UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Práticas letivas promotoras da regulação da aprendizagem matemática pelos alunos Paulo Jorge Ribeiro Dias DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO Didática da Matemática 2013 UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Práticas letivas promotoras da regulação da aprendizagem matemática pelos alunos Paulo Jorge Ribeiro Dias DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO Didática da Matemática Tese orientada pela Professora Doutora Mª Leonor de Almeida Domingues dos Santos 2013 AGRADECIMENTOS À Professora Doutora Leonor Santos, pela confiança, pela disponibilidade e pelo interesse manifestados na orientação do estudo e pelo incentivo que me concedeu. Aos professores e aos alunos participantes, pelo entusiasmo e disponibilidade incondicional com que trabalharam. À minha mulher e aos meus filhos, pelo estímulo e pela paciência com que aceitaram a privação das nossas horas de convívio. i ii RESUMO O propósito deste estudo era compreender e aprofundar práticas avaliativas de professores de Matemática do ensino secundário que contribuíssem para a promoção de uma atitude autorreguladora do aluno, face à sua aprendizagem matemática. A atenção dada à autorregulação da aprendizagem matemática justifica-se pela relevância que apresenta na aprendizagem, em particular, no sucesso nas tarefas matemáticas que o professor propõe. Para tal, foram formuladas as seguintes questões: Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? De que modo as práticas avaliativas desenvolvidas contribuem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas? Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? Como procuram ultrapassá-los? O contexto de trabalho de natureza colaborativa, durante dois anos letivos, consistiu na planificação, concretização e reflexão de duas práticas avaliativas: a interação professor – alunos na aula e o relatório escrito em duas fases. Numa perspetiva interpretativa, a metodologia qualitativa permitiu aceder à realidade observada, na qual participei. Foram estudados dois professores de Matemática, como estudo de casos. A recolha de dados incluiu a observação de sessões de trabalho e de aulas, a entrevista e a recolha documental. A análise de dados decorreu de forma integrativa, analítica, criadora e intuitiva. Das principais conclusões, destaco: nas práticas avaliativas verificam-se evoluções para uma perspetiva de avaliação centrada no aluno, assumindo uma abrangência que ultrapassa a autoavaliação; a autorregulação desenvolve-se ao longo do tempo através de práticas avaliativas que privilegiam a avaliação formativa; não se identificam diferenças significativas na promoção da autorregulação em Trigonometria, em Geometria ou em Funções; os professores apresentam dificuldades na atribuição de feedback e na sua diversificação; o recurso a uma tabela de descritores ajuda à responsabilização dos alunos e favorece a atribuição de feedback. Palavras-chave: práticas avaliativas; autorregulação; aprendizagem matemática; ensino secundário e trabalho colaborativo. iii iv ABSTRACT The purpose of this study was to understand and deepen the assessment practices of Mathematics teachers at a high school level that would contribute to the promotion of an auto-regulatory attitude from students, when dealing with learning mathematics. The focus on the development of self-regulation of learning mathematics is justified by the relevance that has on learning, particularly in success in mathematical tasks that the teacher proposes. This study was guided by questions: What is the nature and the characteristics of the assessment practices of Mathematics teachers, crafted in a collaborative nature project, seeking to promote self-regulated learning? In what way do Mathematics teachers seek to integrate these assessment practices to promote selfregulation daily in classrooms? In what way do, those assessment practices, contribute to promote self-regulation in the learning of Mathematics? What sort of constraints do Mathematics teachers find in promoting self-regulatory attitudes of Mathematics learning? How can these be overcome? In a work context of collaborative nature, over two years of teaching and consisting of planning, execution and reflection of two assessment practices: the teacher - student interaction in class and in the two phased written report. In an interpretative perspective, the qualitative methodology allowed access to the observed reality, in which I took part in. Two Mathematics teachers were used as case studies. Data collecting included observation, work sessions and classes, interview and document gathering. The data analysis was held in an integrative, analytic, creative and intuitive way. The main findings, highlight: in assessment practices there are developments for a prospective student-centered assessment, assuming a scope that goes beyond the self-assessment; not identify significant differences in the promotion of self-regulation in Trigonometry, Geometry or Functions; self-regulation develops up over time through assessment practices that focus on formative assessment; teachers have difficulties in assigning feedback and diversification; the use of a table of descriptors aid accountability and fosters students' assignment feedback. Key words: assessment practices; self-regulation; mathematics learning; secondary school; collaborative work. v vi ÍNDICE AGRADECIMENTOS................................................................................................... i RESUMO .................................................................................................................... iii ABSTRACT ................................................................................................................. v ÍNDICE ...................................................................................................................... vii ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................ xi ÍNDICE DE QUADROS............................................................................................ xiii CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................... 1 Motivações pessoais .................................................................................................. 1 Problema e questões do estudo .................................................................................. 4 Enquadramento do problema ..................................................................................... 5 Organização do estudo .............................................................................................. 8 CAPÍTULO 2 – PRÁTICA LETIVA NO ENSINO DA MATEMÁTICA ................... 11 Planificação ............................................................................................................ 11 Propósitos na construção e/ou seleção das tarefas ................................................ 11 Seleção de estratégias de avaliação ...................................................................... 16 Síntese ................................................................................................................ 19 Concretização na sala de aula .................................................................................. 20 Comunicação na aula de Matemática ................................................................... 20 Métodos de trabalho ............................................................................................ 24 Processos na atividade da aula de Matemática ..................................................... 27 Avaliação integrada no processo ensino aprendizagem ........................................ 30 Síntese ................................................................................................................ 32 Prática reflexiva e colaboração ................................................................................ 33 O professor como praticante reflexivo ................................................................. 33 O conceito de colaboração................................................................................... 36 Síntese ................................................................................................................ 39 CAPÍTULO 3 – A AVALIAÇÃO REGULADORA EM MATEMÁTICA .................. 41 O conceito de avaliação reguladora em Matemática ................................................ 41 Significado e adequação à aprendizagem ............................................................. 41 Natureza .............................................................................................................. 44 vii Princípios e constrangimentos ............................................................................. 47 Funções ............................................................................................................... 51 Autorregulação.................................................................................................... 53 Avaliação, ensino e aprendizagem ....................................................................... 59 Síntese ................................................................................................................ 62 Práticas avaliativas na sala de aula .......................................................................... 63 A observação ...................................................................................................... 63 Explicitação/negociação dos critérios de avaliação .............................................. 64 Abordagem positiva do erro ................................................................................ 65 Interações professor – aluno ................................................................................ 66 Refletir antes de agir ........................................................................................... 68 Feedback ............................................................................................................. 69 Recurso a instrumentos alternativos para a avaliação ........................................... 72 Síntese ................................................................................................................ 73 CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA ............................................................................. 77 Opções Metodológicas ............................................................................................ 78 Natureza do estudo .............................................................................................. 78 Design do estudo ................................................................................................. 79 Papel do investigador .......................................................................................... 79 Contexto de trabalho de natureza colaborativa ..................................................... 81 Participantes............................................................................................................ 84 A escola .............................................................................................................. 84 Os professores ..................................................................................................... 85 O professor José .............................................................................................. 86 A professora Maria .......................................................................................... 87 Os alunos ............................................................................................................ 88 Recolha de dados .................................................................................................... 90 Observação ......................................................................................................... 90 Entrevista ............................................................................................................ 94 Recolha documental ............................................................................................ 95 Análise de dados ..................................................................................................... 97 Procedimento ...................................................................................................... 97 Categorias ........................................................................................................... 98 viii CAPÍTULO 5 – O TRABALHO DE NATUREZA COLABORATIVA ................... 105 O grupo ................................................................................................................. 105 Constituição ...................................................................................................... 105 Caracterização dos professores .......................................................................... 106 O trabalho do grupo .............................................................................................. 107 Motivação ......................................................................................................... 107 Organização e funcionamento ........................................................................... 108 Os temas tratados .............................................................................................. 111 O trabalho realizado .......................................................................................... 114 Reflexão do grupo sobre o projeto ..................................................................... 130 CAPÍTULO 6 – JOSÉ .............................................................................................. 135 Apresentação......................................................................................................... 135 Experiência profissional .................................................................................... 136 Práticas avaliativas ................................................................................................ 143 A interação professor - alunos na aula (IP-A) .................................................... 144 Antes da aula ................................................................................................. 144 Durante a aula ............................................................................................... 153 Depois da aula ............................................................................................... 176 O relatório escrito em duas fases (RE) ............................................................... 182 Antes da aula ................................................................................................. 182 Durante a aula ............................................................................................... 192 Depois da aula ............................................................................................... 214 Constrangimentos ................................................................................................. 219 Síntese .................................................................................................................. 222 CAPÍTULO 7 – MARIA .......................................................................................... 225 Apresentação......................................................................................................... 225 Experiência profissional .................................................................................... 226 Práticas avaliativas ................................................................................................ 233 A interação professor - alunos na aula (IP-A) .................................................... 234 Antes da aula ................................................................................................. 234 Durante a aula ............................................................................................... 242 Depois da aula ............................................................................................... 264 O relatório escrito em duas fases (RE) ............................................................... 271 Antes da aula ................................................................................................. 271 Durante a aula ............................................................................................... 278 ix Depois da aula ............................................................................................... 291 Constrangimentos ................................................................................................. 294 Síntese .................................................................................................................. 297 CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES .............................................................................. 299 Síntese do estudo................................................................................................... 299 Conclusões do estudo ............................................................................................ 302 Natureza e características das práticas avaliativas promotoras da autorregulação da aprendizagem Matemática ................................................................................. 302 Integração ensino, aprendizagem e avaliação na aula de Matemática ................. 310 Comportamento autorregulado dos alunos em Matemática ................................ 314 Constrangimentos à promoção da autorregulação e formas de os ultrapassar ..... 318 Considerações finais.............................................................................................. 322 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 325 LEGISLAÇÃO REFERIDA ..................................................................................... 343 ANEXOS .................................................................................................................. 345 Anexo 01: Grelha de observação de aula ............................................................... 347 Anexo 02: Guião da primeira entrevista a professores ........................................... 350 Anexo 03: Guião da segunda entrevista a professores ............................................ 352 Anexo 04: Programação da 2.ª fase do trabalho de natureza colaborativa .............. 353 Anexo 05: Tarefa T1 – Triângulos......................................................................... 354 Anexo 06: Tarefa T2 – Eratóstenes........................................................................ 355 Anexo 07: Tarefa T3 – Periélio (Terra) ................................................................. 356 Anexo 08: Tarefa T4 – Círculo trigonométrico ...................................................... 357 Anexo 09: Tarefa T5 – Cone ................................................................................. 358 Anexo 10: Tarefa T6 – A Maria vai sempre de Carro ............................................ 359 Anexo 11: Tarefa T7 – Escrever no computador.................................................... 360 Anexo 12: Tarefa T8 – Nódoa circular .................................................................. 361 Anexo 13: Guião analisado pelo grupo de trabalho colaborativo............................ 362 x ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1: JORNAL "PÚBLICO" DE 27/08/2001 .............................................................. 50 FIGURA 2: 1.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T2 ..................................................... 192 FIGURA 3: 2.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T2 ..................................................... 193 FIGURA 4: 1.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T2 – ITEM 4. ...................................... 193 FIGURA 5: 2.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T2 – ITEM 4. ...................................... 194 FIGURA 6: 1.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T4 – ITEM 1.1., COM FEEDBACK .......... 196 FIGURA 7: 1.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T4 – ITENS 2.1. E 2.2., COM FEEDBACK 197 FIGURA 8: 2.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T4 - ITENS 2.1. E 2.2........................... 197 FIGURA 9: 2.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T4 - ITEM 1.1. .................................... 198 FIGURA 10: 1.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T7 ................................................... 198 FIGURA 11: 2.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T7 ................................................... 199 FIGURA 12: 1.ª FASE DO PRODUTO DE RUTE NA T7....................................................... 200 FIGURA 13: 2.ª FASE DO PRODUTO DE RUTE NA T7....................................................... 200 FIGURA 14: 1.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T2- ITEM 5. ...................................... 201 FIGURA 15: 2.ª FASE DO PRODUTO DE MAGDA NA T3 ................................................... 202 FIGURA 16: 1.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T4, COM FEEDBACK ......................... 203 FIGURA 17: 1.ª FASE DO PRODUTO DE RUTE NA T2- ITEM 4. ......................................... 204 FIGURA 18: 2.ª FASE DO PRODUTO DE RUTE NA T2- ITEM 4. ......................................... 204 FIGURA 19: 1.ª FASE DO PRODUTO DE ALEXANDRE NA T4 ............................................ 205 FIGURA 20: 2.ª FASE DO PRODUTO DE ALEXANDRE NA T4 ............................................ 206 FIGURA 21: 1.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T7, COM FEEDBACK ......................... 207 FIGURA 22: 2.ª FASE DO PRODUTO DE DAVIDE NA T7 ................................................... 207 FIGURA 23: 1.ª FASE DO PRODUTO DE CARLOS E JOANA NA T1 ..................................... 263 FIGURA 24: 1.ª FASE DO PRODUTO DE ANDREIA E PATRÍCIA NA T1 ............................... 263 FIGURA 25: 1.ª FASE DO PRODUTO DE CARLOS E JOANA NA T6 ..................................... 263 FIGURA 26: 1.ª FASE DO PRODUTO DE ANDREIA NA T2 ................................................. 279 FIGURA 27: 1.ª FASE DO PRODUTO DE CARLOS NA T2 .................................................. 280 FIGURA 28: 2.ª FASE DO PRODUTO DE CARLOS NA T2 .................................................. 280 FIGURA 29: 1.ª FASE DO PRODUTO DE JOANA NA T3 ..................................................... 281 FIGURA 30: 1.ª FASE DO PRODUTO DE PATRÍCIA NA T6................................................. 282 FIGURA 31: 2.ª FASE DO PRODUTO DE PATRÍCIA NA T6................................................. 282 xi FIGURA 32: 1.ª FASE DO PRODUTO DE ANDREIA NA T6 ................................................. 284 FIGURA 33: 2.ª FASE DO PRODUTO DE ANDREIA NA T6 ................................................. 284 FIGURA 34: 2.ª FASE DO PRODUTO DE JOANA NA T2 ..................................................... 285 FIGURA 35: 1.ª FASE DO PRODUTO DE CARLOS NA T3 .................................................. 286 FIGURA 36: 1.ª FASE DO PRODUTO DE PATRÍCIA NA T3................................................. 286 FIGURA 37: 2.ª FASE DO PRODUTO DE PATRÍCIA NA T3................................................. 287 xii ÍNDICE DE QUADROS QUADRO 1: FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO FORMATIVA ....................................................... 52 QUADRO 2: CARATERÍSTICAS DE UM MODELO AVALIATIVO CENTRADO NO ALUNO ......... 66 QUADRO 3: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS PROFESSORES - CASOS ..................................... 87 QUADRO 4: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS ALUNOS DO 10.º P ........................................... 89 QUADRO 5: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS ALUNOS DO 10.º A .......................................... 90 QUADRO 6: CALENDARIZAÇÃO DAS AULAS OBSERVADAS .............................................. 91 QUADRO 7: AULAS ASSISTIDAS E ANALISADAS DE CADA PROFESSOR E RESPETIVAS TAREFAS .............................................................................................................. 91 QUADRO 8: QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E GRELHA DE OBSERVAÇÃO DE AULAS ........... 92 QUADRO 9: QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E ASPETOS OBSERVADOS NAS SESSÕES DE TRABALHO ........................................................................................................... 94 QUADRO 10: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO ANTES DA AULA ........................ 100 QUADRO 11: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DURANTE A AULA (IP-A) ........... 102 QUADRO 12: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DURANTE A AULA (RE) ............. 102 QUADRO 13: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DEPOIS DA AULA ....................... 103 QUADRO 14: TRABALHO DESENVOLVIDO PARA A 1.ª FASE DE TRABALHO DE NATUREZA COLABORATIVA.................................................................................................. 110 QUADRO 15: TRABALHO DESENVOLVIDO PARA AS 2.ª E 3.ª FASES DE TRABALHO DE NATUREZA COLABORATIVA ................................................................................ 112 QUADRO 16: CARATERIZAÇÃO DAS TAREFAS - IMPROVE .......................................... 121 QUADRO 17: RESUMO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO IMPROVE ÀS TAREFAS ................. 122 QUADRO 18: CLASSIFICAÇÃO DAS TAREFAS QUANTO À SUA NATUREZA ....................... 124 QUADRO 19: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM IP-A (JOSÉ) .......... 153 QUADRO 20: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM IP-A ............................................................................................................. 169 QUADRO 21: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DO DESEMPENHO EM IP-A........................................................................................ 175 QUADRO 22: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA IP-A (JOSÉ) .......................... 181 QUADRO 23: RUBRICA PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE MATEMÁTICA NÃO ESTRUTURADOS.................................................................................................. 185 QUADRO 24: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM RE (JOSÉ)............. 191 xiii QUADRO 25: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM RE ............................................................................................................... 208 Q UADRO 26: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DO DESEMPENHO EM RE ......................................................................................... 214 QUADRO 27: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA DE FEEDBACK ESCRITO DE JOSÉ .......................................................................................................................... 218 QUADRO 28: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM IP-A (MARIA) ...... 242 QUADRO 29: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM IP-A ............................................................................................. 256 QUADRO 30: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DO DESEMPENHO EM IP-A........................................................................................ 264 QUADRO 31: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA IP-A (MARIA) ....................... 270 QUADRO 32: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM RE (MARIA) ......... 278 QUADRO 33: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM RE ............................................................................................... 287 QUADRO 34: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DO DESEMPENHO EM RE .......................................................................................... 291 QUADRO 35: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA DE FEEDBACK ESCRITO DE MARIA .......................................................................................................................... 294 QUADRO 36: CARATERÍSTICAS DAS PRÁTICAS DE JOSÉ E MARIA EM IP-A (SÍNTESE)..... 305 QUADRO 37: CARATERÍSTICAS DAS PRÁTICAS DE JOSÉ E MARIA EM RE (SÍNTESE) ....... 308 xiv CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Motivações pessoais A minha inquietude acerca dos processos, recursos, erros e dificuldades com que os alunos se confrontam no processo de aprendizagem e das consequências que as mesmas têm para o seu percurso escolar, levaram-me a refletir sobre a avaliação no ensino secundário, em Matemática, e a procurar aprofundar os meus conhecimentos acerca desta problemática. Ao questionar a minha prática, como professor de Matemática do ensino secundário, levou-me a procurar explicações e a refletir sobre a natureza dos problemas para compreender e mudar. A minha necessidade de conhecimento advém de procurar incluir na avaliação os progressos que verifico nos alunos, ao nível das aprendizagens, a compreensão das dificuldades e dos raciocínios erróneos com que os alunos se confrontam e a valorização dos conhecimentos, capacidades e atitudes transversais que os alunos adquirem ao longo do seu percurso escolar e de vida. Enquadrando-me numa perspetiva de que o conhecimento sobre os diferentes aspetos do processo de aprendizagem ajudam o aluno a tornar-se num elemento autónomo e impulsionador do seu próprio conhecimento, procurei saber mais para concretizar uma avaliação reguladora eficaz no favorecimento da aprendizagem. Mas, para tal, era necessário investigar os processos e as interações que os alunos desenvolvem quando se confrontam com as diferentes tarefas matemáticas. Reforçar o papel do aluno na aula de Matemática passa, necessariamente, por ajustar as formas de avaliação às experiências de aprendizagem. Na investigação que realizei para obter o grau de mestre estudei os processos que os alunos, do ensino secundário, usam como forma de dar resposta às dificuldades, obstáculos e aos raciocínios erróneos com que se confrontam nas investigações matemáticas. Nesse trabalho, relato os processos de interpretação, os processos de desenvolvimento, os recursos, a função dos erros e a reflexão que os alunos do ensino secundário desenvolvem quando se confrontam com investigações matemáticas, num contexto de sala de aula. Esse estudo, proporcionou-me várias aprendizagens ao nível do conhecimento das formas de enfrentar e analisar situações que se colocam na sala de 1 aula, dos contextos criados para a aprendizagem e avaliação, do caráter único, incerto e de conflito do processo ensino aprendizagem e da necessidade de assumir valores, opções e estratégias de ação com vista a resolver problemas. Ainda, considero que foi uma oportunidade de contribuir para o conhecimento da problemática da avaliação e para a compreensão de que os professores de Matemática, no desenvolvimento da sua atividade, têm um papel determinante no seu próprio desenvolvimento profissional. Na procura de um maior equilíbrio entre a avaliação com as funções de certificação e de regulação, em 2005, preconizava o reforço do papel do aluno no processo ensino aprendizagem e, necessariamente, o ajuste das formas de avaliação às experiências de aprendizagem: É sabido que o currículo português tem evoluído no sentido de valorizar a integração da avaliação no processo ensino aprendizagem, em particular da avaliação formativa, mas é necessário investigar para saber até que ponto as orientações curriculares emanadas pelos programas de Matemática A, Matemática B e Matemática Aplicada às Ciências Sociais, que entraram em vigor em setembro de 2004, estão a ser concretizadas. Sem compreender a forma como os professores percecionam as orientações curriculares, como as colocam em prática e como ultrapassam as dificuldades que surgem na concretização da avaliação reguladora não é possível intervir no processo ensino aprendizagem. (Dias, 2005, p. 225) Partindo desse pressuposto, em que os alunos podem em qualquer momento melhorar a sua eficácia matemática, e que esse processo passa por uma autoconsciência de atuação do próprio aluno, preconizei a minha intervenção através do projeto AREA1, que servisse a autorregulação das aprendizagens. Para capacitar os alunos é muito importante a partilha de opiniões, e ouvir a opinião de professores exteriores mas no mesmo contexto (Boavida, 2005; Stein & Smith, 1998). Essa foi uma das vantagens de fazer parte da equipa do projeto AREA. Usufrui da possibilidade de contactar com professores e investigadores dos vários níveis de ensino. Esse trabalho colaborativo permitiu-me conhecer as dificuldades que os professores e os alunos sentem, numa faixa etária diferente ou na mesma daquela em que leciono, e confrontar as dificuldades desses professores com as que eu encontro. Também, procurei saber a opinião das pessoas sobre as minhas dificuldades, o que me ajudou a renovar as metodologias que podem contribuir para ajudar os alunos a ultrapassar dificuldades, obstáculos e 1 Avaliação Reguladora PTDC/CED/64970/2006. no Ensino e Aprendizagem: 2 projeto financiado pela FCT, nº raciocínios erróneos – a autorregularem-se. As opiniões diversificadas serviram para aprofundar o meu conhecimento sobre os dilemas que enfrento e, também, para compreender a natureza dos problemas dos professores e dos alunos na aula de Matemática. Outras vertentes interessantes do projeto AREA foram a possibilidade que os professores tinham de aceder a bibliografia sobre a temática da regulação da aprendizagem e estudar a aplicação de práticas avaliativas. As atividades de reflexão e investigação, em que me envolvi, podiam contemplar o saber teórico, mas para o aprofundar e encontrar formas de o tornar operacional foi necessário equacionar o retorno da sua aplicação no contexto da sala de aula. Hoje, acredito de forma fundamentada que a avaliação reguladora fornece ao professor e aos alunos o nível de concretização das aprendizagens e o que é necessário fazer para corrigi-las ou melhorá-las. Permite conhecer os saberes, as capacidades e as atitudes, fazendo o ponto da situação e tornando conscientes as diferenças entre os desempenhos dos alunos e os critérios de avaliação, para que se possam aproximar (Andrade & Valtcheva, 2009). Levar à prática a concretização da avaliação reguladora, passa por ajustar de forma mais sistemática e individualizada as intervenções do professor e as situações didáticas, de forma a rentabilizar as aprendizagens. Isso exige que a avaliação usada durante o processo ensino aprendizagem seja orientada para a regulação, na assunção de que todos os alunos aprendem, embora de uma forma diferenciada. Privilegiando a vertente formativa da avaliação, o conhecimento dos diversos processos que os alunos usam na interpretação e desenvolvimento dos recursos que procuram quando sentem dificuldades, a função que atribuem aos raciocínios erróneos e como refletem sobre a aprendizagem matemática e reorientam o seu trabalho com vista ao sucesso, autorregulando as aprendizagens, levou-me a procurar, nesta área, uma formação aprofundada ao nível da investigação em educação. Assim, tendo em conta as minhas reflexões, decidi, desenvolver em contexto de trabalho colaborativo, este estudo para procurar compreender as práticas letivas dos professores de Matemática e a forma como se relacionam com o desenvolvimento da capacidade de autorregulação da aprendizagem da Matemática no 11.º ano, em Trigonometria, Geometria e Funções. Um maior conhecimento nos modos de avaliação autorreguladora das aprendizagens matemáticas contribui para um maior conhecimento acerca da didática da Matemática, da prática letiva dos professores e da compreensão das atitudes dos alunos. 3 Problema e questões do estudo Com este estudo analiso para compreender práticas avaliativas de professores de Matemática do ensino secundário que contribuam para a promoção de uma atitude autorreguladora do aluno, face à sua aprendizagem Matemática. O enfoque no desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem matemática justifica-se pela relevância que apresenta para a aprendizagem, em particular, no sucesso nas tarefas matemáticas que o professor propõe (Santos, 2002; Schunk, 2005). Trata-se da capacidade do aluno avaliar a execução de uma tarefa e fazer correções quando necessário. É um conjunto de ações, que o aluno desenvolve, para efetuar a monitorização do seu trabalho (Schunk & Zimmerman, 1998). Inclui a autoavaliação, por ultrapassar uma apreciação realizada tendo em conta um conjunto de critérios implícitos ou explícitos, e por dar atenção ao envolvimento do aluno nas tarefas, à compreensão, à eficácia, e à busca de recursos para a melhoria das aprendizagens. Por outras palavras, a autorregulação é todo o processo em que o aluno, após o estabelecimento de metas que interagem com as suas expectativas, desenvolve as estratégias necessárias para alcançá-las, criando condições para que a sua aprendizagem se efetive (Bronson, 2000; Pintrich, 2000; Simão, 2002, 2005, 2006; Zimmerman, 2000). Para essa promoção, dois professores (casos) e eu (investigador) envolvemo-nos num contexto de trabalho de natureza colaborativa. A partir da seleção de tarefas e de práticas avaliativas, que incluem a sua planificação, concretização e reflexão, desenvolvi o estudo tendo em conta as seguintes questões orientadoras: 1. Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? 2. De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? 3. De que modo as práticas avaliativas desenvolvidas contribuem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas? 4. Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? ultrapassá-los? 4 Como procuram Enquadramento do problema Segundo Ponte (2002a) o ensino da Matemática desenvolve-se em torno de um triângulo cujos vértices são a Matemática, o aluno e o professor. Este triângulo não é estático nem existe no vazio. Existe num dado contexto social e institucional (a sociedade, a comunidade a que o aluno pertence com a sua cultura própria, a instituição escolar…) e tem a sua dinâmica associada aos objetivos curriculares visados pelo professor. Por estes e outros fatores, o ensino da Matemática depende muito da prática letiva que o professor promove e, em consequência disso, da postura do aluno perante a aprendizagem da matemática. O professor interpreta o currículo, planifica a sua concretização, pesquisa e constrói tarefas, implementa-as e avalia, à luz das suas convicções e daquilo que são os seus atributos profissionais. Mas, na dinâmica da aula, há outros fatores a considerar, entre eles, os que estão relacionados com os alunos, as atitudes em relação à Matemática, os conhecimentos, as capacidades, as experiências de trabalho matemático e as vontades de aprender Matemática. O estudo da prática de ensino do professor de Matemática ganha relevância na procura de entendimento para a sua atuação na sala de aula (Ponte & Chapman, 2006). Para além dos conhecimentos e crenças, o conhecimento do sentido dado às decisões que toma contribui para aprofundar a compreensão sobre o modo como o professor de Matemática atua na sala de aula. As práticas de ensino da Matemática são descritas à luz da tentativa de conciliação das abordagens de cunho cognitivista e de cunho sociocultural, tendo em conta os motivos do professor, o contexto social e o contexto educativo, o contexto turma, o conhecimento profissional do professor, o saber-fazer do professor e a capacidade reflexiva do professor (Ponte, Quaresma & Branco, 2012). Na prática de ensino desenvolvida pelo professor, a prática avaliativa assume especial relevância. É através da avaliação que o professor recolhe a informação que lhe permite apreciar o progresso dos alunos na disciplina e, em particular, diagnosticar problemas e insuficiências no desenvolvimento da aprendizagem e no seu trabalho, verificando da necessidade (ou não) de alterar a sua planificação e a sua ação didática (Pinto & Santos, 2006). A avaliação deve, por isso, fornecer informações relevantes e substantivas sobre o estado das aprendizagens dos alunos, no sentido de ajudar o professor a gerir o processo ensino aprendizagem (Stiggins, 2004). Trata-se de uma perspetiva de avaliação ao serviço da aprendizagem (Keitel, 2005; Santos, 2008), isto é, 5 uma avaliação que não se identificando com uma medida, seja sobretudo encarada como uma interação social (Pinto & Santos, 2006). A avaliação faz parte dos processos de regulação do ensino e da aprendizagem e, por isso, denominada por avaliação reguladora, por fornecer ao professor e aos alunos informação relevante sobre o nível de concretização das aprendizagens. Assim, a prática avaliativa deverá melhorar o ensino e a aprendizagem de diversas maneiras: as tarefas utilizadas na avaliação poderão transmitir aos alunos algumas informações sobre que tipo de conhecimento e desempenho matemático é valorizado (processo de regulação); os comentários às tarefas de avaliação ajudarão os alunos na determinação dos objetivos, assumindo a responsabilidade da sua própria aprendizagem e aprendendo de forma mais independente (processo de feedback); as discussões de turma, onde os alunos apresentam e avaliam diferentes tipos de resolução de problemas complexos, poderão estimular a sua perceção da diferença entre uma resposta excelente e uma medíocre (processo de regulação); e através de tarefas adequadas e da discussão de critérios de avaliação poderá ser desenvolvida a autoavaliação (processo de feedback) (Lew et al., 2010; Santos, 2002; Rust, Price & Donovan, 2003; NCTM, 2007), considerando a autoavaliação como uma reflexão sobre o trabalho desenvolvido, baseada em critérios implícitos ou explícitos, e que toma em linha de conta os referenciais envolvidos para a concretização da tarefa. Nesse sentido, o aluno deve ser envolvido na sua própria avaliação como sujeito ativo de forma a tornar-se consciente e a gerir a representação que tem dos conhecimentos e capacidades a desenvolver. Não é suficiente avaliar se os alunos dominam factos e algoritmos ou a listagem de atitudes, capacidades e conhecimentos preconizadas nos currículos e programas. É necessário que a avaliação reflita o ensino e, nesse sentido, as questões têm de ser construídas para que, quando se analisam as respostas dos alunos se tenha uma ideia de como eles organizam a informação (Price et al., 2010). A atribuição de uma maior visibilidade ao papel que o aluno tem na construção do próprio conhecimento passa por o professor dar uma atenção especial aos processos de feedback, de regulação, de autoavaliação e de autorregulação das aprendizagens (Lew et al., 2010; Santos, 2002). A regulação da aprendizagem nas tarefas matemáticas, entendida como autorregulação quando é efetuada pelo próprio, refere-se ao envolvimento do aluno nas tarefas, promovendo a compreensão, a eficácia, e a busca dos recursos necessários à construção de respostas adequadas. Essas aprendizagens podem ser influenciadas por 6 fatores externos ao processo ensino aprendizagem. Em determinados contextos de trabalho, os professores podem promover o desenvolvimento de estratégias de resposta, estimular as condições metacognitivas do aluno, as habilidades e as motivações. Tanto a metacognição, referida por Santos (2002), como a autorregulação, destacada por Zimmerman (2000) e Schunk (2005), são processos que promovem a aprendizagem matemática. Abrangem uma ação do aluno suscitada a partir das intenções e dos objetivos da prática letiva, dos meios usados e do seu alcance. Uma forma rica de a desenvolver é permitir que o aluno aperfeiçoe uma primeira versão de um trabalho realizado, permitindo-lhe assim repensar a situação. Para que esse trabalho possa ser mais formativo, o professor deverá comentar uma primeira versão – feedback. Assim, o feedback é uma componente central para essa avaliação e para a promoção da autorregulação das aprendizagens (Wiliam, 1999; Hattie & Timperley, 2007; Semana & Santos, 2008; Santos et al., 2010). Mas, importa saber o que caracteriza esse processo. O professor tem um papel na criação de contextos que facilitem, nos seus alunos, o desenvolvimento de atitudes de autorregulação (Santos, 2002). Para além do incentivo à autorregulação (Brookhart et al., 2004), existem outras práticas que podem contribuir para a concretização destas intenções (processos de regulação e de feedback): a abordagem positiva do erro (Hadji, 1994); o questionamento (Mason, 2000; Santos, 2002; Roullier, 2004); a explicitação/negociação de critérios de avaliação (Alves, 2004; Bobb-Wolff, 2002); o recurso a instrumentos alternativos de avaliação (Santos, 2005; Santos & Menino, 2004); o feedback e a escrita avaliativa (Wiliam, 1999; Hattie & Timperley, 2007; Semana & Santos, 2007); e o refletir antes de agir (Dias & Santos, 2008a). Em Portugal, não existe uma grande tradição no desenvolvimento de estudos da autorregulação das aprendizagens. Mas, existe evidência da importância que o processo tem para a prática de ensino e aprendizagem (Simão, 2002; 2005; Santos et al.; 2010; Rosário, Núñez, & González-Pienda, 2006). A literatura, quer portuguesa (Santos, 2002), quer estrangeira (Schunk, 2005), sugere que o sucesso nas tarefas que o professor propõe passa, assim, pela capacidade de, usando os espaços formais e informais de aprendizagem, promover nos alunos a autonomia, a eficácia e a capacidade de trabalharem por si mesmos, por outras palavras, promover a aquisição, a utilização e o desenvolvimento de estratégias de autorregulação da aprendizagem. Black e Wiliam (1998), Gardner (2006) e Fernandes (2006a) referem que a avaliação pedagógica, em 7 que se destaca a preocupação com o funcionamento e a regulação dos processos de interação pedagógica e de comunicação que se estabelecem nas salas de aula, é determinante na melhoria dos resultados dos alunos. A prática avaliativa inclui a ação do professor para a recolha de informação para apreciar o desenvolvimento da aprendizagem, e para averiguar da existência de problemas e insuficiências no seu trabalho. Essa prática inclui planificação, concretização e reflexão por ser necessário recolher informação útil para o professor, e para o aluno, e ser necessário equacionar alterações e adequações na ação didática. É uma avaliação reguladora do ensino e da aprendizagem. Os professores podem usar processos de regulação e de feedback. Para os processos de regulação contribui, por exemplo, a seleção das tarefas, a organização de formas de trabalhos, o estímulo às estratégias individuais e o apelo à articulação de ideias próprias pelos alunos. Dos processos de feedback fazem parte os critérios de avaliação, as tabelas de descritores, o questionamento, e a escrita avaliativa, entre outros. Mas, quando essa monitorização da aprendizagem é concretizada pelo próprio aluno – autorregulação – inclui-se a reflexão sobre o trabalho desenvolvido e as expectativas e estratégias desenvolvidas para alterar um determinado estádio. Organização do estudo Para compreender as práticas avaliativas dos professores de Matemática que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática, dos alunos, apresenta-se este trabalho organizado em oito capítulos. Para além do capítulo 1, que introduz o estudo, no Capítulo 2, destacam-se os pressupostos teóricos que suportam as práticas de ensino do professor de Matemática, em que se descrevem os motivos do professor contextualizados na planificação, o contexto, o conhecimento profissional, e o saber-fazer na concretização na sala de aula, e a capacidade reflexiva na prática reflexiva e na reflexão. No Capítulo 3, sobressaem o conceito de avaliação reguladora em Matemática e possíveis formas de operacionalização – práticas avaliativas. No Capítulo 4, descrevem-se as opções metodológicas e caracterizam-se os participantes, a recolha e a análise de dados. 8 No Capítulo 5, contextualiza-se a dinâmica de trabalho de natureza colaborativa que suportou este estudo. Em particular, caracterizam-se o grupo e o trabalho desenvolvido. Nos Capítulos 6 e 7, apresentam-se os professores casos. Depois da apresentação de cada um dos casos, as duas práticas avaliativas concretizadas encontram-se descritas tendo em conta os momentos antes da aula, durante a aula e depois da aula. No capítulo 8, apresentam-se as conclusões do presente estudo. 9 10 CAPÍTULO 2 – PRÁTICA LETIVA NO ENSINO DA MATEMÁTICA Neste estudo, a prática de ensino de Matemática é descrita à luz da tentativa de conciliação das abordagens de cunho cognitivista e de cunho sociocultural, tendo em conta os motivos do professor, o contexto social e o contexto educativo, o contexto turma, o conhecimento profissional do professor, o saber-fazer do professor e a capacidade reflexiva do professor (Ponte, Quaresma & Branco, 2012). O estudo das práticas do professor de Matemática ganha relevância na procura de entendimento para a sua atuação na sala de aula (Ponte & Chapman, 2006). Para além dos conhecimentos e crenças, este estudo contribui para aprofundar a compreensão sobre o modo como o professor de Matemática atua na sala de aula. Os princípios e as normas para a matemática escolar (NCTM, 2007) referem que o ambiente de aprendizagem da sala de aula marca decisivamente a Matemática que os alunos aprendem, o que aprendem sobre ela e a sua relação com a disciplina. A dinâmica da aula resulta de muitos fatores (Giménez, Santos & Ponte, 2004). Depende, em primeiro lugar, das tarefas matemáticas propostas pelo professor e dos materiais que o aluno utiliza para as resolver (Ponte, Brocardo, & Oliveira, 2003). Outros fatores podem ainda ser acrescentados, o professor, o seu conhecimento e competência profissional, e o modo como propõe as tarefas e apoia os alunos (Scheerens, 2004). Também Even e Tirosh (2002) referem que a cultura da sala de aula é inseparável da aprendizagem da Matemática, uma vez que a aprendizagem ocorre sempre num contexto sociocultural específico. Planificação Propósitos na construção e/ou seleção das tarefas Para o ensino secundário, o Decreto – Lei nº 74/2004, de 26 de março, com as alterações introduzidas pelo Decreto – Lei nº 24/2006, de 6 de fevereiro e atualizado pelo n.º 139/2012, de 5 de julho, estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão do currículo, bem como da avaliação das aprendizagens. A par do combate ao insucesso e abandono escolares, o documento refere como opção estratégica nacional 11 promover o aumento da qualidade das aprendizagens, indispensável à melhoria dos níveis de desempenho e qualificação dos alunos e ao favorecimento da aprendizagem ao longo da vida. Assim, sobressai a importância das atividades a selecionar, as quais deverão contribuir para o desenvolvimento do pensamento científico, levando o aluno a intuir, conjeturar, experimentar, provar, avaliar e ainda para o reforço das atitudes de autonomia e de cooperação (Ministério da Educação, 2001). Cabe ao professor, de acordo com o contexto da turma, encontrar o equilíbrio entre o número de trabalhos individuais, trabalhos de grupo, trabalhos de projeto e atividades investigativas, a realizar dentro e fora da aula, assim como o espaço para a sua própria intervenção: dinamizando, questionando, fazendo sínteses, e facultando informação. Para a valorização desta vertente formativa da disciplina, é destacado o fomento de uma atitude positiva do aluno face à Matemática e a adoção de estratégias que impliquem o aluno na aprendizagem e desenvolvam a iniciativa (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). É fundamental compreender o modo como o professor se relaciona com estes documentos oficiais (Ponte, Quaresma & Branco, 2012) mas, quando se quer ter a compreensão global da educação, eles estão longe de representar toda a realidade curricular (Canavarro & Ponte, 2005). O professor tem de interpretar, gerir, planear e pôr em prática as suas opções curriculares. Ao fazê-lo, faz intervir as suas conceções, o seu saber e o seu conhecimento didático. A planificação é esse conjunto de opções (curriculares) influenciado por aspetos inerentes à escola e ao professor: Francisca viu-se perante uma situação incómoda de lidar com o desvirtuamento de uma sua ideia através da planificação coletiva realizada pelo grupo de colegas com que trabalha. Por um lado, custa-lhe não adotar a estratégia que acabaria por resultar do grupo, correspondente a uma face do currículo moldado coletivamente. Mas por outro lado, não consegue adaptá-la, pois a simples utilização do material elaborado por um dos colegas faz com que se perca aquilo que considera essencial: a possibilidade de os alunos descobrirem por eles próprios o conhecimento em causa. (Canavarro & Ponte, 2005, p. 85) Canavarro e Ponte (2005) afirmam que é necessário dar atenção a todo o trabalho de construção curricular em que se envolve o professor, nomeadamente o currículo em ação, aquele que põe em prática na sala de aula, em interação com os alunos, para compreender as suas ações. Ponte (2005a) distingue dois níveis principais de planificação: nível macro, planificação da prática letiva por ano, por período ou por unidade didática; nível micro, 12 que corresponde à realização na unidade letiva básica, a aula. A gestão curricular inclui finalidades, objetivos de conteúdos, objetivos transversais, alunos, materiais, condições e recursos e fatores de contexto escolar e social e pode ser feita de modo determinante para toda a unidade ou então semana a semana ou mesmo aula a aula. Cada professor escolhe o estilo que melhor se lhe adapta, filtrado pelo seu conhecimento profissional, sendo certo que um protagonismo curricular efetivo exige uma atenção tanto ao nível macro como micro, bastante planeamento e reflexão e ajustamentos em função do desenvolvimento do trabalho (Ponte, 2005a). Para cada aula, o professor estabelece, de modo explícito ou implícito, um plano de trabalho que concretiza alguns dos aspetos previstos para a unidade. A gestão curricular feita aula-a-aula não é uma simples atividade de aplicação e concretização do trabalho de acordo com o plano estabelecido. O trabalho do professor na preparação de cada aula é um trabalho criativo e ainda de gestão curricular, onde explora as situações e as experiências que se desenvolvem, e reformula os objetivos e as estratégias, em função dos acontecimentos (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). No processo ensino aprendizagem, geralmente, são utilizadas tarefas matemáticas para introduzir conceitos matemáticos e para envolver e desafiar intelectualmente os alunos (Brunheira & Fonseca, 1996). As tarefas são as situações que o professor propõe na sala de aula, a partir das quais a atividade se realiza. As tarefas Matemáticas podem ser problemas, investigações, exercícios, projetos, construções, jogos, apresentações orais, relatórios, composições escritas, etc…Constituem o ponto de partida para o desenvolvimento da atividade Matemática do aluno (Christiansen & Walther, 1986). A atividade do aluno, tanto física, como mental, diz respeito àquilo que ele faz num dado contexto (Christiansen, 1997). Qualquer atividade inclui a execução de numerosas ações. O objetivo da atividade é precisamente a tarefa, algo exterior ao aluno. Uma tarefa tem de ser interpretada pelo aluno e pode dar origem a atividades muito diversas, ou a nenhuma atividade, conforme a sua disposição e o ambiente de aprendizagem da sala de aula. A seleção de tarefas adequadas poderá despertar curiosidade e envolver os alunos na Matemática. Tarefas significativas, só por si, não são suficientes para um ensino eficaz. Os professores devem, também, ser capazes de responder adequadamente a questões, tais como: determinar quais os aspetos a realçar numa dada tarefa? Como organizar e orientar o trabalho dos alunos? Que perguntas fazer para desafiar os 13 diversos níveis de competência dos alunos? Como apoiá-los, sem interferir no seu processo de pensamento eliminando, desta forma, o desafio? (NCTM, 2007). Em Portugal, vários estudos de natureza qualitativa dão indicações sobre as tarefas e os materiais usados pelos professores de diversos níveis de ensino (Bandarra, 2006; Dias, 2005; Pires, 2001; Rocha, 2002). Nos programas faz-se apelo às dimensões que Ponte (2005a) sugere como características fundamentais nas tarefas, o grau de desafio e o grau de estrutura. O grau de desafio matemático, que varia entre desafio reduzido e elevado, relaciona-se com a perceção da dificuldade de uma questão e constitui uma dimensão usada para graduar as questões que se propõem aos alunos, tanto na sala de aula, como em momentos especiais de avaliação, como testes e exames. O grau de estrutura, aberto ou fechado, é uma dimensão que comporta um grau de indeterminação significativo no que é dado, no que é pedido, ou em ambas as coisas. Outras dimensões a ter em conta, sugeridas pelo mesmo investigador, são a duração e o contexto. Segundo Stein, Remillard, e Smith (2007), a seleção das tarefas é uma questão central no ensino da Matemática. A aprendizagem da Matemática é sempre produto da atividade, e se esta se reduz, por exemplo, à resolução repetitiva de exercícios para aplicação de certas fórmulas, é exatamente isto que se aprende e vai perdurar, enquanto ficar a memória das fórmulas. Do ponto de vista de Stein e Smith (1998), as tarefas que envolvem os alunos na execução de um procedimento memorizado, de maneira rotineira, representam um tipo de oportunidade para os alunos pensarem, tarefas que exigem que os alunos pensem conceptualmente e os estimulem a estabelecer conexões representam outro tipo diferente de oportunidade. O efeito cumulativo, dia após dia, de exploração na sala de aula, de diferentes tipos de tarefas conduz ao desenvolvimento de ideias implícitas nos alunos sobre a natureza da Matemática e sobre se a Matemática é algo de que eles podem pessoalmente compreender o sentido e quão longa e arduamente devem trabalhar para o conseguir. Este é, por exemplo, o caso da resolução de problemas que desempenha um papel essencial na aprendizagem dos conteúdos matemáticos em geral, e na Trigonometria, na Geometria e nas Funções em particular, e ajuda os alunos a estabelecerem conexões entre estes e os conteúdos das diversas disciplinas. Este tipo de abordagem aos conteúdos revela a Matemática enquanto disciplina com sentido, pela via da compreensão, em vez de uma disciplina composta por regras para exercícios, dadas pelo professor, para serem memorizadas e usadas pelos alunos (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009; NCTM, 2007). Os problemas são geralmente apresentados na forma de 14 uma sentença linguística. O aluno, para além da capacidade de ler e interpretar o texto do problema para o resolver, deve ser capaz de relacionar a linguagem materna e a linguagem matemática, distinguir o essencial do acessório e mobilizar os recursos apropriados à resolução do mesmo. Na aplicação de problemas, o professor deverá, também, ser reflexivo de modo a criar um ambiente no qual os alunos se sintam com disposição para refletirem sobre o seu trabalho à medida que se envolvem nele. Assim, a natureza das atividades a propor aos alunos e o papel do professor são elementos vitais na construção do ambiente de aprendizagem, mas a estratégia a adotar na organização do trabalho com os alunos também é fundamental (Godino, Batanero & Font, 2004). Sendo importante considerar a diversidade de experiências de aprendizagem que podem ser facultadas aos alunos, é necessário, também, dar atenção à reflexão sobre a atividade desenvolvida. Os alunos aprendem não tanto a partir das atividades práticas, mas a partir da reflexão que realizam sobre o que fizeram durante essas atividades práticas (Ponte, 2005a). Também, Ertmer e Newby (1996) entendem que a reflexão, nos processos de aprendizagem, é o ingrediente essencial para o desenvolvimento dos alunos. Estes autores estudaram como os sujeitos utilizam o conhecimento que têm sobre si próprios enquanto alunos, sobre as exigências das tarefas e sobre os métodos utilizados conscientemente para selecionar, controlar e monitorar as estratégias necessárias para alcançar uma aprendizagem significativa. Baseados nesses estudos, estes autores criaram um modelo de aprendizagem que mostra como o conhecimento metacognitivo das estratégias, consideradas cognitivas, motivacionais e ambientais, é traduzido em termos de controlo autorregulador dos processos de aprendizagem, por meio do pensamento reflexivo. O modelo de Ertmer e Newby (1996) inclui os processos de planear, controlar e refletir, destacando, sobretudo o caráter consciente desses processos. Na aprendizagem, o aluno estaria consciente de um conhecimento específico, dos objetivos a alcançar, das estratégias necessárias para alcançá-los, assim como do próprio processo no momento de seu acontecimento. Essa atividade online, como muitos autores a caracterizam utilizando a metáfora computacional (Santos, 2003a), traz como consequência o processo autorregulador. Os indivíduos, hábeis meta-cognitivamente, teriam a capacidade de incorporar e aplicar vários conhecimentos para aperfeiçoar o desempenho académico, transformando-se em “bons alunos”. Seriam, por exemplo, capazes de saber o que sabem (conhecimento declarativo), como utilizar o que sabem (conhecimento processual) e por que, onde e 15 quando utilizar o que sabem (conhecimento condicional, contextual), aplicando as estratégias relevantes ao objetivo da atividade cognitiva. Seleção de estratégias de avaliação É através da avaliação que o professor recolhe a informação que lhe permite apreciar o progresso dos alunos na disciplina e, em particular, diagnosticar problemas e insuficiências na sua aprendizagem e no seu trabalho, verificando da necessidade (ou não) de alterar a planificação e a ação didática. A avaliação deve, por isso, fornecer informações relevantes e substantivas sobre o estado das aprendizagens dos alunos, no sentido de ajudar o professor a gerir o processo ensino aprendizagem. Nesta perspetiva avaliativa, de avaliação formativa (Allal, 1986; Abrecht, 1994; Perrenoud, 2004; Shepard, 2001; Pinto & Santos, 2006), de regulação do processo ensino aprendizagem, o professor deve envolver os alunos, auxiliando-os na análise do trabalho que realizam e na tomada de decisões para melhorarem a sua aprendizagem (Wiliam et al., 2004). No ensino secundário, em particular nos programas, avaliar os conhecimentos matemáticos dos alunos significa reunir e analisar dados sobre o que estes sabem a respeito de conceitos e métodos matemáticos. Estes dados devem ser utilizados, tanto pelos professores, como pelos alunos. Os professores deverão utilizá-los para ajudar os alunos a adquirir conhecimentos profundos e ideias claras sobre os conteúdos matemáticos. Uma vez que a avaliação não se deve restringir a avaliar o produto final, mas também o processo de aprendizagem, deve permitir que os alunos sejam elementos ativos, reflexivos e responsáveis pela sua aprendizagem. As formas de avaliação não se devem reduzir aos testes escritos (ME, 2001), pelo contrário devem focar-se numa grande variedade de tarefas matemáticas e adotar uma visão holística da matemática, em vez de focar capacidades específicas, e isoladas, organizadas numa matriz de conteúdos / objetivos comportamentais; e recorrer a vários métodos de avaliação, incluindo formas escritas, orais e de demonstração (e algumas vezes ao uso de calculadoras, computadores e materiais manipuláveis). Esta perspetiva permite ao professor verificar a situação de aprendizagem em que se encontra o aluno, de forma a adequar as metodologias e as atividades apresentadas às suas características. Coerente com o sustentado por Rosales (1992), a avaliação não deve ocorrer apenas no final de uma tarefa de aprendizagem, mas também no seu início ou em etapas intermédias. O principal objetivo será o de verificar o nível de preparação do aluno, permitindo ao professor antever as dificuldades dos alunos e adequar o seu método de 16 ensino aos conhecimentos evidenciados, procurando a ligação entre os novos conhecimentos e o que o aluno detém (Cobb & Bowers, 1999). Internacionalmente, Black e Wiliam (1998) publicaram numa meta-análise em que reviram cerca de 250 estudos e concluíram algumas vantagens para a adoção da perspetiva formativa da avaliação. Segundo estes investigadores, a aprendizagem dos alunos, incluindo a dos mais fracos, é geralmente melhor nas turmas em que os professores dão atenção à avaliação formativa, fazendo juízos acerca do ensino e da aprendizagem. Segundo Santos (2005), respeitar o princípio da avaliação como parte integrante do processo ensino aprendizagem, e simultaneamente desenvolver uma avaliação cujo enfoque é o que hoje se entende por competência matemática, pode passar pela aplicação de uma multiplicidade de processos avaliativos. Abrantes (2002), também, destaca a necessidade de recurso a uma variedade de modos e instrumentos de avaliação. Para estes investigadores, não há qualquer possibilidade de se progredir significativamente numa perspetiva integrada de currículo e avaliação se os testes usuais forem os instrumentos de avaliação usados em exclusivo ou considerados “os mais importantes”. Nenhum instrumento isolado, só por si, poderá captar toda a informação sobre as aprendizagens dos alunos. Será necessário recorrer a uma combinação de práticas avaliativas, adequadas ao trabalho realizado e à natureza das diversas aprendizagens (Santos, 2005). Só assim, poder-se-á caminhar para um processo de integração entre o currículo e a avaliação: Entender currículo e a avaliação como componentes integradas de um mesmo sistema e não como sistemas separados e a considerar que a avaliação envolve interpretação, reflexão, informação e decisão sobre os processos de ensino e aprendizagem, tendo como principal função ajudar a promover ou melhorar a formação dos alunos. (Abrantes, 2002, p. 10) O recurso a diversos tipos de instrumentos é recorrente e transversal à perspetiva de avaliação formativa (Pinto & Santos, 2006; Fernandes, 2005; Black et al., 2003). Para Santos (2005), na seleção de um dado instrumento o professor deverá ter em conta o que pretende saber (nomeadamente a adequabilidade para certos aspetos da aprendizagem). O professor deverá garantir que todos os alunos terão oportunidade de demonstrar clara e completamente o que sabem e o que são capazes de fazer: Chama-se ainda a atenção para a necessidade de: (i) a avaliação ser um processo contínuo, recorrente, público, participado e dinâmico; (ii) os professores serem apoiados e ser reconhecida a sua competência profissional enquanto principais responsáveis pela avaliação; (iii) serem 17 utilizados instrumentos de avaliação múltiplos e complexos, tais como, tarefas de desempenho, projetos, trabalhos escritos, prestações orais e portefólios e (iv) os desempenhos dos alunos não serem comparados entre si, mas antes com critérios de avaliação pré-estabelecidos. (Santos, 2005, p. 171) A diversificação e articulação de diversas estratégias de avaliação formativa podem permitir a ultrapassagem das dificuldades, desde que os alunos se envolvam com seriedade e responsabilidade (Buhagiar & Murphy, 2008). É uma tarefa exigente, para professores e alunos, onde eles se têm de expor. Para tal, é preciso, por um lado, que lhe reconheçam significado e, por outro, que haja um ambiente de confiança na interação professor - aluno. O acréscimo de trabalho para o aluno e para o professor é enorme (Santos & Pinto, 2010). É necessário dedicar aulas para esse trabalho, criar momentos diversos de interação professor - aluno, de acompanhar e apoiar os alunos (Santos, 2005). É igualmente necessário, para o bom êxito dessa tarefa, uma certa predisposição do professor, nomeadamente em aceitar que o aluno possa deter um elevado grau de liberdade e decisão (Menino, 2004). Como Hadji (1994) e Santos & Pinto (2010) referem, para realizar a sua função geral de ajudar a promover a aprendizagem, a avaliação deve: envolver segurança, ajudar a consolidar a confiança do aluno em si próprio; prestar assistência, marcar etapas, dar pontos de apoio para progredir através de feedback, dar, o mais rapidamente possível, informação útil sobre as etapas vencidas e as dificuldades encontradas; e promover um verdadeiro diálogo entre professor e aluno, fundamentado em dados precisos. Quando os professores usam práticas avaliativas como a observação, a interação e o feedback aos relatórios escritos, os alunos tendem a aprender através do processo de verbalização das suas ideias e de resposta às questões do professor (NCTM, 2007). Nesse sentido, o aluno deve ser envolvido na sua própria avaliação como sujeito ativo de forma a tornar-se consciente e a gerir a representação que tem dos conhecimentos e capacidades a desenvolver. É necessário que a avaliação reflita o ensino e, nesse sentido, as questões têm de ser construídas para que, quando se analisam as respostas dos alunos, se tenha uma ideia de como eles organizam a informação (Price et al., 2010). Só conhecendo os processos de pensamento do aluno é possível modificar o ensino e criar novas situações didáticas com o fim de ajudar o aluno a aprender melhor. 18 Síntese A partir dos documentos curriculares, os professores podem discernir a valorização que fazem dos diferentes conteúdos, formas de abordagem e modos de avaliação. Mas, a interpretação não é feita da mesma forma por todos os professores e, também, o que é transposto para os alunos não é aprendido da mesma forma. Na fase de planificação, o professor efetua uma seleção de tarefas, estratégias e modos de fazer em função do contexto turma, do seu conhecimento profissional e do seu saber-fazer (Ponte, Quaresma & Branco, 2012). Os programas preconizam as finalidades do ensino da Matemática e os modos de avaliação das aprendizagens. Em qualquer um dos documentos existem indicações inequívocas do pressuposto de que o aluno é um agente da sua própria aprendizagem e de que o professor deve proporcionar uma multiplicidade de tarefas de aprendizagem e modos de avaliação diversificados. Entre eles destaca-se a necessidade de resolver problemas, realizar atividades de investigação, desenvolver projetos, usar as tecnologias, efetuar redações e composições, testes em duas fases e portefólios. A avaliação deve fornecer informações relevantes e substantivas sobre o estado das aprendizagens dos alunos, no sentido de ajudar o professor a gerir o processo de ensino e aprendizagem (Santos & Pinto, 2010). Por ser necessária uma avaliação continuada de caráter formativo e regulador, esta deve atender à diversidade de objetivos curriculares, fazer parte do processo ensino aprendizagem, identificar o que os alunos não sabem para melhorar a sua aprendizagem, decorrer em clima de confiança, ser transparente e os erros e as dificuldades encarados como pontos de partida para novas aprendizagens (Wiliam et al., 2004). Deste modo, são necessários modos de avaliação adequados àquilo que efetivamente se pretende avaliar e que atendam à natureza das tarefas propostas. Para promover a autorregulação - monitorização da aprendizagem efetuada pelo próprio - a aprendizagem depende de como o aluno aprende a lidar com os processos de ensino e de aprendizagem ao se confrontar com a necessidade de construir novos conhecimentos. Ao professor cabe o papel de possibilitar aos alunos esse confronto e promover a coerência entre as orientações curriculares e as práticas avaliativas. Tal permite considerar que a avaliação engloba interpretação, reflexão, informação e decisão sobre o processo ensino aprendizagem. A informação recolhida deverá produzir efeito na melhoria da aprendizagem. Mas, justifica-se a necessidade de aprofundar o 19 conhecimento dessas ações do professor, compreendendo os significados que os intervenientes atribuem ao que fazem (Ponte & Chapman, 2006). Concretização na sala de aula Comunicação na aula de Matemática A importância da comunicação, no contexto específico da sala de aula de Matemática e nos vários níveis de ensino, tem sido amplamente reconhecida (NCTM, 2007; Brendefur & Frykholm, 2000; Guerreiro, 2011; Menezes, 2004; Ponte & Santos, 1998). A comunicação constitui um processo social onde os participantes interagem trocando informações e influenciando-se mutuamente (Martinho & Ponte, 2005). De facto, o fenómeno comunicação abrange o vasto conjunto de processos interativos desencadeados na sala de aula, na diversidade dos contextos em que ocorrem, das representações subjacentes e das formas de expressão. Esta perspetiva é suficientemente abrangente para incluir no estudo da comunicação na aula de Matemática dois aspetos essenciais claramente identificados na literatura: (i) a interação continuada entre os intervenientes na sala de aula (Brendefur & Frykholm, 2000; Guerreiro, 2011); e (ii) a negociação de significados enquanto modo como esses intervenientes partilham entre si as formas como encaram os conceitos e processos matemáticos, os fazem evoluir e os ajustam ao conhecimento configurado pelo currículo (Forman et al., 1998). O professor enquanto facilitador de processos comunicativos na sala de aula tem um papel fundamental, como é reconhecido na literatura (Menezes, 2004; Ponte et al., 2007). Ferreira (2005), Menezes (2004) e Wood (1998) agrupam os padrões de interação na sala de aula em categorias. Por exemplo, o modo tradicional de interação, padrão de recitação, designado por iniciação-resposta-avaliação (IRA), em que o professor dá início à interação através da colocação de uma questão, o aluno responde e, de seguida, o professor avalia essa resposta, observando se está correta (Martinho & Ponte, 2005); o padrão de discussão, em que os alunos resolvem a tarefa proposta pelo professor, que solicita a apresentação e a justificação do processo utilizado e da solução obtida (Lau, Singh & Hwa, 2009); e o padrão da matemática dirigida, em que o professor apresenta aos alunos uma tarefa e pede para ser resolvida recorrendo a diferentes abordagens ao nível da Matemática. Depois, reduz o número de 20 possibilidades para um determinado modo de abordar a tarefa, forçando os alunos a seguir a sua própria estratégia de resolução. Stein (2001) valoriza, também, a comunicação na sala de aula no sentido de que o professor estimula o interesse dos alunos para enriquecer as interações estabelecidas. Na verdade, um dos seus papéis enquanto elemento impulsionador da comunicação na sala de aula é criar oportunidades para a atividade de cada aluno através da interação (Brendefur & Frykholm, 2000; Menezes, 2004; Guerreiro, 2011), partindo do seu trabalho, ajudando-o a empenhar-se na própria aprendizagem e a ganhar autoconfiança. Nas aulas de Matemática, a comunicação desenvolve-se sobretudo pela linguagem oral, naturalmente complementada pela linguagem gestual. A comunicação pela linguagem oral serve para que os alunos ouçam o que o professor tem a dizer, exprimam as suas ideias e confrontem-nas com as ideias dos seus colegas. Segundo Ponte et al. (2007), a linguagem oral (complementada pela linguagem corporal) serve de suporte ao pensamento, sendo através dela que se desenvolve o essencial do processo ensino aprendizagem da Matemática. No entanto, a linguagem escrita (incluindo todo o tipo de registos escritos, simbólicos e representações icónicas) é uma forma de comunicação que tem um papel complementar fundamental no processo ensino aprendizagem. A linguagem escrita serve para que os alunos tenham a oportunidade de expressão das ideias matemáticas através de registos, no quadro ou no caderno diário. Segundo Ponte et al. (2007) quer a comunicação em geral, quer a comunicação matemática em particular, podem ser entendidas segundo diferentes pontos de vista. Estes autores referem os seguintes: a comunicação como organização e transmissão de informações; e a comunicação como um processo de interação social. A comunicação na sala de aula, também, está associada a uma perspetiva sobre a Matemática e sobre o ensino da Matemática. Como referem Godino e Llinares (2000), ou se considera a Matemática como um conjunto de verdades objetivas, como algo existente e documentado de modo independente dos indivíduos (predomina na perspetiva cognitivista), ou se veem as práticas de sala de aula como um processo de matematização partilhada, guiadas por regras e normas que emergem da própria prática (predomina na perspetiva sociocultural). Do mesmo modo, a ênfase na transmissão de mensagens do professor para os alunos e entre os alunos ou nos processos de interação professor - aluno sustentam diferentes posicionamentos em relação à comunicação na sala de aula de Matemática: 21 Se se considera que a Matemática é um conjunto de verdades objetivas, é natural que se entenda a comunicação como a transmissão de mensagens entre duas pessoas através de um processo linear e exterior aos indivíduos. (Ponte et al., 2007, p. 42) A aplicação deste modelo ao contexto educativo centra a comunicação no diálogo entre o professor e os alunos. Assume-se, então, que a preocupação do professor é tornar as mensagens emitidas compreensíveis aos alunos, eliminando eventuais interferências. O professor deve utilizar no seu discurso constantes redundâncias, como forma de reforçar o conteúdo da mensagem, e assegurar-se dos processos de transferência da mensagem através de feedback ou através de perguntas cujas respostas possam evidenciar a aquisição dos conhecimentos transmitidos (Henning et al., 2012). Trata-se de procurar fechar o fosso entre o que expectável que o aluno faça e aquilo que efetivamente concretiza (Sadler, 1989). Neste modelo, tudo é redutível à precisão com que se processa a transmissão de informação entre o professor e os alunos, apenas limitada pela existência exterior do ruído perturbador da receção. A valorização dos aspetos de natureza semântica da mensagem pode salientar as representações simbólicas e os aspetos característicos da linguagem Matemática, cuja aprendizagem é então encarada como a aquisição de uma organização complexa de símbolos, signos e representações Matemáticas (Ponte et al., 2007). Se a Matemática é vista como uma construção cultural partilhada pelos intervenientes e as aulas são caracterizadas pelos processos de interação social entre o professor e os alunos, a comunicação pode passar a ser entendida como um processo de interação social de contextos múltiplos: Os novos significados e as novas formas de compreensão são construídos e reconstruídos através de processos individuais de gerar sentido e processos sociais de interação das mensagens, das pessoas e dos contextos culturais da sala de aula. A aprendizagem converte-se, assim, num processo de interação e reflexão, onde o professor não se limita à transmissão de um conhecimento matemático estabelecido e objetivamente codificado, mas empenha-se na organização de um conjunto de tarefas diversificadas e não rotineiras que promovam uma variedade de estratégias de resolução de problemas pelos alunos e os levem a partilhar as suas ideias, com vista à negociação de conceitos matemáticos e à construção de novos conhecimentos. Nesta perspetiva, ganham grande importância as práticas discursivas que ocorrem na sala de aula, tendo de se questionar se são de facto promotoras da compreensão dos significados e da linguagem da Matemática (Ponte et al., 2007, p. 42 - 43) 22 Finalmente, um último aspeto fundamental respeitante à comunicação, segundo Ponte et al. (2007), é que esta tem um papel essencial para assistir os alunos no desenvolvimento dos seus significados matemáticos e na sua compreensão dos conceitos matemáticos. A construção de significados matemáticos evolui por etapas sucessivas, através da sua publicitação de forma oral ou escrita por parte dos alunos, regulados pelo professor. Porém, para que tal aconteça, é necessário que os alunos se sintam à vontade para participar e também que saibam autorregular-se (Santos, 2002) para intervir a propósito e de forma adequada. Os significados matemáticos podem emergir das conexões entre as ideias Matemáticas em discussão e os outros conhecimentos pessoais do aluno (Henning et al., 2012). As novas ideias são significativas, na medida em que o aluno é capaz de fazer conexões com outras ideias matemáticas e com outros aspetos do seu conhecimento pessoal. Deste modo, é fundamental a exteriorização e a partilha dos pensamentos dos alunos e do professor, a clarificação das ideias através da utilização de questões e analogias, num diálogo simétrico, entre ambos, e a existência de estratégias deliberadas e específicas do professor para desenvolver a negociação de significados matemáticos, tais como a modificação e adequação matemática da linguagem dos alunos e o encorajamento na procura de esquematizações e generalizações dos resultados: Portanto, o professor e os alunos têm de negociar os diferentes significados, justificando as suas ideias matemáticas com vista à construção de um significado socialmente partilhado e compreendido por todos. Neste sentido, os significados matemáticos não existem por si mas são gerados durante o processo de comunicação e interação social. Neste processo de construção do conhecimento matemático é também fundamental que os alunos possam envolver-se em momentos efetivos de discussão, regulada direta ou indiretamente pelo professor, em que tenham oportunidade de argumentar, defendendo as suas posições, bem como de questionar e apresentar argumentos contra as ideias dos outros (e do próprio professor). A discussão, ao pressupor uma certa igualdade de papéis, envolve os alunos (e o professor) numa partilha de significados e ideias matemáticas construídos e partilhados oralmente na sala de aula, valorizando a argumentação, quer na defesa das ideias matemáticas quer na construção de exemplos ou contraexemplos, com o objetivo de confirmar ou infirmar relações matemáticas, quer na apresentação de conjeturas e de estratégias de resolução de problemas quer na exploração de novos caminhos. (Ponte et al., 2007, p. 47) A organização do processo comunicativo da sala de aula também envolve alguns problemas. Um deles está relacionado com os objetivos da aprendizagem, que envolvem duas dimensões (Christiansen & Walther, 1986), sempre presentes, de modo explícito 23 ou implícito. A primeira remete para o nível dos conteúdos matemáticos, cabendo ao professor explicar um conceito, recordar uma noção, ou estabelecer relações diretas com outras ideias ou representações matemáticas ou extra matemáticas (Ponte et al., 1999). Reencontramos aqui um dos papéis “clássicos” do professor mas que, como indica Lampert (1990), pode ser desempenhado de uma maneira substancialmente diferente, contextualizado e integrado na realização de uma atividade significativa. Em vez de assumir sozinho este trabalho, o professor pode tentar que os alunos participem ativamente, ajudando a explicar o conceito aos seus colegas, recordando ideias, representações e procedimentos já aprendidos. A segunda dimensão remete para o nível das compreensões sobre o que é aprender, sobre o que é a matemática e o que é pensar matematicamente. Na perspetiva de avaliação formativa o caráter chave desse papel revela-se desde logo, por exemplo, na construção e seleção das tarefas, no encorajamento dos alunos a tomar posições e a defendê-las com convicção (Guerreiro, 2011; Lampert & Cobb, 2003; Ponte & Santos, 1998; Stein, 2001). O professor deve pedir aos alunos justificações sempre que considere oportuno, procurando que estes assumam também o poder de decidir o que está certo ou errado (Alro & Skovsmose, 2002; Ponte & Santos, 1998). Isto pressupõe que a existência de ritmos e tempos diferentes permite a todos os alunos pensar e repensar a sua atividade. Métodos de trabalho Para a realização do trabalho na sala de aula, o professor pode organizar os alunos de diversas maneiras: em coletivo, em pequeno grupo (3 ou 4 alunos), aos pares ou individualmente. Cada uma destas formas de trabalho está vocacionada para atingir determinados objetivos e é mais adequada para a realização de certas tarefas em detrimento de outras. O trabalho em coletivo, que envolve toda a turma, tem um papel importante na aula de Matemática. O trabalho em coletivo é decisivo na negociação de significados matemáticos. Trata-se de um modo de trabalho adequado para fazer a introdução de novos conteúdos ou para realizar a discussão das tarefas já concluídas: Para o aluno, é essencial poder confrontar as suas opiniões com as de outros, sentir a apreciação pública do seu trabalho e do dos outros, apreciar a atitude de dúvida, de crítica e a necessidade de justificação exemplificada pelo professor. O momento da reflexão final é também particularmente adequado para estabelecer ligações entre este tipo de 24 trabalho matemático e outras ideias que os alunos têm resultantes da sua aprendizagem nesta disciplina. (Ponte et al., 1999, p. 147) Serve, também, para resolver um problema ou conduzir a realização, em conjunto, de uma atividade de investigação. No entanto, se for usada de modo exclusivo, ou durante muito tempo, pode levar os alunos a distraírem-se e a deixarem de participar. Além disso, não permite o desenvolvimento de um determinado tipo de competências e capacidades - aquelas que exigem um esforço individual por parte dos alunos. O sistemático confronto de argumentos possibilita o desenvolvimento de justificações matemáticas que conduzem a raciocínios válidos e o reconhecimento dos modos de raciocínio inválidos. Nesse desafio, os alunos tendem a esforçar-se mais para explicar o porquê da adequabilidade dos seus raciocínios matemáticos e a explicitar princípios matemáticos que, geralmente, não invocam e que nesta situação servem para contestar afirmações dos seus colegas (Weber et al., 2008). O trabalho em pequeno grupo (3 ou 4 alunos) permite que os alunos exponham as suas ideias, ouçam os colegas, coloquem questões, discutam estratégias e soluções, argumentem e critiquem outros argumentos. Nesta modalidade de trabalho, torna-se mais fácil aos alunos arriscar o seu ponto de vista, avançar com descobertas e exprimir o pensamento: O trabalho em pequeno grupo fomentou oportunidades de interação, de diálogo, de colaboração que o [aluno] levou a perceber que, apesar da sua grande inclinação para a Matemática, podia ganhar bastante no diálogo com os seus colegas. (Segurado & Ponte, 1998, p. 22) Segundo Francisco (2013), o trabalho em pequeno grupo permite que os alunos resolvam problemas e construam justificações válidas para essas resoluções. Ainda segundo esse autor, a realização de tarefas em pequeno grupo permite a oportunidade dos alunos olharem criticamente para os seus trabalhos e elaborarem raciocínios matemáticos mais complexos. Mas nem todas as tarefas se proporcionam a este tipo de trabalho. A resolução de exercícios, por exemplo, não tira grande partido das interações entre os alunos, por serem tarefas muito estruturadas. Também, para a realização de composições não é um modo adequado de trabalho, porque exige-se ao aluno concentração para escrever. A realização de atividades de investigação ou a realização de projetos são as tarefas que podem rentabilizar a capacidade criativa de um grupo e proporcionar a divisão de tarefas, usando da melhor forma as capacidades de cada elemento: 25 O trabalho em pequeno grupo incentiva uma comunicação entre alunos e promove uma melhor explicitação das conjeturas e testes a realizar. É neste tipo de trabalho que a necessidade da justificação mais se revela. Desta forma, tira-se o melhor partido do potencial da interação entre pares (enfatizada por investigadores na tradição piagetiana) e da colaboração com um parceiro mais competente (enfatizado por investigadores na tradição de vygotskiana). (Ponte et al., 1999, p. 147) O trabalho em pares (díades) possibilita uma interação significativa entre os alunos, que trocam impressões entre si na realização da tarefa proposta. É muito simples de organizar, uma vez que de um modo geral não implica a alteração do espaço físico da sala de aula e proporciona aos alunos uma significativa autonomia. Por exemplo, Branco, Angelino & César (1995) verificaram que quando os alunos trabalham em díades são mais capazes de adotar e fazer evoluir as suas estratégias, o que os leva a ter mais sucesso nos seus desempenhos. A interação entre pares é essencial para que haja cooperação, capacidade de argumentação, espírito crítico (César et al., 2002). É particularmente adequado quando a tarefa proposta é relativamente estruturada e não exige um elevado nível de concentração individual: Verifiquei que os grupos com três e quatro elementos, nas experiências de aprendizagem em que estiveram envolvidos, tendem a explorar individualmente e apenas confrontam as conclusões. A opção metodológica de trabalho em díade na quarta tarefa permite evidenciar que os alunos ao trabalharem em díade são mais capazes de compreender, adotar estratégias e fazer evolui-las. (Dias, 2005, p. 223) A interação entre dois alunos nem sempre os ajuda a construir uma aprendizagem significativa. O trabalho conjunto é benéfico quando realizam determinadas tarefaschave, como é o caso de explicar, justificar e refletir. Os dois elementos do par podem evoluir mas, segundo Pijls, Dekker & Hout-Wolters, (2007), o aluno que explica com frequência e autocritica-se atinge um nível mais elevado nas aprendizagens matemáticas do que o aluno que tem um papel mais passivo. No trabalho individual, o aluno tem de ser capaz de assumir a sua própria independência e responsabilidade pessoal. A realização de exercícios, problemas e composições escritas são tarefas que se adequam muitas vezes a este modo de trabalho. O professor tem, também, que ser capaz de encontrar momentos para dialogar especificamente com cada aluno, aperceber-se das suas necessidades e interesses e darlhe o apoio direto de que necessita para que possa progredir: Identificar as dificuldades logo que aparecem, diagnosticar os fatores que estão na origem das dificuldades de cada aluno e formular, de forma 26 consequente, adaptações individualizadas das atividades pedagógicas. (Allal, 1986, p. 191) Cada uma das formas de trabalho tem o seu papel a desempenhar. No entanto, a sua eficácia depende do modo como forem conduzidas pelo professor. Há trabalho coletivo interessante e monótono, trabalho de grupo produtivo e improdutivo, assim como trabalho em pares e individual bem e mal aproveitado. O sucesso da forma de trabalho depende das tarefas propostas serem ou não adequadas ao modo de trabalho estabelecido, do modo como professor acompanha a realização das tarefas e da gestão do ambiente de aprendizagem. Tarim & Akdeniz (2008) mostraram que a combinação entre o trabalho individual e o trabalho em pequenos grupos, ou em pares, pode promover melhores resultados em Matemática, se os alunos resolverem primeiro os problemas individualmente e depois os discutirem, validando trabalhos ou retificandoos, em grupo. Para Ponte et al. (1997), o facto de não haver uma metodologia universalmente aplicável não significa que não existam estratégias de ensino mais adequadas e outras mais desaconselháveis para cada situação concreta. Cabe ao professor conhecer as alternativas disponíveis e conhecer-se a si próprio, sabendo até que ponto é capaz de usar com confiança e desembaraço cada uma delas. Processos na atividade da aula de Matemática A matemática caracteriza-se por lidar com certos tipos de objetos e conceitos, e também por envolver processos de raciocínio, de comunicação e de trabalho. Quando se procura aplicar tarefas, avaliar e organizar modos de trabalho para atingir os objetivos de um currículo é necessário dar atenção aos processos que servem de articulação entre a construção do conhecimento pelos alunos, nas diversas experiências de aprendizagem (Alonso, 2002; Duval, 2006; Goldin, 2008). São vários os processos que implicam relacionar e operar com conceitos e com as suas representações matemáticas. Ponte e Serrazina (2000) destacam: i) classificar e ordenar; ii) calcular; iii) estabelecer relações, por exemplo a generalização, a particularização, a análise e a síntese; e iv) interpretar. Representar é um dos processos fundamentais em matemática. Os símbolos, as convenções, os gráficos, entre outros, permitem que os objetos matemáticos sejam difundidos, o que permite que possam ser 27 usados e compreendidos. A representação aparece muitas vezes como o caminho para a compreensão de determinados conceitos, funcionando como recordação visual: Para a Susana, a noção de sucessão aparece associada à existência de uma representação gráfica ou de uma expressão que serve para estabelecer uma determinada correspondência. Quando lhe é pedido para explicar o que é uma sucessão ela diz que “numa reta são … pontos que seguem uma determinada expressão, faz corresponder …”. A noção de correspondência acaba no entanto por ser negligenciada, dando mais destaque à representação dos pontos na reta. (Domingos, 2002, p. 302) Ponte e Serrazina (2000) separam: i) a representação das ideias matemáticas, por exemplo gráficos, pictogramas, figuras geométricas, etc… ii) o uso das representações na sala de aula, por exemplo uso da linguagem materna ou de materiais manipuláveis, desenhos, diagramas, etc… iii) a aprendizagem das representações, por exemplo as representações começam por ser pouco precisas e muito particulares embora desempenhem um papel importante no apoio à compreensão na resolução de problemas e forneçam formas significativas de registo de um método ou de uma solução, e podem constituir-se como ponto de partida para desencadear a apreciação de outras representações; iv) diferentes representações de um mesmo conceito, por exemplo os alunos precisam desenvolver o seu reportório de representações, que devem incluir as representações convencionais da Matemática e outras com as quais eles próprios se sintam confiantes a trabalhar. A representação ajuda os alunos a compreenderem os conceitos e as relações matemáticas, a comunicar as suas ideias aos outros e a aplicar as ideias matemáticas a situações problemáticas dentro e fora da matemática. Os professores têm de estar atentos ao facto que qualquer representação pode ser interpretada de diversas maneiras. Não devem assumir que um aluno interpreta uma expressão do mesmo modo que ele. Mas, Duval (2006) destaca as dificuldades de compreensão que surgem associadas à representação dos objetos matemáticos. A utilização simultânea da linguagem materna, ligada à explicação oral dos objetos matemáticos, e da linguagem matemática, predominantemente constituída por símbolos e ícones gráficos, pode desencadear interpretações erróneas e dificuldades de compreensão. A conversão entre essas duas formas de expressão é muitas vezes motivo de conflito nas estruturas cognitivas do aluno (Duval, 2006). Deste modo, é necessária uma atenção especial do professor para 28 esse conflito e a preparação do aluno para conhecer várias formas de representar o mesmo objeto matemático (Goldin, 2008). Goldin (2008) acrescenta ainda que, quando os alunos enfrentam dificuldades na concretização de uma tarefa, tendem a utilizar representações informais (em que não é usada a notação matemática usual). No entanto, este aspeto pode ser potencializado a favor da aprendizagem matemática significativa. Ao trabalhar na sala de aula com tarefas que envolvem contextos próximos da realidade dos alunos, o professor favorece raciocínios intuitivos que, devidamente integrados, os ajudam a construir novos conhecimentos (Semana & Santos, 2010). Deste modo, também, é possível que a construção de novas representações por parte dos alunos seja feita a partir das suas representações informais, proporcionando o desenvolvimento dos seus recursos para o raciocínio matemático (Webb, Boswinkel & Dekker, 2008). Na sala de aula de Matemática, a formulação e a resolução de problemas constituem, também, aspetos fundamentais da atividade dos alunos. Pólya (1975) descreve as etapas a percorrer para a aprendizagem da resolução de problemas: i) compreender o problema; ii) conceber um plano de resolução; iii) executar o plano; e iv) refletir sobre o trabalho realizado. No entanto, Lester et al. (1992) e Lester (1994) chamam a atenção para a importância dos professores colocarem questões aos alunos enquanto estes resolvem problemas para estimular o seu pensamento, para compreender como um determinado aluno está a pensar, e ainda para os ajudar a avaliar os aspetos que são o foco da observação. Estes aspetos revelam uma perspetiva centrada na promoção de um processo ensino aprendizagem que valoriza a compreensão dos alunos porque, contrariamente ao que se pensava, o ensino não pode ser baseado apenas nos processos, mas deve incluir a compreensão de conceitos da Matemática (Webb, Boswinkel & Dekker, 2008). Raciocinar e demonstrar são as formas mais poderosas de desenvolver e expressar intuições sobre uma vasta gama de fenómenos matemáticos (ou não): As pessoas que raciocinam e pensam analiticamente tendem a detetar padrões, estruturas ou regularidades, quer em situações da vida real, quer em objetos simbólicos, perguntam se esses padrões são acidentais ou se ocorrem por alguma razão específica e formulam conjeturas e efetuam demonstrações (NCTM, 2007). Raciocinar é essencial para a compreensão da matemática (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009). Segundo o NCTM (2007) em todos os níveis de escolaridade, os alunos deverão perceber e acreditar que a matemática faz sentido, através do 29 desenvolvimento de ideias, da exploração de fenómenos, da justificação de resultados e da utilização de conjeturas matemáticas em todas as áreas (com expectativas e níveis de aprofundamento distintos). Avaliação integrada no processo ensino aprendizagem Para Fernandes (2005), uma adequada integração entre avaliação, ensino e aprendizagem permite, ou deve permitir, regular o ensino e a aprendizagem, utilizar tarefas que, simultaneamente são para ensinar, aprender e contextualizar a avaliação. Também este autor considera que as tarefas são o eixo fundamental para a ação educativa quando associam as três funções seguintes: integrar as estratégias de ensino utilizadas pelo professor; ser meio privilegiado de aprendizagem; ter associado um qualquer processo de avaliação. Esta visão foi recentemente reforçada (NCTM, 2007): a avaliação não deve ser feita apenas sobre o aluno, mas também ser feita para o aluno, de forma a orientar e aumentar a sua aprendizagem. No caso do ensino secundário, pelas orientações do Ministério da Educação (Ministério de Educação, 2004) para o ensino regular e o ensino profissional, a avaliação formativa deve prevalecer em relação à avaliação sumativa e deve estar integrada no processo ensino aprendizagem (Goos, Stillman & Vale, 2012). No entanto, segundo Fernandes (2007), persistem dificuldades por parte dos professores e das escolas em desenvolver práticas de avaliação formativa. Também Abrantes (2002) afirma a necessidade de repensar as práticas uniformes e pobres de avaliação, que não estavam de acordo com a formulação do currículo. A investigação nacional e internacional também têm evidenciado que a correção e classificação de testes e fichas dão, em geral, poucas ou nenhumas indicações aos alunos para melhorar, reforçando as suas baixas expectativas em relação à aprendizagem da Matemática (Fernandes, 2006a; Kraemer, 2005; Gipps & Stobart, 2003). A avaliação formativa depende, ao nível da sala de aula, da observação e do questionamento oral, o que, geralmente, não se traduz na avaliação final das aprendizagens do aluno à disciplina. Santos (2003c), acerca do uso de vários instrumentos de recolha de dados para a avaliação e Pinto e Santos (2006), a propósito da avaliação numa perspetiva formativa, apontam as seguintes dificuldades no desenvolvimento de práticas de avaliação formativa: a dificuldade de sistematizar a informação em situações mais informais de avaliação; a sobrecarga de trabalho que a avaliação formativa acarreta porque aumenta os momentos de avaliação; uma desconfiança nos instrumentos não tradicionais e nos 30 processos informais de avaliação. Mesmo nas situações em que se experimenta ou inova em avaliação, avaliar e aprender aparecem como duas dimensões pedagógicas relativamente distintas (Pinto & Santos, 2006). Stobart (2006) aponta a dualidade de critérios de validade que se usam ao apreciar a avaliação formativa e a avaliação sumativa como uma dificuldade para a valorização da primeira. No caso da avaliação formativa, a sua validade encontra-se relacionada com as consequências que tem no processo ensino aprendizagem. Na avaliação sumativa, entendida como exames externos pelo autor, a validade relaciona-se com a idoneidade e com as inferências que se fazem acerca dos resultados obtidos pelos alunos. Santos (2011), por sua vez, aponta três critérios alternativos de qualidade para os processos avaliativos colocados ao serviço da aprendizagem (avaliação reguladora das aprendizagens): a compreensibilidade, a adequabilidade e a eficácia. A compreensibilidade se acessíveis e claros a quem se dirigem e/ou a quem os usa, a adequabilidade se concordantes com a especificidade dos alunos e das tarefas e a eficácia como uma ação e seus efeitos. Os três critérios de qualidade apresentados por Santos (2011) confrontam-se com os usualmente utilizados na avaliação sumativa, a validade e a fiabilidade. No entanto, apesar de toda a avaliação prossupor um julgamento e uma tomada de decisão sobre o que é relevante para determinado fim, uma recolha de informação, a sua interpretação e o desenvolvimento de uma ação, aquilo que permite diferenciar as modalidades de avaliação é a função (ou funções) para a qual é pensada e executada. Por definição, a avaliação formativa tem implicações nas aprendizagens futuras (Stobart, 2006). Se este aspeto falhou, a intenção foi formativa, mas o processo não o foi (Wiliam, 2000). A definição dada desta forma implica que a validade da avaliação formativa seja fundamental para o seu desenvolvimento e inclusão no processo ensino aprendizagem. A validade da avaliação formativa afeta a forma como a aprendizagem se desenvolve. O aluno precisa saber o que precisa fazer para melhorar em aprendizagens futuras (Wiliam et al., 2004), e para a concretização desta premissa é fundamental que a avaliação formativa funcione na sua plenitude (Kane, 2004). Mas, se melhorarmos, por exemplo, a compreensibilidade, cria-se um contexto favorável à aprendizagem significativa e, consequentemente, aumenta a eficácia (Santos, 2011). Sendo, neste contexto, a avaliação reguladora aquela que visa a melhoria da aprendizagem matemática deve ser concebida tendo em conta o que há de específico e particular em cada aluno. 