ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UMA COMPETÊNCIA FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO DO LICENCIADO EM MATEMÁTICA A DISTÂNCIA Patrícia da Conceição Fantinel1, Neide Pizzolato Angelo2, José Valdeni de Lima3, Cleci Maraschin4 1 Universidade Federal de Pelotas/[email protected] 2 Universidade Federal de Pelotas /[email protected] 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul/[email protected] 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul /[email protected] Resumo – Neste artigo, com base na Teoria Social Cognitiva de Bandura, apresentaremos a utilização do Programa de Gervásio para promoção da autorregulação da aprendizagem para alunos do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância (CLMD), da Universidade Federal de Pelotas. A autorregulação é um dos vários elementos considerados essenciais no processo de aprendizagem. A ideia de regulação ganha corpo a partir da crítica à escola tradicional uniformizada, fazendo parte de uma proposta educativa em que o ensino deve adaptar-se às diferenças dos estudantes e às singularidades dos processos de aprendizagem. A fim de verificar o efeito da incorporação da autorregulação na vida acadêmica dos licenciandos do CLMD, a Oficina de Estratégias de Estudo foi proposta aos acadêmicos do 1º e 4º semestres deste Curso. Os efeitos constatados, neste primeiro momento, apontam para uma apropriação de alguns processos autorregulatórios, como a utilização de anotações e resumos e a gestão de tempo. Palavras-chave: Autorregulação da Aprendizagem; Educação a Distância; Formação do Professor de Matemática; Teoria Social Cognitiva; Autonomia. Abstract – In this article, based on Bandura's Social Cognitive Theory, we present the use of Gervásio´s Program to promote self-regulation of learning for students of Degree in Mathematics Distance, from Federal University of Pelotas. Selfregulation is one of several elements considered essential in the learning process. The idea of regulating grows from the critique of traditional uniformed-school as part of an educational proposal in which education must adapt to students' differences and singularities of the learning process. In order to verify the effect of the incorporation of self-regulation in the academic life of the undergraduate of the CLMD, the Workshop Strategies Study was proposed to the students of the 1st and 4th semesters of this course. The effects observed in this first moment, point to an appropriation of some self-regulatory processes, such as using of notes and summaries and time management. 1 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE Keywords: Self-Regulation of Learning, Distance Education, Training of Teacher of Mathematics, Social Cognitive Theory, Autonomy. 1. Introdução Entendemos autonomia, caracterizada por Piaget (1994), como o oposto de heteromania, ou seja, quando somos governados por outrem. Logo a autonomia é a capacidade de autogoverno e autocontrole para nos gerir sem a dependência e o controle do outro, tomando assim nossas próprias decisões. Segundo Kamii (1991, p.31): A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também consideramos o ponto de vista das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir irrefletidamente. Muitos estudiosos têm apontado a importância da autonomia no contexto dos cursos na modalidade a distância (Behar, 2009; Behar, 2013; Maia; Mattar, 2007; Palloff; Pratt, 2004). Como afirmam Lima; Silva; Paiva (2010, p. 9): A autonomia é característica essencial à vivência e concretização das aprendizagens na EaD. O estudante da educação a distância, assim como o da modalidade presencial, precisa elaborar e também vivenciar seus conhecimentos, o que só passa a ser possível se esses conhecimentos partirem de suas experiências e a elas retornarem em forma de transformação de sua realidade. É por este motivo que a autonomia do estudante no processo de aprendizagem é fundamental, pois somente o ser autônomo capaz de desejar o saber, o diálogo, e a reflexão – aspectos fundamentais que devem ser estimulados tanto no ambiente real, como no virtual – viabiliza a apropriação do conhecimento e o uso deste em benefício de si próprio e da sociedade. Apostamos, como ação educativa, na elevação da autorregulação, a fim de favorecer “uma autonomia progressiva no aprender e por extensão na própria vida” (PERRENOUD, 1999, p.96). A autorregulação na perspectiva