúdos citados. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nossa Unidade Didática se baseia em estudos realizados por diversos pesquisadores e educadores sobre a linguagem matemática e a utilização da leitura e interpretação de textos XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 nas aulas de Matemática e que apresentam propostas para um ensino no qual a atividade do aluno seja constante, para torná-lo sujeito da sua aprendizagem. Segundo Rabelo (1996), pesquisas realizadas apontam que a falta de competência para a interpretação de textos relacionados com a Matemática contribui para o fracasso escolar em Matemática. “O ensino, de modo geral, está baseado em um modelo de educação que trata o conhecimento matemático como um conjunto de fatos, leis e fórmulas prontas, fechadas e de difícil compreensão, não admitindo mudanças” (RABELO, 1996, p.15). Para Rabelo (1996), um dos objetivos da escola é instrumentalizar o aluno, para que se constitua num bom leitor e escritor. No entanto, esse objetivo não vem sendo alcançado com eficiência. Foi com essa preocupação que escolhemos trabalhar com a leitura e a interpretação de textos nas aulas de Matemática cujos temas sejam, de preferência, atuais e do universo em que os alunos estejam inseridos. Ao se adotar esta estratégia metodológica, pretende-se contribuir para que o ensino e a aprendizagem da Matemática tal como da língua materna, se constitua em um instrumento para a formação social, cultural, econômica e política do aluno, ao capacitá-lo como leitor, formulador e resolvedor de problemas. A importância de trabalhar com textos em sala de aula Segundo os autores Almeida (1997) e Raboni (1997), é conveniente que, quando se fizer a opção por trabalhar com textos em sala de aula, estes abordem temas dos quais os alunos já tenham um pré-conceito e que sejam contextualizados no universo dos alunos. E, para Curi (2009), se o aluno tem conhecimento prévio do que precisa resolver, ele passa a ser interessar pelo assunto e a partir de então, o professor passa a ensinar o conteúdo de Matemática ancorado nesses textos, levando o aluno a ampliar o seu processo de autonomia, de criatividade e de reflexão. Para Rabelo (1996), após a leitura de um texto, o professor não deve ficar preocupado em apenas transmitir suas ideias, mas, tentar extrair dos alunos através de discussão, o que eles entenderam sobre a essência do texto, estabelecendo relações com o conteúdo matemático a ser trabalhado. Assim, eles passam a questionar, a fazer críticas, tornando a sala de aula um espaço interativo e de diálogo, instrumento para a construção do conhecimento matemático, no qual o professor tem seu papel e não mais importante do que o dos alunos. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 As ideias propostas são analisadas e debatidas. As perguntas, muitas vezes, desafiam as explicações dadas. O processo faz do projeto colaborativo no qual todos trabalham em sintonia para influenciar a aprendizagem da matemática por todos os da comunidade (LOPES; NACARATO, 2009, p.11). No processo de ensino aprendizagem, é preciso desenvolver o ato de escutar e ouvir uns aos outros e, o trabalho com o texto possibilita esse ato. Segundo Lopes e Nacarato (2009), nesse ato, o professor ganha e muito, porque passa a dividir responsabilidades e deixa de ser o único responsável pelas avaliações e correções de ideias propostas, pois, os alunos também assumem essas responsabilidades. Com isso, ambos ganham, pois ampliam a leitura da realidade. Texto e contextualização no ensino da matemática Baseando-se em D’Ambrósio1 (2002), Curi (2009, p.142) diz que “[...] a Matemática Contextualizada se apresenta como mais um recurso para a solução de problemas originados de determinadas culturas e que exigem instrumentos intelectuais de outras culturas”. Se o professor realmente deseja que os alunos melhorem sua aprendizagem, ele precisa diversificar os gêneros textuais, para possibilitar aos alunos meios diferentes de apropriação do conhecimento (ibidem, 2009). Klüsener (2000) lembra que a linguagem matemática não é adquirida naturalmente, por isso necessita ser apreendida e praticada em diferentes contextos. A “[...] utilização de textos tanto com enfoque histórico como os desenvolvidos pelos meios de comunicação são de importância