31 Segundo Abrantes (2001) e Alonso (2002), a integração do currículo e da avaliação é definida, nos princípios sobre currículo e avaliação, como a procura de consistência entre os procedimentos de avaliação relativamente às orientações curriculares e as formas de trabalho efetivamente desenvolvidas com os alunos. É esta coerência o elemento regulador do ensino e da aprendizagem. Assim, fala-se de um processo intencional e continuado, que vai acontecendo no dia-a-dia, na sala de aula, e que é marcado por um conjunto de orientações, das quais Santos (2003a) destaca os seguintes: desenvolver um ambiente de confiança, onde errar é visto como natural e não penalizador, privilegiar uma observação formativa em situação, e no quotidiano, e favorecer a metacognição como fonte de autorregulação. Segundo a mesma investigadora (Santos, 2003a), essas práticas não acontecem de um momento para o outro, como por magia, nem tão pouco por estar legislado. Assim, perante a complexidade e dificuldade de tal empreendimento, Santos (2008c) sugere como estratégia facilitadora o desenvolvimento de um trabalho colaborativo entre professores, onde é possível um apoio mútuo e a construção de um sentido comum partilhado de avaliação, de uma responsabilidade partilhada e emancipada, que permita aos professores reelaborarem o currículo, e ainda de uma ética de responsabilidade colegial, que passa pela definição conjunta de prioridades e objetivos comuns que orientam as escolhas individuais. Síntese A dinâmica da aula resulta de muitos fatores, entre eles, os que estão relacionados com os alunos, as suas conceções e atitudes em relação à Matemática, os seus conhecimentos, a sua experiência de trabalho matemático e a comunicação que se estabelece. O professor procura estabelecer um diálogo de confiança onde possa ter lugar a diversidades de ritmos de aprendizagem e as afinidades de formas de trabalho. Procura ir ao encontro dos interesses dos alunos para que se sintam incluídos e participem ativamente nas tarefas escolares (Handley & Williams, 2011). Para além do papel de meros recetores de informação, cabe aos alunos adotar uma atitude crítica face à sua aprendizagem, assumir um papel ativo, e ao professor um papel de organizador e dinamizador da aprendizagem, criando oportunidades para que a atividade de cada aluno se realize através da interação, partindo do seu trabalho (Webb, Boswinkel & Dekker, 2008), ajudando-o a empenhar-se na própria aprendizagem e a ganhar autoconfiança. 32 Numa diversidade de tarefas, o aluno participa ativamente, explicando aos colegas, recordando ideias, representações e procedimentos já aprendidos (Pijls, Dekker & Hout-Wolters, 2007). A apreciação pública do trabalho do aluno ganha se passar a ser para si um fator de desenvolvimento. Por exemplo, Lester et al. (1992) chamam a atenção para a importância dos professores colocarem questões aos alunos enquanto estes resolvem problemas para estimular o seu pensamento, para compreender como um determinado aluno está a pensar, e ainda para os ajudar a avaliar os aspetos que são o foco da observação. Esta perspetiva avaliativa promove a adequada integração entre a avaliação, o ensino e a aprendizagem (Goos, Stillman & Vale, 2012). Desenvolve-se uma abordagem integrada dos processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação para promover a responsabilização do aluno e a sua consciencialização enquanto aprendente. Este último aspeto traz a necessidade de repensar as práticas uniformes e pobres de avaliação (Abrantes, 2002), que não estão de acordo com os documentos curriculares em vigor (Fernandes, 2005; Santos, 2004) e não respondem, atualmente, às diversidades dos sistemas educativos. A regulação das aprendizagens efetuada por professor e aluno desenvolve-se pelas implicações que tem na aprendizagem (Santos, 2011; Stobart, 2006). A definição dada desta forma implica alterações ao nível da aprendizagem. O aluno precisa saber o que precisa fazer para melhorar aprendizagens – a compreensibilidade, a adequabilidade, e a eficácia (Santos, 2011). O aluno procura mobilizar os recursos de que dispõe, mas cabe ao professor favorecer o ambiente, tendo em vista a programação e promoção da aprendizagem e as estratégias utilizadas para ajustar o ensino às necessidades de aprendizagem. Prática reflexiva e colaboração O professor como praticante reflexivo No seu quotidiano profissional, o professor depara-se com muitas situações de conflito que exigirão tomadas de decisões na sua resolução. Para que estas não sejam precipitadas é necessário refletir. Para Dewey (1997), a reflexão é uma atividade que pode contribuir para o desenvolvimento profissional do professor, uma vez que ao refletir sobre a sua atividade está a pensar sobre ela. Mas a capacidade para refletir 33 emerge quando há o reconhecimento de um problema, de um dilema, e a aceitação da incerteza. Há diversas formas de reflexão. Segundo Shulman (1987), a reflexão é um processo a partir do qual o professor desenvolve uma nova compreensão dos objetivos, das matérias de ensino, dos alunos e dos seus processos de aprendizagem – revê a sua prática letiva desde a planificação. Quando este, retrospetivamente, reconstrói os acontecimentos, relembra as emoções e confronta o que aconteceu com os seus objetivos iniciais, desenvolve uma nova compreensão sobre o seu ensino. Se Shulman (1987) atribui à reflexão um papel fundamental no desenvolvimento de uma nova compreensão, Schön (1983) acentua a sua importância na mudança das práticas. Para Schön (1983), a reflexão permite enriquecer o repertório do professor e melhorar a sua capacidade de resolver problemas. Schön (1983) distingue em especial a reflexão-naação, a reflexão-sobre-a-ação e a reflexão-sobre-a-reflexão-na-ação A reflexão-na-ação é um processo de diálogo com uma situação problemática que exige uma intervenção concreta e que se processa de forma intuitiva (Schön, 1983). Trata-se de realizar uma análise viva dos múltiplos fatores intervenientes, com a possibilidade de mediação imediata. A reflexão na ação ocorre durante a prática: Ele sabe fazer trocos mas não sabe somar os números [itálico no original]. Se o professor quiser familiarizar-se com este tipo de saber, tem de lhe prestar atenção, ser curioso, ouvi-lo, surpreender-se, e atuar como uma espécie de detetive que procura descobrir as razões que levam as crianças a dizer certas coisas. Este tipo de professor esforça-se por ir ao encontro do aluno e entender o seu próprio processo de conhecimento, ajudando-o a articular o seu conhecimento-na-ação que exige do professor uma capacidade de individualizar, isto é, de prestar atenção a um aluno, mesmo numa turma de trinta, tendo a noção do seu grau de compreensão e das suas dificuldades. (Schön, 1992a, p. 82) A reflexão-sobre-a-ação desenvolve-se num momento posterior à ação (Schön, 1983). Acontece quando reconstruímos mentalmente a ação e realizamos uma análise a posteriori. Depois do acontecimento, este é revisto fora do seu cenário. Ao refletir sobre a ação, o professor toma consciência do seu conhecimento tácito, procura crenças erróneas e reformula o pensamento. Essa reflexão consiste numa reconstrução mental retrospetiva da ação para tentar analisá-la, reconstruindo um ato natural quando percecionamos diferentemente a ação (Alarcão, 1996). Outro estádio é a reflexão-sobre-a-reflexão-na-ação. É uma reflexão que ajuda o profissional a progredir no seu desenvolvimento e a construir a sua forma pessoal de 34 conhecer (Serrazina & Oliveira, 2002). Trata-se de olhar retrospetivamente para a ação e refletir sobre o momento da reflexão na ação, isto é, sobre o que aconteceu, o que o profissional observou, que significado atribuiu e que outros significados podiam ser atribuídos ao que aconteceu (Schön, 1992a; 1992b). Esse processo auxilia o professor na compreensão e no exercício da sua prática profissional: “este processo leva o profissional a progredir no seu desenvolvimento e a construir a sua forma pessoal de conhecer” (Alarcão, 1996, p. 17). Nessas experiências adquire uma importância fundamental a conjugação da reflexão e investigação de situações concretas da prática (Kilpatrick, 2008). Num ambiente onde as relações colaborativas são perspetivadas como facilitadoras do confronto de saberes, facilita-se a mudança/reestruturação do conhecimento profissional do professor e a aquisição de identidade profissional (Oliveira & Hannula, 2008). Uma verdadeira mudança na prática letiva dos professores terá de passar necessariamente pela sua experiência enquanto formandos, em perspetivas que contestem as abordagens tradicionais – defendendo assim a perspetiva de aprendizagem reflexiva (Fosnot, 1999). Muitas vezes a perspetiva que o professor tem de como se deve ensinar é aquela que experimentara enquanto aluno. Exemplo disso é o relato que Fosnot (1999) faz, quando, num workshop, uma professora ficou indignada porque o formador não lhe deu a resposta pronta a uma pergunta, antes a remeteu para futuras investigações. A esse respeito a autora acrescenta: O professor mostra aos alunos o processo de obterem as respostas certas e depois orienta-os na reprodução desses processos. Fazer-se uma pergunta sem se ter previamente mostrado como lhe responder é considerado «injusto»! (Fosnot, 1999, p. 111) Esta investigadora defende que se os professores passarem por uma experiência de alunos, em que se valorize a aprendizagem pela descoberta, possibilita, muitas vezes pela primeira vez, “olhar para a Matemática mais como uma atividade de construção, de exploração e de debate, do que um conjunto finalizado de conhecimentos que deverão ser aceites, acumulados e reproduzidos” (Fosnot, 1999, p. 120). Em primeiro lugar, essa atitude tem reflexos no tipo de trabalho que desenvolve com os alunos, estimulando-os também a refletir (Korthagen & Wubbels, 2001). A realização de atividades de investigação, que envolvem uma certa estruturação pelos próprios alunos, são exemplos de trabalho que esse professor valoriza. Em segundo lugar, um professor com esta capacidade analisa as suas práticas, colocando a si próprio 35 questões como: o que aconteceu? Porque aconteceu? Que implicações teve a minha atuação no que se passou? O que poderia ter feito de diferente? Esta postura está muitas vezes relacionada com as experiências anteriores dos professores, nomeadamente, com o confronto com situações que exigiram uma certa estruturação dos seus problemas. Para estes autores, um professor reflexivo identifica os aspetos sobre os quais necessita ou quer aprender, apresenta uma maior predisposição em escrever e em falar sobre as suas próprias experiências e desenvolve mais facilmente um elevado grau de satisfação profissional. Finalmente, um professor reflexivo consegue descrever e analisar adequadamente a sua atuação nas relações interpessoais com os outros, aspeto que assume particular importância na melhoria das relações que estabelece com os alunos e na forma como lida com as suas necessidades individuais. Ora, a existência dessas capacidades depende da formação que os professores receberam e do tipo de situações com que se confrontaram ao longo da vida (Korthagen & Wubbels, 2001). Ponte (2002b) reafirma esse posicionamento quando refere que a teoria é fundamental para um alargamento de perspetivas e para indicar linhas condutoras da reflexão. A prática permite o envolvimento do próprio professor, proporcionando uma experiência concreta a partir da qual é possível refletir. A reflexão estimula novos interesses, chama a atenção para novas questões e possibilita uma prática mais segura, mais consciente e mais enriquecida. Dada a complexidade cognitiva e didática dos conceitos e métodos matemáticos, interessa então, antes de mais, melhorar a formação dos profissionais da Educação Matemática. Oliveira e Hannula (2008) destacam a importância a dar à formação inicial de professores, para atingir este fim, devendo esta incidir em três vertentes: i) desenvolvimento de conhecimentos e valores profissionais; ii) desenvolvimento de competências profissionais de observação e interpretação dos acontecimentos ocorridos nas aulas, reflexão sobre eles e modos diversificados de interagir em aula; e iii) adoção de uma identidade profissional, em que se inclua o praticante reflexivo e o trabalho colaborativo. Esta integração de saberes faz sentido uma vez que para o professor de Matemática são fundamentais duas competências, saber matemática e saber ensiná-la (Oliveira & Hannula, 2008). O conceito de colaboração O trabalho colaborativo não se resume a colocarmos um grupo de pessoas perante uma tarefa coletiva – não chega agrupar, nem é suficiente pedir resultados nem 36 cooperação. Para Day (2001), a colaboração distingue-se da cooperação porque a primeira representa uma forma particular de cooperação que envolve trabalho conjunto em que todos aprofundam o seu conhecimento da situação. A noção de cooperação é usada para designar a investigação educacional realizada nas escolas, aquela em que os investigadores se limitam a usar o conhecimento dos professores e alunos como fontes de dados. Day (2001), na mesma linha de pensamento, refere que enquanto na cooperação as relações de poder e os papéis dos participantes no trabalho cooperativo não são questionados, a colaboração envolve negociação cuidadosa, tomada conjunta de decisões, comunicação efetiva e aprendizagem mútua num empreendimento que se foca na promoção do diálogo profissional. A interdependência é um predicado comum à cooperação e à colaboração, mas não possui o mesmo valor nas duas situações de aprendizagem. Ao diferenciar os dois conceitos, verifica-se que, na cooperação, a interdependência tem necessariamente de existir, uma vez que a contribuição de uns só está completa com a contribuição dos outros. Por seu lado, a colaboração valoriza uma interdependência de caráter mais associativo, visando um maior envolvimento, a partilha de ideias e recursos, a contribuir individualmente para as realizações e o apoio mútuo. Aqui, a interdependência surge num plano mais relacional, e num contexto mais social, visando também a criação de uma identidade grupal. Tal perspetiva é coerente com a forma como Boavida (2005) define a colaboração, entendendo-a como a realização de um trabalho em conjunto, que requer uma maior dose de partilha e interação do que a simples realização conjunta de diversas operações, a cooperação. Para Hargreaves (1998), a colaboração entre professores permite que realizem uma aprendizagem conjunta, uns com os outros, numa partilha de saberes e o ampliar do conjunto das suas competências, fomentando o desenvolvimento profissional dos mesmos e das escolas. Ainda segundo este autor, a colaboração entre professores deve ser uma iniciativa dos próprios, geralmente, voluntária, uma vez que as relações de trabalho não são de constrangimento, nem de coação, pois devem desenvolver-se de forma agradável e produtiva. Geralmente são ações orientadas para o desenvolvimento, em que os envolvidos definem as tarefas e as finalidades do seu trabalho conjunto e procuram dar resposta a problemas que emergem das suas práticas. Enquanto trabalho conjunto de um grupo, é importante que se defina um diagnóstico, a planificação, a construção e a intervenção para a melhoria do desempenho dos alunos. 37 A colaboração, segundo Hargreaves (1998), pode ajudar a promover o desenvolvimento profissional dos indivíduos envolvidos, podendo proporcionar momentos de aprendizagem mútua e potenciar reflexões individuais. A possibilidade de desenvolvimento profissional para os participantes é um dos benefícios do trabalho colaborativo apontado por uma panóplia de autores entre os quais Day (2001), Hargreaves (1998) e Lafleur e MacFadden (2001). Particularmente, quando o trabalho do grupo se expande para além dos seus propósitos iniciais permite diferentes possibilidades de desenvolvimento profissional individual. Salientam-se, em particular: a possibilidade de partilha conhecendo outros olhares; a ajuda para ultrapassar fracassos; o apoio para a inovação; o acréscimo de segurança para iniciar inovações e mudanças; o aumento de oportunidades de aprendizagem mútua da capacidade de reflexão, e de correr riscos; e o fortalecimento da autonomia e independência. Enquanto forma de trabalho essencial em muitas áreas da educação é, cada vez mais, um elemento importante de concretização de muitos projetos envolvendo professores ou investigadores e professores (Boavida, 2005; GTI, 2002; 2005; 2008; Jaworski, 2001, 2007; Martinho, 2007; Santos, 2000; Santos et al., 2010; Serrazina, 2008), e pode ser uma forma de implementar a reflexão: O apelo à utilização das tecnologias e à diversificação das experiências de aprendizagem, de ensino e de avaliação impelem os professores à alteração de hábitos de trabalho e à necessidade constante de formação. Assim, a reflexão conjunta e o lançamento de pequenos projetos, ou simples tarefas em conjunto, pode gerar um maior conhecimento entre professores e formas diversificadas de trabalhar. Este entendimento pode tornar-se numa reviravolta relativamente ao que são as práticas letivas. (Dias & Santos, 2008b, p. 249 - 250) A existência de um campo de entendimento de igual para igual é essencial para que os participantes se apoiem mutuamente para conseguirem atingir os objetivos a que se propõem (Boavida & Ponte, 2002). Mas, esse acordo de equidade entre os participantes reporta-se ao grau de importância do seu papel, não significando que todos desempenhem as mesmas funções. Os papéis podem ser distintos mas todos são igualmente relevantes. Cada elemento tem o seu percurso profissional, as suas experiências, a sua leitura da realidade, e essa diversidade é uma mais-valia para o trabalho colaborativo e deve ser assumido como tal pelo próprio grupo (John-Steiner, Weber & Minnis, 1998). Logo, num trabalho colaborativo, cada participante desempenha um papel específico que se diferencia dos demais nas suas características, 38 nas funções assumidas, bem como na sua intensidade. Cabe ao grupo gerir as potencialidades de cada um dos seus elementos (Martinho, 2007). Segundo Boavida e Ponte (2002), neste processo, é fundamental que os participantes manifestem abertura no modo como se relacionam uns com os outros, dispondo-se a um contínuo dar e receber, assumindo uma responsabilização conjunta pela orientação do trabalho e sendo capazes de construir soluções para os problemas no respeito pelas diferenças e particularidades individuais. A colaboração exige, antes de mais, interação entre os membros, na medida em que é uma atividade coordenada e sincronizada. Na colaboração, a realização da tarefa articula-se mais num envolvimento pessoal, mas num ambiente de interação que possibilita a entreajuda e a pôr em comum o fruto do seu trabalho. O grupo, sem ser o único local de aprendizagem, é um local privilegiado de troca de informações e saberes. Síntese A planificação, a concretização e a reflexão fazem parte do ciclo da atividade do professor de Matemática. A reflexão-na-ação é uma ação, no momento que surge a identificação de constrangimentos na prática letiva e que engloba a sua modificação imediata. A reflexão-sobre-a-ação consiste numa reconstrução mental retrospetiva da ação para tentar analisá-la, reconstruindo um ato natural quando percecionado diferentemente da ação (Alarcão, 1996). A reflexão-sobre-a-reflexão-na-ação, segundo Schön (1983), é aquela que ajuda o profissional a progredir. O professor reconstrói a ação e reflete sobre o que acontece para poder identificar os seus pontos críticos. A reflexão é consequência de uma ordem de tal modo consecutiva que cada ideia gera a seguinte com o seu efeito natural – em ação - e, ao mesmo tempo, apoia-se na antecessora ou a esta se refere. Esta análise permite efetuar alterações no processo de ensino e na atuação, enquanto profissional, para melhorar as experiências de aprendizagem facultadas aos alunos. Este pode ser um aspeto fundamental, quando os currículos procuram o desenvolvimento de alunos autónomos e responsáveis pelas suas próprias aprendizagens. Quando a atividade do professor se desenrola num ambiente verdadeiramente colaborativo, se ocorrerem mudanças elas tendem a ser mais duradouras, dado que, os professores estão implicados no trabalho e discutem as suas dificuldades e necessidades de uma forma aberta e reflexiva (Boavida & Ponte, 2002). Essas mudanças são necessariamente as que o próprio professor considera necessárias e não aquelas que os 39 restantes elementos da equipa elegem como relevantes. No entanto, as discussões do grupo, os desafios colocados pelos pares, abrindo novas perspetivas, podem levar o professor a identificar novas necessidades (Martinho, 2007). Em conjunto, os professores planificam, concretizam e refletem na e sobre a ação, consciencializando-se da forma como desenvolvem as suas práticas e dos recursos que mobilizam para as ultrapassar. 40 CAPÍTULO 3 – A AVALIAÇÃO REGULADORA EM MATEMÁTICA O conceito de avaliação reguladora em Matemática Significado e adequação à aprendizagem A avaliação das aprendizagens é um aspeto central e integrante do processo ensino aprendizagem. A relação entre as práticas avaliativas e a forma como os processos e os resultados das aprendizagens dos alunos são entendidos, pelos diferentes atores do processo educativo, têm implicações no currículo e no ensino (James, 2006). Tem-se verificado grandes avanços na forma como se olha para avaliação, apesar da avaliação, ainda, ser vista como um constrangimento à aprendizagem (Stiggins, 2004). Segundo o autor, avaliar é um processo que já não é visto apenas como um fator de verificação das aprendizagens, mas, também é olhado como uma forma de promover as aprendizagens (avaliação formativa). No entanto, também, importa olhar para o processo ensino aprendizagem associado à avaliação uma vez que o professor e aluno procuram o desenvolvimento de conhecimentos, capacidades e atitudes e executam o ponto da situação em que se encontram, isto é avaliam para a regulação da aprendizagem (Santos, 2002; Santos et. al., 2010). A avaliação encontra a sua ligação na aprendizagem quando se promove o pensamento sobre as atitudes próprias (autoavaliação) ou quando o professor emite um juízo sobre um trabalho (feedback). Hoje, a avaliação, é mais complexa e mais sofisticada do ponto de vista teórico (Fernandes, 2007). A avaliação que promove a aprendizagem tem sido estudada por vários investigadores (Black & Wiliam, 2006a; Fernandes, 2005; Menezes et al., 2008; Pinto & Santos, 2006; Santos, 2008b; Santos et al., 2010), o que tem trazido grande conhecimento ao nível dos processos cognitivos de pensamento dos alunos e dos processos de aprendizagem. Trata-se de uma avaliação interativa, centrada nos processos cognitivos dos alunos e associada aos processos de feedback, de regulação, de autoavaliação e de autorregulação das aprendizagens (Price et al., 2010; Sadler, 1998; Schunk & Zimmerman, 1998). 41 O currículo (português) possuía2 um sistema de avaliação das aprendizagens que, a muitos títulos, foi considerado progressista, consistente com recomendações decorrentes da literatura de investigação e até inovador (Fernandes, 2007). Mas, apenas com a introdução dos programas de Matemática de 2003 as grandes linhas orientadoras da avaliação formativa, em particular, na Matemática, ficaram expressas nos diversos documentos curriculares portugueses (Santos, 2004): No presente, com a recente reforma em curso, a avaliação toma, talvez pela primeira vez a nível institucional, um destaque muito particular. Falamos, por exemplo, na publicação de uma coletânea de textos sobre a avaliação das aprendizagens que acompanha, juntamente com outras publicações, as mudanças introduzidas no ensino básico obrigatório, designadas de uma forma geral por “Gestão flexível do currículo”. Nela são tratados temas como a avaliação de competências, os critérios de avaliação, métodos de avaliação pedagógica e a autoavaliação regulada. É também a primeira vez que a nível institucional são enunciados princípios orientadores da avaliação: da consistência dos procedimentos de avaliação relativamente aos objetivos curriculares e às formas de trabalho efetivamente desenvolvidas pelos alunos; o caráter essencialmente formativo da avaliação; a necessidade de promover a confiança social na avaliação, envolvendo nos seus processos alunos e encarregados de educação. (p. 129) Para além de incluir os princípios referidos por Santos (2004), há um conjunto de orientações relativas à consistência que deve existir entre a forma como se desenvolve o currículo nas salas de aula e as estratégias, as técnicas e os instrumentos de avaliação utilizados. Em particular, destacam-se os seguintes aspetos: • a vertente reguladora da avaliação, que é referida por Jorro (2000), Santos (2002), na vertente teórica, e encontra-se presente nas orientações dos programas de Matemática – A (10ºano): Entendemos por regulação da aprendizagem todo o ato intencional que, agindo sobre os mecanismos de aprendizagem, contribua diretamente para a progressão e/ou redireccionamento dessa aprendizagem. Ao falarmos numa ação sobre os mecanismos de aprendizagem, estamos a considerar o papel central do sujeito, daquele que aprende. Assim, todo e qualquer ato de regulação tem necessariamente que passar por um papel ativo do aluno. (Santos, 2002, p. 77) Pretende-se que a avaliação em Matemática não se restrinja a avaliar o produto final mas também o processo de aprendizagem e permita que o 2 Alterado a 5 de julho 2012. 42 estudante seja um elemento ativo, reflexivo e responsável da sua aprendizagem. (Ministério de Educação, 2001, p. 13) • o objeto de avaliação, como um processo interativo, de comunicação, orientado para a melhoria das aprendizagens e para a aquisição de conhecimento profundos e claros sobre os conteúdos matemáticos: Avaliar os conhecimentos matemáticos dos estudantes significa reunir e analisar dados sobre o que estes sabem a respeito de conceitos e métodos matemáticos. Estes dados devem ser utilizados tanto pelos professores como pelos estudantes; os professores deverão utilizá-los para ajudar os estudantes a adquirir conhecimentos profundos e ideias claras sobre os conteúdos matemáticos. (Ministério de Educação, 2001, p. 13) • a diversidade de formas e instrumentos de avaliação, preconizando a avaliação integrada no processo ensino aprendizagem, dando atenção à diversidade de alunos e à multiplicidade de formas de fazer: O uso variado de instrumentos de forma integrada no ensino permite, por um lado, a existência de uma avaliação consistente com o ensino e aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento de sua função reguladora; e, por outro lado, permite reunir um conjunto significativo de evidências daquilo que o aluno melhor consegue fazer em diferentes tarefas e em diferentes contextos de trabalho. (Menino & Santos, 2004, p. 272) Em particular, recomenda-se fortemente que, em cada período, mais do que um dos elementos de avaliação seja obrigatoriamente uma redação Matemática (sob a forma de resolução de problemas, demonstrações, composições/reflexões, projetos, relatórios, notas e reflexões históricas ou outras) que reforce a importante componente de comunicação Matemática (o trabalho deve ser proveniente de um trabalho individual, de grupo, de um trabalho de projeto ou de outro julgado adequado). (…) Mas, é claro, os testes escritos, em si mesmos, têm aspetos muito positivos e são muito importantes. Eles deverão aparecer em momentos de síntese e cumprir uma função diferenciada da dos outros instrumentos. (Ministério de Educação, 2001, p. 13) Não há dúvida que existe um aspeto comum que atravessa todo o tipo de documentos referentes à educação, em geral, e ao ensino e aprendizagem da Matemática, em particular, que é a necessidade de desenvolver uma nova cultura de avaliação que passe por atribuir-lhe um significado diferente e consequentemente um uso e fins igualmente diversos. Falamos de uma perspetiva de avaliação ao serviço da aprendizagem (Keitel, 2005; Stiggins, 2004; Santos, 2008c), isto é, uma avaliação que não se identificando com uma medida, seja sobretudo encarada como uma interação 43 social, um processo desenvolvido por pessoas e ao serviço da aprendizagem, fim primeiro de toda a educação (Santos, 2003b). Natureza A discussão acerca da adoção de um modelo de avaliação integrada na aprendizagem pode ser mais eclético ou mais sintético e ganha mais pertinência quando enquadrado pela conceção que o professor tem do processo ensino aprendizagem. Por exemplo, numa conceção de ensino em que o professor tem de medir a diferença entre o “modelo do professor” e a forma como o aluno reproduz os conceitos de avaliação e de classificação, praticamente, não se distinguem (Graça, 1995). Não têm uma dimensão pedagógica no sentido em que não incidem diretamente no processo ensino aprendizagem. Pinto e Santos (2006), também, consideram que não é possível falar-se do sentido atribuído à avaliação sem o relacionar com o que se entende por ensino e aprendizagem. Para estes autores, a avaliação está inter-relacionada com o modelo pedagógico que assenta nas conceções entre ensinar e aprender e nas relações que estas conceções determinam. As ideias e as práticas mudam, e não é possível estabelecer uma barreira estanque entre a evolução dos diferentes modos de avaliação, por isso é fácil encontrar hoje práticas que decorrem ainda das conceções iniciais de avaliação e “existirem práticas em mosaico, isto é, decorrentes de várias conceptualizações, mas racionalizadas pela ideia considerada como mais “moderna” e ou mais “adequada” ao momento” (Pinto & Santos, 2006, p. 12). James (2006) afirma que ao assumir o alinhamento entre a avaliação e o ensino é necessário ter em conta as interações que se estabelecem no seio da sala de aula e as estratégias implementadas para a aprendizagem. Ainda para esta investigadora, é necessário que os professores adquiram conhecimentos das diferentes abordagens dadas pelas teorias de aprendizagem para compreenderem as suas práticas pedagógicas, de ensino e de avaliação. Por exemplo, avaliar para aprender requer que os professores repensem o que se entende por aprendizagem significativa e que a apliquem. James (2006) apresenta três exemplos de diferentes práticas de avaliação na sala de aula. Esta investigadora pretende mostrar que modelos de ensino diferentes afetam os modelos de avaliação. Exemplo 1: identificar pontos fracos e respostas incorretas, sugerir exercícios de treino e avançar à etapa seguinte, após o domínio da anterior. Apesar desta prática 44 implicar uma ação (sugerir exercícios de treino), os critérios da tarefa não têm em conta o aluno e é orientada por objetivos iguais para todos. Exemplo 2: planificar o trabalho a desenvolver e encontrar conexões, discuti-las com o professor e após feedback estabelecer um caminho de reformulação e melhoria. Este procedimento permite dotar os alunos de ferramentas de ação para ultrapassar a primeira dificuldade numa atividade. Também serve a autoavaliação, pois é possível identificar as diferentes etapas percorridas e os pontos onde foi dada a ajuda. Exemplo 3: estabelecer os critérios de avaliação para um grupo de trabalho e desenvolver a atividade em parceria, observando o que os outros fazem, melhorando e participando. A avaliação é partilhada com os outros elementos do grupo, não é apenas uma tarefa do professor e o trabalho recebe o feedback dos diferentes elementos. Em qualquer destes exemplos, está implícita a conceção do professor acerca dum subdomínio do conhecimento (a atividade), a visão da concretização da aprendizagem em relação à prática letiva, e o processo de avaliação como uma construção interativa ou como um produto final (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). Deste modo, e continuando nessa linha de pensamento, importa referir três conceções de aprendizagem que têm caracterizado a avaliação e que estão subjacentes às práticas dos professores: a conceção behaviorista ou neo-behaviorista, conceção cognitivista e a situada ou sociocultural. Seguindo cada uma das perspetivas, é possível identificar e analisar as suas implicações na sala de aula e na avaliação. Segundo os behavioristas, a prestação dos alunos é avaliada através da dicotomia certo versus errado e uma baixa performance envolve a necessidade de uma maior prática em itens de tipo básico para aquisição de competências básicas, o que pode ser associado ao exemplo 1 apresentado anteriormente (James, 2006). Na lógica behaviorista, o processo avaliativo operacionaliza-se da seguinte forma (Allal, 1986): a recolha de informação incide, particularmente, nos resultados da aprendizagem, em função dos objetivos observáveis, definidos em termos comportamentais. Essa recolha é realizada através de instrumentos fiáveis, válidos e objetivos, tais como as grelhas de observação, exercícios escritos ou testes; a interpretação da informação recolhida é feita a partir da comparação entre as performances observadas e aquelas que foram estabelecidas inicialmente; e a adaptação das atividades de ensino e aprendizagem é feita tendo em conta o contexto educacional. Sabendo que as dificuldades do aluno advêm de falta de pré-requisitos, aplicam-se atividades de remediação que lhe permitam atingir com sucesso o que foi inicialmente pedido. 45 A meio caminho entre a perspetiva behaviorista e a sociocultural encontra-se a cognitiva e construtivista. Aqui incluem-se as teorias de Chomsky, Simon e Bruner, segundo James (2006). Nesse contexto, a aprendizagem requer um envolvimento ativo do aluno que é determinada pelo sentido que este dá ao que faz. Os professores valorizam atividades como a interação no grupo turma, a expressão de justificações em voz alta e a elaboração de mapas de conceitos (Lau, Singh & Hwa, 2009). Por exemplo, preconiza-se que o domínio e a compreensão de conceitos permitam a sua replicação em novas situações. Para Allal (1986) corresponde às três etapas e respetivas características: i) ao recolher informação, procura-se identificar os processos e as estratégias utilizados pelo aluno para chegar ao resultado final. Os erros cometidos assumem um “estatuto didático” dado que constituem a base para compreender as dificuldades com que o aluno se deparou na realização de uma determinada tarefa; ii) ao interpretar as informações recolhidas, interessa mais compreender os processos ou as estratégias utilizados para solucionar o problema apresentado, do que corrigir o resultado final; e iii) a adaptação das atividades, auxilia o aluno a identificar os erros cometidos e procura uma estratégia que o ajude a resolver a tarefa proposta. Acredita-se que modificando a tarefa proposta, é possível que o aluno tente desenvolver soluções para a sua realização. Caberá ao professor elaborar uma estratégia de avaliação formativa que seja aplicável à sua turma. A perspetiva sociocultural ou situada é atribuída a Vygotsky (1978) e tem sofrido desenvolvimentos nos últimos anos através das abordagens dadas por Rogoff (1991) e Lave e Wenger (1991). Aprender envolve participação e não depende apenas da atitude individual mas, também, é necessário dar atenção ao contexto social envolvente (Cowie, 2005). O professor precisa criar um ambiente de envolvimento do aluno, onde estimule o pensamento e promova questões pertinentes para a ação por parte dos alunos. Na sala de aula, os alunos envolvem-se diferentemente nas tarefas, atribuindo-lhes significado e a aprendizagem não atinge a mesma profundidade para todos. Nesta perspetiva, a avaliação é um ato instantâneo, situado e holístico, sendo necessário desenvolver modalidades avaliativas coerentes com esta perspetiva (James, 2006). O processo avaliativo, nesta perspetiva, implica o reconhecimento de que o objeto a ser avaliado não é nem o que aluno aprendeu, nem o que o professor ensinou, mas a produção de conhecimentos que esta relação proporcionou, bem como os seus possíveis desenvolvimentos (as potencialidades) futuros, enquanto possibilidades futuras. A recolha de informação faz-se de forma interativa e individualizada e tem 46 implicações imediatas na orientação das atividades escolares. A interpretação dos dados permite a negociação e renegociação dos processos de ensino e de aprendizagem uma vez que os envolvidos, professor e aluno, são ambos construtores do saber. A adaptação das tarefas é feita de forma individualizada, interativa e negociada. Ao mostrar a consistência entre a perspetiva de ensino e aprendizagem que caracteriza o professor e a modalidade de avaliação adotada, James (2006) procura alertar para a necessidade de adequar a abordagem dada à avaliação quando se promovem novas metodologias de ensino e aprendizagem. A perspetiva behaviorista poderá servir para desenvolver alguns conceitos básicos. A cognitiva será melhor para a compreensão de conceitos e na ponderação da sua aplicação. A dimensão social da aprendizagem poderá potencializar a aprendizagem em contextos sociais específicos (Edwards, 2005). Ao nível da avaliação, as modalidades de avaliação, os instrumentos de recolha de dados, as funções e os efeitos da avaliação podem ser equacionados em coerência com uma das perspetivas de ensino e aprendizagem. Na relação entre o papel do professor e a natureza da disciplina, as práticas de avaliação não são indiferentes das conceções epistemológicas e ontológicas que os professores têm da disciplina. Mas há, também, outros aspetos a considerar. Por exemplo, Fernandes (2005), Harlen (2004) e Stiggins (2004) salientam a influência que a avaliação externa tem nas práticas de avaliação dos professores na sala de aula. Para Stiggins (2004), o futuro passa por procurar um maior equilíbrio entre a avaliação externa e a valorização da avaliação realizada na sala de aula. Princípios e constrangimentos O National Council of Teachers of Mathematics (NCTM) referiu, em 1991, que a avaliação deve estar de acordo com três princípios gerais: (i) compatibilidade entre formas e instrumentos de avaliação e as várias componentes do currículo – finalidades, objetivos, conteúdos, processos matemáticos e experiências de aprendizagem; (ii) a diversidade de modos e instrumentos, que permitam recolher dados convergentes a partir de fontes diversas; e (iii) a adequação dos métodos e práticas de avaliação em relação ao tipo de informação pretendido, ao fim a que se destina e ao nível de desenvolvimento e maturidade do aluno. Em Portugal, Leal (1992), que retoma as ideias principais apresentadas por De Lange (1987), defende que a avaliação deve estar de acordo com seis princípios: a) princípio da coerência, a avaliação deve estar em consonância com as três componentes 47 do currículo: objetivos, conteúdos e metodologias; b) princípio da integração, onde a avaliação é vista como parte integrante da aprendizagem; c) princípio do caráter positivo, a avaliação deve dirigir-se para aquilo que o aluno melhor sabe, ou melhor sabe fazer; d) princípio da generalidade, por um lado, a avaliação deve dirigir-se a objetivos gerais de ensino, ao mesmo tempo que o aluno deve ser visto como um todo e não como um elemento dentro do coletivo, por outro, a escolha de uma forma ou instrumento de avaliação não deve ser feita em função da sua adequabilidade a uma classificação quantitativa, mas sim aos fins para os quais foi pensada; e) princípio da diversidade, na avaliação o professor deve recorrer a múltiplas fontes de evidência do desempenho do aluno, permitindo dar resposta às características pessoais dos alunos; f) princípio da postura, a avaliação deve acontecer num ambiente em que a confiança e a clareza imperem e em que as críticas e sugestões sejam entendidas como naturais. Se o NCTM (1991) destaca a coerência, a generalidade e a diversidade, Leal (1992) vai mais além e especifica outros princípios que visam a concretização da prática avaliativa de cariz formativo nas práticas letivas dos professores de Matemática. A integração, o caracter positivo e a postura apontam para modos de concretização na sala de aula (Bennett, 2011). Mas, a perspetiva de Leal (1992) inclui a necessidade dos princípios serem definidos através de um processo negociado e interativo com aqueles que estão envolvidos na avaliação, um processo em que todos serão ouvidos. Fernandes (2005), também, reafirma alguns dos princípios que considera mais relevantes para a abordagem formativa da avaliação: os professores devem partilhar o poder de avaliar com os alunos e outros intervenientes e devem utilizar uma variedade de estratégias, técnicas e instrumentos de avaliação; a avaliação deve estar integrada no processo ensino aprendizagem; a avaliação formativa deve ser a modalidade privilegiada de avaliação, com a função principal de melhorar e de regular as aprendizagens; o feedback, nas suas mais variadas formas, frequências e distribuições, é um processo indispensável para que a avaliação se integre no processo ensino aprendizagem; a avaliação deve servir mais para ajudar as pessoas a desenvolver as suas aprendizagens do que para as julgar ou classificar numa escala; a avaliação é uma construção social em que são tidos em conta os contextos, a negociação, o envolvimento dos participantes, a construção social do conhecimento e os processos cognitivos, sociais e culturais na sala de aula; e a avaliação deve usar métodos predominantemente qualitativos, não se pondo de parte a utilização de métodos quantitativos. 48 O princípio da coerência, referido por Leal (1992), e a necessidade de integração da avaliação no processo ensino aprendizagem, referido por Fernandes (2005), é um aspeto transversal que atualmente está incluído nos programas das disciplinas Matemática A e Matemática (para cursos profissionais). A avaliação faz parte da aprendizagem (Leal, 1992) ou a avaliação formativa tem como função principal melhorar e regular as aprendizagens (Fernandes, 2005), é um princípio que resiste à generalização nas salas de aula de Matemática, porque os professores resistem à sua inclusão na prática avaliativa ou interpretam-nos deficientemente. Em parte, este princípio enfrenta obstáculos justificados por decisões políticas, nomeadamente a influência de 30% do exame da disciplina de Matemática A na conclusão do ensino secundário. Mas, existem evidências de práticas que compatibilizam a persistência dessa influência, nomeadamente dadas por algumas investigações nacionais (Santos et al., 2010) e internacionais (Black & Wiliam, 1998), e o favorecimento da aprendizagem significativa através de práticas avaliativas com características reguladoras. A generalidade e a diversidade são princípios claramente identificáveis no atual sistema de ensino, quer pelos atores que participam na avaliação, quer pelos programas e orientações legislativas em vigor (Fernandes, 2005). Também, a investigação em didática da Matemática tem aprofundado as caraterísticas, as potencialidades e constrangimentos de vários instrumentos de recolha de dados para a avaliação (Santos, 2005). No entanto, tem sido pouco aprofundado o uso dado à informação recolhida (Santos et al., 2010), aspeto fundamental para Santos (2011), “o que permite diferenciar as modalidades de avaliação é a função (ou funções) para a qual é pensada e executada” (p. 155). A coexistência da avaliação da aprendizagem e da avaliação para a aprendizagem, sem a devida planificação e reflexão por parte dos professores leva a constrangimentos no próprio sistema de ensino (Bennett, 2011). Por exemplo, refira-se que no ano 1997, com a entrava em vigor do reajuste dos programas do ensino secundário, a importância dos exames, traduzida nos seus resultados, era tão socialmente significativa quanto hoje. Esse facto afetou e afeta as práticas avaliativas dos professores de Matemática, principalmente pela valorização dada à Matemática no acesso ao ensino superior. Alguns dos seus efeitos, ainda hoje, ao nível da escola, impedem a concretização de alguns dos princípios elencados por Leal (1992) e por Fernandes (2005). Destaco a seguir alguns exemplos de constrangimentos. 49 Rankings de escolas. Os diferentes objetivos educativos, expressos na Lei de Bases do Sistema Educativo, passaram a ter diferentes níveis de importância, isto é, enfatiza-se os relativos ao prosseguimento de estudos (Leal, 1997), desvalorizando-se os respeitantes ao desenvolvimento pessoal e à preparação para a inserção na vida ativa. Figura 1: Jornal "Público" de 27/08/2001 Sujeição das práticas letivas da sala de aula à lógica do exame. Segundo Fernandes (2005) os exames não são percecionados como complementares da avaliação interna e, por isso, do trabalho dos professores. Há uma clara sobrevalorização do peso e do papel dos exames, que acabam por determinar muito do que se faz na escola, nomeadamente ao nível das práticas de ensino e de avaliação. A pressão de um exame no aluno. Neste contexto, os alunos desvalorizam tudo aquilo que não se identifica com as características de um saber testável numa prova [teste escrito ou exame]. A preparação para o exame traduz-se por aprendizagens intensivas que apenas se dirigem à memorização a curto prazo, e que passado um curto espaço de tempo a nada se reduzem (Leal, 1997). Na verdade, tanto em Portugal como no estrangeiro, no seio dos constrangimentos referidos, os professores tendem a orientar mais a avaliação para a atribuição de classificações do que para a melhoria das aprendizagens dos alunos (Black & Wiliam, 1998; Bennett, 2011; Graça, 1995; Rafael, 1998; Stiggins, 2001, 2004). Os professores revelam uma preocupação primordial com a atribuição de classificações, facto a que não será alheia a utilização privilegiada, ou quase exclusiva, de testes para avaliar as aprendizagens (Fernandes, 2005). 50 Funções As funções da avaliação [orientação, regulação e certificação] podem ser equacionadas relativamente às estratégias de realização, precisando os objetivos específicos (Fraser, 2012): orientação, abrange as condições de aprendizagem e as estratégias passam por antecipar as dificuldades prováveis da aprendizagem [com vista a] e escolher entre diversas vias de formação ou de aprendizagem; regulação, dos processos de aprendizagem, passa por compreender o percurso do aluno, descobrir a origem das dificuldades e pilotar e otimizar o processo de aquisição; e certificação, apurar o resultado da aprendizagem, concretiza-se por se pretender verificar que os objetivos estão atingidos e atestar esse resultado socialmente. A avaliação tem, ao mesmo tempo, uma função pedagógica e uma função de controlo e pressão sobre os alunos, os professores e a escola. Esta situação provoca várias tensões que o professor tem de gerir, por vezes com grande dificuldade. A função pedagógica, pelo enquadramento dado por Santos (2008a), que não se limita à observação, mas ao desencadear de uma intervenção pedagógica (regulação) sobre o ensino e/ou aprendizagem, destina-se a ajudar o aluno, e também o próprio professor, dando pistas de retorno através de informações múltiplas. A função de controlo e pressão, de motivação externa para manter na escola um ritmo de estudo e um padrão de comportamento, serve-se prioritariamente de instrumentos, como os exames, com um peso considerável na possibilidade do aluno não ser aprovado e/ou não ser admitido no ensino superior, caso do ensino secundário. Embora a avaliação continue a desempenhar uma função predominantemente de classificação, seleção e certificação, que a própria estrutura do sistema educativo impõe, existe atualmente um maior apelo à função reguladora, cujo peso se sobrepõe às já existentes (Pinto & Santos, 2006). A avaliação com a função reguladora ocorre, geralmente, no momento de aprendizagem e pode incidir sobre diversos objetos: sobre a clarificação entre os objetivos de aprendizagem e as tarefas a utilizar; sobre a explicitação/negociação de critérios de avaliação para uma eficaz apropriação por parte dos alunos; ou ainda sobre a sistematização, interpretação e tomada de consciência dos erros cometidos na realização de uma dada tarefa (Santos, 2008b; 2008c). Esta perspetiva tende a dar maior importância às funções de regulação, autorregulação, apoio à aprendizagem, orientação, motivação e diagnóstico. 51 A avaliação formativa, sendo a principal modalidade de avaliação (prescrita) do ensino secundário, tem um caráter contínuo e sistemático e visa a regulação do ensino e da aprendizagem, recorrendo a uma variedade de instrumentos de recolha de informação, de acordo com a natureza das aprendizagens e dos contextos em que ocorrem. Na perspetiva de Abrecht (1994), a avaliação formativa “é o refazer do caminho percorrido, para refletir sobre o processo de aprendizagem em si mesmo” (p. 18). A sua utilidade advém do facto de poder ajudar o aluno a detetar eventuais lacunas no seu processo para, assim, ultrapassar as dificuldades sentidas. Vários investigadores consideram que, além de uma função de recolha de dados, as funções de informação e de emissão de um juízo de valor são inerentes ao ato de avaliar (e.g. Rosales, 1992; Fernandes, 2005; Jorro, 2000; Suurtamm, Koch, & Arden, 2010). Tem como principal objetivo melhorar o ensino, destinando-se essencialmente aos professores e aos alunos (Irons, 2007). Aos professores porque lhes permite modificar ou ajustar as suas práticas, aos alunos porque os auxilia na consciencialização das suas dificuldades e na correção de erros, ou seja obter feedback (Goos, Stillman & Vale, 2012). As principais funções da avaliação formativa, destacadas por vários autores, encontram-se resumidas no quadro seguinte (Gardner, 2006; Gibbs, 2006; Hadji, 1994; Irons, 2007; Pinto & Santos, 2006; Santos et al., 2010). QUADRO 1: FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO FORMATIVA Objeto Diagnóstico Uso social Situar um nível OU Compreender dificuldades Função principal Tipo de avaliação Regular Formativa Funções anexas Inventariar Harmonizar Tranquilizar Apoiar Orientar Reforçar Corrigir Estabelecer um diálogo Ora, da modalidade de avaliação formativa ressalta a ideia de aperfeiçoamento de um processo, em que os alunos e os professores são colaboradores num objetivo comum – alcançar o sucesso educativo. Está subjacente a esta avaliação uma conceção do aluno como construtor da sua aprendizagem, onde o papel desempenhado pelo professor é de facilitador no modo como esse a constrói e desenvolve. Através de uma orientação individualizada, capaz de identificar os fatores que estão na origem das 52 dificuldades, adaptam-se métodos e faculta-se o tempo necessário para a realização das tarefas propostas, com sucesso. Deste modo, para além de uma função formativa, já muito explorada anteriormente, a avaliação assume uma função interativa, permitindo a comunicação entre os sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem, auxiliandoos a ultrapassar as dificuldades (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). O seu principal objetivo é o de contribuir para melhorar a aprendizagem, instruindo o aluno sobre o seu percurso e informando o professor sobre aquilo que não funcionou como era previsto, ao recorrer a determinada estratégia (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). Autorregulação O conceito de autorregulação tornou-se popular nas décadas de 80 e 90, do século passado, por enfatizar a emergência de atitudes de autonomia e responsabilidade dos alunos acerca da sua própria aprendizagem. A expressão auto enfatiza o agente da própria aprendizagem; regulação procura dar respostas aos objetivos, táticas e perceções de cada aluno para atingir o seu objeto – a concretização de uma tarefa. A monitorização da aprendizagem pelo próprio pretende incluir estratégias cognitivas, metacognitivas e de motivação, para as quais contribui a interação (Lau, Singh & Hwa, 2009; Santos, 2002; Zimmerman, 2000). Vários investigadores (citados em Schunk & Zimmerman, 1998) dedicaram-se ao estudo da autorregulação nas duas vertentes principais: por um lado um objetivo de ensino, pela promoção da autonomia e da motivação; por outro lado, a sua natureza integradora através das potencialidades que cria para ajudar na resolução de problemas, no desenvolvimento de estratégias investigativas, na interpretação de resultados, etc… Uma primeira aproximação ao que se entende por autorregulação em Matemática foi apresentada por Schoenfeld (1992): "compreensões e sentimentos individuais que moldam a forma como cada um concetualiza e se envolve no comportamento matemático" (p. 358). Associada à avaliação reguladora (que permite a monitorização do processo ensino aprendizagem), podemos distinguir a avaliação autorreguladora (monitorização do processo de aprendizagem pelo próprio) (Santos, 2002). A autorregulação da aprendizagem é definida por vários autores, como Simão (2002; 2005; 2006), Zimmerman (2000), Bronson (2000), Pintrich (2000), Rosário (2006) e Santos (2002), como o processo em que o aluno, após o estabelecimento de objetivos que interagem com as suas expectativas, desenvolve as estratégias necessárias para alcançá-los, criando condições para que a sua aprendizagem se efetive. Para o 53 desenvolvimento da autorregulação, as variáveis da tarefa podem afetar o trabalho entre professor e alunos. Por isso, o professor tem o cuidado de procurar as que se adequam à promoção da aprendizagem e ao desenvolvimento do conhecimento matemático. A forma como cada aluno entende a tarefa, como recolhe a informação, as relações que estabelece, etc., são variáveis a ter em conta (Handley & Williams, 2011). Outras variáveis a dar atenção são as de estratégia. Flavell (1987) faz uma distinção entre estratégias cognitivas e metacognitivas. As primeiras dizem respeito ao resultado de uma tarefa e as segundas, à eficácia desse resultado. Por exemplo, para resolver uma adição soma-se um número a outro. Essa é uma estratégia cognitiva. Repetir a operação várias vezes para ter confiança de que a estratégia cognitiva utilizada levou ao sucesso é uma estratégia metacognitiva. Numa especificação mais rigorosa, as atividades metacognitivas incluem três estratégias metacognitivas básicas: i) saber relacionar novas informações às já existentes; ii) saber selecionar estratégias de pensamento com um propósito; e iii) saber planear, desenvolver e avaliar os processos de pensamento. Do ponto de vista cognitivo, a aprendizagem envolve o conhecimento como uma capacidade da mente para significar ou modelar uma informação ou um evento e utilizálos no momento oportuno (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009). A aprendizagem reflete a habilidade intrínseca do sistema cognitivo de reorganizar-se para gerar novos conhecimentos perante as novas necessidades impostas pelo meio. No dia-a-dia, os alunos recebem enormes quantidades de informação, de várias formas e por vários meios, captados pelos sentidos, mas que a mente descarta ou retém por um período de tempo na memória. Como a aprendizagem depende do interesse que a pessoa tem por alguma coisa, na prática haverá uma mobilização de habilidades para a execução das tarefas se estas despertarem o interesse. Segundo Zimmerman e Martinez-Pons (1990) para a aprendizagem autorregulada contribuem os antecedentes do aluno, os seus conhecimentos prévios, as suas estratégias de aprendizagem, a auto-observação, o juízo, a autocorreção, e os contextos – que poderão incluir o feedback que é proporcionado para realinhar os processos de resposta (Hattie & Timperley, 2007). Para que os alunos tenham um papel ativo na construção mental e tornem a aprendizagem significativa, precisam estar motivados para colocar em ação as estratégias adequadas, sejam elas metacognitivas, cognitivas ou motivacionais. A variável motivacional é considerada, por vários investigadores (Bronson, 2000), como a mais relevante para ser integrada na componente cognitiva. Estar motivado significa estar com a intenção de alcançar algum resultado, o qual pode ser diferente de aluno 54 para aluno, assim como as razões pelas quais o procura. Um aluno motivado a realizar algo vai empenhar-se mais na tarefa e, ao fazê-lo, vai dar mais atenção à escolha das estratégias adequadas para melhor obter sucesso. A autorregulação estará ligada à capacidade do aluno fazer ajustamentos no seu processo de aprendizagem em função do feedback e da observação da sua progressão na aprendizagem (Schunk, 2005). Para aprender eficazmente, o sujeito necessita de compreender que as estratégias estão disponíveis, colocando-as ao seu serviço, assim como ser capaz de selecionar as mais adequadas, monitorizando e avaliando o uso que delas faz. A atitude do aluno face à Matemática manifesta-se no modo como aborda as tarefas propostas pelo professor e, de um modo geral, como encara a aula de Matemática. Chevallard, Bosch e Gascón (2001) sublinham que frequentemente os alunos agem com uma certa irresponsabilidade matemática, como se não fizesse parte do seu papel comprometerem-se com a coerência, avaliação ou justificação dos seus raciocínios, nem com a análise crítica e fundamentada do que ouvem. Lidar com esta situação de modo a alterá-la não é simples, tal como não é simples ensinar os alunos a avaliar, reconhecer e produzir argumentos matematicamente válidos adaptados à sua maturidade (Lau, Singh & Hwa, 2009). A complexidade desse processo coloca o professor perante desafios que não existirão se a ênfase for meramente colocada na aprendizagem de técnicas e procedimentos ou se o controle do discurso da aula e o poder decisório sobre o valor matemático desse discurso estiverem inteiramente nas suas mãos (Henning et al., 2012). A autorregulação não é uma meta fácil. Mas pode ser ensinada (Boekaerts, 1997; 1999), na perspetiva que ao desenvolver nos alunos atitudes de autorregulação pode trazer muitas vantagens para o processo ensino aprendizagem. Alguns dos argumentos que funcionam a favor desta perspetiva estão descritos a seguir. i) A autoavaliação leva a uma compreensão mais profunda do que é a aprendizagem. Ao refletir sobre o processo ensino aprendizagem, os professores e os alunos fazem uma análise metacognitiva sobre o contexto educativo. Por exemplo, a comparação entre estilos e estratégias de aprendizagem facilita a consciencialização de que existem diferentes formas de aprender (Buhagiar & Murphy, 2008). Existem alunos que usam notas de leitura com resumos de conteúdos, outros que fazem uma reflexão antecipada sobre o que lhes é solicitado (Dias & Santos, 2008a; Quinton & Smallbone, 2010) ou ainda outros podem traduzir a questão por outras palavras para obter uma maior compreensão do que lhes é solicitado (Dias, 2005). O confronto e o conhecimento 55 dessas diferentes formas de atuação pode levar o professor a avaliar a sua forma de atuação e a procurar abarcar um maior número de alunos, se implementar estratégias diversificadas (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). Para além disso, ao avaliar o que se sabe e o que não se conhece, promove-se um maior investimento pessoal na procura de entendimento: quando não se compreende um assunto não se investe nele. É um engano o professor supor que o assunto continua a fazer sentido. A autoavaliação periódica ajuda a ultrapassar esta dificuldade e as discussões com toda a turma ou o trabalho de grupo também podem ajudar a ultrapassar as resistências dos alunos (Handley & Williams, 2011). A execução dos trabalhos solicitados é feita pelo aluno, mas durante o processo, o professor deve colocar “boas” perguntas, enquanto decorre a concretização (Gipps & Stobart, 2003; Santos, 2002). ii) A autogestão do pensamento e o esforço promovem abordagens flexíveis para a resolução de problemas. Definir objetivos adequados e que sejam exequíveis reforça o caráter desafiador dos problemas. Os professores podem compreender as dificuldades encontradas no estabelecimento de objetivos quando se procuram incluir todos os alunos. Podem ultrapassar-se as dificuldades através do estabelecimento de objetivos pelos próprios alunos, por oposição às grandes concretizações destinadas a impressionar. Assim, os objetivos devem ser diversificados e situarem-se ao nível desafiador. Para além disso, o controlo do tempo e a mobilização de recursos é essencial para o estabelecimento de prioridades, para a superação de frustrações e a persistência na conclusão da tarefa. Os professores devem intervir de forma subtil na escolha dos materiais quando estes têm um grau superficial de exigência e permitir as escolhas pessoais, embora lançando algumas questões que mantenham o caráter desafiador, mas aumentem o grau de complexidade. A gestão dos tempos escolares inclui a definição de prioridades e a organização do professor também mobiliza os alunos para serem organizados. Rever a própria aprendizagem, ou um tipo de abordagem, ou até mesmo começar de novo, pode indicar autocontrolo e um compromisso pessoal para a concretização eficaz da tarefa. Por oposição, o fracasso é um obstáculo à autorregulação. Quando uma tarefa não é concluída, mas o aluno é capaz de avaliar o que correu mal não é considerada uma situação de fracasso, porque mostra análise e possibilidade de assumir de novo a tarefa. O insucesso não tem o mesmo efeito em todos os alunos. Cabe ao professor identificar a perceção que o aluno faz das tarefas que não correm como planeado, se estão dispostos ou não a começar de novo até que os objetivos sejam atingidos. 56 iii) A autorregulação pode ser ensinada de diversas maneiras. Por um lado, o professor pode identificar as estratégias metacognitivas necessárias para a compreensão e para a monitorização do trabalho e encontrar formas de envolver os alunos na reflexão sobre a própria aprendizagem periodicamente. Por outro, a autorregulação pode ser ensinada indiretamente com atividades escolares que utilizem ferramentas metacognitivas, fazendo apelo à reflexão e ao entendimento. Tarefas que envolvem comentários e discussões são as mais indicadas. Por outro, ainda, a autorregulação pode ser promovida por avaliação, pelo registo dos objetivos alcançados, registo de progressos realizados, anotações de comportamentos e aprendizagens. iv) A autorregulação faz parte do conjunto de experiências vividas por cada indivíduo. Lave e Wenger (1991) discutem se a aprendizagem se situa no domínio cognitivo ou nas interações sociais. Para estes autores, a aprendizagem constrói-se através de um percurso de vida. Assim, a aprendizagem na escola depende das experiências proporcionadas aos alunos e da adesão destes às solicitações vindas do grupo em que estão integrados. Se a autoavaliação é um processo essencial ao desenvolvimento da autorregulação, também há outros aspetos que não podem ser descorados quando se preconiza o sucesso do processo ensino aprendizagem (Schunk, 2005). Olhar para a aprendizagem matemática e para a avaliação das aprendizagens na sala de aula exige conhecer como é que se inter-relacionam estas duas componentes. Crooks (2001) identificou quatro grupos de fatores que influenciam a avaliação das aprendizagens na sala de aula: o afetivo, as tarefas, a organização e o processo. Para refletir sobre estes temas Stobart (2006) organizou-os em termos de confiança e motivação, aprendizagem explícita e relação entre avaliação formativa e sumativa. É usando estas três categorias de análise que agora passo a descrever a autorregulação. Aprender envolve confiança e motivação. É uma afirmação de Stobart (2006), mas que implica a perceção que os professores têm dos alunos e das questões que estes lhes colocam. A confiança implica que sejam ponderadas ações e atitudes na sala de aula que permitam ao aluno admitir as suas dificuldades e os seus erros, por exemplo a abordagem positiva do erro (Santos, 2002). A motivação envolve o par aluno-professor, em que ambos assumem o compromisso de que o aluno é capaz de aprender. A confiança e a motivação estão baseadas na assunção de que o professor está na aula para ajudar os alunos a aprender. Para que esta interação reguladora seja eficaz passa muitas vezes pela identificação e ajuda à interpretação dos erros cometidos. Por exemplo, os 57 alunos do ensino secundário, estudados por Dias (2005), ao trabalharem em investigações matemáticas, encararam os erros como naturais no processo que desenvolviam. A explicitação das intenções da aprendizagem é importante para que os alunos entendam o que lhes é pedido (Andrade & Valtcheva, 2009). A não compreensão, por parte dos alunos, do que lhes é solicitado pode ser considerada uma ameaça ao desenvolvimento de todo o processo ensino aprendizagem (Bishop & Clarke, 2005; Stoll et al., 2003). Compreender o que é preciso fazer para aprender é um elemento chave da definição de avaliação integrada no processo ensino aprendizagem (Assessment Reform Group, 2002a; 2002b). Para Sadler (1989), também, a compreensão é em si mesmo um ponto crítico para o sucesso do feedback dado pelo professor. Como condições que afetam o impacto do feedback, Hattie e Timperley (2007) e Price et al. (2010) referem, ainda, a necessidade do professor explicitar os objetivos de aprendizagem e os passos a dar para atingir um trabalho de sucesso. A relação entre a avaliação formativa e sumativa é um fator de perturbação do processo ensino aprendizagem e pode afetar o trabalho que se desenvolve na sala de aula (Stobart, 2006) e o desenvolvimento da autorregulação. O apuramento da avaliação final, a sumativa, pode condicionar as práticas de aprendizagem. A valorização da avaliação sumativa externa afeta o modo como se desenvolve a aprendizagem uma vez que se verifica a tendência para valorização das técnicas de resposta a testes e atribui-se pouco significado ao desenvolvimento de algumas competências essenciais. O elemento formativo no processo de aprendizagem envolve feedback de acordo com critérios explícitos, o que deve contribuir para a reorientação da atividade e para a sua concretização ou a sua melhoria. Neste contexto, a autorregulação da aprendizagem pode promover a compreensão do significado do que se aprende, a perceção inovadora do conteúdo a ser aprendido e os processos de mudança pessoal durante o ato de aprender (Schunk, 2005). O grande desafio da educação hoje é desencadear e implementar ações para promover os processos de aprendizagem. A aprendizagem adquire significado por resultar da interação de um conhecimento anterior com novas experiências resultantes de interações (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009). O envolvimento do aluno é fundamental. O aluno estabelece objetivos e mobiliza estratégias, capacidades, competências e conhecimentos para os atingir, se o professor o exigir. 58 Avaliação, ensino e aprendizagem Ao falar de uma avaliação que auxilia professores e alunos a regular o processo ensino aprendizagem, retira-se o aspeto de classificação intrínseco à avaliação sumativa (Soares, 2007). Excluem-se práticas mais orientadas para a classificação e hierarquização em contexto escolar, para se optar por uma prática de natureza qualitativa e mais centrada no aluno. Assume-se a integração da avaliação, do ensino e da aprendizagem, que permite ao professor acompanhar, a par e passo, as aprendizagens realizadas pelos alunos. Sendo descritiva e qualitativa, visa informar o aluno sobre o estado de cumprimento dos objetivos do currículo, indicando objetivos intermédios que irão levar à adoção de novas metodologias. Baseada no diálogo, possibilita um reajustamento contínuo das práticas, para que todos alcancem com sucesso os objetivos definidos (Black & Wiliam, 2006b). Nesta perspetiva, avaliar não é um julgamento sobre a aprendizagem do aluno, mas uma comunicação para dar informação ao aluno do que já sabe e qual o caminho que deve percorrer para melhorar os seus conhecimentos. Na perspetiva de regulação das aprendizagens, os professores de Matemática criam ambientes quando selecionam situações (de entre as famílias de situações inscritas no currículo) e/ou tarefas complexas, na abordagem das quais o aluno possa demonstrar o estado de desenvolvimento da sua competência (Peralta, 2002). Esta ótica é o que Black e Wiliam (2006c) chamam de colocar a perspetiva de ensino na aprendizagem. Para integrar a avaliação, o ensino e a aprendizagem é necessário que os alunos tenham um papel ativo (interventivo) na procura de compreensão. Geralmente, os alunos valorizam apenas as tarefas de avaliação formais. No entanto, existem outros trabalhos realizados pela turma que se revestem de grande significado para a aprendizagem, como é o caso de uma discussão com toda a turma ou um trabalho em pares (Noonan & Duncan, 2005; Henning et al., 2012). Na planificação, os professores podem selecionar tarefas que promovam o interesse dos alunos, que os ajudem a compreender diferentes formas de aprender (Handley & Williams, 2011). Este é o espaço onde se ajusta a aquisição diferenciada dos conhecimentos e onde entram em jogo modos variados de apropriação (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009). A constituição de significado implica uma interação constante do aluno com situações problemáticas, segundo Brousseau (1994) uma interação dialética, porque o aluno antecipa e finaliza as suas ações, investindo conhecimentos anteriores, submetendo-os a uma revisão, modificando-os, completandoos ou rejeitando-os para formar novas conceções ou reforçar as que possui. 59 Nos programas, relativamente à avaliação, fazem-se sugestões que envolvem a recolha dos produtos dos alunos nas aulas, em trabalhos individuais e/ou de grupo e que sobretudo traduzam aquilo que o aluno foi fazendo ao longo do ano, tais como relatórios, projetos, notas, etc. Recomenda-se a avaliação do processo a fim de permitir, por um lado, promover a consciência das falhas e, por outro, a certeza de que estas podem ser ultrapassadas. Segundo Goldenberg (1999), existem tarefas que se podem adequar ao desenvolvimento destes princípios. Os problemas “para reflexão”, ou seja, que pedem ao aluno que repare em pequenas diferenças entre os diferentes problemas, ou então que reflitam no que acabaram de fazer e infiram as ideias fundamentais de casos particulares são um exemplo de tarefas deste tipo. Alguns problemas são tão difíceis que não conseguimos resolvê-los, mas temos que arranjar maneiras de avaliar os nossos progressos sem uma ideia do caminho para a sua resolução (Goldenberg, 1999). É neste ato avaliativo que o questionamento e o feedback assumem um papel fundamental, apoiando a aprendizagem matemática (Price et al., 2010; Quinton & Smallbone, 2010). Existem outros elementos chave do processo de matematização que assinalam em que nível os alunos praticam a sua matemática: a representação mental da estrutura matemática; o raciocínio; o vocabulário e a estrutura da língua de comunicação; as tentativas; as estratégias e os procedimentos para encontrar uma solução; o nível de compreensão e de competência. Estes fatores permitem ver e compreender as diferenças entre os alunos, mas também, como os alunos transformam as suas ideias e o seu modo de pensar e de fazer quando passam de um nível de desenvolvimento para outro (Buhagiar & Murphy, 2008). A avaliação formativa atribui ao aluno um papel principal, uma vez que pretende “desenvolver atitudes de autoavaliação, que o levem a ser capaz de se situar no seu processo de formação” (Abrecht, 1994, p. 17). O professor deixa de ter o papel de único avaliador, para permitir ao aluno assumir um papel mais interventivo. Face a esta situação, “o grande desafio do professor será o de multiplicar as situações de avaliação, jogando com as interações professor - alunos, aluno-aluno, mas também aluno-material didático” (Alves, 2004, p. 61). Estando associada a um ensino diferenciado, esta modalidade valoriza procedimentos de acompanhamento do trabalho dos alunos (Handley & Williams, 2011). A sua finalidade é a de reconhecer onde e em quê o aluno sente dificuldade, procurando informá-lo. Ela representa um feedback para o aluno (Price et al., 2010) e para o professor (Day, 2001). A principal finalidade deste procedimento, tem a ver com a tentativa de assegurar que um maior número de alunos 60 possa alcançar os objetivos determinados no início de uma formação e assim, mais do que uma avaliação - sanção, esta avaliação tem uma função reguladora dupla (Alves, 2004; Santos & Pinto, 2010): i) regular o dispositivo pedagógico, o professor é informado dos efeitos do seu trabalho, ajustando as suas intervenções em função das situações; e ii) regular a atividade do aluno, ajudando-o a tomar consciência das suas dificuldades, assim como a reconhecer e corrigir o erro. Numa sociedade em que se pretende assegurar o sucesso escolar a todos os alunos, traduzido pelo alargamento da escolaridade obrigatória a 12 anos em 2012/2013, as práticas pedagógicas devem ser dinâmicas e proporcionar oportunidades de aprendizagem a todos os alunos. A avaliação deve identificar dificuldades e sugerir formas de ajudar os alunos, o que tem como principais funções a compreensão e o melhoramento da prática educativa; deve enfatizar o controlo e o progresso individuais (identificação dos pontos fortes e das necessidades dos alunos e consequente adaptação do ensino, por parte do professor) constituindo o feedback constante fornecido aos alunos, um dos seus fatores-chave (Price et al., 2010). Embora, seja sabido que o impacto do feedback nem sempre é positivo, relaciona-se com variáveis como o estatuto do aluno, as finalidades da tarefa ou os critérios de avaliação (Hattie & Timperley, 2007). A ênfase desta avaliação deverá colocar-se na melhoria das aprendizagens dos alunos. É uma premissa que contém uma conceção alargada de avaliação, em que já não basta aplicar testes e exames aos alunos; onde se tem de apreciar comportamentos, conhecimentos, capacidades, atitudes, hábitos, interesses, de forma a assegurar informação que permita o desenvolvimento de um conjunto alargado e integrado de capacidades e competências (Perrenoud, 2004; Santos; 2003b; Scallon, 2004; Santos & Pinto, 2010). Black & Wiliam (2006a) discutem e sintetizam o que consideram ser os quatro elementos mínimos numa prática de avaliação formativa: • relações entre o papel dos professores e a natureza da disciplina, em que destacam a relação entre natureza da disciplina e às conceções epistemológicas e ontológicas dos professores acerca dela; • papel dos professores na regulação das aprendizagens, distinguindo entre regulação da atividade (o que vou ensinar ou o que é que os alunos vão fazer) e regulação da aprendizagem (como vou ensinar ou o que é que os alunos vão aprender); • interações professor-aluno, dando particular destaque ao papel do feedback; 61 • papel dos alunos na aprendizagem, em que destacam as dimensões metacognitiva, afetiva e volitiva das aprendizagens e a relevância do feedback, da autoavaliação, das discussões nas aulas e da avaliação e do apoio entre pares. Síntese Para abordar a construção do conceito de avaliação reguladora em Matemática, há que perceber que a construção dos conceitos matemáticos se faz por compreensão e que para que se verifique aprendizagem é necessário um envolvimento interventivo do aluno (Keitel, 2005; Santos, 2008c). No entanto, a atenção não pode recair apenas nos conteúdos individuais e disciplinares, o contexto de aprendizagem, o ambiente, o processo e as interações são outros fatores a ter em conta. A inclusão do desenvolvimento de processos avaliativos coerentes com as outras componentes curriculares é um dos maiores desafios dos sistemas educativos desde o final da década de oitenta do século passado (APM, 1998; NCTM; 2007). O desenvolvimento da vertente reguladora da avaliação, contribui para a consistência que deve existir entre a forma como se desenvolve o currículo na sala de aula e as estratégias, as técnicas e os instrumentos de avaliação utilizados, promove a clarificação entre os objetivos de aprendizagem e as tarefas a utilizar; procura a explicitação/negociação de critérios de avaliação para a sua apropriação por parte dos alunos; intenta a sistematização, interpretação e tomada de consciência dos erros cometidos na realização de uma dada tarefa (Santos, 2004; 2008a). Quando se preconiza a integração da avaliação, do ensino e da aprendizagem deve ter-se em conta as conceções do professor e dos alunos. A natureza da prática avaliativa diverge em consonância com a perspetiva teórica que o professor tem do ensino e da aprendizagem (James, 2006; Gardner, 2006). Black e Wiliam (1998) assumem que quando se fala de avaliação formativa se estão a incluir as atividades desenvolvidas pelos professores e/ou pelos alunos que fornecem informação a ser usada como feedback para modificar as atividades de ensino e de aprendizagem. É um modo de avaliação que tem o propósito de fazer pontos da situação relativamente ao progresso dos alunos face a vários tipos de objetivos do currículo, permitindo ao professor introduzir as necessárias correções ou inflexões na sua estratégia de ensino e ao aluno consciencializar-se dos raciocínios erróneos e dificuldades para ultrapassá-los (Santos & Pinto, 2010). 62 Numa perspetiva mais centrada no aluno, atribuindo-lhe um maior protagonismo, o professor deixa de ter a exclusividade da função avaliativa para permitir ao aluno assumir um papel de inclusão e participação. Assim, nesta abordagem, a avaliação não pode ser uma comunicação definitiva sobre a aprendizagem, mas um ponto da situação com indicações para o professor e para o aluno. Nessa perspetiva de integração da avaliação, ensino e aprendizagem, Pinto e Santos (2006) salientam que se trata de um ato que incide sobre uma realidade em ação, colocando em destaque a problemática da comunicação e a necessidade de partilha de códigos que assegurem o seu funcionamento entre os vários atores, para a explicitação das intenções, dos objetivos e dos meios a utilizar na recolha de informação. Práticas avaliativas na sala de aula Várias são as formas e os modos de operacionalizar as práticas de avaliação reguladora na sala de aula, a vantagem advém quando o aluno procura interpretar e compreender o que lhe é solicitado, mas em simultâneo tem de efetuar um processo de revisita das suas estruturas de conhecimento de forma a poder dar a resposta adequada à situação (metacognição), contribuindo deste modo para a sua autorregulação (Santos, 2002; Schunk, 2005). Têm existido algumas investigações sobre a procura de modos de avaliação, contextualizados na sala de aula, promotores da monitorização da aprendizagem matemática (Cambra-Fierro & Cambra-Berdún, 2007b; Projeto AREA 2006; 2008; Santos, 2002; Webb & Mastergeorge, 2003). Passo a destacar nas páginas seguintes alguns exemplos. É no entanto de notar que, embora analisadas em separado, por facilidade de caracterização, tal não significa que não possam ser usadas de forma articulada entre si. A observação A observação do trabalho dos alunos nas aulas é uma prática com potencialidades reguladoras, muito usada pelos professores (APM, 1998). Por vezes, na observação, a recolha de informação não é acompanhada de registos escritos, nem sempre é feita de forma sistemática e focada, por isso, segundo Santos (2005), é vista, por grande parte dos professores, como impressionista e pouco fiável. Este caráter subjetivo pode explicar a atribuição de pouca confiança na informação recolhida através da observação (Graça, 1995; Martins, 1996; Rafael, 1998). Pode servir a regulação do ensino, dia-a63 dia, mas os professores não a valorizam tanto como aos dados recolhidos através, por exemplo, dos testes escritos pelo que, embora influenciando a classificação de final de período, não constitui o seu elemento base (APM, 1998; Graça, 1995; Martins, 1996). Para Leal (1992), uma possível razão para explicar, que sendo reconhecida como uma forma por excelência para recolher certo tipo de informação se faça sem registos e de forma pouco sistemática, tem a ver com as dificuldades inerentes a esta tarefa por parte do professor. As principais dificuldades apontadas nesse estudo foram: a solicitação por parte dos alunos; a atenção dirigida à observação, que leva a uma desconcentração nas respostas dadas às questões levantadas pelos alunos; o excesso de tempo para realizar a tarefa; e o registo atempado da informação recolhida. Os professores parecem privilegiar sobretudo aspetos relativos às atitudes dos alunos quando recorrem à observação (Leal, 1992; Graça, 1995; Varandas, 2000). Menino (2004) destaca, ainda, a observação como um meio para completar informação recolhida por outras vias. Mas a observação pode ainda ter uma outra função, a de regular o próprio ensino, como emergiu do estudo de Varandas (2000). Do que foram observando em diversos momentos de trabalho na sala de aula levou as professoras a questionarem e/ou a reformularem opções que, inicialmente, tinham tomado na sua planificação, como seja o alargamento do tempo de realização da tarefa, ou a análise crítica mais fundamentada sobre as tarefas que tinham proposto aos seus alunos. Explicitação/negociação dos critérios de avaliação Para Alves (2004) e Bobb-Wolff (2002) a autoavaliação aprende-se, mas para a desenvolver é necessário, ter como base os critérios de avaliação, que constituirão um trunfo determinante no êxito da ação. Dado que esse processo passa pela confrontação entre as ações a desenvolver numa dada tarefa e os critérios de realização da mesma (Jorro, 2000), a apropriação dos critérios de avaliação da tarefa também é condição necessária para desenvolver a autorregulação. Todo o professor tem implicitamente um conjunto de critérios de avaliação para ajuizar da qualidade de um produto realizado pelo aluno (Cambra-Fierro & Cambra-Berdún, 2007b) mas, nem sempre os torna explícitos. Deste modo, Santos (2002) refere que uma ação que por vezes pode ser complexa para o professor, mas contudo indispensável, é a explicitação dos critérios de avaliação de uma dada tarefa antes do seu início. Numa perspetiva de avaliação criterial, os professores clarificam para si próprios, no momento da planificação, quais são os critérios de avaliação, as referências a partir das quais irão apreciar os trabalhos e as 64 aprendizagens dos alunos (Handley & Williams, 2011). Mas para desenvolver a competência de autoavaliação do aluno é necessário ir mais longe, dedicando algum tempo à explicitação da representação desses critérios e procurando, ao longo do processo ensino aprendizagem, aproximá-lo gradualmente daqueles que o professor definiu para si mesmo. Abordagem positiva do erro Para que um qualquer processo de regulação seja eficaz, ter-se-á de passar, numa primeira fase, pela compreensão da situação. Uma fonte rica de informação para a compreensão da aprendizagem é o erro. Assim, de uma função contabilística a que o erro tem sido associado tradicionalmente, quanto mais erros, maior a sanção (perspetiva behaviorista), passa-se a atribuir-lhe uma função informativa. O erro, sendo um fenómeno inerente à aprendizagem, representa uma coerência própria de uma dada representação, isto é, revela uma conceção associada a uma dada representação que o aluno formou (Santos, 2002). O objetivo é que o aluno seja ele próprio capaz de fazer a sua autocorreção, sendo para isso necessário compreender o erro para criar condições para o ultrapassar (Hadji, 1994; 1997). Segundo Santos (2002) quando o próprio consegue identificar o erro e corrigi-lo, acontece aprendizagem: Cabe ao professor interpretar o seu significado, formular hipóteses explicativas do raciocínio do aluno, para o poder orientar. A orientação por parte do professor deve atender a certos aspetos, como seja, não identificar o erro, nem tão pouco corrigi-lo, mas sim questionar ou apresentar pistas de orientação da ação a desenvolver pelo aluno que o leve à identificação e correção do erro. (p. 80) Também, cabe ao professor o papel de suscitar nos alunos as interrogações necessárias à autoavaliação (Brookhart et al., 2004). No entanto, para Pinto e Santos (2006), o facto de o professor aparecer com a função de avaliador em alguns momentos mais formais da sua prática, não significa que não tenha outras funções ou não possa avaliar noutros momentos. Diversificar e diferenciar nos processos de ensino e de aprendizagem (metodologias, interação pedagógica, formas de agrupamento, organização do espaço e do tempo, materiais,…) (Alonso, 2002) é um caminho para a concretização de modalidades de avaliação centradas no aluno. A diferenciação pedagógica e a adequação na gestão curricular estão ligadas à necessidade de se prestar uma grande atenção ao percurso e evolução de cada aluno (Abrantes, 2002; Santos, 2009). Segundo Vieira et al. (2006), a implementação de um modelo deste tipo 65 apresenta algumas características específicas a que o professor deve dar atenção (ver Quadro 2). QUADRO 2: CARATERÍSTICAS DE UM MODELO AVALIATIVO CENTRADO NO ALUNO Pressupostos principais Finalidades prioritárias Traços processuais O aluno é um sujeito consumidor crítico e produtor criativo do saber Aproximar o aluno do saber e do processo de aprendizagem Ajudá-lo a aprender a aprender Focalização nos processos de aprendizagem e no aluno Clima tendencialmente democrático e informal Participação do aluno na tomada de decisões e elaboração de projetos e contratos O professor é facilitador da aprendizagem, mediador na relação aluno/saber, parceiro na negociação pedagógica Encorajar a responsabilidade e a assunção de uma postura proactiva no processo de aprendizagem Tarefas do tipo reflexivo e experimental Gestão colaborativa da informação e da palavra Construção colaborativa de saberes académicos, sociais e de aprendizagem O saber é dinâmico, transitório e diferenciado de sujeito para sujeito Promover a relação entre a escola e a vida Valorização da função formativa das práticas de (auto) avaliação, tendencialmente integradoras (Adaptado de Vieira et al., 2006) Interações professor – aluno O contexto escolar é caracterizado por relações interpessoais (Santos, 2002) para as quais contribui a compreensão que o professor tem do processo ensino aprendizagem. Ao analisar o modo como os professores podem ajudar os alunos a tornarem-se autorregulados, é preciso olhar para as práticas da sala de aula e caminhar no sentido de desenvolver estratégias de ensino que motivem os alunos no desencadear de esforços em diversos contextos, no seio da escola e fora desta (Buhagiar & Murphy, 2008; Ryve, Nilsson, & Mason, 2012). Paris e Winograd (2001) defendem que em primeiro lugar é preciso que os professores entendam o seu próprio pensamento. Quando estes adquirem o domínio e a compreensão da natureza do que ensinam e do contexto social em que ocorre e refletem sobre as suas próprias experiências, questionando-as, permitirá a criação de climas de aprendizagem favoráveis, em que os alunos aprendem mais significativamente. A interação professor - aluno, quer oral, através do questionamento, quer escrita, através da escrita avaliativa, é uma prática avaliativa reguladora das aprendizagens (Santos, 2002; Dias, 2005). 66 A interação contribui para a regulação das aprendizagens dos alunos, permitindo-lhes também melhorar a sua compreensão dos assuntos, identificando o que errou e porquê. Estas interações ocorrem, quer por escrito, quer oralmente, durante a realização dos trabalhos. Ao acontecer de forma intencional no quotidiano do trabalho da sala de aula integra a avaliação no currículo (Pinto, 2003; Santos, 2003a). Quando se fala de interação oral numa perspetiva reguladora, em geral, associamo-la ao questionamento ao longo do trabalho que o aluno está a desenvolver (Mason, 2000; Santos, 2002). É sabido que para que este questionamento seja realmente regulador deve respeitar algumas condições, como seja não corrigir os erros, mas antes dar pistas, e não validar, mas antes questionar de forma a ser o próprio aluno a desenvolver um argumento convincente sobre o seu raciocínio (Santos, 2003a; 2004). O questionamento oral, caracterizado como um feedback interativo por Black e Wiliam (2006b), é central na implementação de uma prática de avaliação formativa. Este tipo de feedback resulta da necessidade do professor responder às dúvidas colocadas pela turma quando se permite que os alunos discutam e procurem respostas alternativas e diversificadas a uma questão. Este tipo de participação dos alunos requer que o professor valorize da mesma forma as respostas certas e erradas. Uma consequência desta alteração para a prática letiva é o trabalho que os professores têm de realizar a priori para conhecer os alunos, as suas dificuldades e as suas necessidades. Por esta via, os processos de ensino caminham no sentido de satisfazer aquilo que realmente os alunos precisam. Na tentativa de desenvolvimento desta perspetiva, os professores tendem a procurar prever as questões que lhes serão colocadas pelos alunos, exploram-nas e estabelecem os indicadores que mostram o que os alunos compreenderam. Eles levam os alunos a formular respostas corretas e a reformularemnas de forma a aproximarem-se do que se considera ser a compreensão. O desenvolvimento deste estilo interativo, diálogo na sala de aula, requer uma alteração radical no que se considera ser o ensino tradicional, uma vez que o professor perde o papel principal de condução da aula e terá de responder aos estímulos que têm origem nos alunos. O projeto KMOFAP3 (Black et al., 2003) evidenciou que esta prática pode ser bem-sucedida, pois foi implementada em várias escolas com sucesso. Estas práticas são exemplo de que a avaliação contribui para o envolvimento de toda a turma no trabalho e na discussão, em trabalho de grupo ou não, e que é possível modificar a 3 King’s Medway Oxforshire Formative Assessment Project. 