sociocognitiva, teoria base deste estudo, é compreendida como um processo consciente e voluntário de governo de si, que opera através de um conjunto de subfunções psicológicas, que possibilita a gerência dos próprios comportamentos, pensamentos e sentimentos, voltados e adaptados para obtenção de metas pessoais e guiados por padrões gerais de conduta (Bandura; Jourden, 1991; Zimmerman; Bandura, 1994; Polydoro; Azzi, 2009). A autorregulação é um dos vários elementos considerados essenciais no processo de aprendizagem. A ideia de regulação ganha corpo a partir da crítica à escola tradicional uniformizada, fazendo parte de uma proposta educativa em que o ensino deve adaptar-se às diferenças dos estudantes e às singularidades dos processos de aprendizagem (Prates, 2011). As investigações iniciais sobre a importância da autorregulação no processo de aprendizagem ocorrem na década de 70 e são intensificadas nos anos 80. Apresentaremos resultados da oficina de estratégias de estudo oferecida aos alunos do 1º e 4 semestres do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância (CLMD), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no segundo semestre de 2012. 2 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE 2. A Teoria Social Cognitiva e a Autorregulação da Aprendizagem A Teoria Social Cognitiva, formulada por Albert Bandura, trata de proporcionar uma caracterização o mais completa e sistemática possível dos fatores, tanto internos quanto externos, que agem nos processos humanos de aprendizagem. O propósito que norteia tal construção teórica é o de oferecer um quadro que faça justiça a todos os fatores, sendo uma síntese cuidadosa dos processos de aprendizagem. Segundo Coll; Palacios; Marchesi (1996) a relevância educativa da teoria de Bandura é enorme, e vale a pena fazer o esforço de extrair os princípios pedagógicos dessa síntese cuidadosa, sobre os fatores que intervém nas aprendizagens humanas complexas. Por sua natureza fundamentalmente descritiva, a teoria de Bandura constitui, de certo modo, uma elaboração científica dos esquemas das teorias implícitas da mente do senso comum, como a tendência que temos de pensar que as pessoas têm um mundo simbólico interno e que são capazes de regular, por si mesmas, sua conduta. Temos, também, a tendência a pensar que as pessoas não só aprendem a partir do que fazem de forma efetiva, como também daquilo que observam os demais fazerem, daí a influencia da modelagem na conduta humana acentuada na Teoria. Nesta teoria, a modelagem não só inclui a observação e réplica de condutas de outros, mas a modelagem verbal; bem como, os sujeitos não se limitam a responder a estímulos do meio, eles os interpretam. Além disso, a Teoria parece especialmente adequada para explicar a influência que as Tecnologias da Informação e Comunicação podem ter no desenvolvimento humano, na qual apresentam modelos cada vez mais diversos e distantes do contexto espacial e temporal das pessoas, promovendo experiências que vão além daquelas proporcionadas diretamente pela família e escola. Mas é importante relembrar que, segundo esta Teoria, os indivíduos não são marionetes dos impulsos inconscientes, nem das contingências ambientais, tampouco das influencias que os modelos sociais exercem sobre elas, pois como agentes capazes de regular ativamente sua própria conduta podem oferecer uma resistência ativa e criadora para as influências ambientais. Tais princípios apontam que a Teoria Social Cognitiva da aprendizagem nos proporciona uma visão relativamente otimista da natureza humana (Coll; Palacios; Marchesi, 1996). O aluno autorregulado, para a teoria sociocognitiva, procura ajuda para melhorar a qualidade de suas aprendizagens, tem iniciativa pessoal, perseverança na realização de tarefas, exibe competências independentemente do contexto da aprendizagem e não apenas possui proficiência na utilização isolada de estratégias de aprendizagem. Neste sentido, o aluno autorregulado foca em seu papel agente e ativa, altera e sustenta estratégias de aprendizagem em contexto (Bandura, 2001, 2008; Zimmerman, 1990, 2002, 2008; Rosário; Núnez; González-Pienda, 2012). Ou seja, encara a aprendizagem como uma atividade que desenvolve proativamente, na qual há envolvimento de processos de autoiniciativa motivacional, comportamental e metacognitivos. A dimensão motivacional envolve os interesses, a vontade e o engajamento na tarefa, a comportamental