IV Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica UNIBAN BRASIL Ciências Humanas e Sociais ESTRATÉGIAS DE INTERAÇÃO E DE MEMÓRIA NA AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA: UM ESTUDO COM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE CURSOS TECNOLÓGICOS DE SÃO PAULO Felipe Franco Gabriel1 Maria Helena Palma de Oliveira2 Palavras-chaves Estratégias de memória; Autorregulação da aprendizagem, Estratégias de interação; Estudantes de cursos tecnológicos RESUMO Verificou-se a autorregulação de estratégias de interação e de memória na aprendizagem de estatística em contexto de sala de aula de 188 estudantes de cursos tecnológicos de uma universidade privada de São Paulo. A perspectiva sociohistórica considera as estratégias de interação e de memória como decorrentes do processo de autorregulação da aprendizagem que é socialmente construído, consciente e dependente do domínio pelo aluno de instrumentos culturais específicos. Os resultados relativos à escala de estratégias de memória evidenciaram diretividade do professor no processo de autorregulação da aprendizagem. Os resultados da escala de estratégias de interação demonstram que os processos interacionais estão mais desenvolvidos na relação estudante-estudante, o que pode ser decorrência de dificuldades na interação professor-aluno. INTRODUÇÃO A autorregulação da aprendizagem, na perspectiva sociohistórica, é entendida como qualquer ação ou pensamento criado pelo próprio estudante para a realização de seus objetivos. Para Vygotsky (1978), o desenvolvimento do comportamento autorregulatório necessita de algumas condições como o domínio de ferramentas culturais específicas que permitem ao estudante a utilização de comportamentos de autorregulação de modo independente. Vigotsky (1998) também destaca a importância da interação no processo de ensino e de aprendizagem, ou seja, da mediação social envolvendo professor e aluno. A interação em contexto de sala de aula é motivadora e sua qualidade influencia na aprendizagem. Para Vigotsky (1978), o envolvimento socioemocional do estudante em relação à tarefa é influenciado pelo ambiente social ao qual o estudante entra em contato com a disciplina; isso envolve as relações geradas com colegas e com o professor que tem papel motivador central tanto pela forma como o conteúdo é ensinado quanto pelas relações interacionais de sala de aula. Além disso, tanto a realidade na qual o estudante IV Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica UNIBAN BRASIL se encontra, quanto o envolvimento emocional de cada estudante é decorrente do histórico de vida e dos objetivos pessoais em relação à disciplina. Estratégias de aprendizagem, para Rosário; Perez; Gonzáles-Pienda (2004), são ações deliberadas para alcançar objetivos específicos que fazem uso de diversos instrumentos culturais que auxiliam o processo. Dentre as estratégias que o aluno pode utilizar estão as estratégias de memória e de interação. A memória humana foi desenvolvida historicamente pela utilização de auxiliares de memória ou memórias artificiais, conhecidas como técnicas mnemônicas. A interação, segundo a abordagem sociohistórica, é descrita como confronto de conhecimentos, posicionamentos, informações e processos de cooperação que dinamizam a representação mental das tarefas, influindo no controle das atividades cognitivas e metacognitivas. Para Ribeiro (2007), as exigências da formação acadêmica levam os estudantes a buscar apoio em colegas para realização de trabalhos e para o aprimoramento do conhecimento. OBJETIVOS O estudo buscou verificar a autorregulação de estratégias de interação e de memória na aprendizagem de estatística em contexto de sala de aula de cursos tecnológicos de uma universidade privada de São Paulo. MÉTODO Os sujeitos foram estudantes de graduação de seis cursos tecnológicos (Gestão de Pessoas, Gestão de Recursos Humanos, Logística Empresarial, Tecnologia em Logística, Gestão nas Organizações) de uma universidade particular da Grande São Paulo, concluintes de uma disciplina de Estatística em 2009. A coleta de dados aconteceu no 2º semestre de 2009. Foram respondidos três instrumentos do tipo lápis e papel: questionário de perfil, escala de estratégias de memória e escala de estratégias de interação. O questionário de 21 perguntas abordou a