67 cultura de sala de aula quando se cria um ambiente de aprendizagem rico e eficaz (Henning et al., 2012). Refletir antes de agir Num processo de avaliação reguladora, o aluno incorpora técnicas de autorregulação do seu trabalho que o ajudam a avaliar os seus produtos (Jorro, 2000). Esta ideia é comum a vários investigadores (Allal, 1986; De Ketele, 2001) e partilha a premissa de que os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos desempenham um papel de destaque na monitorização das aprendizagens. Outros estudos (Santos, 2004) apontam que na aprendizagem é necessário que o aluno reflita, identifique os desvios de raciocínio, os seus erros e os ultrapasse (Pinto, 2003). Sabe-se que o refletir sobre o que aprendeu e como o aprendeu, as interações, o feedback, a reflexão sobre o aprendido (Quinton & Smallbone, 2010) e a autoavaliação são fatores que contribuem para que a aprendizagem se torne significativa (Brendefur & Frykholm, 2000), e que a autoavaliação proveniente da constatação de um erro ou dificuldade incentiva a procura de novas interações (Santos, 2002), o que contribui para a autorregulação das aprendizagens. Dias e Santos (2008a), no âmbito do projeto AREA, investigaram a aplicação de uma estratégia em que se procurou que o processo de descrição da resolução promovesse uma reflexão profunda que viesse a ser identificável na resolução: Partindo do princípio que o estudante, ao resolver, tem em conta a reflexão que teve necessidade de fazer na fase de descrição seria inevitável a alteração da resolução de acordo com a reflexão efetuada. No pressuposto que a necessidade de refletir para descrever aquilo que se procura transmitir na resolução da situação problemática elimina possíveis erros durante a resolução e fecha caminhos, procurou-se conduzir o estudante para a resolução correta. Partiu-se ainda da convicção que a reflexão e a descrição tem a vantagem de possibilitar ao estudante o pensar e o repensar a sua estratégia de resolução. (p.166) O professor necessita de criar um ambiente de trabalho onde os alunos se sintam à vontade a pensar, a argumentar e a expor as suas ideias sem medo, num clima de confiança (Handley & Williams, 2011; Pinto & Santos, 2006), e serem de imediato apreciados, pelos seus colegas ou pelo professor. Precisa também de encontrar o modo certo de apoiar os alunos, procurando que não desistam perante as dificuldades, mas não lhes dando indicações que esvaziem a tarefa de desafio. Tem igualmente de criar um conjunto de normas e rotinas de trabalho que estimulem a capacidade dos alunos 68 cooperarem no seio do grupo — contribuindo e aproveitando as contribuições dos outros — e participarem em discussões coletivas — argumentando e prestando atenção aos comentários dos outros. Necessita, ainda, que os alunos compreendam que também podem formular as suas próprias questões e conjeturas, testá-las e justificá-las. Feedback Toda a regulação pedagógica faz-se através de um processo de comunicação, seja ele oral ou escrito. Segundo Santos e Dias (2007), o dizer avaliativo não é sinónimo de regulação pedagógica. Para as autoras é apenas um primeiro passo. Corresponderá a um processo de regulação apenas quando o feedback é usado pelo aluno para melhorar a sua aprendizagem (Wiliam, 1999). Segundo Stobart (2006), o feedback é um meio de eliminar o fosso entre o estado atual de um trabalho e o que era esperado fazer-se. Se o feedback procura ajudar o aluno a encontrar a forma de fechar esse fosso, ele está integrado no processo ensino aprendizagem e a questão da sua existência já não se coloca. Um feedback que vá ao encontro desses objetivos, deve ser descritivo, específico, relevante, periódico e encorajador, imediatamente utilizável, oral ou escrito, privado ou público, dirigido a um indivíduo ou grupo de indivíduos (NCTM, 1999). O feedback escrito ou escrita avaliativa, pode ser de diversos tipos e ser mais ou menos adequada aos fins a que se destina (Bloxham & Campbell, 2010; Gipps, 1999; Santos, 2003c; 2004; Santos & Dias, 2007; Hattie & Timperley, 2007). Esses comentários, usualmente, feitos pelo professor sobre produções escritas dos alunos tomam como referência os critérios de avaliação (implícitos ou explícitos) definidos pelo professor para cada tarefa (Rust, Price & Donovan, 2003). Uma escrita avaliativa conducente à regulação, por parte do aluno, da sua aprendizagem, segundo Santos (2003c), deve ser clara, para que autonomamente possa ser compreendida pelo aluno, apontar pistas de ação futura, de forma que a partir dela o aluno saiba como prosseguir, incentivar o aluno a reanalisar a sua resposta, não incluir a correção do erro, no sentido de dar ao próprio a possibilidade de ser ele mesmo a identificar o erro e a alterá-lo de forma a permitir que aconteça uma aprendizagem mais duradoura ao longo do tempo, identificar o que já está bem feito, no sentido de não só dar autoconfiança como igualmente permitir que aquele saber seja conscientemente reconhecido. Para além disso, deve incidir sobre situações em fase de desenvolvimento e ainda não sujeitas a qualquer tipo de classificação, para que o feedback possa ser 69 considerado pelos alunos como útil (Price et al., 2010). Num trabalho já acabado, não faz sentido qualquer reformulação (Bloxham & Campbell, 2010). Este aspeto é tanto mais importante se atendermos a que dar feedback é muito exigente para o professor e é consumidor de tempo (Leal, 1992; Menino & Santos, 2004). Nesse contexto, uma forma rica de desenvolver uma avaliação reguladora da aprendizagem é permitir que o aluno aperfeiçoe uma primeira versão de um trabalho realizado, podendo assim repensar a situação. Para que esse trabalho possa ser mais formativo, o professor deverá comentar uma primeira versão. Assim, considera-se que um comentário que sirva a avaliação reguladora, quer escrito, quer oral, designa-se habitualmente por feedback. O feedback é uma componente central da avaliação das aprendizagens (Price et al., 2010) e para a promoção da autorregulação das aprendizagens (Bloxham & Campbell, 2010; Hattie & Timperley, 2007; Santos, 2002; Santos et al., 2010). Várias investigações apontam que o feedback simbólico, geralmente, é ignorado pelos alunos. Mas, os alunos não fazem o mesmo quando o feedback é dado através de comentários. Este resultado, normalmente, surpreende os professores porque estes consideram que o feedback através de símbolos - feedback simbólico – deverá ter exatamente o mesmo entendimento que o feedback dado através de comentários. A investigação realizada acerca deste tipo de feedback suscitou algumas dúvidas por parte dos pais, uma vez que os comentários mostravam perante toda a turma, com maior detalhe, a situação escolar em que o aluno se encontrava. Para além de abrir um novo foco de investigação, para Black e Wiliam (2006b), este procedimento cria novas oportunidades de aprendizagem para os alunos porque promove a revisão de todo o processo, por parte dos alunos, que assim podem melhorar os seus trabalhos. Uma consequência da promoção do feedback por comentários em detrimento do feedback simbólico é que os professores ponderam, cautelosamente (Black & Wiliam, 2006b), os comentários que escrevem para que estes se traduzam num verdadeiro impacto para a melhoria do trabalho dos alunos (Handley & Williams, 2011). Também o feedback proveniente da avaliação dos pares revela-se como uma mais-valia para o processo ensino aprendizagem. Sadler (1989) foi o primeiro a defender que a heteroavaliação e a autoavaliação são essenciais para a aprendizagem. Do seu ponto de vista, o aluno aprende se compreender o que tem para fazer e conseguir definir um plano de atuação para atingir os objetivos. A transparência e clareza dos critérios de avaliação permitem a compreensão do que se tem para fazer e uma maior 70 credibilização e aceitação da heteroavaliação dos pares, promovendo uma maior exigência na execução dos trabalhos e o desenvolvimento da prática de autoavaliação. Para Noonan e Duncan (2005) a dimensão dos grupos pode ser um constrangimento à concretização da heteroavaliação no entanto, também, afirmam que a heteroavaliação entre pares estimula a autoavaliação. No projeto KMOFAP, os professores desenvolveram três formas, que se descrevem a seguir, de usar o feedback proveniente dos testes sumativos com função formativa, no sentido de feedback para a aprendizagem. i) Questionar os alunos, na preparação para o teste, através de uma lista de palavras ou tópicos a contemplar no teste. Procuravam que esta modalidade estimulasse a reflexão dos alunos sobre as áreas que dominavam e o que precisavam mobilizar para se concentrarem nos domínios em que têm maiores dificuldades. Para Black e Wiliam (2006b), uma razão para os professores o fazerem é que existiam muitos alunos que não tinham uma estratégia de preparação do teste, nem de revisão dos conhecimentos e capacidades adquiridas. ii) Realizar uma preparação semelhante à descrita no ponto anterior, mas em grupo. O propósito era que os alunos pensassem nas palavras orientadoras e nos tópicos e que os discutissem para aumentar o seu entendimento dos assuntos. Esta prática suscitou dificuldades de implementação porque necessitava que os professores dedicassem algum tempo a responder aos alunos. iii) Usar as questões de exames e testes anteriores para que os alunos verifiquem os seus conhecimentos e capacidades. Para Black e Wiliam (2006b) a avaliação formativa e sumativa são vistas como duas modalidades distintas e com funções distintas, mas segundo os autores a avaliação sumativa pode ter um papel positivo no processo de aprendizagem. Para o feedback na sala de aula é fundamental estabelecer alguns critérios que contribuem para a sua validade (Hattie & Timperley, 2007; Price et al., 2010). São exemplos desses critérios: ser adequado e fornecer pistas para colmatar o “fosso” em autorregulação/metacognição, em processo/processo de aprendizagem, e em tarefa/aprendizagem superficial; centrar-se na tarefa e não no aluno; e ser um desafio, exigir ação e ser alcançável (Sobart, 2006). Para Hattie e Timperley (2007), um feedback eficaz deve responder a três questões: para onde vou? Como estou indo? Onde chegar? 71 Recurso a instrumentos alternativos para a avaliação Existem instrumentos de avaliação que poderão preferencialmente favorecer o desenvolvimento da capacidade de autorregulação (Cambra-Fierro & Cambra-Berdún, 2007b; Santos, 2002). É, por exemplo, o caso do portefólio ou dossier do aluno, onde se inclui não a totalidade dos produtos realizados pelo aluno durante um período de tempo, ano letivo ou ciclo, mas sim uma seleção de produtos significativos para o aluno, significativos do ponto de vista cognitivo ou afetivo, ilustrativos daquilo que num dado momento já é capaz de fazer, e representativos da diversidade das tarefas desenvolvidas (Santos, 2006). Ao ter de selecionar quais as produções a incluir no portefólio e ao elaborar reflexões sobre os significados que estes materiais tiveram para si, o aluno é confrontado com a necessidade de refletir sobre o que fez, o que aprendeu, como progrediu e como perspetiva as suas necessidades futuras (Leal, 1997; Santos & Menino, 2004). Outro exemplo é o relatório escrito, usualmente proposto aos alunos em Matemática. Acompanhando o surgimento de outro tipo de tarefas em Matemática, como seja por exemplo as investigações matemáticas, várias modalidades de relatório têm sido usadas: individual ou em grupo, feito na sala de aula ou fora desta (Santos et al., 2002). Esta prática avaliativa pode incluir objetivos de um certo nível de complexidade, como seja a criatividade, organização, comunicação e interpretação, para além de outros de natureza afetiva e social (Pinto & Santos, 2006). A componente escrita do relatório, embora possa constituir uma dificuldade adicional para os alunos, é, em simultâneo, uma das suas grandes potencialidades, uma vez que, contribui para o desenvolvimento da comunicação escrita tantas vezes deixada para segundo plano em Matemática (Leal, 1992). Igualmente, privilegia aspetos que se relacionam com o conhecimento e compreensão de conceitos e processos, e o desenvolvimento de capacidades como a interpretação, a reflexão, a exploração de ideias matemáticas e o espírito crítico, e o sentido da responsabilidade pessoal e de grupo, a perseverança e a relação entre os alunos (Leal, 1992; Brookhart et al., 2004). O desenvolvimento de competências reflexivas e de autoavaliação pode ser igualmente conseguido desde que sejam dadas aos alunos indicações explícitas para a inclusão nos relatórios de elementos acerca da forma como se desenvolveu o trabalho, das aprendizagens conseguidas e das dificuldades sentidas (Menino, 2004; Scallon, 2004). Por outras palavras, a realização de um relatório escrito sobre o trabalho desenvolvido funciona como um catalisador à reflexão (Bloxham & Campbell, 2010), uma vez que faz apelo à articulação de ideias, à 72 explicação de procedimentos, à análise crítica dos processos utilizados e dos resultados obtidos (Dias, 2005). É de destacar que quando é dada a oportunidade ao aluno de melhorar o trabalho produzido numa segunda fase (caso do relatório escrito), a componente reguladora da avaliação é potencializada. Uma vez mais, sendo a primeira versão sujeita a apreciação e a comentários escritos do professor, feedback escrito, o seu desenvolvimento poderá constituir um momento de novas aprendizagens (Bloxham & Campbell, 2010; Leal, 1992; Santos, 2004), tendo em conta as características do feedback e o uso que o aluno faz do mesmo (Price et al., 2010; Hattie & Timperley, 2007). No caso dos relatórios, num estudo realizado por Menino (2004), a redação de comentários evidencia-se como uma tarefa difícil, sendo mesmo criadora de dilemas ao próprio professor. Síntese Na prática letiva de sala de aula, o professor implementa e monitoriza uma agenda de tarefas e modos de fazer por si construídos ou adaptados, a partir de sucessivas avaliações (Ponte et al., 1999). Trata-se de um plano dinâmico, que vai evoluindo a partir da fase de preparação da aula, e é reajustado aquando da sua concretização. Reflexão após reflexão, o professor modifica o seu plano através das sucessivas avaliações que faz das aprendizagens dos alunos. Essa avaliação, na maior parte das vezes, é apenas uma recolha não estrutura de alguns indicadores que fornecem evidência ao professor do impacto que a sua ação está a ter na consecução das aprendizagens esperadas. Como resultado, o professor equaciona rapidamente alternativas e produz constantemente decisões. Esta é a assunção de que a regulação das aprendizagens é um processo de avaliação formativa, na medida que tem implicações diretas no ajuste do processo ensino aprendizagem. Algumas das estratégias referidas são específicas da tarefa proposta enquanto outras são mais gerais (Buhagiar & Murphy, 2008). No entanto, apesar da variedade das práticas avaliativas, estas partilham um conjunto de características: ações deliberadas para atingir objetivos específicos; correspondem a uma resposta pessoal a um determinado problema; aplicam-se com flexibilidade em função da tarefa e envolvem skill & will, ou seja, recursos cognitivos e motivacionais; por último, treináveis em diferentes tipos de tarefas escolares para facilitar a sua transferibilidade (Rorário, Trigo & Guimarães, 2003). 73 Mas, a avaliação realizada pelo professor não é suficiente. É o aluno que decide se vale a pena ou não o esforço para ter êxito, e essa decisão tem por base a perceção das suas capacidades, para a qual pode contribuir a autoavaliação (Stiggins, 2005). No entanto, a perspetiva de avaliação centrada no aluno assume uma abrangência que ultrapassa a autoavaliação (Santos, 2002). Será necessário ter em conta, nas formas de operacionalização da avaliação reguladora em Matemática, estratégias de motivação (Hannula, 2006), de interação e de regulação (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009). O professor pode ter um papel importante na iniciativa e possibilidade de proporcionar contextos que facilitem o desenvolvimento de atitudes de autorregulação (Santos, 2002). Incentivar a autoavaliação, a par de outras práticas, pode contribuir para a concretização dessas intenções. Podem destacar-se, por exemplo: a observação; a explicitação/negociação de critérios de avaliação (Alves, 2004; Bobb-Wolff, 2002); a abordagem positiva do erro (Santos, 2002); a interação professor - aluno (Mason, 2000; Roullier, 2004); o refletir antes de agir (Dias & Santos, 2008a; 2008b); o feedback (Price et al., 2010; Santos & Dias, 2007; Wiliam, 1999; Black & Wiliam, 2006b; Black et al., 2003); e o recurso a instrumentos alternativos de avaliação (Santos & Menino, 2004). A renovação das práticas dos professores na sala de aula implica a rotura com certas rotinas pedagógicas fechadas. Impõe-se uma nova perspetiva e a alteração de conceções em que o professor deixe de ser visto como quem expõe conteúdos e avalia a sua execução e o aluno ouve atentamente e responde (Handley & Williams, 2011). A diferenciação pedagógica e a adequação na gestão curricular estão ligadas à necessidade de prestar atenção ao percurso e evolução de cada aluno (Abrantes, 2002; Santos, 2009). A metodologia de sala de aula para a melhoria do processo ensino aprendizagem implica a constante interação professor-aluno e os desenvolvimentos de vários modos de intervenção e de feedback. A necessidade de atividade do aluno no processo de aprendizagem impõe a autorregulação como um processo dinâmico e aberto, em que o aluno decide o que vai fazer numa determinada situação de aprendizagem, põe em prática e auto reflete sobre o que executa (Schunk, 2005; Zimmerman, 2000). Mas, os alunos não podem autorregular a sua aprendizagem quando não lhes são proporcionadas oportunidades para tal, nem tão pouco quando não possam controlar algumas dimensões essenciais da sua aprendizagem. Ora, estas evidências, perspetivam que uma intervenção ao nível da 74 autorregulação da aprendizagem favorece a motivação do aluno para a aprendizagem da Matemática e para o sucesso. 75 76 CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA No quadro do paradigma interpretativo (Bogdan & Biklen, 1994), este estudo seguiu uma metodologia qualitativa. A metodologia qualitativa foi adequada por permitir explicar a realidade em termos de ação, valorizando a compreensão da situação no seu contexto, sem a necessidade de efetuar conjeturas ou de verificar hipóteses. Esta opção esteve relacionada com a natureza das questões de investigação e com o design de investigação. Ao procurar responder a questões de natureza aberta e exploratória afirmava-se a escolha de uma perspetiva que admitisse o estudo de situações em desenvolvimento, num dado contexto. Tinha, também, por base um trabalho de natureza colaborativa com dois professores (participantes). Esse contexto surgiu por ser útil e constituir-se como um aspeto enriquecedor na promoção de práticas avaliativas. Relembro que analisei para compreender práticas de professores de Matemática do ensino secundário que podem contribuir para a promoção de uma atitude autorreguladora do aluno, face à sua aprendizagem Matemática e, para isso, defini as seguintes questões de investigação: 1. Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? 2. De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? 3. De que modo as práticas avaliativas desenvolvidas contribuem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas? 4. Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? Como procuram ultrapassá-los? Para explicar as minhas decisões e escolhas, organizei este capítulo em quatro partes. Na primeira parte descrevo as opções metodológicas, na segunda parte os participantes, na terceira parte a recolha de dados e na quarta parte a análise de dados. 77 Opções Metodológicas Natureza do estudo Uma perspetiva teórica é para mim um modelo de referência que guia os procedimentos do estudo. Neste estudo, a perspetiva interpretativa permitiu-me definir os métodos a usar. Contudo, essa perspetiva não se traduziu apenas pela definição metodológica; afetou a forma como abordei o problema, recolhi e tratei os dados, e redigi as conclusões. Esses aspetos estão de acordo com os referidos por Guba e Lincoln (1998; 2005) quando afirmam que, para além das técnicas, a metodologia deve versar sobre o modo de proceder do investigador para chegar aos conhecimentos que procura. A escolha da perspetiva interpretativa consubstancia-se na natureza aberta das questões de investigação e, também, na minha experiência profissional e pessoal, enquanto professor e investigador. A natureza das questões de investigação requer a metodologia qualitativa no seio da perspetiva interpretativa, por negar a existência de uma realidade objetiva independente do observador. Também, como é referido por Denzin e Lincoln (1994), “a palavra qualitativa implica uma ênfase em processos e significados que não são examinados nem medidos (se chegarem a ser medidos) rigorosamente, em termos de quantidade, volume, intensidade ou frequência” (p. 4). Considero que este estudo foi um ato de interpretação a dois níveis. As experiências dos participantes foram explicadas e interpretadas em termos das regras da sua cultura e das suas relações sociais, e incluíram as minhas experiências, explicadas e interpretadas nos termos e nas regras da comunidade intelectual a que pertenço. Procuro descrever e compreender o sentido dado às vivências da realidade que aprofundo, e não de as julgar, avaliar ou condenar (Ponte, 2005b). Mas, também, identifico-me com Bogdan & Biklen (1994), quando aludem às múltiplas formas de interpretar as experiências que estão ao alcance de um investigador, na interação com os outros, sem deixarem de insistir na preocupação de descrição que é preciso ter ao buscar a compreensão do pensamento subjetivo dos participantes. Por isso, enquanto investigador, não podia prescindir de analisar os dados usando o meu próprio ponto de vista. Na concretização do estudo, estabeleci alguns princípios de forma a garantir a sua qualidade. O estudo desenvolveu-se durante um longo período de tempo (2008 a 2013) de forma a permitir um conhecimento profundo da realidade que descrevo. Durante esse período, os participantes construíram os seus próprios significados das 78 práticas estudadas, e com eles partilhei os significados que eu interpretava. Devolvi, aos participantes no estudo, os resultados da minha análise à informação que me forneceram (em entrevistas e observações), para que pudessem verificar, ou confirmar, se as minhas interpretações refletiam as suas experiências. Como a metodologia qualitativa é iterativa e não linear, neste estudo existiram avanços e recuos, ajustes no planeamento e desenvolvimento, para assegurar a congruência entre a formulação das questões de investigação, a revisão de literatura, e a recolha e análise de dados. Os dados recolhidos foram sistematicamente verificados, impunha-se a manutenção e o ajuste de cada fase a partir da anterior. Com isso penso ter contribuído para a credibilidade, a transferibilidade, a triangulação e a consistência deste trabalho (Stake, 2005). Design do estudo Nesta investigação usei um design de estudo de caso. Estudei o professor de Matemática, no seu contexto (a escola e a sala de aula), tirando todo o partido possível de fontes múltiplas de evidência como entrevistas, observações, documentos e artefactos (Yin, 2003). Pois, segundo Guba & Lincoln (1994), o estudo de caso permite relatar os acontecimentos como sucederam, descrever situações e factos, proporcionar conhecimento acerca do fenómeno estudado e comprovar ou contrastar os efeitos e as relações presentes em cada caso. Esta asserção é coerente com o meu objetivo de analisar e compreender a prática avaliativa de professores de Matemática e, em paralelo, procurar novas teorias e novas questões para futura investigação. Assim, o estudo de casos constituiu um modo de compreender com profundidade as práticas avaliativas, em Matemática, em Trigonometria, Geometria e Funções, que procuram promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas por parte dos alunos. Papel do investigador Num quadro de metodologia qualitativa, situei-me no âmago do processo onde a investigação decorreu. Este estudo desenvolveu-se na dinâmica criada por um contexto de trabalho de natureza colaborativa, em que eu interagi com dois professores (casos). Os papéis dos casos e o meu acabaram por ser informados pela dinâmica dessas interações. Considero-me observador participante, uma vez que fui o instrumento principal de observação. A minha participação teve por objetivo recolher dados (sobre ações, opiniões ou perspetivas) aos quais um observador exterior não teria acesso. 79 Assim, a observação participante foi a técnica de metodologia qualitativa adequada para compreender o fenómeno que procurei aprofundar. A credibilidade da investigação não foi colocada em causa pela proximidade dessa relação. A credibilidade dos resultados desta investigação depende da validade conceptual, da caracterização de conceitos chave e dos critérios de classificação de dados (Ponte, 2006); da construção de explicações de caráter geral que emergem de explicações particulares; da clarificação das minhas motivações e conceções e o modo como enfermaram o estudo; do envolvimento dos participantes no processo interpretativo (Goetz & Lecompte, 1984); e da comparação com outros estudos. Parto da realidade empírica, que procuro compreender, e não de premissas a verificar (Goetz & Lecompte, 1984). Também, no desenvolvimento do estudo tive em atenção as questões de ordem ética. Não são questões exclusivas deste tipo de estudos, mas são reforçadas pela minha relação próxima com os participantes. No que diz respeito ao acesso ao conhecimento, os participantes envolvidos no estudo permitiram-no após a explicação dos objetivos e dos processos que pensei utilizar (Fontana & Frey, 1994; 2005; Punch, 1994). Desse princípio decorre de imediato que só fez sentido usar processos de recolha de dados que fossem do conhecimento dos participantes e que tivessem merecido o seu consentimento prévio, por exemplo o recurso às gravações áudio de aulas e de sessões de trabalho de natureza colaborativa. Outro aspeto relaciona-se com os cuidados que tive no que respeita a possíveis implicações para os participantes decorrentes da publicação do estudo, sejam elas situações embaraçosas ou sanções de qualquer tipo. Esta questão esteve igualmente associada à decisão de estabelecer até que ponto é legítimo entrar na vida privada dos participantes. O facto de uma pessoa aceitar participar numa investigação não equivaleu a autorizar a invasão da sua privacidade (Stake, 1994). Para minimizar esses riscos recorri ao anonimato, feito através do uso de pseudónimos, quer para professores, quer para alunos. Mas quando as sociedades onde esses participantes se movem são pequenas, caso da comunidade dos educadores e de professores de Matemática em Portugal, a possibilidade de identificação é muito grande. Assim, entendi, não bastar o uso de designações artificiais, foi igualmente necessário garantir que aquilo que é publicado é reconhecido pelo próprio como característico de si e não pertencente ao seu foro íntimo. De forma a ser possível garantir este aspeto, foi imprescindível que as 80 pessoas envolvidas no estudo conhecessem, em primeira mão, o conteúdo final do estudo, antes de ser publicado. Por último, uma nova questão ética se podia levantar no que respeita aos estudos sobre professores. Não me coube formar juízos de valor sobre o objeto de estudo. Não foi esse o meu propósito. Houve, no entanto, um certo risco que isso acontecesse, tanto porque tinha as minhas conceções sobre o que é ensinar e aprender, e existia o risco de os professores, muitas vezes, me encararem como alguém que, por ter um conhecimento mais sustentado na teoria, lhes pode vir a resolver os seus próprios problemas. Esta questão foi, contudo, resolvida. Por um lado, os objetivos do estudo foram antecipadamente apresentados aos professores (casos) e, por outro, estive atento a esse risco, controlando as atitudes que poderiam levar a situações propiciadoras de juízos de valor (Santos, 2000). Contexto de trabalho de natureza colaborativa O trabalho de natureza colaborativa entre mim e os dois professores, num projeto comum, para planificar práticas avaliativas com o objetivo de promover a autorregulação da aprendizagem matemática, durante um período de tempo mais ou menos alargado, também, constituiu uma opção metodológica. Encontrei justificação para esta abordagem em Hargreaves (1998), Boavida (2005), Jaworski (2001; 2007), Martinho (2007), Marshall e Reason (2007) e Serrazina (2008), quando trabalharam com projetos envolvendo professores. Outras perspetivas consonantes com esta prática, são as ideias de Schön (1992b) acerca da reflexão-sobre-a-reflexão-na-ação e nas ideias de Christiansen (1997) e Ponte (2004), quando referem que a colaboração é uma estratégia fundamental para lidar com problemas ou dificuldades que não se podem resolver a um nível puramente individual, como os que em cada momento surgem na atividade profissional dos professores. O resultado de uma investigação, realizada num contexto de colaboração, refletirá simultaneamente as perspetivas do professor e do investigador (Erickson, 1989). Segundo Saraiva e Ponte (2003), o investigador terá o acesso facilitado à prática orientada para a ação e à reflexão do próprio professor sobre essa mesma prática. Para Martinho (2007), o facto de o investigador estabelecer um contacto próximo com o professor, sem se limitar a ter acesso às suas aulas, mas realizando um trabalho de proximidade com este, junto à realidade por ele vivida, perto das suas dificuldades e dilemas, leva a que a investigação seja mais informada pela prática. Pode corresponder 81 às necessidades, quer da investigação, através da produção de conhecimento resultante da análise da partilha de comentários e observações sobre a prática, quer do desenvolvimento profissional do professor, graças à reflexão sobre a prática que lhe permite iluminar e desenvolver elementos da sua prática de ensino. No entanto, o sucesso desse processo está sempre dependente de cada participante. Depende do envolvimento do professor nas atividades e da relação de confiança que se estabelece entre ele e o investigador (Erickson, 1989). Para Hargreaves (1998), a colaboração entre professores permite que realizem uma aprendizagem conjunta, uns com os outros, através da partilha de saberes e da ampliação do conjunto das suas competências, fomentando o desenvolvimento profissional dos mesmos e das escolas. Ainda segundo o mesmo autor, a colaboração entre professores deve ser uma iniciativa dos próprios, geralmente voluntária, uma vez que as relações de trabalho não são de constrangimento, nem de coação, pois devem desenvolver-se de forma agradável e produtiva. Geralmente, são ações orientadas para o desenvolvimento, em que os envolvidos definem as tarefas e as finalidades do seu trabalho conjunto e procuram dar resposta aos problemas que emergem da prática. Enquanto trabalho conjunto de um grupo, foi importante que se definisse um diagnóstico, a planificação, a construção e a intervenção. Ainda, segundo Hargreaves (1998), a colaboração pode ajudar a promover o desenvolvimento profissional dos professores quando envolvidos numa investigação, podendo proporcionar momentos de aprendizagem mútua e potenciar reflexões individuais. O resultado deste estudo, realizado num contexto de trabalho de natureza colaborativa, reflete, simultaneamente, as perspetivas dos professores e as minhas, enquanto investigador (Erickson, 1989). Tal como referido em Saraiva e Ponte (2003), em colaboração, tive, enquanto investigador, o acesso facilitado à prática orientada para a ação e à reflexão do próprio professor sobre essa mesma prática. E tal como Martinho (2007), o facto de, enquanto investigador, estabelecer um contacto próximo com os professores, sem me limitar a ter acesso às suas aulas, mas realizando um trabalho de proximidade com estes, junto à realidade por eles vivida, perto das suas dificuldades e dilemas, levou a que a investigação fosse mais informada pela prática. Este contexto respondeu às necessidades, quer da investigação, através da produção de conhecimento resultante da análise da partilha de comentários e de observações sobre a prática, quer do desenvolvimento profissional do professor, graças à reflexão sobre a prática que lhe permitiu iluminar e desenvolver elementos da sua prática de ensino. No entanto, o 82 sucesso desse processo esteve sempre dependente de cada participante, do seu envolvimento nas tarefas e da relação de confiança que se estabeleceu entre mim e os participantes (Erickson, 1989). A dinâmica de concretizar um projeto de trabalho de natureza colaborativa, neste estudo, procurou dar resposta à necessidade de planificar práticas avaliativas, que impulsionem os alunos na autorregulação das aprendizagens matemáticas em Trigonometria, Geometria e Funções. Nesse trabalho, os assuntos e os objetivos a alcançar foram ajustados em função da sua ligação com a promoção da capacidade de autorregulação e com a reflexão do professor sobre as suas práticas avaliativas. Após uma fase inicial de conceção do estudo, o trabalho de natureza colaborativa do grupo centrou-se no que se entende por avaliação e aprendizagem, práticas avaliativas com a intencionalidade reguladora, autorregulação das aprendizagens matemáticas pelos alunos, tarefas que apresentassem potencialidades para o desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem em Matemática. Segundo Boavida e Ponte (2002), no trabalho de natureza colaborativa, é fundamental que os participantes manifestem abertura no modo como se relacionam uns com os outros, dispondo-se a um contínuo dar e receber, assumindo uma responsabilização conjunta pela orientação do trabalho e sendo capazes de construir soluções para os problemas no respeito pelas diferenças e particularidades individuais. A existência de um campo de entendimento de igual para igual foi essencial para que os participantes se apoiassem mutuamente para conseguirem atingir os objetivos a que se propuseram (Boavida & Ponte, 2002). Mas, esse acordo de equidade entre professores e investigador (eu), mesmo quando o investigador é um professor, reporta-se ao grau de importância do seu papel, não significando que todos desempenhem as mesmas funções, e tenham os mesmos propósitos. Os professores-casos preocuparam-se, essencialmente, com as aulas, onde se incluem a planificação, a seleção de tarefas, a concretização em sala de aula e a reflexão. Eu estive, particularmente, atendo à tomada de decisão, sobre as ações a desenvolver para a concretização das práticas avaliativas promotoras da autorregulação, e respetiva justificação. Cada elemento tinha, também, o seu percurso profissional, as suas experiências, a sua leitura da realidade, e essa diversidade foi uma mais-valia para o trabalho de natureza colaborativa, e foi assumida como tal (JohnSteiner, Weber & Minnis, 1998). 83 Participantes A escola A escola onde se desenvolveu este estudo insere-se num concelho do distrito de Setúbal, numa zona urbana, embora uma parte dos alunos seja oriunda de algumas freguesias consideradas rurais. O ambiente sociocultural tem características muito próprias, com tradições, usos e costumes ligados à terra e ao rio Tejo. Até ao final do ano letivo 2007/2008, o espaço físico da escola era composto por pavilhões pré-fabricados, apresentando um acentuado desgaste, de aspeto pouco motivador para quem pretendia ensinar e aprender. As salas de aula apresentavam um desgaste interior, pelo que eram sujeitas a sucessivas remodelações para melhorar as condições de ensino e de aprendizagem. No final do ano letivo 2006/2007, iniciou-se a construção do novo edifício, no mesmo terreno. Atualmente, a escola é um espaço amplo e agradável. Para além das salas de aula e laboratórios, a escola possui grandes espaços exteriores que envolvem todo o edifício, onde se integram os espaços exteriores para a prática da educação física, e algumas zonas para jardim. No piso superior do edifício principal existem algumas salas de aula, a biblioteca/centro de recursos e o auditório. A escola beneficiou do Plano tecnológico da educação4 por via do qual foram equipadas todas as salas de aula, espaços de trabalho de docentes e órgãos da escola com material informático. Com as novas instalações assistiu-se a uma melhoria significativa do ponto de vista das condições de ensino e aprendizagem, da funcionalidade dos serviços, da rentabilização dos recursos humanos, da segurança dos bens e de toda a comunidade educativa. Na escola, em 2009/2010, encontravam-se matriculados cerca de 800 alunos. Devo referir que a população discente tem-se revelado como o grupo da comunidade educativa que mais tem alterado a sua estrutura, quer etária, quer social. Com efeito, a chegada à escola de novos públicos, decorrente da abertura de cursos no âmbito das Novas Oportunidades, conduziu à presença de alunos com diferentes expectativas, provenientes de meios socioculturais muito diferenciados. Por um lado, alunos com expectativas de prosseguimento de estudos, para os quais a escola é um pilar estruturante e, por outro lado, alunos com projetos de vida muito diferentes, onde a 4 http://www.pte.gov.pt/pte/PT/ 84 escola nem sempre aparece como fundamental. Os resultados escolares são também diferentes e refletem-se no desempenho da instituição: alunos com uma atitude mais positiva perante a escola, com resultados escolares de nível muito bom e que frequentam, normalmente, os cursos científico - humanísticos e alunos com uma atitude menos positiva, com resultados escolares menos bons e muitos deles optando pelos cursos profissionalizantes, procurando uma entrada mais rápida no mercado de trabalho. Segundo dados de janeiro de 2010, exerciam funções docentes na escola pouco mais de uma centena de professores, sendo aproximadamente 80% do quadro de nomeação definitiva e os restantes eram professores contratados. Existiam, apenas, cinco professores não profissionalizados. Dos professores, 83% tinham mais de dez anos de serviço e 68% mais de quinze anos de serviço. A média de idade dos professores da escola era de 44 anos. Quanto às habilitações académicas dos professores em exercício, havia quatro professores detentores do grau de mestre e os restantes são professores licenciados. Os professores Como procuro analisar e compreender práticas de professores de Matemática do ensino secundário que contribuem para a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática, a partir da revisão teórica dos procedimentos metodológicos entendi que dois professores seria o número ideal para garantir o rigor, a clareza e a concretização da recolha de dados (na escola), relativamente aos objetivos do estudo, em dois anos letivos. Também, apoiando-me em Stake (1994) e Reason (2003), com a quantidade de casos procurei responder a fatores de diversidade em contextos escolares criados pelas práticas letivas dos professores. Um maior número de professores podia tornar impraticável a recolha de dados e as sessões de trabalho de natureza colaborativa, pela dificuldade de observação de aulas e pela necessidade de encontrar tempos disponíveis para reunir. Um número de participantes inferior a dois seria redutor, ao nível das discussões sobre as práticas avaliativas, e na identificação de constrangimentos à implementação de práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação. Na escolha dos casos não houve a procura de representatividade, por isso não foi feita por amostragem. Com base na revisão de literatura, em que encontrei definidos critérios que podiam ser usados para a seleção dos casos nos estudos de problemas da educação, para atingir o objetivo deste estudo, entendi usar os seguintes critérios aglutinadores: 85 • reconhecida experiência profissional; • lecionar o ensino secundário; • manifestar capacidade de reflexão sobre a sua prática letiva; • manifestar intenção de desenvolver práticas de avaliação reguladora. Os primeiros dois critérios procuraram responder, e assegurar, a participação no trabalho de natureza colaborativa. Em virtude da minha experiência letiva no ensino secundário procurei aprofundar esse nível de ensino. Por isso, eram necessários professores que lecionassem o ensino secundário para interagir e cooperar no contexto de trabalho de natureza colaborativa, e se reconhecessem profissionalmente no trabalho que cada um deles desenvolve, para uma participação tendencialmente equitativa. Os dois últimos critérios visavam a compreensão das questões de investigação deste estudo. Precisava compreender em profundidade o que cada professor pensava e as premissas que permitissem as suas tomadas de decisão, para isso tornou-se importante a sua capacidade de reflexão sobre a sua própria prática avaliativa, para além do interesse que apresentavam em desenvolver práticas que procurassem promover a autorregulação. Não foram usados critérios diferenciadores porque, por um lado, a diversidade à partida surgiu da experiência letiva e do percurso profissional de cada um dos professores, e a prática letiva de cada um deles, as turmas e as disciplinas lecionadas se constituem previamente como fatores distintos. Por outro lado, procuro analisar e compreender as práticas avaliativas que têm o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática e não, de forma aprofundada, a forma como essas práticas avaliativas resultam das características dos professores. Os professores escolhidos correspondem aos critérios definidos (reconhecida experiência profissional, lecionar o ensino secundário, manifestar capacidade de reflexão sobre a sua prática letiva e manifestar intenção de desenvolver práticas de avaliação reguladora). Garantiram a continuidade de envolvimento no projeto durante pelo menos dois anos letivos, e expressaram essa disponibilidade para se envolverem neste estudo desde o início. Os dois professores, que designo por José e Maria para salvaguardar o anonimato, pertencem, ambos, ao departamento 500 da escola onde se concretizou este estudo. O professor José, um dos casos, tinha 31 anos de serviço. A sua formação base é a licenciatura em engenharia e gestão industrial, ramo mecânica térmica. Ao nível da atividade letiva, já lecionou todos os níveis do 3.º ciclo e secundário, desde o 7.º ao 12.º 86 ano de escolaridade. Via-se como um profissional que cumpre todas as obrigações inerentes à profissão, embora reconhecesse algumas dificuldades, “como tantos outros professores”. Era visto, pelos seus pares, como um profissional empenhado e competente, aberto à inovação e disponível para enfrentar desafios profissionais. No ano letivo 2008/2009, lecionava uma turma de Matemática B, 12.º ano, uma turma de Matemática A, 10.º ano, e uma turma de Matemática, 10.º ano, curso profissional de técnico de informática. Em 2009/2010, lecionava três turmas do curso Profissional, 10.º, 11.º e 12.º ano. Não é sócio de associações profissionais e, normalmente, não participa em encontros de professores. A professora Maria tinha 25 anos de serviço. A sua formação inicial é o bacharelato em engenharia civil do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, tendo realizado a profissionalização em exercício em 2000. Na escola, assumiu o cargo de diretora de turma, mais do que uma vez, e de representante do departamento curricular de Matemática, elemento do conselho pedagógico, elemento do Conselho Diretivo e da Assembleia de Escola. Nos últimos anos, tem integrado a equipa do secretariado de exames e sido corretora de exames de Matemática A – 12.º ano. Em 2008/2009, fazia parte da Assembleia Constituinte e era diretora, ao nível de escola, do curso profissional de informática de gestão. Ao nível da atividade letiva, lecionou o 3.º ciclo nos primeiros anos de profissão, mas, ultimamente, tem lecionado apenas no ensino secundário. No quadro seguinte resumi os critérios usados para a escolha dos professorescasos. Ressalta a existência de um único critério diferenciador, a disciplina lecionada, e três aglutinadores. O sexo não foi tido em conta como critério diferenciador. QUADRO 3: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS PROFESSORES - CASOS critérios José Maria reconhecida experiência profissional lecionar o ensino secundário 31 anos 25 anos Matemática (curso profissional de técnico de informática) sim Matemática A (curso de ciências e tecnologias) sim sim manifestar capacidade de reflexão sobre a sua prática letiva manifestar intenção de desenvolver práticas de avaliação reguladora 87 sim Os alunos Este estudo apoiou-se em estudos de caso, dois professores, acompanhados ao longo de dois anos letivos. O trabalho de recolha de dados desenvolveu-se em 2008/2009 e 2009/2010, em duas turmas. As turmas envolvidas estavam atribuídas aos professores, José e Maria, em 2008/2009 no 10.º ano. Os mesmos professores prosseguiram para o 11.º ano, em 2009/2010, com as mesmas turmas, embora alguns alunos tenham ficado retidos. A turma 10.º P era lecionada por José e a 10.º A por Maria. A turma 10.º P, profissional de técnico de informática, e 10.º A, ciências e tecnologias, no ano letivo 2009/2010 eram constituídas por 18 alunos e 25, respetivamente. A turma 10.º P por 7 raparigas e 11 rapazes, e a 10.º A por 16 raparigas e 9 rapazes. Embora todos os alunos tenham realizado as atividades propostas no estudo, apenas tive em conta os dados referentes a quatro alunos de cada um dos professores, alunos acompanhados ao longo dos dois anos letivos. A escolha desses alunos foi feita, respetivamente, por José e por Maria, tendo em conta os seguintes critérios: • progredir para o 11.º ano; • manifestar capacidade de relacionamento social; • revelar interesse pela Matemática; • demonstrar qualidade na apresentação dos produtos do seu trabalho. A observação realizada em 2008/2009 permitiu definir estes critérios. Para garantir a concretização do estudo, por um lado, os alunos envolvidos deviam continuar com os mesmos professores o que implicava a progressão para o 11.º ano, por outro lado, os alunos deviam mostrar facilidade de relacionamento social para a realização de trabalhos de grupo, ou a pares, e mostrar interesse e afinco na concretização das tarefas em que se envolviam, para que pudessem expor os seus sucessos, dificuldades, erros, e entraves. Também, a qualidade da apresentação dos documentos escritos foi considerado um aspeto importante, porque permitiria evidenciar o produto do trabalho realizado pelo aluno durante a aula. Breve caracterização dos alunos da turma 10.º P (2008/2009), 11.º P (2009/2010). Alexandre, nome fictício, tinha 17 anos. Foi considerado distraído e conversador pelo professor. Segundo me confidenciou Alexandre numa das aulas que assisti, no seu percurso escolar e pessoal, foi orientado para a via profissional, mas 88 pretendia fazer exame de Matemática B no 12.º ano e prosseguir estudos. É o melhor aluno da turma ao nível das classificações de final de período a Matemática. Davide, nome fictício, tinha 18 anos. Foi pouco assíduo, participava pouco nas tarefas propostas em aula, mas para José revelava apetência para a aprendizagem da Matemática. Davide mostrava preocupação e perfecionismo na concretização das tarefas de trabalho de grupo em que se envolvia, privilegiando a partilha e entreajuda. Magda, nome fictício, tinha 17 anos e mostrava-se responsável relativamente ao cumprimento das tarefas escolares. Apesar de evidenciar algumas dificuldades, Magda revelava muito interesse em aprender. Rute, nome fictício, tinha 19 anos. Era a delegada de turma e estava sempre disponível para ajudar os outros alunos. Segundo o professor, foi muito esforçada e participativa com rendimento médio a Matemática. No quadro seguinte faço o resumo das caraterísticas dos alunos do 10.º P incluídos neste estudo. QUADRO 4: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS ALUNOS DO 10.º P Alexandre (17 anos) sim conversador Davide (18 anos) sim partilha e entreajuda Magda (17 anos) sim responsável revelar interesse pela Matemática pretende prosseguir estudos apetência para a Matemática demonstrar qualidade na apresentação dos produtos do seu trabalho melhor aluno da turma perfecionista interesse, apesar de algumas dificuldades cumpridora progredir para o 11.º ano manifestar capacidade de relacionamento social Rute (19 anos) sim disponível para ajudar os colegas participativa esforçada Breve caracterização dos alunos da turma 10.º A (2008/2009), 11.º A (2009/2010). Carlos, nome fictício, tinha 17 anos. Aluno esforçado, mas apresentava algumas dificuldades em Matemática. Era muito interessado e empenhado, o que lhe permitia, quase sempre, ultrapassar algumas das suas dificuldades. Joana, nome fictício, tinha 16 anos. Aluna muito organizada e estudiosa. Apresentava todos os trabalhos nos prazos solicitados e empenhava-se nas aulas para compreender os conteúdos que são tratados. Segundo a professora, apresentava sempre muitas dúvidas. 89 Andreia, nome fictício, tinha 16 anos. Era trabalhadora e empenhada nas aulas, mas, não apresentava um investimento em Matemática para além do que era solicitado na aula. Não apresentava dificuldades e raramente cometia erros. Patrícia, nome fictício, tinha 16 anos. Relacionava-se facilmente com os colegas da turma e partilhava com eles as suas dúvidas e trabalhos. Solicitava a ajuda da professora muitas vezes para progredir na concretização das tarefas que lhe eram solicitadas, concretizando-as, quase sempre, com sucesso. No quadro seguinte faço o resumo das caraterísticas dos alunos do 10.º A incluídos neste estudo. QUADRO 5: CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS ALUNOS DO 10.º A progredir para o 11.º ano manifestar capacidade de relacionamento social revelar interesse pela Matemática demonstrar qualidade na apresentação dos produtos do seu trabalho Carlos (17 anos) sim apoiado pelos colegas e professora esforçado e empenhado Joana (16 anos) sim apresenta muitas dúvidas estudiosa e empenhada ultrapassa as dificuldades muito organizada e cumpridora Andreia (16 anos) sim líder nas aulas Patrícia (16 anos) sim relaciona-se facilmente trabalhadora e empenhada procura ajuda para progredir concretiza com sucesso não gosta de cometer erros Recolha de dados Por opção metodológica, a redação de cada caso é fértil em descrições provenientes de intensivos registos. Neste estudo utilizei múltiplas fontes de evidência para permitir, por um lado, assegurar as diferentes perspetivas dos participantes e por outro, observar os fenómenos em causa de pontos de vista diversificados, e criar condições para uma triangulação dos dados durante a fase de análise dos mesmos. No processo de recolha de dados, recorri à observação, à entrevista e à recolha documental. Observação Sendo uma metodologia qualitativa, a observação permitiu estudar o ambiente através de um esquema geral sobre o contexto que o envolveu e orientou o registo dessa observação em notas de campo (Tuckman, 2000; Aires, 2011). Segundo Bogdan & Biklen (1994), a observação participante é a melhor técnica de recolha de dados nos 90 estudos em educação. As observações feitas para este estudo, em aula e nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, decorreram em ambiente natural, quer dos alunos, quer dos professores, permitindo contribuições espontâneas. Observação em sala de aula. A minha atividade na sala de aula baseou-se essencialmente na observação do professor, do aluno e das interações estabelecidas, no registo (em notas de campo) das atitudes e reações ocorridas durante a realização das tarefas. Em cada aula, interagi com os alunos, recolhi dados e observei a interação professor - aluno e aluno - aluno. A observação de aulas ocorreu nas turmas de 11.º ano, no ano letivo 2009/2010. As aulas observadas foram, para cada professor - caso, as consideradas necessárias para a concretização de uma estratégia de promoção da autorregulação da aprendizagem. O número de aulas observadas foi de dez para José e onze para Maria, e realizaram-se segundo o calendário seguinte: QUADRO 6: CALENDARIZAÇÃO DAS AULAS OBSERVADAS 2009/2010 Aulas observadas de José (A x J) Aulas observadas de Maria (A x M) A1J: 19/10/2009 A2J: 21/10/2009 A3J: 26/10/2009 A4J: 28/10/2009 A5J: 09/11/2009 A6J: 11/11/2009 A1M: 07/10/2009 A2M: 12/10/2009 A3M: 14/10/2009 A4M: 19/10/2009 A5M: 21/10/2009 A6M: 02/11/2009 A7M: 04/11/2009 A8M: 18/01/2010 A9M: 20/01/2010 A10M: 25/01/2010 A11M: 10/02/2010 1.º período 2.º período A7J: 18/01/2010 A8J: 01/02/2010 A9J: 03/02/2010 A10J: 08/02/2010 Para cada uma das aulas observadas foi estabelecida uma codificação que corresponde a: A x J – aula observada de José, em que a variável x é sucessivamente substituída pelo número da aula assistida, numa sequência de 1 a 10; A x M – aula observada de Maria, em que a variável x é sucessivamente substituída pelo número da aula assistida, numa sequência de 1 a 11. Apresento no quadro seguinte a calendarização das aulas, e respetivas tarefas, a que assisti e analisei em cada um dos professores. QUADRO TAREFAS 7: AULAS Aulas de José (A x J) ASSISTIDAS E ANALISADAS DE CADA PROFESSOR E RESPETIVAS Aulas de Maria (A x M) Tarefa (T x ) A1M: 07/10/2009 Triângulos (T1) 91 A1J: 19/10/2009 A2J: 21/10/2009 A3J: 26/10/2009 A4J: 28/10/2009 A2M: 12/10/2009 A3M: 14/10/2009 A4M: 19/10/2009 A5M: 21/10/2009 A6M: 02/11/2009 A7M: 04/11/2009 A5J: 9/11/2009 A6J: 11/11/2009 A7J: 18/01/2010 A8M: 18/01/2010 A9M: 20/01/2010 A10M: 25/01/2010 A8J: 01/02/2010 A9J: 03/02/2010 A10J: 08/02/2010 A11M: 10/02/2010 Triângulos Triângulos Eratóstenes (T2) Eratóstenes Periélio (Terra) (T3) Periélio (Terra) Periélio (Terra) Periélio (Terra) Círculo trigonométrico (T4) Círculo trigonométrico Cone (T5) Cone A Maria vai sempre de carro (T6) Escrever no computador (T7) Escrever no computador Escrever no computador Nódoa circular (T8) No quadro anterior, T x designa a Tarefa x , em que a variável x é sucessivamente substituída pelo número da tarefa, numa sequência de 1 a 8. Por as situações que ocorreram na sala de aula serem complexas, a observação foi acompanhada do registo áudio do que os professores diziam e do registo escrito, numa grelha, das interpolações e interações professor - aluno por mim observadas. Os registos em áudio, proporcionados por gravador de lapela, constituíram um auxiliar para análise e reflexão, posterior, sobre o que se passou na aula. Nos momentos de interação professor – aluno é audível o professor e o aluno. O registo escrito foi efetuado seguindo um modelo de grelha de observação de aula (anexo 01), igual para todas as aulas observadas. Na grelha, registei os aspetos das diferentes partes da aula, introdução, atividade dos alunos e do professor e o balanço final, relacionados com as questões de investigação. Como as aulas assistidas foram previamente planificadas em sessões de trabalho de natureza colaborativa, foquei os meus registos nos aspetos que constituíam interpretações, e afastamentos, que o professor efetuava na concretização. No quadro seguinte (Quadro 8), estabeleço a relação entre as questões de investigação deste estudo e os aspetos que procurei registar na grelha de observação de aula. QUADRO 8: QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E GRELHA DE OBSERVAÇÃO DE AULAS Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? Qual a abordagem usada pelo professor para intervir junto dos alunos? De que forma o professor orienta os alunos? Como é que o professor e os alunos interagem? 92 Como é que o professor aproveita as intervenções do aluno? Como é que o aluno aproveita as intervenções do professor? Até que ponto estão implicados os alunos? Que modos de interação são favorecidos pelo professor? Qual é a frequência e a natureza do feedback dado pelo professor? Qual é a frequência das interações professor - aluno e vice-versa? Qual é a frequência das iniciativas dos alunos? De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? Relativamente à planificação, quais são as adaptações? Como é que os alunos são guiados na aprendizagem? São referidas estratégias avaliativas? Indicações dadas pelo professor? A participação/negociação com os alunos? Existem evidências de autorregulação? De que modo as práticas avaliativas desenvolvidas contribuem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas? Que modos de avaliação usa o professor? Qual é a natureza da colaboração entre alunos, no trabalho que desenvolvem? E professor aluno? Quais são as contribuições dos alunos? Os alunos autorregulam as aprendizagens? Como? Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? Como procuram ultrapassá-los? Verificam-se constrangimentos? Quais? Até que ponto são atingidos os objetivos preconizados? Observação em sessões de trabalho de natureza colaborativa. Nas sessões de trabalho de natureza colaborativa procurei observar os aspetos que influenciavam a tomada de decisão do professor – caso no que concerne aos modos de intervenção, às formas de trabalho em sala de aula e à seleção das experiências de aprendizagem a propor aos alunos. Com este tipo de observação procurei encontrar dados que indiciassem a forma como os professores integram o ensino, a aprendizagem e a avaliação, as características das práticas de sala de aula que promovem a autorregulação das aprendizagens e os constrangimentos à sua concretização, caso existam. As sessões de trabalho de natureza colaborativa iniciaram-se em março de 2009 e terminaram em março de 2010, num total de 26 sessões. À semelhança do que sucedeu para as aulas observadas, foi estabelecida uma codificação para cada sessão de trabalho que corresponde a: STC x – sessão de trabalho de natureza colaborativa, em que a variável x é sucessivamente substituída pelo número da sessão, numa sequência de 1 a 26. Apesar de não efetuar o registo da observação das sessões de trabalho de natureza colaborativa em grelha, todas as sessões foram áudio gravadas e, posteriormente, transcritas de forma a analisar e compreender os aspetos identificados. 93 No quadro seguinte (Quadro 9), estabeleço a relação entre três das questões de investigação do estudo e os aspetos que procurei observar na sessões de trabalho de natureza colaborativa. QUADRO 9: QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E ASPETOS OBSERVADOS NAS SESSÕES DE TRABALHO Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? Modos de intervenção planificados? Formas de trabalho selecionadas? Tipos de experiências matemáticas discutidos? De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? Relativamente à planificação? Relativamente à aprendizagem? A participação/negociação com os alunos? As evidências de autorregulação? Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? Como procuram ultrapassá-los? Identificação de constrangimentos? Quais? Que propostas surgem para os contornar? Entrevista Na metodologia qualitativa, a entrevista ganha um espaço legítimo na procura de explicação para as ações e as decisões dos participantes. Para tal, foi necessário superar a ideia de que a utilização da entrevista na prática de investigação representa um meio para aceder aos conteúdos intrapsíquicos do sujeito investigado. Os momentos das entrevistas consistiram em espaços de diálogo, atravessados pelos significados que foram construídos pelos participantes, ou seja pelo entrevistado e por mim. Portanto, a entrevista, enquanto instrumento metodológico, consistiu numa ferramenta interativa (González Rey, 2000) que adquiriu sentido dentro de um espaço, em que o estabelecimento do vínculo entre mim e os entrevistados cumpriu uma função essencial na qualidade dos indicadores empíricos produzidos. Assim, o meu papel de investigador não se restringiu à atividade de perguntar. Da mesma forma, o papel do professor - caso não se restringiu a responder às questões por mim formuladas, pois as suas respostas não estavam prontas antecipadamente, mas foram construções pessoais implicadas no espaço dual da entrevista, e no tipo de vinculação estabelecido entre nós (González Rey, 2000). 94 Efetuei duas entrevistas a cada um dos professores – casos do estudo, (E x J e E x M)5. Uma em fevereiro de 2009 e outra em maio de 2010. Usei entrevistas semiestruturadas, dado que elaborei, previamente, guiões (anexo 02 e anexo 03). As entrevistas semiestruturadas pareceram-me as mais adequadas por me permitirem aceder de forma mais direta e informada àquilo que procurava analisar e compreender. No entanto, embora orientadas pelas questões que constam do guião, as entrevistas viveram sobretudo daquilo que os participantes disseram. Procurei, sempre, que os entrevistados não sentissem qualquer tipo de constrangimento e referissem, abertamente, os seus pontos de vista. A primeira entrevista (anexo 02) teve por principal objetivo a caracterização do professor, quer ao nível do percurso profissional, quer da atividade letiva de preparação das aulas, interpretação de documentos curriculares, propósitos educativos, e a sua concretização. A inclusão de um jogo de palavras teve por finalidade identificar o significado de cada uma das palavras para o professor - caso, procurando compreender as expectativas e as conceções que manifestavam. A partir do significado atribuído por cada um dos professores foi possível negociar o sentido a dar às sessões de trabalho de natureza colaborativa, e compreender as ações e decisões tomadas em contexto de sala de aula. A segunda entrevista (anexo 03) procurou, essencialmente, identificar o entendimento, ou perceção, que o professor tem da integração da avaliação no processo ensino aprendizagem e da promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática. Nessa entrevista foram aprofundados os temas discutidos nas sessões de trabalho de natureza colaborativa e os aspetos relativos à observação de aulas. Tanto a primeira entrevista como a segunda realizaram-se no espaço físico da escola em que ocorreu a recolha de dados. A primeira com uma duração aproximada de 90 minutos e a segunda de 60. Todas as entrevistas foram áudio - gravadas e posteriormente integralmente transcritas por mim. Recolha documental Os documentos que os professores - caso e eu elaborámos constituem fontes de informação para o estudo (Tuckman, 2002). Assim, classifiquei-os em dois tipos de documentos: o diário de investigação e outros documentos. No diário de investigação, E x J: entrevista x de José, em que a variável x assume os números 1 ou 2, consoante se trate da entrevista 1 ou 2; E x M: entrevista x de Maria, em que a variável x assume os números 1 ou 2, consoante se trate da entrevista 1 ou 2. 5 95 registei os aspetos que resultaram do meu testemunho enquanto observador atento aos diferentes aspetos que, na minha opinião, afetaram, ou explicaram, o fenómeno em causa. Dos outros documentos, fazem parte o material que se relaciona com a prática letiva dos professores – caso e o produto do trabalho dos alunos. Diário de investigação. Perante um estudo de metodologia qualitativa, surgiu a necessidade de registar todos os aspetos relacionados com a atividade dos professores – caso e meus, nomeadamente durante o percurso evolutivo dos professores nas diferentes etapas, planificação, concretização e reflexão. Estes relatos descritivos constituem a informação sobre a evolução dos atores, bem como a sua perceção da situação que vivem, das suas expectativas e das suas necessidades (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 1994). Estas notas são o relato escrito daquilo que ouvi, vi, experienciei e pensei no decurso do estudo, e refleti sobre o que observava (Bodgan & Biklen, 1994). Esse registo é um diário e foi concretizado, também, sobre as sessões de trabalho de natureza colaborativa. Nele registei intervenções, causas das mesmas e seus efeitos. Também registei alterações à planificação estabelecida inicialmente, modificações metodológicas à concretização da aula e opções tomadas no seu decurso, e estratégias, reações e dificuldades ou episódios marcantes ocorridos no decurso do estudo. Anotei, ainda, as minhas reflexões sobre o processo ensino aprendizagem e sobre a concretização do estudo (Fonzi, 1999), assumindo assim a dualidade de tipos de notas registadas em trabalho de campo, o observador reflexivo e descritivo (Bogdan & Biklen, 1994). Esta forma de registo possibilitou-me, também, a construção de um espaço autónomo de reflexão e distanciamento relativamente aos acontecimentos observados. Os dados registados no diário de investigação serviram para apoiar o conhecimento que adquiri do desenvolvimento profissional dos professores – caso e da forma como estes integraram, nas suas práticas letivas, os modos avaliativos promotores da autorregulação da aprendizagem. Outros documentos. Os documentos recolhidos e analisados dizem respeito à planificação, a longo e a curto prazo, realizadas pelos professores – caso, usualmente, no início do ano letivo, a programação das atividades, os textos de tarefas, e outros documentos que foram produzidos pelos professores para as sessões de trabalho de natureza colaborativa, disponibilizados ou não aos alunos. Também foram recolhidas cópias dos produtos do trabalho dos alunos, aqueles que permitiram a obtenção de uma noção do trabalho realizado e escolhidos por cada professor - caso. De facto, a análise 96 dos documentos reunidos permitiu-me completar as informações recolhidas em sala de aula e nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, uma vez que ocorreu uma grande variedade de acontecimentos e pormenores que podiam ser úteis para o confronto com a programação e os propósitos definidos. Análise de dados A análise dos dados permitiu interpretar e organizar as evidências que recolhi de forma a torná-las claras para quem lê este estudo. A variedade de material obtido exigiu a capacidade integrativa e analítica que, por sua vez, dependeu do desenvolvimento da capacidade criadora e intuitiva. A intuição aqui mencionada não é um dom, mas resultante da fundamentação teórica e do caminho que segui no estudo. A análise feita ao longo do estudo resulta do confronto entre a fundamentação teórica e a realidade empírica (Bogdan & Biklen, 1994; Denzin & Lincoln, 2005). Procedimento Seguindo a perspetiva de Ponte (2006), o que me serve para caracterizar os casos são as determinantes internas, a sua história, a sua natureza, as suas propriedades próprias, e as influências externas, próximas e distantes, diretas e indiretas, que recebem do seu contexto. Por isso, em cada caso, dou atenção à sua história (e ao modo como se desenvolve), e ao seu contexto (os elementos exteriores, quer da realidade local, quer de natureza social e sistémica que mais o influenciam). Procurei identificar o essencial e o mais característico de cada um deles, pelo que foi necessário identificar o seu caráter único e delimitá-lo (Denzin & Lincoln, 2005; Goetz & Lecompte, 1984; Ponte, 2006). A primeira entrevista possibilitou-me a informação necessária para a apresentação de cada caso, o seu percurso profissional e as suas conceções. A observação de aulas e a observação em sessões de trabalho de natureza colaborativa permitiu-me o acesso ao conteúdo do estudo e às práticas avaliativas com o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática, adaptadas pela recolha documental. Procurei proceder às transcrições das gravações das entrevistas, das aulas e das sessões de trabalho de natureza colaborativa o mais depressa possível para anotar os episódios mais marcantes e não esquecê-los. Na transcrição da primeira entrevista de cada um dos casos o processo foi rápido, porque a concretização do estudo ainda estava na fase inicial. Na transcrição da segunda entrevista, das aulas e das sessões de trabalho 97 de natureza colaborativa o processo foi mais demorado, terminou em novembro de 2010, tendo em conta o número de aulas, o número de sessões, a sua frequência temporal e a simultaneidade da assistência às aulas dos dois casos. Não dispensei a transcrição da totalidade das gravações, porque, tanto no caso das sessões de trabalho colaborativo, como das aulas, em algumas das gravações foi difícil a perceção das falas dado o cruzamento de vozes e a coincidência do discurso. Nestas situações, foi fundamental o diário de investigação e o meu conhecimento dos assuntos em causa para o entendimento e a reconstrução do que se tinha passado. Na redação de cada caso dou relevância ao que há de interessante, original e surpreendente em si mesmo – salvaguardando a descrição metodológica e a apresentação. Desenvolvo uma exploração, descrição e explicação com profundo alcance analítico, interrogando o caso, confrontando-o com outros casos já conhecidos e com as teorias existentes (Yin, 2002; Ponte, 1994). A análise do material recolhido seguiu o sistema de categorias que descrevo a seguir. Categorias Para a organização e análise dos dados, os materiais recolhidos foram compartimentados em duas estruturas denominadas práticas avaliativas, com o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática: a interação professor – alunos na aula (IP-A); e o relatório escrito em duas fases (RE). Em cada uma destas duas estruturas, IP-A e RE, foram tidos em conta três momentos distintos: antes da aula, durante a aula, e depois da aula. O primeiro, antes da aula, diz respeito ao preconizado por Ponte et al. (1999), Canavarro e Ponte (2005), Ponte, Quaresma e Branco (2012), quando salientam o papel do professor na interpretação, gestão, planeamento e colocação em prática das suas opções curriculares, em que faz intervir as suas conceções e o seu conhecimento profissional, filtrados pelo trabalho colaborativo entre professores e pela avaliação dos resultados obtidos. É a planificação como um conjunto de opções curriculares influenciado por aspetos inerentes à escola, ao professor e aos alunos. O segundo, durante a aula, mostra o ambiente de aprendizagem da sala de aula, o que marca decisivamente a Matemática que os alunos aprendem, o que aprendem sobre ela e a sua relação com a disciplina (NCTM, 2007). Segundo Ponte (2004), esse momento, a concretização, pode ser de cunho essencialmente direto ou exploratório ou, ainda, ser uma estratégia que combine em graus diversos, estas duas modalidades. Os 98 elementos que constituem os fatores decisivos dessa definição são (i) o modo como a informação é introduzida e (ii) a natureza das tarefas propostas aos alunos e da atividade que delas decorre. Mais recentemente, Ponte et al. (2012) apresentaram um modelo para o estudo das práticas profissionais dos professores de Matemática, que combina a abordagem cognitiva e a sociocultural. Segundo esse modelo, a nível intermédio, procura-se compreender o sentido global do que faz o professor, tendo em atenção os seus planos de ação e procurando caraterizar a sua atividade, bem como identificar o modo específico como são postos em prática. Na perspetiva sociocultural, é preciso considerar as tarefas propostas e o modo como o professor conduz a comunicação. Isto poderá ser feito procurando identificar (i) a natureza da atividade, ou seja, os motivos do professor, o modo como estes originam os objetivos que pretende alcançar e como são concretizados através de diversas ações profissionais e (ii) a estrutura da atividade, observando as ações e operações envolvidas. De um ponto de vista cognitivo, podemos dar atenção igualmente às tarefas e comunicação nos planos de ação do professor, decisões e técnicas usadas. Em qualquer dos casos é necessário ter em conta os recursos e ferramentas usadas pelo professor e os modos de trabalho dos alunos. Por último, o terceiro momento, a reflexão, depois da aula. Sendo uma reflexão sobre a ação desenvolve-se num momento posterior à ação (Schön, 1983). É, também, uma reflexão sobre a reflexão na ação (Serrazina & Oliveira, 2002) por ajudar o professor a progredir no seu desenvolvimento profissional e a construir a sua própria forma de conhecer. Trata-se de um olhar retrospetivo para a ação, sobre o que aconteceu, o que o professor observou, que significado atribuiu e que outros significados poderiam ser atribuídos ao que aconteceu. Para um melhor entendimento da análise de cada uma das estruturas, IP-A e RE, sintetizo a seguir cada um dos momentos e, nos respetivos quadros, explicito as categorias de análise e as respetivas subcategorias. Antes da aula. Para analisar cada uma das duas práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática, IP-A e RE, para o momento antes da aula, defini três categorias: intervenção avaliativa do professor, seleção da tarefa e método de trabalho. Numa perspetiva de que a avaliação não deverá ser meramente feita aos alunos, pelo contrário, ela deverá ser feita para os alunos, para os orientar e melhorar a sua aprendizagem (Black & Wiliam, 2006a; Irons, 2007; NCTM, 2007; Perrenoud, 2004; Ryve, Nilsson, & Mason, 2012; Santos, 2005), preconiza-se a atenção dada aos parâmetros participação do aluno, diversidade de 99 estratégias de resolução, gestão do tempo, critérios de realização, recursos e comunicação, no momento em que o professor equaciona a seleção da tarefa. Há muito tempo que se aceitam as tarefas como ponto de partida para o desenvolvimento da atividade Matemática do aluno (Christiansen & Walther, 1986; Stein, Remillard, & Smith, 2007). Elas fazem parte das situações que o professor cria na sala de aula, a partir das quais a atividade se realiza, e podem revestir-se de alguma diversidade, consoante o grau de desafio e o grau de estrutura (Ponte, 2005a). Relativamente ao método de trabalho, o professor pode organizar os alunos de diversas maneiras: em coletivo, em pequeno grupo (3 elementos ou mais), aos pares ou individualmente. Cada uma dessas organizações está vocacionada para atingir determinados objetivos e é mais adequada, ou não, para a realização de certas tarefas em detrimento de outras (Francisco, 2013). QUADRO 10: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO ANTES DA AULA Categorias Antes da aula Intervenção avaliativa do professor Seleção da Tarefa Método de trabalho Papel do professor Subcategorias Papel do professor Papel do aluno Participação do aluno Diversidade de estratégias de resolução Gestão do tempo Critérios de realização Recursos (materiais) Comunicação (entre pares e aluno / professor) Individual Pares Grupo (mais de dois alunos) Turma Durante a aula. Cada uma das duas práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática, IP-A e RE, divergem, à partida, relativamente ao modo como são concretizadas na sala de aula. Se por um lado, a prática de interação professor – alunos em aula se concretiza pelo questionamento (Bloxham & Campbell, 2010; Hodgen, 2007; Mason, 2000; Santos, 2002), em que o professor não corrige os erros, mas antes dá pistas, não valida mas questiona de forma que seja o próprio aluno a desenvolver um argumento convincente sobre o seu raciocínio (Lau, Singh & Hwa, 2009; Santos, 2003a; 2004; Weber et al., 2008), por outro lado a prática relatório escrito em duas fases apela ao feedback escrito ou escrita avaliativa, que pode ser de diversos tipos e, mais ou menos, adequada aos fins a que se destina (Gipps, 1999; Price et al., 2010; Sadler, 1989; Santos, 2003c; 2004; Santos & 100 Dias, 2007; Wiliam, 1999). Mas, quer em IP-A, quer em RE, no que diz respeito ao professor, o foco de análise recaiu sobre a autorregulação da resposta com os parâmetros: compromisso com as tarefas matemáticas, em que o professor clarifica as intenções de aprendizagem e partilha critérios de sucesso (NCTM, 1999; Jorro, 2000); estímulo às estratégias individuais, em que o professor estimula os alunos a explicitarem as suas dificuldades e os processos cognitivos utilizados nas tarefas, a avaliarem os percursos realizados e a explicitarem as razões das suas dificuldades e/ou sucessos (Santos, 2002); articulação de ideias próprias, em que o professor apoia a reflexão sobre os processos de aprendizagem da matemática, isto é, explicita processos mentais na estruturação da apresentação dos conteúdos, facultando aos alunos o conhecimento de outros processos (que não os próprios) e a sua comparação com os do próprio (Black & Wiliam, 2006c; Henning et al., 2012; Noonan & Duncan, 2005); e a autorregulação do desempenho com os parâmetros: eficácia matemática, em que o professor pondera a consecução da tarefa proposta; e a autoavaliação, em que o professor envolve o aluno enquanto responsável pela sua aprendizagem (Lew et al., 2010; Santos, 2002; Stiggins, 2005). A autorregulação da resposta engloba a ação do professor para a promoção da capacidade do aluno monitorizar a obtenção do produto do seu trabalho, enquanto a autorregulação do desempenho diz respeito à ação destinada à capacidade de monitorizar os processos e saberes matemáticos que conduzem à solução. Neste segundo momento, não me pareceu suficiente a análise do papel do professor para compreender as práticas avaliativas com a intencionalidade de promover a autorregulação. A autoavaliação realizada pelo aluno surgiu como uma categoria a ter em conta, por permitir a regulação do processo de aprendizagem pelo sujeito dessa aprendizagem, pois a autoavaliação é um processo de metacognição pelo qual o próprio aluno toma consciência dos diferentes momentos e aspetos da sua atividade cognitiva (Brookhart et al., 2004; Lew et al., 2010; Santos, 2002). Nessa categoria foram tidos em conta as seguintes subcategorias: compara as intenções de aprendizagem, e os critérios de sucesso, com o trabalho desenvolvido (Stiggins, 2005); escolhe percursos, métodos, recursos, etc…(Quinton & Smallbone, 2010); e usa a avaliação para a melhoria dos trabalhos (Cambra-Fierro & Cambra-Berdún, 2007b; Wiliam, 1999). 101 QUADRO 11: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DURANTE A AULA (IP-A) Papel do professor Categorias Subcategorias Questionamento Durante a aula Papel do aluno Categorias Subcategorias Autoavaliação Autorregulação da resposta Compromisso com as tarefas matemáticas Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias Autorregulação do desempenho Eficácia matemática Autoavaliação Compara as intenções de aprendizagem, e os critérios de sucesso, com o trabalho desenvolvido Escolhe percursos, métodos, recursos, etc… Usa a avaliação para a melhoria dos trabalhos QUADRO 12: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DURANTE A AULA (RE) Papel do professor Categorias Subcategorias Feedback Durante a aula Papel do aluno Categorias Subcategorias Autorregulação da Autoavaliação resposta Compromisso com as tarefas matemáticas Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias Autorregulação do desempenho Eficácia matemática Autoavaliação Compara as intenções de aprendizagem, e os critérios de sucesso, com o trabalho desenvolvido Escolhe percursos, métodos, recursos, etc… Usa a avaliação para a melhoria dos trabalhos Depois da aula. Para este último momento foram definidas as mesmas categorias para cada uma das duas práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação. Deci e Ryan (2000) apontam fatores contextuais como potenciais inibidores ou estimulantes no desejo ou na motivação da pessoa para fazer alguma coisa. Segundo estes autores, quando o comportamento é autodeterminado, o processo regulador é a escolha, mas, quando é controlado, o processo regulador é a condescendência ou, em alguns casos, a desobediência. Assim, faz sentido incluir o balanço e as dificuldades como duas categorias de análise para o momento reflexão: o balanço em que os professores avaliam os progressos conseguidos, que tem subjacente 102 uma avaliação contínua de crenças, de princípios e de hipóteses face a um conjunto de dados e de possíveis interpretações desses dados (Serrazina & Oliveira, 2002); e as dificuldades em que o professor perspetiva o que fez e acentua a sua importância nas práticas (Schön, 1983). QUADRO 13: CATEGORIAS DE ANÁLISE DO MOMENTO DEPOIS DA AULA Categorias Depois da aula Balanço Papel do professor Subcategorias Progressos conseguidos Constrangimentos Dificuldades 103 104 CAPÍTULO 5 – O TRABALHO DE NATUREZA COLABORATIVA Neste capítulo descrevo o trabalho de natureza colaborativa que serviu de suporte ao desenvolvimento do estudo. Por mais de um ano, desde fevereiro de 2009 a abril de 2010, um contexto de trabalho de natureza colaborativa fomentou e suportou o estudo das práticas avaliativas e apoiou a recolha de dados. Destaco o grupo, a dinâmica e as suas principais características, em que incluo a constituição, os propósitos, o funcionamento e o trabalho desenvolvido. O grupo Nesta parte caracterizo o grupo de trabalho de natureza colaborativa, referindo a forma como foi constituído, alguns aspetos dos professores envolvidos e as motivações que impulsionaram os professores a envolverem-se neste estudo. Constituição O grupo foi constituído por convite, tendo por base critérios já enunciados (reconhecida experiência profissional, lecionar o ensino secundário, manifestar capacidade de reflexão sobre a sua prática letiva, manifestar intenção de desenvolver práticas de avaliação reguladora). Eu convidei dois professores, José e Maria, para participarem no estudo. Tanto José, como Maria, evidenciavam preocupações com o desempenho dos alunos em sala de aula e o reflexo disso na concretização das aprendizagens. A partilha de preocupações nessa temática, e o meu investimento em formação académica, despoletaram, frequentemente, conversas entre nós relacionadas com a problemática da avaliação das aprendizagens. José e Maria aceitaram o desafio sem hesitações. No entanto, os motivos parecem ter sido diferentes. José aceitou porque mantém comigo, há vários anos, hábitos de partilha de materiais de trabalho e reflexões sobre episódios ocorridos em sala de aula. Maria porque está sempre disposta a aprender mais: “não sei tudo, e de avaliação não sei nada, estou sempre disponível para aprender” (E1M). O envolvimento de José e de Maria veio a revelar-se uma mais-valia para este estudo pela sua situação profissional. Sendo professores com mais de vinte anos de serviço letivo, e pertencentes ao quadro de escola, garantiam a continuidade pedagógica 105 das turmas envolvidas no projeto por dois anos letivos, acompanhando os mesmos alunos no 10.º ano e no 11.º ano. No ano letivo 2008/2009, Maria e José lecionavam turmas de 10.º ano e em 2009/2010 lecionaram as mesmas turmas, mas no 11.º ano. Para além da atividade letiva, José e Maria já tinham trabalhado em conjunto noutros contextos. Frequentaram várias ações de formação contínua em conjunto, e até realizaram trabalhos em conjunto para essas formações. Em 2007, frequentaram uma ação de formação em que fui formador, o que permitiu que aprofundasse o conhecimento sobre o trabalho que desenvolvem com os alunos. Caracterização dos professores José era casado e tinha 31 anos de serviço. Professor de Matemática desde 1978, segundo José, veio para a profissão por acaso, quando procurava emprego. Acabou por gostar e o seu principal desafio é os alunos: “vê-los a raciocinar é uma maravilha, às vezes fazem as coisas como eu nunca imaginei” (E1J). Licenciado em engenharia e gestão industrial, afirma que na sua formação sempre escolheu a vertente do conhecimento matemático em detrimento do conhecimento didático. No entanto, preocupa-se em incluir na sua atividade letiva tarefas diversificadas, de investigação, de exploração, resolução de problemas, e metodologias de ensino que incluem as tecnologias. Está na atual escola há dezassete anos, desempenhou os cargos de diretor de curso e de diretor de turma, mas José salienta: “prefiro as atividades de ensino aos cargos!” (E1J). Relativamente à avaliação, no início deste trabalho, José dizia valorizar as atitudes dos alunos no apuramento da classificação final, mas sem dispensar a inclusão de avaliações sumativas obtidas através de fichas e testes escritos em tempo limitado. Maria era divorciada e tinha 25 anos de serviço. Apesar de ser bacharel em engenharia civil, Maria completou o curso de estudos superiores em administração escolar e referiu-se ao facto de ser professora como uma paixão: “para mim, ser professora de Matemática é uma paixão, pelo que não me revejo noutra profissão, e um dos meus objetivos é proporcionar aos meus alunos o gosto pela Matemática” (E1M). Vê a aprendizagem da Matemática mais do que o treino repetitivo de exercícios, por isso procura incluir tarefas diversificadas nas suas aulas. Está na atual escola há 24 anos e desempenhou cargos de gestão, diretora de curso e diretora de turma. É vista como uma professora acessível e compreensiva entre os alunos, e entre os seus colegas. No 106 que diz respeito à avaliação, Maria é lacónica a afirmar que não costuma pensar no assunto: “é uma tarefa complicada, mas necessária” (E1M). Enquanto investigador, partilhei com Maria e José a conceção do estudo, a dinamização do projeto desde a sua organização até ao balanço final e, por isso, faço a minha caracterização de forma a contribuir para o conhecimento do grupo como um todo, através do conhecimento das características dos elementos que o constituem. Eu sou casado e tenho 19 anos de serviço. Licenciado em ensino da Matemática e mestre em Educação na área de especialização de didática da Matemática, sempre gostei de Matemática. No ensino secundário, nas aulas de Matemática, estava sempre no quadro a resolver os exercícios/problemas e a explicar aos meus colegas. Isso levou-me a decidir desde muito cedo pela profissão que viria a ter. Estou na atual escola há quinze anos e já fui vice-presidente do conselho executivo, de 1999 a 2005, e tenho dinamizado vários projetos. A minha insatisfação com o investimento dos alunos na aprendizagem, e às vezes a sua falta de empenho, impulsionou-me na procura de conhecimento e explicações para alguns episódios de desinvestimento na aprendizagem que ocorrem na sala de aula. Acreditando que a escola é um espaço de aprendizagem, para mim a avaliação serve a aprendizagem e nunca o castigo ou a penalização. O trabalho do grupo Neste ponto descrevo as motivações, o funcionamento e organização, assim como o conteúdo das sessões de trabalho de natureza colaborativa que contribuíram para o estudo. Destaco os assuntos tratados nas sessões de grupo e a reflexão do grupo sobre o trabalho desenvolvido. Motivação A construção do projeto de investigação nasceu da ideia comum aos dois participantes e ao investigador, que é possível promover nos alunos a autorregulação da aprendizagem matemática. Surgiu, assim, a necessidade de estudar práticas avaliativas, em sala de aula, que contribuíssem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas, perspetivando algumas das vantagens que isso poderia trazer para a responsabilização, o desempenho, o resultado escolar e a participação dos alunos nas tarefas matemáticas, em particular em Trigonometria, Geometria e Funções do 11.º ano. Depois de avanços e recuos, o grupo de trabalho de natureza colaborativa estabeleceu alguns objetivos a atingir: 107 • construir um entendimento comum sobre o que se entende por autorregulação, avaliação e aprendizagem; • definir práticas avaliativas com intencionalidade reguladora; • selecionar tarefas com potencialidades para promover a autorregulação da aprendizagem matemática em Trigonometria, Geometria e Funções; • monitorizar a evolução dos alunos na aprendizagem matemática. Uma parte fundamental da construção do projeto foi o aprofundamento do conhecimento mútuo, apesar de já nos conhecermos. Logo nas primeiras sessões de trabalho, o grupo reconheceu algumas diferenças ao nível das conceções, no que diz respeito, em particular, ao papel do professor e ao papel do aluno em sala de aula. Por isso, foi necessário trabalhar e discutir esses aspetos, para construir um entendimento comum. Inicialmente, o grupo analisou diferentes perspetivas e comparou formas de estar de professores, e de alunos, em sala de aula, e a relação com o empenho na concretização das tarefas escolares, a partir da leitura e discussão de textos de Educação Matemática. Para isso, disponibilizei-me a pesquisar textos no domínio da Educação Matemática que versassem essa temática. Os textos lidos e discutidos constituem um repositório deste projeto, assim como todas as tarefas e materiais usados nas sessões de trabalho de natureza colaborativa. Numa fase mais adiantada do desenvolvimento do projeto, a planificação, a concretização, e a reflexão sobre a implementação com alunos de tarefas, em sala de aula, foram as estratégias seguidas para abordar o papel do aluno e o papel do professor. Organização e funcionamento As reuniões de trabalho de natureza colaborativa decorreram no espaço físico da escola onde ocorreu a recolha de dados, a que pertencem os participantes, mas fora do horário letivo dos professores envolvidos. Desse trabalho foi dado conhecimento à direção da escola, em ambos os anos letivos, 2008/2009 e 2009/2010. Em 2008/2009 tivemos reuniões de trabalho com a duração de 90 minutos (um bloco letivo), à quarta-feira. As reuniões eram semanais porque os nossos horários letivos permitiam a permanência na escola durante esse bloco. Nessa altura, o projeto de investigação ainda estava pouco estruturado. Mas, as nossas reuniões informais serviam para aprofundar o nosso entendimento sobre práticas avaliativas, práticas letivas, tarefas e instrumentos de recolha de dados, permitindo a co construção deste projeto. 108 Em 2009/2010 mantivemos as reuniões semanais de quarta-feira, num bloco de noventa minutos. Nesse ano letivo, planificámos, concretizamos e refletimos sobre as práticas avaliativas com intencionalidade de promover a autorregulação, mas a estrutura de cada sessão não foi sempre a mesma. Entre fevereiro de 2009 e março de 2010, realizaram-se 26 sessões de trabalho de natureza colaborativa. Apesar de se prever uma sessão semanal de trabalho de natureza colaborativa, as tarefas que os professores realizavam na escola ou o próprio calendário escolar impediram que tal se concretizasse. As primeiras 9 sessões ocorreram em 2008/2009 e posso dizer que coincide com a fase de estruturação do projeto. Após a estruturação do projeto, solicitei a ambos os professores, a sua disponibilidade para assumir os seguintes compromissos: continuar a reunir semanalmente em 2009/2010, à semelhança de 2008/2009; participar, ativamente, no trabalho de natureza colaborativa em que nos tínhamos envolvido; permitir a minha presença nas suas aulas; disponibilizar todos os documentos pessoais, e de alunos, que estivessem relacionados com a prática letiva. O trabalho desenvolvido em cada um dos dois anos letivos referidos, 2008/2009 e 2009/2010, não foi da mesma natureza. No primeiro ano letivo, procurámos identificar áreas de intervenção e o trabalho esteve relacionado com o arranque do projeto, que denomino por 1.ª fase. No segundo ano letivo, o grupo deu prioridade à concretização em sala de aula, denominada 2.ª fase. No entanto, para além destas duas fases distintas, considero que existiu uma 3.ª fase, em paralelo a ambas, a reflexão. O conteúdo de cada uma destas fases não é completamente estanque, pois considero que existem interligações entre as três fases. Algumas das opções tomadas durante a concretização do projeto foram informadas pela prática letiva de cada um dos envolvidos e pelas sessões de trabalho de natureza colaborativa. Como investigador, procurei integrar os contributos dos participantes. Nas 17 sessões de 2009/2010, o trabalho de natureza colaborativa teve uma forte componente prática. O trabalho desenvolveu-se tendo por base as práticas avaliativas, a seleção e adaptação de tarefas para implementar em sala de aula, e respetiva planificação, ou a reflexão sobre episódios de sala de aula. 1.ª fase. Essa fase concentrou-se entre fevereiro e maio de 2009 e compreendeu o apuramento das necessidades de investimento dos elementos do grupo para a construção conceptual de um entendimento comum em autorregulação, avaliação e aprendizagem. Também, nessa fase, foi efetuado um levantamento de possíveis áreas de intervenção, junto dos alunos, a partir da recolha de documentos de avaliação dos 109 alunos e, respetivos, resultados. Os três elementos do grupo procuraram identificar aspetos das suas práticas letivas que poderiam contribuir para o desenvolvimento da autorregulação das aprendizagens matemáticas nos temas a lecionar no 11.º ano. No quadro seguinte resumo os temas trabalhados em cada uma das nove sessões de 2008/2009. QUADRO 14: TRABALHO DESENVOLVIDO PARA A 1.ª FASE DE TRABALHO DE NATUREZA COLABORATIVA Data 4 de março de 2009 Temas tratados 11 de março de 2009 As dificuldades detetadas nas aprendizagens dos alunos à entrada do 10.º ano O desempenho dos alunos do 10.º ano no 1.º teste intermédio6 18 de março de 2009 A capacidade de compreensão e de comunicação dos alunos 25 de março de 2009 As tarefas que permitem desenvolver a autorregulação da aprendizagem As atividades de investigação no manual dos alunos Discussão sobre a recolha de dados A construção de tarefas sobre as funções polinomiais 22 de abril de 2009 29 de abril de 2009 6 de maio de 2009 20 de maio de 2009 27 de maio de 2009 Discussão da tarefa sobre as funções polinomiais A análise dos problemas dos testes intermédios de 10.º ano O desempenho dos alunos no 2.º teste intermédio do 10.º ano O balanço do trabalho realizado Perspetivas para o próximo ano letivo (projeto de trabalho) 2.ª fase. De setembro de 2009 a março de 2010, as atividades desenvolvidas no âmbito do projeto centraram-se, essencialmente, na prática letiva dos professores. Nessa fase, foram definidas as práticas avaliativas a estudar, planificadas aulas, selecionadas e adaptadas tarefas para propor aos alunos, analisados episódios de sala de aula, e feita a reflexão sobre esse trabalho. Apesar de existir uma programação pré-estabelecida para essa fase (anexo 04), imposta pela calendarização do estudo e pelo desenvolvimento dos temas/conteúdos dos programas de Matemática das turmas envolvidas, surgiram adaptações. Os materiais, textos e tarefas, discutidos em cada sessão, foram incluídos a partir das progressivas necessidades do grupo, diagnosticadas pela reflexão sobre as aulas e a partir da evolução do trabalho conjunto, e com o contributo de todos. 6 Os testes intermédios, realizados pela primeira vez no ano letivo de 2005/2006, são instrumentos de avaliação disponibilizados pelo GAVE e têm como principais finalidades permitir a cada professor aferir o desempenho dos seus alunos por referência a padrões de âmbito nacional, ajudar os alunos a uma melhor consciencialização da progressão da sua aprendizagem e, complementarmente, contribuir para a sua progressiva familiarização com instrumentos de avaliação externa. (http://www.gave.minedu.pt/np3/430.html) 110 Na definição do projeto ficou explícito que se procurava analisar as práticas avaliativas dos professores de Matemática que tinham por intenção promover a autorregulação da aprendizagem matemática. Assim, José e Maria acederam a que eu estivesse presente e gravasse as aulas em que essas práticas fossem implementadas. O percurso dos dois professores não foi o mesmo. No caso de José, estive presente em dez aulas, correspondentes a cinco tarefas, e no caso de Maria em onze aulas e seis tarefas. 3.ª fase. Durante todo o estudo e em particular, a reflexão final, em abril de 2010, os professores envolvidos no projeto aproveitaram algumas das sessões de trabalho de natureza colaborativa para realizarem uma reflexão sobre o trabalho desenvolvido com os alunos. Os temas tratados Apesar de se tratar de um trabalho de natureza colaborativa, eu, enquanto investigador, procurei organizar o trabalho do grupo. Respondi às solicitações do grupo, embora qualquer um dos participantes pudesse dinamizar as sessões de trabalho com propostas de trabalho semanal. A seleção e adaptação de tarefas para aplicar em sala de aula, foi, quase sempre, dos professores participantes. Mas, em paralelo com essa seleção foram definidas as práticas avaliativas a estudar. As práticas avaliativas estudadas surgiram da necessidade de aprofundamento de conhecimento dos próprios professores. Através da leitura dos textos de Educação Matemática, sobre a temática da autorregulação, os professores manifestaram o seu interesse em desenvolver o questionamento oral e o feedback escrito. O trabalho desenvolvido nas sessões conjuntas pode ser incluído numa das seguintes categorias: • definição e planificação de práticas avaliativas, com a intencionalidade de promover a autorregulação da aprendizagem matemática; • seleção e adaptação de tarefas a propor aos alunos em aula; • análise e reflexão sobre episódios de sala de aula, tendo como suporte a experiência do dia-a-dia de cada professor, ou as aulas observadas; • análise do desenvolvimento da capacidade de autorregulação dos alunos. Ainda em 2008/2009, no início do projeto, os professores exteriorizaram preocupações com as dificuldades de compreensão e de comunicação matemática manifestadas pelos alunos, principalmente quando as questões colocadas apelavam à 111 explicação de raciocínios. Em particular, o grupo de trabalho de natureza colaborativa sentiu como sua primeira necessidade o aprofundar dos seus conhecimentos acerca do desempenho dos alunos num teste intermédio nesse tipo de questões. Foi esse o ponto de partida para a definição inicial do projeto, por um lado a perceção de que havia dificuldades de compreensão e de comunicação e, por outro lado, como é que se poderia intervir de modo a melhorar o desempenho dos alunos em Matemática no 11.º ano. Começámos por procurar identificar as dificuldades dos alunos, na generalidade, através da realização de uma avaliação diagnóstica e, posteriormente, do tratamento estatístico dos resultados obtidos pelos alunos. Nessa fase que, anteriormente, denominei de 1.ª fase, identificámos tarefas do manual do aluno e de testes intermédios que poderiam ajudar a promover a autorregulação da aprendizagem matemática e, consequentemente, a desenvolver, nos alunos, as suas capacidades de compreensão e de comunicação matemática. Como forma de complemento dessas sessões, discutimos e analisamos textos de Educação Matemática. Nas 2.ª e 3.ª fases, nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, predominou a reflexão sobre o papel do professor na aula de Matemática e o impacto do projeto nos alunos. No quadro seguinte, resumo os temas trabalhos em cada uma das 17 sessões de trabalho de 2009/2010. QUADRO 15: TRABALHO DESENVOLVIDO PARA AS NATUREZA COLABORATIVA Data 30 de setembro de 2009 7 de outubro de 2009 14 de outubro de 2009 21 de outubro de 2009 2.ª E 3.ª FASES DE TRABALHO DE Temas tratados Discussão do texto: Dias, P. & Semana, S. (2009). Avaliar, ensinar e aprender: dimensões pedagógicas distintas nas aulas de Matemática? Atas do X Encontro Galaico-Português. Universidade do Minho. Definição e planificação de práticas avaliativas Definição e planificação de práticas avaliativas Seleção e adaptação de tarefas Discussão do texto: Hodgen, J. (2007) Formative assessment. Tools for transforming school mathematics towards a dialogic practice? In D. PittaPantazi and G. Philippou (edss.), Proceedings of Fifth Congress of the European Society for Research in Mathematics Education (pp. 1886-1895). Larnaca, Cyprus: University of Cyprus (tradução: Projeto AREA) Definição e planificação de práticas avaliativas Seleção e adaptação de tarefas Reflexão sobre episódios de sala de aula Seleção e adaptação de tarefas Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos 112 28 de outubro de 2009 Discussão do texto: Pólya, G. (1945). How to solve it: A new aspect of mathematical method. Princeton: Princeton University Press. Tradução disponível em http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/sd/textos/polya.pdf 4 de novembro de 2009 11 de novembro de 2009 Seleção e adaptação de tarefas Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos Discussão do texto: Stein, M. K. & Smith, M. S. (1998). Tarefas matemáticas como quadro para a reflexão: Da investigação à prática. Acedido a 9 de junho, 2009, de http://www.educ.fc.ul.pt-docentesjponte-fdm-textos-stein-smith%2098.pdf 18 de novembro de 2009 Seleção e adaptação de tarefas Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos 25 de novembro de 2009 Discussão do texto: Santos, L. (2004). O ensino e a aprendizagem da Matemática em Portugal: Um olhar através da avaliação. Atas del octavo simposio de la sociedad española de investigación en educación Matemática (S.E.I.E.M.) (pp. 127-151). Coruña: Universidade da Coruña. 