diz respeito aos atos da pessoa que visam aperfeiçoar a sua aprendizagem; a metacognitiva refere-se ao monitoramento do aprendizado. Além disso, é o processo metacognitivo, subjacente à autorregulação da motivação, cognição e comportamento, que media as relações entre os sujeitos, o contexto e o rendimento (Zimmerman, 2008; Prates, 2011; Rosário; Núnez; González-Pienda, 2012). Logo a autorregulação da aprendizagem “é o resultado da interação entre o indivíduo (suas crenças, habilidades), o seu comportamento (persistência na tarefa, organização) e o ambiente 3 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE (expectativa do outro, apoio social)” (Ganda, 2011, p.1). Os seguintes processos envolvidos na autorregulação da aprendizagem são destacados na literatura da área: estabelecer objetivos, atender regras, usar estratégias cognitivas apropriadas, organizar o ambiente de trabalho, usar os recursos de forma eficaz, monitorar o próprio desempenho, gerenciar o tempo disponível, buscar ajuda se necessário, manter crenças de autoeficácia positivas, perceber o valor do aprendizado, identificar os fatores que influenciam a aprendizagem, antecipar os resultados das ações e experimentar satisfação com o próprio esforço (Polydoro; Azzi, 2009; Rosário; Núnez; González-Pienda, 2012). Pode-se afirmar que um aluno autorregulado em sua aprendizagem é aquele que aprendeu a planejar, controlar e avaliar seus processos cognitivos, motivacionais, afetivos, comportamentais e contextuais; possui autoconhecimento sobre o próprio modo de aprender, suas possibilidades e limitações. Com esse conhecimento o estudante controla e regula o próprio processo de aprendizagem em direção a seus objetivos e metas. Rosário et al. (2006) enfatizam que a autorregulação não pode se reduzir a um conjunto de passos determinados ou a um menu de estratégias de aprendizagem a serem utilizadas, uma vez que os alunos autorregulados não se limitam a seguir planos de ações préestabelecidos, mas se adaptam às condições e decidem em relação aos diferentes problemas que se deparam. Neste estudo, utilizamos o modelo autorregulatório de Rosário, que preocupado com a intervenção e apoiado no modelo de Zimmerman desenvolveu o PLEA (Planejamento, Execução e Avaliação), um modelo cíclico intrafases. Segundo este modelo a operacionalização do processo de autorregulação envolve a ativação e manutenção das cognições, comportamentos e afetos dos estudantes, a Figura 1 ilustra o modelo. Tais processos são planejados e ciclicamente adaptados pelos estudantes a fim de alcançar seus objetivos escolares. P L Planejamento (PL) A E Estabeleço objetivos. Penso sobre a tarefa e no que é preciso para realizá-la. Faço um plano concreto do que vou fazer. P L P L Avaliação (A) A Execução (E) A Escolho as estratégias para atingir os objetivos. Utilizo as estratégias que escolhi. Realizo as tarefas a que me comprometi apesar das distrações. E Avalio se as estratégias utilizadas me ajudam a alcançar os objetivos. A partir dos resultados, se for necessário modifico as estratégias que estou utilizando. Reflito sobre tudo o que aconteceu para tomar novas decisões. Figura 1: Modelo cíclico PLEA da aprendizagem autorregulada 4 E ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE O estabelecimento deste modelo tem permitido a proposição de programas de promoção da autorregulação voltados para diferentes períodos de estudo, níveis de ensino e modalidades. Estes programas incluem além do oferecimento de material de intervenção baseado em narrativas e atividades, subsídios sobre o marco teórico que estrutura o programa (Polydoro; Azzi, 2009). Outro aspecto importante explorado por pesquisas refere-se ao contexto online, o qual tem indicado que a competência de autorregulação da aprendizagem auxilia o aluno com os processos de aprendizagem neste contexto (Song; Hill, 2007). Na próxima seção abordaremos a utilização deste modelo teórico, a partir do material Cartas de Gervásio a seu Umbigo. 