trajetória escolar, opinião, importância, sentimento e ideia em relação à Estatística bem como a experiência com a disciplina; além de questões sobre a interação entre alunos e entre aluno e professor. Foi realizada uma análise quantitativa da pontuação da escala de acordo com as variáveis levantadas no questionário, sendo utilizados testes F (ANOVA), com exceção das variáveis: gênero, tempo de estudo e que tipo de curso médio foi feito, em que foi adotado o teste t. Quando o efeito da variável estudada foi considerado significativo, pelo teste F, as médias das suas categorias foram comparadas pelo teste Tukey, com nível nominal de significância de 5%. Para todas as análises foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 15.0. A análise da Escala Estratégias de Memória-EEM considerou as respostas de 188 estudantes e foi elaborada com 16 afirmativas, sendo 9 positivas e 7 negativas. Para cada afirmativa, as possibilidades de resposta eram: sempre, quase sempre, quase nunca e nunca, em que foram atribuídos pontuação de 4 até 1 para as afirmativas positivas e de 1 até 4 para as afirmativas negativas. A pontuação total variou entre 16 e 64. A análise da escala estratégias de interação considerou as respostas de 165 estudantes. A escala continha 9 afirmativas, sendo 7 positivas e 2 negativas, com as categorias e pontuação com as mesmas características da 1ª. escala. Dessa forma, a pontuação total variou entre 9 e 36. A técnica multivariada de análise fatorial foi utilizada para descrever a estrutura de dependência dos itens da escala de estratégias de memória. O método para a estimação dos fatores baseou-se na análise de componentes principais com uma IV Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica UNIBAN BRASIL rotação promax. A consistência interna da escala foi avaliada pelo coeficiente Alfa de Cronbrach (1951). O número de fatores foi determinado pelo critério de Kaiser (1958) e o estudo da viabilidade utilizou os testes de Kaiser- Meyer-Olkin - KMO (KAISER, 1970) e de esfericidade de Bartlett (BARTLETT, 1954), além do measure adequacy of sampling – MSA (KAISER, 1970). RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da escala de estratégias de memória obteve o valor de KMO de 0,761, o que pode ser considerado ótimo (KAISER & RICE, 1974). O coeficiente alfa de Cronbach geral foi de 0,748, mostrando uma consistência interna mediana da escala. Na análise dos autovalores apenas três fatores (apresentados na Tabela 1) tiveram valores maiores que 1, o que justifica a escolha desse número de fatores para o modelo em questão. Tabela 1 - Dimensões da escala determinadas pela Análise Fatorial Questões da Escala % acumulada Fato Denominação de variância Positivo Negativo r explicada Domínio relativo de 1,5,6,13,14,15 ---1 29,46 estratégias 2 Ausência de estratégias ----48,06 3,8,11,12,16 3 Autonomia de estratégias 4, 9 ---56,90 A primeira dimensão estabelecida pela análise fatorial, denominada Domínio Relativo de Estratégias, agrupou as questões 1, 5, 6, 13, 14 e 15 que expressam tanto comportamentos autônomos, que dependem somente da ação planejada e da autoconsciência do aluno, quanto comportamentos que dependem do contexto em sala e da ação do professor. A segunda dimensão, denominada Ausência de Estratégias, reuniu as questões 3, 8, 11, 12 e 16 que são todas negativas em termos de estratégias de memória (não ter o texto, não ler, não consultar, não fazer anotação ou fazer somente uma leitura dos textos/materiais de estatística). É importante destacar que mais de 20% dos alunos informaram não ter o texto, não ler, não fazer anotações, ou seja, parte significativa dos estudantes não autorregulam a aprendizagem de estatística por meio destas estratégias de memória. A terceira dimensão reuniu as questões 4 e 9 da escala, e foi denominada como Autonomia de Estratégias pelo fato de que reúne ações que demonstram autorregulação da aprendizagem devido a maior capacidade de organização dos próprios processos de aprendizagem. O estudante, nesse caso, sempre ou quase sempre consulta as anotações sobre a disciplina estatística antes da próxima aula (60,85%); o mesmo ocorre com a leitura do texto ou material que ocorre também antes da próxima aula (52,41%). A comparação dos resultados permite constatar que houve maior nível de adesão às estratégias