13 de janeiro de 2010 Discussão do texto: Martins, A.; Saporiti, C.; Neves, P.; Bastos, R. & Trindade, S. (2003). Testes em duas fases: uma experiência. Educação e Matemática, 74, 43-47. Seleção e planificação de tarefas 20 de janeiro de 2010 Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos 27 de janeiro de 2010 Discussão do texto: Santos, L. (2002). Autoavaliação regulada. Porquê, o quê e como?. In P. Abrantes e F. Araújo (Coord.), Reorganização Curricular do Ensino Básico. Avaliação das Aprendizagens Das conceções às práticas. Lisboa: Ministério da Educação / Departamento da Educação Básica. Seleção e planificação de tarefas 3 de fevereiro de 2010 Seleção e adaptação de tarefas Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos 24 de fevereiro de 2010 Discussão do texto: Santos, L. & Dias, S. (2007). Será que os alunos compreendem o que lhes escrevem os professores? Educação e Matemática, 94, 11-16 3 de março de 2010 Análise e reflexão sobre episódios de sala de aula Avaliação do desempenho dos alunos 113 10 de março de 2010 17 de março de 2010 Discussão do texto: Noonan, Brian & C. Randy Duncan (2005). Peer and SelfAssessment in High Schools. Practical Assessment Research & Evaluation, 10 (17). Tradução disponível em: http://pareonline.net/getvn.asp?v=10&n=17 (tradução Projeto AREA). Reflexão e balanço sobre o projeto Em síntese, nas 26 sessões de trabalho de natureza colaborativa, os assuntos predominantes estão ligados a quatro aspetos: definição e planificação de práticas avaliativas, seleção e adaptação de tarefas, análise e reflexão sobre episódios de sala de aula e análise do desenvolvimento da capacidade de autorregulação da aprendizagem matemática pelos alunos. É de notar a evolução progressiva da discussão desses aspetos ao longo do desenvolvimento do projeto. Com maior influência da definição e planificação de práticas avaliativas e da seleção de tarefas nas primeiras sessões, por necessidade de programar a concretização em sala de aula e de encontrar suporte teórico suficiente sobre a temática da autorregulação, tornando-se soberanas, posteriormente, as questões da prática avaliativa, nomeadamente o papel do professor e o papel do aluno, através da reflexão sobre episódios de sala de aula e a análise do desenvolvimento da capacidade de autorregulação dos alunos, a tomar mais expressão nas sessões seguintes. O trabalho realizado Apresento, em seguida, cada um dos temas tratados com maior detalhe. Práticas avaliativas. Para a concretização deste estudo era necessária uma definição de prática avaliativa que incluísse a intencionalidade de promover a autorregulação da aprendizagem matemática. Daí que a inclusão da discussão de textos nas sessões de trabalho colaborativo partisse da minha iniciativa, porque no primeiro conjunto de sessões, março a maio de 2009, identifiquei que os significados de avaliação e de autorregulação não eram suficientemente amplos para concretizar o estudo. Em particular, José manifestava uma conceção de avaliação muito associada ao apuramento de resultados do desempenho dos alunos e, consequentemente, à atribuição de uma classificação: A avaliação é uma tarefa do professor. O professor monta um esquema em que tem em conta todos os trabalhos que o aluno realiza, os testes escritos e as atitudes, organiza isso tudo para apurar a classificação final. Os “pesos” são definidos pelo departamento e aprovados pelo conselho pedagógico, mas depende do professor a recolha dos dados. (José, E1J) 114 Maria, também, se referia à avaliação como a verificação de conhecimentos. Embora incluísse palavras como a “regulação”, não era completamente explicito que a conceção de avaliação de Maria, incluísse implicações para a prática de ensino, nomeadamente a sua adequação aos alunos: Através da avaliação sei o que [os alunos] aprenderam, vejo os avanços que fazem naquilo que eu tento ensinar-lhes. Às vezes, deteto alguns problemas, e chamo a atenção a esses alunos. Digo-lhes sempre que nunca é tarde, podem sempre melhorar os seus desempenhos, basta que me mostrem aquilo que sabem e se já sabem mais, eu valorizo isso! (Maria, E1M) Relato, nesta parte, a discussão relativa aos dois textos que foram considerados, pelos professores, como os mais determinantes no que ocorreu na 2.ª e na 3.ª fase do desenvolvimento deste projeto (2009/2010). O primeiro texto a ser realçado diz respeito a uma comunicação apresentada por mim e por Sílvia Semana ao X encontro Galaico – Português na Universidade do Minho (setembro, 2009). Escolhi-o porque, por um lado, o texto relata um estudo revelador de práticas avaliativas com a intencionalidade de promover a autorregulação da aprendizagem. Nomeadamente, o investimento na apropriação dos critérios de avaliação pelos alunos e o fornecimento de feedback escrito e oral, através de um percurso dotado de dificuldades e não linear. Por outro lado, procurava, como investigador, que o texto exemplificasse aos professores a aplicação de algumas práticas avaliativas e a recolha de dados. Na discussão do texto, Maria mostrou muita curiosidade sobre o processo organizativo, desde a forma como estavam organizadas as tarefas de aprendizagem, aos materiais que foram disponibilizados aos alunos e, até, à forma como a professora combinou com os alunos o processo avaliativo: A professora deu um guião, não foi? Um guião…do relatório. Está aqui explicado que ela deu um guião que foi muito bom porque os alunos começaram a olhar para o guião. Mas, na primeira vez nem quiseram saber! Depois, o relatório tinha os erros escritos. Se houver erros escritos, desconta quanto? Os alunos sabiam? Se não tiver essa clareza…era complicado! (Maria, STC10) Maria salientou, ainda, o facto de os relatórios se desenvolverem em duas fases porque não estava habituada a realizar trabalhos desse modo. Acrescentou, também, a gratificação para a professora, autora do texto, quando o aluno evolui e salienta que sentiu dificuldades, mas foi capaz de concretizar a tarefa: A comunicação é um problema em Matemática. Por isso, eles [os alunos] não deram grande importância aos aspetos da escrita no primeiro relatório 115 realizado. Só depois, quando a professora fez a avaliação e… mostrou um exemplo de relatório, é que os alunos começaram a preocupar-se com a apresentação do trabalho, e o conteúdo! As duas fases foram importantes! (…) Eu nunca fiz. Eu achei “engraçado” as duas fases de produção de um trabalho. Primeiro, a professora, implementou a tarefa com os alunos. Eles fizeram desenvolveram-na. Depois, a professora, também, entregou os critérios de avaliação do relatório. Saber os critérios de avaliação do relatório, o que é que o relatório tinha que conter, é importante para os alunos, mas eu nunca fiz nada parecido! Os critérios devem ser do tipo: o que é valorizado e o que é desvalorizado. Depois, quando os alunos fazem a comparação dos dois trabalhos, a primeira vez que diz: “o meu trabalho é só satisfatório”. Depois da segunda vez já diz: “o meu trabalho foi bom. Consegui resolver todos os exercícios, apesar de algumas dificuldades. Consegui superá-las com sucesso. Participei! Ajudei!” Isso, para mim, foi muito rico. (Maria, STC10) José focou a sua atenção nos critérios de avaliação e no modo como tinham sido trabalhados com os alunos, procurando compreender melhor esses aspetos: Há aqui uma coisa que eu não percebi. Aqui quando falam: os alunos passaram a consultar os critérios. Quando falam em critérios, são critérios de avaliação da disciplina ou os critérios de avaliação do relatório? E isso foi discutido com os alunos? E a organização, também? (José, STC10) José também valorizou o facto da concretização do relatório estar dividida em duas fases, para o bom desempenho dos alunos. Também, acrescentou que não basta informar os alunos do tipo de documento que é exigido, nem dos critérios de avaliação, é necessário que os alunos verifiquem a avaliação dos seus trabalhos para assimilarem esses critérios. José deu como exemplo a transformação que se verificou ao nível do trabalho dos alunos quando a professora deu feedback à primeira fase: Então, eles [os alunos] tiveram que reformular o relatório, sempre, sobre a mesma atividade. Acho uma coisa diferente, esta divisão do relatório estar dividido em 2 partes. Parece-me complicado, não é? (…) Pareceu-me uma “gira”. A partir da altura em que esta colega entregou o relatório aos alunos, eles cada vez mais consultavam o guião. E agarram-se cada vez mais ao guião. Quer dizer, tipo tábua de salvação! Ao princípio, andou tudo assim…assim… A partir de um dado momento, os alunos começaram a usar guião, não foi? Pelo menos, a partir do momento em que receberam o feedback da primeira fase. Ocorreu quando [a professora] explicitou os critérios de avaliação. Logo, eles começaram a levar mais a sério o guião e os critérios. E, finalmente, os alunos apresentaram trabalhos com maior rigor e organização nas respostas. (José, STC10) 116 Este texto deu um significativo contributo para o trabalho colaborativo. A discussão deste texto permitiu-nos, enquanto grupo, desenvolver uma perspetiva de intervenção ao nível da avaliação através do feedback para promover a autorregulação da aprendizagem matemática, em relatórios escritos em duas fases. O texto mostrou a importância dos relatórios serem redigidos em duas fases, para que sejam apropriados os critérios de avaliação, pela generalidade dos alunos, e para que os alunos tenham oportunidade de melhorar os seus desempenhos em matemática, após a receção do feedback escrito, dado pelo professor. A realização de um trabalho em duas fases constituía uma novidade tanto para José como para Maria, e para os seus alunos. Ao nível do trabalho matemático de sala de aula, foi unânime, por José e por Maria, o realce da consideração de que os alunos menosprezam as tarefas de sala de aula: Este texto mostra isso, só com o trabalho em torno do relatório modelo, os alunos passaram a usar os critérios de avaliação e passaram a empenhar-se mais na realização das tarefas de sala de aula, porque sabiam que isso se refletiria na avaliação. (José, STC10) É uma forma de mostrar aos alunos que vale a pena investir no trabalho de sala de aula, como está descrito nos critérios de avaliação da escola. (Maria, STC10) A experiência relatada, no texto, serviu de exemplo para o trabalho que procurávamos concretizar, mas também motivou-nos para estudar a reação dos alunos do ensino secundário a uma intervenção em duas fases, através de um relatório escrito, no sentido de promover a autorregulação das aprendizagens. O segundo texto, de Jeremy Hodgen (2007), foi escolhido por mim depois de ter sido discutido no âmbito do projeto AREA7. Escolhi esse texto com o objetivo de examinar o potencial da avaliação formativa, no sentido de transformar as práticas de ensino e de aprendizagem em matemática na escola. O seu foco está num professor dentro da sala de aula, escolhido como “um caso de narração”, embora os dados sejam retirados de um estudo mais amplo. A professora estudada é identificada como um "praticante" exemplar da avaliação formativa, embora, como é discutido, a prática real de avaliação formativa na sua sala de aula fosse um pouco mista. O autor faz a 7 Projeto financiado pela FCT (nº PTDC/CED/64970/2006), http://area.fc.ul.pt/pt/. No projeto AREA, investigadores e professores têm vindo a desenvolver, implementar e avaliar práticas avaliativas ao serviço da aprendizagem, quer na Educação Pré-Escolar e no 1.º ciclo, em geral, quer nos restantes ciclos do Ensino Básico e no Ensino Secundário, em Matemática. 117 descrição de algumas características da avaliação formativa, em que se inclui o uso de tarefas ricas e desafiantes, a qualidade do discurso de sala de aula e do questionamento, o feedback e o uso da autoavaliação e a avaliação entre pares. Outro aspeto importante, do nosso (grupo de trabalho colaborativo) ponto de vista, é a abordagem dada, no texto, à qualidade da interação entre aluno e professor. O autor sugere a necessidade dos professores ouvirem interpretativamente, escutando as contribuições dos alunos para perceberem o porquê de eles responderem de determinada forma. Daí, que, o autor defenda o aumento das perguntas de nível mais elevado a colocar aos alunos, que, geralmente, pode estar associado ao aumento do desempenho dos alunos. Também, a necessidade de aumentar o “tempo de espera”. Relata-se, no texto, que o tempo que a professora espera depois de fazer uma pergunta, em aulas de Matemática, é tipicamente menos de um segundo. É um apelo à necessidade do professor escutar os alunos e enquadrar as suas perguntas ou comentários, adequadamente. Tanto José, como Maria, salientaram o prazer com que leram este texto e ambos salientaram a contabilização dos tempos de intervenção da professora na aula e o baixo tempo de espera: É verdade, eu não me calo! Quase que os alunos são obrigados a ouvir, ouvir e sua participação é ouvir. Assim que abrem a boca, já estou a dar a resposta… nunca tinha pensado nisso! Mas, este texto fez-me refletir… talvez vá mudar! (Maria, STC12) José acrescenta a orientação dada nas tarefas de sala de aula como outro aspeto sobre o qual não tinha refletido. Na opinião de José, o destaque vai para a interação entre aluno e professor. Salientou, de uma forma mais ampla, a necessidade dos professores ouvirem mais os alunos, analisando em pormenor os trabalhos dos alunos, para questionar e inferir o porquê de eles responderem de determinada forma: Uma boa comunicação entre professor e alunos é uma condição necessária num ambiente em que se pretende que a avaliação seja efetivamente formativa. Conduzir à regulação das práticas do professor e das aprendizagens dos alunos. Em particular, tocou-me as perguntas que os professores fazem aos alunos e permitirem ao aluno autocorrigir os seus erros, melhorando as aprendizagens. (José, STC12) José acrescenta que ficou, particularmente, sensibilizado para as consequências de uma redução do número das contribuições da professora. A modificação no papel da professora, no sentido de escutar os alunos, de lhes dar mais espaço e de usar o trabalho de grupo, levou José a refletir sobre algumas das suas atitudes em sala de aula: 118 Os reflexos daquilo que se faz com os alunos, pode sentir-se na interação entre professor/aluno. Dando-lhes mais espaço aumenta-se a autoconfiança e dando-lhes estímulo para a partilha, e o trabalho de grupo, pode-se permitir a ultrapassagem de “medos” e obstáculos. No que toca à minha pessoa, este texto levou-me a ponderar estes aspetos e abriu-me horizontes para um “novo” ensino, contribuindo para a atenção a dar a um apoio diferenciado aos alunos, e quem sabe proporcionar oportunidades para trabalhar em grupo. (José, STC12) Maria, também, referiu a interação entre o professor e o aluno como um aspeto a destacar no texto. Para ela, às vezes, na avaliação, o professor assume o papel de quem valoriza apenas o resultado final e, na sua perspetiva, este texto permite mostrar que o professor é corresponsável pelas produções do aluno: Para que este tipo de avaliação [formativa] se concretize, é forçoso que o professor assuma o papel de regulador das aprendizagens e não de “carrasco”, que penaliza o aluno com uma classificação (qualitativa ou quantitativa) atribuída a uma determinada tarefa, e volta a penalizá-lo quando a adiciona com outra, posteriormente, fazendo a média das duas, ainda que o aluno tenha progredido na aprendizagem. O professor tem de dar mais atenção à evolução do aluno e assumir a responsabilidade de o fazer evoluir. E valorizar isso! (Maria, STC12) Além disso, Maria salientou a postura do professor quando evita corrigir as respostas dos alunos e os incita a melhorar os seus trabalhos, dando-lhes espaço para comentarem as ideias uns dos outros: Utilizar sempre comentários que dão um reforço positivo ao trabalho já anteriormente feito, incentivando os alunos a reanalisarem as suas respostas, sem apontar os erros graves e indicar pistas para corrigir o erro, mas sem incluir a correção do erro, são aspetos que me tocaram para a melhoria dos desempenhos dos alunos no trabalho matemático, segundo o autor, em especial se tiverem oportunidade de o fizerem em trabalho de grupo. (Maria, STC12) Deste modo, a discussão deste texto permitiu-nos acentuar mais explicitamente a importância de escutar os alunos, em paralelo com o uso de estratégias de questionamento, e de tempo de espera. O relato sobre a discussão ocorrida, entre alunos, durante o trabalho de grupo, tornou-se relevante para nós porque foi considerada muito diferente pelo autor do texto: os alunos falaram mais e as suas respostas sugeriram que eles se escutaram mutuamente (Hodgen, 2007). Além disso, o texto relata o incitamento de uma professora através do questionamento, em trabalho de grupo, dando espaço aos alunos para comentarem as ideias uns dos outros. Estes aspetos contribuíram para que 119 tomássemos a decisão de colocar os alunos a trabalhar em grupo e a nossa intervenção, em sala de aula, incluísse o questionamento, sem a indicação de correção ou indicações de resolução: Parece-me uma boa estratégia. O trabalho a pares pode trazer vantagens para [os alunos] “melhores” e para os “piores”, têm uma espécie de amigo a quem podem recorrer … os trabalhos resultam desse trabalho, como um único e evitam-se os nossos comentários e interpretações. (Maria, STC12) Desta forma, evoluíram as duas práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática: o relatório escrito em duas fases, com feedback do professor entre as duas fases, e a interação professor – alunos, com predomínio do questionamento do professor, em sala de aula, nos temas Trigonometria, Geometria e Funções. Também, decidimos manter a nossa atenção no trabalho de grupo, enquanto forma de ajudar os alunos a desenvolver a autorregulação. Mais tarde, com a continuação do trabalho, José e Maria sentiram necessidade de aprofundar os seus conhecimentos sobre a forma como os alunos podem interpretar e responder a um problema e, também, sobre a natureza das tarefas propostas na sala de aula, por isso discutimos os textos: Pólya, G. (1975); e Stein, M. K. e Smith, M. S. (1998). Com o desenvolvimento do projeto, as necessidades de conhecimento centraram-se ao nível dos instrumentos de recolha de dados para a avaliação. Por isso, o grupo discutiu os textos: Santos, L. (2004); e Martins, A.; Saporiti, C.; Neves, P.; Bastos, R. & Trindade, S. (2003). Seleção e adaptação de tarefas. A seleção e adaptação de tarefas esteve presente em oito das dezassete sessões de trabalho que constituem as intituladas 2.ª e 3.ª fases deste estudo. As discussões em relação às tarefas partiam da pré-seleção de tarefas que José ou Maria traziam para cada sessão, embora eu também tenha feito algumas propostas. Para planificar, cada uma das aulas, era necessário equacionar as vantagens e desvantagens de uma dada tarefa, tendo como enquadramento os critérios de avaliação da escola8. Procurávamos tarefas que envolvessem trabalho para a compreensão, planeamento, definição de estratégias, focalizassem a atenção, permitissem a 8 Os critérios de avaliação da disciplina de Matemática, na escola, preveem uma percentagem de 25% para os tópicos: explorar situações problemáticas; procurar regularidades; fazer e testar conjeturas; formular generalizações; pensar de maneira lógica; comunicar ideias matemáticas através da linguagem escrita e oral; analisar a razoabilidade de um resultado através do cálculo mental, do papel e lápis ou de instrumentos tecnológicos; e usar procedimentos matemáticos na compreensão da vida real. 120 autoavaliação e a autossatisfação. Assim, foi usada uma adaptação do método IMPROVE, Introducing new concepts, Metacognitive questioning, Practicing in small groups, Reviewing, Obtaining mastery, Verification, Enrichment and remediation9 (Kramarski, B.; Mevarech, Z.; e Arami, M., 2002), como se fosse um filtro a que todas as tarefas deveriam ser submetidas. O método baseia-se na resposta a quatro questões, uma para cada domínio (domínios para a promoção da autorregulação): • para a identificação: qual é o problema? Termos matemáticos? Dados? • para o reconhecimento de saberes: qual é a semelhança ou a diferença entre este problema e outros? • para a estratégia: qual a estratégia a usar na resolução deste problema? • para a reflexão: a solução encontrada faz sentido? Para cada uma das tarefas foi construído um quadro, semelhante ao que se segue (Quadro 16), que procurava responder a essas questões e orientava a seleção das tarefas para promover a autorregulação da aprendizagem matemática. QUADRO 16: CARATERIZAÇÃO DAS TAREFAS - IMPROVE Tarefa Identificar problema termos matemáticos os dados Reconhecer os saberes o outro problema o seu motivo Estratégia o quê? como? porquê? Reflexão dificuldades resposta são admissíveis outras respostas? Registo Descreveram-se, aqui, o que era esperado que o aluno identificasse, para compreender e planear a sua ação. Por exemplo, identificar algumas palavras-chave. Descreveram-se, aqui, as ligações que o aluno podia estabelecer com os seus saberes, para focalizar a atenção. Por exemplo, outros exercícios ou problemas semelhantes que tenha realizado anteriormente. Descreveram-se, aqui, as estratégias que podiam ser usadas. Por exemplo, procurar informação no manual escolar ou no caderno, ou estabelecer interações com professor/alunos. Descreveram-se, aqui, possíveis pontos que podiam ser referidos, para a autoavaliação e a autossatisfação. Por exemplo, dificuldades, erros, processos de resolução inovadores. José e Maria não implementaram exatamente as mesmas tarefas. Mas, ambos estiveram presentes em todas as sessões de trabalho colaborativo em que houve a discussão e planificação de tarefas, e participaram ativamente. Em comum, usaram em sala de aula as tarefas: Eratóstenes (T2: anexo 06), Periélio (T3: anexo 07) e Cone (T5: 9 Introduzir novos conceitos, promover a Metacognição, Praticar em pequenos grupos, Rever, Obter eficácia, Verificar, Enriquecer e remediar (IMPROVE, tradução do investigador). 121 anexo 09). A Maria usou, ainda, as tarefas Triângulos (T1: anexo 05), A Maria vai sempre de carro (T6: anexo 10) e Nódoa circular (T8: anexo 12), já José usou, ainda, Círculo trigonométrico (T4: anexo 08) e Escrever num computador (T7: anexo 11). A variabilidade está associada às turmas em que foi efetuada a recolha de dados e ao desenvolvimento curricular de cada uma dessas turmas. O quadro seguinte apresenta um resumo dos aspetos que diferenciam as tarefas propostas aos alunos. QUADRO 17: RESUMO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO IMPROVE ÀS TAREFAS Identificar Reconhecer Estratégia T1 Usar as fórmulas trigonométricas; Usar as razões trigonométricas Razões trigonométricas num triângulo retângulo Efetuar cálculos auxiliares Usar sistemas de duas equações T2 Mostrar uma relação; Usar uma igualdade na previsão de resultados T3 Manipular variáveis no contexto de um problema de trigonometria Resolução de equações Usar as razões trigonométricas Resolução de equações Não usar a calculadora gráfica (versus) Usar a calculadora gráfica Não usar a calculadora gráfica (versus) Usar a calculadora gráfica Recorrer a expressões analíticas T4 Mostrar uma relação Razões trigonométricas num triângulo retângulo T5 Geometria analítica Determinação analítica de condições que definem objetos geométricos Resolução gráfica de inequações T6 Manipular variáveis no contexto de um problema de funções racionais T7 Manipular variáveis no contexto de um problema que envolve função exponencial T8 Manipular variáveis no contexto de um problema de funções racionais Resolução gráfica de inequações Resolução analítica de inequações Resolução gráfica de inequações 122 Usar o sistema sexagesimal Usar a calculadora gráfica Usar a calculadora gráfica. Não usar a calculadora gráfica (versus) Usar a calculadora gráfica Reflexão Compreender que o seno e o cosseno variam entre -1 e 1 Confrontar com a figura Compreender a relação entre α e R Confrontar com a figura Compreender o significado das variáveis Confrontar com a figura Compreender que o seno e o cosseno variam entre -1 e 1 Verificar o resultado apresentado Confrontar com a figura Verificar o resultado apresentado Verificar o resultado apresentado Verificar o resultado apresentado A natureza das tarefas propostas aos alunos em sala de aula esteve presente, declaradamente ou não, em quase todas as planificações. Quer pela via das discussões sobre os textos, quer pelo diagnóstico, a natureza das tarefas foi, inicialmente, considerada pelo grupo como um ponto fundamental para promover a autorregulação da aprendizagem matemática. Inicialmente, o grupo pensou em selecionar tarefas de natureza mais investigativa. No entanto, configurou-se, a partir da investigação sobre a temática da autorregulação, que as tarefas de natureza mais aberta traziam variáveis para o estudo que poderiam contaminar o foco a que nos queríamos dedicar. Por exemplo, se a tarefa fosse verdadeiramente aberta e o aluno não conseguisse avançar, poderia bloquear o desenvolvimento da autorregulação. Da mesma forma que, se a tarefa fosse familiar aos alunos deixaria de ser uma verdadeira investigação para ele. Assim, as tarefas propostas aos alunos variam entre a resolução de exercícios e a resolução de problemas. A seleção e a adaptação das tarefas foram feitas pela possibilidade de incluir a participação do aluno, diversidade de estratégias de resolução, gestão do tempo, critérios de realização, recursos e comunicação. Foi assumido por José que, no início do ano letivo, a resolução de um exercício, mais ou menos complexo, sem orientação para o aluno, poderá constituir-se na resolução de um problema e desmotivar o aluno. E, para José, também não seria vantajoso o apoio constante pela inibição do que seria a progressão do aluno na sua aprendizagem: Na minha turma não posso fazer coisas muito complicadas, desmotivo os moços já no início. Isso não pode ser. Também, para orientar muito e andar constantemente a ajudar, não me parece que evoluam grande coisa, sozinhos. Eu voto nas mais simples, uns exercícios não muito diferentes do que faço no dia-a-dia, embora desta vez faça a recolha dos trabalhos. (José, STC11). Nessa fase, José já tinha aprofundado o seu conhecimento sobre a autorregulação e defendia, argumentando, que teríamos de possibilitar ao aluno o trabalho autónomo, mesmo sendo apoiado por trabalho a pares na sala de aula. Maria, por sua vez, também, mostrava algumas reticências quanto a inovar a natureza das tarefas a propor aos alunos: Eles [os alunos] não estão habituados a isso, são tarefas demasiado abertas. Têm pouca maturidade. Depois, não avançam, andam o tempo todo a chamar-me ou ficam à espera. Penso que isso não é muito bom. Eu andei a ver, e acho melhor escolher daqueles problemas que estão nos testes 123 intermédios, assim temos para todos os gostos. Uns vão mais à frente, e outros só com a nossa ajuda. (Maria, STC11) Por isso, o grupo optou por trabalhar apenas questões de resposta única, embora o processo de resolução pudesse ser diversificado. Em algumas delas requer-se, ao aluno, a escrita de uma composição com a explicação do raciocínio que conduz a uma resposta. No quadro seguinte é apresentada a classificação das tarefas quanto à sua natureza, efetuada pelo grupo nas sessões de trabalho. QUADRO 18: CLASSIFICAÇÃO DAS TAREFAS QUANTO À SUA NATUREZA T1: Triângulos Exercício Problema T2: Eratóstenes 1.1, 1.2 e 1.3 Exercícios 1.4 Problema com composição 1.5 Problema a), b) e c) Problemas T3: Periélio T4: Círculo trigonométrico T6: A Maria vai sempre de carro 1. Problema 2.1 e 2.2 Exercícios a) e c) Problemas b) Exercício 1. e 2. Problemas T7: Escrever no computador Problema com composição T8: Nódoa circular 1.1 e 1.2 Exercícios 1.3 Problema T5: Cone Classificámos os diferentes itens das tarefas a propor aos alunos, em sala de aula, de acordo com a nossa perceção do que deveria ser o trabalho do aluno. A distinção entre a classificação em exercício ou em problema, para o grupo de trabalho de natureza colaborativa, foi a usada por Ponte (2005a). Os problemas, embora tenham também um carácter estruturado, diferem dos exercícios pelo seu grau de desafio mais elevado e por não ser indicado ao aluno um método que lhe permita a resolução imediata. José referiu-se, também, à forma como o professor conduz o trabalho na sala de aula como um elemento que pode alterar a classificação das tarefas. O professor seleciona e propõe as tarefas, se indica os caminhos e os alunos obedecem, resolvem e participam passivamente, não se desenvolvem o mesmo tipo de aprendizagens: “Não vamos dar o peixe aos alunos, vamos antes ensiná-los a pescar!” é um lema que procuro seguir. Mas, às vezes tenho problemas. Os alunos não fazem o t.p.c., não se empenham nas tarefas, e eu vejo o tempo a passar e a matéria acumula-se... afeta aquilo que eu faço, mas também afeta aquilo que os alunos aprendem! (José, STC4) 124 Maria, num registo mais ativo, referiu-se ao questionamento na sala de aula, mas, também, coloca o professor no lugar central para o desenvolvimento da aula: Os alunos chamam-me e eu não digo nada. Isso é ajudar o aluno? Estou a exagerar, mas também não conseguiria fazer isso. Eu tenho de ajudar, sempre, tenho de lhes dar sempre um “empurrãozinho”. Agora, talvez, nem sempre o faça da melhor forma … terei de transmitir o que sei e tenho de dar respostas. (Maria, STC4) José estava num registo muito ligado ao que, tradicionalmente, se afirma: o papel do professor na sala de aula é “dar” a matéria. Maria procurava evidenciar que o seu papel na sala de aula é o de explicar e esclarecer dúvidas. Ambos num registo em que o aluno tem um papel passivo, na promoção da sua própria aprendizagem matemática. Na concretização deste projeto foi necessário trabalhar essas conceções. Durante a seleção das tarefas discutimos a importância do professor desempenhar uma atitude interativa (Ryve, Nilsson, & Mason, 2012), em que o trabalho de sala de aula funciona como um sistema dinâmico e inclui os alunos, onde se inclui o questionamento e o feedback. É um registo associado à avaliação formativa, em que o professor pretende ajustar os seus processos de ensino através da avaliação que faz da concretização das aprendizagens. Os alunos tornar-se-ão cada vez mais autónomos e participativos, professor e alunos trabalham num registo colaborativo, o aluno ouve o professor e o professor ouve o aluno. Episódios de sala de aula. Os episódios de sala de aula estiveram presentes em quase todos os textos que foram lidos pelo grupo. Foram considerados, por mim, como fundamentais para explicar o que os autores de cada texto pretendiam comunicar e, também, como uma forma de suscitar discussões e comparações entre as práticas letivas relatadas em cada texto e as práticas letivas de cada um dos professores - caso. Os episódios de sala de aula vividos pelos professores – caso encontram-se descritos nos capítulos 6 e 7. Desenvolvimento da capacidade de autorregulação pelos alunos. As dificuldades que os alunos demonstravam em sala de aula, em testes escritos de tempo limitado, ou em outros instrumentos escritos de avaliação das aprendizagens, estiveram presentes em todas as sessões. Desde o início do estudo que o grupo sentiu a necessidade de auscultar os alunos, nomeadamente averiguar as suas dificuldades de 125 aprendizagem: “devo saber o que é que [o aluno] aprendeu e as dificuldades que teve, sem esses aspetos não sei como definir uma estratégia de ação” (José, STC3). A preocupação com o desenvolvimento incluía a definição de estratégias para o prosseguimento, com consequências na ação educativa, ou seja uma assunção de avaliação formativa. Outro aspeto com contributo para este desenvolvimento foi o erro. Maria enfatizou os erros cometidos pelos alunos como uma forma de o professor e o aluno construírem conhecimento sobre o apreendido pelos alunos: “aquilo do erro ... abordagem positivo do erro, é isso. Serve aos alunos, ajuda-os a corrigir, mas também serve ao professor. Eu fico a saber o que tenho de corrigir, os pontos a que devo voltar e aqueles que já estão bem!” (Maria, STC3). O grupo, também, discutiu a preocupação que sentia relativamente ao desempenho dos alunos em avaliações provenientes dos testes escritos. A começar foi o primeiro teste intermédio do 10.º ano (2008/2009). Nesse teste, o desempenho dos alunos esteve abaixo das expectativas dos professores, e aparentemente, as causas eram a falta de estudo e a falta de maturidade dos alunos para responder a um teste de caráter nacional. Discutimos essas ideias, e acabámos, por refletir sobre as tarefas com que os alunos eram confrontados e a forma como estas eram abordadas em aula. As dificuldades de interpretação identificadas no desempenho dos alunos, nesse teste escrito, foram associadas, por Maria, à forma como abordava as tarefas propostas em sala de aula. Maria salientou o apoio dado na interpretação dos problemas e exercícios de sala de aula como um inibidor do desenvolvimento da capacidade de interpretação dos alunos: [No teste intermédio] existiam 4 itens de escolha múltipla (primeira parte), num total de 5, e 3 itens da segunda parte, num total de 7, que apelavam à interpretação do aluno. Não era fácil, eu nas aulas dou os problemas e ajudo-os a começar… eles [os alunos], depois, é só terminarem os cálculos. Ajudo-os demasiado! (Maria, STC6) O grupo conseguia, a partir dos resultados de avaliação de testes escritos, identificar relações com a forma como geria as situações de sala de aula. Maria referiase ao papel do professor e ao papel do aluno, em aula, e o impacto desses dois aspetos, a posteriori, nos resultados alcançados e nos progressos alcançados pelo aluno. Para elucidar algumas das conceções dos participantes, experimentámos a aplicação da tarefa seguinte, de funções quadráticas, ainda no 10.º ano (2008/2009): Determina os zeros de cada uma das seguintes funções: 126 f ( x) = x 2 − 4 x + 3 g ( x) = −2 x 2 + 3 x h( x) = 4 x 2 − 16 Identifica as semelhanças e as diferenças no processo de resolução… Selecionámos a tarefa e planificámos a forma de a implementar. Ficou decidido que os alunos realizariam a tarefa em aula, durante aproximadamente 50 minutos, e que os últimos 30 minutos da aula seriam destinados a uma discussão global, sobre a resolução da tarefa. Os alunos realizaram o trabalho a pares. Não assisti a estas aulas. Após a concretização da tarefa, em trabalho de natureza colaborativa, fizemos a avaliação do trabalho de sala de aula. Ambos os professores consideraram que os alunos empenharam-se bastante na tarefa, embora tivessem mostrado alguma dificuldade em registar “Identificar as semelhanças e as diferenças no processo de resolução…”: Eles [os alunos] estiveram empenhadíssimos, diria mesmo que nunca os vi assim! Alguns não sabiam como fazer a segunda, g (x) , estavam a fazer da mesma forma que f (x) , mas o trabalho a pares ajudou e também o pedido de escrita das diferenças … começaram a pensar…porquê pedir as diferenças se estavam a fazer sempre da mesma forma? (Maria, STC7) Os meus [os alunos] acharam estranho, mas resolveram bem a f (x) e h(x) , a segunda é que foi pior. A parte da escrita demorou a sair, saiu a conta-gotas, mas apesar de terem efetuado poucos registos, a minha observação dos trabalhos deles despoletou-me algumas ideias. (José, STC7) A avaliação do grau de compreensão e de elaboração das respostas dos alunos revelou-se um indicador da avaliação do desempenho, e do estado das aprendizagens realizadas (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009). Maria identificou erros de cálculo, sistemáticos segundo esta professora, e associou-os aos resultados que os alunos revelam em outras situações de avaliação escrita: Vi tantos erros de cálculo, multiplicações mal feitas por causa dos sinais…resultados que não faziam sentido. E eles [os alunos] continuaram a fazer os mesmos erros de sempre, às vezes foi necessário eu perguntar se (−4) 2 é o mesmo que − 4 2 . Não tinha a noção da permanência desses erros…e da forma como influenciavam os resultados dos alunos…e eles [os alunos] também não! (Maria, STC7) José desvalorizou os erros de cálculo, e acrescentou o facto de alguns alunos terem refeito a resolução das equações quando estavam a escrever a parte das 127 semelhanças e das diferenças entre as resoluções, optando por estratégias de resolução diferentes e, como consequência, necessitaram de mais tempo para concluir a tarefa: A maioria resolveu com a fórmula resolvente, com alguns erros de cálculo, alguns graves, mas o que mais me tocou foram as estratégias usadas…quase no final, alguns refizeram as resoluções da g ( x) e h( x) porque, nessa altura, associaram cada função a um tipo de equação do 2.º grau que eu tinha falado na aula [completas e incompletas]. (José, STC7) Ambos os professores consideraram que tiveram um papel diferente nessa aula. No entanto, também, referiram que não poderiam fazer todas as aulas deste tipo. Para José, porque têm um programa para cumprir, e não considerou que os alunos tenham evoluído na aprendizagem: Eu quase não tive um papel nessa aula. Acompanhei os alunos e dinamizei a discussão final. Eles leram as suas sínteses e eu confirmei ou corrigi. Foi diferente, mas acho que foi uma tarefa de aplicação… e os alunos não aprenderam nada de novo. Não posso fazer isto sempre! (José, STC7) Maria porque, assim, não sabia muito bem o que tinha ensinado. Nas suas palavras, Maria aprendeu sobre as dificuldades apresentadas pelos alunos, mas tem dúvidas sobre as aprendizagens que eles realizaram: Eu acho que foi importante. Eles fizeram e eu fui dando “dicas”. No final, na discussão a maioria dos alunos queriam que eu ditasse a resposta correta, não o fiz. Resisti. Aprendi muito sobre a forma como eles respondem, trabalham em grupo, os erros que cometem e como os corrigem, ou identificam. Mas, o que é que eles aprenderam? O que ficou? Não sei, só o tempo o dirá. (Maria, STC7) Esta experiência, na intitulada 1.ª fase do projeto (2008/2009), serviu para que os professores compreendessem a necessidade de efetuarem algumas leituras no âmbito da Educação Matemática e que, este estudo exigia uma atitude de reflexão sobre o papel do professor e do seu trabalho na sala de aula. A tarefa e a sua concretização na sala de aula, e a discussão que dela decorreu, serviram para que se afinassem arestas sobre o desenvolvimento do estudo. Até então, havia uma tendência para considerar que o insucesso era fruto da postura pouco empenhada do aluno. A principal alteração foi, certamente, a reflexão sobre o papel do professor na aula de Matemática. O aluno como agente da sua aprendizagem que tem a capacidade de decidir se vale a pena efetuar um esforço, no sentido de promover a sua própria aprendizagem, foi um assunto que passou a pertencer às sessões de trabalho colaborativo apenas nas últimas duas fases do projeto. A conceção do papel de aluno que José e Maria 128 evidenciavam no início do projeto, revelava a coerência entre o papel do aluno e o papel do professor: Como é que eu posso avançar? Eles [os alunos] não fazem os trabalhos de casa, empenham-se pouco, tenho de andar sempre a “puxar”. Por muitos exercícios que proponha, se eles não se envolverem não entra “lá” nada. (José, STC6) Revela um professor preocupado, essencialmente, com a lecionação de conteúdos e que o aluno deve repetir, exercitar, o que contribuirá para o seu bom desempenho. Um modelo de ensino situado ao nível da introdução – resposta – avaliação (Tavares & Alarcão, 2001). Maria valorizava a participação do aluno ao nível da “colocação de dúvidas”. Para ela, o aluno deveria estar atento na aula e seguir aquilo que o professor explicava, questionar, esclarecer, e a partir daí construir os seus próprios esquemas de aprendizagem: É um trabalho deles [dos alunos]. Ninguém pode fazer, se eles não o fizerem. Devem envolver nas aulas e colocar dúvidas, mesmo que algumas sejam disparates. Mas, esses esclarecimentos são fundamentais para cada um encontrar o seu caminho e dar um sentido àquilo que vou explicando. (Maria, STC5) Apesar de mostrar abertura suficiente para incluir a participação dos alunos nas suas aulas, Maria relata um contexto em que o aluno segue o percurso traçado pelo professor sem inflexões nem desvios. Nessa 1.ª fase, o trabalho colaborativo serviu para identificar possíveis dificuldades e possíveis erros no trabalho dos alunos, para questionar os papéis do professor e do aluno, e não teve apenas impacto nas práticas letivas, acompanhou a concretização do estudo e permitiu, também, verificar o desenvolvimento da capacidade de autorregulação de alguns alunos: Hoje estava a observar o Carlos. Na primeira questão, ele não questionou. Eu estava mesmo à espera que no “mostre que” ele me chamasse. Mas, ele procurou no caderno e andou num vaivém de avanços e recuos, experimentou as fórmulas e chegou lá… e no fim, estava mesmo satisfeito. (Maria, A8M) A continuidade do estudo no 11.º ano (2009/2010) trouxe o aumento da reflexão dos professores sobre o seu papel na sala de aula. Por exemplo, José, gradualmente, evoluiu no sentido de questionar até que ponto devia intervir junto dos alunos para os ajudar a concluir uma tarefa ou devia, apenas, dar mais uma pista: 129 Olhem, vocês não sabem. Eu também não sei. Procurem. Sei lá. Não sei, não faço a mínima ideia. Agora há uma coisa que eu sei: quanto aos ângulos, ele é? E, talvez diga em que ponto. Bem, agora vejam o que é que acontece. Reparem. (José, A1J) Quando eu disse isso, hesitei muito! Mas, agora vejo que poderia ter morto a questão se dissesse que o triângulo era retângulo e em que ponto. É preciso dar-lhes tempo, têm de progredir … interpretar, compreender e fazer sozinhos, nós temos de ter calma... e paciência. (José, STC15) Reflexão do grupo sobre o projeto As primeiras nove sessões de trabalho de natureza colaborativa, de março a maio de 2009, serviram, principalmente, para definir o projeto de investigação que viria a ser desenvolvido. O grupo definiu os aspetos a ter em conta na concretização através de sucessivos avanços na negociação de significados. No final desta 1.ª fase, no final de maio de 2009, o grupo fez o ponto de situação, refletiu sobre o trabalho desenvolvido e perspetivou o trabalho a desenvolver no ano letivo seguinte (2009/2010). A partir da implementação realizada, também, o trabalho em torno dos conceitos autorregulação, avaliação e aprendizagem teve um avanço significativo. Os professores - caso passaram a valorizar os aspetos relacionados com a interação e com a comunicação: Para que este tipo de avaliação [formativa] se concretize, é forçoso que o professor assuma o papel de regulador das aprendizagens e não de “carrasco”, que penaliza o aluno com uma classificação (qualitativa ou quantitativa) atribuída a uma determinada tarefa, e volta a penalizá-lo quando a adiciona com outra, posteriormente, fazendo a média das duas, ainda que o aluno tenha progredido na aprendizagem. O professor tem de dar mais atenção à evolução do aluno e assumir a responsabilidade de o fazer evoluir. E valorizar isso! (Maria, STC9) A reflexão ocorrida a propósito da tarefa, e acerca da interação entre alunos, durante o trabalho de grupo, tornou-se relevante para o projeto porque foi considerada muito diferente daquilo a que Maria e José estavam habituados: os alunos participaram mais, discutiram e produziram trabalhos. Além disso, Maria evitou responder diretamente às questões dos alunos, optou por incitá-los a ultrapassarem as dificuldades, sem a ajuda da professora, o que provocou nos alunos as atitudes necessárias para comentarem as ideias uns dos outros. O José acrescentou que ficou, particularmente, sensibilizado para as consequências de uma redução do número das contribuições do professor, o que também, o levou a refletir sobre as suas práticas. 130 Como já foi referido, este aspeto contribuiu para que tomássemos a decisão de colocar os alunos a trabalhar a pares, na maioria das tarefas, e a nossa intervenção, em sala de aula, fosse reduzida às orientações estritamente necessárias, tendo o caráter pontual, sem a indicação de correção ou indicações de resolução. Maria e José tinham frequentado uma ação de formação em que eu era o formador. O trabalho feito em 2008/2009 facultou, também, que nos afastássemos dos papéis assumidos na formação e que construíssemos um grupo de trabalho colaborativo, em que os três (eu, Maria e José) deveriam participar com propostas. Durante os primeiros meses, quer Maria, quer José, participaram ativamente na pesquisa de tarefas para propor aos alunos e no levantamento de dificuldades dos alunos que impedissem o desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem matemática em Trigonometria, Geometria e Funções. Esta ação favoreceu a autoconfiança de Maria e de José para se envolverem no projeto de trabalho colaborativo e permitiu-me assumir o estatuto de par, nesse trabalho. A discussão de episódios provenientes da leitura dos textos permitiu-nos desenvolver uma perspetiva de intervenção, ao nível da concretização do projeto. Por exemplo, através dos episódios foi mais fácil exemplificar a aplicação de uma tarefa em duas fases: Só com o trabalho colaborativo, de partilha do que se passa na sala de aula, em torno dos alunos, é possível modificar a minha atuação, apoiamo-nos uns aos outros, e dar “espaço” aos alunos. (Maria, STC12) Maria refere que a experiência relatada, no texto, lhe serviu de exemplo para a discussão, e também a motivou para procurar verificar se os alunos do ensino secundário reagiam da mesma forma que os do ensino básico, e se a intervenção em duas fases, através de um relatório escrito, poderia modificar as suas atitudes, no sentido da promoção da autorregulação das aprendizagens. Ao analisar os resultados dos alunos em diferentes instrumentos de avaliação, testes intermédios, fichas de trabalho na aula, e os desempenhos em sala de aula registados numa grelha de observação, o grupo refletiu e identificou como focos de intervenção: • o trabalho da autorregulação ao nível da resolução de problemas, e de situações com uma natureza exploratória, em que estivessem incluídas Trigonometria, Geometria e Funções; 131 • o investimento em tarefas que servissem para desenvolver a capacidade de comunicação matemática dos alunos; • o conhecimento dos professores em termos de feedback a dar aos alunos. No primeiro ponto, entendemos que a resolução de problemas proporcionava o ambiente propício para o estabelecimento de interações professor - aluno e aluno – aluno, para que os alunos desenvolvessem as suas estratégias de resposta a tarefas matemáticas, sistemas de organização, avaliação de soluções (adaptação do método IMPROVE). Os temas Trigonometria e Geometria apresentavam-se como temáticas difíceis para alunos de 11.º ano e afiguravam-se, também, como conteúdos em que os professores tinham vontade de investir. Os itens que incluíam a avaliação simultânea de conteúdos específicos da matemática e da língua materna revelaram-se como sendo os que mostraram os mais baixos desempenhos dos alunos, em avaliações escritas. Na fase de diagnóstico, 2008/2009, os professores recolheram os resultados de avaliações dos alunos em testes e fichas de avaliação “dita” sumativa e identificaram as debilidades da comunicação matemática. Também, afigurou-se como pertinente e oportuno o fornecimento de feedback às produções escritas dos alunos, uma oportunidade de desenvolvimento profissional para os professores investirem numa área em que sentem dificuldades e, em simultâneo, desenvolver a capacidade de comunicação matemática nos alunos através da promoção das suas estruturas de autorregulação. A partir do momento em que comecei a estar presente na sala de aula, os dois professores expunham, frequentemente, episódios por si vividos nas suas aulas. A discussão inicial poderia parecer que o professor, ao relatar esse episódio, procurava a confirmação da correção da sua atuação em sala de aula, mas ao longo do desenvolvimento do projeto, essa exposição, veio a revelar-se como uma forma de o professor efetuar uma reflexão partilhada sobre a sua prática letiva. José atribui ao espaço de trabalho de natureza colaborativa a oportunidade de experimentar, inovar e refletir na e sobre a sua prática letiva: Sem as sessões de trabalho colaborativo não tinha a oportunidade de expor algumas das minhas dúvidas e dificuldades com os alunos. Estas questões da avaliação não são fáceis, e tive muitos momentos que só me apetecia dar a resposta aos alunos….mas, fazia um esforço e sabia que podia discutir isso com os meus colegas. (José, E2M) José salienta, também, o impacto que a reflexão sobre os episódios de sala de aula teve na sua prática letiva. Segundo ele, a participação neste projeto possibilitou-lhe o 132 contacto com o que passa na sala de aula dos colegas e assim, poder ajudá-lo a diversificar as propostas de trabalho que proporciona aos alunos: A reflexão e o saber o que os meus colegas fazem nas suas aulas foi importante, deu-me confiança. Os reflexos daquilo que se faz com os alunos, pode sentir-se na interação entre professor/aluno. Dando-lhes mais espaço aumenta-se a autoconfiança e dando-lhes estímulo para a partilha, e o trabalho de grupo, pode-se permitir a ultrapassagem de “medos” e obstáculos, os deles [dos alunos] e os nossos [dos professores]. No que toca à minha pessoa, este projeto levou-me a ponderar estes aspetos e abriu-me horizontes para um ensino, talvez, mais adequado, contribuindo para a atenção a dar um apoio diferenciado aos alunos, e quem sabe proporcionar mais oportunidades para trabalharem em grupo. (José, E2J) Para Maria, a participação neste projeto constituiu um modo de experimentar novas formas de organizar o trabalho na sala de aula. Segundo Maria, experimentar a atribuição de feedback em relatórios de duas fases ou realizar trabalhos em aula sem a atribuição de classificação, não teria sido possível sem a dinâmica de trabalho colaborativo: Há coisas que não tenho coragem de concretizar sozinha, o grupo apoiou esse trabalho. Conseguir experimentar a atribuição de feedback ou a realização de trabalhos em duas fases ou a realização de trabalhos sem a atribuição de notas, não seria possível sem a dinâmica criada pelo grupo. (Maria, E2M) 133 134 CAPÍTULO 6 – JOSÉ Apresentação José, professor há 32 anos, está na escola atual há dezassete anos. A sua formação base é o bacharelato em engenharia mecânica do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, tendo, em 2002, concluído a licenciatura em engenharia e gestão industrial pelo Instituto Politécnico de Setúbal. Segundo ele, decidiu ser professor porque se defrontou com a dificuldade de arranjar emprego na área da engenharia, e porque, enquanto estudante, lecionou Matemática. Hoje em dia, José afirma que não mudará de profissão. Gosta do que faz e dá-lhe “prazer contactar com os jovens e ensiná-los” (E1J). Mas, também, declara que ao longo da sua formação preferiu a vertente do conhecimento matemático em desfavor da vertente do conhecimento didático: Confesso que sou dado a pesquisar problemas de Matemática e deixo para segundo plano as pedagogias. Gosto de ver métodos diferentes de resolver problemas, mas não me preocupo muito se isso é adequado para o aluno ou não. São desafios matemáticos… é isso que tenho dado prioridade nas inscrições em formações. Às vezes procuro saber mais sobre o cálculo diferencial e nem por isso, em saber como ensinar cálculo diferencial. (E1J) Mais recentemente, na formação contínua, nos últimos anos, José tem dado prioridade às novas tecnologias de informação e comunicação, em virtude da lecionação a turmas de cursos profissionais e tecnológicos. Na escola, José tem desempenhado vários cargos, por exemplo: diretor de turma, delegado de grupo e diretor de instalações. Ao nível da atividade letiva, lecionou todos os níveis desde o 7.º ao 12.º ano de escolaridade. É reconhecido, pelos seus pares, como um profissional empenhado e competente. Envolve-se em diversas atividades da escola e, frequentemente, é escolhido para organizar documentos do departamento de Matemática, efetuar estatísticas de sucesso escolar, entre outros. Segundo o que apurei, mostra-se disponível para lecionar qualquer nível de escolaridade e para desempenhar qualquer cargo, embora refira dificuldade na gestão de algumas situações, e incómodo com alguns cargos, como se pode ler das suas palavras: Na escola há situações complicadas. É difícil para mim, como para tantos outros colegas, mas eu tenho a frontalidade de o reconhecer. Prefiro as atividades letivas, não fosse eu um professor de Matemática, uma ciência 135 sem fim à vista e um campo sempre infinito por explorar, tal como os problemas que enfrentamos no dia-a-dia da nossa profissão. (E1J) Experiência profissional Planificação. José considera que a planificação de uma aula é importante por permitir equacionar as estratégias de concretização do processo de ensino e aprendizagem: Quando eu penso numa aula defino várias coisas. Posso dizer os materiais, as tarefas, os objetivos do programa, etc…, mas, na verdade, estou a pensar num aspeto mais amplo e que não se pode escrever no momento. Trata-se do caminho que traço para esses alunos…é o processo de ensino e também de aprendizagem. (E1J) Essa planificação é registada na forma escrita num caderno de capa preta. Nele, encontram-se os problemas e exercícios com que José pretende propor aos alunos, e as respetivas resoluções, para além das indicações que devem ser dadas em sala de aula: sumário, objetivos a alcançar, recursos, destaques para a avaliação sumativa, observações, propostas de trabalho extra-aula, notas e definições importantes. Segundo José, a planificação de uma aula é desenvolvida a partir de um conteúdo matemático, geralmente um tópico do programa da disciplina, e inclui objetivos (do programa), um pouco de teoria, exercícios práticos e recursos inerentes ao desenvolvimento desse conteúdo (GSP; Graphmática, calculadora, etc…). Refere, ainda, que procura incluir, também, as conexões entre o que vai ser explorado numa dada aula e os conteúdos que explorou em aulas anteriores, ou em anos anteriores quando se trata de uma turma de sua continuidade pedagógica, numa perspetiva de definir um percurso de ensino e a aprendizagem a longo prazo. José diz procurar, também, incluir a possibilidade do aluno experimentar várias abordagens para o mesmo tema: Por exemplo, na marcação de pontos num referencial e simetria em relação aos eixos e às bissetrizes, liguei a Geometria e as Funções. Estas tarefas são importantes para que os alunos desenvolvam a sua perceção visual, e a utilização associada à aplicação das tecnologias, pode reforçar a ligação às Funções, ou expressões algébricas. Ter vários pontos de vista sobre o mesmo assunto. (E1J) Segundo José, a escolha das tarefas é um aspeto a que José dedica especial atenção no momento da planificação. José procura incluir problemas que se relacionem com a vida real, ou que dela se aproximem: 136 Alguns problemas que simplifiquem situações da vida real são os meus preferidos. Com eles, posso dar a visão de utilidade da matemática e da importância que esta ciência tem para o futuro dos alunos. Não preciso ter tarefas muito complicadas, basta que sirvam para mostrar a utilidade do que estamos a estudar em dado momento. (E1J) José remete as questões da comunicação matemática para segundo plano, e algumas das adaptações que faz aos problemas selecionados são “limpezas” do contexto da vida real, tornando a proposta mais direta, do seu ponto de vista, e acessível para os alunos: Por exemplo, para quê pedir ao aluno o volume de um depósito de combustível com a forma de cilindro quando se pode pedir, simplesmente, o volume do cilindro. Depois, posso relacionar isso com outras coisas, funções e simular a variação do raio da base e estudar as implicações. (E1J) Por um lado, José aponta as tarefas como um pretexto para cativar o interesse dos alunos, mas, por outro lado, a tarefa selecionada constitui um mote para a exploração que faz na aula: Raramente me fico pela exploração simples de uma dada tarefa. A tarefa é um ponto de partida. Durante a correção da tarefa relaciono-a com outros conhecimentos, mostro aos alunos várias resoluções possíveis e às vezes uma simples tarefa… dá para duas ou três aulas. Uma tarefa pode ser pequena e revelar-se muito longa, depende das ligações que estabeleço. (E1J) A natureza das tarefas a propor aos alunos é um aspeto a que José dedica algum tempo aquando da planificação de uma aula. As suas preferências, segundo me contou, vão para os problemas, mas nem sempre consegue arranjar um adequado ao que pretende, o que o obriga a fazer adaptações a problemas que encontra na internet, manuais escolares ou testes intermédios e exames nacionais: Ao procurar [os problemas], nem sempre encontro o que quero. Alguns são demasiado vagos, com muito texto e pouco conteúdo matemático…os alunos perdem-se na compreensão, e fico sem saber se sabem ou não a parte da matemática. Prefiro, os [problemas] que dizem respeito a conteúdos matemáticos…podem ser de cálculo…a exploração, quer dizer, a extensão, faço eu. (E1J) Relativamente à forma de trabalho na aula, José afirma que os alunos estão sempre organizados para trabalhar em grupo, a pares, mas salienta que na planificação prevê que os alunos trabalhem de várias formas. Na exploração das tarefas que propõe, 137 os momentos de trabalho a pares são privilegiados, a discussão com toda a turma é um momento de partilha, e quando se trata de registo de conclusões prefere o trabalho individual: Na aula trabalham a pares. Podem ajudar-se uns aos outros, mas isso faz parte daqueles momentos em que exploram, compreendem, procuram o caminho para encontrar as soluções, mas depois a correção, e as extensões que proponho, geralmente são em grande grupo [turma]. A escrita peço sempre individual. Quero perceber o que cada um percebeu do que foi tratado e assim, também, pode dar um apoio mais individual e avaliar, claro! (E1J) A aula de Matemática. No que diz respeito à aula, José atribui ao professor o papel de construtor de um ambiente favorável à aprendizagem, onde inclui o estímulo à participação dos alunos, através de questões desafiantes, ou para reflexão, recorrendo tanto a respostas na forma escrita, como na forma oral: O papel do professor é envolver os alunos para que aprendam. Cada aula é um desafio. Lanço as tarefas e peço sempre uma justificação! É raro aceitar uma resposta sem que o aluno me tenha de explicar muito bem qual foi o seu raciocínio, mas nem sempre consigo! Eles [os alunos] respondem, e eu lanço uma nova questão, às vezes oral, mas se já estamos no fim da aula, ficam com a procura de resposta como trabalho de casa…questões mais ou menos complicadas, para eles pensarem! (E1J) José retoma a importância das tarefas quando se refere ao trabalho desenvolvido pelos alunos. José salienta o desenvolvimento de uma “flexibilidade intelectual” (E1J), por parte dos alunos, para além da execução de algoritmos: A matemática deve, contemplar a oportunidade de os alunos se envolverem em momentos genuínos de atividade matemática, não é apenas repetição. É de sublinhar a importância de aproximar a atividade do aluno da atividade do matemático, como se fosse uma comunidade. Já ouvi isto nalgum sítio! Ou vi no programa? Mas, é uma realidade para mim…procuro sempre que o aluno aprofunde o porquê, e às vezes fico irritado quando os alunos apenas querem saber para repetir os exercícios e não ligam ao porquê. (E1J) Na aula, também, é fundamental a construção de um contexto comunicacional no par professor - aluno, favorável à aprendizagem, numa interação de cumplicidade, em que o aluno deve ter um papel ativo: A aprendizagem depende do professor e depende do aluno. Essa dualidade deve ser equilibrada no binómio ensino/aprendizagem. Se o aluno não estudar e o professor tiver dificuldades de interação com a turma, a aprendizagem torna-se difícil. É necessário haver comunicação, estarmos 138 atentos ao que os alunos dizem, mas eles [os alunos] também têm de fazer a parte deles: “pegar na cana e pescar”. (E1J) Ainda acerca da aula, José destaca um exemplo de uma aula de 10.º ano (2008/2009), em Geometria, sobre os referenciais cartesianos em que os alunos se envolveram bastante. Nessa aula, usou as tecnologias (GSP – The Geometer´s Sketchpad) como auxiliar para a representação de semiplanos em IR2 e os alunos mostraram-se bastante participativos. Esse exemplo serviu para que José mostrasse a importância do professor na criação de ambientes propícios à aprendizagem e à motivação: O papel do professor é ajudar os alunos, proporcionando-lhes tarefas e materiais que permitam o seu envolvimento e a sua participação dependem às vezes do fator novidade. Tudo bem! Dou-lhes, e também serve para descobrirem e aprofundarem situações novas. Algumas inesperadas para o professor e para o aluno. Mas se serviu para motivar, é mais fácil. (E1J) Segundo José, os professores podem usar diversas estratégias: “as TIC, os materiais manipuláveis, os problemas desafiantes, etc…” (E1J). Mas, na opinião de José nada disso parece resultar se os alunos não forem envolvidos nas tarefas escolares com os objetivos de aprender e obter bons resultados. Segundo ele, há em todas as turmas um grupo de alunos que apresentam uma atitude de desinteresse em relação àquilo que a escola tem para lhes oferecer. Esta situação verifica-se nos cursos de prosseguimento de estudos, nos cursos profissionais e nos cursos de educação e formação. Esses alunos perturbam o trabalho que o professor faz em aula e, por vezes, perturbam o empenho e a participação dos restantes alunos da turma: Até posso fazer o pino, se os alunos não quiserem aprender nada feito. Tenho visto isso. Há desses [alunos] em todas as turmas e em todos os agrupamentos, uns querem e outros não. Os [alunos] que não querem [aprender] acabam por perturbar o nosso trabalho e afetar a aprendizagem dos próprios colegas. (E1J) Mas, José apresenta-se angustiado por ter de incluir na aula aspetos exteriores à Matemática para que os alunos se envolvam e participem nas aulas com afinco. Se por um lado se sente satisfeito pelos alunos participarem e realizarem o trabalho que planificou, por outro lado considera que a motivação dos alunos através dos materiais manipuláveis e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) desvia o aluno daquilo que deve ser a sua aprendizagem da Matemática, em aula: 139 No meu tempo de aluno, aprendia matemática porque gostava, experimentava a resolução de exercícios, e se algo corria mal… experimentava outra forma de obter a solução… voltava a procurar, até conseguir. Hoje, os alunos não apresentam essas características e são precisos os manipuláveis ou as TIC para motivar. Não concordo, assim os alunos aprendem a manipular os materiais mas desviam-se da aprendizagem da Matemática. (E1J) Revela que, às vezes, se sente um pouco frustrado com a reação dos alunos face ao trabalho que lhes propõe, em função do tempo que demorou a preparar a aula. Apresenta algumas razões que se prendem com a adequação da planificação às reações dos alunos na exploração da tarefa, em sala de aula, e as adaptações que faz para que os alunos se envolvam de forma mais eficaz: Temos tanto trabalho para que as coisas saiam direitinhas, e depois de um instante para o outro muda-se todo o percurso porque as expectativas de trabalho que tínhamos para os alunos não se concretizaram. É preciso reformular tudo, naquele instante… dá que pensar. (E1J) Segundo José, uma aula resulta quando os alunos revelam estar atentos e evidenciam uma ampliação de saberes. Consegue certificar-se disso quando os alunos questionam com pertinência, interrogam, e tomam a iniciativa de querer aprofundar mais os conhecimentos adquiridos: Para mim a aula resultou, quando prendo a atenção dos alunos, mesmo aquele aluno indisciplinado. Às vezes, o diálogo entre professor - aluno é fundamental para despertar o interesse e a iniciativa do aluno. A ação do aluno, auto questionar-se é até mais importante do que o aluno dominar os exercícios, sem os saber aplicar a situações novas. As ideias e as dicas que o professor fornece são fundamentais para esse progresso dos alunos. Posteriormente, é o aluno que questiona e procura saber mais. Aí, sim, fico satisfeito, a minha aula resultou. (E1J) Avaliação. José afirma equacionar a avaliação em simultâneo com a planificação. Refere a pretensão de incluir o trabalho dos alunos em aula, através da observação, através da forma como os alunos exploram as tarefas, para além da avaliação final realizada através dos testes e das fichas (designada, por ele, avaliação sumativa), apresentando alguns dilemas a esse respeito: Às vezes acho que da minha observação na aula consigo avaliar os alunos, dizer quem sabe fazer o quê. É no dia-a-dia que procuro observar quem sabe fazer ou não as equações, e os outros conhecimentos, vejo também o envolvimento, etc… etc… e quem apresenta as atitudes, empenho, participação, etc.. Mas, isso é que conta verdadeiramente? Umas vezes 140 sim, outras não. Nos testes de avaliação sumativa, que são apenas uma súmula de conhecimentos, todos confiam. (E1J) José distingue avaliação de classificação. Considera a avaliação como sendo a observação realizada em sala de aula, com impacto nas decisões que toma na seleção das tarefas que propõe, e a classificação como o resultado de uma súmula de várias classificações, resultantes de recolha de informação obtida a partir dos instrumentos definidos nos critérios de avaliação de escola: Classificar, para mim, é uma tarefa um pouco trabalhosa e muito complicada. Por mais criterioso que procure ser, tenho sempre a sensação que nem sempre sou justo. Classificar é atribuir um nível tendo em conta todos os pontos dos critérios de classificação definidos pela escola para a Matemática, nem sempre é possível concretizar essa observação como desejaria e atribuir os correspondentes níveis. (E1J) José revela incómodo relativamente à atribuição de classificações de final de período. Considera ser impossível classificar corretamente um aluno em todos os pontos em que ele mostra desempenho, e isso causa-lhe algumas dificuldades no apuramento da classificação do final de período: A avaliação, pela observação nas aulas, ajuda-me a tomar decisões e a organizar as tarefas que proponho mas não ajuda a apurar a classificação do final de período. (E1J) José acrescenta aspetos de justiça para justificar a sua angústia relativamente à atribuição de classificações face aos dados que recolhe. Reconhece os testes escritos como úteis, embora refira que há outra informação que deve ser recolhida e que não é passível de apuramento através dos testes escritos. Termina a valorizar a vertente da observação na aula, como um instrumento de recolha de informação para a avaliação: Os testes apenas dão informação sobre os conhecimentos, mas os critérios incluem outros aspetos. Nem sempre tenho informação suficiente para classificar. A sensação de que o aluno sabe mais, confirmo-a pelo que observo nas aulas, e na parte escrita às vezes não o demonstra, é essa a minha angústia, por uma verdadeira avaliação, mas nada disso é suficiente. (E1J) José destacou, ainda, a avaliação das aprendizagens dos alunos como uma forma de a escola garantir a qualidade do sistema educativo, mas não se referiu explicitamente à inclusão da avaliação no dia-a-dia da sala de aula, nem aos instrumentos que permitiriam a recolha dessa informação: 141 A avaliação pode, também, fornecer informação sobre o desempenho da escola. É a avaliação dos rankings de escolas. Aí é de outra natureza. (E1J) Quando lhe foi solicitada a seleção de quatro palavras de um conjunto de dez (anexo 02), José destaca aprendizagem, feedback, motivação e competência. A razão apontada prende-se com a valorização da aprendizagem: “se um aluno for competente e se tiver o feedback adequado, nas aulas, isso pode originar uma grande motivação e, como consequência, torna-se num bom aluno a Matemática, isto é promove-se a aprendizagem” (E1J). Ao nível do significado atribuído a cada um dos conceitos (avaliação, ensino, feedback, motivação e sucesso), José refere a importância da recolha de dados sobre a participação e interesse do aluno, a transmissão do conhecimento e a orientação do aluno na construção da sua própria aprendizagem como a harmonização da avaliação, ensino e aprendizagem: Avaliação, um processo complexo que pressupõe a necessidade de recolher informação em diferentes momentos e suportes, tendo em vista a melhoria das aprendizagens dos alunos; Ensino, a transmissão de conhecimentos; Feedback, o reorientar ou estimular, em uma ou mais ações; Motivação, a persistência do esforço para atingir um objetivo; Sucesso, o número de alunos que atingem níveis positivos. (E1J) Ao relacionar os significados de competência, interação e regulação, refere a abrangência do termo competência, a negociação comunicacional que o professor deve alimentar constantemente e o redireccionamento, ou adaptação, que o professor faz do processo de ensino: Competência, o conhecimento para além do baseado na memorização de conteúdos abstratos e fora de contexto. É necessário que os alunos aprendam para que serve o conhecimento, quando e como aplicá-lo; Interação, a negociação de significados e expectativas para comunicar; Regulação, o ato que contribui para o redireccionamento da aprendizagem com o objetivo de atingir uma meta; É possível identificar uma experiência de ensino ligada à transmissão de conhecimento e a definição de sucesso como tendo um caráter estatístico, eminentemente quantitativo. Se, por um lado, José perspetiva a competência como uma demonstração em ação, ser competente implica saber-fazer, por outro lado, José demonstra abertura para negociar com os alunos a concretização do processo de ensino 142 e apresenta-se disposto a redirecionar, ou redefinir, o processo ensino aprendizagem assim que deteta dificuldades e/ou erros. José acrescenta, ainda, as interações aluno-aluno e professor-aluno por serem uma mais-valia para a avaliação, principalmente aquando da exploração de tarefas não rotineiras. Num registo associado à avaliação formativa, refere que a resposta a cada aluno, nessas tarefas, deve esclarecer as dúvidas e apoiar as descobertas: Quando se fazem as aulas expositivas, as tradicionais, é desperdiçar a importância do professor no colocar de questões, nas interações que pode promover, encorajando os alunos a partilhar, no trabalho de grupo, a discutir, entre eles ou com o professor, e a explicar a Matemática que desenvolvem, dar a cada aluno o que ele precisa, às vezes no mínimo, e incentivá-los é mais rico para cada aluno, per si. É uma avaliação informal, mas igualmente importante para o aluno, esclarece dúvidas e apoia a concretização do seu trabalho. (E1J) Para finalizar, José retoma o balanço entre a planificação e a concretização como um fator a ter em conta, uma vez que tem dificuldade em avaliar o estado das aprendizagens dos alunos em alguns tópicos. Para ultrapassar esta dificuldade, propôs o envolvimento dos alunos na avaliação das suas próprias aprendizagens e no estabelecimento de comparações entre o planificado e o concretizado: Cada um [aluno] diz o que fez, como fez, e o que concluiu, e para isso ser concretizado é necessária a participação e envolvimento do aluno. Pode ser uma forma de atingir dois objetivos: manter o aluno envolvido na aprendizagem e avaliar o desenvolvimento do processo de ensino planificado pelo professor e pelo aluno. Até que ponto o professor atinge os seus objetivos? (E1J) Práticas avaliativas Nesta parte destaco as práticas avaliativas com o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática desenvolvidas no âmbito deste estudo. José esteve envolvido na conceção e definição das duas práticas aqui relatadas, interação professor – alunos na aula (IP-A) e relatório escrito em duas fases (RE). A interação professor – alunos diferencia-se pelo questionamento do professor em sala de aula, enquanto o relatório escrito em duas fases distingue-se pelo feedback escrito dado ao primeiro produto resultante do trabalho escrito dos alunos. 143 Cada uma das duas práticas avaliativas é apresentada tendo em conta três momentos distintos: antes da aula, durante a aula e depois da aula. No primeiro momento incluo o trabalho relativo à planificação, no segundo a concretização e no terceiro, e último, a reflexão. O primeiro e terceiro momentos aconteceram nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, com a minha presença e a dos dois professores – casos. O segundo ocorreu na sala de aula do professor – caso, José, com a minha presença, e com o envolvimento da turma designada por turma P. A interação professor - alunos na aula (IP-A) A interação professor – alunos na aula (IP-A) de José foi observada em cinco tarefas, o que corresponde a dez aulas. Antes da aula José mostrou-se sempre muito participativo e colaborante nas sessões de trabalho de natureza colaborativa que incluíram a definição e planificação das práticas avaliativas, com o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática e a seleção e adaptação de tarefas a propor aos alunos, em aula. Intervenção avaliativa do professor. A prática avaliativa foi definida e planificada, no seio do grupo de trabalho colaborativo, para a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática, pelos alunos. Inicialmente, partimos das dificuldades apresentadas pelos alunos em 2008/2009. Segundo José as mais relevantes prendiam-se com a comunicação escrita e oral e a compreensão do conteúdo matemático: Apesar de dominarem algumas técnicas de resolução, não articulam o conteúdo matemático para compreender o que têm para fazer. Os alunos leem e não percebem. Vejo isso muitas vezes, não sei como fazer para os ajudar. Treinar? É um problema de comunicação oral e escrita, mas na forma escrita talvez seja mais difícil ajudá-los, talvez o possa fazer através do questionamento. (José, STC8) Apesar de José se referir ao questionamento na sala de aula, por decisão do grupo a prática avaliativa foi denominada interação professor – alunos na aula (IP-A) por não ser caracterizada simplesmente pelo colocar de questões. Embora o questionamento seja predominante, por sugestão dos professores – casos, nem sempre essa ação se resume ao ato de perguntar. Para incluir as diferentes ações, quer interrogativas, quer afirmativas, de cada um dos professores na sala de aula, entendeu-se que a prática avaliativa seria denominada por IP-A. 144 José, numa das sessões de trabalho colaborativo, teceu algumas considerações sobre a sua interpretação do que seria essa prática. Segundo José, talvez influenciado pelo texto de Hodgen (2007), as perguntas, os estímulos e as orientações dadas, podem ser, a priori, as grandes virtudes de IP-A, se forem oportunas e aumentem a confiança do aluno na construção do seu conhecimento matemático: No meu relacionamento com eles [os alunos] sinto as dificuldades e os obstáculos, mas como ajudá-los? A essa questão poderei responder, através da interação. Perguntando, estimulando, dando pistas concretas e a cada um individualmente. O que o texto [Hodgen (2007)] diz dar mais espaço ao aluno. Para mim, é ajudar de forma subtil. Para que fique confiante em si para concretizações futuras. (José, STC12) Outro aspeto que caracteriza esta prática é a necessidade de evitar corrigir os erros. Este aspeto foi associado a adaptação do método IMPROVE (Kramarski, B.; Mevarech, Z.; e Arami, M., 2002), durante a preparação de cada uma das tarefas implementadas. José refere, nesse enquadramento, a planificação, a seleção das tarefas e o apoio a dar aos alunos em cada uma delas, evitando corrigir o erros e dar demasiadas orientações para a concretização: Na seleção das tarefas tive em conta o método IMPROVE, parece-me muito interessante para planificar e definir claramente como ajudar os alunos em cada uma das tarefas, sem corrigir os erros ou dar pistas demasiado orientadoras. Sei que tenho de dar espaço aos alunos. Ver os vários aspetos planificados, pode-se equacionar pistas a dar e caminhos a seguir. (José, STC12) Na procura de encontrar a atitude a adotar pelo professor na sala de aula foi essencial o texto de Santos (2002), onde se relata uma contribuição para os alunos passarem autonomamente a formular questões para si mesmos, enquanto desenvolvem as tarefas. Algumas dessas questões foram adotadas pelo José e foram referidas como exemplificadoras do que poderia ser a sua atitude em sala de aula: Já me estou a ver. Digo: “O que fizeste?”, “Por que tomaste esta opção?”, “Por que pensaste assim?”, “Donde te surgiu esta ideia?”, “Em que outras situações é que este processo se poderia aplicar?” ou “Se quisesses convencer alguém de que isto é verdade, o que dirias?”, e espero a reação. (José, STC12) Nesta perspetiva, José realça o predomínio do questionamento, em que se remetem os alunos para as suas próprias produções ou para o texto das tarefas 145 propostas, sem corrigir os erros ou dar demasiadas orientações, não sendo excluídas outras ações do professor, como o apelo à partilha e à discussão, em pares ou em grupo, do trabalho realizado. Seleção da tarefa. Apesar de nem todas as tarefas terem sido aplicadas por José, em sala de aula, a seleção e definição do modo de aplicação foram definidos nas sessões de trabalho de natureza colaborativa com a participação dos dois professores – casos. José não aplicou em sala de aula a tarefa Triângulos (T1, anexo 05), a tarefa A Maria vai sempre de carro (T6, anexo 10) e a tarefa Nódoa circular (T8, Anexo 12). A tarefa T8 não foi aplicada por José porque é uma tarefa com conteúdos específicos de Matemática A – foi uma proposta de Maria. Relativamente às tarefas T1 e T6, os motivos prendem-se com o grau de dificuldade da tarefa ou com a desarticulação entre o que era preconizado por José para o processo ensino aprendizagem e o conteúdo da tarefa. T1, a primeira tarefa a ser discutida nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, foi sugerida por mim e aparece na sequência do tema matemático que estava a ser tratado no momento em que ocorreu a recolha de dados: trigonometria em triângulos retângulos – 11.º ano. José considerou a tarefa demasiado complicada para ser proposta aos alunos da turma P: Os meus alunos têm muitas limitações ao nível do cálculo. Eles não vão conseguir fazer a 1., isso pode comprometer o resto do seu percurso neste módulo. É difícil, e não posso complicar muito, senão perco-os já. (STC10) José referiu a necessidade dos alunos conhecerem as fórmulas fundamentais da trigonometria para conseguirem dar resposta às questões colocadas, à necessidade de as aplicarem corretamente, e ao tempo que teria de despender para a sua concretização: Têm de aplicar várias fórmulas, e isso, também, envolve muitos cálculos. Acho que eles [os alunos] se vão perder. Não é por mim. É para os próprios alunos, eles ficam desmotivados ao ver que aquele trabalho é inglório. E o tempo. Sim, o tempo, é que … isto leva muito tempo! (STC10) Para além das questões de concretização, José referiu, ainda, que se um aluno não conseguisse avançar na concretização da tarefa não saberia como o ajudar: O que lhes faço quando se enganam nos cálculos? Corrijo? Não sei mesmo! Ajudar numa estratégia, estou a ver como fazer, mas em erros de cálculo não sei. (STC10) 146 No caso do item 2., José mostrava-se mais confiante quanto à sua execução, explicando que sabe como fazer se os alunos errarem e enuncia os critérios que definira, implicitamente, para a correção da tarefa: A 2. eu sei como avaliar. Posso dar pistas. E corrigir. Escrevem as razões trigonométricas e enganam-se, ou trocam o valor do cateto oposto com o do cateto adjacente, isso não faz mal….chamo à atenção e as coisas entram no trilho. Mas a 1., desconfio bastante…só vejo um caminho…as fórmulas trigonométricas e isso complica-me a ajuda a dar a eles [os alunos]. E não me parece que esteja a motivá-los para o nosso objetivo. (STC10) Resultam, daqui, dois aspetos significativos para José, a preocupação em manter os alunos motivados, foi referida mais de uma vez a ideia de não perder os alunos, e não saber como agir face a alguns erros, em particular os erros de cálculo. Na tarefa T6, tarefa proposta por Maria, procurava-se descrever o modelo matemático da duração de uma viagem, no percurso de uma aluna até à escola, mas José considera que seria difícil identificar a matemática relacionada com a tarefa (Funções), não se enquadrava no âmbito da exploração que tinha por hábito realizar com a turma P, em sala de aula, e os alunos poderiam não compreender o enunciado: Nem parece Matemática! Eu nas aulas sou mais direto. Geralmente, pergunto: determine, calcule, …, e não passo daí. Percebo que queiram ir mais além, mas eu não posso. Não posso exigir muito deles [os alunos], não lhes vou dar tudo, mas tenho de ser direto até os ganhar para o meu lado. (STC20) Para além disso, considerou ainda que seria difícil definir como avaliar os produtos dos alunos, bem como ter uma intervenção avaliativa de natureza reguladora: Vou avaliar o quê? A substituição dos valores de t? E quando ajudar os alunos, digo os cálculos que têm de fazer. Se eu ajudar, a tarefa perde sentido. (STC21) No entanto, José salientou que o item 2. da tarefa T6 é um bom problema para promover a utilização da calculadora gráfica associada à comunicação, em Funções, uma vez que esse item apela à explicação da fórmula e à utilização da calculadora gráfica: Para recolher a forma como eles [os alunos] comunicam é a tarefa ideal. Mas, poderei fazer uma deste tipo no final do 2.º período. Agora, eles ainda não estão treinados, nem para escrever, nem para a calculadora. Apenas comecei as funções há meia dúzia de dias. (STC21) 147 Considera que a T6 pode ser uma tarefa a propor, em particular o item 2., mas ainda tem de desenvolver algumas capacidades nos alunos, “até os ganhar para o meu lado”. Relativamente às tarefas aplicadas em sala de aula por José, a tarefa Eratóstenes (T2, anexo 06), a tarefa Circulo trigonométrico (T4, anexo 08) e a tarefa Escrever no computador (T7, anexo 11) foram propostas por José, a tarefa Periélio (Terra) (T3, anexo 07) foi sugerida por Maria e a tarefa Cone (T5, anexo 09) foi indicada por mim. A T7 surgiu a partir da divergência entre os conteúdos a lecionar na turma P e na turma A. José lecionava, nesse momento, o módulo de funções exponenciais e logaritmos enquanto Maria lecionava funções racionais. A tarefa T7 foi realizada apenas na turma P, demorou três aulas, onde se incluíram a discussão dos descritores de avaliação e a redação de composições pelos alunos. A T2, proposta por José, foi a primeira a ser realizada pelos alunos da turma P. Segundo José, trata-se de um problema matemático que envolve trigonometria e é de resolução acessível, onde os alunos podiam estabelecer ligações com os seus saberes para focalizar a atenção. Mas, no seio do grupo de trabalho de natureza colaborativa, ao usar a adaptação do método IMPROVE, esta tarefa foi considerada como contendo três exercícios, itens 1., 2. e 3., uma composição, item 4., e um problema, o item 5., revelando, também, a preocupação de José com o processo e a estratégia para obter a resposta: Acho que concordo. O item 1. é um exercício porque já fizeram um parecido em aula, o item 2. e o item 3. são semelhantes e são dois “determine” acessíveis, é só substituir. Quanto ao item 4. e item 5. são de natureza diferente, o 4. não fiz isso ainda este ano letivo, mas no passado já foi feito, o 5. envolve uma boa compreensão do enunciado... espero que o façam. (STC13) No que diz respeito a T3, sugerida por Maria após a realização da tarefa T2, o grupo de trabalho de natureza colaborativa considerou que apresentava em si três problemas, correspondentes aos itens a), b1) e b2). Para José essa classificação não suscitou objeção porque o que se pede em cada um dos itens está completamente explícito: Quer no a) e no b2) temos o “determine”, quer na b2) temos o “mostre que”, estes são comandos que os alunos compreendem e para os quais chamo a atenção diariamente. Parece-me que eles [os alunos] não terão problemas em perceber o que é esperado que façam, mas tenho de ajudálos no mostre que…é difícil. (STC13) 148 Contudo, a classificação das tarefas nem sempre foi consensual. José apesar de não valorizar os aspetos que se relacionam com a comunicação matemática, destacou, em particular, os comandos a usar para efetuar as questões. Para ele, a não habituação do aluno à forma de questionar pode inviabilizar o investimento que o aluno faz na procura de solução para o problema. A existência de “determine”, familiar ao aluno, é uma evidência, para José, de que se está perante um problema, para o qual é necessário mobilizar algumas estratégias. Essa evidência, segundo José, deve ser discutida com os alunos para que se apropriem dela: Digo-lhes, “resolva” é diferente de “determine”. Apresento-lhes várias questões, umas com “resolva” e outras com “determine” e analisamos [professor e alunos] os processos usados para chegar aos resultados e a partir daí cada um [o aluno] tira as suas conclusões. (STC13). Outro aspeto referido foi a necessidade dos alunos poderem estabelecer relações entre o trabalho que têm para realizar e outro trabalho com que anteriormente tenham sido confrontados. José refere que se trata de uma mais-valia os alunos envolverem-se na tarefa através do estabelecimento de analogias com o que já fizeram: Eu posso ajudar, eles já fizeram problemas com triângulos retângulos, em que usam as razões trigonométricas. Talvez, não tenham usado o cosseno, mas nessa altura eu vou intervir e relembro-os sobre outro problema…mas primeiro, eles [os alunos], claro! (STC13) Esse objetivo, segundo José, também, poderia ser alcançado pela inclusão de sugestões de trabalho, que o grupo de trabalho de natureza colaborativa decidiu manter no enunciado da T2. Para José, a sugestão de trabalho e o facto dos itens 2. e 3. (da T2) serem muito semelhantes, e relativamente fáceis, podia ser uma importante ajuda para os alunos progredirem no trabalho: Eles poderão sentir alguns problemas com a linguagem, em particular os sete pontos com informação sobre a figura, ao incluirmos a sugestão, [os alunos] poderão ver o caminho que devem seguir… assim, poderão ir até ao item 3., é fácil! (STC13) José explicou que, com o item 4., pretendia levar os alunos a efetuarem a generalização da relação entre h e α , ou seja h aumenta quando α se aproxima de 90º. No entanto, o questionamento deveria ter em conta os trabalhos dos alunos, no momento da execução da tarefa, uma vez que poderiam aparecer várias estratégias de concretização, e a sua ação deveria ser adequada a cada grupo: 149 Não sei o que cada grupo vai fazer. Mas, aqueles que fizerem a comparação a partir dos valores particulares, 0º, 30º, 45º e 60º vou dizer para ordenarem. Talvez consigam identificar a relação. Nos grupos que apenas calculam o que está no item 3. e 4., terei de incentivar a procurar mais resultado. Direi: como podem generalizar com poucos valores? (STC13) Outro exemplo é a T4, proposta por José e aplicada aos alunos da sua turma. Segundo ele, estruturou a tarefa de forma a orientar os alunos no trabalho a realizar na componente analítica, e na vertente gráfica através da introdução da calculadora gráfica: Comecei por pedir o mostre que…já o fizeram antes. Depois, introduzi a calculadora gráfica para que possam sentir-se confiantes e entusiasmados a procurar as soluções das questões colocados. Com a calculadora exploram e sentem-se ocupados. (STC14) Intencionalmente, a T4 conciliava o recurso a dois tipos de representações e ao uso de um recurso tecnológico. Em particular, o trabalho analítico e o trabalho com a calculadora gráfica permitiram-lhe apoiar os alunos em ambos os modos de trabalhar em matemática. Esta opção procurava promover o envolvimento do aluno no trabalho matemático, com e sem calculadora. A tarefa T5, Cone, foi proposta por mim para efetuar a revisão dos conteúdos de geometria dos alunos de Matemática A, na turma A. Mas, José considerou que a tarefa era pertinente para que os alunos da turma P recordassem o estudo dos referenciais cartesianos do espaço, estudados no 10.º ano, e permitiria, também, a conexão dos conteúdos de geometria com os de trigonometria: Penso ser particularmente interessante a alínea c). Os alunos podem ligar a Geometria e a trigonometria, acho boa ideia. Eu vou fazer esta! Mas, tenho 150 de dar alguma ajuda aos alunos, nomeadamente nos conteúdos do 10.º ano, vetores, que já estão esquecidos, com certeza. (STC19) Apesar da opinião de José acerca da possibilidade dos alunos resolverem com sucesso os primeiros itens da tarefa T5, ele salientou que os alunos precisavam de assistência na resolução do item 4., a composição: Quando lhes peço para comparar resultados, eles [os alunos] não sabem o que devem fazer. Nesse momento terei de ajudar, talvez dizer que devem comparar o aumento do valor do ângulo, com o valor do h. (STC13) Método de trabalho. Para José os alunos encontravam-se normalmente organizados para trabalhar em grupo, nomeadamente, em díade, dado que poderia haver interação entre alunos, sem criar grande confusão na sala de aula: Aos pares, é o melhor método para mim e para eles também. Estão assim sentados na sala de aula, não implica alterações na sala e a ajuda do colega é sempre bem-vinda. (E1J) Esta forma de trabalho predominou nas tarefas propostas na turma P. Contudo, nem sempre usa este método de trabalho. A natureza da tarefa a propor aos alunos parece afetar a seleção do método de trabalho em sala de aula. É, por exemplo, o caso da redação de composições, ou de relatórios, em que José prefere o trabalho individual: Mas, quando têm de escrever quero um documento de cada aluno, individual, o que um pensa não é o mesmo que aquilo que outro pensa… e eu quero saber o que sabe cada um deles. (E1J) Na T2, José salientou que os alunos deveriam partilhar as dificuldades na resposta ao item 1, mas que os itens 2., 3. e 4. deveriam ser realizados individualmente: Os “mostre que” exigem que os alunos tenham algum desembaraço no uso das razões trigonométricas, e isso não é para todos… por isso, é bom que se [os alunos] apoiem mutuamente. Para a parte da comparação, acho melhor individual. Acho eu, pois cada um tem a sua forma de escrever e essa pode ser melhorada. (STC 12) Na planificação da T4, José repete o mesmo tipo de argumentos, embora se trate de um item “mostre que” e outro com recurso à calculadora gráfica. Os argumentos de José prendem-se com o facto de os alunos poderem melhorar as suas capacidades de comunicação matemática e de manipulação da calculadora gráfica através da redação de resposta individuais: Na primeira, devem apoiar-se uns aos outros. É um “mostre que” e isso pode inibir alguns alunos de continuarem. Mas, na segunda, a calculadora 151 gráfica deve ser manipulada por todos. Como saberei se a manipula corretamente, ou não, se fizerem esse trabalho em grupo? (STC 15) Os itens com calculadora gráfica, incluídos nas tarefas T3, T4 e T7, apelam a uma continuidade desse tipo de itens, para que os alunos se familiarizem, desenvolvam capacidades e regulem os seus desempenhos ao longo do tempo: Eles [os alunos] podem ver que a resposta a estes problemas de calculadora faz-se sempre da mesma forma. Penso que conseguem distinguir isso, e depois de trabalhar uns quantos meses com este tipo de questões não me parece que seja difícil responder. (STC 22) A procura de semelhanças entre os diferentes itens aparece de novo, como já foi referido ao nível da seleção. José refere que os alunos desenvolvem capacidades de resposta a alguns itens porque procuram as semelhanças e as diferenças entre as propostas com que são confrontados e as tarefas que desenvolveram, anteriormente: Ao fim de algum tempo, estas questões de calculadora estão completamente treinadas. Tornam-se vulgares, os alunos já sabem que têm de fazer sempre a mesma coisa…basta ler “calculadora” e os próprios já dizem interseção? Máximos? Zeros? (STC 21) Os aspetos apontados reforçam a opinião de José. Alguns itens das tarefas devem ser desenvolvidos individualmente porque é mais fácil ajudar o aluno a responder e regular a forma como ele responde: Uma composição em grupo é difícil de fazer, e o que fica escrito está na forma e na linguagem de quem a escreve…assim não sei a opinião dos outros elementos do grupo. Depois, que feedback posso eu dar? Se dou feedback ao grupo, isso vai ser entendido de forma diferente pelos vários elementos e há sempre um ou outro, a que aquilo que eu digo não serve de nada. Por isto, prefiro individual. (STC12) Esta afirmação foi feita a propósito da tarefa T2, mas a ajuda ao aluno pode vir do professor ou de outro aluno, geralmente o par mais próximo, por isso José insistiu na necessidade dos alunos trabalharem em grupo alguns itens de T3, T5 e T7: Por exemplo, podem trocar impressões sobre o item 1. e o item 2., acho, mas, mesmo com a minha ajuda os itens 2., 3. e 4. deviam ser feitos individualmente, pela ajuda que posso dar e pela identificação de erros e dificuldades que posso fazer a partir daí. (STC 12) José evitou a constituição de grupos de dimensão superior a três. Na sua opinião, relativamente à dimensão do grupo, quatro foi considerado demasiado grande, poderia ser um fator inibidor para o trabalho do aluno e para a compreensão que o professor 152 adquire desse trabalho. Na planificação das aulas, José defendeu o trabalho individual ou em díade, adiantando a possibilidade de constituir um ou outro grupo com três elementos: Gosto de chegar ao pé do grupo e perceber quem fez o quê. Com grupos grandes isso não é possível. Dois é o ideal, três às vezes e quatro são de mais. Nos grupos grandes há sempre uns que não fazem nada. (STC 10) Síntese. Para além da ancoragem das tarefas selecionadas a outras com que os alunos já se tivessem confrontado, José na fase de seleção de tarefas, referiu-se, também, à ajuda a dar ao aluno durante a concretização das tarefas. Para IP-A, José evidenciou, através da discussão acerca da aplicação das tarefas, a preocupação em manter os alunos motivados e acrescentou a necessidade de adequar as tarefas ao trabalho que desenvolve em sala de aula. O desenvolvimento de alguns itens individualmente foi referido como vantajoso para que os alunos aumentassem os seus níveis de sucesso em determinadas capacidades, nomeadamente a interpretação, a compreensão e a manipulação da calculadora gráfica. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as tarefas, os principais objetivos de aprendizagem e os respetivos métodos de trabalho. QUADRO 19: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM IP-A (JOSÉ) Tarefa Objetivo geral Método de trabalho T2 Aplicar as razões trigonométricas Díade T3 Resolver problemas Misto: individual e díade T4 Distinguir o procedimento analítico e o procedimento gráfico em Trigonometria Relacionar a Geometria e a Trigonometria Individual T5 T7 Desenvolver a capacidade de compreensão e interpretação Misto: individual e díade Misto: individual e díade Durante a aula A análise da interação professor - alunos na aula (IP-A) é feita a partir dos momentos em que José interagiu com os alunos, onde se inclui o questionamento. Incluo episódios da interação de José com um aluno, ou um grupo de alunos, ou toda a turma, consoante o momento da aula em que ocorreram. Autorregulação da resposta Compromisso com as tarefas matemáticas. A tarefa Eratóstenes (T2) foi desenvolvida em duas aulas. Na primeira aula, a exploração da tarefa pelos alunos e, na 153 segunda, a discussão em grande grupo/turma do trabalho realizado. Na exploração, a pares, os alunos registaram as conclusões obtidas no caderno diário, com o objetivo de no final terem dados para partilhar e discutir com toda a turma, e por ser fácil consultar se fosse necessário usar os resultados obtidos noutras tarefas. Após a entrega da proposta de trabalho em fotocópia, José circulou pela sala de aula, e interagiu com os alunos. Nesse momento inicial, José remeteu os alunos para o texto da tarefa (fala 1), valorizando o que estava escrito na proposta de trabalho para a compreensão do que é solicitado (fala 3): 1. José: Lê de novo. Deves avançar depois de compreender muito bem a figura e o que é dito sobre ela. 2. Davide: Mas, basta olhar para a figura e compreende-se. 3. José: A informação é importante, pode fazer falta na resolução. (A1J) Na tarefa T3, inicialmente, quase todos os alunos compreenderam o enunciado e também não tiveram dificuldade em compreender a relação entre a distância d, da Terra ao Sol, e o ângulo x . Na concretização do item a), o par Alexandre e Davide questionou José sobre a indicação “Sem recorrer à calculadora” (falas 1 e 2) e José remete, novamente, os alunos para o texto da proposta de trabalho (fala 3): 1. Davide: Professor? Como podemos saber o valor do cosseno, sem recorrer à calculadora? 2. Alexandre: E o resto das contas 149,6 a multiplicar… 3. José: Calma! Leiam até ao fim…vejam “a não ser para efetuar…”, veem? 4. Davide: Ok! Professor. (A3J) Mas, enquanto circulava pela sala, apoiando os alunos, José detetou que o par Magda e Rute não estava a interpretar corretamente o valor de x . As duas alunas não reparavam que o ângulo x começa a contar a partir da linha do Periélio e substituíam o x por π para obter o valor mínimo de d, trocando o x por 2π para obter o valor máximo de d. José interferiu (fala 1) de forma que as alunas não se afastassem do solicitado na proposta de trabalho e interpelou-as, respondendo à questão colocada (fala 5), para encaminhá-las (fala 8) de novo para o problema, de modo a ultrapassarem a dificuldade: 1. José: Algum problema? 2. Magda: Não! 3. Rute: A distância máxima é menor do que a distância mínima, mas em Matemática tudo é possível! 4. Magda: Isto está certo? Não está, stor? 5. José: Não me parece que a Rute tenha razão! 154 6. Magda: Mas, eu já verifiquei as contas e estão todas bem! 7. Rute: Já sei. Tens a calculadora em radian e deveria estar em degre. 