para o desenvolvimento das diferentes linguagens até chegar à linguagem matemática” (KLÜSENER, 2000, p.180). Já para Passos (2009, p. 118), o professor precisa fazer perguntas aos alunos de forma a convidá-los ao debate, com questões que sugiram investigações e, de modo que eles se sintam ativos no processo ensino-aprendizagem. [...] a leitura é um processo interativo e construtivo, no qual entram em jogo as relações entre as diferentes partes do texto e os conhecimentos prévios do leitor. Portanto, a leitura de um texto nunca deve estar dissociada de seu contexto. [...] cabe destacar que a leitura nas aulas de matemática tem especificidades próprias devido aos tipos de textos típicos dessa área do conhecimento (CURI, 2009, p.140). 1 D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte, Autêntica, 2002. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Para Curi (2009), após a leitura é importante estimular a troca de ideias sobre o texto lido, mesmo que seja através de perguntas para estimular a participação e o fechamento da discussão. Ainda afirma que, trabalhar com textos nas aulas de Matemática requer planejamento, escolha criteriosa dos textos e, objetivos bem definidos do que realmente se pretende atingir com determinado texto. Percebe-se que, atualmente, nos livros de Matemática poucos enunciados de problemas são contextualizados. Segundo Jaramillo (2009, p.157), mesmo sabendo da importância da contextualização, na escola ainda hoje predomina na área de ciências exatas, um ensino descontextualizado historicamente e socialmente, em que os saberes são desprovidos de significados, pois desconsideram o cotidiano do aluno, além de privilegiar um conteúdo em detrimento do outro. Para que se tenha êxito na leitura e compreensão de textos, no sentido de explorar conteúdos matemáticos, precisa-se desenvolver em sala de aula uma rotina de momentos de leitura, seja ela oral, silenciosa, individual ou em conjunto, para que se tenha no aluno um sujeito ativo da sua aprendizagem. Segundo Silva (1997, p.71), a escola engloba três aspectos, a saber; o político-social, o psicológico e o epistemológico na interação dialógica e na construção de conhecimento. Dessa forma, o professor não pode desconsiderar nenhum deles nos processos de ensino e de aprendizagem. Isto implica na seleção de textos que colaborem com a formação ética e moral do aluno e que aproxime as práticas sociais das escolares. Além disso, o trabalho com a leitura e interpretação de textos em Matemática favorece a interdisciplinaridade, o que exige do leitor conhecer outros assuntos, para que ele possa fazer uma interpretação correta do que lê, pois, “[...] um conhecimento sempre é referência para a aquisição de outro conhecimento” (DANYLUK, 1998, p.52) e, para Smole e Diniz2 (2001 apud LOPES; NACARATO, 2005, p.175) “[...] ser um leitor em matemática permite compreender outras ciências e fatos da realidade, além de perceber relações entre diferentes tipos de textos”. Klüsener (2000) destaca que a leitura da palavra, do símbolo ou do mundo, ocorre quando o significado das coisas que são representadas emerge pelo ato da interpretação. Por isso, não se pode ler e escrever matemática sem compreender o que ela significa. 2 SMOLE, Kátia S.; DINIZ, Maria Ignez. Ler e aprender matemática. In: SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (Orgs). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre, Artmed Editora, 2001, P.69-86. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Dimensão histórica da álgebra Equação é uma igualdade entre duas expressões algébricas envolvendo valores desconhecidos. A primeira referência a equações de que se têm notícias consta no papiro de Rhind, um documento egípcio e provavelmente um dos mais antigos que tratam de Matemática, datado de aproximadamente 1650 a.C.. Segundo Guelli (2001), por volta de 1650 a.C., o escriba Ahmes resolvia o que hoje denominamos de “equações lineares” atribuindo um valor “falso” ao termo desconhecido e utilizando a regra de três simples. Os matemáticos gregos recorriam à Geometria, um método atualmente conhecido como “álgebra geométrica” para resolverem as equações lineares e os árabes resolviam até mesmo equações não-lineares, restaurando as operações efetivadas, mediante a “regra do inverso”. Entretanto, tanto