da primeira dimensão: Domínio Relativo de Estratégias. Nessa dimensão, a autorregulação da memória na aprendizagem de estatística expressa-se em dois níveis: ações mais individuais de estudo como fazer esquema, copiar resumindo e grifar e ações dependentes do contexto de sala de aula e da orientação do professor. Os estudantes eram primeiroanistas e podem ainda não demonstrar maior autonomia na direção de seus próprios processos de aprendizagem (RIBEIRO, 2007), ficando direcionados pelas orientações dadas pelo professor; além disso, por estarem no início do curso, podem revelar fragilidade nos processos interativos fazendo com que busquem IV Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica UNIBAN BRASIL estratégias mais individuais de estudo. A idade média dos sujeitos, 28,28 anos, pode indicar que houve um grande período de tempo de afastamento de atividades escolares. A análise dos resultados da escala de interação mostrou que em relação aos processos interativos professor-estudante, 59,9% restringem-se a responder aquilo que o professor de estatística pergunta e que 36,7% nunca ou quase nunca expressam a própria opinião ou fazem perguntas para o professor. Por outro lado, 85,3% dos estudantes sempre ou quase sempre pedem ajuda para os colegas de classe quando precisam de explicação; assim como 78,0% dos estudantes oferecem ajuda para os colegas na explicação de conteúdo de estatística. Os resultados demonstram que os processos interacionais estão mais desenvolvidos na relação estudante-estudante, pois quando o estudante possui dúvidas sobre a disciplina este procura preferencialmente outro colega de classe e não o professor. Dois fatores são destacados na explicação destes resultados: problemas na qualidade da interação professor-aluno que podem impedir a abertura necessária para o estudante usufruir de um processo de interação eficiente com o professor; hábitos arraigados na vivência discente devido a práticas educativas centralizadoras e impeditivas de um processo dialógico no contexto de aprendizagem (OLIVEIRA, KATAOKA, GABRIEL, 2011). CONCLUSÕES Os resultados do processo de validação da escala de estratégias de memória na autorregulação da aprendizagem de estatística pela análise fatorial revelou um processo de construção dessas estratégias de memória pelo aluno iniciante de cursos tecnológicos; outro estudo feito com a mesma escala e com estudantes de cursos tecnológicos (MENDONÇA, CONTINI, GABRIEL, KATAOKA, OLIVEIRA, 2011) trouxe resultados análogos. Existe diretividade do professor no processo de autorregulação e que mesmo havendo a presença de comportamentos mais autônomos, que dependem menos da ação do professor, a diretividade é a característica da interação aluno-professor. Outros estudos realizados sobre a abordagem qualitativa: (PESTANA, GABRIEL, OLIVEIRA, KATAOKA, 2010); também trouxeram resultados que apontam que a diretividade do professor e a qualidade da interação professor-aluno influenciam nos comportamentos autorregulatórios. Constata-se que a ação do professor em contexto de sala de aula e a interação existente entre o docente e o aluno, são importantes na elaboração de comportamentos autorregulatórios e na utilização de estratégias de interação e de memória pelo aluno. Há necessidade de revisão das práticas pedagógicas do professor de Estatística de cursos tecnológicos no sentido de empreender trabalho específico e planejado que busquem desenvolver e valorizar junto aos alunos o processo de autorregulação de estratégias de memória e de interação na aprendizagem de estatística. REFERÊNCIAS BARTLETT, M.S. A note on multiplying for various chi-square approximations. Journal of the Royal Society – Series B, London, 16, 2, p. 296-298, 1954. CRONBACH, L. J. Coefficient alpha and the internal structure of tests. Psychometrika, Williamsburg. 16, p. 297-334, 1951. KAISER, H. F. The varimax criterion for analytic rotation in factor analysis, Psychometrika, Williamsburg, 23,.3, p. 187-200, 1958. IV Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica UNIBAN BRASIL KAISER, H.F. A Second Generation Little Jiffy, Psychometrika, Williamsburg, 35, 4, p.401-415, 1970. KAISER, H.F.; RICE, J. LITTLE JIFF MARK IV. Education and Psychological Measurement, 34, p. 111-117, 1974. 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