8. José: Isso tem de fazer sentido. Vejam o problema de novo. (A3J) José remeteu as alunas para a (re)leitura do enunciado, assumindo o compromisso de as (re)colocar em confronto com a tarefa proposta, mas a dificuldade delas estava na origem do referencial cartesiano, no Periélio o ângulo era π . O impasse manteve-se e José teve de reforçar o seu apoio para que as alunas progredissem, assinalando o erro que estavam a cometer (fala 3). Essa intervenção foi no sentido de orientar as alunas para a proposta de trabalho (fala 7): 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. José: Já repararam na figura? Rute: Sim. José: O ângulo x começa no Periélio! Magda: Logo, aí é zero…ok, já percebi. Rute: Espera, espera….deste lado é o π . Magda: Não temos referencial e vê a abertura, começa no Periélio! José: Agora vejam de novo o máximo e o mínimo. (A3J) A tarefa Cone (T5) de Geometria foi efetuada a pares. Os conteúdos tratados na tarefa não fazem parte do módulo Trigonometria da turma P, mas José entendeu que a mesma seria pertinente por permitir recordar conteúdos do 10.º ano e por permitir aplicar a trigonometria, estabelecendo a conexão entre os temas Geometria e Trigonometria. T5 foi entregue em papel e alguns alunos ao verem a figura do cone, num referencial tridimensional, ficaram um pouco assustados e comentaram a dificuldade da tarefa antes da leitura do enunciado (fala 1). José reagiu e remeteu-os para a leitura do enunciado, desdramatizando as primeiras impressões (fala2): 1. Alexandre: Professor? Esta é muito difícil… 2. José: Nada disso, lê e falamos depois… 3. Alexandre: Estas figuras do ano passado são complicadas! (A7J) Alexandre referia-se aos referenciais tridimensionais e à utilização de coordenadas de pontos no espaço para situar um objeto e para o caracterizar do ponto de vista matemático (fala 4). O aluno invocou a não lembrança de matérias relacionadas com a temática da Geometria (fala 4) e José, não valoriza esse facto, remete-o para a proposta de trabalho (fala 5), no entanto responde à dúvida com a resposta correta (fala 7), recordando o significado de um conceito matemático: 4. Alexandre: São aquelas equações com os pontos no espaço. Já não me recordo. 5. José: Vamos ler e depois eu ajudo. 155 6. Alexandre: O que é um cone de revolução? 7. José: É um cone. (A7J) A resolução do item c) da T5 revelou-se muito complicada para os alunos. José começou por dar aos alunos a fórmula para determinar o ângulo entre dois vetores, cos α = u•v u × v , e para a concretizar pediu-lhes para determinarem os vetores VB e VD , e as respetivas normas. No começo, os alunos não perceberam a relação da fórmula do ângulo de dois vetores com o valor de sen α pedido no enunciado da tarefa (fala 1). Como a primeira se apresenta com o cosseno e a segunda com o seno, José não dá importância à interjeição da aluna, dando orientações concretas sobre o que devem fazer para responder ao item (fala 4). Depois desta confusão, José acabou por resolver a questão e explicar a relação entre as duas razões trigonométricas (fala 7). Os alunos manifestaram a preocupação de as fórmulas apresentadas virem a ser exigidas em outras tarefas (fala 9), no futuro. Apesar das dificuldades na concretização da tarefa, José leva-a até ao fim através da ligação entre o que é perguntado, em compromisso com a tarefa matemática proposta, e o trabalho que os alunos praticavam: 1. Magda: O stor enganou-se! Ali é cos e o prof pede seno. 2. José: Não é engano, é mesmo assim. 3. Magda: Mas, como podemos chegar ao seno se aquela dá-nos o cos. 4. José: Calculem lá o cosseno de α , depois vamos ver! (…) 5. Magda: Já está! 6. Rute: As contas estão bem, prof? 7. José: Acho que sim. Já têm o valor de cosseno de α , podem calcular o seno de α com a fórmula fundamental da trigonometria que vos dei. 8. Rute: Temos de saber estas fórmulas? 9. Magda: Quando precisarmos, o prof dá-nos? 10. José: Têm de saber usá-las, mas não decorá-las. 11. Magda: É sen 2α + cos 2 α = 1 ? 12. José: Sim. (A7J) A tarefa Escrever no computador (T7) faz parte do módulo Funções exponenciais e logarítmicas. Quando José propôs esta tarefa, os alunos já haviam contactado com a revisão das propriedades das potências, do produto e do quociente, conhecimentos suficientes para responder ao solicitado. José entregou a tarefa em papel e indicou aos alunos que trabalhassem a pares. A primeira reação dos alunos à T7 foi muito favorável. Os alunos leram o enunciado e manifestaram uma reação positiva (fala 1), evidenciando 156 confiança em serem capazes de responder à tarefa sem ajuda (fala 2). Mas, José manteve-se descomprometido com a reação dos alunos e remeteu-os para a proposta de trabalho (fala 3): 1. Alexandre: Professor! Esta tá fácil! 2. Davide: É uma de calculadora, e simples. Eu já sei como se faz! 3. José: É? Então comecem. (A8J) As alunas evidenciaram também expectativas idênticas para a concretização da tarefa (fala 1). T7 era a primeira tarefa do módulo Funções exponenciais e logarítmicas a realizar com calculadora gráfica. Este aspeto pode ajudar a explicar a questão de José relativamente às expectativas de concretização da tarefa pelos alunos (fala 2): 1. 2. 3. 4. 5. Rute: É para fazer como as outras da calculadora, não é? Stor? José: Porque perguntas? Rute: Eu sei que é, mas só queria confirmar. Magda: Eu também li, é do mesmo tipo e sei fazer. Podemos fazer? José: Podem. (A8J) Ao lerem a T7, para a resolverem, surgiram complicações com a interpretação da expressão “… que, em média, conseguia escrever por minuto, …” (falas 1 e 2). José apela à articulação de ideias próprias por parte dos alunos (fala 3) e, como as dúvidas persistem (falas 4, 5 e 6), sugere a releitura da proposta de trabalho (fala 7): 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Magda: Stor? diz palavras por minuto, em média? Rute: Mas as 800 são 20 minutos, é colocar no t o 800 ou o 20? José: Essa é a parte que vocês devem fazer. Rute: Eu sei que devemos substituir o t, mas por 800 ou por 20? Magda: Só pode ser 20, é tempo! Rute: Acho que não. Quantos dias é o t e é isso que perguntam. José: Voltem a ler. (A8J) O facto de José remeter as alunas para o enunciado da tarefa, impulsionou-as numa nova tentativa de resolver a questão (fala 1) e proporcionou, de novo, a discussão entre as duas alunas acerca da expressão “… que, em média, conseguia escrever por minuto, …”: 1. Magda: Na calculadora temos de colocar duas coisas, o Y1 e o Y2, e uma delas é a expressão. 2. Rute: Pois, mas aqui, a pergunta, é quantos dias. Acho que queremos saber o t. 3. Magda: Então o Y2 é n palavras. 4. Rute: Há duas coisas a fazer confusão, em média? E 800 palavras em 20 minutos? 5. Magda: Sei como se faz, mas não sei que valores pôr. Mas, vamos conseguir. (A8J) 157 Estímulo às estratégias individuais. Na T2, os alunos tiveram dificuldades em selecionar os dados para resolver o exercício. José apoiou essa seleção e ajudou-os na concretização de uma estratégia de resolução, mas apenas confirmando as afirmações corretas dos alunos (falas 4 e 19) ou orientando-os para a análise da figura da proposta e encaminhando-os a partir das estratégias entretanto definidas por cada par de alunos (falas 8 e 13): 1. Davide: Professor? A altitude é em quilómetros e o R em metros, é mesmo assim? 2. José: Porque fazes essa pergunta? 3. Davide: Porque deveriam estar na mesma unidade, para somar. Precisamos do BC, não? 4. José: O que dizes é verdade, mas também deves pensar para que faz falta o comprimento [BC]? 5. Alexandre: Estou a pensar no que temos feito nas últimas aulas e só me ocorre a trigonometria. Desenhamos um triângulo e depois… 6. José: Trigonometria, é muito vago. 7. Alexandre [enquanto pesquisa no caderno]: Tenho aqui os triângulos e esta figura também tem um triângulo. 8. José: Isso é pouco. Leiam o problema novamente, façam uma figura e depois… pensem e relacionem os comprimentos! (A1J) (…) 9. Davide: Professor? Já sabemos, são as razões trigonométricas, seno, coseno e tangente. 10. José: E vão usar as três? 11. Alexandre: Não, não! Vamos ver… aqui o triângulo precisa do cateto oposto, AB. 12. Davide: Nada disso! O AB são serve de nada, a pergunta é o h. 13. José: Analisem melhor. Onde está o h? 14. Alexandre: Na hipotenusa … mas, também, temos o R na hipotenusa. 15. Davide: Podemos escrever uma equação e depois é fácil. 16. José: Escrevam, e depois discutimos. (…) 17. Davide: Professor? Vamos fazer com o cosseno! 18. Alexandre: Temos o cateto adjacente e temos a hipotenusa, isso dá para o cosseno. E depois encontramos o valor de h, pode ser? 19. José: Pode ser, há vários caminhos… esse é o vosso. Prossigam. (A1J) Ainda na T2, depois de os alunos encontrarem os resultados pedidos, houve dificuldades na sua comparação. Os alunos apresentaram alguma hesitação na forma e no sentido dado à expressão “compara os resultados obtidos” (falas 1, 7 e 15). José deu pistas aos alunos para progredirem no processo de comparação que tinham traçado (falas 2, 4, 6, 8 e 14), colocando questões (falas 2, 10, 12 e 16): 158 1. 2. 3. 4. 5. 6. Davide: Professor? Comparar os resultados como? José: Já efetuaram os cálculos? Que podem concluir? Davide: Este é maior que aquele! José: Sim, claro que o valor é maior, mas relacione isso com a figura. Alexandre: A altitude é maior aqui. Mas, não sei que dizer mais… José: Devem tentar escrever uma conclusão geral… uma informação que sirva para um ângulo qualquer. 7. Davide: Ângulo qualquer? Devemos calcular para outros valores? 8. José: Se precisarem, sim…devem é olhar também para os resultados. 9. Alexandre: Eu sei que o h de 60º é maior que o h de 45º, e daí? 10. José: E se fosse 30º? 11. Alexandre: Pois…temos de fazer? 12. José: E se fosse 20º? 13. Davide: Isso deve ter uma propriedade, senão o professor não dizia isso! 14. José: Vejam…calculem… (…) 15. Davide: Professor? Ao diminuir o ângulo, a altitude também diminui. 16. José: Isso é verdade para todos? Como justificam? 17. Alexandre: Podemos calcular mais alguns…mas não é isso que o prof quer. 18. José: Pois não! 19. Alexandre: Já sei, vamos escrever e depois o professor vê! (A1J) A tarefa Periélio (Terra) (T3) foi desenvolvida em duas aulas e José apenas pediu que os alunos efetuassem o item b2) individualmente. Esta intervenção de José foi justificada pela sua necessidade de verificar o desempenho dos alunos em itens com calculadora gráfica: Quero saber se já dominam as resoluções gráficas com a calculadora gráfica. É importante para as funções [módulo seguinte]. As perguntas com calculadora, também, as fazem sempre individualmente. Geralmente, não envolvem discussão, e individualmente, sei que todos fizeram. (José, STC14) À semelhança do que sucedeu nos outros itens, José apoio os alunos na concretização da tarefa, circulando pela sala e questionando para os ajudar na procura de resposta. No item b2) da T3, os alunos identificaram que tinham de efetuar a contagem do número de dias que decorre desde a passagem da Terra pelo Periélio até ao dia 14 de fevereiro, mas essa contagem não foi fácil. Depois de identificar esta dificuldade dos alunos, José questionou-os (fala 1) e, em alguns casos, identificou o erro cometido pelos alunos na contagem através de uma questão fechada (fala 6): 1. Davide: Professor? são 40 dias! 2. José: Contaste bem? 3. Davide: De 4 a 14, são 30 mais 10. 159 4. 5. 6. 7. José: Mas, o dia 4 é de janeiro! Davide: janeiro. José: E o mês de janeiro tem 30 dias? Davide: Ah. Pois…então t=41 dias. (A3J) As raparigas tiveram exatamente a mesma dificuldade. Segundo o registo em áudio, deveu-se apenas a distrações relacionadas com pouca atenção na leitura de enunciados longos. José manteve o apoio à estratégia seguida pelas alunas, embora tenha orientado no sentido de lerem de novo a proposta de trabalho (fala 2). Mas, perante a persistência do erro das alunas no cálculo, José sugeriu uma forma muito concreta de contagem (fala 5 e fala 7): 1. Rute: Então professor, um mês tem 30 dias mais 10 de 4 a 14, são um total de 40 dias. 2. José: Vocês têm de ler as perguntas….veja novamente! 3. Rute: Desculpe, stor. Vou ver de novo. (…) 4. Rute: Stor, estou mesmo convencida que fazendo o t=40 vai dar, não é stor? 5. José: Conta os dias de 4 janeiro a 14 de fevereiro. 6. Rute: Sim t=40 e T=365,24, e calcula-se o x , na calculadora. 7. José: Conta: 1, 2, 3, etc… 8. Rute: Vou ver. (…) 9. Rute: Stor? 31 de janeiro, tinha esquecido de contá-lo também. Pronto, t=41. (A3J) O item b2), do qual José pretendia verificar o desempenho dos alunos, foi concretizado com a calculadora sem sobressaltos, depois de ultrapassada a dificuldade da contagem dos dias, embora tenha sido necessária a intervenção de José. Nesse item, José alertou para a necessidade de mudar a janela de visualização da calculadora e para a verificação do modo de medida da amplitude de um ângulo a usar na calculadora (radian ou degre). Foi uma ação de José para aumentar a capacidade de autorregulação dos alunos, em tarefas com calculadora gráfica, noutras ocasiões. A tarefa Círculo Trigonométrico (T4) foi desenvolvida em duas aulas e os alunos, também, trabalharam individualmente. No início da T4 houve alguma dificuldade em compreender o que era solicitado no item 1. A expressão “em função de α ” causou confusão em alguns alunos da turma. Em particular, os alunos observados também apresentaram as mesmas dificuldades de compreensão (fala 1). José estimulou os alunos, alertando para a diferença entre a verificação de alguns casos particulares e a 160 generalização de uma propriedade (fala 2) e dando-lhes uma pista para prosseguirem (fala 4): 1. 2. 3. 4. Alexandre: Mostre que, em função de α ? Isto é dar valores a α ? José: Assim, não. Assim, calculas alguns valores para a área. Alexandre: Vou precisar de ajuda. Não tou mesmo a ver! José: Escreve primeiro a fórmula da área da figura que pretendes calcular. 5. Alexandre: A área do triângulo? 6. José: Sim, e agora continua. (A5J) O Alexandre e outros alunos não conseguiram progredir. Com alguma dificuldade em apoiar todos os alunos, José decidiu responder, oralmente, através de uma explicação para toda a turma. Apesar de ser uma explicação geral, a opção de José resultava como consequência da diversidade de estratégias individuais, dos alunos. No quadro, José representou a figura, acompanhando-a com a seguinte explicação: José: Bem, vejam o que é que acontece. Se eventualmente, eu diminuir a amplitude do ângulo α . Reparem. Ora, eu tenho aqui o ponto A, o que é que vai acontecer? Quando eu diminuo, ou aumento, o ângulo? Estão a ver a ideia? Ou não? (A5J) José, sem orientar a resposta, com esta explicação ajudou os alunos a refletirem sobre a ineficácia das estratégias de substituição pontual. Para alguns alunos a explicação ao nível do levantamento de questões foi suficiente, mas para outros a dúvida manteve-se: Alexandre: Este é o ângulo alfa, que é igual a 60º, 30º e a 45º? [valores exatos usuais no 11.º ano] (A5J) Para esses alunos, José apoiando-os individualmente, acabou por explicar que para cada valor de α poderiam encontrar uma área diferente, mas o que deveriam procurar era a fórmula e não o valor, propriamente dito, da área do triângulo. De forma indireta, os alunos são orientados para a resposta. Mas a explicação de José não foi muito eficaz para alguns alunos. Também no item 2.1 da T4 os alunos solicitaram a José o esclarecimento de questões relacionadas com a forma de obtenção da resposta (com ou sem calculadora), e volta a responder de uma forma subtil sem que sejam dadas pistas para a resolução, mantendo em aberto as opções estratégicas dos alunos: 161 José: O que é que diz o enunciado? O que é que diz o enunciado? Reparem: recorra à calculadora …. Para α = a? Para α = b? E classifique o triângulo? (A5J) Magda apresentou dificuldades por entender que deveria desenhar um triângulo com α = 60º e a partir desse triângulo calcular a área (fala 1). Sem negar a estratégia da aluna, José desvalorizou o erro e questiona (fala 2) de modo a que encontre uma contradição nas suas estratégias individuais: 1. Magda: Já desenhei, mas não sei a altura nem a base! 2. José: Usa f( α )? 3. Magda: Fico na mesma, isso dá a área, não dá a base e a altura! (A5J) Esta aluna não associou de imediato a área a f( α ) e isso impedia-a de continuar uma vez que ela procurava calcular a área da mesma forma que tinha feito no item 1.: Magda: Na 1. fizemos com a trigonometria, no mostre que. José: Mas, isso já está feito não vale a pena repetir a mesma coisa. Magda: Mas, assim, não tenho a base e a altura. José: Não precisas da base e da altura para determinar a área, se tiveres outro método. O que significa o f( α )? (A5J) Perante a dificuldade de Magda, José teve uma ação orientadora de forma que a aluna pudesse progredir na resolução da tarefa, e ao mesmo tempo sugeriu que a aluna refletisse sobre o significado de f( α ). Sem guiar demasiado, José conduziu a aluna no sentido de encontrar uma estratégia para responder e, ao mesmo tempo, compreender a razão da ineficácia da sua estratégia inicial: Magda: Ah! Sempre com a calculadora, fazendo α =60º. José: É melhor pensares um pouco como foi obtido o f( α ). E depois escreveres isso. (A5J) A mesma atitude manteve José nas tarefas T5 e T7. Ele não valorizou algumas das dúvidas dos alunos tentando mesmo, na T5, desdramatizar a perceção dos alunos de que a tarefa era difícil, e de que iriam sentir muitas dificuldades na sua concretização. Na sessão de trabalho de natureza colaborativa para preparar a aplicação da tarefa, José já havia salientado que teria de dar muito apoio aos alunos na realização da tarefa T5, mais do que é habitual. O item a) dessa tarefa revelou-se fácil após a indicação dada, oralmente, de que deveriam recordar a interseção com os eixos coordenados, apoiando as estratégias iniciadas pelos alunos: José: Interseção com eixo 0x: y=0 e z=0; interseção com eixo 0y: x=0 e z=0; interseção com eixo 0z: x=0 e y=0. 162 Davide: Assim, o raio é [OB] e a altura é [OV]. José: Mas, deves calcular os respetivos comprimentos. Davide: Ok, ok (A7J) Articulação de ideias próprias. Muitas vezes, José optou por não validar a resposta dos alunos como uma forma de promover a articulação de ideias próprias dos alunos. No item 4. da T2, a propósito da comparação dos dois resultados obtidos, José apresentou a mesma atitude relativamente ao par Magda e Rute. Estas alunas resolveram o item 1. recorrendo às igualdades cos 60º = 1000 1000 e cos 45º = . 1000 + h 1000 + h E, a partir dessas igualdades, para o item 4. afirmaram que à medida que o valor do h aumenta, o valor do ângulo teria de aumentar, apenas por observação da figura. José ficou um pouco confuso com a resposta das alunas (fala 3), mas não validou de imediato esse trabalho e solicitou que as alunas articulassem as suas ideias de forma a provar o pedido (falas 6 e 8): 1. Rute: Isto é verdade stor? 2. Magda: Cateto adjacente sobre a hipotenusa! 3. José: Sim, sim, é verdade. Mas…, não usaram h cos α a igualdades R = ? 1 − cos α 4. Magda: Mas, é o cateto adjacente sobre a hipotenusa, ou não? 5. Rute: É o cosseno! 6. José: Sim, mas como justificam a comparação? 7. Magda: Quando h aumenta, o valor da fração diminui, e o ângulo obtido aumenta. 8. José: Mas, mas têm de me convencer que isso é mesmo verdade! (A1J) O uso pelas alunas de um processo de resolução diferente daquele que José tinha previsto, deixa-o hesitante relativamente à confirmação do resultado a que as alunas chegaram. Mas, mesmo nessa circunstância, José não confirmou nem desmentiu a afirmação desse grupo e incitou-as a encontrar argumentos irrefutáveis (fala 1), dandolhes algumas pistas (falas 3 e 5), remetendo o processo de validação no trabalho do próprio grupo: 1. José: Já está? O que escreveram? 2. Magda: Stor, veja se temos razão: quando h aumenta o comprimento CB é maior e por isso o ponto B sobe na vertical. 3. José: Pois, mas não esqueçam que há o outro R. 4. Rute: Stor, stor, deixe-nos acabar: O ponto A tem de descer, sempre por cima da circunferência. 163 5. José: Efetivamente, o ângulo aumenta. Mas, relacionem isso com o cosseno. (A1J) As alunas exploravam corretamente o problema e José manteve uma postura de não validação dos raciocínios apresentados, procurando que as duas alunas construíssem uma argumentação correta e completa sobre o trabalho realizado. Quer para o par dos rapazes, Alexandre e Davide, quer para o par das raparigas, Magda e Rute, José insistiu na necessidade dos alunos desenvolverem argumentos que servissem para justificar as resoluções apresentadas, e que facilmente fossem recordadas (fala 1), valorizando, assim, a comunicação matemática (fala 3), contrariamente ao que tinha referido na entrevista inicial: 1. José: Meninos, meninos! Lembrem-se que a trigonometria não acaba hoje. Brevemente, pode ser necessário consultar as conclusões registadas no caderno. 2. Magda: Stor? Eu escrevi no caderno as fórmulas que usei, chegam? 3. José: Têm de explicar tudo. O vosso raciocínio, as vossas opções, etc…para eu perceber e, daqui a uns tempos, vocês também! Na segunda aula de trabalho na tarefa T2, José, efetivamente, centrou a discussão, com toda a turma, na forma como os alunos chegaram às conclusões. José referiu uma afirmação das alunas para pedir a sua justificação (fala 1) e, a partir daí, articular as ideias dos alunos para compreender a profundidade com que as tinham tratado (falas 3, 5 e 7): 1. José: Diz que h aumenta quando α aumenta, e consegues justificar? 2. Magda: Pela figura. 3. José: Não quero isso, têm de mostrar-me com cálculos que isso é verdade. 4. Rute: Nós fizemos para 60º, 45º e 30º e vê-se que é verdade. 5. José: E quanto dá para 60º, 45º e 30º? 6. Rute: Para 60º dá 0, e para 45º dá negativo, -0,414. 7. José: Um comprimento negativo? 8. Rute: [silêncio] (A2J) José detetou que, apesar que terem as conclusões corretas, as alunas tinham cometido erros de cálculo e obtinham valores que não faziam sentido no contexto do problema. José pediu à aluna para transcrever no quadro os seus cálculos e incentivou os outros alunos a ajudarem a identificar o erro. Esta prática era habitual e aceite pelos alunos como positiva “para ter mais atenção”: Quando eu dei conta, ele tinha feito 164 h cos 60º ⇔ 1 − cos 60º = h cos 60º ⇔ 1 − cos 60º − cos 60º = h . 1 − cos 60º Este erro, não afetava as conclusões mas é um erro grave. Aproveitei para reforçar a necessidade deles questionarem o trabalho que fazem. (José, STC14) 1= Na resolução do problema proposto na T4, os alunos evidenciam algumas estratégias de articulação das suas ideias, talvez, porque já trabalhavam esses processos há algum tempo. O apelo ao registo das tentativas realizadas (fala 1), tanto as corretas, como as erradas, foi apenas um reforço dessa necessidade: 1. José: Depois quando resolverem, aquilo que fizerem, bem ou mal, deve estar registado, eu só... dou pequenas orientações! 2. Alexandre: Oh s’tor, aqui temos de saber a hipotenusa. Certo? 3. José: Exatamente. 4. Davide: Então, isto é para os 2 triângulos. Vá, precisamos de ligar isto a alguma coisa (o Alexandre lê o exercício). (A5J) A pesquisa no caderno foi outra estratégia dos alunos para avançar na resolução. Esta revelou-se como uma mais-valia para Davide e Alexandre ao encontrarem a solução e conseguirem mostrar o pretendido: 1. Alexandre: Isto é da trigonometria. 2. Davide: Sim. 3. Alexandre: (o aluno continua a ler o exercício) Temos de ir ver…o prof já explicou isto…consulta o caderno…temos de descobrir. 4. Davide: Ângulo de? 1. Alexandre: (o aluno continua a ler o exercício e consulta o caderno) Está aqui! O círculo trigonométrico tem raio 1. Vamos fazer a área…agora é fácil. (A5J) Mas, para além da necessidade de mostrar a expressão que dá a área, o facto de os alunos trabalharem individualmente, neste item, revelou-se uma dificuldade acrescida para o apoio que José deu e para a concretização da tarefa. Numa primeira fase de reflexão sobre a T4, José atribuiu as dificuldades dos alunos à desatenção demonstrada. No entanto, em parte devido à ajuda que deu na concretização, reconhece que os alunos progrediram e aplicaram as suas próprias ideias matemáticas: A primeira apreciação é a atitude dos miúdos, desatenção, não leram corretamente o enunciado. Estão a perceber? Principalmente a parte inicial. Em segundo lugar, acho que um problema dos meus alunos foi em relação ao mostre que? Como foi com os vossos? Se fosse apresentado, por exemplo, no item 1., algo semelhante ao item 2., provavelmente, sendo atribuídos valores, será que eles tinham mais facilidade em encontrar o valor, e deduzir a expressão, da Área? Sendo só com letras? Como eles 165 costumam dizer! Foi logo um obstáculo! (…) Eu continuo a dizer, eles não leram atentamente o enunciado. Mas, fizeram a tarefa com ajuda e estavam empenhados. Perguntaram montes de vezes esta história, por causa do α : Oh professor, o que é um α ? Nesta tarefa, ao trabalharem individualmente, nem se ajudaram mutuamente. (José, STC17) Na T5, dos quatro alunos, alvo de recolha de dados, apenas Rute necessitou da ajuda de José para relacionar a equação do plano ABV com o comprimento da base e a altura. Os restantes alunos mobilizaram conhecimentos anteriores para o fazerem. Mesmo assim, o apoio de José passou pelo apelo à articulação de conhecimentos de Rute com a ajuda de Magda (falas 1, 3 e 5): 1. 2. 3. 4. 5. 6. José: Para que serve a equação 4x+4y+3z=12? Rute: Não sei! José: Pense um pouco. A equação do plano dá o quê? Rute: Dá o plano, ou seja o conjunto dos pontos do plano. José: E a partir da equação, como pode obter o ponto B? e o V? Magda: Vê-la, na equação se trocares x por 0 e z por 0 dá o ponto B? (A7J) No item b) da T5, o Alexandre afirmava que a solução era 5, mas José sentiu alguma dificuldade em compreender e aceitar os argumentos do aluno (fala 2). O aluno organizara as suas ideias através dos ternos pitagóricos e respondera de imediato, mas José não compreendera de imediato essa articulação (fala 4). Depois de alguma insistência (fala 6), o entendimento acabou por acontecer (fala 8): 1. 2. 3. 4. 5. Alexandre: Falta o raio, e ele é 5. José: Porquê? Alexandre: Um é 3 e o outro 4, logo só pode dar 5. José: O que é o 3, o 4 e o 5? Alexandre: O lado [OB] é 3, o lado [CV] é 4 logo o raio é 5, que faz falta para escrever a esfera. 6. José: Isso é verdade, mas como chegas ao 5? 7. Alexandre: Num triângulo retângulo se os lados são 3 e 4 a hipotenusa é 5. 8. José: Tens razão! (A7J) A outra aluna, a Magda, apresentou-se confiante nas suas ideias para responder à tarefa T7, embora tivesse dificuldade na seleção dos dados a partir do enunciado. Os dois rapazes, na T7, também apresentavam a mesma reação relativamente às expectativas de concretização da tarefa (falas 1 e 2) e resistiam a solicitar o apoio do professor, apoiando-se mutuamente: 1. Davide: Sei que vou conseguir! O Y1 é a expressão n(t). 166 2. Alexandre: Isso também eu sei, mas o nosso problema é o que colocar no Y2. Eu sei como se faz, mas esta está difícil… 3. Davide: A solução tá em 800 palavras por minuto! 4. Alexandre: Não, não, 800 palavras em 20 minutos. 5. Davide: Pois, mas o n é o número de palavras por minutos. 6. Alexandre: Ok. Vamos experimentar com o 800? 7. Davide: Acho que não dá, mas serve para começar. (A8J) Davide e Alexandre estavam próximos de encontrar a resposta ao problema e estavam convictos de que iam encontrá-la. Nesta interação, eles apresentaram dificuldade em interpretar o enunciado, embora manipulassem os dados de forma correta. Nos momentos em que José deu apoio, procurou não validar o que concretizavam (fala 3) e ajudou na interpretação do enunciado, salientando os aspetos da tarefa que maior dificuldade apresentava aos alunos (falas 1 e 5): 1. 2. 3. 4. José: Concentrem-se nas variáveis n e t. Davide: Eu já descobri, mas estou à espera do Alexandre. José: Sim? Alexandre: Eu é que disse, são 800 palavras em 20 minutos e não por minutos. O Davide experimentou na calculadora 800 e 800/20, mas quem deu a dica fui eu. 5. José: Mas a resposta não está feita! Ou está? (A8J) Os alunos apresentaram convicção nas suas capacidades para encontrar a resposta, nomeadamente na forma como estavam a organizar a resposta. No entanto, na T7, as raparigas precisaram de uma orientação mais precisa por parte de José (fala 6 e 8). Apesar disso não foi dispensada a articulação de ideias próprias para responder ao problema (falas 3, 7 e 9): 1. Rute: A minha confusão mantém-se, stor. 2. José: Qual? 3. Rute: 800 por minuto e 800 em 20 minutos, acho que é por aí. Não sei como desvendar o assunto. 4. José: E tu Magda? 5. Magda: Acho que o valor de n é 800 ou 800/20, mas falta o t. Porque a expressão é n(t). 6. José: Não. Experimentem os dois valores e vejam aquele que é possível. 7. Magda: E o t? 8. José: Não precisas. Vais calcular o t e dás o n. 9. Magda: Assim já sabemos. É o 800/20, já experimentámos. É o único que é possível. 10. José: Ah, já fizeram? 11. Rute: Agora, vamos terminar e escrever a composição. (A8J) 167 Quer os rapazes, quer as raparigas, na T7, não manifestaram dúvidas em relação à escrita da resposta. Os alunos começaram pelo processo gráfico, manifestando preferência por esse método para resolver este tipo de problemas. Nesta tarefa, colocaram a função n(t) na calculadora e o valor de 800/20, e através da ferramenta gráfica de interseção determinaram o pretendido. Nessa concretização houve a preocupação de responder à questão por via da redação de uma composição, dando atenção ao enunciado da tarefa de modo a elaborar uma resposta completa. Verifica-se que alguns alunos apresentam apetência para articular as ideias na forma escrita: Rute: Isto não chega, os valores numéricos não chegam, nem os gráficos… precisamos escrever. Eu gosto de escrever! Magda: Sim, temos de descrever tudo o que fizemos e o que pensámos. Rute: Fazemos primeiro o gráfico, no fim faz-se o analítico. Magda: Escreves? (A8J) Síntese. Do exposto, pode-se afirmar que na forma oral, através da interação que estabelece com os alunos, José remeteu-os para as diversas propostas de trabalho na busca de construir um maior entendimento entre o que solicitava e o trabalho matemático realizado pelos alunos. Uma vez por outra, confirma a resposta ou ajuda através do fornecimento de uma resposta correta. Assim, em todas as tarefas, José orientou os alunos para a execução do trabalho matemático proposto. José promove as capacidades de compreensão e interpretação associadas à aprendizagem da Matemática, ao mesmo tempo, que procura desenvolver a capacidade de autorregulação da aprendizagem, apelando aos recursos dos próprios para resolver o exercício ou o problema proposto em qualquer um dos temas, Trigonometria, Geometria ou Funções. O estímulo às estratégias individuais foi uma constante no questionamento de José, aquando da implementação das estratégias de resolução dos alunos. Esse estímulo serviu para reforçar a capacidade de regulação através da avaliação da eficácia, ou não, das estratégias inicialmente escolhidas pelos alunos, também, foi importante por permitir aprender as condições que permitem a aplicabilidade, com sucesso, de uma determinada estratégia. Um aspeto significativo no desenvolvimento da capacidade de autorregulação foi o apoio às estratégias individuais de abordagem de problemas. Outro aspeto a ressalvar foi a autoavaliação suscitada pelo questionamento enquanto estímulo, principalmente nas tarefas de Trigonometria. Ainda posso acrescentar outros contributos para promover a autorregulação, como seja a desvalorização dos erros, ou a abordagem positiva, tomando-os como naturais no processo de aprendizagem, e a identificação de 168 erros e dificuldades através da reflexão sobre a exequibilidade de uma estratégia individual. A articulação de ideias próprias surgiu em primeiro lugar a partir de uma necessidade que advém da não validação de José, principalmente na primeira tarefa de Trigonometria. Esta circunstância impeliu os alunos na procura de argumentos irrefutáveis que permitam justificar ou argumentar acerca da validade de um raciocínio. Nessa articulação, outros aspetos serviram para reforçar a capacidade de autorregulação dos alunos, entre eles a identificação de erros no processo de resolução que não afetam o resultado final, a clarificação de entendimento entre professor e aluno, a interação entre alunos, e a comparação de estratégias de resolução no seio do trabalho de grupo. Este compromisso com as tarefas matemáticas trouxe vantagens para a promoção da autorregulação da organização da resposta destes alunos uma vez que permitiu a valorização do que estava escrito nas propostas de trabalho, a aproximação entre a interpretação do professor e a interpretação do aluno, a interpretação de dados e figuras incluídas nos problemas, ultrapassagem de dificuldades, o estabelecimento da plausibilidade de uma resposta, a desdramatização das primeiras impressões sobre a tarefa, a resposta às primeiras dúvidas, a manutenção da ligação entre o trabalho proposto e o executado e a motivação para novas abordagens ao problema. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de José nos três tópicos para promover a autorregulação da resposta à tarefa, através da interação com os alunos. QUADRO 20: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM IP-A Tópicos para a autorregulação da resposta Compromisso com a tarefa matemática Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias Tipo(s) de intervenção (Tarefa) remete para o que está escrito na proposta de trabalho (T2; T5; T7) estimula a discutirem entre si (T7) identifica erros de interpretação ou de compreensão (T2) ajuda na seleção dos dados necessários para resolver um problema (T3; T5) encaminha a partir das estratégias definidas (T2) fornece pistas para a progressão (T4) questiona para a identificação de erros e dificuldades (T2; T3; T4) não valida, imediatamente, a resposta (T2) reforça a necessidade de argumentação, de uma resposta (T2) apela ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas na resolução de um problema (T4) ajuda individualmente (T4; T5; T7) 169 Autorregulação do desempenho Eficácia Matemática. Na T2, José comparou os registos no caderno diário, feitos pelos alunos, e concluiu que não eram coerentes no que escreviam. Para ultrapassar essa situação, no apoio à concretização da tarefa, José solicitou a explicação oral da resposta e observou que os alunos iam reformulando as suas respostas à medida que as explicavam, oralmente, caminhando no sentido de alcançar o resultado, com avanços e recuos: Quando me chamavam, aquilo que eles escreviam e o que me apresentavam não era exatamente o mesmo. Por exemplo, os rapazes h cos 60º h cos 45º escreveram 1 = e 1= , mas quando me chamaram o 1 − cos 60º 1 − cos 45º Alexandre disse “h de 60º é maior que o h de 45º”. A afirmação dele não correspondia ao que estava escrito. A afirmação oral estava certa. (STC13) Outras vezes, aconteceu o contrário. A interação oral deixou-o apreensivo relativamente à posterior redação de conclusões. O plano que os alunos definiram para desenvolver a tarefa mostrava-se frutuoso, embora ao nível da concretização não fossem capazes de o terminar com sucesso, em grande parte devido a erros de cálculo. José, junto dos alunos, procurava averiguar se as conclusões eram obtidas a partir de cálculos efetuados corretamente (trabalho algébrico), ou se seriam simples intuições apoiadas pela figura que estava desenhada na folha da proposta de trabalho. Desta forma, José valorizava o domínio das ferramentas matemáticas e apoiava os alunos na concretização da tarefa. Nas suas palavras, José questionava para distinguir concluir de concluir com fundamentação: Eu tenho de ter a certeza que os alunos distinguem a conclusão da conclusão fundamentada. Se eles cometem erros nos cálculos apresentam a comparação, mas não sabem fazer a resolução do problema. Tenho de alertar para esse aspeto. (STC13) Na intervenção oral, depois de colocar em causa a eficácia matemática dos alunos em algumas das produções, José pretendeu promover uma maior participação e o recurso à comunicação matemática para descortinar a origem da apresentação de algumas propriedades. José aprofundava se o encadeamento dado pelos alunos à construção de uma dada resposta se encontrava fundamentada em conhecimentos matemáticos ou pura intuição: 170 Não é possível passar de A para C sem passar por B, eu sei. Mas tenho de ver isso, os alunos devem explicar-me todos os passos, quer oralmente quer por escrito. (STC13) O confronto entre o que alunos escreviam e o que explicavam oralmente tornavase numa técnica a que José recorria para promover a eficácia matemática. José procurava que os alunos identificassem erros através da explicação oral de resoluções. José acreditava que ao promover a eficácia matemática contribuía para o desenvolvimento, nos alunos, da capacidade de auto questionarem-se acerca de alguns pormenores importantes para algumas respostas, por exemplo o modo como se trabalha na calculadora gráfica: 2,35 cos1,5564º , logo R ≈ 0,034 , 1 − cos1,5564º e outro aluno que responde R ≈ 1,35 . Eu consigo identificar que o primeiro trocou na calculadora “Rad” por “Deg”. Aceitava-a como correta e alertava o aluno para o lapso. Mas, dificilmente, consideraria a 2.ª resposta como certa. Depois de algumas experiências consegui identificar que o 2.º aluno escreveu, na calculadora, 2,35 × cos1,5564 ÷ 1 − cos1,5564 . Nem num caso, nem no outro, são erros graves. (STC13) Reparem, um aluno que responde R = Segundo José, por exemplo, o item b1) da T3 não suscitou problemas, porque substituindo o x por π e resolvendo em ordem a t, ficava demonstrada a igualdade pretendida. Nesse item, foi evidente que os alunos colocaram em prática procedimentos que já tinham usado anteriormente, mobilizando-os corretamente (falas 1, 2 e 4). 1. 2. 3. 4. Magda: Aqui x = π , trocamos o x por π e vamos ver o que dá. Rute: Senπ faz-se na calculadora! Magda: Isso é zero, é fácil. Rute: Então tá resolvido! Agora resolves para t ficar sozinho como fizemos com aquele do R [tarefa T2]. (A3J) Esta atitude, do ponto de vista de José, atestava a demonstração de eficácia matemática: Afinal eles sabiam de que falam, explicavam o procedimento para resolver o problema e isso é ser matematicamente eficaz. (STC13) Para além das raparigas também, para José, os rapazes mostraram que conseguiam mobilizar eficazmente aprendizagens adquiridas anteriormente (falas 1, 3 e 5). No entanto, no exemplo da tarefa b2) da T3, José questionou os alunos para compreender o que dominavam das estratégias a aplicar. José interrogava para aprofundar até que ponto 171 o aluno dominava aquilo que afirmava (fala 2) e repostava com o seu entendimento do que deveria ser a resposta (fala 4): 1. Alexandre: Na resposta incluímos aquelas coisas todas, as obrigatórias? 2. José: Quais? 3. Alexandre: Aquelas que são habituais nas resoluções gráficas! 4. José: Se queres dar uma resposta completa, deves incluir tudo. 5. Alexandre: Só mais uma coisa, eu já tenho a solução e já verifiquei que pertence a [0,2π [ , e agora vou verificar se é solução da equação, tenho de incluir isso na minha resposta? (A3J) O par Alexandre e Davide comentaram, algumas vezes, que já tinham realizado itens semelhantes aos apresentados e por isso tornava-os de resolução mais acessível. Estas evidências não eram suficientes para José. Para além das afirmações dos alunos, José procurava saber como concretizavam os seus planos de resolução do problema. Mas, a confiança dos alunos nas suas próprias capacidades sugere que a eficácia matemática e o desenvolvimento da capacidade de autorregulação da aprendizagem matemática estão associados: Davide: Vamos a este, parece aquele do outro dia para s! Alexandre: Sim, recordo-me. Fizemos θ = π e deixou-se s = 1 − cos 3 Davide: Claro! Destes podem vir muitos, já não falho! José: Vá, quero ver como fazem. (A3J) π 3 . Este episódio, no final do módulo de trigonometria, mostrou a José a confiança nas competências matemáticas próprias que os alunos foram ganhando ao longo do tema. José referiu-o fazendo o paralelo com a avaliação do comportamento dos alunos e da postura relativamente à Matemática: Estes alunos têm vindo a interessar-se mais pela Matemática, e estas questões que dominam dão-lhes confiança para participarem nas aulas e efetuarem as atividades. No ano passado, era mais difícil. (STC15) Autoavaliação. O questionamento, para incentivar a autoavaliação do trabalho realizado na tarefa T2 foi identificado na ação de José, em particular quando deu pistas para identificarem os erros: Davide: São os cálculos, professor? José: Como é que efetuaram a passagem de membros? Alexandre: Eu acho que foi muito rápido, mas deu certo! José: Recordem a passagem de membro. Davide: Vamos ver…mas, este caminho leva-nos onde queríamos chegar! (A2J) 172 No momento em que José percebeu que os erros de cálculo, cometidos pelo Davide e Alexandre, também ocorriam com outros alunos, apelou à verificação dos cálculos: “Agora, 10 minutos para toda a gente verificar as contas e corrigir!” (A2J). A generalidade dos alunos da turma P acedeu ao pedido de José, começando a fazer a verificação solicitada. José apoiou os alunos nessa verificação, questionando, dando pistas, para verificarem os sinais dos termos que tinham mudado de membro, averiguar da razoabilidade das soluções encontradas, etc. Posteriormente, José identificou este episódio como sendo um exemplo de dar a oportunidade ao aluno de corrigir o próprio trabalho, procurando promover a autoavaliação: Quando lhes pedi para verificarem as contas, compreenderam que o teriam de fazer para continuar a discutir a resolução da tarefa. Mas, na minha opinião foi muito mais do que isso. Eu acho que, da próxima vez, meia dúzia de alunos vai verificar tudo antes da discussão, e para mim isto foi uma forma de promover a autoavaliação. (José, STC14) No item b2) da T3, ficaram registados momentos que mostram a planificação, seguida de controlo e verificação que os alunos fazem dos seus próprios trabalhos. O Alexandre, a dado momento questionou José acerca da necessidade de incluir na resposta a janela de visualização, as ferramentas da calculadora utilizadas, e as expressões introduzidas no modo gráfico da calculadora, e da validade da solução encontrada: Alexandre: Deve ser o procedimento gráfico para esta tarefa? José: Porquê? Alexandre: Diz, através das capacidades gráficas! José: Como o resolverias sem a calculadora gráfica? Alexandre: Pois…tenho de seguir o meu plano inicial, a calculadora! José: Pode ser, mas que plano é esse? Alexandre: Pensar, concretizar e avaliar: introduzir as expressões na calculadora, usar as ferramentas, encontrar a solução e ver se está tudo bem e se responde ao problema! (A3J) Através desta solicitação, Alexandre mostrou dominar alguns aspetos que permitem fazer a triangulação de resultados. E, ao colocar em causa a aceitação de uma solução sem a referida triangulação, mostrou maturidade ao nível do desenvolvimento da capacidade de autoavaliação para a aprendizagem matemática. Quando os alunos fazem ajustes ao desenvolvimento dos seus trabalhos, também, se identificam estratégias de autoavaliação. Na tarefa T4, item 2.1, Rute desenvolveu o 173 seu trabalho a partir de casos particulares e a dado momento, reajustou esse plano, passando a consultar o caderno e concretizando uma resolução semelhante à que se encontrava escrita no caderno: Rute: Temos de fazer algumas tentativas, com valores concretos e ver o que dá. Magda: Será isso que o professor quer? Rute (enquanto consulta o caderno): São tentativas. (…) Rute: Encontrei. Eu sabia que já tinha feito. Era este caminho que eu queria encontrar. Magda: Acho que vou chamar o professor e desenhar o triângulo com 60º para calcular a área. Rute: Ok. Eu faço por aqui. Vou usar aquilo que mostrámos em 1. (A5J) Quando comparado com o questionamento levado a cabo por José, este autoquestionamento do aluno refletiu-se na execução das tarefas matemáticas e contribui para que o aluno valorize o trabalho realizado no dia-a-dia: Lembro-me do episódio da Magda e da Rute. Seguiram processos diferentes, embora naquele momento me parecesse que a Rute já tinha um plano definido à partida e a procura no caderno apenas a ajudou a seguir esse caminho, reajustando o processo de resolução. (STC 17) José considerou, também, que as questões mostre que favoreceram o envolvimento dos alunos para o uso de estratégias próprias e para a autoavaliação do trabalho que vão realizando. Efetivamente verificou-se que nesse tipo de itens os alunos definiram planos de resolução com maior acuidade, procurando estratégias no caderno e ligando-os com itens feitos anteriormente, e reajustaram a sua execução em função do resultado a que pretendiam chegar. Mas, José referiu-se, também, à utilidade destes itens pela informação que forneciam para a implementação de estratégias de avaliação formativa: Os alunos nestes itens fazem e controlam o que fazem. Têm lá o resultado a que se pretende chegar, e por isso vivem a ilusão de que é fácil lá chegar. Mas, estes itens servem-me, essencialmente, para identificar os erros e as dificuldades dos alunos para os ajudar. (STC 17) Síntese. A eficácia matemática caracteriza as práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação e é visível pelo desempenho dos alunos nas tarefas matemáticas com que são confrontados. Na promoção da capacidade de autorregulação da aprendizagem matemática houve um compromisso assumido por José com a promoção da eficácia nas tarefas matemáticas dos três temas (Trigonometria, Geometria 174 e Funções). Na procura do domínio de uma dada situação ou de alcançar um dado resultado, predomina em Trigonometria a promoção feita por José para o empenho através da valorização da eficácia matemática, procurando que os alunos confrontassem os registos escritos com as explicações orais, questionando o domínio dos conhecimentos registados, e ligando o trabalho realizado com outros trabalhos anteriores. Os alunos, frequentemente, reconstruiram as suas respostas para corrigir erros e dificuldades em Geometria e Funções, mas inicialmente a intervenção de José foi mais visível. Foi, igualmente, frequente a ultrapassagem de dificuldades ou a primeira abordagem a um problema através da ancoragem desse problema como outro anteriormente realizado. A demonstração de uma crescente eficácia dos alunos, comprovada pela abordagem feita às tarefas e pela opinião de José durante o questionamento em sala de aula, permitiu também uma maior motivação dos alunos para a completude das tarefas. Para a valorização destes aspetos, contribuiu o apelo de José, verificado nas tarefas iniciais, ao confronto entre os registos escritos e as explicações orais, o questionamento sobre conhecimentos, propriedades e outros conteúdos matemáticos e o estabelecimento de âncoras com trabalhos anteriores. Por isso, o questionamento foi menos frequente a partir da tarefa T4 o que evidência a assunção da capacidade de autorregulação nas tarefas. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de José nos dois tópicos para promover a autorregulação do desempenho, através da interação com os alunos. QUADRO 21: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE DESEMPENHO EM IP-A Tópicos para a autorregulação do desempenho Eficácia Matemática Autoavaliação JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DO Tipo(s) de intervenção (Tarefa) solicita o confronto dos registos escritos com a explicação oral (T2) questiona para averiguar do nível de domínio matemático (T2) valoriza a comunicação matemática, oral (T2) recorda trabalhos anteriores, âncoras (T3) promove a completude das respostas (T2; T3) dá pistas para a identificação de erros (T2) apela à verificação de cálculos ou da razoabilidade de um resultado (T2; T3) aceita a reformulação do trabalho (T4) seleciona tarefas suscetíveis de abordagens diversificadas (T2; T3; T4) 175 Depois da aula Na sessão de trabalho de natureza colaborativa imediatamente após cada uma das tarefas propostas, o grupo refletiu em conjunto sobre alguns aspetos que haviam caracterizado a aula ou as aulas. Balanço. José destacou os progressos conseguidos pelos alunos e a promoção da autoavaliação como dois aspetos caracterizadores da sua ação. A propósito da tarefa T2, José realçou a evolução dos alunos a partir da ajuda dada na seleção da informação contida no enunciado. Esse impulso, segundo José, foi fundamental para dar resposta aos primeiros itens da tarefa e serviu, também, de motivação para a concretização da tarefa na sua totalidade: Tive de ajudá-los logo no início. Mas, acho que fiz bem! Com aquela ajuda, eles progrediram e concretizaram as primeiras questões. Também, lhes serviu de motivação. Não foi uma ajuda muito grande, mas orientouos para irem até ao fim. (STC13) José, também, referiu que os alunos apresentam estratégias de resolução que resultam de conhecimentos adquiridos anteriormente. Na sua opinião, essas estratégias não são previsíveis, mas os alunos aplicam-nas com confiança revelando domínio desses conhecimentos: A Magda e a Rute responderam ao item 3. por um processo que eu não esperava, mas correto. É assim! Os alunos aplicam métodos não esperados e temos de validá-los. Estas alunas sabiam o que faziam e tinham muita confiança nisso. (STC13) José relembrou o episódio em que constatou uma estratégia seguida pelas alunas que não tinha sido por si prevista, não a validou e demorou algum tempo a fazê-lo. Procurei aprofundar o motivo que levou José a não validar imediatamente o processo usado pelas alunas, ao que me referiu a necessidade de verificar até que ponto as alunas conseguiam manter a convicção na resolução apresentada e compreender os conhecimentos que dominavam: Eu: Não confirmaste a resolução da Magda e da Rute? José: Não! Elas estavam confiantes de que tinham feito bem…mas, até que ponto não iriam desistir? Maria: Mas, estava correta? José: Sim, estava. Mas, deixei incógnito durante algum tempo para que elas refletissem mais um pouco sobre a validade da resolução. Isso surpreendeu-me. Elas sabiam o que faziam e sabiam fazer bem. (STC13) 176 O desenvolvimento da discussão em torno da não validação da estratégia das alunas, permitiu compreender que José, intencionalmente, verificava a capacidade de autoavaliação das alunas, relativamente à resolução daquele item: Maria: Mas elas explicaram-te como tinham feito? José: Sim. E eu queria ver até que ponto conseguiam ir. Eu: Mas, que querias ver concretamente? Quando é que ficaste satisfeito? José: Queria ver se tinham confiança suficiente para não abandonarem aquela resolução. Saber que apresentavam estratégias de verificação de que a resolução estava correta e apresentavam uma argumentação suficiente para me convencer. (STC13) Na tarefa T3 não apareceram dificuldades de maior, segundo José. Mas, refletiu sobre o questionamento dos alunos acerca da expressão “Sem recorrer à calculadora”. Para José, os alunos revelaram uma maior atenção aquando da leitura da proposta de trabalho embora tenham solicitado a confirmação do professor em alguns aspetos: Eles estão mais atentos, acharam estranha a referência ao não uso da calculadora. Mas, chamam-me constantemente. Desta vez, nesta tarefa, talvez menos do que na anterior. (STC15) Relativamente à confusão feita por Magda e Rute acerca da medição do ângulo x, José salientou o encaminhamento que fez para as alunas relerem o enunciado da tarefa e considerou que essa orientação foi crucial para a concretização dessa tarefa e provavelmente para as seguintes: Disse-lhes para lerem de novo, e fizeram-no! Essa ajuda foi importante para tomarem atenção ao texto das propostas, mas o alerta de visualização da imagem também ajudou, igualmente. Para elas, foi mais do que uma simples ajuda. Alunas atentas como elas, de certeza, ou quase de certeza, que em situações futuras terão mais cuidado com o enunciado e as figuras associadas. (STC15) Na tarefa T3 foi, também, referida por José a valorização da capacidade de autoavaliação por parte dos alunos, durante a concretização. José considerou que os alunos apresentaram mecanismos de autocontrolo na resolução do item b1): Usaram processos que tinham, anteriormente, usado, com avanços e recuos é certo! Mas fizeram-no com sucesso, e com isso mostraram o domínio da trigonometria e uma postura de confiança em relação à resposta dada. (STC15) Para a tarefa T4, José, posteriormente, referiu-se à necessidade de dar uma explicação global, para todos os alunos da turma, para que estes pudessem compreender 177 a variação do ângulo e iniciar a exploração da tarefa. A não compreensão do enunciado da tarefa por parte da quase totalidade da turma perturbou-o e levou-o a agir: A minha explicação foi inevitável. Havia muitos alunos a não perceberem o que acontecia à medida que o ângulo se alterava. Isso estava a perturbarme, e via o tempo a passar, sem que os alunos avançassem na tarefa. Tive mesmo de dar aquela explicação. (ST17) José refere-se à necessidade dos alunos avançarem na tarefa e de não perderem muito tempo à procura de um caminho ou de uma estratégia para o resolverem. Este autocontrolo da execução da tarefa foi salientado quando José se referiu, também, à pesquisa que o par Davide e Alexandre efetuaram no caderno diário para encontrarem a solução ao problema proposto na tarefa T4: Eles (Davide e Alexandre) não sabiam o que fazer mas sabiam onde podiam encontrar o caminho para resolver o problema. Começaram a procurar no caderno diário para não perderem tempo e avançarem porque tinha resolvido um exercício parecido umas aulas antes. (STC17) Este episódio serviu para introduzir, novamente, o tema da autoavaliação. José considerou que os referidos alunos, para além de gerirem a própria aprendizagem, sabiam onde encontrar o processo de resolução adequado ao problema e executaram-no com sucesso. Assim, a discussão do grupo de trabalho passou por um aprofundamento acerca da ação daquele par de alunos: José: Eles sabiam onde encontrar o processo de resolução e isso mostra a regulação da própria aprendizagem. Eu: Mas essas eram atitudes habituais? José: Não. Pelo menos eu nunca tinha reparado que eles [os alunos] levavam tão a sério o apresamento que lhes dava. Maria: O item que tinha feito antes, que estava no caderno, era igual? José: Não, não. Mas, o processo era parecido. Eu: Achas que identificaram o processo e por isso usaram o caderno. Maria: Também pode ser uma prática habitual, mas já disseste que não era. José: Acho que eles sabiam como fazer, principalmente o Alexandre. O caderno foi apenas a confirmação de que o processo seguido era correto. (STC17) No caso da tarefa T7, José referiu a reação dos alunos relativamente às expectativas de concretização da tarefa. Num primeiro olhar, os alunos consideraram a tarefa acessível mas, depois de lerem e começarem a trabalhar na resolução do problema que era proposto, sentiram dificuldades de seleção e tratamento dos dados apresentados: Eu estava admirado. Sim, admirado é a palavra exata. Os alunos apresentavam-se muito confiantes para resolvem este problema. Mas, 178 comecei a ver que não conseguiam selecionar e tratar os dados fornecidos. (STC23) José ajudou os alunos salientando os aspetos em que apresentavam dificuldades, articulando esses dados e procurando a interpretação dos mesmos. Essa ajuda foi determinante para o prosseguimento, principalmente a organização dos dados a usar no processo de resolução: Eles sabiam o processo de resolução e tinham consciência dos dados apresentados necessitarem de tratamento antes da utilização da calculadora, mas não sabiam que fazer. Principalmente as duas raparigas. (STC23) Os alunos conheciam o processo de resolução da tarefa através do uso da calculadora e mostravam saber que os dados que constavam do enunciado proposto careciam de tratamento para serem usados, o que revelara autocontrolo da própria aprendizagem. A convicção na capacidade de responder a itens com a calculadora foi salientada por José como uma capacidade adquirida pelos alunos. Mas, também, reforçou o facto de os alunos procurarem responder à composição sem a ajuda do professor: Eles [os alunos] apresentam-se mais autónomos. Têm dificuldades nos dados, como aconteceu aqui, mas sabiam o processo de resolução através da calculadora e tinham consciência dos dados a introduzir na calculadora. Para a composição, também não me solicitaram. Só pode ser fruto da confiança que têm desenvolvido nas suas capacidades, aprendem fazendo. (STC23) Dificuldades. Para José, as dificuldades apresentadas no domínio de conhecimentos e a não compreensão da informação veiculada num pequeno texto é um obstáculo à autorregulação, apesar de os alunos, depois de ajudados, mostrarem facilidade em selecionar as estratégias adequadas à resolução de um problema. O foco esteve, para José, em encontrar um campo de entendimento entre professor e aluno, para que o aluno compreenda o questionamento do professor, quer seja veiculado pelo enunciado de uma tarefa quer seja oral: [Os alunos] quando leem os enunciados não conseguem selecionar a informação, às vezes perdem-se no texto, outras nem leem a informação dada e isso dificulta a abordagem de estratégia de autorregulação. Não conseguem mobilizar os conhecimentos que têm porque não compreendem os enunciados. As minhas questões, por vezes, não fazem sentido para o aluno. (José, STC15) 179 A dificuldade de colocar questões percetíveis aos alunos, segundo José, espelhouse mais veementemente nos itens que correspondem a tarefas de resolução de problemas, tarefas T2 e T3. No caso dos exercícios, a interpretação pelos alunos foi mais fácil e José teve facilidade em questionar a partir da identificação de erros e dificuldades. No entanto, nos exercícios, verificou-se um fosso maior entre as perceções de facilidade de resolução de José e dos alunos. José referiu isso mesmo nas tarefas T4 e T7: Os exercícios são acessíveis para eles, digo eu. Comparam as expressões e a partir daí respondem. Aplicam propriedades e regras e avançam…É mais fácil perceber o que é necessário fazer, pelo contexto e pela forma como é apresentado. Os problemas são sempre complicados, muito texto, perdemse na seleção de dados, ou não identificam o que é pedido, e têm dificuldade em encontrar o caminho certo. Mas, às vezes há surpresas, nem sempre o que eu espero é a verdade. (E2J) Embora a dificuldade dos alunos esteja relacionada com o domínio da língua materna, José considera-a um aspeto transversal à generalidade das disciplinas: Isto é geral. É em Português, Matemática, Filosofia, etc., os outros colegas também se queixam. Em Matemática torna-se mais grave porque cada vez fazemos mais problemas e mais tarefas abertas e isso requer capacidades adicionais, a compreensão. (E2J) Um episódio salientado na T4 foi a dificuldade de José em compreender a explicação de Alexandre para o raio. José demorou algum tempo a aceitar que o aluno conhecia os ternos pitagóricos. Mas, de facto o aluno tinha razão: Demorei a aceitar, mas era verdade. Se os catetos são 3 e 4, a hipotenusa só pode ser igual a 5. Não esperava que o Alexandre soubesse desse exemplo. Mas, ele é correto e o Alexandre mobilizou quando fez falta. O que é ótimo. (STC20) Segundo José, a falta de compreensão dos alunos levou-os à falta de empenho na procura de resposta às questões enunciadas, o que naturalmente afetou o prosseguimento do aluno na aprendizagem. Essa dificuldade, segundo José, poderia ser ultrapassada ao despertar o interesse do aluno por uma tarefa. Segundo José, os alunos mais interessados chamavam o professor com mais frequência e procuraram e partilharam informação nos grupos de trabalho em que estão incluídos, evoluindo na aprendizagem a partir das suas próprias ações: Os alunos empenhados desenrascam-se sempre. Chamam-me, perguntam aos colegas, interagem, etc. São os que participam mais e os trabalham 180 melhor em grupo, porque se apoiam mutuamente. Estes alunos evoluem mais por isso, e evoluem por si. (José, E2J) Para José, a falta de empenho foi assim um aspeto que pode tornar-se numa dificuldade para o professor no desenvolvimento da capacidade de autorregulação da aprendizagem matemática e, esse fator revela-se preponderante em alguns alunos: Os alunos com agregados familiares desorganizados têm mais dificuldades em matemática, desculpem, é a minha opinião. São menos empenhados e isso afeta a forma como se envolvem nas tarefas, como respondem e, também, participam menos no trabalho de grupo. (José, E2J) Posteriormente, também foram discutidas as dificuldades apresentadas pelos alunos relativamente aos conteúdos matemáticos tratados nas aulas assistidas. Essas dificuldades precisaram da intervenção de José para que os alunos pudessem continuar o trabalho. A necessidade de intervir ao nível de pré-requisitos de trigonometria desviou a atenção de José de aspetos planificados para o questionamento. José refere que teve dificuldade em continuar com a planificação prevista na tarefa T2 por os alunos apresentavam dificuldades não esperadas, como seja manipular as razões trigonométricas em problemas da vida real, e obrigou-se a intervir cedendo à perspetiva pré-estabelecida de continuar a não identificar os erros: Nas aulas fizemos vários exercícios com as razões trigonométricas, mas este era mais complicado. Também, é verdade que este foi feito por eles, com a minha ajuda, enquanto os outros fiz eu com a ajuda deles [os alunos]. Tive de ajudar, é sabido. As dificuldades nas razões trigonométricas nãos os deixavam continuar. (José, STC14) José referiu ainda que a falta de destreza na manipulação das fórmulas trigonométricas levou-o a pedir a todos os alunos para verificar as contas. Tratava-se de erros de cálculo, mas afetam o entendimento geral do que estava a ser demonstrado: Não podia fazer de outra maneira! Eles não avançavam e eu estava a ficar nervoso porque aquilo já tinha sido tratado nas aulas, mas a manipulação de fórmulas trigonométricas e os cálculos associados são sempre uma grande complicação. (STC13) Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as dificuldades de intervenção de José, e as ações tomadas para as ultrapassar. QUADRO 22: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA IP-A (JOSÉ) Dificuldade Compreensão do Ação do professor Desenvolve um campo de 181 Objetivo Aumentar a compreensão do enunciado na resolução de problemas entendimento professor -aluno enunciado da tarefa Compreensão do enunciado nos exercícios Questiona a partir dos erros e das dificuldades dos alunos Diminuir o fosso entre as perceções de facilidade da resolução do professor e a dos alunos Falta de empenho dos alunos Promove a procura de ajuda de Despertar o interesse pela pares, ou do professor, para a concretização através de concretização das tarefas enunciados motivadores Escolha da estratégia adequada ao desenvolvimento Mantém os níveis de complexidade das tarefas e manter a organização dos grupos de trabalho Não desmotivar os alunos, em particular aqueles que têm problemas de ordem familiar Domínio dos conteúdos matemáticos Recorda pré-requisitos Corrige erros e identificar dificuldades Dar continuidade ao trabalho para finalizar a tarefa O relatório escrito em duas fases (RE) O relatório escrito em duas fases (RE) foi uma prática avaliativa para promover a autorregulação da aprendizagem observada em quatro tarefas, o que corresponde a oito aulas. Antes da aula José apresentou-se nas sessões em que foram discutidas as formas de concretização do relatório escrito em duas fases participativo mas pouco convicto. A prática RE não fazia parte da prática corrente de José. Foi, por si, experimentada pela primeira vez no contexto desta investigação. Intervenção avaliativa do professor. O relatório escrito em duas fases constituiu uma novidade para os casos deste estudo. Em particular, José apresentou-se apreensivo com a implementação desta forma de trabalhar com os alunos. Embora, segundo José, as razões pedagógicas e o desenvolvimento profissional sejam justificações para a sua inclusão: Reconheço que não dou muita importância à comunicação escrita. Pode ser uma oportunidade para mim. Aprender. É isso, para aprender estou sempre disponível e isso também é importante para os alunos, é um aspeto que deve ser valorizado e tido em conta nas avaliações. (STC10) 182 Um aspeto aliciante para José, no relatório em duas fases, foi precisamente o facto de poder dar feedback aos alunos antes do relatório estar concluído. Colocar uma proposta de trabalho numa aula, dar feedback escrito ao trabalho realizado pelos alunos e propor-lhes a conclusão desse trabalho, em aula, a partir do feedback dado, agradou a José e apresentou-se como sendo uma modalidade de execução de relatório escrito com potencialidades para promover o desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem: Gosto do facto de fazerem a primeira fase e a segunda em aula e gosto de poder dar a minha opinião pelo meio. Essa opinião pode ser muito importante para os alunos, não só para esse trabalho mas, também, para outros que venham a ser concretizados. (STC10) À semelhança do que aparece relatado no texto Avaliar, ensinar e aprender: dimensões pedagógicas distintas nas aulas de Matemática?, da minha autoria e de Sílvia Semana (2009), José mostrou-se muito sensível à necessidade de organizar um guião para a elaboração dos relatórios e de discutir os critérios de avaliação desses relatórios com os alunos: Temos que esclarecer junto dos alunos o que queremos que façam, talvez um guião como o desta professora resolva isso, e os critérios de avaliação? Os alunos vão perguntar-me: o que conta é o 1.º trabalho ou o 2.º? Tenho que ter resposta para isso. (José, STC10) José estava preocupado com a vertente formativa e sumativa associadas nesses relatórios. Para José, a perspetiva do aluno ao entregar um trabalho escrito ao professor é que esse trabalho vai ser pontuado com uma classificação. Mas, para este estudo o foco situava-se na forma e conteúdo do feedback dado a esse trabalho, para promover o desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem matemática dos alunos: Quem entrega um trabalho escrito ao professor espera sempre uma nota. Na escola é assim, não se trabalha para aprender mais trabalha-se para obter melhores classificações. É a opinião dos alunos e pode ser uma forma de se empenharem no trabalho. (José, STC10) O trabalho colaborativo do grupo do estudo passou por encontrar um guião de elaboração de relatórios escritos que satisfizesse o pretendido pelos professores e que fosse fácil de compreender pelos alunos e por definir critérios de avaliação que respondessem ao preconizado no estudo e às expectativas dos alunos. Relativamente ao guião, foi analisado o que consta do texto Semana e Santos (2008) (anexo 13). Depois, o grupo decidiu entregar um guião na primeira proposta de relatório em duas fases, menos esmiuçado por se tratar de alunos do ensino secundário e em conjunto com a 183 proposta da tarefa. Sendo feita a sua explicação oral na aula, e a partir daí seria usado o mesmo guião em todas as tarefas. A decisão passou pela necessidade dos alunos se apropriarem do guião do relatório e pela abrangência necessária para a possibilidade de ser usado em todas as tarefas: José: O mesmo guião em todas as tarefas é um aspeto importante, senão é difícil a apropriação dos alunos aos documentos. Maria: O guião pode ser o mesmo, mas deve ser claro e abrangente. Os alunos devem compreender, sem dúvidas, o que escrever no relatório e, se vamos usar o mesmo em todas as tarefas, tem de ser simples e concreto. (STC11) O guião a apresentar os alunos ficou definido da seguinte forma: introdução (onde clarificam qual o objetivo da tarefa); desenvolvimento (onde descrevem a atividade desenvolvida e opções tomadas); conclusão (onde explicitam os resultados obtidos). (STC11) Para a valorização do trabalho matemático realizado nos relatórios de duas fases, entendemos que o feedback devia ajudar sempre os alunos a progredir, identificando o que estava errado, o que estava certo e dando pistas para que os alunos pudessem progredir ou aprofundar os seus trabalhos, em função do que tinham feito. Este entendimento passou por considerar que o objetivo da realização dos relatórios em duas fases seria promover a autorregulação: José: Se são duas fases, parece-se que a segunda deve ser uma extensão da primeira. Melhoria? Maria: Nem sempre. Podem não avançar nada de significativo da 1.ª para 2.ª. José: É verdade. Mas, em teoria, parto do princípio que vou ajudar o aluno a melhor a 1.ª produção para chegar à 2.ª. Maria: Sim, sim …entenda-se que a 2.ª parte é a possibilidade de melhorar. José: Claro. (STC10) José perspetivava a segunda fase do relatório como uma extensão da primeira e, por esse motivo, defendeu que deveria existir uma classificação do relatório, feita apenas no final da segunda fase. Mas, por essa opinião não ser coincidente entre os dois professores, acabei por propor que fosse adotada, no final de cada uma das fases, a terminologia Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989): 184 QUADRO 23: RUBRICA PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE MATEMÁTICA NÃO ESTRUTURADOS Competência demonstrada 6 – Resposta exemplar Dá uma resposta completa com uma explicação clara, coerente, lógica e elegante; inclui figuras e esquemas para exemplificar; comunica eficazmente; mostra compreensão das ideias e processos matemáticos do problema; identifica todos os elementos importantes do problema; envolve exemplos e contraexemplos; apresenta argumentos fortes para justificar. 5 – Resposta competente Dá uma resposta completa com explicações claras e razoáveis; pode incluir um esquema apropriado; comunica eficazmente; mostra compreensão das ideias e processos do problema; identifica os elementos mais importantes do problema; apresenta argumentos sólidos para justificar. Resposta Satisfatória 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório Completa o problema satisfatoriamente, mas a explicação é confusa; a argumentação é incompleta; o esquema é inapropriado ou pouco claro; compreende as ideias matemáticas subjacentes; usa as ideias eficazmente Inicia o problema eficazmente mas falha a conclusão ou omite partes significativas; falha na evidência de compreensão cabal das ideias e processos matemáticos; comete erros de cálculo graves; usa incorretamente ou não usa os termos matemáticos; a resposta reflete uma estratégia inapropriada de resolução do problema. Resposta Inadequada 2 – Inicia, mas falha a resolução do problema A explicação não é compreensível; o esquema é pouco claro; não mostra compreensão da situação problemática; comete erros de cálculo muito graves. 1 - Incapaz de iniciar eficazmente As palavras usadas não refletem o problema; os esquemas não representam a situação problemática; falha na indicação da informação apropriada. 0 – Não inicia Esta proposta agradou a ambos os professores. Em particular, foi vista por José como uma estratégia de avaliação sem classificação numérica. Para José, a avaliação da resposta dos alunos através de um nível de desempenho colocá-los-á num nível e serviria de feedback aos trabalhos seguintes e às expectativas dos alunos irem progredindo de nível ou de se manterem nos níveis mais elevados: Muito bom, gostei mesmo muito. É uma avaliação diferente. Assim posso dar resposta aos que procuram progredir e também tenho de incentivar os 185 melhores a manterem-se nos níveis mais elevados. Desta forma, os alunos não vão pedir a nota. Por que a nota está no nível em que foi enquadrada a resposta. (José, STC12) Seleção da tarefa. Para José, as tarefas adequadas seriam as que aceitassem extensões e exigissem trabalho matemático não elementar., de modo a abranger os alunos que realizam as tarefas matemáticas na sala de aula e, também, proporcionar aos outros um motivo que valesse a pena o esforço na segunda fase: Alguns alunos acham que está tubo bem à 1.ª e ponto final. Para esses a tarefa deve permitir que eu coloque novas questões. Aos mais fracos devo ajudar a continuar, por isso, o objetivo deve ser concretizar algo que eles sabem que não é fácil. (STC11) Segundo José, a tarefa T2, Eratóstenes, adequa-se à realização do RE por permitir os dois aspetos referidos. José considera que pode colocar novas questões aos alunos entre a 1.ª e a 2.ª fase do relatório pela inclusão do item 4. (compara os dois resultados anteriores) e que, quer o item 1., quer o item 4., não são elementares e exigem trabalho matemático de natureza superior: Nesta tarefa há questões mais complicadas, a 1. e a comparação. Isso é bom. Poderei dar feedback para progredirem e identificar o que fizeram bem feito e, para os outros, colocar algumas questões que conduzam à resposta certa. (STC12) José apresentou-se, sempre, consciente da necessidade de escolher tarefas que permitissem um feedback eficaz, pela importância que isso poderia apresentar para o aluno na concretização desse trabalho e nos seguintes. Embora não tenha querido adiantar possíveis tipos de feedback, José destacou a importância do rigor e da adequação do feedback: O feedback vale para uma resposta, outra diferente terá outro tipo de feedback. Mas, o aluno vai olhar para o feedback como uma informação do professor que vale para aquela e para outras tarefas, por isso ele tem de ser bem pensado e adequado … não sei dar exemplos! (STC12) Relativamente à tarefa T2, José esperava que os alunos apresentassem dificuldades na parte escrita do item b). Segundo José, os alunos não estão habituados a organizar a resposta a itens que requeira a interpretação (b1: interprete este resultado no contexto da situação escrita). Também, o item b2) foi alvo de reparos da parte de José. Considerou que os alunos poderão não ter dificuldade em responder à pergunta, mas 186 poderão ter dificuldade em organizar a resposta. Tal situação serviria de pretexto para ajudar os alunos a saberem responder a perguntas com a calculadora: Os itens de interpretação são sempre complicados, obrigam a escrever. Os de calculadora também são complicados, não pela resposta em si, mas pela organização do procedimento para obter a resposta. Posso aproveitar esta tarefa para ajudar a construir essas respostas. Eles precisam! (STC12) A tarefa T3, para José, apresenta potencialidades para aplicar alguns dos conceitos aprendidos em trigonometria. Sendo uma tarefa complicada, refere José, estabelece uma ligação entre o aprendido nas aulas e a realidade o que pode resultar numa motivação adicional para os alunos: Estão sempre a perguntar-me para que é que isto serve? Aqui está, espero que fiquem motivados é uma aplicação do que têm feito nas aulas. (STC13) A forma como as perguntas estão formuladas foi outro aspeto destacado por José na T3. José considera que o trabalho matemático que os alunos têm de realizar não é elementar mas, na sua opinião, a forma como as questões estão formuladas, diretamente, determine, pode ajudar os alunos a compreenderem mais facilmente o trabalho que têm de realizar. Também, pensa que identifica onde poderão residir as principais dificuldades dos alunos ao nível do trabalho matemático que têm de fazer para responder ao problema: Perguntar diretamente determine, ajuda os alunos a resolverem a questão com sucesso e também me pode ajudar no feedback a dar. Nesta, acho que sei concretamente que tenho de ajudar a nível matemático…a questão parece fácil, mas não é elementar. O item a) vai ser complicado, eles [os alunos] estão habituados a que o ângulo seja igual a zero do lado direito. (José, STC13) A interpretação foi referida por José como uma oportunidade dos alunos desenvolverem a capacidade de comunicação. A produção de um texto no contexto da situação descrita pode, segundo José, facilitar a compreensão do trabalho matemático e desenvolver a comunicação matemática. Sem esperar que os alunos façam composições muito elaboradas, José admitia que não é um tipo de trabalho com que os seus alunos sejam frequentemente confrontados em aula, por isso terão algumas dificuldades: 187 Sei que é importante para a relacionar a matemática e a comunicação matemática, mas não o faço com frequência. É uma oportunidade para os alunos, embora espero que tenham algumas dificuldades na escrita … terei muito que dizer neste item…mas o feedback é para isso mesmo, melhorar. (STC13) O item b2) foi referido pela necessidade de usar a calculadora. A pergunta é bastante orientada, contudo José prevê que os alunos se limitem a dar a resposta sem explicarem como a obtiveram. Segundo José, é habitual os alunos apresentarem apenas o resultado quando recorrem à calculadora gráfica pelo que ainda prevê ter de realizar algum trabalho com os alunos: Com a calculadora é sempre o mesmo, apresentam apenas o resultado por muto que insista. Vamos ver se este ano mudam de atitude, espero que estas tarefas sirvam, também, para eles [os alunos] compreenderem que a explicação da estratégia é igualmente importante. (STC13) A tarefa T4, Círculo trigonométrico, apresenta, segundo José, dois itens que requerem um trabalho não elementar por parte dos alunos, o item 1. e o item 2.2.. José justificou essa alegação por serem itens que, no momento de recolha de dados, os alunos ainda não tinham sido confrontados com tarefas semelhantes a esta. Acrescenta, também, que os alunos devem realizar este tipo de tarefas em aula para que se possam ser apoiados pelo professor: Pode ser complicado para eles, é a primeira vez que são confrontados com este tipo de perguntas. É mesmo assim, as dificuldades devem aparecer na aula para eu poder ajudar. Quando escolhei esta tarefa tive isso em conta, trabalho matemático não elementar e métodos diversificados. (STC14) Mas, intencionalmente, José, também, pretendia que os alunos desenvolvessem a capacidade de resolução gráfica e de resolução analítica com esta tarefa. O apoio que podia dar e o feedback que proporcionaria aos alunos, antes de terminada a tarefa, contribuiriam para uma significativa melhoria das aprendizagens a este nível: Dar minha opinião antes de terminarem os trabalhos é uma mais-valia para os alunos aprenderem o que quero que façam. Os trabalhos ficam melhores e [os alunos] poderão refletir e comparar a resolução gráfica e analítica. (STC14) No que diz respeito ao tipo de feedback a atribuir às produções dos alunos, José manteve-se hesitante mas, desta vez, referiu que no item 1. é de esperar que a afirmação em função de α traga algumas complicações e que a partir daí poderá ajudar a 188 prosseguir. Também, acrescentou que o feedback a dar ao item 2.2. procurará aperfeiçoar resposta que segundo as suas expectativas estarão incompletas: Há duas coisas que eu espero: a dificuldade em compreender o que é “em função de α”, eles substituem por valores concretos e pensam que mostraram; e as respostas incompletas ou mal apresentadas com a calculadora gráfica, eles acham que devem escrever apenas o resultado final. (STC14) Relativamente ao feedback a atribuir, José apresentou o recurso a vários valores de α como uma possível indicação a sugerir aos alunos para que compreendam o sentido da expressão mostre que. Também, referiu algumas, possíveis, solicitações adicionais para que os alunos completassem as respostas que dão através da calculadora gráfica, onde se inclui a interseção com os eixos coordenados ou a janela de visualização utilizada: Para a 1. vou pedir para explorarem α = 30º e α = 60º , por exemplo e para experimentarem outro valor qualquer. No 2., vou recorrer à necessidade de uma resposta completa, com janela de visualização, identificação dos eixos, interseções, etc... (STC14) Com a tarefa T7 deu-se continuidade ao desenvolvimento da capacidade de manipular a calculadora gráfica e, através do trabalho com esta, comunicar e interpretar corretamente conceitos e conteúdos matemáticos. José procuraria que os alunos fossem confrontados com uma sequência de tarefas que incluíam itens de resolução através da calculadora gráfica. Segundo José, a atribuição de feedback ajuda à construção de respostas a este tipo de itens: O trabalho com a calculadora gráfica é um propósito do ensino da Matemática nos cursos profissionais e isso pode ser ajudado pelo feedback dado às tarefas em que os alunos se têm envolvido. (STC20) A tarefa foi colocada num texto corrido sem subdivisão em itens o que poderia criar alguma confusão com os alunos ao nível da interpretação, segundo José. Mas, a possibilidade de atribuir feedback poderia ajudar na concretização. Em causa estava a conversão do número de palavras a escrever em 20 minutos para o número de palavras por minuto: A interpretação pode ser um problema, mas a possibilidade de dar feedback ajuda a ultrapassar isso e acho que eles [os alunos] podem progredir muito a partir daí. O feedback pode ajudar a completar a questão e dar indicações para a resolução de outros problemas que apareçam semelhantes a este. (STC20) 189 Método de trabalho. A redação de relatórios escritos em duas fases fez-se sempre individualmente. Apesar dos alunos se encontrarem organizados a pares, José impôs sempre que cada um dos alunos desse par escrevesse um relatório. Várias razões foram elencadas para isso. José referiu-se à necessidade de desenvolvimento da capacidade de autorregulação, à aquisição de métodos de trabalho autónomo, à participação equitativa de todos os alunos no trabalho desenvolvido e à necessidade de desenvolver a capacidade de comunicação matemática: Individualmente, sem dúvida. A autorregulação é individual, a capacidade de comunicação também, e como posso querer que façam um determinado trabalho em casa quando em aula não tiveram oportunidade de o fazer, nem de receber feedback sobre o produto desse trabalho. (José, STC12) O item 4. da tarefa T2 é uma composição que solicita que os alunos comparem dois resultados obtidos nos itens 2. e 3.. Essa comparação podia ser trabalhada a pares, em aula, pelos alunos e José insistiu na necessidade de cada um dos alunos escrever as suas próprias conclusões. José argumentou que os alunos por vezes discutem para certificar as suas intuições e isso precisa ser validado pelo professor, para que se torne significativo: Na aula, a autoridade é o professor. Isso é reconhecido pelo aluno e o próprio quer que o professor certifique os avanços que vai concretizando para que eles constituam aprendizagem. Não vejo outra forma de o fazer, tem de ser individualmente. Cada um [cada aluno] terá o seu feedback, isso sim parece-me justo apesar de discutirem em pares a articulação de ideias, na forma escrita, será diferente. (José, STC12) O mesmo tipo de argumentação foi usado por José na preparação da tarefa T3. Segundo José, a propósito do item b2) da T3, os alunos precisam redigir respostas individualmente para assimilarem processos de resposta. Referia-se às respostas a questões com calculadora gráfica, que envolvem um procedimento específico, nomeadamente, gráfico, coordenadas de pontos relevantes, janela de visualização, identificação de eixos e de funções introduzidas no modo gráfico: Têm uma tendência para apresentar apenas o resultado final mas, se treinarem, poderão responder corretamente, com todos os elementos que envolve a resposta a um problema que requer a utilização da calculadora. Isto não vai à primeira, mas cada um deles [os alunos] alcança pequenos progressos com cada um dos trabalhos que realiza. (José, STC13) 190 Relativamente à tarefa T4, onde aparece de novo a questão da calculadora gráfica, José mostrou-se muita confiança relativamente ao desempenho dos alunos. Não era a primeira vez que os alunos se confrontavam com uma questão daquele tipo, e esse item, 2. da tarefa T4, serviriam também para verificar até que ponto os alunos autorregulavam o trabalho e o feedback que tinham obtido nos trabalhos anteriores. Apesar de José estar consciente da dificuldade de procurar fazer essa avaliação a partir de uma tarefa diferente, a tipologia de resposta era semelhante, o que reforçava a convicção de José relativamente a este modo de trabalho: O 2. dá para ver se têm andado a aprender alguma coisa, ou não. Sei que é diferente, mas espero que respondam da mesma forma. Não me refiro a conseguirem, ou não, encontrar os resultados, mas estou confiante relativamente ao modo como vão organizar a resposta. (José, STC15) Na tarefa T7, a redação de um relatório individual apresentava-se para José como uma atividade bastante dependente da interpretação do aluno. Segundo José, o relatório exige que o aluno seja capaz de interpretar o texto da tarefa e relacionar matematicamente os dados para poder responder. Este aspeto poderia afetar a concretização do trabalho, mas José salientou que a conciliação entre a redação do relatório escrito e o feedback oral na aula pode ajudar a ultrapassar esta dificuldade: É uma boa questão para o relatório individual, têm de interpretar, relacionar, escrever, etc…trabalho matemático e escrita. Se não interpretarem bem poderá ser tudo colocado em causa, mas a ajuda que vou dando e as parcerias entre alunos, a pares, pode ajudar a ultrapassar essa dificuldade. (José, STC21) Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as tarefas, os principais objetivos de aprendizagem e os métodos de trabalho respetivos. QUADRO 24: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM RE (JOSÉ) Tarefa Objetivo geral Método de trabalho T2 Aplicar as razões trigonométricas Díade, com relatório individual T3 Resolver problemas em trigonometria Misto: individual e díade T4 Distinguir o procedimento analítico e o procedimento gráfico, em Trigonometria Desenvolver a capacidade de compreensão e interpretação, em Funções Individual T7 191 Misto: individual e díade Durante a aula A seleção de relatórios que vão ser apresentados nesta parte foi feita por José. No seio do grupo de trabalho de natureza colaborativa decidimo-nos pelo critério de discutir relatórios escritos em duas fases que evidenciassem a intenção do professor em promover a autorregulação ou apresentassem capacidades de monitorização da aprendizagem dos alunos observados. A necessidade de reduzir a quantidade de materiais analisados está relacionada com o excessivo número de trabalhos recolhidos por cada um dos casos. Autorregulação da resposta Compromisso com as tarefas matemáticas. A tarefa T2 aponta, no item 4., para a necessidade de comparação de dois resultados. Na primeira aula de confronto dos alunos com a tarefa, o relatório de Davide escreve que os valores de h diminuem à medida que α diminui, o que está correto: Figura 2: 1.ª fase do produto de Davide na T2 José verificou que essa conclusão, embora correta, resultou de cálculos errados. Do feedback dado, ao trabalho de Davide, faz parte remetê-lo, precisamente, para o enunciado de um dos itens em que tinha cometido erros de aproximação: Determine, agora, o valor de h , sabendo que R = 1000 metros e que α =45º. José não foi direto nessa indicação e ficou-se por “revê a resposta a 2. e a 3. e depois compara!”. Essa indicação revelou-se pouco útil para o aluno, uma vez que a comparação baseava-se nos resultados por si obtidos estava certa. O aluno não conseguiu identificar os erros de cálculo. Na 2.ª fase, para este item, Davide apresentou os mesmos cálculos e modificou apenas a forma como redigiu a comparação, removendo a certeza da informação: 192 Figura 3: 2.ª fase do produto de Davide na T2 José poderia ter identificado os erros cometidos por Davide, mas optou por solicitar apenas uma revisão sem essa identificação. Para José, essa chamada de atenção seria suficiente para que o aluno relesse o enunciado da tarefa e verificasse os cálculos efetuados, em cada um dos itens: Esperava que o Davide visse que errou no item 3., afinal deveria ter passado pelo mesmo processo de resolução. Os itens são semelhantes. Acho que ele não percebeu a minha indicação. Eu queria que ele visse que dois itens eram semelhantes, deveriam ter resoluções semelhantes, existiam erros de aproximações, e isso não aconteceu! (José, STC14) Este compromisso de José de remeter os alunos para o enunciado da tarefa T2 também se verificou na indicação dada a Magda. Magda cometeu erros de cálculo. Magda cometeu vários erros nos itens 2. e 3., pelo que a conclusão a que chegou foi h aumenta quando α diminui: Figura 4: 1.ª fase do produto de Magda na T2 – item 4. Para este caso, o feedback dado por José foi mais explícito, indicando a existência de erros, sem os identificar. Recorreu a citações do enunciado para o redigir: “a conclusão é coerente com os resultados mas está errada, verifica se respondeste corretamente a 2. e a 3.”. Na 2.ª fase, a aluna não conseguiu realizar com sucesso o item 3., e por isso, para esse item, acrescentou a conclusão correta e omitiu os resultados que obteve e a comparação: 193 Figura 5: 2.ª fase do produto de Magda na T2 – item 4. Ao remeter os alunos para a reposta dada aos itens 2. e 3. sem a identificação dos erros cometidos, não resultou para Davide e para Magda, podendo ter criado, na opinião de José, alguma confusão nos alunos. É exemplo dessa interpretação o que sucedeu com Magda na 2.ª fase. Essa aluna sabia qual deveria ser o sentido da comparação mas não conseguiu encontrar os resultados que a sustentavam. Também, Davide parece ter ficado confuso na 2.ª fase, porque tinha a conclusão certa e não conseguiu identificar os erros no item 3.. Em termos de balanço, José concluiu que deveria ter sido mais explícito na atribuição de feedback, questionando a compreensão dos alunos sobre a conclusão retirada: Acho que foi muito confuso para os alunos! Não identifiquei os erros e eles perderam-se por terem apenas aquela indicação de verem de novos as respostas à 2. e à 3.. Nem sei se eles perceberam o que acontece ao α . (José, STC14) Na tarefa T3, José manteve o compromisso com as tarefas matemáticas mas acrescentou a identificação de alguns erros nas respostas dadas pelos alunos. No item b1) solicitava-se aos alunos: «Mostre que, para x = π , se tem t = T . Interprete este 2 resultado no contexto da situação descrita». As dificuldades de cálculo apresentadas pelos alunos relacionam-se com o valor de senπ . Mas, as maiores dificuldades relacionaram-se com a interpretação do resultado no contexto do problema. Alexandre fez, corretamente, os cálculos e escreveu, na 1.ª fase, «quando x = π o valor t é metade do valor T ». José considerou que a resposta dada por este aluno não constitui uma interpretação no contexto da situação descrita e, como feedback, remeteuo para o enunciado da tarefa, acrescentou-lhe uma pista precisa. O feedback foi: «a interpretação não está correta, relaciona-a com a figura». Na 2.ª fase, Alexandre escreveu «quando o valor x aumenta T atinge o dobro de t». O aluno não compreendeu 194 o feedback apresentado por José e, também, não percebeu o que estava errado na sua interpretação no contexto da situação descrita. A Magda confundiu o valor de senπ com o valor de cos π e escreveu: 2πt = −1 − 0,0167 × (−1) T 2πt = −0,9833 T − 0,9833 t= ×T 2π A relação está errada. O valor de t é mais pequeno do que o valor de T. A resposta de Magda foi consequência, apenas, do erro inicial. Os restantes cálculos estão corretos, de acordo com o erro cometido. José alertou a aluna para o erro cometido e solicitou-lhe que fizesse a interpretação de acordo com o contexto da situação descrita, sem indicar o que estava errado na interpretação feita por Magda: verifica o valor de senπ e faz a interpretação de acordo com o contexto da situação descrita. Na 2.ª fase, percebe-se que Magda interpretou corretamente o feedback dado para a correção do valor de senπ mas entendeu que a interpretação estava errada por que os cálculos também estavam errados. Fez os cálculos corretamente e para a interpretação escreveu o valor t é mais pequeno do que o valor T, sendo metade. O feedback ligado ao enunciado do item não resultou no caso da interpretação, mas a parte que diz respeito aos cálculos foi concretizado com sucesso possivelmente pela identificação do erro. Outra aluna, Rute, evidenciou que compreendeu o problema mas fez os cálculos com a calculadora em graus e, por isso, o valor de senπ não estava correto. Mas, os restantes cálculos e a interpretação estavam coerentes com o pretendido: 2πt = π − 0,0167 senπ T 2πt = 3,14 T 3,14 t= ×T 2π T t= 2 Com este valor de t a Terra está a metade do percurso. 195 José alertou a aluna para verificar o cálculo de senπ e sugeriu que desenvolve-se mais a interpretação, remetendo especificamente para o significado de t e o significado de T: Confirma o valor de senπ e desenvolve a tua ideia, tendo em conta que t é o tempo … e que T é o tempo… José remeteu a aluna para os significados das variáveis t e T que constam do enunciado, revelando um compromisso com o que é o propósito da tarefa. Este feedback revelou-se eficaz porque permitiu que a aluna corrigisse o erro de cálculo e, na 2.ª fase, interpretasse corretamente o resultado: Com este valor de t a Terra está a metade do percurso, isto é, percorreu metade do tempo que a Terra demora a descrever uma órbita completa (365,24 dias). Na tarefa T4, círculo trigonométrico, mantém-se o compromisso de José em relação ao enunciado da tarefa. José alerta Davide para a necessidade de, por exemplo, representar o triângulo quando, na 1.ª fase da produção deste aluno, descortina incorreções na escrita da fórmula da área do triângulo. No feedback, José mantém a necessidade de ligar a resposta do aluno à tarefa pedida, ao solicitar ao aluno o que representam estas letras? na construção das cadeias demonstrativas da área do triângulo (item 1.1.): Figura 6: 1.ª fase do produto de Davide na T4 – item 1.1., com feedback No que diz respeito aos itens 2.1. e 2.2., José alertou para a necessidade de clarificar a explicação aquando do uso da calculadora gráfica: 196 Figura 7: 1.ª fase do produto de Davide na T4 – itens 2.1. e 2.2., com feedback Neste caso, tarefa T4, poder-se-á afirmar que o feedback de José foi mais eficaz e teve impacto positivo em Davide, tendo motivado a produção de um novo trabalho. Na 2.ª fase, Davide opta por efetuar um novo documento onde são visíveis melhorias na apresentação das questões relacionadas com a calculadora gráfica, nomeadamente um maior cuidado na reprodução dos gráficos visualizados na calculadora e na indicação de alguns pontos notáveis: Figura 8: 2.ª fase do produto de Davide na T4 - itens 2.1. e 2.2. No que diz respeito ao item 1., continuam a não existir figuras, nem esquemas, para a explicação da resolução e apesar de apresentar uma demonstração correta, esta continua desorganizada. 197 Figura 9: 2.ª fase do produto de Davide na T4 - item 1.1. A tarefa T7 envolveu um maior empenho por parte dos alunos, nomeadamente nas questões da comunicação matemática, ao redigirem a resposta. José, na T7, voltou a usar transcrições do enunciado da tarefa para atribuir feedback aos relatórios escritos. Em particular, usou sistematicamente, a frase o número n de palavras que, em média, conseguia escrever por minuto, dependendo do número de dias de aprendizagem. Na T7, Magda e Rute tiveram dificuldade em compreender o que significava 800 palavras em 20 minutos. E isso refletiu-se na 1.ª fase do trabalho destas alunas. Magda apresentou um trabalho em que coloca duas alternativas do ponto de vista gráfico, n=800 e conclui que nunca é possível conseguir tal média, e n=40 em que conclui que são necessários apenas 2 dias de treino: Figura 10: 1.ª fase do produto de Magda na T7 198 Perante a resposta de Magda, José recorreu ao enunciado da tarefa e foi buscar duas frases. No entanto, José não corrige o trabalho de Magda, nem o confirma, mas reforça a necessidade da aluna responder ao problema colocado: Magda, pelo seu trabalho percebe-se que ainda está indecisa. Mas, por um lado note que o número n de palavras que, em média, conseguia escrever por minuto e que precisa de conseguir escrever uma carta com 800 palavras em 20 minutos, por outro lado não esqueça de utilizar um método analítico e um método gráfico. (Feedback de José à 1.ª fase de Magda em T7) Para a 2.ª fase, Magda opta por colocar apenas a parte do trabalho que diz respeito a n=40 e acrescenta-lhe a parte analítica com alguns erros. Nessa fase, Magda fez referência ao facto de n=800 não ser um valor admissível para este problema e explora essa situação do ponto de vista analítico e gráfico: Figura 11: 2.ª fase do produto de Magda na T7 José ficou muito satisfeito pela aluna não ter eliminado do seu trabalho a parte que diz respeito a n=800 e, acrescentou, que isso evidência os progressos que a aluna tem feito ao nível da matemática e o compromisso que tem assumido em seguir o guião do relatório e o estabelecido nas propostas de trabalho: Esta aluna [Magda] tem revelado uma grande evolução e, também, muito empenho e motivação para fazer as coisas bem-feitas. Segue o guião e procura responder a todos os pontos da tarefa… tem sido uma surpresa. (STC23) Rute apresentou apenas o método gráfico. Foi rigorosa na apresentação dos procedimentos próprios de uma resposta que recorre à calculadora gráfica, mas não discutiu o facto de 2 dias de treino chegarem ou não para escrever 800 palavras em 20 minutos: 199 Figura 12: 1.ª fase do produto de Rute na T7 José alertou a aluna para o que é pedido no enunciado da tarefa, reforçando que o que a aluna fez está correto embora esteja incompleto. O feedback escrito de José centrou-se na necessidade de usar o método analítico e o método gráfico e no final colocou a interrogação: o número de palavras, por minuto, que Josefino escreverá com 2 dias de treino? José procura que a aluna refletisse sobre a resposta dada e que discutisse os possíveis resultados: O que fez pode levá-la no bom caminho, mas atenção! Acha que o seu relatório contempla a parte “seja rigoroso e utilize um método exclusivamente analítico, e um método gráfico”? Qual o número de palavras, por minuto, que Josefino escreverá com 2 dias de treino? (Feedback de José à 1.ª fase de Rute em T7) A 2.ª fase do trabalho de Rute respondia às questões colocadas embora, na forma gráfica. Analiticamente, a aluna cometeu alguns erros de cálculo e teve dificuldades em justificar a conclusão que obteve graficamente: Figura 13: 2.