egípcios, como os gregos e os árabes se valiam da álgebra retórica, isto é, todos os problemas matemáticos eram propostos e resolvidos utilizando apenas palavras. Por volta do ano 400 da era Cristã, com o matemático grego Diofante, começaram a surgir os primeiros símbolos matemáticos, inicialmente na forma de abreviações de palavras. Ainda, segundo Guelli (2001), os símbolos de Diofante marcaram a passagem da álgebra retórica para a álgebra sincopada. O francês François Viète (1540-1603), que ficou conhecido como Pai da Álgebra, foi o primeiro a escrever as equações e a estudar suas propriedades utilizando expressões gerais (ax + b = 0) e, graças a ele as equações passaram a ser interpretadas como as entendemos atualmente, estabelecendo a álgebra puramente simbólica. Considerando o longo percurso da humanidade para atingir o atual estado da Álgebra é possível compreender as dificuldades dos estudantes com tais conteúdos, que, todavia, são imprescindíveis não apenas como alicerces para a própria Matemática, como ferramenta para as mais diferentes disciplinas, mas também, para o desenvolvimento de importantes capacidades mentais. Segundo PCN3 (1998 apud KERN; GRAVINA, 2012, p. 54), “o estudo da Álgebra constitui um espaço bastante significativo para que o aluno desenvolva e exercite sua 3 BRASIL, MEC. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (5ª a 8ª série): Matemática. Brasília: MEC/ SEF, 1998. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 capacidade de abstração e generalização, além de lhe possibilitar a aquisição de uma poderosa ferramenta para resolver problemas”. Ainda nesta direção, Van de Walle (2009, p.287) afirma que, “[...] o pensamento algébrico ou raciocínio algébrico envolve formar generalizações a partir de experiências com números e operações, formalizar essas ideias com o uso de um sistema de símbolos significativo e explorar os conceitos de padrão e de função”. Por outro lado, para Bonadiman (2007), o atual ensino da Matemática, em especial o da Álgebra, encontra-se afastado da realidade da maioria dos alunos e, são evidentes as dificuldades destes em relação aos conceitos abordados na Álgebra elementar, em especial nos anos finais do Ensino Fundamental. Assim, entendemos que é preciso elaborar atividades específicas, visando desenvolver no aluno a compreensão de algumas propriedades básicas necessárias ao desenvolvimento das operações com expressões algébricas, para que ele produza significados para tais ações, o que justifica nossa proposta de intervenção. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a realização deste trabalho, inicialmente foi preciso a elaboração de um projeto de fundamentação teórica, o qual destacou a importância de trabalhar textos nas aulas de Matemática e, em segundo momento, a produção de um material didático-pedagógico na forma de “Caderno Pedagógico” alicerçado na fundamentação teórica do projeto, sobre a qual se apresenta uma síntese nesse artigo. O material didático-pedagógico acima citado se destina a uma intervenção pedagógica com alunos do 9º ano (EF) que apresentam defasagem na aprendizagem matemática e, teve por finalidade utilizar a leitura e a interpretação como estratégia metodológica para o ensino de Matemática. As atividades nele propostas, em forma de sequência didática, são textos que contemplam os temas expressões algébricas e equações do 1º grau, que são apresentados aos alunos para serem explorados e contextualizados matematicamente, identificando o assunto pela leitura e discussão em grupo. A seguir são propostas atividades relativas aos textos, para as quais os alunos devem esboçar uma solução para depois, com a mediação do professor, elaborarem coletivamente, no quadro um esquema geral de resolução do problema. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 As atividades foram elaboradas com o objetivo de proporcionar aos alunos maior afinidade com a Matemática permitindo correlacioná-la a sua cotidianidade, além de estabelecer relações interdisciplinares com outras áreas do conhecimento, favorecendo a compreensão e a valorização do conteúdo em questão. E, em cada atividade, propôs-se o registro do conhecimento científico adquirido pelos educandos, suas discussões e suas ideias, compondo um portfólio, o qual serviu como um dos instrumentos de organização, testemunha da ação pedagógica, comunicação e de avaliação da aprendizagem dos alunos. Ressalta-se que no início da implementação foi aplicado um pré-teste e no final o pósteste, para junto ao portfólio ser instrumento de comparação, com o qual o professor pode verificar se ocorreu ou não a aprendizagem do conteúdo matemático apresentado. Este artigo apresenta um breve relato das atividades já desenvolvidas com uma análise parcial dos resultados da implementação. Atividades envolvendo textos O conteúdo estruturante presente em todas as atividades propostas é Números e Álgebra e, todos os textos apresentados na produção didático-pedagógica tiveram como objetivo, desenvolver o hábito da leitura, de modo que o aluno aprenda a interpretar, coletar dados e raciocinar matematicamente as situações-problema. A sequência didática foi construída de maneira a possibilitar desde a construção de sentenças abertas até à resolução de equações que foram identificadas nos textos, representadas em linguagem algébrica e resolvidas. Como exemplo, apresentamos um dos textos já trabalhados juntamente com as atividades propostas. Ressaltamos que a Unidade Didática está disponível (http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde2012/frm_menu. php?slUsuarioPDE=19618&PHPSESSID=2014050312205388). Texto: Quiz Autoria de: Reinaldo Alves Souto Conteúdos específicos: expressões algébricas Objetivos na página XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Perceber a necessidade de analisar com cuidado os dados antes de dar uma resposta; Identificar padrões a partir de uma sequência numérica e estabelecer a expressão algébrica correspondente; Perceber que o valor da expressão numérica muda dependendo da situaçãoproblema; Formular e testar conjecturas matemáticas na exploração da situação proposta; Representar e analisar situações usando símbolos algébricos; Compreender a noção de termo geral (expressão algébrica) de uma sequência e escrever simbolicamente esse termo. Após alguns anos de casado com a uma apresentadora de TV, Alan resolveu que eles deveriam ter um filho para que a felicidade fosse realmente completa. E, assim o filho nasceu. Eles tiveram um menino que recebeu o nome de Natan, o qual como seu pai era muito esperto e, também tinha muita sorte e, ambos viviam nos bastidores da TV, o pai por ser o produtor da esposa e o filho por curiosidade. Natan teve uma chance de participar de um Quiz no programa da emissora de TV, cujo apresentador era amigo de sua mãe. Veja o que aconteceu: Natan ficou muito contente quando viu o apresentador entrar no ar, pois, era a chance que ele tanto esperava. Ele tinha certeza de que o apresentador iria chamá-lo e dar o direito de participar dos três quadros do programa. Não era assim que acontecia normalmente, mas, ele era o filho da melhor amiga do apresentador, além do que, sua mãe trabalhava na emissora. O apresentador estava pronto para chamar Natan, e ele só ficava imaginando quais seriam os prêmios que poderia ganhar, e se perguntava: O que poderia ser? Uma prancha de surfe, um vídeo game, uma viagem à Disneylândia, um carro zero quilômetro... Natan fazia planos. Mas os tempos eram outros. Quem diria? Já não se encontravam programas de TV que dê prêmios como antigamente. O mal-humorado apresentador informou ao Natan que ele só teria direito a um premio, o qual era em dinheiro. Natan deveria fazer uma escolha, mas, não era uma escolha qualquer, pois, ele participaria somente de um dos três quadros do programa. Se Natan ganhasse o jogo, ele teria que escolher entre duas opções que o apresentador lhe daria. Ele poderia receber R$ 10000,00 todos os dias, durante 21 dias, ou XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 receber R$ 1,00 no primeiro dia, R$ 2,00 no segundo dia, R$ 4,00 no terceiro dia, R$ 8,00 no quarto dia, e assim por diante, até completar 21 dias. ATIVIDADES a) Qual das opções Natan devia escolher? Sugestão: para responder a essa pergunta, complete a tabela abaixo. Natan recebe R$ 10000,00 por dia Natan recebe R$ 1,00 no primeiro dia, R$ 2,00 no segundo dia, R$ 4,00 no terceiro dia, R$ 8,00 no quarto dia, e assim até o vigésimo primeiro dia 1º dia 10000 1 2º dia 10000 2 3º dia 10000 4 4º dia 10000 8 5º dia ... 