ª fase do produto de Rute na T7 Estímulo às estratégias individuais. Na atribuição de feedback, José podia seguir dois caminhos, estimular as estratégias seguidas pelos alunos ou impor as suas próprias estratégias. No caminho para a promoção da capacidade de autorregulação da aprendizagem matemática, outra opção de José foi seguir pelo estímulo da estratégia de cada um dos alunos: 200 Cada aluno, como pessoa, define o seu percurso e penso ser importante valorizá-lo por que é através desse caminho que compreende o que poderá fazer sentido e o que poderá estar errado. Trata-se de ligar o feedback ao que são as ideias de cada um [aluno], fazer emergir na sua estratégia aquilo que ele [aluno] não conseguiu mostrar. (STC10) Na T2, para o item 5., a Magda apresentou uma resolução que começava por passar o ângulo 1,5564º para radianos mas, distraiu-se, e substituiu a amplitude no lugar de h e a altitude do Pico no lugar de α : Figura 14: 1.ª fase do produto de Magda na T2- item 5. José poderia ter identificado esse erro e devolver à aluna a indicação que não precisava de escrever o ângulo em radianos, podia usar graus. Mas, não foi isso que fez. José não fez qualquer referência ao facto da aluna trabalhar em radianos apenas referiu o que representa h? e o que representa α ? A falta de referência ao facto de não ser necessário passar o ângulo para radianos, mantendo o caminho traçado por Magda para responder ao item ajudou-a, uma vez que ela se centrou apenas em perceber a posição de h e de α . Magda, na 2.ª fase, manteve o ângulo em radianos e respondeu corretamente ao item 5. No item a) da T3, Alexandre usou uma abordagem semelhante à usada pela Rute na T2. Alexandre utilizou o ângulo x em graus apesar do enunciado do problema referir que a amplitude de x seria expressa em radianos. José manteve a mesma postura e apenas corrigiu a resposta de Alexandre que não se encontrava devidamente arredonda. No item b2) da T3, Magda teve dificuldades em obter o número de dias mas, depois, resolveu o item com a calculadora gráfica apresentando apenas a resposta. José chamou a atenção de que a resposta passava pela apresentação do processo que conduziu a essa resposta, sem qualificar a resposta quanto à correção: Não poderei identificar se está certo ou errado porque não sei o que fizeste. Acredito que tenhas feito bem, mas qual foi a estratégia seguida? 201 Apresenta a tua resolução, se mudares alguma coisa, identifica porque mudaste. (Feedback de José à 1.ª fase de Magda em T3) Na 2.ª fase, Magda explicou o processo que possibilitou a obtenção dos 41 dias e equacionou corretamente o problema de forma a encontrar a solução. Apesar de apresentar os gráficos obtidos na calculadora gráfica, não explicitou as expressões introduzidas na calculadora, nem a janela de visualização nem as ferramentas utilizadas na determinação da resposta. Mas, Magda fez uma explicação da sua estratégia individual (processo) e confrontou-a com o trabalho que tinha concretizado na 1.ªfase: Figura 15: 2.ª fase do produto de Magda na T3 A ausência da apresentação do processo que conduzia à resolução foi um aspeto a que José se referiu várias vezes. Em alguns casos, o aluno apresentava o processo de resolução, mas com falta de alguns elementos que implicavam a falta de entendimento da resposta. Por exemplo, Davide na T4 não apresentou o esboço do desenho do triângulo [OAB], nem do segmento de reta que representa a altura do triângulo, o que, 202 segundo José, mostrou fragilidades ao nível das conceções que os alunos têm acerca do que é a comunicação matemática. Esse facto suscitou a reação de José através do feedback dado sem colocar em causa a estratégia que o aluno seguiu: Figura 16: 1.ª fase do produto de Davide na T4, com feedback O estímulo às estratégias individuais de cada aluno verificou-se, também, porque José não atribuiu um feedback igual a todos os alunos. José adequou o feedback dado a cada uma das resoluções, tendo o cuidado de valorizar o que cada aluno tinha produzido e procurando que o aluno reconstruísse a resposta a partir desse trabalho. Articulação de ideias próprias. Solicitar ao aluno a articulação das suas ideias é um atributo do feedback dado por José aos relatórios escritos em duas fases. A necessidade de apresentar justificações que comprovassem as respostas dadas e o incentivo ao prosseguimento do caminho traçado pelo próprio aluno foram os fios condutores de feedback dado por José. O item 4. da T2, compara os resultados obtidos, tornou-se numa questão complicada para os alunos, mas José não deixou de incentiválos a procurarem articular as ideias e as estratégias seguidas para encontrarem uma resposta. Rute fez alguns cálculos para apoiar a sua resposta mas não foi capaz de estabelecer a relação entre a variação do valor de h e a variação do valor de α : 203 Figura 17: 1.ª fase do produto de Rute na T2- item 4. José observou que a aluna substituindo o valor de α por amplitudes cada vez mais pequenas, mas não conseguiu relacionar h com α . O feedback dado fez apelo à continuidade da estratégia escolhida pela aluna para responder ao problema e solicitou, também, a reflexão sobre os resultados: A tua estratégia pode ser bem-sucedida. Podes experimentar com outros valores… e concluíres, por exemplo, o que acontece quando α =0? Não esqueças que deves comparar com os resultados [das aulas], e explicar melhor a regularidade que encontraste. (Feedback dado a Rute na T2, 1.ª fase) Rute manteve, na 2.ª fase, os cálculos que tinha efetuado para a 1.ª fase e acrescentou-lhes o cálculo para α =5, α =1 e α =0,5. E reafirmou a conclusão que tinha feito na 1.ª fase: Figura 18: 2.ª fase do produto de Rute na T2- item 4. José referiu, a posteriori, que afinal a aluna tinha compreendido a relação entre as duas variáveis mas não tinha dado uma explicação completa sobre essa compreensão. O 204 feedback, neste caso, teve o papel de ajudar o aluno a clarificar a sua resposta e ajudar o professor a identificar o nível de compreensão alcançado pela aluna: Foi um bom feedback? Ajudou-me a mim e ajudou a aluna. A mim, permitiu identificar o que a Rute tinha compreendido e, a ela, obter uma resposta mais clara e completa. Sem este entendimento nunca saberia que ela relacionara a duas variáveis. (José, STC14) Alexandre, no item b2) da T3, determinou bem o número de dias mas substituiu mal na expressão e obteve 2π × 365,24 2π × 41 , quando deveria obter , no entanto o 41 365,24 aluno concretizou a tarefa recorrendo à calculadora gráfica. Neste caso, José foi cauteloso no feedback dado. Optou por identificar concretamente o erro cometido pelo aluno, valorizando o seu processo, pois outra indicação mais vaga poderia levar o aluno a alterar toda a resposta: O resultado estava errado, mas o processo estava certo e era o mais adequado. Por isso, optei por lhe dizer para mudar os valores apenas…não valia a pena pedir para refazer a resposta, o aluno poderia mudar a estratégia e não era isso que eu pretendia. (STC15) Na tarefa T4, José revelou que, na sua opinião, os alunos compreenderam o que lhes era solicitado apesar de, também, seguirem estratégias diferentes. Alexandre, para o item 1. dessa tarefa, escreveu os comprimentos OC ′ = 1 cos α , AC ′ = 1senα e AB = 2 senα e a parti daí, respondeu de imediato, A = senα × cos α : Figura 19: 1.ª fase do produto de Alexandre na T4 Esta resposta deixou José um pouco irritado porque tinha chamado a atenção dos alunos, várias vezes, para a necessidade de apresentarem as justificações e as fórmulas usadas, no mostre que: Estou sempre a referir o mesmo, escrevam as fórmulas usadas, desenhem as figuras quando têm necessidade de acrescentar outras letras, etc. e não me ouvem. A resposta está certa, mas é um mostre que incompleto, a minha opinião. (José, STC16) 205 Neste caso, José não se referiu à correção da resposta no feedback dado. Optou por incluir algumas questões que levariam o aluno a justificar o aparecimento dos resultados escritos e, dessa forma, completaria a resposta. Na 2.ª fase, Alexandre escreveu as fórmulas do cosseno e do seno utilizadas e apresentou uma figura com a descriminação das letras referenciadas na resposta: Figura 20: 2.ª fase do produto de Alexandre na T4 Na T7, Davide, 1.ª fase, também, foi chamado a apresentar a justificação das suas opções durante a resolução, mesmo contendo erros. Davide apresentou, corretamente, o procedimento usado na calculadora gráfica mas substituiu o valor de n(t) por 800 quando o deveria ter feito por 40. José, no feedback dado à produção do aluno, não referiu o erro, mas escreveu que o aluno deveria verificar o significado das variáveis n e t e justificar a substituição de n por 800: 206 Figura 21: 1.ª fase do produto de Davide na T7, com feedback O feedback atribuído por José foi suficiente para Davide reformular a sua resposta. Davide já tinha manifestado, oralmente, a sua confiança na resolução de itens com a calculadora gráfica e a T7 não foi exceção. De facto, Davide apresentara o processo correto e quando verificou o significado de n e de t reparou que n é o número de palavras que, em média, conseguia escrever por minuto, o que o levou a redigir propor uma alteração para o valor de n: Figura 22: 2.ª fase do produto de Davide na T7 207 Síntese. O feedback escrito atribuído por José ao produto do trabalho dos alunos, apesar de diversificado, não apresenta características específicas que possam ser associadas aos conteúdos de Trigonometria, Geometria ou Funções. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de José nos três tópicos para promover a autorregulação da resposta, através do feedback escrito em relatórios com duas fases. QUADRO 25: TIPO(S) DE INTERVENÇÃO DE JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DA RESPOSTA EM RE Tópicos para a autorregulação da resposta Compromisso com a tarefa matemática Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias Tipo(s) de intervenção (Tarefa) remete para o que está escrito na proposta de trabalho (T2; T4; T7) coloca em confronto ambiguidades na resposta (T2; T3) apela à concretização da tarefa (T3; T7) clarifica o que pretende que os alunos concretizem (T3; T7) encaminha a partir das estratégias definidas pelo aluno (T2) fomenta e valoriza o processo de resolução (T3; T4) diversifica o feedback (T2; T3; T4) apoia a continuidade de uma estratégia de resolução (T2) ajuda a clarificar a resposta (T3; T7) apela ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas (T4) apela à apresentação de justificações (T4) Autorregulação do desempenho Eficácia matemática. A eficácia matemática foi avaliada de acordo com a competência demonstrada por referência à tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989). Na T2, os produtos apresentados pelos alunos de José na 1.ª fase foram, na generalidade, classificados com Resposta Satisfatória, dividindo-se nos dois descritores seguintes. 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório: Completa o problema satisfatoriamente, mas a explicação é confusa; a argumentação é incompleta; o esquema é inapropriado ou pouco claro; compreende as ideias matemáticas subjacentes; usa as ideias eficazmente; 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório: Inicia o problema eficazmente mas falha a conclusão ou omite partes significativas; falha na evidência de compreensão cabal das ideias e processos matemáticos; comete erros de cálculo graves; usa incorretamente ou não usa os termos matemáticos; a resposta reflete uma estratégia inapropriada de resolução do problema. 208 O relatório de Davide, na 1.ª fase da T2, foi avaliado no descritor 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório. José salientou o incentivo dado pelo feedback, podendo motivar para a melhoria da 2.ª fase, assinalar as falhas do trabalho ao aluno, por exemplo a nível do cálculo no item 3. quando o aluno usa um valor aproximando sem descortinar que o valor exato é sen45º = 2 , mostrar a pouca profundidade e a 2 falta de correção na comparação dos resultados obtidos, por exemplo o item 4., e, a falta de evidência da compreensão do que está solicitado, por exemplo o item 5.: A fronteira entre o nível 3 e o nível 4 é ténue. Mas, acho que o Davide é nível 3. Pode ser um incentivo para a 2.ª fase, para melhorar os cálculos da 2 2. e da 3., e para descrever a comparação. Ele nem viu que sen45º = ! 2 Também, a última não parece que tenha compreendido. A resolução evidencia pouca compreensão do que é solicitado. (STC14) Outro aluno, Alexandre, obteve a avaliação 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório – por apresentar uma resposta com explicação confusa, mas com poucos erros de cálculo. Alexandre utilizou corretamente as razões trigonométricas e mostrou eficazmente o que foi solicitado no item 1., embora, sem erros de cálculo, e tendo obtido o pedido nos itens 2. e 3., explicou de forma muito confusa a comparação entre os dois resultados. Na mesma tarefa, Rute obteve avaliação 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório – porque, embora tenha cometido alguns erros de aproximação de resultados, as explicações apresentadas, mesmo incompletas, encontram-se coerentes com o trabalho realizado: No trabalho da Rute a escrita é confusa, mas a comparação é coerente com o trabalho realizado mesmo tendo feito aproximações sem serem pedidas. (STC14) Na 2.ª fase, os trabalhos destes três alunos, Davide, Alexandre e Rute, foram avaliados com o nível 5 – Resposta competente. José justificou a alteração com a retificação das respostas dadas e com a inclusão dos aspetos que foram referidos no feedback. José acrescentou que os alunos assumiram o feedback como se fossem novas questões a que teriam obrigatoriamente de responder: Mudei porque os trabalhos ficaram melhores. Na 2.ª fase estavam incluídos os aspetos que destaquei no feedback mas, os alunos, responderam como se o feedback fosse um colocar de novas questões. (STC14) 209 Na T3, José atribuiu a avaliação 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório – às as 1. versões dos relatórios de cada um dos alunos. José justificou essa avaliação com a ocorrência de muitos erros de cálculo graves, o uso incorreto de termos matemáticos e a seleção de estratégias inapropriadas para resolver o problema. Também, quer no item a), quer no item b2), os alunos apresentaram, segundo José, graves deficiências na definição de uma estratégia para a obtenção da resposta: As respostas têm muitos erros, mas o principal é a deficiência na escolha de uma estratégia para dar resposta ao problema. Nos trabalhos em que se consegue descortinar uma estratégia de resolução, não conseguiram desenvolve-la de forma eficaz para concluírem. (STC15) As dificuldades dos alunos em comunicar matematicamente, e em organizarem as suas respostas, foram notórias quando se apelava, na T3, à compreensão do enunciado para responder ao item a) e se solicitava no item b1) a interpretação do valor obtido no contexto da situação descrita. À 2.ª fase da T3, a avaliação atribuída situou-se nos níveis 5 – Resposta competente - e 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório. Segundo José, a distinção foi feita, essencialmente, pela presença/ausência de uma resposta completa com explicações claras e razoáveis. Segundo José, a ultrapassagem das dificuldades na 2.ª fase está associada ao feedback dado a cada um dos relatórios. José optou por um feedback com identificação dos erros e propostas de alteração ao trabalho realizado como uma forma de ajudar os alunos a ultrapassarem essas dificuldades: Assinalei os erros e dei pistas para prosseguirem, indicando o caminho a seguir. Este pode ter sido o aspeto essencial para que tivessem conseguido subir o nível da resposta. (José, STC15) Na Tarefa T4, 1.ª fase, a atribuição de avaliação foi diversificada. José atribuiu o nível 2 – Inicia, mas falha a resolução do problema - ao trabalho de Rute, nível 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório – ao trabalho de Magda, nível 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório – ao de Alexandre e nível 5 – Resposta competente – ao de Davide. José justificou o nível dado ao trabalho de Rute com a falta de clareza na construção da resposta. Para José, existiam elementos essenciais que a aluna deveria ter apresentado, como a figura, as razões trigonométricas usadas, e a aluna não o fez. Esses elementos são, segundo José, fundamentais para que possa avaliar o nível de compreensão de uma resposta: 210 Não gosto nada desta resposta, a Rute não compreendeu nada do que estava a ser solicitado. Há aspetos que todos devem apresentar num mostre que, a figura com identificação das letras, as razões trigonométricas usadas, os dados introduzidos na calculadora, etc… sem esses elementos não é possível saber se a aluna compreendeu o que fazia. (STC18) Ao produto de Rute foi atribuído o nível 2 mas o feedback, para além de mencionar que a resposta da aluna deveria incluir os elementos referidos, centrou-se na orientação da aluna para consultar o caderno diário, ver trabalhos anteriores e usar formas de resposta semelhantes às que tinha usado anteriormente. Magda obteve o nível 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório. A aluna começou bem o problema ao escrever as razões trigonométricas, no entanto não conseguiu aplicar essas razões. José atribuiu feedback relacionando o trabalho que a aula havia realizado em aula uns dias antes e a proposta de trabalho T4: Procura no caderno diário ou recorda os trabalhos realizados nas aulas anteriores, os mostre que seguem mais ou menos os mesmos procedimentos…compreende e depois aplica. (Feedback dado por José à 1.ª fase, item 1., do produto de Magda, T4) A aluna seguiu as indicações dada por José para o item 1., na T4, porque o item 1., já que o item 2. mereceu apenas alguns reparos porque a aluna dominava bem a resolução de problemas através das ferramentas da calculadora gráfica. Magda conseguiu concretizar com sucesso a 2.ª fase da tarefa T4, mas José referiu, posteriormente, que a aluna tem feito progressos mas considera que as suas respostas carecem de justificação, nomeadamente no item 1, 2.ª fase, apesar de o concretizar com sucesso não apresenta as razões trigonométricas de partida: A Magda melhorou muito, mas ainda não está cinco estrelas, faltam as razões trigonométricas dos ângulos de onde começou. Vou conversar com a Magda, ela tem feito progressos … mas continua a não apresentar todas as justificações para uma comunicação eficaz, que mostre compreensão de ideias e processos matemáticos. (STC18) O trabalho do Alexandre situou-se no nível 4. Segundo José, a explicação é confusa, em particular a apresentação das razões trigonométricas, e a resposta ao item 2. é pouco clara apesar de evidenciar os procedimentos corretos. Relativamente à 1.ª fase, José não acrescentou texto escrito ao item 2. - T4. Alexandre introduziu poucas alterações na 2.ª fase do seu trabalho, tendo incluído explicitamente os aspetos que José referiu como estando incompletos no feedback dado à 1.ª fase. 211 Davide apresentou o trabalho mais completo a que José atribuiu nível 5 – Resposta competente. Na 2.ª fase, Davide incluiu as questões levadas por José em simultâneo com o feedback o que suscitou a alteração para o nível 6 – Resposta exemplar. José refletiu sobre essa alteração e considerou-a justa, pelo trabalho que o aluno demonstrou e pelo efeito futuro que proporcionara na melhoria de outros trabalhos: Alterei o nível porque o Davide esforçou-se para melhorar e porque tenho de gerir a expectativas dele no sentido de mostrar que o esforço vale a pena, principalmente para que invista mais e melhor os trabalhos seguintes. (José, STC18) Na tarefa T7, José situou a sua avaliação entre os níveis 4 e 5, Falhas mínimas mas Satisfatório e Resposta competente, respetivamente. As respostas da Magda, da Rute e do Davide foi-lhes atribuído o níveis 4 e à resposta de Alexandre o nível 5. Magda na 1.ª fase porque apresentou as duas resoluções, gráfica e analítica, sem concluir o resultado final mas a parte de desenvolvimento do processo está satisfatoriamente completo. Rute na 1.ª fase apresentou apenas o método gráfico, com evidência da compreensão das ideias matemáticas subjacente e usa-as eficazmente. Davide na 1.ª fase apresentou o resultado errado porque usa o valor 800 em vez de 40, no entanto todo o procedimento está correto e apesar de alguma confusão e incompletude, mostra compreensão das ideias matemáticas usadas. José identificou as falhas em cada uma das respostas e incentivou os alunos a completarem os seus trabalhos de acordo com as estratégias que haviam selecionado. Alexandre apresentou uma resposta completa e com as explicações claras e razoáveis, José apontou-lhe apenas alguns pormenores para a melhoria da organização da resposta. Autoavaliação. O feedback escrito permitiu a autoavaliação ao aproximar os produtos dos alunos do que eram os níveis de exigência de José. O feedback dado através da tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989) situava os produtos do trabalho realizado pelos alunos numa escala de seis níveis que incluíam descritores. Esse feedback, completado com indicações concretas de José, permitiu que o trabalho realizado em cada uma das tarefas aumentasse de qualidade. Também, verificou-se uma aproximação gradual entre o que o José pretendia que os alunos fizessem e os trabalhos realizados. 212 José geriu a tabela de descritores e os produtos dos alunos de forma equilibrada, promovendo a melhoria, a correção dos erros e a ultrapassagem de dificuldades: Ajudou-se a dar feedback, os alunos percebem o que quero dizer pelos descritores mas tive de adequá-los à resposta para que os alunos melhorassem. (José, STC18) A existência de um referencial dado pela tabela de descritores foi uma mais-valia para promover a autoavaliação. Na tarefa T2, após a 1.ª fase, depois de atribuído o feedback por José, Davide procurou interpretar o nível 3 que lhe foi atribuído na 1.ª fase e aquele que estava escrito no nível 6 – Resposta exemplar, para aproximar o seu trabalho desse descritor. Davide conversou, ainda, com o Alexandre sobre as melhorias a introduzir para alcançar a resposta exemplar: Davide: Tenho de rever os cálculos! Quanto te deu a 2. e a 3.? Alexandre: Faz com 60º e 45º. Davide: Mas para além disso, que fizeste mais? Alexandre: Expliquei que usei a calculadora no mode deg! Davide: Isso é importante para o nível máximo? Vou incluir… Alexandre: Sim, sim, mas eu também tenho de acrescentar coisas. Magda, na tarefa T3, também realçou junto de Rute a necessidade de, para além de corrigirem os erros identificados por José no feedback dado, aproximarem os relatórios escritos do preconizado pela tabela de descritos, nomeadamente a resposta exemplar: Rute: Tenho que corrigir alguns aspetos! Magda: E ver o que diz o nível 6. Rute. Nível 6? Magda: Sim, dar uma resposta completa com uma explicação clara, lógica e elegantes … essas coisas! Para aumentar o nível. Acerca do trabalho de Magda na tarefa T4, José salientou que o progresso entre a 1.ªfase e 2.ª fase do relatório escrito se deveu à persistência da aluna e incentivo em aproximar o seu trabalho do descritor apresentando para a resposta exemplar: Desde da primeira tarefa que vejo a Magda preocupada em comparar as suas respostas com os descritores, é a sua autoavaliação! E isso ajuda-a a progredir. (STC18) A busca de aproximação entre a tabela de descritores e a resposta dos alunos, só por si, não justifica a generalizada melhoria dos produtos da 2.ª fase relativamente à 1.ª fase. A esse processo de autorregulação dos alunos há que acrescentar o feedback escrito que José atribuiu para além da avaliação dos relatórios em um de seis níveis. Por exemplo, na tarefa T2 escreveu para Davide revê a resposta a 2. e a 3. e depois 213 compara!, para Magda verifica se respondeste corretamente a 2. e o que representa h? e o que representa α ? Já na T3 escreveu para Alexandre o valor de t é mais pequeno do que o valor de T e para Rute confirma o valor de senπ . Na T4, escreveu para Davide o que representam estas letras? Este tipo de feedback não identifica erros mas apela à promoção da autoavaliação porque suscita que seja o próprio aluno a fazer um segundo olhar sobre o seu trabalho e a corrigi-lo. Síntese. As falhas e os erros foram mais frequentes na trefas de Trigonometria e, em particular, nos itens que exigiam a manipulação algébrica de condições. Nos itens que requerem mostre que, associados à comunicação matemática, quer de Geometria, quer de Funções, também existiram dificuldades que foram ultrapassadas com a recordação de trabalhos anteriores semelhantes (âncoras) ou pela orientação do caminho a seguir. José procurou que os alunos corrigissem os trabalhos tendo como referencial os descritores da Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989). O incentivo a essa autoavaliação proporcionou a melhoria da 2.ª fase dos relatórios em todas as tarefas. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de José nos dois tópicos para promover a autorregulação do desempenho, através do feedback escrito em relatórios com duas fases. Q UADRO 26: TIPO(S) DESEMPENHO EM RE DE INTERVENÇÃO DE Tópicos para a autorregulação do desempenho Eficácia Matemática Autoavaliação JOSÉ PARA A AUTORREGULAÇÃO DO Tipo(s) de intervenção (Tarefa) assinala as falhas e os erros (T2) orienta o caminho a seguir (T2) incentiva para a melhoria dos trabalhos (T3; T4; T7) mostra os seus níveis de exigência (T3; T4; T7) valoriza a comunicação matemática escrita (T3) recorda trabalhos anteriores, âncoras (T4; T7) promove a completude das respostas (T3; T4; T7) dá feedback à 1.ª fase (T2; T3; T4; T7) promove a aproximação entre o produto do aluno e a resposta exemplar (descritores) (T2; T3; T4; T7) aceita a 2.ª fase como produto final (T2; T3; T4; T7) Depois da aula O grupo refletiu em conjunto sobre alguns aspetos que haviam caracterizado a aula ou as aulas de aplicação das tarefas cujos relatórios foram sujeitos à atribuição de feedback. Em algumas tarefas foi possível discutir a atribuição de feedback à 1.ª fase do 214 relatório escrito dos alunos devido ao desenrolar das aulas. Em outras, apenas se discutiu o impacto do feedback dado após a 2.ª fase. Balanço. José destacou a necessidade de seduzir os alunos para a continuidade do trabalho matemático, desencadeado pelos relatórios em duas fases, como o fio condutor do feedback atribuído. O engajamento do aluno nas tarefas foi um aspeto a ter em conta para alcançar o sucesso. Segundo José, o feedback dado proporcionou a valorização do trabalho realizado pelos alunos e a continuidade desse trabalho para aprofundamento de conhecimentos ou para a conclusão da tarefa: Tive de gerir as expectativas dos alunos, os parcos resultados que obtinham, e valorizar os progressos…foi a decisão acertada. O envolvimento dos alunos contribuiu para o sucesso das tarefas e para a aprendizagem. (STC 25) O balaço positivo que José faz do apoio à participação dos alunos foi uma constante ao longo de diversas sessões de trabalho colaborativo. Quando José remete os alunos para o que está escrito na proposta de trabalho ou quando José recoloca o aluno na concretização da tarefa é visto como um incentivo à inclusão, nomeadamente o destaque aos enunciados das tarefas e a ajuda para a ultrapassagem das dificuldades através do feedback escrito: Naquilo que escrevi para os alunos procurei envolvê-los na tarefa, destaquei os aspetos mais importantes das perguntas e ajudei-os a continuarem as suas respostas. Para mim, foi um incentivo a que participassem e a que se envolvessem as tarefas matemáticas. (José, STC 26) Também, a correção dos trabalhos escritos sobressaiu na ação de José ao avaliar o domínio e os conhecimentos dos alunos. José assinalou as falhas e os erros mas, também, deu orientações para que os alunos prosseguissem. Em particular, José valorizou os incentivos para a melhoria do produto do trabalho do aluno: Tive em conta que era um trabalho não terminado e por isso ajudei a continuar para melhorarem. Nesses escritos, identifiquei as falhas e os erros mas também motivei. Por exemplo, disse para continuarem pelo caminho traçado ou orientei para encontrarem um novo rumo. (José, STC 26) O estímulo às estratégias escolhidas pelo aluno surgiu espontaneamente. Mas, José refere-o como uma condição essencial para que os alunos se mantivessem empenhados na concretização da tarefa e sentissem que o seu trabalho era reconhecido pelo professor. Na concretização desses estímulos, José destacou a especificidade do 215 feedback dado a cada um dos produtos do trabalho dos alunos, pela possibilidade de diversificação do feedback escrito, pelo encaminhar a partir das estratégias escolhidas pelos alunos e pela correção das ideias incorretas dos alunos. Para José, é um reconhecimento a que os alunos não estão muito habituados. Esta valorização foi possível por se tratar de feedback escrito, por ser feito em duas fases e porque se desenvolveu durante um período de tempo mais ou menos alargado, segundo José, características acessíveis a professores e alunos: Isto é possível, porque não estava terminado à primeira tentativa, porque era possível melhorar e porque iam aprendendo como se fazia. Durante este tempo, os alunos foram crescendo, valorizando-se e aprenderam a ser valorizados porque este processo os ajudava a sentirem-se confiantes no que faziam. O feedback que dava, específico e diferente de aluno para aluno, possibilitava de exprimisse como deveriam continuar e sugerisse caminhos a partir do trabalho que já tinham realizado … para eles ... um grande reconhecimento. (José, STC 26) A aproximação entre o que José espera que os alunos concretizem e o produto do trabalho dos alunos distinguiu-se pela existência da tabela de descritores, pela concretização das tarefas em duas fases e pela valorização dada à 2.ª fase. José menciona a clarificação do que pretende na organização das respostas dadas pelos alunos quando as liga à tabela de descritores, e desencadeia nos alunos o cuidado em aproximar as respostas ao nível exemplar: Foi uma preocupação a partir da segunda tarefa. Na primeira estava um pouco apreensivos, mas na segunda já competiam para atingir o nível mais elevado no tipo de resposta dado. Não sou neutro nisso, também ajudei a construir esse caminho. (José, STC 25) A realização das tarefas em duas fases possibilitou um feedback escrito para a continuação e, também, para o encaminhamento do aluno para o preconizado por José. Nuns casos, através do feedback escrito, José pediu a clarificação de algumas respostas, a justificação dos caminhos seguidos e o registo das tentativas bem ou mal sucedidas. Em outros casos, José encaminhou o aluno para a alteração da estratégia escolhida e para isso questionou acerca da viabilidade do caminho traçado: Deixei claro o que pretendia. Estávamos em duas fases e isso deu-me a possibilidade de dar a minha opinião a meio, pedi justificações, o registo das tentativas bem e mal sucedidas, identificação de vértices nas figuras, etc. Mas, essa clarificação também foi dizer que a estratégia não levava a lado nenhum. E nesse caso, ajudei dando um feedback para entrarem em contradição e encontrarem um novo rumo. (José, STC 25) 216 José referiu, ainda, que a valorização que deu à 2.ª fase dos trabalhos dos alunos promoveu um maior investimento dos alunos para a sua concretização. José foi bastante exigente e rigoroso na atribuição de feedback à 1.ª fase e aceitou como nível final o atribuído ao produto do trabalho dos alunos o nível avaliativo da 2.ª fase e isso, segundo José, motivou um maior investimento por parte dos alunos: Eles sentiram que valia a pena corrigir a 1.ª fase ou completá-la e isso deveu-se às avaliações que fiz das 2.ªs fases. Efetivamente, consegui transmitir que a 2.ª fase é uma oportunidade de aprendizagem. (José, STC23) Dificuldades. José salientou aspetos relacionados com a sua prática letiva, nomeadamente o envolvimento dos alunos na concretização da tarefa. Apesar de destacar a dificuldade em lidar com esta situação, José refere a virtude do feedback dado através dos relatórios escritos em duas fases e, em particular, a valorização da 2.ª fase na promoção da participação dos alunos. Segundo José, a valorização da 2.ª fase contribuiu significativamente para uma maior participação dos alunos nas tarefas propostas e para a ultrapassagem da dificuldade de envolver os alunos nas tarefas da aula. Acrescenta, ainda, que os alunos valorizam apenas as tarefas sujeitas a classificação, não se empenhando significativamente nas tarefas da aula por não considerarem que as mesmas não eram quantificáveis e por isso não incluídas na atribuição de classificações do final do período: Senti dificuldades em motivar os alunos para a realização das tarefas, queriam saber se eram classificadas e o contributo desse trabalho para a classificação do final do período – é isso que eles pensam! Mas, o feedback escrito e o facto de existir uma 2.ª fase ajudou a valorizar a participação… sabiam que podiam e deviam melhorar, participando muito mais e mudaram a postura em aula. (José, E2J) José pretendia que os alunos se envolvessem mais e para isso passou a valorizar a 2.ª fase do relatório escrito, atribuindo feedback escrito e relacionando-o com a tabela de descritores, permitiu-se que os alunos procurassem também o sucesso, o que levou a um maior investimento dos alunos. Mas, o recurso ao feedback escrito ajudou a aproximar o que era estabelecido implicitamente, por José, como uma resposta exemplar e o trabalho realizado pelos alunos. Do seu ponto de vista, José sabia claramente o que seria uma resposta exemplar, mas apresentava dificuldades em exteriorizar o que isso significava. Antevia, à partida, essa diferença como sendo uma dificuldade de trabalho em relatórios escritos: 217 A minha ideia de relatório não corresponde à vossa, nem a vossa coincide com a minha, o mesmo se passa com os alunos. Essa explicitação não vai ser fácil, prevejo algumas dificuldades…mas, o tempo dirá. (José, STC10) A ultrapassagem da dificuldade de explicitação dos critérios de avaliação passou pela valorização do trabalho realizado pelos alunos. A estratégia seguida por José visava a inclusão e a aproximação entre o que perspetiva e aquilo que os alunos produziam: Se se aplicarem mais, as respostas ficam mais próximas daquilo que eu espero que façam. Talvez resulte, e possam investir mais para alcançar as minhas expectativas. (José, STC11) A dificuldade de aproximar o preconizado por José e o preconizado pelos alunos para uma resposta exemplar e a dificuldade de adequar o feedback a dar, fez José investir no conhecimento profissional para atribuição de feedback escrito: Estava preocupado com o efeito do feedback escrito e a forma de o rentabilizar e tive de ir aprender umas coisas… agora, já sei que deve identificar o que está certo e o que está errado, ajudar a progredir, etc…(José, STC11) Por opção de José, atribuir o feedback adequado, passou por identificar alguns erros cometidos pelos alunos ou escrever dizeres que levassem os alunos a identificarem erros ou contradições nas respostas dados. Nas quatro tarefas, José apresentou sempre algumas indecisões sobre o que escrever a cada um dos alunos, mas a opção foi no sentido de não desmotivar os alunos e de lhes proporcionar a continuidade dos trabalhos que tinham preconizado. A tarefa que destacou como aquela que lhe suscitou maiores dificuldades foi a T7: Na T7 tudo me pareceu complicado, não sabia que escrever quando os alunos tinham falhado os cálculos iniciais, nem sabia que podia dizer mais quando o que faltava eram apenas pormenores de organização. (José, STC25) Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as dificuldades de intervenção de José, e as ações tomadas para as ultrapassar. QUADRO 27: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA DE FEEDBACK ESCRITO DE JOSÉ Dificuldade Valorizar o trabalho realizado em aula, sem classificação Ação do professor Valoriza a 2.ª fase do relatório escrito, através da avaliação com a tabela de descritores Explicitar os critérios de avaliação Valoriza o trabalho realizado e orientar para a sua completude 218 Objetivo Aumentar o envolvimento na concretização da 2.ª fase dos relatórios e envolver os alunos nas tarefas seguintes Diminuir o fosso entre as perceções de facilidade da resolução do professor e a dos alunos Atribuir o feedback adequado e individualizado Explicita o feedback e personalizá-lo Não desmotivar os alunos Continuar o trabalho e finalizar a tarefa Constrangimentos Os constrangimentos, encontrados por José, ao desenvolvimento de práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática estão contextualizadas na sala de aula, e são comuns às duas práticas experimentadas. No questionamento oral e no feedback escrito dado a relatórios escritos em duas fases, José destacou constrangimentos relacionados com: i) o número de alunos por turma; ii) a planificação das práticas avaliativas; iii) o tempo disponível para a concretização das práticas; e iv) a organização do sistema educativo. O número de alunos por turma foi referido por José devido ao elevado número de alunos com necessidades de apoio individualizado. Segundo José, os alunos da turma 10.ºP apresentavam baixos níveis de sucesso ao longo do seu percurso escolar e, em particular, apresentavam dificuldades relacionadas com a manipulação de expressões algébricas e com o cálculo. O elevado número de alunos da turma não possibilitava o apoio individualizado que José pretendia para um questionamento oral aprofundado, e para a atribuição de feedback escrito. Por exemplo, na concretização da tarefa T3, José em aula questionou os alunos sobre as suas opções e sobre a razão delas mas, do seu ponto de vista e porque também tinha de apoiar outros alunos, não aprofundou devidamente essas decisões: O número de alunos é uma complicação, quero fazer perguntas sobre as opções que tomaram, o porque de determinadas decisões, mas … estão logo outros a chamar e eu procurar apoiar todos, por isso não aprofundo algumas decisões como deveria. (José, STC15) Para dar feedback, José também destacou o elevado número de alunos e a dificuldade de diferenciar o feedback dado a cada um deles. A escrita do feedback adequado a cada um dos alunos implicava o conhecimento pedagógico dos alunos e a gestão das suas expectativas relativamente à escola. José apresentava alguma sensibilidade para a gestão do feedback dado de modo a não desmotivar e, pelo contrário, incentivá-lo à participação e ao envolvimento nas tarefas seguintes: Não posso excluir os alunos. Está errado! É muito forte, não é isso que devemos fazer é necessário apoiar os alunos e gerir as suas expectativas 219 para que continuem a trabalhar cada vez mais e não desmotivem. (José, STC13) A escrita, também, não foi uma tarefa fácil e por vezes funcionou como um constrangimento. José demorava muito tempo a analisar os relatórios dos alunos e a tomar decisões sobre o feedback a atribuir, o que por vezes causava algum stress na preparação da segunda aula, uma vez que as tarefas foram concretizadas em aulas consecutivas. Um constrangimento motivado pelo número de alunos da turma. Para José foi minimizado ao longo do desenvolvimento deste estudo porque agilizou o seu próprio método de atribuição de feedback escrito e, com o decorrer do tempo, essa tarefa, tornou-se mais fácil. José passou a partir da tarefa T3 a valorizar o processo de resolução e, por isso, assumiu o compromisso de destacar alguns tópicos ao debruçar-se sobre a 1.ª fase dos relatórios escritos: - remeter os alunos para o que está escrito na proposta de trabalho; - colocar em confronto ambiguidades na resposta; - recolocar o aluno na concretização da tarefa; - clarificar o que pretendo que os alunos concretizem; - encaminhar a partir das estratégias definidas pelos alunos; - apelar ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas na resolução de um problema; - apelar à apresentação de justificações. (José, STC13) No que diz respeito planificação das práticas avaliativas, José refere o mal-estar que sentiu na seleção das tarefas relativamente à adequabilidade da tarefa ao que se propunha desenvolver. Ao escolher as tarefas que tinham potencialidades para ajudar os alunos na promoção da autorregulação da aprendizagem da matemática tinha em conta o tempo para a sua concretização, as características dos alunos, os conteúdos matemáticos e a sua contextualização no programa da disciplina: Quando escolho a tarefa tenho em conta muitos aspetos e isso angustiame: são as perguntas certas? São dúvidas minhas, mas tenho em conta os alunos, o número de aulas, os temas matemáticos e o seu enquadramento no programa da disciplina. (José, STC11) Considerando que, os seus constrangimentos aumentavam depois da implementação da 1.ª fase pela necessidade de complementar, através do feedback escrito, o dizer oral através do questionamento em sala de aula. José apresentou, também, alguns constrangimentos em prever o que diria no questionamento oral e na tipificação do feedback escrito: Não consigo fazer previsões a prazo, não sei que questões vou fazer…depois saem-me! Fico stressado é verdade, mas fico pior porque ao 220 ter de escrever o feedback tenho obrigação de completar o questionamento e dar a volta a questões que verifico não terem sido ultrapassadas. (José, STC13) A necessidade de cumprir um programa por módulos, num curso profissional, limita, segundo José, a sua gestão do tempo para a concretização de tarefas com o propósito de promover a autorregulação. Essas tarefas obrigam a que se disponibilize mais tempo aos alunos para desenvolverem tarefas para promover a autorregulação, através da reflexão, do estudo de várias opções de resposta, etc., sem a preocupação, apenas, de saber se as respostas estão certas ou erradas: O tempo é um fator importante para o professor e para os alunos. O professor precisa dele para o dar aos alunos. Precisamos deixar os alunos refletirem, pensarem, equacionarem várias opções, investigarem e não responderem apenas! A maioria dos alunos responde, está certo ou errado, mas não se preocupa em saber porque e o professor também não deixa que isso se concretize na sala de aula. (E2J) A organização da escola por turma inclui na mesma turma alunos com graus de desenvolvimento escolar e ritmos de trabalho bastantes diferentes, o que é um constrangimento organizacional à promoção da autorregulação. Sistematicamente, enfrenta o dilema de confrontar trabalhos muito bons com trabalhos muito maus e obriga-se à compatibilização de ambos em sala de aula: As turmas de nível poderiam ser uma boa estratégia. Assim, tenho alunos muito bons e outros muito maus, gerir isso obriga-me a não permitir que uns avancem muito e que os alunos se mantenham em contacto. (José, STC11) Embora José equacione a possibilidade dos alunos interagirem e se entre ajudarem, a simplificação das tarefas a implementar para que todos os alunos da turma se sintam incluídos e as realizem, subestima as capacidades de outros alunos e acresce o trabalho do professor, quer no questionamento em sala de aula, quer no feedback escrito nos relatórios de duas fases. 221 Síntese José é um professor com alguma experiência letiva, mas não apresentava a consciencialização da importância de valorizar as práticas avaliativas para promover a autorregulação, na aprendizagem matemática. A interação professor – alunos (IP-A) e o relatório escrito em duas fases (RE) trouxeram a José uma nova forma de trabalho, em contexto de trabalho colaborativo, a planificação, a seleção de tarefas e, na sala de aula, uma maior aproximação entre a interpretação do professor e a interpretação do aluno a propósito do texto das tarefas e das respostas – através do questionamento oral – e a possibilidade de atribuir feedback aos alunos antes de os seus trabalhos estarem concluídos – através dos relatórios escritos em duas fases. Mesmo tratando-se de duas práticas avaliativas de natureza diferente, é possível identificar a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática através da diferenciação pedagógica em ambas (Santos, 2009). Em aula, José remeteu os alunos para os seus próprios produtos, fazendo-os refletir e verificar as suas respostas, para que identificassem erros, dificuldades e verificação da razoabilidade de resultados, nos temas Trigonometria, Geometria e Funções. Sendo tarefas executadas, essencialmente, individualmente, embora tenha existido partilha na exploração e na confrontação de procedimentos e resultados, cada aluno expunha as suas dúvidas usando a sua própria linguagem e foi encaminhado a partir das suas próprias palavras. O questionamento apelava aos recursos a diferentes tipos de representação dos objetos matemáticos – gráfica e analítica, predominantemente – e procurava-se adequado às necessidades manifestadas pelo aluno num dado momento, específico, na concretização da tarefa, tendo, por vezes, assumido a solicitação de confronto entre os registos escritos e a explicação oral. Nos relatórios escritos, a diferenciação pedagógica emergiu num momento inicial ao assumir-se uma estratégia de avaliação sem classificação. A concretização de relatórios individuais acentuou, também, a adequabilidade do feedback escrito ao trabalho de cada um dos alunos. O feedback escrito recorreu, frequentemente, à colocação do aluno em confronto com as ambiguidades da sua resposta e ao encaminhamento do aluno a partir da sua produção escrita. Identificando o que estava errado, nomeadamente nos cálculos com condições que envolvem a Trigonometria, e apoiando a continuidade de uma estratégia de resolução, em geral nos itens mostre que. O feedback escrito à 1.ª fase dos relatórios escritos procurou ajudar a clarificar a 222 resposta dada pelo aluno através do apelo ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas, à apresentação de justificações e ao incentivo à melhoria dos trabalhos. A interação professor – alunos permitiu aumentar o conhecimento do professor acerca dos alunos, sobre as dificuldades de comunicação escrita e oral, a fraca conexão entre conteúdos de Trigonometria e Geometria, o modo de aumento da compreensão do conteúdo matemático, o estimulo a dar aos alunos, alertando para a diferença entre a verificação de alguns casos particulares e a generalização de uma propriedade, e como manter os alunos motivados. Os relatórios escritos também permitiram conhecer as estratégias seguidas pelos alunos para obter uma resposta, ou orientar o caminho a seguir, valorizando o processo de resolução, e promover a aproximação entre o produto do aluno e uma resposta exemplar. Quer na primeira prática avaliativa, quer na segunda, a necessidade de adequar as tarefas ao trabalho que desenvolve em sala de aula com os alunos levou José a colocar perguntas que permitissem aos alunos autocorrigirem as suas produções, recoloca-los na concretização da tarefa, ajudando-os através do estabelecimento de analogias entre o que já fizeram em momentos anteriores, com a clarificação do que pretendia que os alunos concretizassem e promovendo a completude de respostas. Na promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática José passou por alguns constrangimentos. Questionar a partir dos erros e das dificuldades dos alunos só foi possível depois de José desenvolver um campo de entendimento professor – aluno, em que José não corrigia os erros mas aceitava-os como naturais num processo de aprendizagem. Também, a falta de hábitos de valorização do trabalho em aula, sem classificação, impôs a necessidade de clarificar critérios de avaliação e promover atitudes de participação, e envolvimento, na concretização das tarefas, em que são fundamentais a ajuda dos pares, e do professor, e a aceitação, por José, de que o relatório escrito só seria considerado um produto final depois da 2.ª fase de realização. A comunicação matemática nos itens de Trigonometria e de Funções e o domínio de conteúdos matemáticos nem sempre se situavam nos níveis mínimos, pressupostos por José, para alunos a frequentarem o 10.º ano. Foi necessária a intervenção de José para a recordação de alguns pré-requisitos e para o domínio de conhecimentos e propriedades previstos para o 3.º ciclo, por exemplo fórmulas e identificação de variáveis. No quotidiano da sala de aula, José conciliou a interação professor – alunos e o relatório escrito através do questionamento oral e do feedback escrito. Procurou-se uma seleção de tarefas que integrasse abordagens diversificadas e que mantivesse os alunos a 223 trabalhar a um nível elevado de exigência. Para isso, na mesma tarefa, os alunos trabalharam individualmente ou em grupo consoante a natureza das tarefas e as potencialidades que apresentam para promover a autorregulação. Nuns casos, o principal interlocutor do aluno foi o professor, em outros, o trabalho não foi confirmado nem desmentido por José, sendo a responsabilidade de validação do próprio grupo. Em particular, nos relatórios escritos, individuais, os principais interlocutores do aluno foram o guião de relatório em duas fases e a tabela de descritores que permitia ao aluno a aproximação ao nível exemplar, após feedback escrito. Em IP-A, verificou-se uma maior preponderância de José para promover a manutenção do envolvimento do aluno na execução da tarefa. Em particular, na Trigonometria e na Geometria, possibilitando abordagens novas e procurando desdramatizar a perceção de dificuldade dos alunos. Em RE, José procurou, frequentemente, avaliar o domínio de conhecimentos e propriedades, dar sugestões para a ultrapassagem de erros e dificuldades e propor extensões da tarefa que proporcionassem um trabalho matemático não elementar. 224 CAPÍTULO 7 – MARIA Apresentação A Maria é uma professora com 25 anos de serviço, está há 24 anos na atual escola. A sua formação inicial é o bacharelato em engenharia civil do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, tendo realizado a profissionalização em exercício na Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências e Tecnologia. Em 2001, completou o curso de estudos superiores em administração escolar. Na escola, assumiu o cargo de diretora de turma e, mais do que uma vez, representante do departamento curricular de Matemática. Durante vários anos letivos pertenceu ao Conselho Pedagógico, ao Conselho Diretivo e à Assembleia de Escola. Nos últimos anos, tem integrado a equipa do secretariado de exames e é classificadora de exames nacionais de Matemática A – 12.º ano. Em 2008/2009, fazia parte da Assembleia Constituinte e era diretora, ao nível de escola, do curso profissional de informática de gestão. Na formação contínua, Maria tem procurado ações de formação que promovam a atualização do seu conhecimento profissional e didático. Ultimamente, frequentou ações relacionadas com software de geometria dinâmica e avaliação das aprendizagens. No entanto, destaca aspetos como a partilha de saberes e a troca e experiência como sendo as mais-valias da formação contínua: Na formação aprende-se muito. Fico a saber como lecionam nas outras escolas, trocam-se experiências e partilho o que sei sobre um determinado assunto, ou como fiz com os meus alunos, e aprendo como os outros fazem. (E1M) Ao nível da atividade letiva, lecionou o 3.º ciclo nos primeiros anos de profissão, mas, ultimamente, tem lecionado apenas no ensino secundário. No ano letivo 2008/2009, lecionou Matemática A – 12.ºano, Matemática A – 10.ºano e Matemática do curso profissional de informática de gestão. Foi associada da Associação de Professores de Matemática (APM) no início da década de noventa do século passado, aquando da profissionalização. Maria é vista, pelos seus pares, como uma professora que reflete bastante sobre a sua prática. Auto questiona-se, frequentemente, sobre as opções didáticas e metodológicas que assume em cada uma das suas turmas. Está sempre disponível para 225 aprofundar os seus conhecimentos profissionais e para procurar resolver os problemas de aprendizagem, identificados nos alunos: Enquanto profissional sinto-me sempre com a ideia determinada de que tenho ainda muito a aprender e a investigar. Em relação aos outros, penso que terão uma ideia positiva acerca do meu trabalho mas, a minha grande preocupação são os alunos e é a eles que procuro dar resposta. Às dificuldades deles. (E1M) Experiência profissional Planificação. Relativamente à planificação das aulas, a Maria destaca a preocupação com o rigor científico dos conceitos e propriedades da Matemática, em paralelo com a diversificação das atividades em aula: Na planificação pensa-se em todos os pormenores da aula. Para além de escolher as tarefas, penso nos conceitos e propriedades que vou dizer. Tenho sempre muito cuidado com aquilo que os alunos escrevem no caderno, são os conceitos matemáticos e isso é muito importante, tenho de ser muito rigorosa mesmo quando procuro diversificar as atividade em aula. (E1M) Nem sempre reduz a planificação à forma escrita, principalmente quando a aula se desenrola através da exploração de uma tarefa. Nestes casos, Maria prefere escolher uma boa tarefa que ilustre bem os conceitos que pretende abordar e, a partir daí, segue o rumo que os acontecimentos tomam em sala de aula. Assume, mesmo, que as planificações demasiado definidas a deixam um pouco nervosa e incomodada porque, em aula, tem dificuldade em se afastar do que estava pré-definido: Prefiro ter uma tarefa e a partir dela ir introduzindo os conceitos à medida que são necessários. Sigo a ordem traçada pelos alunos, vou dando as coisas que fazem falta, tenho em linha de conta a necessidade de responder a um problema, a tarefa. As planificações demasiado pré-estabelecidas fazem-me comichão, se algo corre mal fico muito atrapalhada. (E1M) Maria é um pouco desligada do cumprimento das planificações. Nas suas palavras, não se preocupa muito em fazer balanços entre a planificação e a concretização. Apenas nas aulas de introdução de conhecimentos novos afere se a exploração efetuada corresponde à planificação pré-definida: Nas aulas em que pretendo introduzir novos conceitos, tenho sempre o cuidado de verificar se cumpri a planificação, ou seja, se não fugi ao planificado. Quando deteto que os alunos não aprenderam ou algum conceito ficou mal esclarecido, retomo, novamente, os conceitos e tento que os alunos fiquem esclarecidos. (E1M) 226 Maria afirmou que recorre frequentemente ao manual escolar dos alunos porque é um recurso disponível para todos, inclui as tarefas que servem de motivação para os alunos e associa os conceitos e as propriedades de forma integrada e, muitas vezes, pertinente. Assume não ter muita criatividade para inovar e recriar tarefas e, por isso, prefere escolher uma tarefa conhecida a conceber uma original: Há muitas tarefas no livro deles [os alunos], prefiro essas. Têm um encadeamento lógico, seguem uma determinada ordem na exploração dos temas matemáticos, e já estão feitas! Eu não tenho jeito nenhum para construir as minhas próprias tarefas e quando o faço escapa-se sempre alguma coisa. Por isso, o livro é um bom instrumento de planificação. (E1M) Maria aprecia as tarefas de investigação e exploração de conceitos, e gosta menos dos problemas. Segundo Maria, o enunciado de um problema normalmente é muito complicado, deixa-a desorientada e aos alunos também. Não se refere apenas ao enredo do problema, às vezes uma realidade semiconstruída, mas também distingue a possibilidade de resolução de alguns problemas sem recorrer às ferramentas matemáticas, aspetos que não são do seu agrado: Os problemas, alguns, são confusos e os alunos, às vezes, nem precisam de saber matemática para os resolver. Isso não me agrada. Não premeia o trabalho e o esforço que os alunos fazem ao estudar matemática. Outro aspeto, que não gosto, é, às vezes, o enunciado descrever uma realidade que não existe, para quê? (E1M) Em complemento, Maria refere a realização de tarefas de investigação e exploração de conceitos, como uma mais-valia para o processo ensino aprendizagem, por valorizar o trabalho realizado pelos alunos e permitir ao professor a orientação do caminho seguido pelos alunos. Nestas tarefas, Maria destaca a intervenção do professor para ajudar o aluno e para desenvolver o processo ensino aprendizagem, avaliando e ajustando o seu trabalho àquilo que os alunos conseguem fazer e àquilo que lhes solicita: Nas tarefas que fazem na aula eu vejo e guio os caminhos que devem seguir. Posso valorizar o que cada um [aluno] está a fazer, ou identificar dificuldades e ajudá-los [os alunos], ou até posso chegar à conclusão que a tarefa está a revelar-se demasiado complicada para a maioria dos alunos e proceder a algumas simplificações no momento, traçar outro caminho e voltar a aprofundar aquele assunto noutra altura. Estas tarefas dão-me alguma liberdade e permitem valorizar o esforço dos alunos. (E1M) Relativamente ao método de trabalho em aula, Maria afirmou que faz duas ou três vezes em cada ano letivo trabalho com intencionalidade de trabalho de grupo (mais 227 de dois alunos por grupo). No dia-a-dia, propõe as tarefas e os alunos desenvolvem-nas segundo as suas próprias afinidades e características, individualmente ou a pares (como se encontram organizados na sala de aula). Segundo Maria, a razão de não se preocupar muito com a forma de trabalho em aula, deve-se ao facto de apoiar muito os alunos na aula, quer esteja em ambiente de avaliação formal (testes escritos em tempo limitado) ou não. O apoio que dá aos alunos em aula, segundo Maria, deve tornar-se sempre significativo para o aluno por isso não se preocupa muito se o faz muitas vezes, ou poucas, ou em que contexto: Nas aulas não consigo ficar a observar os alunos, estou sempre a ajudálos, mesmo nos testes. Estarem em grupo ou não é a mesma coisa. Eles já me conhecem, sabem que podem pedir ajuda a mim ou aos colegas. Quando vejo os trabalhos que fazem procuro identificar o significado atribuído ao trabalho realizado, descortinar o que aprenderam realmente. Por isso, individualmente, pares ou grupos maiores, organizo isso duas ou três vezes por ano. (E1M) A aula de Matemática. Maria concebe a aula de Matemática como um espaço de constante trabalho e entreajuda. Em aula, faculta o apoio aos alunos necessário para a concretização das suas aprendizagens e permite as interações professor – aluno ou aluno – aluno que ajudam a rentabilizar essas aprendizagens. Não se vê a agir de outra forma. Maria considera-se um guia e um facilitador para a aprendizagem: O meu papel é criar contextos de aprendizagem, interações entre alunos, deles comigo, e apoiar, apoiar e continuar a apoiar. Se não o fizer na aula, como o poderão fazer depois? A aula tem de ser aproveitada pelos alunos para aprender e o professor tem o papel de guiar e facilitar esses contextos. (E1M) Por ser muito comunicativa, Maria tem facilidade de relacionamento com os alunos e proporciona momentos favoráveis à aprendizagem através da discussão, do confronto de ideias e do feedback. É na aula que procura perceber as dificuldades dos alunos, e procura interagir de forma a possibilitar a sua ultrapassagem. A componente comunicativa da aula de Matemática é a que agrada mais a Maria. É a partir dessa comunicação que define as suas prioridades de intervenção e as suas estratégias de ensino: A comunicação em aula dá-me a informação que preciso. A partir desse processo comunicativo ajudo os alunos e ajudo-me a mim, isto é, consigo identificar o estado de aprendizagem dos alunos em alguns temas e ajustar o meu processo de ensino naquilo que são as necessidades dos alunos. (E1M) 228 Na sua opinião, por um lado, o professor, nas aulas, deve desempenhar um papel multifacetado, sendo alguém que inova, fomenta a descoberta, leva à experimentação e à reflexão sobre os conhecimentos adquiridos, incentiva o trabalho e questiona, por outro lado, o aluno deve ser um interveniente ativo no processo ensino aprendizagem, pois quando os alunos se envolvem nas tarefas com afinco, melhoram as suas competências, elevam a sua autoestima e aperfeiçoam as suas performances: Quando os alunos estão motivados e com vontade de participar, permitem um feedback positivo e as aulas correm bem. Penso que os alunos gostam das aulas com tarefas diversificadas, em que participem ativamente, fazendo com que a aprendizagem tenha sido uma descoberta. (E1M) Segundo Maria, as suas aulas começam com uma pequena atividade de exploração, sempre que possível ligada ao real, ou com um problema pendente da aula anterior, ou com um assunto não relacionado com a Matemática e, de seguida, procura fazer a ligação entre esse começo e os conceitos matemáticos planificados para esse dia. Propõe uma tarefa, ou a resolução de um exercício, ou uma ficha de exploração de conceitos, em que os alunos investigam e registam no caderno diário as conclusões na forma de pequenos relatórios e/ou composições. Durante esse trabalho dos alunos, Maria circula pela sala e apoia individualmente os alunos, intervém comentando e corrigindo os avanços e recuos que os alunos vão conseguindo: Sou eu que dinamizo a aula, mas não considero que faça aulas expositivas. É verdade que não me calo. Mas, essa comunicação não é unidirecional, de professor para aluno, sou eu e eles [os alunos] a interagir, a participar, a discutir, a corrigir e a aprender. (E1M) Quando é possível inclui as tecnologias, nomeadamente as calculadoras gráficas e os applets da internet. No entanto, não se preocupa muito com isso e justifica-se com o domínio que os alunos demonstram das tecnologias. Ressalva as situações em que é planificada a realização de uma tarefa específica, em comum acordo com os colegas do departamento: A calculadora faz parte da aula de Matemática. O resto acontece às vezes, mas não é obrigatório. Às vezes faço, mas os alunos dominam muito bem o software disponível na internet. Quando combinamos em departamento isso é diferente, aí faço. (E1M) Quando questionada acerca da reação dos alunos às tarefas que propõe, não se manifestou incomodada e acrescentou que procura sempre valorizar a parte positiva daquilo que os alunos possam manifestar. Refere-se à necessidade do “querer aprender, para o conseguir fazer” (E1M), para salientar que os alunos devem apresentar em aula 229 uma postura de empenho e constante interesse para que possam progredir nas suas aprendizagens. Apesar de ser um aspeto importante, reconhece que nem sempre é assim: É normal, em cada turma há uns alunos mais empenhados e outros menos. Mas, eu valorizo muito o trabalho. Quem tem disponibilidade para trabalhar e quer fazê-lo consegue ultrapassar as suas dificuldades e atinge resultados, eu dou uma ajudinha! É necessário empenho, claro que é! (E1M) Segundo Maria, os problemas de aprendizagem motivados pela falta de trabalho com afinco nas tarefas que são propostas deve-se, essencialmente, a fatores exteriores à própria escola. Os motivos sociais são apontados como os principais: “as famílias têm muitos problemas e isso afeta os alunos. Eu compreendo essas situações, há muito desemprego e divórcios, etc…” (E1M). Sobre o balanço e reflexão que faz sobre a concretização de uma aula, Maria refere as planificações individuais, onde inclui os exercícios e problemas selecionados, o manual adotado na escola, “por ser uma ferramenta útil aos alunos que, por vezes, se desvaloriza” (E1M), e as tarefas de exploração. Apresenta alguma angústia relativamente a esse balanço, não sabe como o quantificar, mas acrescenta que só o consegue a partir das avaliações sumativas formais: Eu: Quais os dados que usas para esse balanço? Maria: Eu gostava de valorizar outras coisas para além dos testes, mas a realidade é que acabo por ficar muito centrada nos resultados dos testes. (E1M) O grande destaque vai para a planificação realizada, em colaboração, com os restantes professores do grupo disciplinar. Nessa definem-se percursos tendo em conta o programa da disciplina. Maria considera que deve refletir sobre o desenvolvimento dessa planificação, pois reflete até que ponto a concretiza, por ser essa a planificação que serve de referência ao que faz no dia-a-dia, em aula: No início do ano letivo, os professores que lecionam o mesmo nível reúnem-se para planificar aulas. É feita uma planificação a longo prazo e também a médio prazo. Nestas planificações, temos sempre (negrito solicitado pela entrevistada) presente o programa da disciplina e as orientações para os vários níveis de ensino, e essas sim, para mim são a referência do trabalho que desenvolvo. (E1M) Avaliação. No que diz respeito à planificação da avaliação, Maria refere que, numa fase inicial, não tem por hábito equacionar as diferentes formas de recolha de dados para a avaliação. Embora, dos seus comentários se deduza que tem em consideração alguns modos e instrumentos de avaliação: 230 Na preparação das aulas, não costumo pensar muito na avaliação. É claro que fazemos vários trabalhos em aula, individuais ou em pares, que servirão para a avaliação. (E1M) Maria considera que a prática avaliativa é uma tarefa complicada, mas necessária para a regulação das aprendizagens, apesar de ter dificuldade em distinguir a avaliação sumativa da avaliação formativa uma vez que, na sua opinião, a primeira faz parte da segunda. Mas, também, tem em conta a avaliação das aprendizagens através do envolvimento dos alunos na aprendizagem, que considera pouco valorizada enquanto aspeto importante da sua prática avaliativa: Sinto, muitas vezes, dificuldades quando me confronto com a excessiva valorização dada aos testes escritos. O trabalho, o empenho, o interesse revelados na aula não estão valorizados como eu gostaria. O saber-fazer, procurar saber mais, etc… não servem de grande coisa na avaliação e os testes valem de mais, o que aumenta a minha dificuldade em avaliar. Depois a confusão em avaliar, os testes são formativos, mas também sumativos, o que aumenta a minha dificuldade em planificar essa tarefa. (E1M) Quando lhe foi pedido para escolher quatro palavras que contribuem para formar um “bom” aluno em Matemática, Maria elege competência, feedback, motivação e compreensão. Acerca do significado atribuído a cada um dos termos apresentados na entrevista, Maria salienta, novamente, a necessidade de valorizar o trabalho desenvolvido pelo aluno. Mostra o processo de ensino, aprendizagem e avaliação como a aquisição de conhecimentos através do trabalho para o desenvolvimento de competências, e inclui a avaliação como uma forma de verificação de aquisições. Num misto entre o fazer e o saber, com o sucesso definido como a concretização de objetivos, Maria mostra abertura para a inclusão da perspetiva do aluno, nomeadamente, no que diz respeito à importância de alimentar e manter a motivação deste para aprender: Aprendizagem, a forma como se adquirem conhecimentos e se desenvolvem competências; Avaliação, um sistema com várias formas e modalidades que permite verificar os conhecimentos adquiridos; Competência, é o saber-fazer com sucesso uma determinada tarefa; Compreensão, forma de aprender conceitos; Ensino, a transmissão de conhecimentos; Feedback, o que permite regular e reorientar o processo de comunicação; Interação, partilha de saberes; Motivação, o processo que promove a predisposição para aprender; Regulação, o processo que permite interagir com os intervenientes e efetuar alterações; Sucesso, a concretização de objetivos. (E1M) Relativamente à aprendizagem, Maria refere que os alunos aprendem Matemática experimentando, investigando e refletindo e que “muito dificilmente aprendem se o 231 professor se limita a despejar conteúdos” (E1M). Maria acrescenta, ainda, que em quase todas as aulas promove atividades de verificação das aprendizagens com o papel, essencialmente, regulador da aprendizagem: Em todas as aulas procuro verificar se o aluno aprendeu, com tarefas diversificadas: ficha de trabalho, exercícios do manual ou atividades de investigação, perguntas. Quando deteto alguma falha, prontamente, tento, novamente, abordar os conceitos recorrendo a ligações com aprendizagens anteriores ou colmatando essa falha. (E1M) Maria vê a aprendizagem como uma acumulação de vários processos. Do seu ponto de vista, não basta praticar a Matemática através de muitos exercícios repetitivos, mas os alunos devem diversificar os tipos de tarefas em que se envolvem, trabalhar e estudar. Um “bom” aluno em Matemática é aquele que não desiste, que não se importa de tentar, errar, e tentar novamente até ser bem-sucedido nas tarefas propostas. O sucesso do aluno, na perspetiva de Maria, depende mais do próprio aluno do que do papel do professor. Segundo Maria, o professor é um orientador que mostra um caminho, considerado por si como correto, e o aluno tem que trabalhar, fazer as suas próprias descobertas e avançar com vista à concretização das aprendizagens: Tento sempre incentivar os alunos a não desistirem, e a procurarem melhorar, dando-lhes palavras de confiança para reforçar a sua autoestima. Por exemplo, como no curso profissional de informática de gestão a maioria dos alunos tem dificuldades na aplicação de conceitos e na resolução de problemas, para uma aula do módulo A4 (trigonometria), elaborei uma ficha com um jogo sobre os conceitos de ângulo orientado. O jogo resumia-se a uma roleta dividida em seis setores iguais e com várias regras. Formei duas equipas, com 10 alunos cada, e como a roleta, em cada setor, indicava uma quantia em euros, a finalidade era descobrir qual deveria ser a amplitude do ângulo, em graus ou em radianos, de forma a atingir a finalidade. O jogo teve muito impacto junto dos alunos, envolveram-se e penso que os conceitos foram adquiridos. (E1M) A utilização das TIC nas aulas pode ser uma forma do professor promover a motivação nos alunos, mas na opinião de Maria, o professor deve, principalmente, ser capaz de desenvolver no aluno a capacidade de selecionar informação, levantar hipóteses, pesquisar informação e verificar os resultados obtidos. Depois das aulas, ao fazer uma reflexão sobre a concretização das mesmas, Maria refere que tem tendência para, normalmente, fazer mais balaços negativos do que positivos. Considera-se uma pessimista, embora reforce a importância de retirar ilações sobre a concretização, especialmente quando as expectativas ficam aquém do que era esperado. No que diz respeito ao balanço realizado pelos alunos, Maria acrescenta que 232 os alunos o fazem, salientando o que gostariam de fazer e o que querem repetir. Raramente os alunos se referem às aulas que não gostam, talvez com receios da atitude da professora. Segundo Maria, os alunos gostam de aulas práticas, pouco expositivas, que lhes possam permitir uma maior intervenção. Considera que quando os alunos se manifestam, criticamente, sobre a aula, é porque algo não correu bem ou seja a aula não resultou: Os alunos gostam de ter a oportunidade de se exprimirem, de errar e de aprender com os erros. Quando isso acontece, eles gostam e não dizem nada. Quando se manifestam, é porque a aula correu menos bem. Gostava de dar mais importância ao que são as reações dos alunos, embora ultimamente já o faça frequentemente, mas às vezes isso não é possível. (E1M) Maria destacou a importância dos alunos se envolverem nas tarefas da aula e a necessidade da participação dos alunos para tornar as aulas mais dinâmicas e criativas. Ao participarem ativamente, os alunos, fazem perguntas, interagem uns com os outros, e aprendem: A aula resulta quando se verifica que os conteúdos, que se pretendiam ensinar, foram no seu todo, ou em grande parte apreendidos. Isso verificase quando, no final, apresentamos umas questões sobre os conteúdos e os alunos rapidamente, sem levantar questões, respondem. A participação mostra que aprenderam mas, também, nos deixa satisfeitos com o envolvimento dos alunos nas atividades da aula. (E1M) Práticas avaliativas Nesta parte dou relevância às práticas avaliativas com a intencionalidade de promover a autorregulação da aprendizagem matemática, desenvolvidas por Maria a partir das sessões de trabalho colaborativo. Maria envolveu-se na conceção e definição das duas práticas avaliativas aqui descritas, interação professor – alunos (IP-A) na aula e relatório escrito (RE) em duas fases. A interação professor – alunos diferencia-se pelo questionamento de Maria em sala de aula, enquanto o relatório escrito em duas fases distingue-se pelo feedback escrito dado ao primeiro produto resultante do trabalho escrito dos alunos. Cada uma das duas práticas avaliativas é apresentada tendo em conta três momentos distintos: antes da aula, durante a aula e depois da aula. No primeiro momento incluo o trabalho relativo à planificação, no segundo a concretização e no 233 terceiro, e último, a reflexão. O primeiro e terceiro momentos aconteceram nas sessões de trabalho de natureza colaborativa, com a minha presença e a dos dois professores – casos. O segundo ocorreu na sala de aula de Maria, com a minha presença, e com o envolvimento da turma designada por turma A. A interação professor - alunos na aula (IP-A) A interação professor – alunos na aula (IP-A) de Maria foi observada em seis tarefas, o que corresponde a onze aulas. Antes da aula Maria apresentou-se sempre participativa e interventiva nas sessões de trabalho de natureza colaborativa. Nessas sessões, foi feita a seleção e adaptação de tarefas a propor aos alunos em aula. Intervenção avaliativa do professor. A prática avaliativa implementada por Maria foi definida e planificada no seio de um contexto de trabalho colaborativo, visando a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática pelos alunos. Num registo associado à mudança de práticas letivas, Maria procurou fomentar a qualidade da aprendizagem matemática através da promoção da autorregulação. Salientou que procura a mudança de comportamento do aluno e que para isso procura apresentar formas de trabalho, na aula, diversificadas, visando mudar as suas práticas: Os alunos precisam saber mais, aprender mais, responsabilizarem-se por aproveitar as oportunidades que a escola lhes oferece. Mas, isso deve começar também por mim. Eu devo propor formas diversificadas de trabalho na aula para que [os alunos] mudem comportamentos, invistam na escola e sintam que fazem parte de um processo que ajudam a construir – o processo de ensino e aprendizagem. (EM1) Por opção do grupo de trabalho de natureza colaborativa, a prática avaliativa que se refere ao questionamento na sala de aula foi denominada por interação professor – alunos (IP-A) na aula. Maria defendeu esta designação por considerar que nem todo o feedback que o professor dá em aula se traduz na forma oral e na forma escrita. Considerou que o facto de fazer algumas expressões faciais também pode ser considerado feedback: Maria: Acho bem. Interação na aula de matemática! Inclui o que eu penso sobre o assunto. Como já disse, as minhas caretas também são um sinal para os alunos. José: Também compreendo. Até porque não nos reduz ao ato de perguntar. 234 Maria: A validação é uma interação, propor sugestões, dar uma indicação para a consulta no caderno diário…entre outros exemplos. (STC8) A interpretação dada por Maria à prática avaliativa IP-A incluiu o questionamento que realiza, em aula, na perspetiva de ajudar o aluno a concretizar a tarefa proposta, e de o levar a refletir sobre essa concretização. Nessa atividade, incluiu a necessidade do aluno apresentar evidências e justificações das suas opções, que podem ser desenvolvidas através de sugestões dadas ao aluno e comentários ao seu trabalho. Maria não excluiu da interação o conhecimento que pode recolher sobre a forma de trabalhar e sobre a qualidade dos conhecimentos dos alunos: Posso questionar, mas também posso ajudar … sugerir que consultem o caderno ou pedir que me justifiquem os resultados a que chegam. Isso obriga o aluno a pensar sobre o que fez e como o fez, essa reflexão é uma mais-valia para ele…também para mim, percebo que sabe e como aplica os seus conhecimentos, é nisso que aposto com frequência. (STC8) Concordante com a necessidade de evitar corrigir os erros, Maria apresenta alguma dificuldade em adotar a atitude de não corrigir os erros, nem dar demasiadas orientações, para a concretização das tarefas propostas. Maria para seguir esse pacto, coerente com uma prática avaliativa de cariz formativo, aprofundou o texto de Santos (2002) que, segundo Maria, foi-lhe muito útil e esclarecedor dessa perspetiva: Gostei mesmo de o ler (refere-se ao texto de Santos (2002)). Estava com alguns receios da atitude que deveria adotar. Agora, após a leitura, percebi que posso dizer todos aqueles disparates que digo habitualmente mas, de uma forma que não corrige os erros, nem orienta demasiado, e é aproveitado pelo aluno para progredir e desenvolver as suas capacidades, em particular a autorregulação. (STC12) A planificação e seleção das tarefas para propor aos alunos, também, mostraram a Maria a ajuda que poderia dar em sala de aula. Ao usar a adaptação do método IMPROVE na preparação das tarefas implementadas, Maria refletiu sobre os conhecimentos e capacidades a desenvolver com cada umas delas, sobre as formas de trabalho com os alunos, e o apoio a dar-lhes, para que alcançassem as respostas. Acrescentou que, na sua opinião, o professor serve de modelo para o aluno por isso deve ser o primeiro a expor as suas dificuldades, a discutir os seus enganos e a autocriticar-se: O IMPROVE ajudou na seleção das tarefas e obrigou-me a refletir sobre o que pretendia fazer com cada uma das selecionadas. Foi importante. Mas, na ajuda a dar aos alunos não posso deixar de parte essa reflexão, as razões da seleção de uma dada tarefa e as dificuldades que tive na escolha. O 235 aluno tem de sentir que o professor não é uma divindade, mas é igual a ele com dificuldades, enganos, etc…só assim pode ser visto como um modelo. (STC12) Em síntese, Maria valorizou muito a sua ação na sala de aula. Posicionou-se como sendo muito interventiva junto dos alunos, funcionando como um modelo de trabalho e esforço, podendo partilhar dificuldades e questões. Não se viu apenas a questionar, a procurar justificações e evidências de que as opções de trabalho são as corretas e que estão devidamente fundamentadas. Para Maria, ajudar o aluno significou trabalhar com ele, numa prática avaliativa onde predomine o questionamento oral mas também podia haver lugar para outro tipo de interações e solicitações. A não correção dos erros não significou aceitar tudo o que os alunos produzem, pode significar, também, que o professor procurava que os alunos refletissem sobre o que faziam, porque o faziam e como o faziam. Desta forma, Maria perspetiva a IP-A como uma dupla oportunidade para os alunos, o desenvolvimento de conhecimentos e capacidades, e para si, a compreensão daquilo que são as dificuldades e as formas de responder dos alunos. Seleção da tarefa. Apesar de ter participado em todas as sessões de trabalho colaborativo e contribuído para o modo de aplicação de todas as tarefas, Maria não aplicou em sala de aula a tarefa Círculo trigonométrico (T4, anexo 08) e a tarefa Escrever no computador (T7, anexo 11). A tarefa T7 não foi aplicada porque é uma tarefa com conteúdos específicos de Matemática para cursos profissionais - proposta por José. Relativamente à tarefa T4, também proposta por José, Maria considerou que estava demasiado orientada para um trabalho específico, compatibilizando as componentes analítica e gráfica da calculadora gráfica, o que não se inseria no percurso que tinha traçado para o processo ensino aprendizagem dos seus alunos (Matemática A): Não traz nada de relevante para aquilo que defini para os meus alunos neste período. Penso que fazem a distinção entre a parte gráfica e a analítica e também usam a calculadora gráfica com benefício para os trabalhos que realizam. (STC14) Relativamente às tarefas aplicadas por Maria, a T1 foi a primeira a ser realizada pelos alunos da turma A. Enquadrou-se nos conteúdos programáticos que Maria desenvolvia com os seus alunos de 11.º ano, Matemática A, isto é trigonometria em triângulos retângulos: Pode ser um bom começo, gostei da tua proposta. Enquadra-se no espírito do que ando a fazer neste momento e, como supostamente já dominam as fórmulas trigonométricas podem responder às questões colocadas para eu verificar até que ponto as aprenderam. (STC10) 236 Na discussão da tarefa predominou o que fazer para ajudar o aluno na concretização, em particular, relativamente ao questionamento a efetuar para ultrapassar dificuldades e erros de cálculo. Maria referiu a possibilidade dos alunos recorrerem ao caderno diário e à necessidade de recordar alguns conceitos fundamentais de trigonometria. Maria destacava as propriedades dos conceitos − 1 ≤ sen( x) ≤ 1 e − 1 ≤ cos( x) ≤ 1 como sendo um contributo para o questionamento e para a autorregulação dos próprios alunos em trigonometria, uma vez que ao cometerem erros em cálculos, ou na manipulação algébrica de fórmulas, os resultados encontrados seriam desprovidos de significado matemático: Há regras ou conceitos fundamentais e esses podem ajudar os alunos a verificarem se estão no caminho certo ou não. Por exemplo, erram os cálculos e chegam a um valor para cosseno superior a 1, devem saber que é um absurdo, matematicamente falando, pois o cosseno varia de -1 a 1. Esses conceitos matemáticos valem para esta tarefa e para as seguintes, ajuda os alunos a regularem os seus desempenhos posteriores. (STC10) Aquando da discussão sobre a relação entre a tarefa e o método IMPROVE, método orientador da seleção das tarefas, Maria considerou que o item 1. apresentava caraterísticas de um exercício e o item 2. de um problema, embora estivesse apenas focada na complexidade do percurso a realizar pelo aluno até alcançar a resposta. Maria justificou a sua opinião pela estratégia de resolução que os alunos necessitariam mobilizar e pelas dificuldades que poderiam emergir no seio do processo de resolução de cada um dos itens. Para o item 1., os alunos poderiam escrever as fórmulas trigonométricas e selecionar a fórmula ou conjunto de fórmulas que conduzia ao que era pedido, através de cálculos. Para o item 2., seria necessário dividir a figura em dois triângulos retângulos, e a partir daí, através da manipulação algébrica das razões trigonométricas, obter o resultado pedido. Sendo uma estratégia mais elaborada, o aluno poderia optar por diversos caminhos: Um exercício e um problema. Começo pelo item 2., é mais complexo, tem várias possibilidades de resolução, exige a divisão do triângulo em dois e a manipulação algébrica das razões trigonométricas, por isto considero-o um problema. O item 1., depende da seleção da fórmula que pode conduzir ao que é solicitado, mais fácil…é uma questão de cálculos. (STC10) Não obstante os aspetos apresentados, Maria mostrou confiança numa bemsucedida concretização dos alunos. Mas, também, para Maria, outro aspeto importante no desenvolvimento da tarefa seria compreender as dificuldades dos alunos nessa 237 concretização. O trabalho dos alunos serviria para avaliar o desempenho na parte inicial do tema trigonometria e também, para definir, a possibilidade de trabalhar as fórmulas trigonométricas e as expressões algébricas: As tarefas que permitem trabalho algébrico, como esta, com fórmulas e a necessitar de resolução analítica é uma oportunidade para mim, ou para qualquer professor. Saberei o que sabem e as dificuldades que têm para que possa agir. (STC10) A T2, proposta por José, inclui três exercícios, itens 1., 2. e 3., uma composição, item 4., e um problema, item 5.. Essa classificação foi obtida, por unanimidade. Maria voltou a destacar a informação que recolhe do trabalho dos alunos, destacando que o seu questionamento pode ir no sentido de aprofundar o conhecimento que tem sobre o trabalho dos alunos e das suas aprendizagens, servindo esse conhecimento a si e aos alunos: Uma tarefa que exige algum trabalho e permite recolher informação para nós e para os alunos. Eu uso essa informação para a minha prática e os alunos também têm de usar para os trabalhos seguintes. Eu questiono para compreender os porquês e eles [os alunos] ganham experiência. (José, STC13) T3 foi a primeira tarefa trabalhada pelo grupo e sugerida por Maria. A classificação da tarefa, depois de analisados os pontos do método IMPROVE, não foi consensual. Maria considerava que cada um dos itens que a constituíam seriam problemas que os alunos teriam de resolver, enquanto José manifestava-se pela classificação em exercícios. Esse episódio possibilitou ao grupo a reflexão sobre as possibilidades de questionamento em cada uma das tarefas e em cada um dos itens. José defendia uma classificação associada à instrução para a concretização do trabalho e Maria uma classificação associada ao trabalho concretizado: José: são três exercícios., determine, mostre que e determine, novamente. É linguagem que os alunos já conhecem. Maria: Nada disso, o trabalho deles é que conta. Posso aprofundar como interpretam o enunciado e a figura, que uso dão à calculadora. Isso é importante. José: Sim, importante, Mas, a discussão de estratégias de resolução passa por isso também. Por exemplo, os alunos podem distinguir o resolva do determine. Maria: Nos exercícios, acho eu, vejo mais os erros que os alunos cometem. Nos problemas, aprofundamos as estratégias e é sobre essas que pretendia questionar com esta tarefa. (STC13) 238 As possibilidades de trabalho para o aperfeiçoamento de estratégias de resolução foi um aspeto significativo, em várias das referências de Maria, para justificar a realização da tarefa pelos alunos. Tendo em conta uma estratégia de continuidade, de tarefa para tarefa, Maria salientava a necessidade de dar continuidade ao trabalho realizado nas tarefas anteriores. Maria procurava salientar as analogias que os alunos, inevitavelmente, faziam com o trabalho concretizado anteriormente. Na tarefa T3, Maria destacava essa necessidade de ligação com outros trabalhos realizados em aula com a inclusão de uma nota na tarefa: Para mim, esta nota vai orientar os alunos para um processo de resolução que já realizaram anteriormente. É uma estratégia de continuidade para consolidarem determinadas capacidades e é sobre a aproximação ou o afastamento dessa nota que vou questionar. (STC13) A tarefa T5, Cone, foi proposta por mim para efetuar a revisão dos conteúdos de geometria. Maria considerou a tarefa adequada para trabalhar a geometria do 11.º ano, possibilitando a associação com a geometria de 10.º ano e com a trigonometria de 11.º ano. Apesar de incluir muitos conteúdos, Maria realçou o aspeto integrador da tarefa já que, segundo a própria, geralmente não utiliza tarefas que incluam vários conhecimentos de temas matemáticos diferentes. Quando isso acontece, os alunos concretizam com dificuldade e o seu trabalho também fica mais difícil: Inclui dois temas, geometria e trigonometria, e dois anos, 10.º e 11.º anos, parece complicado. Não tenho por hábito usar tarefas que integrem vários conteúdos, são mais difíceis para os alunos e é mais complicado o trabalho na aula… (STC19) A tarefa T6 é um problema de aplicação das funções racionais e requer dos alunos um bom nível de desenvolvimento da capacidade de compreensão, item 1. e item 2.. O enunciado foi adaptado de um teste intermédio do 11.º ano e, segundo Maria, considerados dois problemas através do IMPROVE, em que o item 2. visava avaliar o uso da calculadora gráfica. Emergiam os aspetos relacionados com a estratégia de resposta (reconhecer os saberes). Maria esperava que os alunos apresentassem dificuldades de interpretação do enunciado, mas ao nível da utilização da calculadora gráfica as expetativas eram positivas, em virtude da existência de práticas anteriores na manipulação desse recurso: 239 Vai ser uma tarefa difícil de compreender, nem sei se vão interpretar corretamente, mas dá-lhes [aos alunos] as ferramentas necessárias para resolverem problemas no futuro. O item de calculadora, igualmente difícil de compreender, poderá ajudar a aferir os procedimentos e avaliar a qualidade das respostas dadas com recurso à calculadora gráfica. (STC20) A tarefa T8, dois exercícios (item 1.1 e item 1.2) e um problema (item 1.3), foi desenvolvida por Maria em apenas uma aula, uma vez que por necessidade do cumprimento dos conteúdos necessários à realização de avaliação de características sumativas não foi possível dedicar-lhe mais aulas. Este facto não serviu de maior relevância, uma vez que Maria considerou que a T8 permitiria sintetizar a unidade das funções racionais e aliar o procedimento analítico e o procedimento gráfico, destacando as potencialidades e a exequibilidade de cada um deles. Não se apresentou como contendo desenvolvimento de conhecimentos novos, antes apresentava-se como uma tarefa de consolidação e sistematização: Escolhi-a por ser importante sintetizar e consolidar o trabalho realizado ao longo do período nas funções. Será a oportunidade para realçar aspetos importantes para o trabalho em matemática, nomeadamente o entendimento dado aos processos analíticos e aos processos gráficos. (STC22) Método de trabalho. Maria afirma que a forma de trabalho dos alunos em sala de aula não afeta as suas práticas letivas. Interage bastante com os alunos nas aulas e por isso mesmo, quer os alunos trabalhem individualmente ou quer trabalhem em grupo, promove sempre momentos de partilha e de discussão entre eles: Às vezes esqueço-me de propor trabalho de grupo porque estamos sempre, na sala de aula, a trabalhar em grupo e por vezes, em grupos, de 2 ou 3 elementos. Isso não me afeta e até sugiro que perguntem uns aos outros. (EM1) Mas, para a planificação do trabalho a realizar em sala de aula, e para a concretização deste estudo, foi necessário planificar a forma de organização dos alunos em sala de aula. Na tarefa T1, optou-se pelo trabalho em grupo para que os alunos partilhassem as suas dificuldades na resposta a cada um dos itens. Maria justificou essa escolha pela naturalidade com que os alunos se envolvem nas tarefas da aula e com a possibilidade de ultrapassarem as dificuldades de manipulação de expressões algébricas em conjunto: Em grupo, organizam-se melhor e já estão habituados a trabalhar assim sempre. Há outro motivo para preferir o trabalho de grupo, o item 1. exige o trabalho com as fórmulas trigonométricas e o item 2. com as razões, por 240 isso, em grupo, ajudam-se uns aos outros na escolha e na resolução, encontrando os valores, …etc. (STC 10) Para a T2, Maria defendeu que o trabalho em aula tivesse momentos de trabalho individual e momentos de trabalho em grupo. Inicialmente, os alunos trabalhariam o item 1. em grupo e os outros três itens individualmente. A partir dos argumentos de José, Maria concordou que o item 1. devia ser trabalhado em grupo pelos mesmos motivos apresentados para a T1 e confessou-se convencida pela atribuição de uma natureza individual ao mostre que, à comparação de resultados e ao determine, nos itens seguintes: Acho que sim, o primeiro é semelhante aos da tarefa T1 mas os itens seguintes requerem alguma reflexão individual, quer o mostre que, quer a comparação e o determine são de outra natureza. Não tinha pensado nisso. Mas, realmente, precisam de reflexão individual do aluno. (STC12) Na tarefa T3, Maria também defendeu a utilização de uma forma de trabalho mista. Os itens a) e b1) seriam trabalhados em grupo e o item b2) individualmente. Maria argumentou que o último item, de calculadora gráfica, requer um tipo de resolução específica, por isso deveria ser resolvido individualmente. Para além da exploração individual da nota que faz parte do item b2), Maria referiu-se à avaliação das respostas dos alunos à questão de calculadora com potencialidade de mostrar a evolução dos alunos na aprendizagem daquele tipo de resposta: O b2) deve ser individual, não só pela exploração da nota, mas também para saber o que cada um faz nesse item. Eu estou convencida de que o resolverão com sucesso, mas poderemos analisar a evolução dos alunos pela forma como respondem aos itens com calculadora. (STC12) Maria não aplicou a tarefa T4, mas referiu que os itens de calculadora da T6 e da T8 chegavam para mostrar que os alunos efetivamente regulam a sua aprendizagem, se apresentassem cuidado na forma como respondem e se mostrarem preocupação em incluir todos os pontos solicitados na proposta de trabalho: Nos itens com calculadora, os alunos mostraram uma abordagem diferente, uma evolução positiva. Na T4, lembro-me de acompanhá-los e remeter várias vezes para a nota do enunciado, enquanto na T8 eles [os alunos] chamavam-me…mas era só para confirmar. (STC 22) Nas tarefas T5 e T6, optou-se pela forma de trabalho mista. Geralmente, os primeiros itens em grupo e os que requerem “maior treino” (expressão usada por Maria) individualmente. Na opinião de Maria, os itens a) e b) da T5 e o item 1. da T6 podiam ajudar bastante os alunos na compreensão do enunciado dos problemas e por isso 241 deviam ser feitos em grupo para que exista partilha e discussão. Quanto aos itens c) da T5 e 2. da T6 são um procedimento que os alunos podiam apreender com “maior treino” neste tipo de itens: Há processos que podem ser treinados e outros não. Os primeiros itens são para compreensão da tarefa e isso deve envolver discussão e partilha por isso prefiro o trabalho de grupo nos itens a) e b) da T5 e no primeiro da T6. Nos seguintes requerem maior treino dos alunos e, individualmente, podemos ajudá-los a treinar e isso serve a aprendizagem para um tipo de resposta. (STC 19) Maria promoveu o trabalho de grupo em contexto informal. Isto é, o trabalho em grupo ou individual dependeu do processo que os alunos usavam para responder e dos objetivos de aprendizagem que preconizava para cada uma das tarefas. Maria não se referiu ao número de alunos por grupo. Síntese. Maria privilegiou as potencialidades do trabalho individual ou de grupo em sala de aula, nas tarefas selecionadas, em função dos percursos de aprendizagem. Em IP-A, a aposta num trabalho de continuidade, em que as tarefas serviam para desenvolver a aprendizagem, serviu de mote à seleção das tarefas e do método de trabalho. Na escolha, Maria procurou que as tarefas incluíssem, também, potencialidades de questionamento para que conhecesse aquilo que os alunos sabiam, os erros que cometiam e as dificuldades que tinham e como as ultrapassavam. Não deixando de ser salientado por Maria, a possibilidade das tarefas escolhidas servirem ao professor para adaptar o processo de ensino e ao aluno para regular a aprendizagem. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as tarefas, os principais objetivos de aprendizagem e os métodos de trabalho, respetivos. QUADRO 28: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM IP-A (MARIA) Tarefa T1 T2 T3 T5 T6 T8 Objetivo geral Manipular as fórmulas trigonométricas Aplicar as razões trigonométricas Resolver problemas Relacionar a Geometria e a Trigonometria Desenvolver a capacidade de compreensão e interpretação Distinguir o procedimento analítico e o procedimento gráfico em Funções Método de trabalho Díade Misto: individual e díade Misto: individual e díade Misto: individual e díade Individual Individual Durante a aula A análise da interação professor - alunos na aula (IP-A) é feita a partir dos momentos em que Maria interagiu com os alunos, adotando uma postura de 242 questionamento. Incluo episódios da interação de Maria com um aluno, ou com um grupo de alunos, ou com toda a turma, consoante o momento da aula em que ocorreram. Autorregulação da resposta Compromisso com as tarefas matemáticas. A tarefa Triângulos (T1) foi desenvolvida em três aulas. Na primeira aula, ocorreu a exploração da tarefa pelos alunos com o questionamento de Maria, na segunda, os alunos receberam o produto do trabalho realizado na primeira aula em conjunto com o feedback escrito e concluíram a tarefa, e na terceira, Maria discutiu a tarefa, em grande grupo, com a turma. A tarefa foi proposta para trabalho em grupo, dois ou três elementos por grupo, fazendo Maria uma distribuição aleatória dos alunos pelos grupos com o cuidado de manter juntos os alunos observados: Carlos e Joana; Andreia e Patrícia. Maria entregou a proposta de trabalho em fotocópia, uma folha por grupo, e circulou pela sala para os apoiar nas dúvidas que surgiam. A primeira questão dos alunos foi se poderiam consultar o caderno para verificarem as fórmulas, pedido a que Maria acedeu favoravelmente. Na sua opinião, os alunos estavam um pouco confusos porque era pedido o valor exato da expressão 1 + cos α , julgavam eles que se senα tratava de uma fórmula: Os alunos até conheciam as fórmulas que tinham sido tratadas na aula, mas estavam confusos. Pensavam que eu estava a pedir o valor de uma fórmula. Inicialmente, não passava pela cabeça deles que teriam de usar uma fórmula para calcular cos α e outra para calcular senα . (STC 12) Maria questionou os alunos sobre o que procuravam (fala 1), mas os alunos não revelaram, de imediato, essa procura a Maria (fala 2), apesar da insistência (fala 3), talvez porque ainda não estavam suficientemente confiantes na finalidade daquele trabalho: 1. 2. 3. 4. Maria: Querem ver o quê, no caderno? Carlos: Apenas confirmar se estamos a pensar bem! Maria: Queres que te diga as fórmulas que existem? Carlos: Já sabemos, obrigado. (A1M) O primeiro episódio IP-A também revela alguma insegurança de Maria no questionamento e na forma de abordar os alunos, pois tinha sido acordado, nas sessões de trabalho colaborativo, que não seriam dadas orientações muito precisas. Já no 243 desenvolvimento da tarefa, Maria questionou os mesmos alunos, Carlos e Joana, sobre a forma como organizavam a resposta, não tendo estes alunos reparado que tinham os cálculos errados: Maria: Calculam o cos α e depois? Carlos: Depois do cos α vamos ao senα e já está! Maria: Mas, têm certeza de que está certo? O cos α ? Joana: Pois não está! Para a stora dizer isso. Carlos: Enganei-me? Maria: Apenas perguntei, mas acho que não pode ser esse o valor. Voltem à tarefa e analisem todos os dados. É apenas uma sugestão. (A1M) Maria parecia não conseguir apoiar todos os alunos, e percorria os vários grupos a alertar para alguns aspetos do enunciado da tarefa. Na situação seguinte, os alunos não consideraram que o cos α poderia ser positivo ou negativo, pelo que não tiveram a necessidade de considerar o sinal do cos α na escolha do valor correto: Maria: Leiam o enunciado. Um ângulo agudo? Diz-vos alguma coisa? Andreia: Sim, é um ângulo menor do que 90º. Mas isso é importante? Maria: Não vou responder. Mas, apenas digo que não há dados em excesso no enunciado da tarefa. (A1M) Maria remeteu para o enunciado da tarefa, mas com pouco impacto nos alunos. Já na tarefa T2, Eratóstenes, Maria, em duas aulas, foi mais incisiva e esclarecedora relativamente ao que deveria ser o trabalho a realizar pelos alunos. Maria estimulou os alunos a discutirem entre si para interpretarem e compreenderem as etapas necessárias à resolução da tarefa: Maria: Quero que leiam o enunciado, discutam entre vocês, mas não perguntem. Eu quero, isso mesmo, saber se interpretam bem e como atacam o enunciado. Carlos: Mas é para mostrar com valores concretos? Maria: No item 2. e 3.? Vejam melhor. Que acham? (A4M) Os alunos apresentavam dificuldades em manipular o mostre que do item 1., Maria entendeu manter o compromisso com a tarefa e não dizer, de imediato, que não poderiam atribuir valores numéricos a R, nem a α , nem a h. Mesmo com a sugestão dada, os alunos não associavam a pergunta à manipulação de razões trigonométricas: Andreia: Stora, Stora, não faço ideia do que fazer para a 1., a 2. já sei! Maria: Procura compreender o que é pedido. Andreia: É um mostre que… é isso. Maria: Leiam de novo, e vejam a figura… procurem dar sentidos às duas coisas. Patrícia: Um triângulo retângulo? 244 Maria: Explorem a vossa ideia, mas não esqueçam qual é a pergunta e a figura. (A4M) Na tarefa T3, os alunos leram com entusiasmo o texto da proposta de trabalho e pareciam compreender o que lhes era solicitado no item a). Mas, quando Maria começou a apoiar os vários grupos apercebeu-se da dificuldade dos alunos em manipularem a calculadora e orientou-os para a proposta de trabalho: Maria: Usam graus ou radianos? Carlos: Nem sei, acho que são graus. Maria: Vejam o enunciado da tarefa. Joana: Mas com zero dá o mesmo, em graus e radianos! Carlos: Sim, sim…mas em π é diferente. Maria: Devem ver de novo e usar as unidades na unidade correta para esse problema. (A4M) O outro grupo de alunos observados, também teve dificuldade em trabalhar o item b1). Essas alunas começaram por chamar Maria para lhe mostrar a existência de um erro no enunciado na tarefa, a troca entre senα e cos α (fala 1). Maria explicou-lhes que estava tudo correto e que a relação do item b) era diferente da expressão do item a), recorrendo à proposta de trabalho (fala 1). Mas, com alguma dificuldade em convencer Patrícia, Maria optou por questionar as duas alunas sobre o processo de resolução da proposta de trabalho e sugeriu que Andreia explicasse a Patrícia o que compreendia (fala 10): 1. Patrícia: Stora, isto está mal? (apontando para o senα do item b)) 2. Maria: O quê? 3. Patrícia: A expressão está errada, deveria ser com senα . A stora enganou-se! 4. Maria: Enganei-me em quê? Isso está tudo certo. 5. Andreia: Stora, ela pensa que a fórmula devia ser a mesma. 6. Maria: ahhhh! Não, não é. Aqui [na a)] é a distância e nesta [na b)] é uma relação entre o tempo t e o tempo T, lê de novo. 7. Patrícia: Mas, não devia ser a mesma. 8. Maria: Não, não,… são duas coisas diferentes, embora se juntem no b2) 9. Patrícia: Juntam como? Não percebo! 10. Maria: Andreia, ajuda-a… leiam a tarefa, e explica-lhe. 11. Andreia: Vou tentar! (A4M) Maria remeteu as duas alunas para o enunciado da tarefa, mas, também, estimulou uma aluna a explicar à outra o que compreendera sobre o enunciado da tarefa. Maria assume, assim, o compromisso com o enunciado da tarefa como um documento 245 orientador do trabalho a realizar e uma forma de suscitar a partilha e a negociação de significados, no trabalho realizado: Naquele momento fiquei aflita, mas pareceu-me que a Andreia conseguiria convencer melhor a Patrícia de que se tratava de duas expressões independentes entre si e que eram trabalhadas de forma diferente no item a) e no item b1). Acho que as alunas, em geral cada um dos grupos, têm de ser capazes de lidar com a proposta de trabalho, partilhar as suas dúvidas e as esclarecerem uns dos outros. (STC 12) Na tarefa Cone (T5) Maria usou uma estratégia semelhante perante a dificuldade dos alunos em compreenderem a forma de apresentarem a resposta ao item a). Maria, quando os alunos se confrontaram com as diferentes estratégias de resposta, apelou a que as discutissem e procurassem identificar as diferenças de forma a encontrarem uma resposta correta e completa: Maria: Precisam de ajuda? Carlos: Eu acho que devemos escrever a equação do plano… sabemos o A, o B e o V, da mesma forma …podemos fazer aquela do vetor normal. Maria: E depois? Como concluis? Joana: Tenho uma ideia diferente. Penso que A é (x, 0, 0) e posso substituir no plano repetindo para o B e o V, mas não sei se isso mostra! Maria: Discutam e leiam a pergunta. Mostre o quê? Vejam a questão, de novo. (A4M) A tarefa T6 revelou-se complicada pela interpretação. Em especial, os alunos tiveram dificuldade em compreender o significado de t e em relacioná-lo com a informação dada no item 1. As informações se a Maria sair de casa às 7h40m e se sair de casa às 7h55m foram difíceis de relacionar com os valores de t=10 e de t=25, o que não ajudou na concretização da tarefa. Maria, junto dos alunos, questionou-os sobre os significados das variáveis e sobre a concretização para que pudessem avançar no trabalho: Maria: O que representa o t? Andreia: Diz aqui, t minutos depois das sete e meia. Maria: Então avancem! Patrícia: Pois… Mas, como? A pergunta é se chega atrasada ou não. Maria: E o d? Relacionem o t com o d e estabeleçam um plano de resposta. (A4M) Maria, também, remeteu os alunos do outro grupo para a relação entre as duas variáveis, transformando o apoio dado à interpretação numa forma de avançarem no trabalho. Mas, uma das alunas, a Joana, cometeu erros de cálculo e não obtinha as 246 8h11m, o que não ajudava a confiança no desenvolvimento da estratégia correta e, aí, Maria foi mais direta e solicitou a verificação dos cálculos: Carlos: Troquei t por 10 mas não me dá 8h11m. Maria: Mas devia dar? Carlos: Sim, porque são 10 minutos depois das 7h30m. Joana: A mim deu-me. Também com 10. Maria: Verifica os cálculos, Carlos. Deve ser dos cálculos. Carlos: Pois dividi 5600 por 100 e somei 300! (A4M) Estímulo às estratégias individuais. Um aspeto significativo no desenvolvimento da capacidade de autorregulação é o apoio às estratégias individuais de abordagem aos problemas e aos exercícios. Na T1, os alunos começaram por pesquisar no caderno diário as fórmulas que estariam relacionadas com as razões trigonométricas seno, cosseno e tangente. Apesar de Maria intervir para questionar os alunos sobre a pesquisa que realizavam, a sua interpelação procurava apurar a forma como interpretavam o enunciado da tarefa (falas 1 e 3) e a estratégia que estabeleciam para responder ao item (falas 6 e 8): 1. Maria: Sabem o que fazer? 2. Andreia: Temos a fórmula fundamental aqui no caderno e as outras duas, mas não é o pedido! 3. Maria: Sim! E o que é pedido? 4. Patrícia: Seno e cos. Mas, não está igual a nada! 5. Andreia: Sabendo que a tangente é 5/4, mas a pergunta não tem tangente! 6. Maria: Pois…mas, qual é o objetivo da vossa pesquisa no caderno? 7. Andreia: As fórmulas! 8. Maria: As fórmulas? E para que querem as fórmulas? 9. Patrícia: Deixa! Já sei… vamos fazer cálculos auxiliares com a fórmulas. 10. Maria: Isso mesmo, continuem… sigam o vosso caminho. (A1M) No item 2. da T1, os alunos dos dois grupos observados seguiram estratégias diferentes para alcançarem o pedido. Andreia e Patrícia descreveram a proposta de trabalho através de um sistema de equações. Essas alunas optaram por escrever as h tg 52 = x + 20 equações e Maria apoiou essa resolução (fala 1 e 3), incentivando as h tg 65 = x alunas a prosseguirem (fala 5): 1. Maria: continuem… conseguiram o mais difícil! 2. Andreia: Mas stora, temos de calcular o h e o x, qual fazemos primeiro? 247 3. Maria: Pode ser qualquer um …o primeiro não interessa. 4. Patrícia: A pergunta é a altura…h? 5. Maria: Pois, mas podem continuar a resolver o sistema…continuem. (A1M) Os outros dois alunos, Carlos e Joana, escreveram apenas uma equação mas equivalente às expressões escritas por Andreia e Patrícia. Mesmo assim, depois de alguma hesitação, Maria continuou a apoiar os alunos na continuação do desenvolvimento da estratégia ( x − 20) × tg 65 = x × tg 52 , embora tenha procurado aprofundar a origem da equação (fala 1) e a estratégia defina por esses alunos para elaborar a resposta (fala 7): 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Maria: Como escreveram essa equação? Carlos: Vimos no caderno! Não está certa? Maria: Sim, sim, está. Mas, qual foi a fórmula que usaram? Joana: No meu caderno tenho CA × tgθ = CO , e neste caso o cateto oposto é comum aos dois triângulos por isso aproveitámos a igualdade. Maria: Percebi! Carlos: Serve? Dá para chegar ao resultado? Maria: Depende da vossa estratégia. Qual é? Carlos: Encontrar x e escrever de novo CA × tgθ = CO para encontrar a altura. Maria: Continuem. (A1M) Na T2, os alunos apresentaram dificuldades em trabalhar com o mostre que. Inicialmente, o grupo Carlos e Joana substituíram α por 5º, 10º, 20º e 30º e concluíam: o valor de h deve aumentar à medida que α aumenta, só assim R é constante. Confrontada com esta afirmação, Maria, prontamente, disse que não a podia aceitar como resposta ao mostre que, embora a afirmação fosse correta (fala 3). Os alunos reafirmaram a correção da resposta (fala 4), e questionaram sobre o caminho a seguir (fala 6). Maria orientou-os a partir da conclusão dos próprios alunos (fala 7), embora desse uma pista, remetendo para as razões trigonométricas: 1. Joana: Isto está certo, mas? Se não pode ser assim, que vamos fazer? 2. Carlos: O que a stora pretende? 3. Maria: Isso é uma afirmação certa sobre a expressão, mas não mostra que a expressão é a verdadeira. 4. Joana: Mas é verdadeira! 5. Maria: Sim, sim. Mas, devem arranjar uma forma de chegar a esse resultado. 6. Carlos: Como? 248 7. Maria: Por exemplo, já sabem que tudo depende de α , escrevam a AC e procurem chegar ao pretendido. (A4M) razão cos α = CB Segundo Maria, a abordagem dada por Carlos e Joana à T2 facilitou a resposta ao item a) da T3. Maria considerou que estes alunos usaram exatamente a mesma estratégia ao substituírem o valor de x por 0 , π e 2π : Este grupo já tinha usado esta estratégia antes. Na T2 também substituíram para compreender o que sucedia aos valores R em função de α . Aqui fizeram-no em função de x . É uma estratégia que usam para compreender e revelou-se bem-sucedida, pela resposta que deram. (STC15) Relativamente ao item b2) da T3, com recurso à calculadora gráfica, procuraram responder usando as duas relações apresentadas na proposta de trabalho. No entanto, ao utilizarem as representações gráficas, estas alunas visualizaram, em simultâneo, as três funções dadas no enunciado, y1 = 2π × 41 , 365,24 y 2 = x − 0,0167senx e y 3 = 149,6(1 − 0,0167 cos x ) , não conseguindo identificar o que procuravam. A intervenção de Maria passou por pedir para identificarem o que estão a calcular com y1 , com y 2 e com y 3 , apoiando assim o trabalho realizado, mas questionando os alunos para que selecionassem os dados do problema necessários para responder: Joana: Temos as três funções, mas as interseções são difíceis de encontrar. Maria: Sim. As três? Joana: As três da ficha. Carlos: Colocámos no y1 o 1.º membro desta relação. Maria: Já percebi…e procuraram a interseção! Carlos: Mas, tá difícil. Maria: Procurem identificar o que é y1 , y 2 e y3 , para perceberem o que procuram e o que podem usar. (ST15) Para a T5, item a), Andreia e Patrícia quiseram escrever a condição do plano ABV a partir dos dados apresentados, constantes na figura. Maria interveio junto das alunas para apoiá-las nessa intenção mas, também, para lhes mostrar a utilização que poderiam dar à figura na resolução do item. As alunas identificaram que o ponto A tinha ordenada e cota nula, e de modo semelhante para os restantes pontos, mas como não queriam usar os dados relativos ao comprimento do raio da base e da altura do cone não conseguiam avançar. Maria, essencialmente, procurou dar continuidade à estratégia programada 249 pelas alunas para responder à situação, dando-lhes uma pista para a ultrapassagem dessa dificuldade: Andreia: A é (x,0,0), B é (0,y,0) e V é (0,0,z), mas o que fazemos com [AC] e [BD]? Patrícia: Aqui diz que [AC] e [BD] são diâmetros da base, mas não pertencem ao plano? Pois não? Maria: Como querem responder? Isso é que é importante, qual a vossa estratégia? Andreia: Como assim… queremos mostrar que… Maria: Não é isso, para que precisam dos pontos? Qual o caminho que querem seguir? Patrícia: Queremos os pontos para encontrar o vetor normal e escrever a equação do plano! Maria: Então têm de usar o 3 e o 4. Andreia: E isso pode ser? Maria: Verifiquem… (A8M) Na mesma tarefa, T5, item b), Carlos desconhecia a condição que define uma esfera e isso impedia-o de dar continuidade ao seu trabalho, pois não sabia por onde começar. Nesse caso, Maria tentou compreender, junto do aluno, se a falta desse conhecimento se devia a algum erro, mas percebeu que o aluno não estava a relacionar a condição com a distância a um ponto fixo, e apoiou-o, individualmente, colocando as mãos na forma de esfera: Carlos: O que é a condição que define a esfera? Maria: Estudámos no ano passado, a esfera e a superfície esférica… Carlos: Não estou a ver, stora. Maria: Têm apenas um sinal diferente… Carlos: ??? Não sei. Maria: A superfície esférica é uma bola, sem recheio….imaginas? Carlos: Sim, Maria: A distância de qualquer ponto dessa bola a um ponto fixo, o centro, é sempre a mesma… já a esfera… (A8M) Na T6, Andreia e Patrícia tiveram alguma dificuldade em compreender o problema proposto, o que dificultava o início da resolução. Só depois da ajuda de Maria, estas alunas conseguiram perceber o significado de t . O questionamento de Maria, assertivo e num tom de voz agudo, orientou e possibilitou a correção do erro. Neste episódio, Maria diversificou o apoio dado, ajudando na interpretação, para que as alunas compreendessem o que estava a ser pedido e o que lhes era dado no enunciado, adotando uma postura muito direta e altiva: Maria: Às 7h40… quanto tempo depois das 7h30? Andreia: 10 minutos. Maria: Então? 250 Patrícia: Mas 7h40 mais 10 dá 7h50 e pede para mostrar que dá 8h11 Maria: E a função d? Não a usam? Não serve para nada? (A10M) Para a T6, Carlos e Patrícia seguiram uma estratégia que já tinham utilizado em tarefas anteriores. Estes alunos substituíram t por 0, por 5 e por 10, para verificarem a evolução do modelo proposto por d(t), mas cometeram alguns erros de cálculo. Em particular, o erro cometido no valor de d(10) não permitiu aceitarem o modelo como verdadeiro. Maria questionou no sentido de levar os alunos a encontrarem os erros cometidos, principalmente esse erro no cálculo de d(10): Carlos: Com 0 e com 5 faz sentido, mas com 10 não! Maria: Então deve ser alguma coisa com d(10). Carlos: Já verificámos… e não vimos nada errado. Maria: De facto, não está errado…mas fizeram a conta mal. Carlos: Fizemos na calculadora! Maria: Mas explica-me como fizeste. Carlos: 45 menos 5600 a dividir por 100 mais 300. Maria: Foi isso? Então qual a diferença entre 5600 a dividir por 100 mais 300 e 5600 a dividir por 400? Carlos: Nenhuma! Maria: Faz na calculadora e na próxima explicas-me onde está o erro! (A10M) Na T8, item 1.2., Carlos e Joana apresentaram alguma dificuldade em explicarem o significado da solução encontrada no contexto da situação descrita, em parte porque usaram uma resolução analítica. Os alunos usaram com facilidade esse procedimento matemático, construindo um quadro de sinais, e escreveram a resposta na forma de intervalo de números reais, mas não relacionaram essa resposta com as variáveis r e t. Maria agiu e questionou-os acerca do significado das variáveis para identificar a variável respeitante ao intervalo, levando os alunos progredirem: Joana: Interprete? Maria: Sim…o que significa? Carlos: A resposta é isto. Maria: Não. Esse é o intervalo…mas ele diz respeito a r ou a t? Carlos: A t, não é? É, é a t! Maria: O que significa o r e o t? Expliquem a resposta a partir daí. (A11M) Articulação de ideias próprias. Maria promoveu a participação dos alunos e a procura de respostas pelos alunos nas diferentes tarefas. Logo na tarefa T1, Maria não validou as respostas de Andreia e Patrícia, pelo contrário, procurou que as alunas fossem capazes de articular as suas ideias e de definir um percurso a seguir. Nesse episódio, Maria questionou as alunas sobre a forma como pretendiam organizar as suas 251 respostas. Esse comportamento de Maria auxiliou as alunas a desenvolverem as suas ideias e proporcionou a Maria o conhecimento sobre a direção prevista, pelas alunas, para a construção da resposta: Quando pedi à Andreia e Patrícia para explicarem como iam fazer, compreendi que queriam usar um sistema e apoiarem-se em cálculos auxiliares com as fórmulas trigonométricas para encontrarem as razões que faltavam. A minha ajuda era para que as alunas escrevessem as razões corretamente. (STC12) Ainda na tarefa T1, mas no item 2., Carlos e Joana usaram uma equação que provinha de trabalho que não se encontrava registado no caderno, nem na sua produção. Maria verificou a correção da equação no contexto do problema proposto e incentivou esses alunos a continuarem o trabalho planeado para responderem, embora procurasse que refletissem sobre o trabalho que executavam, em particular sobre a necessidade de apresentarem o caminho que percorreram para chegar à dita equação: Maria: Já responderam? Carlos: Está quase…mas, um pouco perdidos nas letras… Joana: Temos o valor de x, mas isso não é a altura! Maria: Como pensaram inicialmente? Que caminho queria seguir para responder? Carlos: Primeiro o x e depois a altura. Maria: Retomem a vossa estratégia…continuem, mas apresentem tudo o que fizeram para chegar aqui. (A1M) Na T2, o mesmo grupo, Carlos e Joana, também pretendiam responder aos itens 2, 3. e 4. de uma forma integrada, uma vez que as perguntas estavam relacionadas. Maria, não se opôs à pretensão dos alunos, mas reafirmou-lhes a necessidade de explicarem, convenientemente, o que estava a ser solicitado em cada um dos itens: Carlos: Podemos responder apenas ao 4.? Incluir nessa resposta o 2. e o 3. Maria: Expliquem-me isso melhor! Joana: Responder ao que é pedido na 2., na 3. e na 4., uma vez que temos de comparar e aí calculamos. Maria: Podem, mas devem explicar isso muito bem…a comparação que fazem e como obtiveram esses valores. (A4M) Maria procurava que os alunos respondessem e, em simultâneo, argumentassem sobre a veracidade das suas conclusões. Por exemplo, Andreia e Patrícia responderam ao item 4. da T2 que o valor de h diminui quando α diminui e Maria exigiu a respetiva justificação. Quando confrontada com essa decisão, Maria não hesitou em considerar que a explicação da resposta seria fundamental para a autorregulação da aprendizagem, 252 por ser um momento que exige a reflexão e a organização do raciocínio para responder, ou seja uma justificação: Pedi a justificação, sim. Era fundamental que elas conseguissem pensar sobre o assunto, organizassem esse pensamento e respondessem com eficácia. Do meu ponto de vista, essa reflexão e esse raciocínio é fundamental para que regulem o trabalho que fazem e possam saber como aplica-lo em outras situações. Apensar do enunciado não pedir justificação, faço esse pedido oral para fomentar nos alunos a autorregulação. (STC13) No desenvolvimento da tarefa T3, também há evidências da importância dada por Maria à justificação das respostas. No item b1), o par Andreia e Patrícia não conseguia estabelecer a relação entre os dados do problema e o caminho a seguir para chegar a t= T . Maria, quando interpolada, sugeriu que essas alunas interpretassem o resultado 2 no contexto da situação descrita e, depois, concretizassem, mas a interpretação devia ser justificada: Andreia: Stora, não conseguimos começar…a partir de x = π para T chegar a t = 2 Maria: Sim. Joana: Mas, não estamos a ver o caminho a seguir. Maria: Admitam que isso é verdade. Como interpretam esse resultado no contexto da situação descrita? Joana: Mas, isso, também, é pedido. Maria: Claro! Comecem por justificar … e, depois, calculem. Andreia: Percebi…a stora quer que façamos ao contrário… (A6M) Quando os alunos apresentaram dificuldades de interpretação, para além das estratégias já referidas, Maria, também, incentivou os alunos a confrontarem as suas ideias com as dos seus colegas para ultrapassarem as dificuldades e para explicitarem as suas ideias. Na tarefa T5, item a), Maria sugeriu que Andreia e Patrícia discutissem as suas ideias sobre a concretização desse item de modo a estabelecerem um percurso de resposta. Andreia procurava as coordenadas dos pontos D e B para determinar a norma de BD e depois o raio, enquanto Patrícia pretendia determinar as coordenadas dos pontos V e B para determinar a norma do vetor BV e depois confirmar o raio e a altura, com o teorema de Pitágoras. As duas alunas não conseguiam relacionar a equação do plano ABV com a determinação das coordenadas dos pontos. Não avançavam porque não conseguiam encontrar pontos de ligação entre cada uma das duas estratégias: 253 Andreia: Posso determinar a norma do vetor BD e depois o raio, não tenho é as coordenadas dos pontos. Patrícia: Não. No mostre que…temos de verificar. Podemos determinar a norma do vetor BV e depois confirmar o raio e a altura, com o teorema de Pitágoras. Andreia: Não podes usar os dados…mas, faltam as coordenadas. Maria: Leram o problema…e quais são os dados? Andreia: A equação do plano ABV. Maria: Discutam a viabilidade dos vossos caminhos… mas têm de usar a equação do plano. Patrícia: O plano contém os pontos A, B e V. Podemos calculá-los. Andreia: Podemos usar os dados? Maria: Como defendem cada uma das resoluções? (A8M) Na tarefa T8, Maria também incentivou o Carlos e a Joana a discutirem as suas dificuldades e argumentarem de forma a confrontarem as suas propostas. Os alunos estavam indecisos entre o procedimento analítico e o procedimento gráfico para responderem ao item 1.1.. Maria remeteu-os para a discussão no seio do par e para a justificação das conclusões a que chegassem ao aplicar processos analíticos e ao aplicar processos gráficos: Carlos: A 1.1. pode ser com a calculadora gráfica? Joana: Não diz nada, por isso tem de ser analiticamente. Carlos: Isso não é justificação. Pois não, stora? Maria: Tens razão…mas discutam em que condições aceitar cada um dos procedimentos de resolução. Carlos: Podemos definir? Maria: Podem argumentar, e depois discutimos em turma. Joana: Mas, este não diz «recorrendo à calculadora gráfica». Maria: Por que será que não diz? Pensem…argumentem… (A8M) Maria verificou que os alunos não efetuavam os registos escritos das tentativas que efetuavam para dar resposta aos problemas, principalmente as tentativas mal sucedidas. Esse aspeto suscitou a intervenção de Maria nas tarefas iniciais, em particular T1 e T2. Na tarefa T1, item 2., Andreia não conseguia estabelecer uma relação entre [AD] e [DC] porque cometia um erro ao escrever a razão trigonométrica. Sistematicamente, escrevia senα = hip c.o. e não encontrava o resultado, depois usou, também com erro, a razão cosseno, escrevia cos α = hip , mas apagava as diferentes c.a. experiências e não percebia que as dificuldades resultavam da escrita errada das fórmulas, pois não confrontava as sucessivas tentativas que efetuava: Andreia: Stora, não consigo! 254 Maria: Sim? Andreia: Não dá a razão entre a altura e a base. Maria: Mostra-me as razões que usaste. Andreia: Apaguei. Maria: Não deves, como podemos analisar a exequibilidade de cada uma delas? E como saberei as que já foram experimentadas? (A1M) Na T2, Carlos, também, começou por substituir α por vários valores de ângulos, sem ordem e sem registo dos vários cálculos. A intervenção de Maria foi no sentido de orientar o aluno para a organização as suas experiências: Carlos: Umas vezes aumenta, outras diminui…como mostrar? Maria: Como? Carlos: Se substituir α por 30º o R aumenta! Maria: Aumenta como? Deves organizar as experiências. Carlos: Tenho o valor de 30º e faço, agora, 60º…R aumenta? Maria: Organiza esses dados, por ordem crescente, por exemplo. Começa com valores de α por ordem crescente, registando…e analisando os resultados. (A4M) Segundo Maria, essa estratégia, dada nas tarefas iniciais, foi implementada pelos alunos nas tarefas seguintes: Não verifiquei mais que tivessem feito experiências sem registo de dados. Isso resultou por ter reforçado, logo no início, que para encontrar um resultado podemos procurar o caminho a seguir…e nem sempre o caminho que escolhemos em primeiro lugar é o correto. (STC25) Síntese. Maria promoveu o entendimento que o aluno constrói sobre a tarefa através da orientação dos alunos para a proposta de trabalho. Maria assumiu o compromisso com as tarefas matemáticas como uma necessidade de compreender o trabalho que é necessário executar para responder à tarefa proposta, quer seja de Trigonometria, Geometria ou Funções. No questionamento, Maria utilizou termos e conceitos que fazem parte do enunciado da tarefa. O apelo a uma nova leitura da tarefa, ou o apelo à discussão, confrontando a própria interpretação com o compreendido por um colega, foi uma estratégia seguida por Maria para promover o desenvolvimento da autorregulação. Maria adotou uma postura que recorria às estruturas metacognitivas do aluno para responder a cada um dos itens das tarefas, principalmente em Trigonometria e Funções. Maria procurou que, os alunos, refletissem sobre o que faziam, no momento que faziam e como o faziam. Mas, neste caminho, Maria teve de adequar o questionamento a cada aluno, à situação e ao contexto em que o trabalho se desenvolve. O estímulo individual em Trigonometria e Funções, pela existência de relações entre variáveis 255 dependentes e independentes, serviu ao aluno e à aprendizagem quando foi contextualizado - focado no trabalho matemático e dirigido à estratégia individual. Ao valorizar as estratégias que os alunos procuravam seguir, Maria ajudava-os a seguirem as suas ideias e, também, a perceberem se as mesmas conduziam a produtos matemáticos bem-sucedidos ou não, e porquê. Esse aspeto foi essencial para autorregulação, por partir de processos concebidos pelo próprio aluno e por permitir à professora a certificação, razões, sem as quais o aluno não progride e não aprende. A valorização das resoluções dos alunos serviu de reforço positivo para os alunos e de compreensão para agir em ações futuras para a professora. O compromisso com as tarefas matemáticas ajudou na promoção da autorregulação por permitir que os alunos adquirissem métodos de trabalho que poderiam reproduzir em situações futuras, identificar erros de interpretação e de compreensão, predominantemente em Trigonometria e Funções. Em Geometria, Maria sugeriu que os alunos interagissem de forma a ultrapassar dificuldades talvez porque, também, apresentava algumas dificuldades em lidar com os objetos geométricos. Acrescente-se, ainda, que o questionamento para a reflexão, que Maria desenvolveu, suscitou o envolvimento dos alunos, pela curiosidade na procura de resposta para as tarefas colocadas e pela necessidade de justificar interpretações e definir um caminho a seguir. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de Maria nos três tópicos para promover a autorregulação da resposta, através da interação com os alunos. QUADRO 29: TIPO(S) RESPOSTA EM IP-A DE INTERVENÇÃO DE Tópicos para a autorregulação da resposta Compromisso com a tarefa matemática Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DA Tipo(s) de intervenção (Tarefa) remete para o enunciado da tarefa (T1; T3) estimula os alunos a discutirem entre si (T5) questiona sobre o significado das variáveis (T3; T6) solicita a verificação de cálculos (T3) recorre a termos e conceitos do enunciado (T6) ajuda na seleção dos dados necessários para responder (T1; T3; T8) encaminha a partir de estratégias definidas pelo aluno (T1; T2; T6) fornece pistas para a progressão (T2; T6) questiona para a identificação de erros e dificuldades (T2; T5; T8) não valida, imediatamente, a resposta do aluno (T1; T3; T5; T8) 256 reforça a necessidade de argumentação na resposta (T1; T2; T3; T8) apela ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas (T1; T2; T5) ajuda individualmente os alunos, pela partilha de respostas ou pela inclusão de justificações (T1; T2; T3) Autorregulação do desempenho Eficácia Matemática. Para a aprendizagem matemática e o desenvolvimento da autorregulação, Maria orientou o seu trabalho para um aumento significativo da eficácia matemática dos alunos. Em todas as tarefas foi possível observar a preocupação de Maria com a eficácia matemática dos alunos, alertando para a necessidade de responderem corretamente, com respostas completas e usando a linguagem matemática de forma adequada. Na tarefa T1, item 1., o grupo Andreia e Patrícia apresentava uma resolução muito confusa, por terem feito alguns cálculos auxiliares que apoiavam a resposta. Maria interveio, junto das alunas, e ajudou-as a corrigir os erros e a selecionar a informação relevante para completarem a resposta ao item: Maria: O seno é positivo ou negativo? Andreia: Positivo e negativo? Nós só temos o positivo! Patrícia: Pois…esquecemos de fazer +/-. Maria: É mesmo isso… Andreia: Mas, é positivo! É um ângulo agudo. Maria: Sim, mas quero a resposta completa e todos as justificações dada. Patrícia: Temos de escrever isso, né? Andreia: Pois…tá-se mesmo a ver que sim. Maria: Justifiquem por escolheram o + ou o -. (A2M) Também na tarefa T1, mas no item 2., Maria questionou os alunos do grupo Carlos e Joana sobre os conhecimentos usados. A equação que os alunos usaram para responderem ao item e encontrarem a altura incluía as razões trigonométricas mas, segundo Maria, não completamente explicitas: Fiquei atrapalhada com aquela equação… eles usaram CA × tgθ = CO , que estava no caderno para a dedução da razão da tangente…mas queria também perceber se sabiam as razões e perguntei. (STC12) Maria procurava que os alunos compreendessem a equivalência entre CA × tgθ = CO e tgθ = CO CA , uma vez que a primeira equação apresentava alguns erros de escrita formal. Nesse caso, o questionamento de Maria dirigiu-se concretamente ao 257 rigor do uso da escrita matemática, para que os alunos compreendessem a necessidade de usá-la com vantagem: Maria: Nessa equação, CA × tgθ = CO , o que são o CO e o CA? Joana: Cateto adjacente e cateto oposto, vimos no caderno! Maria: CA é uma reta, que contém os pontos C e A! Deves querer dizer CA comprimento do segmento [CA] e desenhar o triângulo que usam. Carlos: Sim… é isso professora! Andreia: Mas, está bem! Maria: Pode estar, mas não estão a comunicar usando a linguagem matemática corretamente…e isso pode ser confuso. Carlos: Vamos alterar. Maria: Devem rever…e acrescentar apenas o que falta. (A2M) Na tarefa T2, item 1., existiram vários erros de cálculo que tiveram de ser corrigidos e que afetavam a resposta, uma vez que os alunos não conseguiam chegar ao resultado pretendido. Por exemplo, Andreia e Patrícia, depois de compreenderem que deveriam seguir a sugestão dada no enunciado, na resolução da equação, passaram (R+h) a multiplicar mas sem parêntesis, o que afetou a resolução a partir daí. Embora, as alunas apresentassem algumas estratégias de autorregulação (falas 2 e 4), precisaram da ajuda de Maria para corrigirem a resposta (fala 3): −h , mas isso não é o resultado. cos α − 1 2. Andreia: Pois…já vimos. Mas, não encontramos o erro. 3. Maria: Vejam aqui, R+h não tem parêntesis. 4. Andreia: Pois…temos de multiplicar. (A4M) 1. Maria: Obtiveram R = No mesmo item, o outro par de alunos, Joana e Carlos, foi confrontado com o facto de ter usado a expressão dada no enunciado e substituído vários valores em α , o que não respondia à questão colocada: Maria: Usam a expressão de R, não mostram como chegar a esta expressão. Carlos: Mas, a fórmula é verdadeira … com ângulos agudos. Maria: Claro! Mas, a questão é mostre que…devem provar como obter a fórmula. Joana: Isso é muito difícil. Maria: Sigam a sugestão. (A4M) Na aula seguinte, Maria teve necessidade de reforçar para toda a turma que o mostre que exigia a apresentação de um caminho para chegar ao resultado sem que o mesmo fosse usado. Nesse momento, Maria recordou também outros itens do mesmo tipo realizados em aula e reforçou a sua importância para o conhecimento matemático e para o trabalho que efetuam na sala de aula. 258 Na tarefa T3, item b2), Maria procurou indagar junto de cada um dos grupos de alunos a completude da resposta dada a propósito da calculadora gráfica. Nomeadamente, Maria procurou que os alunos equacionassem o problema e apresentassem todos os elementos recolhidos na utilização da calculadora, em particular, os gráficos, e as coordenadas de alguns pontos relevantes: Maria: Qual é a vossa resposta? Joana: d ≈ 147,7 Maria: Uhh! Isso não chega! Para além do resultado temos de apresentar todo o processo de resolução, vê a pergunta. Joana: Mas, isso está na nota. Maria: Sim…mas têm de apresentar tudo o que é pedido ou correm o risco da resposta não ser considerada. (A6M) Na tarefa T5, item c), Carlos solicitou a intervenção de Maria para confirmar a estratégia de resolução usada. Este aluno pretendia encontrar o ângulo através da calculadora e depois determinar o valor de sen α . Para seguir esse caminho, Carlos devia usar valores aproximados, o que implicaria a não obtenção do valor exato de sen α : Carlos: Stora? Posso determinar o cos α e a seguir fazer −1 u • v α = cos . Depois, finalmente sen α . u ×v Maria: Não! Carlos: Não? Maria: Faz primeiro o cos α e depois vê como obter o valor de α , mas não esqueças que não podes usar valores aproximados, e tens de ter cuidado para saberes se o ângulo α é agudo ou não. (A8M) Maria reafirmava a necessidade de eficácia matemática para a tarefa com que o aluno se confrontava mas, também, para as tarefas que pudesse vir a enfrentar no futuro. Maria recordava que o sucesso da autorregulação dos alunos nas tarefas seguintes poderia passar pela valorização da eficácia matemática, através do reafirmar do rigor e da exigência de completude daquilo que são as respostas dadas: Nesse caso, eu tinha que responder daquela forma. Já o tinha feito antes. Os alunos têm tendência para facilitar nas respostas que dão e os professores muitas vezes assumem-nas como corretas emboras estejam incompletas. Eu considero que, promover a autorregulação da aprendizagem, também passa por ser mais exigente com os alunos nesse aspeto. Naquele caso, o Carlos poderia cometer vários erros… as aproximações, não ter em conta que o ângulo é agudo, etc…e depois o seno também era uma aproximação? (STC21) 259 Na tarefa T6, item 2., os alunos tinham de recorrer às capacidades gráficas da calculadora para resolver o problema proposto. Esse item serviu para verificar até que ponto os alunos colocavam em prática as estratégias de respostas que tinham experimentado em itens anteriores, em particular as evidências dadas na tarefa T3 sobre o que seria uma resposta correta e completa. O grupo Andreia e Patrícia concretizou, sem dificuldades, a parte do item de utilização da calculadora, o que deixou Maria satisfeita com o trabalho das alunas, mas o grupo teve dificuldade em interpretar e em explicar a expressão t + d (t ) , sendo orientadas nesse aspeto: Maria: O que fizeram? Andreia: y1 = t + d (t ) e y 2 = 60 e ver onde a representação de y1 = t + d (t ) está abaixo de y 2 = 60 . Patrícia: E já verificámos! Temos os pontos que a resposta deve incluir, mas não conseguimos explicar muito bem o primeiro. Maria: Ótimo! Ótimo! Andreia: Mas, falta o primeiro ponto. Maria: Expliquem o significado de t e de d (t ) separados e depois concluam, explicando o significado de t + d (t ) . (A10M) Carlos e Joana também concretizaram com sucesso a parte do item 2., da T6, que diz respeito à calculadora, e tentaram explicar a expressão t + d (t ) , embora o tenham feito com algumas imprecisões. Maria averiguou junto dos alunos a forma como responderam ao item e como estes alunos usaram uma abordagem diferente, embora igualmente correta. Estes alunos utilizaram a expressão t + d (t ) − 60 na calculadora e determinaram o zero dessa função: Maria: Já usaram a calculadora? Carlos: Sim, fizemos y1 = t + d (t ) − 60 e determinamos o zero…é equivalente? Maria: Sim, responderam à pergunta? Joana: Os pontos? Sim, já verificamos, temos todos os pontos que eram solicitados na pergunta. Como fizemos outras vezes em que usámos a calculadora. (A10M) Autoavaliação. Como foi referido no ponto anterior, os alunos na tarefa T6, em que usaram a calculadora gráfica, fizeram-no com sucesso e apresentaram estratégias de autoavaliação quando foram requeridas explicações sobre os procedimentos usados para obterem a resposta. Por exemplo, nessa tarefa, Carlos foi capaz de referir fizemos y1 = t + d (t ) − 60 e determinamos o zero…é equivalente? o que revela a sua capacidade de autoavaliação, por identificar a equivalência entre as duas expressões. Mas, na 260 mesma tarefa, T6, quando os alunos efetuaram a verificação das respostas ao nível da inclusão de todos os tópicos solicitados, revela também a valorização dada à autoavaliação. Nas primeiras tarefas verificou-se uma maior intervenção de Maria para promover a autoavaliação, questionando e incentivando à avaliação dos trabalhos realizados. Na Tarefa T1, Maria procurou que os alunos verificassem e corrigissem os cálculos que efetuavam no item 1., recorrendo às propriedades de trigonometria, à definição das razões trigonométricas, procurando que os alunos avaliassem a razoabilidade dos resultados obtidos: Maria: Lembrem-se que − 1 ≤ senα ≤ 1 e − 1 ≤ cos α ≤ 1 5 Carlos: Obtive senα = , por isso deve estar mal? 4 Maria: Claro! Temos − 1 ≤ senα ≤ 1 , não podem esquecer as coisas importantes Carlos: O cosseno está certo, porque − 1 ≤ cos α ≤ 1 (A1M) Na mesma tarefa, item 2., Andreia e Patrícia apresentaram alguns sinais de implementarem estratégias de autoavaliação. Nomeadamente, as alunas quando chegaram ao valor de AD ficaram satisfeitas por ser inferior a 20, uma vez que AB = 20m e, pela figura, AD deveria ser menor por estar representado com uma distância menor. Na tarefa T2, Maria discutiu com os alunos o item 4.: o valor de h diminui quando α diminui, conclusão que Carlos e Joana obtiveram logo no início da exploração da tarefa quando substituíram α por vários valores. Essa evidência dominou a exploração dos itens 2. e 3., pois os alunos poderiam sempre confrontar os resultados obtidos com a evidência intuitiva que tinham desenvolvido: Maria: Está tudo bem? Já verificaram os cálculos? Carlos: Está certo, pelo menos coerente. Como α diminui o valor de h também vai diminuir. Maria: Verifiquem se a aproximação está correta. Joana: Sim, estamos a escrever a conclusão. (A1M) Em outras situações, também, Maria sugeriu aos alunos que procurassem erros como uma forma de incentivar à autoavaliação. Em T3, item a), Andreia e Patrícia não confrontaram os resultados obtidos e estes divergiam. Solicitaram a intervenção de Maria que levantou algumas hipóteses que poderiam conduzir à identificação do erro, 261 sem identificar o erro, incentivou o desenvolvimento de estratégias de verificação da resposta: Andreia: Os nossos resultados estão diferentes! Patrícia: Chamamos a stora. Stora? Maria: Sim. Andreia: Temos os resultados diferentes e não conseguimos identificar o erro. Maria: Pode ser do valor de x, pode ser do valor de cosx, pode ser dos cálculos, fizeram primeiro o está dentro do parêntesis e depois a multiplicação? Pode ser um valor mal copiado do enunciado para proposta de trabalho… vejam isso. (A6M) De outro ponto de vista, a intervenção de Maria através do questionamento oral também promoveu a autoavaliação ao dar feedback ao trabalho dos alunos, enquanto o processo de aprendizagem se desenvolve, e ao aceitar a reformulação desse trabalho. Por exemplo, no item 1. da T2, os alunos só conseguiram mostrar o que se pretendia após o feedback de Maria e a reformulação das respostas seguindo a sugestão apresentada no enunciado foi o caminho seguido. Essa reformulação afetou positivamente o trabalho dos alunos, segundo Maria, porque sentiram-se motivados para continuar a investir na resposta à tarefa: A ajuda que lhes dei no mostre que foi preciosa. A partir daí encararam o trabalho de outra forma, como uma tarefa que serviria realmente para aprender e eu diria mesmo…nesse caso para aprender a autorregular. (STC13) Por último, deve ser destacada a diversidade de tarefas que foram trabalhadas. Não se tratando de tarefas rotineiras, Maria aproveitou as situações problemáticas envolvidas em cada uma das tarefas para destacar os pormenores teóricos do conhecimento, as propriedades e conteúdos, e ainda, realçar a necessidade de correção da linguagem matemática. Esses aspetos serviram a autoavaliação por permitirem abordagens diversificadas na resposta a cada uma das tarefas. Por exemplo, na tarefa T1, item 2., o grupo Carlos e Joana usou uma única equação recorrendo às definições registadas no caderno enquanto o grupo Andreia e Patrícia usou um sistema de duas equações a duas incógnitas para responder ao mesmo problema: 262 Figura 23: 1.ª fase do produto de Carlos e Joana na T1 Figura 24: 1.ª fase do produto de Andreia e Patrícia na T1 Também no item 2. da T6, ao recorrer à calculadora gráfica, um grupo utilizou os dados tal como fornecidos no enunciado da proposta de trabalho, recorrendo à interseção de duas representações gráficas, enquanto o outro grupo, Carlos e Joana, usou a determinação do zero de uma função que obteve depois de equacionar o problema: Figura 25: 1.ª fase do produto de Carlos e Joana na T6 263 Síntese. Maria interveio junto dos alunos para promover o aumento de qualidade das respostas apresentadas e, também, das aprendizagens concretizadas, geralmente na primeira tarefa de cada um dos tópicos: Trigonometria (T1); Geometria (T5) e Funções (T6). Para além de aferir a autorregulação da completude das respostas dadas através da calculadora gráfica em Funções, Maria reforçou a necessidade de recordar trabalhos anteriores da Trigonometria para usar e aplicar procedimentos que caraterizassem o trabalho que os alunos realizam em matemática. Algumas vezes, Maria procurou aprofundar o grau de domínio de conhecimento matemático dos alunos e, assim, promover a eficácia matemática, mas, também, identificou, incitou a procura e corrigiu erros. Ainda, nos momentos de interação entre Maria e os alunos, através do questionamento, foram identificadas ações que visavam levar os alunos à autorreflexão e ao autoquestionamento. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de Maria nos dois tópicos para promover a autorregulação do desempenho, através da interação com os alunos. QUADRO 30: TIPO(S) DESEMPENHO EM IP-A DE INTERVENÇÃO DE Tópicos para a autorregulação do desempenho Eficácia Matemática Autoavaliação MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DO Tipo(s) de intervenção (Tarefa) incentiva a completude e correção das respostas (T1;T6) questiona para averiguar do nível de domínio matemático (T2; T5) valorizar a comunicação matemática, o rigor de escrita e uso da linguagem matemática (T1) efetua a correção de erros (T1; T2) reforça a importância de alguns procedimentos que caraterizam a matemática (T2; T5) apela à verificação de cálculos ou à verificação da razoabilidade de um resultado (T6) promove a comparação de resultados (T6) dá pistas para a identificação de erros (T1; T2) aceita a reformulação do trabalho (T2) seleciona tarefas suscetíveis de abordagens diversificadas (T1; T6) Depois da aula O grupo de trabalho de natureza colaborativa refletiu em conjunto sobre alguns aspetos das aulas. Nesta parte, é feito esse balanço, através da intervenção de Maria, ao nível do questionamento oral, e são identificadas as dificuldades e os constrangimentos que enfrentou. 264 Balanço. Maria destacou em quase todas as tarefas a dificuldade de interpretação evidenciada pelos alunos. Acrescentou, também, o facto de muitas vezes os alunos precisarem da confirmação do que estavam a interpretar e a concretizar para darem continuidade aos seus trabalhos. Na T1, Andreia e Patrícia compreenderam o processo de resolução que deviam implementar para concretizar o item 1., mas precisaram de obter a confirmação de Maria para avançar na realização desse trabalho: Por exemplo, a Andreia e Patrícia sabiam mais ou menos o que deveriam fazer, mas precisaram da minha confirmação para prosseguirem. Disseram-me “vamos fazer cálculos auxiliares com as fórmula?”. Acho isso uma grande falta de autonomia…(STC12) Maria começou a valorizar esse aspeto nas aulas e referiu que lhe deu atenção a partir da tarefa T2, quando passou a dar poucas indicações sobre a confirmação de estratégias a seguir. Nos casos em que tal aconteceu, devolveu a responsabilidade de validação da estratégia de resolução para o grupo, e Maria preocupou-se mais em questionar os alunos para a ultrapassagem das dificuldades e dos erros cometidos ao longo do processo de resolução: O Carlos e a Joana queriam saber se podiam responder apenas ao item 4., dei-lhes a possibilidade de decidir… não queria confirmar o caminho a seguir. Estava mais empenhada em saber as dificuldade e os erros cometidos para poder ajudá-los. (STC13) A evolução positiva dos alunos ao nível da compreensão dos enunciados das propostas de trabalho foi referida por Maria como uma evolução da sua própria ação de questionamento. Maria considerou que, também, aprendeu a dar mais importância ao esforço que os alunos faziam para descortinar o essencial das propostas de trabalho e à forma como confrontavam isso com o que faziam, dando-lhes as interrogações necessárias para a validação dessas resoluções e não a interpretação. Ao procurar o desenvolvimento da autoavaliação do trabalho realizado, Maria evoluiu no sentido de colocar questões aos alunos em detrimento da confirmação dos seus trabalhos: Quando Andreia e Patrícia me pediram para confirmar se o que tinham feito para responder à a) estava certo ainda hesitei, mas depois optei por lhes colocar a questão: leram o problema, quais são os dados? Acho que fiz uma boa opção, também evolui. Deixei a validação das resoluções para elas. Esforçaram-se, e acho que ações deste tipo são uma boa ajuda ao desenvolvimento da autoavaliação. (STC15) A não validação das respostas dos alunos foi um tema tratado nas sessões de trabalho colaborativo por se procurar um maior envolvimento dos alunos e a sua 265 responsabilização pela correção dos produtos que obtinham. Maria sentiu que a sua postura em sala de aula alterou-se para atingir esse objetivo. Numa fase inicial, Maria mostrava-se muito empenhada em ajudar os alunos identificando, prontamente, o que estava correto e o que estava errado, não possibilitando que os grupos de trabalho refletissem sobre os erros que cometiam e as razões da sua existência. Por exemplo, na T1, Maria ao interagir com um grupo de alunos diz Queres que te diga as fórmulas que existem? e na T3 refere Devem ver de novo e usar as unidades na unidade correta para esse problema, são duas intervenções antagónicas. No primeiro caso, Maria procurava orientar os alunos no caminho que entendia como sendo o correto, no segundo caso, devolve ao grupo a necessidade de encontrar a unidade certa: Não sei explicar, mas senti que a validação deveria estar do lado dos alunos. Num dado momento, identificava os erros e corrigia de imediato mas os alunos cometiam esses mesmos erros mais tarde, numa situação diferente é claro! Depois de ler os textos e pensar sobre o assunto, pensei comigo mesma, a identificação dos erros e a sua correção deve se feita pelos alunos. (STC15) Nas últimas tarefas é mais evidente que a forma como Maria age, em termos de questionamento, mudou. Também, é possível ver a diferença na forma como os alunos trabalham as tarefas propostas. Maria assume um papel secundário, ajudando a esclarecer alguns conceitos, a incentivar a identificação de erros e a reflexão sobre as formas de ultrapassá-los. Os alunos revelam maior autonomia e perseverança em relação ao que fazem e à confiança nos resultados que obtêm. Por exemplo na T8, os alunos numa atitude interventiva confrontaram Maria com o facto de a tarefa não referir o uso de métodos analíticos nem o recurso à calculadora gráfica, e Maria reagiu transpondo essa decisão para os alunos: Essa decisão poderia ter sido diferente…eu tinha tendência para dizer logo como deveriam fazer, mas aquele discutam em que condições aceitar cada um dos procedimentos de resolução… saiu-me muito bem, e os alunos fizeram um trabalho muito bom. (STC23) O encaminhamento dos alunos para a releitura do enunciado da proposta de trabalho foi outra estratégia seguida por Maria para desenvolver a autorregulação, em particular para que os alunos identificassem erros e ultrapassem as dificuldades. Na T1, perante erros de cálculo cometidos por Joana e Carlos, Maria remete os alunos para analisar os dados da proposta de trabalho. Na T2, quando Andreia e Patrícia tentavam compreender o enunciado para responderem ao mostre que, Maria sugeriu que lessem de novo e analisassem a figura. Na T3, Carlos e Joana hesitavam entre a unidade de 266 amplitude do ângulo a usar na calculadora, graus ou radianos, Maria remeteu para o enunciado. Na T5, também, Carlos e Joana foram remetidos para a proposta de trabalho quando pretendiam selecionar a estratégia de resolução que deveriam implementar. Maria orientava o trabalho a concretizar em cada uma destas aulas pela proposta de trabalho e procurava que os alunos desenvolvessem as suas capacidades de identificação de transposições incorretas do enunciado, de dificuldades, de discussão de possíveis resoluções e finalmente, de avaliar a razoabilidade de um resultado: Parecia-me importante que desenvolvessem mecanismos que possibilitassem a ultrapassagem de erros e resolvessem algumas das dificuldades que enfrentavam sem a minha intervenção e discutirem a razoabilidade e validade de uma resposta. Para mim, a proposta de trabalho com o enunciado da tarefa era o guia orientador, e quis transmitir isso aos alunos, uma forma de autorregulação e também de autocontrolo. (STC25) Maria recorreu a explicações a toda a turma apenas em duas situações distintas: discutir o significado do mostre que, na T2; e a utilização do procedimento analítico e o recurso à calculadora gráfica, na T8. Perante a dificuldade em decidir qual a abordagem a dar a um mostre que, os alunos solicitaram veementemente Maria para confirmar o trabalho realizado ou para orientar no caminho a seguir. Maria respondeu com a necessidade de apresentarem um caminho para chegar ao resultado apresentado na proposta de trabalho, sem usar o resultado na construção desse caminho. Nesse instante, Maria recorreu a itens do mesmo tipo e reforçou a importância desses itens para a construção do conhecimento matemático: É difícil de explicar o que é um mostre que sem usar exemplos…por isso recorri a alguns que já tinham sido realizados na aula. Optei por esclarecer toda a turma ao mesmo tempo porque me parece que é um item muito importante e que pode ajudar noutros problemas que os alunos tenham de realizar. (STC13) No que diz respeito à T8, não existia referência à forma, analítica ou gráfica, como os alunos deveriam responder ao item. Mas, Maria remeteu os alunos para a discussão dessa temática no seio do grupo, e mais tarde com toda a turma, por o item admitir os dois processos de resolução devido à necessidade de incluir, na resposta, uma justificação e a respetiva argumentação: O item admite as duas resoluções, é importante incluir na resposta uma justificação fundamentada acerca do valor do limite…por isso entendi colocar do lado dos alunos essa decisão e, também, discutir o assunto para mostrar que não valorizem apenas o resultado e deem importância ao processo. (STC23) 267 De destacar, ainda, a preocupação de Maria em promover nos alunos estratégias de realização das tarefas que fossem aplicáveis em trabalho futuro. Dificuldades. Ao abordar o tema das dificuldades sentidas pelo professor na promoção da autorregulação da aprendizagem matemática, Maria relacionou, por um lado, as dificuldades associadas aos procedimentos e aos significados e, por outro lado, o empenho, as estratégias adequadas à resolução e os conteúdos matemáticos, como as grandes dificuldades do questionamento oral. Os aspetos evocados relacionam-se diretamente com o trabalho realizado pelos alunos em sala de aula e não envolvem outros fatores, por Maria não os considerar pertinentes. Maria revelou que o questionamento oral foi afetado pela necessidade de ultrapassar as dificuldades de compreensão manifestadas pelos alunos relativamente ao conhecimento de procedimentos específicos da Matemática. Segundo Maria, os alunos deveriam distinguir claramente um mostre que de um determine, o que não se verificou. Este aspeto afetou o desenvolvimento do questionamento para a autorregulação porque Maria esteve, numa fase inicial de concretização das tarefas, dedicada a trabalhar a distinção entre as várias formas de trabalho matemático, em sala de aula: Inesperadamente, porque conheço os alunos desde o ano passado, eles tiveram dificuldade no mostre que, na distinção entre analítico e gráfico, na abordagem dada à experimentação de casos particulares e posterior generalização, e isso afetou o aquilo que eu pretendia e aquilo que os alunos realizaram. Tive de agir, orientar e encaminhar os alunos para alguns problemas trabalhos anteriormente em aula. (E2M) A ação de Maria visava criar um campo de entendimento entre ela e os alunos. Tornar percetível com exemplos que tinham sido explorados anteriormente o que pretendia que os alunos concretizassem quando a tarefa refere mostre que. Com esta iniciativa, Maria salientou que as suas questões ficaram dirigidas à concretização daquele item e que o foco principal do seu questionamento oral não foi a autorregulação do conteúdo matemático, na generalidade, mas a autorregulação da compreensão do que está a ser pedido. Esse episódio da T2 serviu, segundo Maria, para alertar para algumas das dificuldades que não julgava existirem ao nível daqueles alunos: Para mim foi uma dificuldade procurar explicar aos alunos o que pretendia com o mostre que da tarefa T2. Confrontei-me com algo inesperado e que afetou a minha prática de questionamento. Não estava à espera, e isso quase que a minha ação passou para a autorregulação da compreensão em vez da autorregulação da aprendizagem do 268 conhecimento matemático. Mas, foi bom ter acontecido, assim vi algumas das dificuldades e na minha interação com os alunos inclui esse conhecimento das dificuldade em compreender o que é pedido – aproximar o entendimento do professor do entendimento do aluno. (E2M) O item a) da T5 também foi referido por Maria como causador de divergência entre o que os alunos pretendiam fazer e o que era expectável que os alunos fizessem. Alguns alunos usaram o comprimento do raio da base e altura do cone e fizeram o caminho inverso, mostrando a equação do plano ABV. Maria referiu a dificuldade em aceitar ou não essa resolução e acrescenta que, nesse caso, questionou os alunos a partir dos seus erros e dificuldades e não encontrou nenhuma incoerência nessa resposta. A natureza da tarefa, neste caso, uma tarefa que admite diversos caminhos de resolução pode ser a causa das dificuldades de Maria: A T5 foi outro exemplo, quem resolver a partir da altura e do comprimento do raio da base encontrou um caminho certo. Para mim foi uma atrapalhação. Mas, safei-me. Foi questionando sobre as causas dos erros e tentei apoiar as dificuldades que sentiam. Acho que a dificuldade está no facto de eu não esperar aquela resolução e como a tarefa admite várias resoluções, atrapalhou o questionamento. (E2M) No trabalho de grupo, em pares, alguns alunos mostram-se mais empenhados do que outros. Segundo Maria, o questionamento oral foi algumas vezes dirigido aos alunos que estavam mais avançados no trabalho a pares e, por isso, não terá sido tão diversificado nem tão individualizado como preconizou. Salientando a mais-valia de existência de momentos de trabalho individual e de trabalho de grupo numa mesma tarefa, Maria destacou a dificuldade em adequar o questionamento ao empenho dos alunos, por isso promoveu a ajuda entre pares de forma que todos concretizassem as tarefas, dentro do seu ritmo mas, também, procurando que o fizessem com interesse: Por vezes notei que uns alunos estavam mais empenhados em concretizar a tarefa do que outros, e às vezes o questionamento foi dirigido aos mais avançados, isso não ajudou nada. Nesse caso, o questionamento não era o adequado … servia apenas alguns…por isso remeti para a partilha no seio dos próprios grupos, aproveitei o facto de trabalharem em grupo para envolver todos na construção de uma resposta. (E2M) No questionamento, Maria teve de optar entre deixar os alunos explorarem as suas próprias estratégias de concretização ou intervir para orientar o caminho a seguir. Algumas estratégias de resolução não correspondiam à resposta esperada e correta, pelo que a intervenção de Maria foi no sentido de levantar questões que suscitassem a 269 reflexão do aluno e a compreensão de que não seguiam o caminho correto. A esse nível, Maria sentiu dificuldades em aferir até que ponto uma dada estratégia é ou não a adequada à questão colocada, optando por uma intervenção ponderada mas que mantivesse o trabalho como um todo, incentivando a discussão para que a tomada de decisão acerca da aceitação da resposta dependesse do próprio grupo. Neste sentido, Maria procurava que os alunos confrontassem diversas resoluções individuais, diversificadas, e que os alunos as contextualizassem, em confronto, com o que estava a ser solicitado: Quando nos apresentam várias estratégias diferentes é difícil ver o que aquilo vai dar e se serve ou não de resposta ao que propúnhamos. Nesses casos, procurei manter o nível de exigências das tarefas e propus o confronto de estratégias e o confronto da sua exequibilidade, deixando que cada um aferisse a veracidade da sua resolução no contexto do coletivo. (STC24) O domínio dos conteúdos matemáticos, nomeadamente o trabalho com expressões algébricas e a resolução de equações, aparece como uma dificuldade que afetou a prática de questionamento oral. Perante a necessidade de identificar variáveis e de as reportar ao contexto de uma situação problemática, Maria teve de agir no sentido de identificar os erros ou de realçar, concretamente, alguns aspetos particulares da proposta de trabalho. Também, na resolução de equações, apareceram erros de sinais provocados pela mudança de membro de um determinado termo, nesses casos, a intervenção de Maria passou, quase sempre, apenas pela indicação de ocorrência de erros nos cálculos. A tipologia de erros não dependia, em concreto, da natureza da tarefa proposta, mas afetava a continuidade do trabalho realizado e colocava em causa a sua conclusão: Tive de corrigir alguns erros que dependiam da identificação das variáveis de uma expressão ou na passagem de membro de termos de equações, afetam a resposta e às vezes a conclusão da tarefa, embora não estejam diretamente relacionadas com o trabalho matemático específico daquela tarefa. Remeti para o enunciado, o identifiquei logo o que estava mal…para que continuassem (STC24) Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as dificuldades de intervenção de Maria, e as ações tomadas para as ultrapassar. QUADRO 31: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA IP-A (MARIA) Dificuldade Compreensão de procedimentos próprios da matemática Compreensão de Ação do professor Desenvolve um campo de entendimento professor -aluno Objetivo Aumentar a compreensão das tarefas matemáticas Questiona a partir dos erros e Diminuir o fosso entre as 270 significados Falta de empenho dos alunos das dificuldades dos alunos perceções da resolução do professor e a dos alunos Promove a procura de ajuda de Despertar o interesse pela pares, ou do professor, para a concretização e envolver o aluno concretização das tarefas na construção da sua resposta Escolha da estratégia adequada à resolução Mantém os níveis de complexidade das tarefas e valorizar o trabalho dos grupos Promover uma abordagem individual, diversificada Domínio dos conteúdos matemáticos Recorda pré-requisitos Corrige erros e identifica dificuldades Dar continuidade ao trabalho para finalizar a tarefa O relatório escrito em duas fases (RE) O relatório escrito em duas fases (RE) foi uma prática avaliativa para promover a autorregulação da aprendizagem observada em cinco tarefas, o que corresponde a nove aulas. Antes da aula Maria participou ativamente nas sessões de trabalho colaborativo em que foram equacionadas as formas de concretização do relatório escrito em duas fases. A prática de RE apresentava-se como inovadora para Maria, embora fosse encarada como um desafio. Até esse momento apenas tinha proposto, aos alunos, a justificação de raciocínios em itens de mini fichas com características de avaliação sumativa. Intervenção avaliativa do professor. O relatório escrito em duas fases constituiu uma novidade para Maria, principalmente pela atribuição de feedback escrito numa primeira fase. Ficou entusiasmada com a possibilidade de ajudar os seus alunos a concretizarem a segunda fase, ajudando-os a construírem o produto final. Mas, considerou problemáticas a definição do RE no contexto da avaliação sumativa e a atribuição de uma classificação para que fosse tida em conta no apuramento da classificação de final de período: Tudo o que os alunos fazem na aula é avaliado. Eles sabem disso e eu também! Mas, não sei como apurar a classificação da 1.ª fase e depois concertar essa classificação com a 2.ª fase, supostamente haverá melhoria. (STC10) O grupo de trabalho colaborativo acordou que o feedback deveria ajudar o aluno a progredir, identificando o que estava errado, o que estava certo e dando pistas para que o aluno pudesse progredir ou aprofundar o seu trabalho, em função do que tinha feito. 271 Esse entendimento, comum, passou por negociar com Maria que os relatórios em duas fases serviriam para promover a autorregulação: Entendo essa avaliação e compreendo que se trata de um apoio à aprendizagem, e como é relatado no texto, procuramos dar feedback para os alunos melhorem os seus trabalhos e para que melhorem os produtos finais. (STC10) Devido à influência da perspetiva classificativa nas práticas de Maria, foi necessário assumir o compromisso de que seria dada uma informação globalizante sobre desempenho do aluno na 1.ª fase e na 2.ª fase. Para tal, negociou-se a adoção, no final de cada uma das fases, da terminologia incluída na Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989): Competência demonstrada 6 – Resposta exemplar Dá uma resposta completa com uma explicação clara, coerente, lógica e elegante; inclui figuras e esquemas para exemplificar; comunica eficazmente; mostra compreensão das ideias e processos matemáticos do problema; identifica todos os elementos importantes do problema; envolve exemplos e contraexemplos; apresenta argumentos fortes para justificar. 5 – Resposta competente Dá uma resposta completa com explicações claras e razoáveis; pode incluir um esquema apropriado; comunica eficazmente; mostra compreensão das ideias e processos do problema; identifica os elementos mais importantes do problema; apresenta argumentos sólidos para justificar. Resposta Satisfatória 4 – Falhas Mínimas, mas Satisfatório 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório Completa o problema satisfatoriamente, mas a explicação é confusa; a argumentação é incompleta; o esquema é inapropriado ou pouco claro; compreende as ideias matemáticas subjacentes; usa as ideias eficazmente Inicia o problema eficazmente mas falha a conclusão ou omite partes significativas; falha na evidência de compreensão cabal das ideias e processos matemáticos; comete erros de cálculo graves; usa incorretamente ou não usa os termos matemáticos; a resposta reflete uma estratégia inapropriada de resolução do problema. Resposta Inadequada 2 – Inicia, mas falha a resolução do problema A explicação não é compreensível; o esquema é pouco claro; não mostra compreensão da situação problemática; comete erros de cálculo muito graves. 272 1 - Incapaz de iniciar eficazmente As palavras usadas não refletem o problema; os esquemas não representam a situação problemática; falha na indicação da informação apropriada. 0 – Não inicia Essa proposta agradou a Maria, e foi vista como uma avaliação não classificativa do trabalho do aluno. Na 2.ª fase, relativamente à 1.ª fase, Maria poderia modificar o nível atribuído a cada produto. Inicialmente, Maria explicou e discutiu os níveis com os alunos. O quadro manteve-se nas cinco tarefas em que Maria deu feedback ao RE. Maria referiu que os descritores do quadro deixavam-na um pouco mais tranquila devido à necessidade dos alunos da sua turma auto posicionarem-se, uns relativamente aos outros, em termos de rendimento escolar: É confortável para mim e principalmente para os alunos. Eles [os alunos] têm uma necessidade grande de comparar resultados da avaliação sumativa. Aqui não se trata disso, mas situar um aluno num determinado nível poderá suscitar o seu empenhamento para progredir…e isso já é importante! (STC12) Seleção da tarefa. Maria destacou a natureza aberta da tarefa e a possibilidade de ajudar os alunos a mobilizarem e desenvolverem os conhecimentos matemáticos: Alunos que queiram saber mais têm que procurar aprofundar os seus conhecimentos. Por isso, destaco a possibilidade de dar continuidade às tarefas propostas através da escolha de tarefas abertas, ajudando os alunos a avançarem naquilo que são os seus saberes. (STC11) A tarefa T2, Eratóstenes, segundo Maria, era adequada à realização do RE, dada a sua complexidade e a necessidade da redação de um texto (item 4.) a comparar dois resultados (item 2. e item 3.). Maria destacava ainda a mais-valia do trabalho que os alunos deveriam realizar entre a 1.ª e a 2.ª fase para a rentabilização da aprendizagem em trigonometria: Dar feedback à 1.ª fase é uma oportunidade para o alunos reverem o seu trabalho e o nível de desenvolvimento dos conhecimentos adquiridos em trigonometria. A comparação não é fácil. Mas, acho que impõe-se a realização do RE e a 2.ª fase nesta tarefa. (STC12) Contudo, na fase de planificação, Maria não apresentava ainda ideias claras sobre o que poderia ser o feedback a dar aos produtos do trabalho dos alunos. Do ponto de vista matemático, Maria considerava que o item 1. seria aquele que envolvia maior dificuldade de concretização e o item 4. seria o que mais se proporcionaria à atribuição de feedback por ser uma comparação de dois resultados: 273 Vamos ver o feedback que escrevo. Acho que o primeiro é o mais complicado, matematicamente falando. O quarto compara, também não vai ser fácil, mas aí os motivos são outros. No quarto a dificuldade vem da necessidade de escrever um texto e efetuar a comparação. Escreverei algo…mas acho que o último, por ser uma comparação, é melhor para dar feedback. (STC12) Segundo Maria, a continuidade da exploração da T2 proporcionaria aos alunos uma perspetiva globalizante sobre o trabalho matemático com expressões trigonométricas. A 2.ª fase poderia ser a extensão da tarefa inicial ou a revisão de conteúdos explorados em tarefas anteriores: Na segunda aula posso acrescentar outras propostas ou discutir a ligação entre os aspetos explorados na T2 e aquilo que os alunos realizaram em tarefas anteriores. Parece-me que isso será um acrescento para aquilo que sabem sobre trigonometria e também a rentabilização e revisão do que se explora neste tema. (STC12) Na T3, na interpretação do enunciado, evidenciou-se a especulação sobre as dificuldades que os alunos poderiam apresentar. Maria considerou que os três itens impunham o domínio de linguagem matemática complexa e a manipulação de propriedades matemáticas para a relacionação dos vários conceitos. Destacou a pertinência das questões associadas às caraterísticas de aplicação do conhecimento matemático, embora salientasse a importância da 2.ª fase na conclusão e na sistematização do conhecimento adquirido: É uma tarefa difícil. Envolve a interpretação e relacionação de conhecimentos, o que pode trazer dificuldades acrescidas para os alunos. Mas, como vão ter uma segunda oportunidade, podem concluir e reforçar alguns aspetos como os mostre que e o trabalho com e sem calculadora gráfica. (STC13) Sendo a segunda tarefa em que atribuía feedback para a continuidade do trabalho, Maria já perspetivava algumas ideias sobre o que seriam os seus comentários aos produtos do trabalho dos alunos. Segundo o seu entendimento, os alunos apresentariam respostas incompletas relativamente ao que seria a distinção entre a resolução recorrendo à calculadora gráfica e a resolução recorrendo apenas à vertente analítica. Nesses casos, procuraria que os alunos confrontassem as suas respostas com a falta de compreensão para o leitor, de forma a incentivar a compreensão da necessidade de apresentar um determinado tipo de resposta: No item mostre que (b1) vou empurrá-los para a ligação entre o significado de cada uma dos parâmetros no contexto da situação descrita e na calculadora reforçarei a apresentação da janela de visualização, a 274 indicação da expressão introduzida na calculadora e a descrição do que observam no visor. Talvez possa pedir para um confrontar o seu trabalho com o do parceiro. Vejamos! (STC13) Relativamente à nota apresentada no enunciado da proposta de trabalho, Maria não a concebia como relevante por acrescentar o enunciado da tarefa e por encaminhar os alunos para a calculadora gráfica, apesar de necessitarem de desenvolver trabalho analítico anterior: (Nota: a resolução desta questão envolve uma equação que deve ser resolvida graficamente, com recurso à calculadora; apresente todos os elementos recolhidos na utilização da calculadora, nomeadamente o gráfico, ou gráficos, obtido(s), bem como coordenadas relevantes de algum, ou de alguns, ponto(s).) Esta nota é irrelevante para aquilo que os alunos têm de concretizar. Até pode remeter apenas para a calculadora quando têm de contar primeiro o número de dias de 4 de janeiro a 14 de fevereiro. (STC13) A T5, uma tarefa de Geometria analítica no espaço, apresentava-se como sendo tarefa de aplicação de conhecimentos matemáticos relacionados com as condições da geometria analítica no espaço. Maria salientou a necessidade dos alunos recorrerem ao caderno diário para desenvolverem a tarefa com sucesso, procurando as condições do plano, da esfera e a fórmula para determinar o cosseno de um ângulo. Mesmo assim, foram referidos os erros de cálculo mais frequentes neste tipo de tarefas e a influência dos mesmos na conclusão do trabalho a realizar: Acho que devo dizer para consultarem as fórmulas, podem recordá-las e ver como se aplicam. Do meu ponto de vista os erros de cálculos vão ser frequentes nesta tarefa. Eles [os alunos] muitas vezes, têm dificuldades em manipular as condições da geometria porque fazem muitos erros de cálculo e depois não conseguem chegar ao fim. (STC18) Relativamente ao feedback a atribuir aos produtos dos alunos, Maria antecipou a dificuldade de identificar os erros sem os corrigir e as implicações da sua existência no trabalho a realizar na 2.ª fase. Segundo o seu ponto de vista, procuraria promover o rigor da escrita das condições e, mais uma vez, a necessidade da justificação de uma resposta, baseando o feedback no confronto entre o que deveria ser desenvolvido pelos alunos e o que efetivamente tinham concretizado: Tenho de identificar os erros sem que isso pareça uma correção, o que é difícil para mim. Acho que alguns, neste tipo de tarefa, têm mesmo de ser identificados, embora vá procurar que analisem a viabilidade de algumas respostas face ao que está exposto na proposta de trabalho. Esse confronto pode ser importante para que agilizem a manipulação das condições em geometria. (STC18) 275 A possibilidade dos alunos apresentarem resoluções diversificadas na tarefa T5 foi destacada como relevante do ponto de vista do trabalho matemático dos alunos e das conceções que os alunos apresentam relativamente à matemática. Segundo Maria, muitas vezes, os alunos apresentavam a conceção de que os itens de matemática admitem uma resposta única, e de caráter fechado, o que pode ser uma dificuldade na discussão dos resultados e na compressão daquilo que é a proposta de trabalho: Agrada-me a possibilidade da tarefa ser mais ou menos aberta. Os alunos podem apresentar várias resoluções diferentes e isso é bom para aqueles que pensam que em matemática cada pergunta tem apenas uma resposta. É verdade. Noto isso muitas vezes. Acham que apenas uma resolução é possível e depois ficam baralhados nas discussões e pensam que seguem o caminho errado porque não compreendem. (STC18) A T6 e a T8 apresentam caraterísticas muito semelhantes relativamente à manipulação dos conceitos matemáticos e à necessidade de interpretar os significados das variáveis envolvidas nas expressões algébricas. Maria salientou os aspetos de ligação à realidade dessas duas tarefas e a sua complementaridade relativamente à redação das respetivas respostas pelo aluno. Na T6, Maria podia intervir apelando à compreensão do enunciado e procurando que os alunos interpretassem o problema e identificassem as ferramentas matemáticas necessárias à resposta. Na T8, seria dada relevância à completude da resposta e à distinção entre o trabalho analítico e o trabalho com calculadora gráfica: Completam-se, uma associada às funções e à interpretação e a outra que requer esses aspetos e mais a distinção entre analítico e gráfico. Na primeira poderei questionar com outros valores diferentes dos solicitados…para conseguir compreender o problema proposto e na segunda darei maior atenção à forma como organizam a resposta. Espero que na segunda não apresentem dificuldades de interpretação! (STC20) A segunda aula de trabalho em aula na T6 e na T8 não foram assistidas por mim, apesar de terem sido planificadas em conjunto, por se tratar de aulas de substituição desenvolvidas num horário diferente do habitual da turma. O feedback dado aos produtos dos trabalhos dos alunos dessas tarefas foi discutido nas sessões de trabalho de natureza colaborativa e concretizado à semelhança das tarefas anteriores. Método de trabalho. A redação de relatórios escritos em duas fases fez-se sempre individualmente. À semelhança do que aconteceu com José, Maria considerou importante que os alunos redigissem um relatório individual embora tivessem a 276 possibilidade de discutir e confrontar ideias durante o desenrolar da tarefa. Maria destacou a necessidade de todos os alunos intervirem no desenvolvimento de cada uma das tarefas como uma forma de autodesenvolvimento e autoaprendizagem, procurando desta forma incutir a participação nas tarefas da disciplina e a autorregulação: A participação deles é muito importante para aprenderem matemática. Não chega envolverem-se, têm de “fazer pela vida”, em Matemática é assim! Por isso, acho que devem fazer o relatório individualmente para “puxar” todos para o mesmo caminho, mesmo que cada um deles faço um percurso distinto. (STC12) No caso da tarefa T5, a possibilidade de respostas diferenciadas de aluno para aluno, do ponto de vista da Maria, saía rentabilizada quando os alunos trabalhavam individualmente, com a possibilidade de discutirem a pares. A T5, item a), permitia que os alunos mostrassem o que é pedido aplicando estratégias muito divergentes, o que podia ser tido como vantajoso quando os alunos concretizassem uma estratégia individual e, posteriormente, a discutem com o seu par: O confronto de estratégias de resolução obriga a dois pontos fundamentais, do meu ponto de vista. Por um lado, a necessidade de defender e argumentar sobre a validade da própria resolução e, por outro lado, procurar compreender a estratégia do parceiro e tentar desmantela-la. (STC20) Também, a necessidade de redigir individualmente um relatório, principalmente para as tarefas T6 e T8, poderia obrigar os alunos a um esforço inicial de interpretação que se trabalhassem em grupo não o teriam. Segundo Maria, assim, todos os alunos participariam nas tarefas, o que não aconteceria se se tratasse de trabalho de grupo. Essa participação ajudaria a compreenderem as suas próprias dificuldades e a tomarem a iniciativa de procurar ajuda para ultrapassá-las: Alguns [alunos] são preguiçosos e não se envolvem no trabalho de grupo, por isso o trabalho individual na interpretação ajuda ao envolvimento dos alunos nas tarefas e faculta-lhe a perceção das dificuldades de modo a procurarem ajuda para ultrapassá-las. (STC11) O facto da redação do relatório ter caracter individual não se mostrava um inibidor da partilha de comentários pelos alunos em pares. Antes, pelo contrário, Maria considerava que se os alunos se sentirem responsáveis por apresentar um documento próprio de resposta às tarefas, esforçar-se-ão mais do que o habitual para conseguir concluir o trabalho proposto com sucesso: O relatório individual responsabiliza cada um dos alunos pelo seu trabalho e isso traz maior envolvimento e maior atividade nessas aulas. (STC12) 277 Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as tarefas, os principais objetivos de aprendizagem e os métodos de trabalho respetivos. QUADRO 32: TAREFA/OBJETIVO GERAL/MÉTODO DE TRABALHO EM RE (MARIA) Tarefa T2 T3 T5 T6 T8 Objetivo geral Aplicar as razões trigonométricas Resolver problemas de Trigonometria Relacionar a Geometria e a Trigonometria Desenvolver a capacidade de compreensão e interpretação, em Funções Distinguir o procedimento analítico e o procedimento gráfico, em Funções Método de trabalho Misto: individual e díade Misto: individual e díade Misto: individual e díade Individual Individual Durante a aula A seleção de relatórios que vão ser apresentados nesta parte foi feita por Maria. Como já foi referido anteriormente, no seio do grupo de trabalho colaborativo decidimo-nos pelo critério de discutir relatórios escritos em duas fases que evidenciassem a intenção do professor em promover a autorregulação ou apresentassem capacidades monitorização dos alunos observados. A necessidade de reduzir a quantidade de materiais analisados está relacionada com o excessivo número de trabalhos recolhidos por cada um dos casos. Autorregulação da resposta Compromisso com as tarefas matemáticas. Andreia, no item 1. da T2, substituiu os parâmetros α e h por números: 278 Figura 26: 1.ª fase do produto de Andreia na T2 Apesar de a aluna ter em conta que 0º < α < 90º e que BC = R + h , Maria não aceitou essa resolução como correta e teve necessidade de explicar, no feedback atribuído, o que pretendia com o mostre que: “mostre que é a prova da veracidade de uma propriedade… nada de casos particulares!”. Essa indicação, acompanhada com algumas interrogações orais, em aula, proporcionaram a Andreia a consciencialização da necessidade de não usar valores concretos nos parâmetros, mas antes que deveria usar as letras da figura e mostrar o pretendido. Esse compromisso com a tarefa matemática, dado através do feedback escrito, também surgiu na T2 quando Carlos foi encaminhado para a proposta de trabalho depois de determinar o valor de R substituindo a amplitude do ângulo α por vários valores. Não aceitando a resposta dada por Carlos, Maria, dessa vez, encaminhou o aluno para a proposta de trabalho e em particular para a sugestão dada no item: 279 Figura 27: 1.ª fase do produto de Carlos na T2 Fazer α = 5º , α = 10º e α = 20º , etc. não serve para concluir porque não se demonstra, são a concretização de casos particulares. Siga a sugestão dada na proposta de trabalho. Comece por escrever a definição da razão cosseno. (Feedback de Maria à 1.ª fase de Carlos em T2) Para a redação da 2.ª fase, Carlos seguiu as instruções dadas no feedback escrito de Maria, mas teve alguns problemas com os cálculos pelo que não conseguiu obter o resultado pretendido, e assumiu a incompletude da sua resposta: Figura 28: 2.ª fase do produto de Carlos na T2 Na T3 sobressaíram as dificuldades de interpretação dos alunos. No item a), depois da compreensão do significado de x e de d, Carlos não respondeu ao item embora tenha calculado os valores de d que correspondem a x = 0 , a x = π e a x = 2π . No item b1), Carlos não conseguiu obter o resultado final mas substituiu x por π e T por 365,24. Relativamente ao item b2), a resposta de Carlos mostrou dificuldades na manipulação da calculadora gráfica. Maria atribuiu um feedback escrito globalizante ao 280 produto do trabalho de Carlos e especificou, para cada um dos itens, o caminho a seguir pelo aluno de forma a recoloca-lo na concretização da tarefa. A Joana, na T3, também recebeu um feedback escrito globalizante, com especificações para a conclusão da tarefa. Joana no item a) responde apenas d=147,7. Maria alertou-a para a necessidade de apresentar o procedimento que conduzia a essa resposta. Explicou-lhe, também, que no caso da não apresentação do procedimento e do resultado se encontrar errado era quase impossível identificar o erro cometido, o que penalizaria muito a sua classificação. Para o item de calculadora, b2), Maria alertou a aluna para a necessidade de colocar a amplitude do ângulo na calculadora em radianos e respeitar a janela de visualização [0,2π [ : Figura 29: 1.ª fase do produto de Joana na T3 Na T5, Carlos e Joana discutiram sobre a abordagem a dar ao item a). No RE cada um dos dois alunos apresentou a sua própria resolução. Carlos procurou escrever a equação do plano através da obtenção do vetor normal a partir de três pontos, enquanto Joana provou que os três pontos pertencem ao plano dado. Maria apoiou os alunos na complementaridade dessas respostas, dando-lhes feedback para continuarem embora refira a melhoria da organização e das justificações: A resposta está correta, mas pode ser melhorada. Deve justificar a opção tomada do uso dos três pontos, justificar e organizar a resposta. (Feedback dado a Joana na T5, 1.ª fase) Na T6, Maria usou a estratégia de colocar em confronto as ideias expressas por Patrícia na sua resposta. No item a), Patrícia enganou-se nos cálculos e obteve um valor negativo para a duração da viagem e Maria reagiu, identificando o erro e questionando: a Maria pode sair de casa antes das sete e meia da manhã? A aluna reconheceu a indicação e, quando leu o feedback, verificou os cálculos e corrigiu a sua resposta: 281 Figura 30: 1.ª fase do produto de Patrícia na T6 Figura 31: 2.ª fase do produto de Patrícia na T6 No item 1.1 da T8, Maria teve necessidade de confrontar Andreia com a resposta dada. A aluna, ao explicar o significado da assimptota horizontal, referiu que por muito tempo que passe o raio da nódoa está sempre a aumentar. A reação de Maria através do feedback escrito não desmentiu a resposta da aluna, mas solicitou-lhe uma maior clarificação da resposta. Para ajudar a aluna na construção dessa clarificação apresentou-lhe um exemplo: A resposta está “meio” certa, tenta justificar…ou concretizar melhor. Por exemplo, o que acontece ao raio ao fim de 2 segundos? E 20 segundos? E 200 segundos? E 2000 segundos? (Feedback dado a Andreia na T8, 1.ª fase) Estímulo às estratégias individuais. Na atribuição de feedback, Maria procurou ajudar os alunos a continuarem os seus próprios trabalhos a partir do trabalho que haviam realizado. Umas vezes deu continuidade às estratégias definidas pelos alunos e ajudou, apenas, a identificar erros e a ultrapassar dificuldades, mas outras vezes foi necessário intervir no sentido de confirmar resoluções ou de valorizar a completude e organização de respostas. Na T2, item 1., Carlos usou a igualdade dada no enunciado para determinar alguns valores e generalizar a igualdade através da concretização de alguns valores. Maria não refutou o caminho escolhido por Carlos e, no feedback dado, 282 a partir da estratégia escolhida pelo Carlos, sugeriu uma reflexão sobre o aparecimento dessa igualdade: É necessário justificar o aparecimento da igualdade. Talvez essa escrita ajude a encontrar o caminho para continuar e, consequentemente, mostrar que... (Feedback dado a Carlos na T2, 1.ª fase) A dificuldade de Carlos estava em compreender o significado de um mostre que. Maria ajudou o aluno a partir do trabalho desenvolvido por ele mas, também, apelando à reflexão sobre o que seria um mostre que e como seria possível explicar o aparecimento daquela relação. A Andreia também usou uma estratégia semelhante à de Carlos. Mas, a Andreia, Maria deu um feedback diferente. Maria questionou a aluna acerca da viabilidade da generalização: “Como sabe que serve para todos os valores de α ? e de h ?”. Na T3, a Joana respondeu ao item b2) sem apresentar o processo de resolução que lhe permitia obter a resposta. Nessa situação, Maria informou, através do feedback escrito, da necessidade de apresentar uma resposta completa, por ser necessário, para esse item, a avaliação da capacidade de utilização da calculadora gráfica e por ser impossível responder sem o desenvolvimento desse processo: Apenas o resultado não permite avaliar se usou corretamente, ou não, a calculadora gráfica e, também, não sei se construiu uma resposta, ou não fez nada? Só é possível avaliar se o resultado está certo ou errado e este for coerente com o processo de resolução. Cuidado! (Feedback dado a Joana na T3, 1.ª fase) No item b1) da T3, Maria alertou Patrícia para a necessidade de justificar as opções feitas para a construção de uma resposta, realçando a sugestão de justificar primeiro e depois concretizar: Procure justificar primeiro o que significa o resultado pedido no contexto do problema. Essa justificação poderá ajudar a construir uma resposta que mostre o pretendido. Faça-o, observando a figura! (Feedback dado a Patrícia na T3, 1.ª fase) Mesmo quando os alunos cometeram erros de cálculo, Maria não deixou de estimular a estratégia dos alunos, desvalorizando os erros cometidos e incentivando a sua correção. A Andreia na T6, item 1., cometeu erros de cálculo e não conseguiu obter o resultado pretendido. A aluna assumiu essa fragilidade na sua resposta, colocando em confronto o seu trabalho e o resultado que se prendia (8h 11m): 283 Figura 32: 1.ª fase do produto de Andreia na T6 Maria, perante essa resposta, em primeiro lugar solicitou à aluna que corrigisse os erros cometidos e depois colocou em confronto alguns dos aspetos da resposta dada, a partir da estratégia individual da própria aluna: Verifique os cálculos: 7h40+10=? 7h50+10=? 7h55+10=?, respondendo sempre em horas e minutos. Depois de corrigir esses cálculos, no item 2., procure responder à questão: para que serve a expressão 5600 d (t ) = 45 − 2 neste problema? (Feedback dado a Andreia na T6, 1.ª t + 300 fase) Com este feedback, Maria conseguiu que Andreia corrigisse os erros de cálculo e, ao mesmo tempo, confrontasse a sua resolução com aquilo que estava a ser proposto no enunciado. Apesar do trabalho inicial da aluna não servir para construir uma resposta ao problema, esse trabalho serviu para ultrapassar o erro de manipulação do sistema horário (sexagesimal) e, a partir daí, perspetivar uma resposta diferente mas apoiada na diferença explicada pela própria aluna: Figura 33: 2.ª fase do produto de Andreia na T6 284 Articulação de ideias próprias. No feedback escrito dado por Maria às produções escritas pelos alunos foi identificado o apelo à clarificação de intenções e ao acrescento de justificações do raciocínio matemático, para fundamentar as respostas e aprofundar o domínio dos conhecimentos matemáticos dos alunos. Maria expressou essa intencionalidade por acreditar que a necessidade de argumentar, para justificar ou refletir, sobre as opções tomadas permitiria a correção de erros, a ultrapassagem de dificuldades e a aprendizagem consolidada e duradoura: Gosto de lhes pedir para terem um 2.º olhar. É um novo ponto de vista, uma segunda reflexão que pode ajudar a evitar erros e dificuldades, construindo um conhecimento mais duradouro e eficaz…às vezes basta pedir “justifique” ou um “então porquê?”, para que haja esse 2.º olhar. (STC 10) Na T2, item 4., Maria solicitou que Joana explicasse porque escrevera «quando α aumenta h também aumenta» a propósito da comparação das duas variáveis. A conclusão estava correta mas não existia evidência de que fosse uma afirmação refletida pela aluna e assente em conhecimento construído a partir dos resultados obtidos. Na 2.ª versão, a Joana acrescentou à sua resposta várias evidências que procuraram justificar a veracidade da afirmação: Quando α aumenta h também aumenta, com α = 60º tem-se h cos 60º (1 − cos 60º ) R= ou seja h = 1000 × e com α = 45º tem-se 1 − cos 60º cos 60º (1 − cos 45º ) . Não posso afirmar a veracidade para todos os h = 1000 × cos 45º valores, mas no geral é verdade. Verifica-se sempre. Experimentei com α = 60º , α = 45º , α = 30º e α = 10º . Figura 34: 2.ª fase do produto de Joana na T2 Apesar de Joana não clarificar definitivamente o que procurava mostrar, as evidências apresentadas fundamentam a resposta e o procedimento que conduziu à resposta. Na T3, Maria atribuiu à resposta de Carlos um feedback que procurava ajudar o aluno a identificar um erro e a ultrapassar a dificuldade de interpretação. Por exemplo, para o item b1), «qual o valor de π − 0,0167 senπ ?» (Feedback de Maria à 1.ª fase de Carlos em T2) à seguinte resposta: 285 Figura 35: 1.ª fase do produto de Carlos na T3 A partir do feedback dado por Maria, Carlos corrigiu o erro que tinha cometido e conseguiu relacionar as suas ideias de outra forma, dando a resposta correta. No item b2), da mesma tarefa, com a calculadora gráfica, Patrícia respondeu de uma forma incompleta e Maria reagiu, solicitando algumas justificações: Figura 36: 1.ª fase do produto de Patrícia na T3 O apelo de Maria à justificação impulsionou em Patrícia a necessidade de articular as suas ideias de forma a construir uma argumentação, suficientemente, convincente para si e para os outros. A explicação de Patrícia é rica em pormenores e procura evidenciar, passo a passo, o raciocínio que conduziu à resposta: 286 Figura 37: 2.ª fase do produto de Patrícia na T3 A tarefa T5 suscitou alguns comentários de Maria relativamente à aprendizagem dos alunos e à consolidação desse conhecimento. Maria referiu-se à forma, diversificada, como os alunos responderam ao item a). Na opinião de Maria, o facto de os alunos conseguirem construir uma resposta e confrontá-la com a dos colegas revela um domínio do conhecimento matemático que ultrapassa o nível elementar e imediato: Quando o Carlos e a Joana discutiram as suas resoluções…elas eram diferentes, e nessa discussão, cada resolução, foi defendida com a convicção de que, tanto Carlos, como Joana, dominavam o conhecimento matemático que usavam. (STC21) Síntese. Na valorização de uma aprendizagem significativa e duradoura, Maria, independentemente do tema matemático, atribui um feedback escrito que ajudasse a concluir o trabalho com sucesso. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de Maria nos três tópicos para promover a autorregulação da resposta, através do feedback escrito em relatórios com duas fases. QUADRO 33: TIPO(S) RESPOSTA EM RE DE INTERVENÇÃO DE Tópicos para a autorregulação da resposta Compromisso com a tarefa matemática MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DA Tipo(s) de intervenção (Tarefa) remete para o que está escrito na proposta de trabalho (T2; T3; T5) 287 Estímulo às estratégias individuais Articulação de ideias próprias coloca em confronto ambiguidades na resposta (T6; T8) recoloca na concretização da tarefa (T3) clarifica o que pretende que concretizem (T2) encaminha a partir dos erros e das dificuldades (T2; T6) fomenta a valorização da completude da resposta (T2; T3; T6) diversifica o feedback (T2; T3; T5; T6; T8) permite a correção de erros e a ultrapassagem de dificuldades (T3) ajuda a clarificar a resposta dada pelo aluno (T5) apela à apresentação de justificações (T2) permite uma aprendizagem consolidada e duradoura (T2; T3; T5) Autorregulação do desempenho Eficácia matemática. A eficácia matemática teve como descritores de desempenho a tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989). Maria sentiu dificuldade em posicionar o desempenho dos alunos num dos descritores apresentados, por ter o hábito de realizar muitas vezes uma avaliação de características holísticas: A fronteira entre os descritores é ténue e tenho dificuldade de colocar um aluno num nível e outro não. Alguns aspetos focados num dado descritor aplicam-se, mas outros não. Isto é redutor, gosto mais de dizer mais ou menos o que penso sobre cada um dos trabalhos. (STC14) Os alunos discutiram com Maria os descritores apresentados e, no primeiro contacto com eles, quiseram saber o que significava o satisfatório e as falhas mínimas. Maria recorreu a exemplos concretos dos trabalhos dos alunos para explicar e acrescentou que com a atribuição daquela avaliação pretendia desencadear nos alunos um investimento maior nas tarefas da aula e na reflexão sobre a estratégia seguida para obter a resposta. Na 1.ª fase da T2, Maria atribuiu o nível 4 – Falhas Mínimas, mas satisfatório - a todos os relatórios. Carlos não conseguiu provar o que era pedido no item 1., Joana, apesar, das experiências realizadas e das conclusões escritas, não evidenciou um domínio das fórmulas trigonométricas suficiente para obter um resultado melhor, Andreia e Patrícia, também, concretizaram alguns valores mas não conseguiram mostrar o pretendido. Maria considerou que o trabalho dos alunos para esta tarefa não deveria ser desvalorizado embora não tivessem mostrado o pretendido. Segundo Maria, a inabilidade dos alunos na construção da demonstração solicitada está relacionada com pouco trabalho desenvolvido em aula em torno desse tipo de tarefas: Não posso esperar que mostrem uma fórmula trigonométrica à primeira sem trabalho em aula para treinar esse tipo de demonstração. O trabalho 288 que realizaram revela domínio de alguns conceitos de trigonometria mas, ao mesmo tempo, foram incapazes de os mobilizar com sucesso. (STC14) Na T3, Maria atribuiu nível 5 – Resposta competente - ao trabalho de Carlos e Nível 3 – Falhas Graves, mas Quase Satisfatório – ao trabalho de Joana. O resultado apresentado no item b2) era aproximadamente o mesmo, mas Carlos apresentou o processo que permitia obtê-lo enquanto Joana apenas apresentava a resposta. O confronto de respostas e de avaliações, concretizado pelos alunos, serviu para reforçar a necessidade de completude das respostas e para mostrar os níveis de exigência de Maria: Neste caso, foi útil ter a tabela com os descritores para avaliar as produções. O feedback que dei ajudou cada um dos alunos a melhorar e a corrigir a sua resposta, mas os descritores permitiram-me clarificar o que pretendia que os alunos fizessem, dando respostas corretas e completas! (STC15) Na T5, Maria valorizou a diversidade de respostas apresentadas pelos alunos e atribuiu nível 5 – Resposta competente – na primeira versão do trabalho de Carlos e na primeira versão do trabalho de Joana, apesar de responderem através de estratégias diferentes ao item a). Maria deu pistas para a identificação dos erros e valorizou a comunicação matemática escrita pela explicitação das ideias que conduziram às justificações pretendidas. Nesta tarefa, os alunos reviram os conteúdos de Geometria e fizeram a conexão geometria – trigonometria. Apesar de no início Maria não ter valorizado a utilização da tabela de descritores, no final acabou por referir que a mesma foi importante para os alunos para a eficácia matemática dos seus trabalhos e para complementar o feedback atribuído: Os alunos valorizavam os descritores, até lhes davam, quiçá, mais importância. Acho que os entendiam como uma avaliação e isso é importante para eles, mas os descritores ajudaram a entender o meu feedback escrito, principalmente a mostrar alguns aspetos a melhorar nos trabalhos. (STC25) Autoavaliação. O feedback escrito permitiu a obtenção de uma avaliação dos produtos dos alunos antes da conclusão. Este aspeto foi o mais valorizado por Maria e pelos seus alunos. Para Maria, a atribuição de feedback escrito constituiu um sistema de promoção da reflexão do aluno sobre o seu próprio trabalho. O feedback escrito dado à tarefa T2 possibilitou a Carlos a compreensão de que a estratégia por si seguida permitia obter uma conclusão acertada mas não se constituía um mostre que. A discussão com os alunos do que se entende por mostre que permitiu que os alunos pudessem a seguir 289 refletir e equacionar a construção das suas respostas a partir dos comandos evidenciados em cada um dos itens: Carlos: A stor escreveu “não prova nada!” Maria: Sim, encontras uma relação verdadeira entre h e alfa mas não mostraste que a igualdade é verdadeira. Carlos: Nos mostre que devo mostrar como chegar à igualdade… Maria: Qual a diferença entre justifique e mostre que? Carlos: Tenho de ver isto novamente? Maria: Vê no caderno, tenta compreender o que deves fazer no mostre que... (A5M) O feedback escrito dado na 1.ª fase da T3 também permitiu que os alunos melhorassem os seus trabalhos para a 2.ª fase. Joana, ao apresentar a resposta sem a explicitação do processo usado, sujeitou-se a um feedback menos positivo que a impulsionou a refletir sobre a necessidade de apresentar os procedimentos que conduziram à resposta. Joana desenvolveu essa capacidade de autoavaliação por lhe ter sido dada a oportunidade de completar um trabalho e por ser valorizada a 2.