20º dia 21º dia Total b) Natan por ser esperto, preferiu usar uma expressão algébrica no primeiro caso para descobrir o total que ganharia. Qual é essa expressão? c) Para o segundo caso, ele teve que pensar um pouco mais, para descobrir o total que ele ganharia. Primeiro ele usou uma expressão algébrica para descobrir o que ele ganharia no 21º dia, dado que em cada dia o valor era diferente. Depois, ele usou outra expressão algébrica para encontrar o total de seu ganho, se escolhesse a segunda opção. Nessas situações, quais foram às expressões encontradas? d) Em relação ao texto e a atividade, o que você já sabia? e) Em relação ao texto e a atividade, o que você aprendeu? F) Em relação ao texto e a atividade O que foi mais fácil e, o mais difícil? CONSIDERAÇÕES PARCIAIS A receptividade em relação à estratégia metodológica e aos textos trabalhados, foi excepcional, muito maior do que a esperada. Os pais, assim como os alunos, entenderam a XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 proposta e a maioria deles se dedicou, porém, a responsabilidade de alguns pais deixa a desejar, visto que, alguns alunos (a minoria) foram infrequentes, o que acabou por acarretar prejuízos ao projeto e à aprendizagem dos alunos frequentes, pois as atividades foram previstas para serem trabalhadas em grupo. O aproveitamento dos alunos que efetivamente estão participando do projeto é visível, pois suas dificuldades estão diminuindo à medida que as atividades avançam. O mais notável é que este aproveitamento não é só referente ao projeto, mas, também em sala de aula “normal”, fato relatado, pelos professores de Matemática desses alunos, no conselho de classe, em função do resultado obtido por eles na avaliação. Apesar de que não foram todos os participantes do projeto que alcançaram melhores notas nas provas (a maioria conseguiu), todos perceberam a aplicação das expressões algébricas em problemas cotidianos e entenderam a função da incógnita, alterando sua maneira de encarar as aulas de Matemática. Foi possível perceber que, para estabelecer um padrão a partir da Aritmética (sequência numérica) nas sentenças abertas os alunos encontram mais dificuldade do que nas sentenças fechadas. O que já era de esperar. Mas, agora eles já conseguem estabelecer padrões e determinar expressões algébricas, mas com ressalva, pois, os padrões que para serem estabelecidos necessitam de expoentes, eles necessitam de uma mediação mais frequente do professor. Ficou evidente a compreensão por eles progressivamente alcançada da passagem da linguagem natural para a linguagem simbólica. No texto QUIZ havia a expectativa de que os alunos optassem pelo maior número, o quê o induzirá ao erro, e que só perceberiam o erro, após, realizar os cálculos numéricos, porém, eles acertaram a resposta e confirmaram fazendo os cálculos. Com as situações descritas nos textos, eles perceberam que sentença fechada é uma equação. Isso, porque a sequência do conteúdo algébrico foi trabalhada diferente do livro didático, começamos com as expressões algébricas e depois a equação, a qual é fundamental na resolução de situação problema, o qual exige a passagem da linguagem natural para a linguagem simbólica (signos) e, a compreensão das sentenças abertas e fechadas auxilia muito nesse momento. Trabalhar com textos levou os alunos a se interessam pela a história e despertou o interesse em solucionar os problemas. A discussão em grupo, assim como a redação coletiva da resolução final foram fundamentais para o desenrolar do projeto, pois, permitiram a XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 compreensão do problema, a síntese dos resultados e a formalização, pelo professor, do conhecimento construído. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria José P. M. de.; BRITTO, Luiz Percival Leme (Orgs.). Ensino da ciência, leitura e literatura. 1ª ed. Campinas, SP: Ed. CEDES, 1997. BONADIMAN, Adriana. Álgebra no ensino fundamental: produzindo significados para as operações básicas com expressões algébricas. Porto Alegre, 2007. Dissertação de mestrado apresentada à UFRGS. Disponível em www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/11228/000609939.pdf?sequence=1, site acessado em 20 de junho de 2013. BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL, Ministério da educação. 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