ª fase em vez da 1.ª: A Joana é um exemplo de evolução. Desde aquela tarefa em que apresentou apenas o resultado que passou a ter mais cuidado com as respostas. A Joana está muito mais concentrada tanto a ler a pergunta para compreender como na construção da resposta. (STC25) A continuidade dessa prática incutiu nos alunos a autorreflexão sobre os seus trabalhos, nomeadamente procurando que incluíssem todas as justificações e indicações de processo requeridas pelo professor: A reflexão do aluno sobre o trabalho que concretizava evoluiu ao longo deste trabalho e isso significou a melhoria gradual dos últimos trabalhos, tanto ao nível da apresentação de justificações como da explicação de processos de resolução. (STC25) Aceitar que a primeira resposta (1.ªfase) do produto do trabalho dos alunos constituiu um documento de trabalho que tem continuidade e pode ser melhorado, a partir do feedback escrito, constituiu uma mais-valia para a aprendizagem matemática. Na T5, Carlos e Joana não estavam apenas preocupados em apresentar uma 1.ª fase correta e completa mas empenharam-se em compreender a diferença entre as suas respostas. Esse aspeto mostrou uma evolução positiva dos alunos em relação à sua aprendizagem matemática. A capacidade de autoavaliação saiu valorizada mas, também, os alunos se sentiram mais responsáveis pelos produtos que apresentavam: 290 Quando os alunos comparavam as respostas dadas e procuram compreender as diferenças, estavam a aprender mais do que aquilo que eu poderia supor no início. Efetivamente, entre a 1.ª e a 2.ª fase surgiram melhorias significativas, não apenas nos produtos, mas também na compreensão que os alunos procuravam alcançar naquilo que concretizavam. (STC25) Síntese. Os apelos à autoavaliação, através da comparação entre o trabalho realizado e a tabela de descritores da tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados, retirado de California CAP math report (1989), aparecem essencialmente nas primeiras tarefas, quer de Trigonometria, quer de Geometria. Nas últimas tarefas, de Trigonometria e de Funções, não são identificáveis essas indicações provavelmente pelo assumir da capacidade de autorregulação. No quadro seguinte, encontram-se sintetizados os tipos de intervenção de Maria nos dois tópicos para promover a autorregulação do desempenho, através do feedback escrito em relatórios com duas fases. QUADRO 34: TIPO(S) DESEMPENHO EM RE DE INTERVENÇÃO DE Tópicos para a autorregulação do desempenho Eficácia Matemática Autoavaliação MARIA PARA A AUTORREGULAÇÃO DO Tipo(s) de intervenção (Tarefa) promove a reflexão sobre a estratégia seguida (T2) incentiva a melhoria dos trabalhos (T2) mostra os seus níveis de exigência (T2; T3; T5) valoriza a comunicação matemática escrita (T2; T3; T5) promove a completude das respostas (T3) dá feedback à 1.ª fase (T2; T3; T5; T6; T8) promove a aproximação entre o produto e a resposta esperada (T3; T5) aceita a 2.º fase como produto final (T2; T3; T5; T6) Depois da aula O grupo refletiu em conjunto sobre alguns aspetos que tinham caracterizado a aula ou as aulas de aplicação das tarefas cujos relatórios foram sujeitos à atribuição de feedback. Em algumas tarefas foi possível discutir a atribuição de feedback à 1.ª fase do relatório escrito dos alunos devido ao desenrolar das aulas. Em outras, apenas se discutiu o impacto do feedback dado após a 2.ª fase. Balanço. Maria distinguiu a valorização do trabalho realizado pelo aluno como uma forma de o manter interessado e o motivar para corrigir as falhas e os erros dos relatórios escritos em duas fases. Na 1.ª fase, os alunos investiram na realização da proposta de trabalho, umas vezes com maior sucesso, outras nem por isso, mas Maria defendeu que o feedback escrito devia valorizar esse investimento: 291 Se queremos a continuidade e persistência no trabalho temos de o valorizar na 1.ª fase e colher os resultados na 2.ª fase. Mesmo quando existem erros, devemos incentivá-los a emendar ou aprofundar mais a resposta. (STC25) Procurando cumprir a não identificação dos erros, Maria ajudou os alunos a identificá-los através de sugestões para reflexão e de indicações para aprofundamento. Às vezes, os alunos recebiam o feedback através de exclamações sobre o domínio ou a viabilidade de continuidade de uma dada estratégia para atingir a resposta. Nesses casos quando, aparentemente, o feedback poderia conter juízos de valor negativos, Maria através da sua empatia com os alunos, mostrava-lhes o caminho a seguir para progredirem: Os alunos habituaram-se à minha maneira de dizer as coisas! Aquelas exclamações ou interrogações procuram que eles reflitam sobre o assunto e que equacionem outras estratégias …. ou pensem no que está errado no resultado. (STC25) O feedback escrito teve o papel de ajudar os alunos a melhorarem as suas produções para isso foi necessário construir um campo de entendimento entre Maria e os alunos. Nem sempre foi completamente explícito, mas a grelha dos descritores com os níveis de desempenho na tarefa ajudaram a promover aquilo que Maria procurava que os alunos atingissem. A valorização do trabalho em cada uma das tarefas e o feedback dado clarificaram os alunos sobre os aspetos mais significativos do resultado final pretendido por Maria: No início não gostava dos descritores, mas depois usei-os com utilidade para mim e para os alunos. Completava-os com o feedback escrito e isso tornou-se numa mais-valia para os alunos, para alcançarem aquilo que eu pretendia com produto final. (STC26) Dificuldades. Maria realçou a dificuldade temporal para a atribuição do feedback escrito e adequado a cada um dos alunos. Maria referiu que foi difícil atribuir o feedback a todos os alunos da turma quando o trabalho se concretizou em aulas consecutivas. No entanto, reconheceu a importância de desenvolver a mesma tarefa em aulas consecutivas e de os alunos acederem ao feedback do produto do trabalho realizado na 1.ª fase, antes de concretizarem a 2.ª fase: É difícil…para mim, foi muito complicado, de um dia para o outro analisei os trabalhos de todos e pensava no que devia escrever para ajudar os alunos a melhorarem e a continuarem. Embora considere que assim seja a melhor forma de os ajudar! (E2M) 292 Maria adotou a estratégia de agrupar os trabalhos dos alunos de acordo com o desempenho para tipificar o feedback e tornar essa tarefa mais ágil. Refere que lia todas as respostas e as agrupava consoante os erros cometidos e o grau de completude da resposta, antes de atribuir o feedback escrito: Tive de arranjar um esquema de organização. Lia os trabalhos todos e agrupava-os consoante estivessem mais ou menos incompletos ou tivessem mais ou menos erros, depois o feedback torna-se mais fácil. (E2M) Essa dificuldade prendeu-se, também, com o adequar o feedback a cada um dos trabalhos e de o tornar individualizado. Maria acrescentou que muitas vezes usou apenas pontos de exclamação e pontos de interrogação como uma forma de feedback. Essa escrita simbólica servia aos alunos, por os obrigar a refletir sobre os trabalhos concretizados e averiguassem da existência de erros ou da falta de continuidade das respostas. Maria referiu que não fez isso com todos os alunos, mas usou essa simbologia principalmente com os alunos que apresentavam melhor desempenho e por isso necessitavam de menor orientação: Para os alunos com melhor desempenho usei alguns pontos de exclamação e de interrogação…apenas para que refletissem sobre o que escreviam. Os melhores não precisavam de um caminho muito bem definido…essa parte guardei para quem realmente precisava de orientação. Mas, de qualquer forma tive dificuldade em adequar o que dizer às características do aluno e ao que estava escrito no papel. (E2M) Maria mostrou-se consciente da importância do feedback escrito para a conclusão do trabalho dos alunos, nomeadamente pela explicitação que constituía sobre o que ela considerava um trabalho completo: Percebi que o feedback escrito era fundamental para concluírem os trabalhos, compreenderem aquilo que seria um trabalho completo para mim e por saberem o que corrigir. (E2M) A individualização do feedback escrito apresentou-se como uma dificuldade por Maria apresentar insatisfação no tempo que poderia dedicar a ver a 1.ª fase dos produtos dos alunos. Maria procurou personalizar o feedback escrito, adequando-o às caraterísticas do aluno embora tenha organizado os trabalhos por grupos. Maria manifestou ambiguidade relativamente ao efeito dessa organização, por um lado o feedback dado encontrava-se influenciado pela diversidade de produtos lidos e por outro lado, para os alunos, foi mais fácil compreender o feedback escrito por ser passível de discussão entre os alunos: 293 Não sei avaliar se foi bom ou não. Tem aspetos positivos, todos entendiam o feedback dado e podiam discuti-lo, porque escrevi as mesmas coisas ao mesmo tipo de resposta. O aspeto negativo, e que me deixa desgostosa, é a falta de individualização na escrita, embora tenha sempre adequado algumas caraterísticas. (E2M) Síntese. No quadro seguinte, encontram-se sintetizadas as dificuldades de intervenção de Maria, e as ações tomadas para as ultrapassar. QUADRO 35: DIFICULDADES QUE AFETARAM A PRÁTICA DE FEEDBACK ESCRITO DE MARIA Dificuldade Dar feedback escrito de forma a trabalhar a tarefa na aula seguinte Ação do professor Tipifica o feedback de acordo com o desempenho Objetivo Permitir a continuidade do trabalho Aumentar a qualidade das respostas dadas Atribuir feedback adequado e individualizado Explicita o feedback e personaliza-o Não desmotivar os alunos Continuar o trabalho e finalizar a tarefa Constrangimentos Os constrangimentos, encontrados por Maria, ao desenvolvimento de práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática estão contextualizadas na sala de aula, e são comuns às duas práticas avaliativas experimentadas, IP-A e RE. No questionamento oral e no feedback escrito dado a relatórios escritos em duas fases, Maria destacou: i) o desconhecimento para a preparação e desenvolvimento dessas práticas; ii) as dificuldades reveladas pelos alunos ao se envolverem no trabalho; e iii) o número de alunos da turma. Maria considerou ser necessário algum tempo para efetuar leituras na área da avaliação formativa e compreender as vantagens que essas práticas trazem para a aprendizagem. Confessou que no início do projeto apresentava uma atitude curiosa, embora séptica, relativamente ao desenvolvimento dessas práticas por desconhecer as mais-valias que poderiam trazer para o processo ensino aprendizagem: Estava longe que saber de que se tratava, embora estivesse curiosa. Precisei de algum tempo para ler e me adaptar aos termos usados e compreender os seus significados…às vezes não estava a ver como resultaria…mas depois, na aula tudo foi mais fácil. (E2M) Os textos lidos no início da 2.ª fase do projeto serviram para construir um entendimento comum do que se pretendia com as práticas de avaliação formativa, que para Maria se apresentavam como uma área desconhecida. Para a preparação de aulas 294 relativas às práticas avaliativas, Maria considerou que para o futuro implementará as mesmas práticas e as mesmas tarefas com mais confiança e nos mesmos moldes, com economia de tempo na preparação: Para mim tudo foi complicado…desde selecionar a tarefa, pensar o que dizer aos alunos perante um erro ou uma dificuldade. Senti-me muito atrapalhada. Mas, agora já vejo as coisas de outra forma e vou fazer as mesmas tarefas e as mesmas práticas melhor com certeza e gastando menos tempo na sua preparação. (E2M) Esse constrangimento foi desaparecendo ao longo do desenvolvimento do projeto. Após a primeira aula de questionamento oral, Maria já se apresentava mais confiante e entusiasmada com o trabalho que os alunos haviam realizado: Incrível … como eles trabalharam tanto! Fizeram mais nesta aula do que é habitual. Às vezes querem apenas copiar do quadro, hoje não! Estavam mais motivados e isso já foi uma mais-valia para mim e para eles. (STC12) Inicialmente, a aula de Maria estava organizada de uma forma muito tradicional. Maria fazia uma introdução teórica de conteúdos, os alunos executavam exercícios e, antes de os alunos terem tempo de acabá-los, Maria fazia a correção no quadro. Olhar para o desenvolvimento da aula desta forma, condicionou a escolha das primeiras tarefas e a concretização das mesmas: A minha realidade era outra, isso impunha-me uma forma de ver as coisas diferente. Agora, escolheria tarefas mais abertas em que se possibilitasse um maior envolvimento dos alunos… aliás como aconteceu mais para o fim. (E2M) Maria, também, desconhecia o tipo de feedback escrito que poderia atribuir às produções escritas dos alunos. Estava muito ligada à escrita de símbolos (o “xis” para errado e o “cê” para certo). Habitualmente, a escrita era entendida como juízos de valor e não escrevia a informação que podia ajudar o aluno a identificar o erro e a concluir o trabalho: Geralmente, não escrevia nos trabalhos dos alunos… evitava-o. Era desconhecimento meu… mas escrever o que falta fazer ou questionar para identificar os erros é mais adequado do que usar um certo com tracinhos! (E2M) As dificuldades reveladas pelos alunos em algumas tarefas surpreenderam Maria de tal forma que as destacou como um constrangimento à implementação das práticas avaliativas para a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática. A 295 ultrapassagem dessas dificuldades de compreensão dos enunciados das tarefas aparece como um fator essencial à concretização do trabalho: Confrontei-me com o problema dos alunos lerem e não saberem o que fazer. Isso assustou-me. Acho que nunca tinha equacionado essa situação….mas rapidamente me coloquei a questão como aprendem a autorregular-se para responder a um item de matemática se não compreendem o que lhes é perguntado? (STC12) A perplexidade de Maria nas primeiras aulas deu lugar uma tentativa de tipificação dos comandos das perguntas das tarefas matemáticas, visível na T2. Maria procurou que os alunos compreendessem a diferença entre mostre que e determine. Em particular no questionamento oral, foi visível, nas tarefas seguintes, a ação de Maria na sala de aula numa atitude certificadora de que todos os alunos compreendiam o enunciado. Na sua perspetiva, essa dificuldade impediu a concretização da tarefa: Tive de confirmar o que estavam a fazer…não tinha certeza de terem compreendido a diferença entre mostre que e determine….isso bloquei tudo. Como podem escolher a estratégia de resposta se, à partida, não têm claro o que é para fazer? (STC14) No feedback escrito, Maria teve de intervir de forma a relembrar aos alunos que não estavam a responder à questão corretamente. Nalgumas situações, a explicação tinha sido dada através do feedback oral, mas na forma escrita, por dificuldades encontradas pelos alunos, apresentavam uma resposta escrita contrária ao que tinha sido acompanhado em aula: Estava convencida que tinha sido clara ao explicar a diferença entre mostrar e determinar ao Carlos. Mas, no relatório escrito, ele faz exatamente a substituição de vários valores na tentativa de mostrar que a igualdade era verdadeira… não compreendeu! (STC13) O número de alunos da turma foi referido por Maria principalmente para o feedback escrito a dar à 1.ªfase dos relatórios escritos. Maria considerou que com um menor número de alunos a atribuição de feedback poderia ser mais diversificada e personalizada, o que resultaria num melhor aproveitamento do mesmo para a aprendizagem e a autorregulação: 25 alunos numa sala é muito para dar feedback, mas 25 trabalhos para ler e responder ainda me criou maiores problemas. Com menos alunos talvez conseguisse personalizar mais o feedback dado, diversificá-lo e personalizá-lo. (E2M) 296 Síntese Maria é uma professora com alguma experiência letiva, nomeadamente no ensino secundário, mas nunca tinha experimentado de uma forma tão estruturada práticas avaliativas com o intuito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática. Adepta de uma planificação baseada nos conteúdos programáticos da Matemática, preocupada com o rigor científico e com a aprendizagem de propriedades matemáticas, Maria encarou a sua participação neste estudo como uma oportunidade para aprofundar os seus conhecimentos na avaliação formativa, na diversificação de atividades para a aula e na promoção da participação dos alunos, tornando-os mais participativos e responsáveis pelo seu trabalho. Inicialmente, Maria referia-se a IP-A e a RE como duas práticas avaliativas que constituíam um grande desafio para si. Tanto numa prática avaliativa, como na outra, perspetivava a promoção da autorregulação através, predominantemente, da interação professor alunos (questionamento oral), na primeira, e através do feedback escrito (escrita avaliativa), na segunda. Em aula, através do questionamento oral, Maria apoiou os alunos na interpretação do enunciado da tarefa, na organização da resposta e na confrontação de resultados, especialmente em Trigonometria e Funções. Estimulou-os a partir das suas próprias estratégias para responderem, individualmente ou em grupo, a itens de problemas e de exercícios. Maria procurou o envolvimento dos alunos usando intervenções associadas ao encaminhamento dos alunos, ao fornecimento de pistas para a progressão e à identificação de erros e dificuldades. O questionamento oral serviu, também, à articulação das ideias dos próprios alunos. Maria procurou não validar, imediatamente, a resposta do aluno, reforçar a necessidade de argumentação numa resposta, apelar ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas na resolução de um problema, e ajudar individualmente. No feedback escrito, predominou as intervenções de Maria para colocar em confronto as ambiguidades na resposta e para clarificar o que pretendia que os alunos concretizassem. Mas, Maria não esqueceu o estímulo às estratégias individuais e a articulação de ideias próprias no feedback escrito. Diversificou o feedback, procurando adequá-lo ao aluno e procurando que ele valorizasse a sua resposta a partir da completude de respostas próprias. Para Maria, a interação professor – alunos permitiu apoiar o processo de resolução de uma tarefa através da promoção da autoavaliação, do encaminhar para a releitura dos enunciados, para identificação e correção de erros, e exposições a toda a turma a partir 297 da compreensão das dificuldades dos alunos. Os relatórios escritos ajudaram, também, a ultrapassar dificuldades, mas, essencialmente, permitiram apoiar a continuidade do trabalho realizado, a indicação do caminho a seguir, para aprofundamento ou conclusão da tarefa, e a clarificação dos seus critérios de avaliação, aproximando as respostas dos alunos daquilo que eram as expetativas de Maria. Nas duas práticas avaliativas implementadas, com o propósito de promover a autorregulação do desempenho matemático, Maria valorizou a comunicação escrita, o rigor de escrita e o uso da linguagem matemática, e apelou à completude e correção das respostas. Em IP-A, em Geometria, foram visíveis vários momentos em que Maria apelou à verificação de cálculos ou à verificação da razoabilidade de um resultado, atribuiu pistas para a identificação de erros e promoveu a comparação de resultados entre alunos. Em RE, do feedback dado à 1.ª fase sobressaiu a transversalidade aos temas matemáticos na procura de aproximação entre o produto do trabalho do aluno e a resposta esperada por Maria. A aceitação da reformulação dos trabalhos e a realização da 2.ª fase constituiu uma ferramenta essencial para o envolvimento dos alunos e para a sua autoavaliação. Maria parece não ter passado exatamente pelas mesmas dificuldades ao concretizar as duas práticas avaliativas. Em sala de aula, em interação através do questionamento oral, Maria destacou dificuldades relacionadas com o trabalho dos alunos na concretização dos seus produtos matemáticos, particularmente na Geometria. Para os relatórios escritos, Maria referiu aspetos organizativos e a sua pouca experiência em atribuir feedback escrito. Em IP-A, os aspetos com maior relevo para Maria são: a compreensão dos procedimentos próprios da matemática; a compreensão de significados; a falta de empenho; e a escolha da estratégia adequada. Em RE, destacamse: o dar feedback escrito de forma a trabalhar a tarefa na aula seguinte; e o atribuir feedback adequado e individualizado. Em sala de aula, Maria dinamizou momentos de trabalho a pares com momentos de trabalho individual, gerindo as práticas IP-A e RE em tarefas escolhidas com o propósito de promover a autorregulação da aprendizagem matemática. Com a exceção da tarefa T1, nas tarefas implementadas por Maria verificou-se a realização do RE e a concretização da 2.ª fase não se verificou apenas na T8. A conciliação das duas práticas foi vantajosa por permitir completar através do feedback escrito a interação da sala de aula. Nessa integração, Maria procurou gerir o processo ensino aprendizagem de forma a aumentar a qualidade das respostas dadas e não desmotivar os alunos, para que estes continuassem os trabalhos e finalizassem as tarefas. 298 CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES Síntese do estudo Neste estudo procurei compreender e aprofundar o conhecimento sobre as práticas avaliativas de professores de Matemática do ensino secundário que contribuam para a promoção de uma atitude autorreguladora do aluno, face à sua aprendizagem matemática, e os constrangimentos que os professores de Matemática enfrentam aquando da implementação dessas práticas. Para a consecução destes objetivos foram definidas as seguintes questões: • Qual a natureza e as características das práticas avaliativas de professores de Matemática, trabalhadas num contexto de trabalho de natureza colaborativa, que procuram promover a autorregulação da aprendizagem? • De que forma os professores de Matemática procuram integrar as práticas avaliativas para promover a autorregulação no quotidiano da sala de aula? • De que modo as práticas avaliativas desenvolvidas contribuem para promover a autorregulação das aprendizagens matemáticas? • Que constrangimentos encontram os professores de Matemática para a promoção de atitudes autorreguladoras da aprendizagem matemática? Como procuram ultrapassá-los? O desenvolvimento da vertente reguladora da avaliação assume-se como uma forma de dar orientação à consistência que deve existir entre a forma como se desenvolve o currículo, nas salas de aula, e as estratégias, as técnicas e os instrumentos de avaliação utilizados. É um objetivo curricular por cumprir (Fernandes, 2005). Vários investigadores referem que a avaliação que envolve a preocupação com o funcionamento e a regulação dos processos de interação e de comunicação matemática da sala de aula são determinantes na melhoria dos resultados dos alunos (Black & Wiliam, 1998; Cambra-Fierro, & Cambra-Berdún, 2007b; Fernandes, 2006b; Gardner, 2006), no entanto destaca-se a necessidade do carácter intencional, contínuo e interativo dessas práticas (Fernandes, 2006a; Santos, 2002; Santos et al., 2010). A avaliação fornece informação relevante sobre a aprendizagem dos alunos e pode ajudar o professor a gerir o processo ensino aprendizagem (Pinto & Santos, 2006). Quando o professor toma decisões acerca da forma de promover a aprendizagem 299 matemática, em particular nos temas Trigonometria, Geometria e Funções, tendo em conta os dados recolhidos, essa avaliação corresponde a um processo de regulação (Santos, 2008). Mas, em simultâneo, essas ações servem de apoio à própria aprendizagem (Santos, 2002; Stobart, 2006). O crescente envolvimento dos alunos nas decisões que o professor toma acerca do processo ensino aprendizagem, também, inclui a intenção de promover nos alunos a autonomia, a eficácia e a capacidade de trabalharem por si mesmos, por outras palavras, a aquisição, a utilização e o desenvolvimento de estratégias de autorregulação da aprendizagem (Santos, 2002; Zimmerman, 2000). Para levar essas intenções à prática é necessário que o professor negocie com os alunos os critérios de avaliação (Jorro, 2000), e explicite os objetivos de aprendizagem nos temas matemáticos trabalhados, para que o aluno possa saber o caminho a seguir (Hattie & Timperley, 2007). O aluno procura interpretar e compreender o que deve fazer, através de um processo de revisita das suas estruturas do conhecimento (metacognição) para dar resposta à situação (Santos, 2002). Esse processo, de monitorização da aprendizagem, é concretizado pelo próprio, e denomina-se autorregulação (Santos, 2002; Schunk, 2005; Zimmerman, 2000). A autorregulação das aprendizagens matemáticas pode ser promovida pelo professor tendo em conta um conjunto de ações, neste estudo destacam-se o questionamento e o feedback (Boekaerts, 1997, 1999; Hattie & Timperley, 2007; Price et al., 2010; Santos, 2002; Santos et al., 2010; Sadler, 1989; Stobart, 2006; Schoenfeld, 1992). Numa metodologia qualitativa de natureza interpretativa e design de estudo de caso, estudei dois professores (casos) de Matemática durante dois anos letivos, José e Maria. Num trabalho de natureza colaborativa, conceberam-se práticas para, em seguida, serem concretizadas e, posteriormente, refletidas. A recolha de dados, em Matemática, no 11.º ano, nos temas Trigonometria, Geometria e Funções, incluiu a observação, e o registo áudio de aulas e de sessões de trabalho, a entrevista aos participantes, a recolha de documentos das práticas letivas e os produtos do trabalho realizado pelos alunos em tarefas matemáticas. O professor José e a professora Maria planificaram, implementaram e refletiram sobre as práticas IP-A (interação professor – alunos na aula) e RE (relatório escrito em duas fases), para promoverem a autorregulação da aprendizagem matemática de alunos do ensino secundário. 300 IP-A é caracterizada por perguntas, estímulos e orientações dadas pelo professor durante a concretização de uma tarefa de matemática (Lester et al., 1992; Santos, 2005). O impacto dessa avaliação é condicionado pela oportunidade de intervenção e pelo aumento da confiança do aluno na construção do seu conhecimento matemático (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009; Hattie & Timperley, 2007). Nessa prática, em Trigonometria, Geometria e Funções, o professor deve evitar corrigir os erros e adotar uma atitude que contribua para os alunos passarem, autonomamente, a formular questões. Os alunos podem ser remetidos para as suas próprias produções ou para o texto das tarefas propostas, ou ainda, pode ser sugerida a partilha e a discussão, em pares ou em grupo, das interpretações feitas ou das respostas dadas (Henning et al., 2012). RE é um relatório sobre a resolução de uma tarefa, tendo por base um guião, acompanhado por feedback à 1.ª fase, antes de estar concluído. O guião, adaptado ao ano de escolaridade, foi acompanhado de uma tabela de descritores para a orientação dos alunos. O feedback dado à 1.ª fase tende a ajudar os alunos a progredir, sem se apresentar dependente do tema matemático trabalhado, identificando o que estava certo, os erros e dando pistas para completarem os trabalhos. Aproximando-os daquilo que é expectável pelo professor (Handley & Williams, 2011). A avaliação da resposta foi feita através do fornecimento de feedback escrito e da atribuição de um nível de desempenho (descritor), quer à 1.ª fase, quer à 2.ª fase. A seleção de tarefas que possam servir para ensinar e aprender constituiu um desafio para os professores quando procuram integrar a avaliação, o ensino e a aprendizagem (James, 2006; Santos & Pinto, 2006), para promover a autorregulação da aprendizagem matemática (Black & Wiliam, 2006c). De salientar que, nas práticas avaliativas estudadas, foram usadas tarefas de características desafiadoras (Stein & Smith, 1998; Ponte et al., 2007), nos temas Trigonometria, Geometria e Funções, tendo sido, predominantemente, realizadas individualmente. 301 Conclusões do estudo Natureza e características das práticas avaliativas promotoras da autorregulação da aprendizagem Matemática Ao longo do estudo, as práticas de José e Maria evoluíram, apresentando características que fundem as abordagens de cunho cognitivista e de cunho sociocultural (Ponte, Quaresma & Branco, 2012). Por um lado, no início, sobressaía a vertente cognitivista através de uma planificação marcada por um conjunto de opções curriculares e que se apresenta como “agenda” (Ponte et al., 1999). Também, Maria e José revelavam conceções associadas à verificação de aprendizagens e conhecimentos. Apresentavam crença na vertente classificativa da avaliação e mostravam a falta de experiência na concretização de tarefas em duas fases e no fornecimento de feedback ao produto dos trabalhos dos alunos. Por outro lado, ao longo do estudo, a vertente sociocultural manifestava-se na preocupação de se ser cauteloso na seleção das tarefas a propor aos alunos, no apoio à sua concretização e nas evidências que esse trabalho fornecia para a melhoria do processo ensino aprendizagem. Essas ações, com significado para os professores (Ponte & Chapman, 2006), têm como motivo a valorização do conhecimento do aluno. A atribuição de uma maior visibilidade ao papel que o aluno tem na construção do próprio conhecimento passa por o professor dar uma atenção especial aos processos de regulação, de feedback, de autoavaliação e de autorregulação das aprendizagens. As práticas avaliativas IP-A e RE permitem aprofundar esses processos. Em IP-A sobressai a natureza interativa do questionamento e em RE a natureza semântica do feedback. IPA e RE resultaram da intencionalidade dos professores em experimentá-las, na forma de processos, e a avaliação dos resultados das aprendizagens em Trigonometria, Geometria e Funções foram entendidos para melhorarem essas mesmas aprendizagens (Wiliam et al., 2004). Nesta perspetiva, a avaliação é um ato instantâneo, situado e holístico (James, 2006) e apresenta os pressupostos seguintes: i) a recolha de informação faz-se de forma interativa e, predominantemente, individualizada e tem implicações imediatas na aprendizagem; ii) a negociação e renegociação dos processos ensino aprendizagem baseiam-se na interpretação dos dados recolhidos, uma vez que os envolvidos, professor e aluno, são ambos construtores do saber; iii) o apoio nas tarefas é feita de forma individualizada, interativa e negociada. 302 Nas práticas avaliativas estudadas destacam-se a autorregulação da resposta e a autorregulação do desempenho, transversais a IP-A e a RE. A autorregulação da resposta serve a construção da própria aprendizagem (Black & Wiliam, 1998; Hattie & Timperley, 2007), ou de um tipo de abordagem na resposta, ou até mesmo o começar de novo, o que pode indiciar autocontrolo do aluno e um compromisso pessoal para a concretização eficaz da tarefa (Boekaerts, 1999; NCTM, 2007). Em cada um dos casos, a promoção da autorregulação da resposta sobressai nas primeiras tarefas de Trigonometria e de Funções, em que os professores procuram desenvolver métodos de trabalho de longo prazo. A autorregulação do desempenho serve o aperfeiçoamento académico (matemático) e a autoavaliação. Geralmente, cada um dos casos apresenta ações semelhantes dentro dos diferentes temas matemáticos. Os professores procuram respostas completas e corretas através da valorização da reflexão para a identificação de erros e ultrapassagem de dificuldades. IP-A. Na autorregulação da resposta são apreciadas três categorias: compromisso com as tarefas matemáticas; estímulo às estratégias individuais; e articulação de ideias próprias. Relativamente ao compromisso com as tarefas matemáticas em IP-A, José e Maria aproximaram-se ao estimularem os alunos a discutirem entre si e ao identificarem os erros de interpretação e/ou de compreensão para definir o caminho a seguir na concretização de uma dada tarefa. Mas, afastaram-se no apoio dado aos alunos na interpretação, na organização da resposta e na remissão dos alunos para o que se encontrava escrito na proposta de trabalho. Embora, José e Maria questionassem para que os alunos avaliassem os percursos realizados e explicitassem as razões das suas dificuldades e/ou sucessos (Santos, 2002), predominantemente, José remeteu para o que estava escrito na proposta de trabalho e Maria estimulou a procura de contradições provocadas por erros de interpretação. Relativamente ao estímulo às estratégias individuais em IP-A, como aspetos transversais à ação de José e de Maria destacaram-se a ajuda na seleção dos dados necessários para responder, o encaminhar a partir das estratégias dos alunos, ou seja o fornecer pistas para a progressão, e o questionar para a identificação de erros. Não se identificam aspetos diferenciadores, nesta categoria, porque a planificação foi efetuada em colaboração e o estímulo às estratégias individuais é essencial para a autorregulação (KMOFAP, referido em Black et al., 2003), embora, José tenha promovido esses apoios essencialmente nas tarefas de Trigonometria e Maria manteve-os nas tarefas dos temas 303 seguintes - Geometria e Funções. Também, a articulação de ideias próprias é igualmente encontrada na prática dos dois professores. Como forma de promover a articulação de ideias próprias, José e Maria procuraram ajudar individualmente os alunos, apelaram ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas na resolução, não validaram imediatamente, a resposta, e reforçaram a necessidade de argumentação da resposta. Em suma, em IP-A, para promover a autorregulação da resposta, José e Maria procuraram que os alunos aprendessem através do processo de verbalização das suas ideias e através da resposta às questões do professor (NCTM, 2007). Quando analisam as respostas dos alunos, os professores aprofundam o conhecimento que têm da forma como eles organizam a informação e a resposta (autorregulação da resposta). Essas práticas ajudaram as estruturas de conhecimento do aluno, permitindo o questionamento apropriado para dar a resposta adequada à situação (metacognição), contribuindo deste modo para a autorregulação (Santos, 2002; Schunk, 2005). Na autorregulação do desempenho são apreciadas duas categorias: eficácia matemática e autoavaliação. Em IP-A, José e Maria promoveram a eficácia matemática através da vontade em obter respostas completas e corretas; do questionamento para averiguar do nível de domínio matemático; do reforço da importância de alguns procedimentos que caracterizam a Matemática; e da valorização da comunicação matemática, nomeadamente no rigor da escrita e no uso de linguagem matemática. Mas, para além destes aspetos transversais, as práticas de José e Maria apresentaram aspetos diferenciadores: a correção dos erros e o confronto entre a explicação oral e o registo escrito. Enquanto Maria valorizou o papel do erro associado à construção da eficácia matemática, nomeadamente, promovendo a reflexão sobre os modos de acionar a sua identificação e a consequente ultrapassagem, José incentivou a transposição para o registo escrito daquilo que eram as expressões orais em IP-A e, posteriormente, uma reflexão sobre esses apontamentos. Por exemplo, em Trigonometria, Andreia e Patrícia (alunas de Maria) cometeram vários erros de cálculo na T2 o que implicou a intervenção de Maria para a sua identificação e ultrapassagem. José, na mesma tarefa, interveio junto de Alexandre (aluno de José) para compreender se as respostas orais resultavam de intuições baseadas nas figuras ou no trabalho algébrico. Relativamente à promoção da autoavaliação em IP-A, José e Maria desenvolveram algumas ações que a visavam (James, 2006; Pinto & Santos, 2006). Verificaram-se três ações comuns aos dois professores: não validar a resposta, encaminhar para a releitura do enunciado e explicar a toda a turma, numa lógica de que a execução dos trabalhos é 304 feita pelo aluno, mas o professor deve colocar perguntas, enquanto decorre a concretização (Gipps & Stobart, 2003). No quadro seguinte, sintetizo, comparativamente, as ações de José e Maria que visavam a autorregulação da aprendizagem matemática, em IP-A. QUADRO 36: CARATERÍSTICAS DAS PRÁTICAS DE JOSÉ E MARIA EM IP-A (SÍNTESE) IP-A Compromisso com as tarefas matemáticas Autorregulação Estímulo às estratégias da resposta individuais Articulação de ideias próprias Eficácia matemática Autorregulação do desempenho Autoavaliação Ações de José Ações de Maria Incentivo à discussão entre alunos Identificação de erros Apoio na compreensão Incentivo à procura de do texto da tarefa contradições no proposta para trabalho produto do trabalho dos alunos Ajuda à seleção de dados Orientação a partir do trabalho do aluno Incentivo à identificação de erros Apoio individual Não validação imediata de respostas Apelo ao registo das tentativas bem e mal sucedidas Apelo à necessidade de argumentar Promoção da completude das respostas Avaliação do conhecimento matemático Valorização da comunicação matemática Confronto dos registos Reflexão sobre a escritos com as identificação e expressões orais ultrapassagem de erros Promover o acesso a trabalhos anteriores (âncoras) Não validar respostas Encaminhar para a releitura do enunciado Explicar a toda a turma Apoio à interpretação Apelo à revisão do do enunciado da tarefa processo de resolução Nas ações de José predominaram os objetivos relacionados com a autorregulação pelo privilégio da compreensão (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009), da profundidade dos conhecimentos matemáticos (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009; Webb, Boswinkel & Dekker, 2008), da ultrapassagem de erros e dificuldades (Abrecht, 1994; Alves, 2004; Santos, 2004; 2008a). Tal como para Stiggins (2005), Maria, nas suas ações, procurou a autoavaliação pela identificação de erros e dificuldades, na ajuda para o prosseguimento, e pela promoção da revisão da resposta (Jorro, 2000; Semana & Santos, 2008). Maria acrescenta que desenvolver nos alunos a compreensão da necessidade da autoavaliação, de acordo com critérios explícitos, é a 305 maneira de ajudá-los a acreditar que eles são realmente capazes de ter sucesso (Brookhart et al., 2004). RE. Os aspetos transversais identificados em RE relacionam-se com a planificação das práticas avaliativas. Nas sessões de trabalho colaborativo foram definidos os seguintes critérios para o feedback a atribuir (Black & Wiliam, 2006c; NCTM, 1999; Jorro, 2000; Santos, 2002): incentivar para melhorar a 2.ª fase do relatório; promover a completude das respostas; mostrar os níveis de exigência das respostas; propor alterações na estratégia seguida para a concretização da tarefa; e remeter os alunos para o que está escrito na proposta de trabalho. Na prática, por um lado, José e Maria apresentaram a necessidade de orientar os alunos através da tabela de descritores (Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados: California CAP math report, 1989), e do que pretendiam com a tarefa (QUADRO 24 e QUADRO 32). Por outro lado, verificou-se, por parte dos dois professores, a necessidade de responsabilizar o aluno pela avaliação do seu próprio trabalho, ao colocar em confronto ambiguidades na resposta e ao solicitarem a justificação (Lau, Singh & Hwa, 2009; Handley & Williams, 2011). Por exemplo, em Trigonometria, deliberadamente, como afirmou José na T2, a atribuição do descritor 3 à 1.ª fase do relatório de Davide teve como principal objetivo estimular à melhoria da 2.ª fase. Também, Maria usou os descritores para diferenciar desempenhos na 1.ª fase e incentivar à completude da resposta escrita, por exemplo relativamente à 1.ª fase do relatório de Joana. Relativamente ao compromisso com as tarefas matemáticas em RE, José e Maria revelaram ações semelhantes, que podem ser justificadas pela falta de experiência de ambos na atribuição de feedback escrito e pela planificação conjunta dessa prática avaliativa. Ambos apresentam dificuldades de adequação da escrita avaliativa, acusando o facto de o feedback escrito revestir-se de uma diversidade de tipos de modo a adequar-se ao fim a que se destina, como aparece referido em vários estudos (Bloxham & Campbell, 2010; Gipps, 1999; Santos, 2003c; 2004; Santos & Dias, 2007). Para estimular as estratégias individuais, em RE, sobressai apenas um aspeto transversal às práticas de José e Maria: diversificar o feedback (Wiliam, 1999; Santos & Dias, 2007). Esse aspeto mostra as características do que são os critérios implícitos de cada um dos professores: José valorizou o processo de resolução e, por isso, encaminhou os alunos nas suas respostas a partir das estratégias definidas pelos próprios 306 (Buhagiar & Murphy, 2008); Maria valorizou a completude da resposta e, por isso, procurou que os alunos identificassem os erros e os corrigissem para que a resposta pudesse corresponder ao esperado. Ao fomentar a articulação de ideias próprias, José e Maria procuraram, através do feedback, que os alunos clarificassem respostas e apresentassem justificações que validassem matematicamente as suas opções (Lau, Singh & Hwa, 2009). Por exemplo, em Trigonometria, José não confirmou nem desmentiu uma afirmação do grupo Magda e Rute na T2 e procurou que essas alunas encontrassem argumentos irrefutáveis para a asserção feita. Maria, na T3, não hesitou em considerar fundamental a justificação para a resposta de Patrícia, argumentando da necessidade de convencimento, a partir de procedimentos matemáticos. Nesses casos, a 2.ª fase do RE surge como um documento muito completo e bastante revelador do trabalho matemático do aluno. Mas, à semelhança do que acontece nas ações que visam o estímulo às estratégias individuais, as ações para a articulação de ideias próprias mostram, mais um vez, a valorização de José ao processo de resolução e a valorização de Maria à resposta. José apelou ao registo das tentativas bem, ou mal, sucedidas na resolução e solicitou, na forma escrita, a continuidade de um dada estratégia de resolução (por exemplo, na T4). Maria, por sua vez, permitiu a correção de erros, eliminando da 2.ª fase os erros cometidos na 1.ª fase. Deste modo, em RE, a autorregulação da resposta é marcada pela diferença de ações entre José e Maria, evidenciando a valorização do processo de resolução da tarefa por oposição à valorização dos erros que contaminam a resposta. A prática de José enquadra-se no exemplo 2 de James (2006), em que a avaliação permite dotar os alunos de ferramentas de ação para ultrapassar a primeira dificuldade numa atividade e, após feedback, estabelecer um caminho de reformulação e melhoria. Para Maria, o feedback, por ser uma informação útil sobre as etapas vencidas e sobre as dificuldades encontradas (Hattie & Timperley, 2007), está associado à componente de assistência na avaliação, referida por Hadgi (1994). Isto é, marcar etapas e dar pontos de apoio para progredir. Tendo sido a primeira versão sujeita a apreciação e a comentários escritos do professor, o feedback escrito, em qualquer uma das valorizações, apresenta-se como um momento de novas aprendizagens (Bloxham & Campbell, 2010; Leal, 1992; Santos, 2004). A eficácia matemática para promover a autorregulação do desempenho, em RE, é identificável quando José assinala, no feedback escrito, as falhas e os erros dos alunos e busca a recordação de trabalhos anteriores como âncoras da concretização da 2.ª fase. 307 Maria, para a mesma categoria, valorizou a resposta correta e buscou a reflexão dos alunos sobre as premissas que originaram uma determinada resposta (Quinton & Smallbone, 2010), mostrando uma conceção de aprendizagem mais centrada no aluno (Bloxham & Campbell, 2010; Santos, 2003a; Soares, 2007). Mas, quer José, quer Maria, permitiram que o aluno assumisse um papel mais interventivo ao possibilitar a realização de uma 2.ª fase após o fornecimento de feedback. Esse alcance foi evolutivo e tornou-se mais significativo nas últimas tarefas. Relativamente à promoção da autoavaliação em RE, José e Maria regularam-se por três ações essenciais na escrita avaliativa: clarificação dos critérios de avaliação, mostrando as características de um trabalho completo (tabela de descritores); correção dos trabalhos em simultâneo com a ajuda na ultrapassagem de erros e dificuldades; e identificação do caminho a seguir para conclusão ou aprofundamento das tarefas. Cada uma dessas ações concretizou-se de modo particular e tendo objetivos diferenciadores. José procurou aproximar as respostas provenientes dos produtos dos alunos ao nível exemplar dos descritores da tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados (California CAP math report, 1989). Maria pretendeu respostas escritas corretamente e coerentes com o pedido no texto das tarefas (Wiliam, 1999). Mas, há outro aspeto que sobressai na prática dos professores: envolver os alunos nas tarefas matemáticas. Esse objetivo transversal, evidenciou-se de igual modo nos três temas – Trigonometria, Geometria e Funções – foi concretizado na forma escrita por ações diferentes: José escreveu incentivos à participação; e Maria escreveu apoios à continuidade dos trabalhos. Por exemplo, José valorizou a participação de Magda pela persistência da aluna na concretização da 2.ª fase do relatório da T4; Maria valorizou a diversidade de respostas apresentadas na T5 e deu feedback para o desenvolvimento das estratégias seguidas. No quadro seguinte, sintetizo, comparativamente, as ações de José e Maria que visavam a autorregulação da aprendizagem matemática, em RE. QUADRO 37: CARATERÍSTICAS DAS PRÁTICAS DE JOSÉ E MARIA EM RE (SÍNTESE) RE Compromisso com as tarefas matemáticas Ações de José Ações de Maria Explicitação de critérios de avaliação Responsabilização do aluno pela avaliação do seu trabalho Diversificação do feedback 308 Estímulo às estratégias individuais Autorregulação da resposta Articulação de ideias próprias Eficácia matemática Autorregulação do desempenho Autoavaliação Encaminhamento dos alunos a partir das estratégias definidas pelos próprios Encaminhamento para a identificação de erros e sua ultrapassagem Incentivo à apresentação de uma resposta correta e completa Promover a clarificação de respostas Solicitação de justificações Assinala falhas e erros Recordação de trabalhos anteriores (âncoras) Incentivo à reflexão Clarificação dos critérios de avaliação Correção dos trabalhos Identificação do caminho a seguir para a conclusão Aproximação aos descritores da tabela Apelo à concretização de respostas corretas e completas Em suma, no geral, a autorregulação da resposta é assegurada por estratégias cognitivas e de motivação para as quais contribui o questionamento e o feedback (Mason, 2000; Gipps & Stobart, 2003; Santos, 2002; Roullier, 2004). Na concretização das tarefas, em IP-A e RE, José e Maria procuraram reforçar a necessidade de argumentação/justificação da resposta (Bloxham & Campbell, 2010; Lau, Singh & Hwa, 2009), embora José procurasse que os alunos valorizassem o percurso para obter determinada resposta, e Maria seguisse a identificação de erros e o apelo à reflexão sobre as suas causas e suas consequências. Nas primeiras tarefas, este apelo foi mais visível, não por serem do tema Trigonometria mas porque os professores procuravam desenvolver uma capacidade duradoura. No geral, a autorregulação do desempenho é assegurada por estratégias metacognitivas. Ao promoverem a eficácia matemática e a autoavaliação, José e Maria situaram-se no desenvolvimento de capacidades de domínio do conhecimento matemático, propriedades, conceitos e organização de respostas completas com a linguagem adequada, em simultâneo com o desenvolvimento de práticas de ensino individualizadas e diversificadas. Em cada uma das práticas, IP-A e RE, José procurou promover a completude das respostas e valorizou os conhecimentos adquiridos anteriormente (âncoras); Maria, para além da completude das respostas, valorizou a comunicação matemática, o rigor da escrita e o uso da linguagem matemática. Estes objetivos, diversificados através das diferentes tarefas, situavam-se ao nível desafiador e foram acompanhados pelos professores. Para a promoção de estratégias metacognitivas, 309 também, contribui a ação para a autoavaliação (Lew et al., 2010; Santos, 2002). Em IPA e em RE, para promover a autorregulação, José procurou avaliar a profundidade de domínio dos conhecimentos matemáticos e identificou erros e dificuldades; Maria procurou aumentar o empenho dos alunos na concretização das tarefas e fomentou a reflexão sobre os resultados obtidos (Quinton & Smallbone, 2010). As práticas avaliativas IP-A e RE concretizam-se sob a premissa de que o aluno pode melhorar uma primeira versão. Através do questionamento, em IP-A, os professores fornecem informação para que os alunos melhorem os trabalhos enquanto os concretizam (Stobart, 2006: Santos, 2002), persistentemente nas primeiras tarefas. Com o feedback escrito, em RE, os professores fornecem uma avaliação prévia, sobre uma 1.ª fase de um relatório escrito, que serve para aprofundar e melhorar o produto final do trabalho (Handley & Williams, 2011). Quer nas práticas de Maria, quer nas práticas de José, encontramos evoluções para uma perspetiva de avaliação centrada no aluno, assumindo uma abrangência que ultrapassa a autoavaliação (Santos, 2002). Deste modo, o aluno é corresponsável e autorregulador da sua aprendizagem, tal como Santos (2002) refere e se encontra nos documentos curriculares (ME, 2001). A avaliação reguladora evoluiu para um ato de autorregulação das aprendizagens (Santos, 2002). Integração ensino, aprendizagem e avaliação na aula de Matemática O ensino, a aprendizagem e a avaliação na aula de Matemática à primeira vista aparecem como três aspetos diferentes, cada um deles com características próprias, mas podem e devem funcionar de forma integrada (Abrantes, 2002; Fernandes, 2005). Segundo Ponte (2002a), o ensino da Matemática desenvolve-se em torno de um triângulo cujos vértices são a Matemática, o aluno e o professor. É legítimo associar o aluno à aprendizagem, o professor ao ensino e a avaliação à aprendizagem da Matemática. As duas primeiras associações são óbvias e estão amplamente discutidas em trabalhos de Educação Matemática (Ponte, 2002a). A ligação avaliaçãoaprendizagem da Matemática necessita de maior explicação e enquadramento. É lícito aludir à avaliação do conhecimento matemático, ao ensino da Matemática e à aprendizagem da Matemática em Trigonometria, em Geometria ou em Funções, porque é essa a realidade que analiso neste estudo e é nesse contexto que procuro aprofundar conhecimento. O binómio avaliação-aprendizagem da Matemática faz sentido para o funcionamento dos atores professor e alunos (entre outros), para a explicitação das intenções, dos objetivos e dos meios a utilizar na recolha de informação 310 (Cambra-Fierro & Cambra-Berdún, 2007a; 2007b). Para além do professor e dos alunos, o binómio avaliação-aprendizagem da Matemática pode estar ligado a avaliadores externos e, aí, a intenção é explícita, assim como os objetivos e os meios (fora do contexto deste estudo). Mas, na sala de aula, nem sempre as intenções e os objetivos são claros. A dualidade avaliar para classificar ou avaliar para aprender confundem-se facilmente, o que pode dificultar a compreensão das intenções e dos objetivos. Neste estudo, o foco é avaliar para aprender (Santos et. al., 2010). À partida, a finalidade é promover a aprendizagem em Trigonometria, em Geometria e em Funções, e o objetivo é promover a autorregulação da aprendizagem. Nesse âmbito, a relação avaliação-aprendizagem da Matemática toma como ponto de partida uma proposta de trabalho: a tarefa. A utilização de tarefas subjacentes a determinados temas matemáticos que servem simultaneamente para avaliar, ensinar e aprender coloca desafios ao professor na planificação e aos alunos na concretização (NCTM, 2007). Na perspetiva de integração da avaliação, ensino e aprendizagem, Santos e Pinto (2006) salientam a realidade em ação, destacando a comunicação e a partilha de códigos. Os professores devem ter em conta: os aspetos a realçar numa dada tarefa; o modo de organizar e orientar o trabalho dos alunos; as perguntas a colocar para desafiarem os diversos níveis de competência dos alunos; a forma de apoiá-los, sem interferir no seu processo de pensamento eliminando, dessa forma, o desafio; e levar os alunos a envolverem-se com afinco e vontade, procurando interpretar e compreender, escolher percursos, métodos e estratégias, ultrapassar erros e dificuldades, dar respostas corretas e completas. A seleção de tarefas, na perspetiva avaliar para aprender (Santos et. al., 2010), ou seja integrando a avaliação, o ensino e a aprendizagem, constituiu um desafio para José e Maria. Do trabalho realizado é possível identificar dois aspetos que serviram a escolha das tarefas, em IP-A e RE: o conhecimento profissional do professor; e o saber matemático a alcançar pelo aluno. Na seleção das tarefas, José e Maria fizeram intervir as suas conceções, filtradas pelo seu conhecimento profissional, como tem sido referido por vários investigadores (Canavarro & Ponte, 2005; Santos, 2008c). Neste domínio, destacam-se a escolha do modo como se proporiam as tarefas e como se apoiariam os alunos (Scheerens, 2004), assim como os princípios da avaliação a respeitar (De Lange, 1987; Leal; 1992). A planificação e a concretização, discutidas nas sessões de trabalho colaborativo, foram marcadas por opções curriculares (enquadramento de conteúdos no programa); 311 assistência a dar ao aluno; saber agir perante os erros; critérios de classificação; formas de promover o envolvimento dos alunos; e possibilidade de estratégias diversificadas. José e Maria tiveram em conta o conhecimento matemático a alcançar pelo aluno ao equacionarem a compreensão do enunciado pelos alunos (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009; Duval, 2006; Goldin, 2008) e a sua capacidade de comunicação matemática. São critérios consonantes com as funções da avaliação, segundo Hadji (1994), nomeadamente quando este refere três características onde se operam a escolha da função avaliativa: a de adaptar o ensino ao aluno; a de saber “onde se está”, para fazer o ponto da situação nos momentos importantes; e a de facilitar a aprendizagem. Adequar a seleção das tarefas ao saber matemático do aluno é gerir o processo ensino aprendizagem tendo em conta o papel do aluno, aspeto fundamental para promover a avaliação-aprendizagem da Matemática e a autorregulação da aprendizagem matemática se se definirem objetivos adequados e exequíveis, destinados a um objetivo de domínio, em vez de uma performance. Os critérios que estiveram na base da seleção/adaptação de cada tarefa incluem a diversidade de estratégias de resolução, o grau de dificuldade da tarefa e o saber matemático (Trigonometria, Geometria e Funções). Na prática avaliativa RE, acrescentou-se-lhe a natureza aberta da tarefa, por este tipo de tarefas proporcionar extensões e exigir trabalho matemático não elementar (Stein & Smith, 1998). Os professores intervieram na escolha das tarefas e, também, proporcionaram extensões através do questionamento ou do feedback, lançando questões que mantivessem o caráter desafiador e aumentassem o grau de complexidade. São critérios, também, associados à vertente motivacional do aluno, dimensão considerada como relevante para ser integrada na componente cognitiva (Bronson, 2000). Um aluno motivado a realizar algo vai empenhar-se mais na tarefa e, ao fazê-lo, vai dar mais atenção à escolha das estratégias adequadas para obter sucesso. As divergências na seleção e na caraterização das tarefas surgiram a partir da discussão motivada pela aplicação do método IMPROVE (Kramarski, B.; Mevarech, Z.; e Arami, M., 2002), e teve como consequência a não aplicação de algumas tarefas à turma A e à turma P, por desadequação ao que, cada um dos professores, tinha perspetivado para o processo ensino aprendizagem das turmas. Os dois professores usaram as tarefas T2, T3 e T5 em IP-A e as tarefas T2 e T3 em RE. Em IP-A, José usou, também, as tarefas T4 e T7 e Maria as tarefas T1, T6 e T8. Em RE, José usou, também, as tarefas T4 e T7 e Maria as tarefas T5, T6 e T8. José não aplicou a T8 por conter 312 conteúdos específicos da Matemática A, as T1 e T6 pelo grau de dificuldade e por opção curricular. Maria não aplicou a T4 e a T7, a primeira porque estava demasiado orientada para um trabalho específico, compatibilizando as componentes analítica e gráfica da calculadora gráfica, e a segunda porque é uma tarefa com conteúdos específicos de Matemática para cursos profissionais. No entanto, em qualquer uma das turmas foram aplicadas tarefas de Trigonometria, de Geometria e de Funções. José e Maria procuraram garantir a consistência entre os procedimentos de avaliação das orientações curriculares, incluindo-as na seleção de tarefas, e as formas de trabalho efetivamente desenvolvidas com os alunos (Abrantes, 2001; Alonso, 2002). O método IMPROVE foi uma mais-valia por procurar a reflexão do professor sobre o que era esperado que o aluno identificasse, as ligações que o aluno podia estabelecer com os seus saberes (focalizar a atenção), os problemas semelhantes realizados anteriormente, as estratégias que podiam ser usadas e os aspetos que podiam promover a autoavaliação. Desta forma, as práticas avaliativas IP-A e RE não se enquadram nas práticas uniformes e pobres de avaliação, referidas por Abrantes (2002), e são coerentes com os documentos curriculares em vigor (Fernandes, 2005; Santos, 2004). Mas, à integração avaliação, ensino e aprendizagem, alcançada através da seleção das tarefas e assente no conhecimento profissional do professor, no saber matemático do aluno e no objetivo pretendido com a tarefa, não é alheio o método de trabalho dos alunos. Como é referido por Ertmer e Newby (1996) e Ponte (2005a), a reflexão é um ingrediente essencial para o desenvolvimento das aprendizagens dos alunos (Quinton & Smallbone, 2010). Pretende-se que nessa atividade reflexiva, os alunos utilizem conscientemente o conhecimento que têm sobre si próprios, sobre as exigências das tarefas e sobre os métodos a selecionar, de forma a controlarem e monitorizarem as estratégias necessárias para alcançar uma aprendizagem significativa (Schwarz, Dreyfus & Hershkowitz, 2009). Essa premissa foi essencial para que José e Maria organizassem os alunos na sala de aula e gerissem o trabalho em IP-A e RE. O método de trabalho predominante foi o individual, embora, por vezes, tenham recorrido a um método misto, individual em alguns itens, em díade nos restantes itens de uma mesma tarefa. A predominância da forma individual não foi alheia ao objetivo deste estudo – a autorregulação. O professor tem que ser capaz de encontrar momentos para dialogar especificamente com cada aluno, aperceber-se das suas necessidades e interesses e dar-lhe o apoio direto de que necessita para que possa progredir (Allal, 1986). Quer no questionamento, quer no feedback, os professores procuraram a 313 adaptação a uma situação individual, respeitando a pluralidade e a diversidade (Abrecht, 1994). Neste estudo, a integração avaliação, ensino e aprendizagem matemática confirmam que a avaliação pedagógica, em que se destaca a preocupação com o funcionamento e a regulação dos processos de interação pedagógica e de comunicação que se estabelecem na sala de aula, é determinante na melhoria dos resultados dos alunos (Black & Wiliam, 1998; Fernandes, 2006b; Gardner, 2006). Não se identificaram diferenças significativas na forma de promoção da autorregulação em Trigonometria, em Geometria e em Funções. Mas, na sequência de tarefas realizadas, verificou-se uma preponderância das ações dos professores para o desenvolvimento da capacidade de autorregulação nas primeiras tarefas. Não emergiu da análise realizada uma relação entre esse apoio e o tema matemático. Nesta perspetiva avaliativa, de avaliação formativa (Allal, 1986; Abrecht, 1994; Perrenoud, 2004; Pinto & Santos, 2006; Shepard, 2001), de regulação, à medida que se avança no processo ensino aprendizagem, o professor envolve os alunos, auxiliando-os na análise do trabalho que realizam e na tomada de decisões para melhorarem a sua aprendizagem e as produções – autorregulação da aprendizagem (Schunk, 2005). Comportamento autorregulado dos alunos em Matemática A utilização de tarefas que servem simultaneamente para ensinar, aprender e avaliar tem efeito nos resultados escolares dos alunos, principalmente porque estão associadas a práticas avaliativas que procuram promover capacidades de autorregulação da aprendizagem matemática (Hodgen, 2007; Santos et al., 2010). A motivação, a autonomia, a escolha de estratégias e a responsabilidade são alguns dos indicadores que podem ser alvitrados para justificar o desenvolvimento da autoavaliação como principal característica do comportamento autorregulado dos alunos em Matemática (Stiggins, 2005; Hannula, 2006). A motivação dos alunos para a melhoria dos trabalhos foi evidente, principalmente na concretização da 2.ª fase de cada um dos relatórios. Para além do explicitado nos descritores, também o feedback escrito fornecido pelos professores proporcionou aos alunos essa oportunidade. A comparação entre os produtos do trabalho dos alunos e os descritores da tabela Rubrica para Resolução de Problemas de Matemática não estruturados (California CAP math report, 1989), motivou para a completude e a aproximação ao expectável pelo professor (Andrade & Valtcheva, 314 2009). Por exemplo, Davide (aluno de José), em Trigonometria, na T2, usou a tabela para comparar o nível que lhe foi atribuído e o nível 6 – resposta exemplar. Assim, Davide procurou melhorar o seu trabalho a partir dessa avaliação que lhe foi atribuída (Wiliam et al., 2004). Magda (aluna de José), também, melhorou a sua resposta a partir da aproximação que fez entre o descritor resposta exemplar e o nível que lhe foi atribuído. A motivação, referida por Bronson (2000), evidencia-se como crescente ao longo do desenvolvimento deste estudo, revelando nas últimas tarefas, alunos com uma maior vontade de concretização das tarefas, embora com alguma dificuldade na manipulação dos objetos matemáticos. Na T7, em Funções, por exemplo, os alunos de José, Rute, Magda, Alexandre e Davide apresentaram várias tentativas e estratégias para responder ao problema e, sem solicitarem a intervenção de José, procuraram validar as suas respostas. Esses alunos usaram com muito sucesso os processos analíticos e gráficos, nomeadamente articulando-os para o completamento da resposta, apresentando, assim, grande motivação e comprometimento relativamente à correção e conclusão da resposta. As manifestações de autonomia contribuíram para o comportamento autorregulado (Zimmerman & Martinez-Pons, 1990) e evidenciaram uma evolução positiva ao longo deste estudo. A articulação de ideias próprias foi uma prática de sala de aula usada, quer por José, quer por Maria, em IP-A e RE, para proporcionar aos alunos uma maior autonomia no envolvimento nas tarefas e na participação. Alguns alunos, por exemplo Carlos e Joana (alunos de Maria), apresentaram logo de início vontade em concretizar as tarefas com sucesso, realizando várias tentativas e experimentando várias estratégias. Apoiados por Maria, em IP-A na T2, os referidos alunos refizeram o plano de resposta para corresponder às características identificadas por Maria no feedback fornecido. O ajuste na resposta promove a autonomia, mas exige que os alunos reflitam sobre os seus produtos e os completem, apresentando argumentos e justificações (Lau, Singh & Hwa, 2009; Semana & Santos, 2008). José, em IP-A, também procurou que os alunos encontrassem argumentos irrefutáveis (expressão de José), por exemplo, para a resposta de Magda e Rute na T2. Relativamente ao questionamento, concretizado através de IP-A, e ao feedback, concretizado através de RE, os professores consideraram que os alunos evoluíram significativamente, apresentando um comportamento autorregulado, na comparação das intenções de aprendizagem, dos descritores e dos produtos; na escolha de percursos, métodos e 315 recursos para responder; e no uso da avaliação para a melhoria dos trabalhos (Handley & Williams, 2011; Hodgen, 2007; Pereira, 2005). Nas últimas tarefas, a autonomia dos alunos para equacionarem as diferenças entre o que concretizavam e as tarefas desenvolvidas anteriormente aumentou e é visível nos relatos das aulas observadas. Carlos e Joana, em Geometria (T5), em RE, empenharam-se em compreender a diferença entre as suas respostas, uma vez que tinham desenvolvido estratégias diferentes que conduziam ao mesmo resultado. Para além da escolha de estratégias diferenciadas, o que em si mesmo já é significativo pela manifestação de autonomia que incorpora, também constitui uma mais-valia para as aprendizagens pela procura de compreensão da resposta dada pelo par mais próximo (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009; Pijls, Dekker & Hout-Wolters, 2007). Enquanto, na tarefa T2, José solicitou a uma aluna que transcrevesse a sua resposta, com os erros de cálculo cometidos na resolução, e todos os alunos contribuíam para a identificação dos mesmos, na T5, um aluno, o Alexandre, afirmava a José a sua convicção ao encontrar a resposta correta, tendo organizado as suas ideias para explicá-las de forma que José compreendesse e validasse esses argumentos. Para a escolha de estratégias de resposta, em IP-A, na T3, Davide e Alexandre (alunos de José) mostraram a definição de um plano, seguida de controlo e verificação dos seus próprios trabalhos (Ertmer & Newby, 1996). Alexandre questionou José acerca da necessidade de incluir na resposta o procedimento usado para a alcançar. Os mesmos alunos, na T4, solicitaram a intervenção de José para responder, mas a escolha de percursos, métodos e recursos, por exemplo a realização com a calculadora ou a consulta ao caderno, não resultou das indicações dadas pelo professor. Outra aluna, Rute, recorreu ao caderno para aproximar a sua resposta ao que se encontrava registado no caderno, através de vários ajustes ao seu plano de resposta inicial. Os alunos de José evidenciam o uso da avaliação para a melhoria dos trabalhos nos itens de mostre que, verificando-se a resolução com maior acuidade, procurando estratégias no caderno e ligando-os com itens feitos anteriormente, através de sucessivos reajustes na execução, em função dos resultados parciais, até alcançar o pretendido (Handley & Williams, 2011). Os alunos de Maria, também, revelam características de autorregulação da aprendizagem matemática em IP-A. Por exemplo, Carlos na T6 (Funções) estabeleceu a equivalência entre duas expressões matemáticas e na sua resposta referiu que esse procedimento é equivalente ao procedimento mais expectável. A preocupação de Carlos 316 ao fazer a ligação entre os dois processos de resolução revela a escolha de percursos, métodos e recursos para responder e, também, mostra planificação, controlo e verificação dos próprios trabalhos (Ertmer & Newby, 1996). Maria orientou o feedback para a reflexão do aluno sobre o seu próprio trabalho (Quinton & Smallbone, 2010), muito associado à autoavaliação dos produtos apresentados mas, igualmente, bemsucedido na obtenção da 2.ª fase. Por exemplo, na T2 (Trigonometria), Carlos (aluno de Maria) viu-se confrontado com a necessidade de aprofundar o processo de generalização de um mostre que em confronto com a experimentação de alguns casos particulares. Para além, de constituir uma nova aprendizagem para Carlos, essa avaliação, permitiu a autorregulação em itens semelhantes nas tarefas seguintes. Na T3, Carlos e Joana confrontaram os seus trabalhos para a compreensão do seguimento de processos de resolução diferentes, mas igualmente bem-sucedidos. Para os mesmos alunos, Carlos e Joana, na T5, a procura de melhoria dos trabalhos na obtenção da 2.ª fase ultrapassou a simples apresentação de uma resposta correta, pois evoluiu para uma discussão sobre a pertinência e a correção de processos de resolução diferentes (Henning et al., 2012; Weber et al., 2008). A responsabilidade apresenta-se como uma característica dos alunos que evidenciam comportamento autorregulado (Buhagiar & Murphy, 2008). A procura de solução para completar uma tarefa, ultrapassar uma dificuldade ou identificar um erro, aguça no aluno a capacidade de equacionar os modos e os recursos necessários a essa concretização. Em geral, o aluno não apresenta esta característica (Chevallard, Bosch & Gascón, 2001). Mas, principalmente no trabalho individual, é ao aluno que cabe a validação do produto do seu trabalho e a responsabilidade de o fazer de acordo com o solicitado pelo professor. O professor pode procurar promover essa característica através de tarefas que despertem o interesse e sejam desafiadoras. As práticas avaliativas IP-A e RE apresentam divergências em relação à promoção do comportamento autorregulado, que não se evidenciam dependentes do tema matemático em que se desenvolvem. A principal diferença de abordagem diz respeito à procura de aproximação entre o produto do aluno e a resposta exemplar (expectável pelo professor no sentido implícito ou explícito de Rust, Price & Donovan, 2003): em IP-A prenomina a interação, online, através do questionamento (Mason, 2000; Santos, 2008); em RE sobressai o feedback escrito e a tabela de descritores. Na forma escrita, em RE, através do feedback dado à 1.ª fase, os professores procuraram adequar a escrita avaliativa de forma a promover um 2.º olhar crítico por parte dos alunos e a conclusão 317 dos trabalhos com sucesso. Os alunos tendem a aprender através do processo de verbalização das suas ideias e de resposta às questões do professor (NCTM, 2007), o que muitas vezes resulta em novas aprendizagens (Leal, 1992; Santos, 2004), por exemplo a evolução verificada nos relatórios de Davide (aluno de José) da T3 para a T4. Os alunos manifestam uma atitude positiva quando encaram as tarefas com interesse, confiança, perseverança, vontade de as explorar bem como a consideração de possíveis alternativas, e tendência para refletir sobre o seu próprio pensamento. A promoção da autorregulação da aprendizagem matemática pressupõe a atenção dos professores para essas atitudes (Schunk, 2005). O primeiro passo dado pelos professores, nesse sentido, aconteceu com a aceitação de participar neste estudo. Quer José, quer Maria, através da inclusão do relatório escrito em duas fases (RE) nas suas práticas avaliativas, justificada pela inovação que traz para as suas práticas e para o trabalho dos alunos, aceitaram voluntariamente esse risco. Também em IP-A, os apelos que os professores sistematicamente faziam, principalmente nas primeiras tarefas, à verificação de cálculos e/ou à verificação da razoabilidade de um resultado, são indicadores dessa postura. A valorização da escolha de percursos diversificados, devidamente justificados, e apresentados com completude evoluem gradualmente ao longo das várias tarefas, sendo mais evidentes nas últimas, o que me permite inferir o desenvolvimento, por parte dos alunos, de características de comportamento autorregulado ao longo do tempo (Clark, 2012) e não dependentes de um tema matemático. Constrangimentos à promoção da autorregulação e formas de os ultrapassar Os constrangimentos encontrados pelos professores na implementação de práticas avaliativas para a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática podem agrupar-se em duas ordens de razões: uns atribuídos aos alunos e outros ao professor. José e Maria destacaram a falta de comprometimento dos alunos com as tarefas da sala de aula como uma dificuldade identificada em IP-A. Não é um aspeto novo. Confirma que os alunos agem com uma certa irresponsabilidade matemática, como se não fizesse parte do seu papel comprometerem-se com a coerência, avaliação ou justificação dos seus raciocínios, nem com a análise crítica e fundamentada do que ouvem dos colegas (Chevallard, Bosch & Gascón, 2001; Weber, et al., 2008). O envolvimento dos alunos torna-se mais eficaz quando é uma escolha do próprio. Este objetivo foi perseguido por José em IP-A ao procurar despertar o interesse pela 318 concretização/seleção de tarefas com enunciados motivadores, por exemplo a tarefa T3 de Trigonometria. A ação de José, semelhante à de Maria, quanto à forma de atuação, consubstanciou o incentivo à procura da ajuda do par mais próximo ou do professor (Webb & Mastergeorge, 2003). No entanto, para Maria, essa intervenção teve um objetivo alargado ao pretender despertar o interesse do aluno pela concretização e construção da sua resposta. Durante o processo de execução dos trabalhos solicitados, em IP-A, os professores colocaram perguntas, enquanto decorreu a concretização, promovendo a confiança e a autorreflexão (Stobart, 2006). Em RE, os professores destacaram o facto de os alunos, inicialmente, desvalorizarem o trabalho escrito por não lhes ser atribuída uma classificação. Na prática avaliativa RE, o incentivo passou por enquadrar o trabalho realizado numa tabela de descritores para além da atribuição de feedback individualizado e diferenciador (Wiliam, 1999; Price et al., 2010; Santos & Dias, 2007). A dificuldade do aluno escolher a estratégia adequada à resolução de alguns itens, como por exemplo o item 1. da T2 ou o item a) da T5, estava relacionada, segundo os professores, com a dificuldade de compreensão do enunciado (Chapin, O'Connor & Anderson, 2009; Duval, 2006). Outro aspeto que dificulta o desenvolvimento das tarefas e que pode bloquear a promoção da autorregulação é o domínio de conteúdos e procedimentos próprios da matemática. Por exemplo, relativamente aos conhecimentos de Trigonometria envolvidos na T1 e na T2 e os de Geometria na T5. José e Maria procuraram contrariar a situação em que o professor corrige e atribui a respetiva nota e o aluno aceita-a. Os professores assumiram antes a postura de que o seu papel é aproximar o aluno do saber e do processo de aprendizagem, ajudando-o a aprender (Vieira et al., 2006). Através do questionamento, em IP-A, assumiram as características de Stobart (2006) e de Hodgen (2007) relativas a um feedback oral, centrar-se na tarefa e não no aluno; ser um desafio, exigir ação e ser alcançável. Na sala de aula, contrariando as dificuldades intrínsecas à construção do saber matemático pelos alunos, José e Maria promoveram a autoavaliação, a par de outras práticas, que podem contribuir para a concretização dessa intenção, por exemplo: a abordagem positiva do erro (Hadji, 1994); o questionamento (Mason, 2000; Santos, 2002; Roullier, 2004); o feedback oral e a escrita avaliativa (Price et al., 2010; Wiliam, 1999; Santos & Dias, 2007); e o feedback da avaliação dos pares (KMOFAP) (Black et al., 2003). 319 José e Maria enfrentaram dificuldades na manutenção dos níveis de complexidade das tarefas com o objetivo de não desmotivar os alunos mais empenhados, segundo José, e de promover a abordagem diversificada, segundo Maria. Para os dois professores, essa dificuldade podia ser minimizada pelo incentivo ao trabalho de grupo nomeadamente, permitindo que os alunos se apoiassem através do feedback da avaliação dos pares (Webb & Mastergeorge, 2003; Noonan & Duncan, 2005), colocando a heteroavaliação e a autoavaliação como essenciais para a aprendizagem (Sadler, 1989). Na promoção da autorregulação da aprendizagem matemática compreender o que é preciso fazer aparece como um elemento essencial da definição de avaliação integrada no processo ensino aprendizagem (Assessment Reform Group, 2002a; 2002b). Desse ponto de vista, o aluno aprende se compreender o que tem para fazer e consegue definir um plano de atuação para atingir os seus objetivos. Ao insistir em tarefas complexas, com a necessidade de compreensão (Webb, Boswinkel & Dekker, 2008), são promovidas as capacidades de raciocínio e metacognição, o que permite uma maior credibilização e aceitação da coavaliação dos pares (Noonan & Duncan, 2005; Webb & Mastergeorge, 2003), promovendo uma maior exigência na execução dos trabalhos (White & Frederiksen, 1998). José e Maria referiram, ainda, dificuldades em fornecer feedback diversificado (Price et al., 2010) e em tempo útil e em explicitar/negociar critérios de avaliação. José apresentou dificuldade em gerir o processo de atribuição de feedback, tendo-a justificado com o elevado número de alunos da turma e com a necessidade de lecionar uma lista extensa de conteúdos. Mas, a dificuldade de atribuição de feedback escrito também está relacionada com o conhecimento pouco profundo que tem da escrita avaliativa com características reguladoras (Bloxham & Campbell, 2010). José enfrentou alguns problemas de gestão do trabalho pedagógico com a turma, ao comprometer o cumprimento da planificação inicialmente estabelecida, devido ao excessivo tempo que demorou a ler e a escrever nos relatórios dos alunos. Maria refere também o elevado número de alunos, mas aponta que gostaria de diversificar mais o feedback atribuído, não o conseguindo por desconhecimento do que pode ser uma escrita avaliativa com significado para o aluno. Maria desenvolveu estratégias de atribuição de feedback que passaram por dar o mesmo tipo de feedback a vários alunos porque, na sua opinião, o importante seria dar continuidade ao trabalho na aula seguinte e finalizar a tarefa, tal como refere Hadji (1994) dar, o mais rapidamente possível, informação útil sobre as etapas vencidas e as dificuldades encontradas. Para os professores, a atribuição de 320 feedback escrito em RE é vista como uma sobrecarga de trabalho (Santos & Pinto, 2006). A explicitação/negociação de critérios de avaliação é um aspeto a realçar numa prática avaliativa pensada para promover a aprendizagem. Esta pode incidir sobre diversos objetivos: para uma eficaz apropriação por parte dos alunos ou sobre a sistematização, interpretação e tomada de consciência dos erros cometidos na realização de uma dada tarefa (Santos, 2008b; 2008c). Em RE, Maria destacou o papel do feedback dado à primeira fase de concretização dos trabalhos como a indicação do caminho a seguir, quer para o aprofundamento da tarefa, quer para a clarificação dos descritores de avaliação, aproximando as respostas dos alunos daquilo que eram as expetativas do professor (Price et al., 2010). No entanto, a explicitação/negociação desses descritores aparece sempre de forma implícita e torna-se uma dificuldade, nem sempre consciente. José, a dado momento, declarou que construíra, mentalmente, uma resposta exemplar, mas não conseguia exteriorizar para os alunos o que isso significava na sua plenitude. Essa afirmação revela dificuldade na explicitação/negociação de descritores para a avaliação no sentido dado por Alves (2004) e Bobb-Wolff (2002). Esta dificuldade despoletou em José um investimento no conhecimento profissional, nomeadamente o aprofundamento de bibliografia sobre a atribuição de feedback escrito. Coerente com Fernandes (2007), pode concluir-se que persistem dificuldades por parte dos professores em desenvolver práticas de avaliação formativa. A ênfase na promoção da autorregulação da aprendizagem matemática valoriza o papel da avaliação na promoção da aprendizagem. É uma perspetiva que engloba uma conceção alargada de avaliação, em que já não basta aplicar testes e exames aos alunos. É necessário saber apreciar comportamentos, conhecimentos, capacidades, atitudes, hábitos, interesses, de forma a assegurar informação que permita o desenvolvimento de um conjunto alargado e integrado de capacidades e competências (Perrenoud, 2004; Santos; 2003b; Scallon, 2004). Estes aspetos exigem o envolvimento dos professores e o seu desenvolvimento profissional, nomeadamente no que respeita a estratégias de explicitação/negociação de critérios de avaliação e de atribuição de feedback. A falta de comprometimento dos alunos e desvalorização de um trabalho que não é sujeito a uma classificação, associados às dificuldades de domínio de procedimentos e conhecimentos matemáticas, apresentaram-se, também, como dificuldades à promoção da autorregulação da aprendizagem matemática. 321 Considerações finais Este estudo apresenta características próprias, relativas às opções metodológicas e ao papel do investigador. Ao escolher uma metodologia de natureza qualitativa para compreender práticas letivas de professores de Matemática do ensino secundário, apesar de existirem critérios precisos que presidem à seleção dos participantes, a escolha é efetuada pelo próprio investigador. Os professores incluídos neste estudo pertencem a uma realidade situada, com uma caracterização socioeconómica definida e lecionam numa escola com características físicas próprias. Como os dados proveem daquilo que é a perspetiva de cada professor-caso, recolhidos através de instrumentos de autorretrato como a entrevista e as sessões de trabalho colaborativo, as conclusões relacionam a fundamentação teórica com o sentido dado a essas ações situadas. O principal instrumento de recolha de dados é o investigador pelo que a descrição e a análise de dados reflete os seus pontos de vista, devidamente fundamentados e documentados. O recurso ao trabalho de natureza colaborativa, em que o investigador participa, facilita a planificação e a concretização mas, também, pode contaminar algumas das características observáveis na prática avaliativa de cada um dos professores. Assim, o estudo apresenta alguns aspetos positivos do ponto de vista metodológico que o enriquecem. Por exemplo, a proximidade alcançada pelo investigador junto dos professores-caso, nas sessões de trabalho de natureza colaborativa que se desenvolveram de forma continuada ao longo de dois anos letivos, o que permite a compreensão das decisões no momento em que ocorrem e o confronto entre planificação e ação observável. Outro exemplo é o acesso a práticas avaliativas do professor de Matemática, obtido através da confidencialidade, que expõe a prática avaliativa, e as conceções sobre a mesma, de dois casos mas que se admitem semelhantes a grande parte dos professores de Matemática. Existem possíveis limitações que estão relacionadas com o tipo de relação pedagógica que ocorre na sala de aula. Um aspeto dessa relação que afeta o estudo é o facto de o aluno poder solicitar, ou não, o professor durante o questionamento em virtude de se sentir avaliado quando o faz. Este facto pode enviesar a recolha de dados, pois quando o aluno sente que isso contribui para a sua classificação pode retrair-se e não solicitar o professor com a frequência que desejaria. 322 Neste estudo são apresentadas duas práticas avaliativas que procuram promover a autorregulação da aprendizagem matemática pelos alunos. É uma problemática iniciada, mas certamente não acabada. É necessário investigar outras práticas que, também, possam contribuir para o desenvolvimento dessa capacidade e que contribuam para a integração avaliação, ensino e aprendizagem, preconizadas nos documentos curriculares em vigor para o ensino secundário, em Matemática. As práticas IP-A e RE evidenciam progressos na forma como os alunos participam e se envolvem nas tarefas matemáticas. Mas, o conhecimento entre os fatores que afetam a motivação e o comprometimento dos alunos com a concretização das tarefas pode e deve ser aprofundado. Este estudo enquadra-se na perspetiva de avaliação formativa, em que a avaliação é usada pelo professor e pelo aluno na melhoria do processo ensino aprendizagem. Qualquer interpretação dos dados que seja descontextualizada dessa perspetiva é desprovida de sentido e não se ajusta às opções tomadas durante o desenvolvimento deste trabalho. Por esse motivo, neste contexto, não faz sentido discutir a relação entre avaliação formativa e sumativa, nem as implicações da mesma na prática avaliativa do professor e no percurso escolar do aluno. Os dados recolhidos aprofundam o conhecimento sobre a promoção da autorregulação da aprendizagem matemática, na melhoria da qualidade dos conhecimentos adquiridos e dos produtos a alcançar, mas não procura investigar o impacto dessas ações na classificação. Os resultados da avaliação sumativa (externa) dos alunos envolvidos neste estudo não foram tidos em conta nas conclusões, mas o estudo das classificações de alunos envolvidos em práticas de avaliação formativa pode ser o foco de uma investigação que contribua para a problemática da relação entre a avaliação sumativa e a avaliação formativa. A atribuição de classificações aos RE através do uso de uma tabela de descritores foi uma mais-valia para este estudo. No entanto, podem ser equacionadas outras formas de atribuição de feedback a um trabalho, relatório, tarefas, ou até mesmo um teste escrito, que recorram a descrições qualitativas em detrimento da simples atribuição de uma classificação numérica. FIM 323 324 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abrantes, P. (2001). Mathematical competence for all: Options, implications and obstacles. Educational Studies in Mathematics, 47 (2), 125-143. Abrantes, P. (2002). Avaliação das aprendizagens no ensino básico. In P. Abrantes e F. Araújo (Coords.), Avaliação das aprendizagens (pp. 9-15). Lisboa: Ministério da Educação, DEB. Abrantes, P., Porfírio, J., Veloso, E., & Silva, A. (1999). O currículo de Matemática e as atividades de investigação. In P. Abrantes, J. Ponte, H. Fonseca & L. Brunheira (Orgs.), Investigações matemáticas na aula e no currículo (pp. 69-85). Lisboa: Projeto MPT e APM. Abrecht, R. (1994). A avaliação formativa. Rio Tinto: Edições Asa. Aires, L. (2011). Paradigma Qualitativo e Práticas de Investigação Educacional. (Retirado de http://repositorioaberto.uab.pt/). Alarcão, I. (1996). Formação Reflexiva de Professores – Estratégias de Supervisão. Porto: Porto Editora. Allal, L. (1986). 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Diário da República nº 129, pp. 3476-3471. 343 344 ANEXOS 345 346 Anexo 01: Grelha de observação de aula Professor: Turma: Data: Nº da aula: Sumário: ______________________________________________________________________ Introdução Relativamente à planificação, quais são os desvios registados? Como é que os alunos são guiados na construção da aprendizagem? Verificam-se constrangimentos? Quais? São referidas estratégias avaliativas? Papel do professor Qual a abordagem usada pelo professor para intervir junto dos alunos? De que forma o professor orienta os alunos? Como é que o professor e os alunos interagem? Como é que o professor aproveita as intervenções do aluno? Papel do aluno Qual é a natureza da colaboração entre alunos, no trabalho que desenvolvem? E professor/aluno? Como é que o aluno aproveita as intervenções do professor? Até que ponto estão implicados os alunos? 347 No decorrer da atividade Identificam-se momentos críticos? Até que ponto estão implicados os alunos? Que estratégias de avaliação se verificam? Até que ponto são atingidos os objetivos preconizados? Papel do professor Que modos de interação são favorecidos pelo professor? Qual é a frequência e a natureza do feedback dado pelo professor? Que modos de avaliação usa o professor? Papel do aluno Quais são as contribuições dos alunos? Qual é a frequência das interações professor aluno e vice-versa? Qual é a frequência das iniciativas dos alunos? Os alunos autorregulam as aprendizagens? Como? 348 Balanço final Relativamente à planificação, quais são as adaptações? Como é que os alunos são guiados na aprendizagem? São referidas estratégias avaliativas? Indicações dadas pelo professor? A participação/negociação com os alunos? Existem evidências de autorregulação? Papel do professor Que modos de interação são favorecidos pelo professor? O professor promoveu a autorregulação? Como? Quais as reações professor? Papel do aluno Quais foram as contribuições dos alunos? Quais são as iniciativas dos alunos? Os alunos evidenciam estratégias de autorregulação? Quais? Reações dos alunos? Outras observações: 349 Anexo 02: Guião da primeira entrevista a professores Percurso profissional · · · · · · · · · Qual foi a sua formação académica e quando a terminou? Por que razão decidiu ser professora de matemática? Quantos anos de serviço tem? Que níveis tem lecionado (básico e secundário)? Pode dar alguns exemplos de experiências significativas que viveu como profissional? Como é que tem sido a sua formação contínua? Ao nível de tarefas não letivas, que cargos tem desempenhado? Que balanço faz? A que associações profissionais pertence? Porquê? Como se vê enquanto profissional? Como pensa que os outros a veem? Se lhe surgisse uma oportunidade, mudava de profissão? Porquê? Preparação das aulas · O que considera mais importante na planificação de uma aula? · Pode descrever como planificou recentemente uma aula ou uma sequência de aulas? · Usou o programa? Tipo de recursos? Tipo de tarefas? Como as seleciona? · Contempla diferentes tipos de tarefas? Pode dar exemplos? · Alguma destas tarefas tem uma importância especial para o trabalho que faz com os alunos? · Na preparação de aulas, pensa na avaliação? Em que termos? · Como planeia a avaliação, usa algum critério? · Pode dar exemplos? · O que é para si avaliar? · A avaliação é importante na sua prática letiva? Porquê? · Sente dificuldades na preparação de aulas? Em que aspetos? Como as ultrapassa? Vamos fazer um jogo? (As palavras estão por ordem alfabética) Aprendizagem Avaliação Competência Compreensão Ensino Feedback Interação Motivação Regulação Sucesso a) Escolha as quatro palavras que, na sua opinião, contribuem para formar um “bom” aluno em matemática. b) Construa uma frase com as palavras escolhidas. c) Qual o significado que tem, para si, cada uma das dez palavras? Dê um exemplo que ajude a clarificar o significado apresentado, em cada caso. 350 Aprendizagens · · · · · · · · Como é que os alunos aprendem Matemática? O que faz para saber se o aluno aprendeu? E que faz quando deteta alguma falha? Dê exemplos. Como é que os alunos devem estudar Matemática? O considera ser um bom aluno em Matemática? A aprendizagem em matemática depende mais do professor ou mais do aluno? Em que aspetos? Dê exemplos? Considera que ajuda os alunos a melhorarem? Como? Dê exemplos. As aulas · Descreva uma aula sua, recente, que tenha gostado. Porquê? · Para si, qual deve ser o papel do professor? E do aluno? · Qual é a importância dos alunos se envolverem nas tarefas da aula? · Como é verificado esse envolvimento? Dê exemplos. · Na sua opinião, o que é que os alunos valorizam? E desvalorizam? · Quais os aspetos que destaca para os alunos gostarem das aulas? · Que aspetos a levam a concluir que uma aula resultou? Dê exemplos. · O que deveria ser uma aula ideal, em Matemática? · Qual deveria ser a atitude de um aluno ideal? Que atividades devia realizar? · Depois da aula, faz um balanço entre a planificação e a concretização? · E os alunos, fazem esse balanço? Dê exemplos de como sente que o fazem? Ou porque o não fazem, na sua opinião? · O que é mais importante, a avaliação que faz sobre os alunos ou a autoavaliação dos próprios? · Que aspetos considera que podia melhorar, se for o caso? · Às vezes tinha vontade de fazer as aulas de outra forma? Porquê? Em caso afirmativo, já tem experimentado fazê-lo? Como? Outros · Falámos do seu percurso profissional, da preparação das aulas, da aprendizagem e das aulas, falta alguma coisa? · O que mudava na ESCOLA? Obrigado, pela colaboração 351 Anexo 03: Guião da segunda entrevista a professores Integração da avaliação no processo de ensino e aprendizagem Como caracterizas a adaptação das atividades da sala de aula às características dos alunos? Consideras que és um guia na construção da aprendizagem do aluno? Até que ponto os alunos se envolveram nas tarefas propostas? Favoreces a participação de todos os alunos? Como? Relativamente à planificação, quais são os desvios registados? Até que ponto os alunos atingiram os objetivos preconizados? Verificaram-se constrangimentos? Quais? Identificaram-se momentos críticos? Indicações dadas pelo professor? Como é que o teu envolvimento nesta experiência contribuiu para a melhoria do teu desempenho? Desenvolvimento da autorregulação das aprendizagens, por parte dos alunos Na tua opinião, como é que os alunos aprenderam Matemática? Qual foi a tua contribuição dos alunos? E a dos alunos? Houve, com frequência interações professor-aluno e vice-versa? Identificas algumas iniciativas dos alunos, para melhorar as suas próprias aprendizagens? Quais foram as contribuições dos alunos? Quais são as iniciativas dos alunos? Reações dos alunos, a destacar? Como é que o aluno aproveita as tuas indicações? Qual é a importância e a natureza da colaboração entre alunos, no trabalho que desenvolvem? E professor/aluno? Como é que o teu envolvimento nesta experiência contribuiu para a melhoria do desempenho dos alunos? Balanço das aulas observadas Mudou alguma coisa nas tuas aulas? Porquê? Atribuis a causa desse efeito aos alunos? Ou ao teu desenvolvimento profissional? Balanço das sessões de trabalho conjunto Destaca alguns aspetos mais significativos do teu envolvimento neste trabalho? Obrigado, pela colaboração 352 Anexo 04: Programação da 2.ª fase do trabalho de natureza colaborativa Conteúdo Matemático 11.º ano Geometria II: Trigonometria Data Atividade 30 de setembro de 2009 Discussão do texto Seleção e planificação de tarefas Planificação de tarefas Discussão do texto Planificação de tarefas Reflexão sobre a aula Planificação de tarefas Discussão do texto Planificação de tarefas Planificação de tarefas Discussão do texto Reflexão sobre a aula Discussão do texto Discussão do texto Planificação de tarefas Planificação de tarefas Discussão do texto Planificação de tarefas Reflexão sobre a aula Planificação de tarefas Discussão do texto Reflexão sobre a aula Planificação de tarefas Discussão do texto Reflexão sobre o projeto 7 de outubro de 2009 14 de outubro de 2009 21 de outubro de 2009 28 de outubro de 2009 11.º ano Geometria II 11.º ano Funções II 4 de novembro de 2009 11 de novembro de 2009 18 de novembro de 2009 25 de novembro de 2009 13 de janeiro de 2010 20 de janeiro de 2010 27 de janeiro de 2010 3 de fevereiro de 2010 24 de fevereiro de 2010 3 de março de 2010 10 de março de 2010 17 de março de 2010 353 Anexo 05: Tarefa T1 – Triângulos 5 e que α é uma ângulo agudo. 4 1 Determine o valor exato da expressão + cos α . senα 1. Sabendo que tgα = 2. Para medir a altura do cume de um monte efetuaram-se as medições dos ângulos de visão do cume com a horizontal a partir de dois pontos A e B que distam 20 metros entre si. Qual é a altura do cume do monte relativamente ao nível onde foram efetuadas as medições? AB = 20m ^ C B D = 52º ^ C A D = 65º 354 Anexo 06: Tarefa T2 – Eratóstenes 2. Usando a igualdade dada no item 1, determine o valor de h , sabendo que R = 1000 metros e que α =60º. 3. Determine, agora, o valor de h , sabendo que R = 1000 metros e que α =45º. Apresente o resultado aproximado às unidades. 4. Compara os dois resultados anteriores. 5. 355 Anexo 07: Tarefa T3 – Periélio (Terra) 356 Anexo 08: Tarefa T4 – Círculo trigonométrico Na figura estão representados, em referencial o.n. xOy, o círculo trigonométrico e um triângulo [OAB]. Os pontos A e B pertencem à circunferência. O segmento [AB] é perpendicular ao semieixo positivo Ox. O ponto C é o ponto de intersecção da circunferência com o semieixo positivo Ox. Seja α a amplitude do ângulo COA, e α ] 0, 90o[. Considere o ponto D, como sendo a intersecção do eixo Ox com o segmento de reta [AB]. 1. Mostre que a área do triângulo [OAB], em função de α , é dada pela expressão cos α × senα 2. Utilize as capacidades da calculadora gráfica para resolver as questões que se seguem. Para isso desenhe o gráfico da função f (α ) = cos α × senα utilizando na calculadora, a janela de visualização [0, 100] x [-1,6; 1,6] . 2.1. Calcule a área do triângulo [OAB] para α = 60o com duas casas decimais. Classifique o triângulo obtido quanto ao comprimento dos lados. Justifique a sua resposta 2.2. Para um valor da amplitude do ângulo α , a área do triângulo [OAB] é Determine esse valor? 357 . Anexo 09: Tarefa T5 – Cone 358 Anexo 10: Tarefa T6 – A Maria vai sempre de Carro 359 Anexo 11: Tarefa T7 – Escrever no computador O Josefino foi aprender a escrever no computador e o número n de palavras que, em média, conseguia escrever por minuto, dependendo do número de dias de aprendizagem. Considere o modelo que define esta situação, a expressão n (t) = 70 (1 – e- 0,4 t ), onde t é o tempo em dias de aprendizagem. Ele vai fazer um teste e precisa de conseguir escrever uma carta com 800 palavras em 20 minutos. Escreva uma pequena composição para explicar ao Josefino quantos dias ele terá de dedicar à sua aprendizagem. Dado que o Josefino tem algumas dificuldades na aprendizagem, seja rigoroso e utilize um método exclusivamente analítico, e um método gráfico, para ele compreender melhor a situação. Sugestão: Na calculadora gráfica, use a janela de visualização [0, 3] ×[0, 45]. 360 Anexo 12: Tarefa T8 – Nódoa circular 1. Numa toalha caiu um copo de azeite fazendo uma nódoa circular. O raio da nódoa em função do tempo t , em segundos, após o instante em que começou a formar--se é dado, em centímetros, pela função t r (t ) = 5 + 0,05t 1.1 Determine a equação da assimptota horizontal do gráfico da função e explique o seu significado no contexto do problema. 1.2 Resolva, analiticamente, a inequação t > 10 e explique o significado da 5 + 0,05t solução encontrada. 1.3 No instante em que começou-se a formar a nódoa, foi aplicado um spray cujo raio de ação atua de acordo com a seguinte equação a (t ) = −0,25t + 50 ( t em segundos, a em centímetros). Recorrendo às capacidades gráficas da calculadora, determine o instante em que r (t ) = a (t ) . Na sua resposta deve apresentar todos os elementos recolhidos da calculadora (gráfico ou gráfico(s), pontos relevantes, janela de visualização, ferramentas da calculadora, etc.). Em cálculos intermédios utilize aproximações às centésimas. Apresente o resultado com aproximação às décimas. 361 Anexo 13: Guião analisado pelo grupo de trabalho colaborativo 362