3. O Programa de Gervásio Com objetivo de trabalhar os processos de autorregulação da aprendizagem com foco em nosso referencial teórico decidimos utilizar o Programa de Gervásio. O projeto intitulado Cartas do Gervásio a seu Umbigo tem sido uma ferramenta útil na promoção de competências de estudo para estudantes universitários (Rosário et al., 2005; Rosário et al., 2007; Rosário; Pina; Tejada, 2008; Pina; Rosário; Tejada, 2010; Núñez et al., 2008). Este projeto é constituído de 14 cartas organizadas em torno de um conjunto de estratégias de autorregulação da aprendizagem, tais como: estabelecimento de objetivos; uso de estratégias cognitivas apropriadas; estruturação do ambiente; uso dos recursos de forma eficaz; monitoramento do próprio desempenho; gerenciamento do tempo disponível; busca de ajuda quando necessário; crenças de autoeficácia positivas; identificação do valor do aprendizado e dos fatores que influenciam a aprendizagem; antecipação dos resultados das ações; experimentação da satisfação com o próprio esforço; organização e processamento da informação; controle dos distratores internos e externos e uso de estratégias de preparação, realização e redução de ansiedade frente a provas. O estilo narrativo confere a este Programa um caráter dinâmico, permitindo uma adaptação ao contexto específico de aprendizagem (Rosário; Núnez; González-Pienda, 2012). Por exemplo, no contexto presencial, em Rosário et al (2010), o grupo de alunos trabalhou apenas as cartas zero, nº 1, nº 2, nº 3, nº 4, nº 5, nº 6 e carta final; em Rosário et al (2007) e em Pina; Rosário; Tejada (2010) as cartas nº 1, nº 3, nº 5, nº 6, nº 10 e nº 11. Já no contexto online houve uma adaptação do projeto ao ambiente virtual de aprendizagem Moodle chamada de e-TRAL (Menéndez et al., 2009; Núñez et al., 2011; Cerezo et al., 2010). Esta proposta foi estruturada em treze seções semanais virtuais (unidades de conteúdos e atividades) e três presenciais (uma para realização do pré-teste, outra para o pós-teste e uma intermediária), na qual cada unidade virtual fica disponível ao aluno por quinze dias. Neste período ele acessa uma carta, um resumo (para ampliar a informação), atividades e materiais audiovisuais (para treinar a estratégia selecionada), um glossário (para facilitar a união da definição aos termos tratados na semana) e um fórum de discussão (para expressar sua opinião ou discutir algum tópico relacionado à carta). Após, o período de quinze dias o aluno não tem mais acesso ao material e as tarefas são bloqueadas. O Programa de Gervásio foi implementado na Oficina online Estratégias de Estudo com enfoque diferente do e-TRAL, pois nesta oficina não houve encontros presenciais, mas o 5 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE uso das ferramentas síncronas como o chat (segunda semana) e a webconferência (quarta semana); bem como ocorreu num período de cinco semanas e não dezesseis e os materiais, após abertura da devida semana no ambiente de aprendizagem Moodle, estiveram disponíveis até o término da Oficina. Durante o período das cinco semanas, as 14 cartas foram trabalhadas seguindo a ordem numérica das mesmas, mas sendo agrupadas, conforme Tabela 1. A Oficina contabilizou 20 horas pela realização de pré-testes e pós-testes, resolução de tarefas semanais, discussões em fóruns, leitura dos materiais, participação no chat e na webconferência. Duas semanas antes do início da Oficina foram abertas as inscrições para alunos do primeiro e quarto semestres do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância (CLMD) da UFPel, num total de 100 vagas. Encaminhamos, via email, as senhas aos 100 primeiros inscritos, destes, 88 cadastraram-se no Moodle e 41 participaram efetivamente das atividades da Oficina. A seguir, apresentaremos as respostas dos pré-testes e pós-testes para a variável conhecimento do conteúdo pedagógico do futuro professor de matemática de um dos sujeitos deste estudo, que a nosso ver, apontam mudanças nos processos autorregulatórios e, consequente, favorecimento de autonomia no aprender dos sujeitos participantes da Oficina. Tabela 1: Organização das Cartas em 5 semanas Semana Carta 1ª Carta zero Carta nº 1 2ª Carta nº 2 Estabelecimento de objetivos Propriedades dos objetivos (CRAva) Objetivos de curto e longo prazo Objetivos de aprendizagem e de realização Carta nº 3 Organização da informação Realização de anotações, esboços, mapa de ideias Técnica Cornell Controle dos distratores Gestão de tempo Listas de coisas a fazer (CAF) Estruturação do ambiente Procrastinação das tarefas Distratores internos e externos Modelo de processamento da informação Memória de curto e longo prazo Esquecimento Instrumentalidade do aprender Carta nº 4 Carta nº 5 Carta nº 6 3ª Subestratégias de autorregulação da aprendizagem a serem trabalhadas Apresentação sobre a importância da autorregulação da aprendizagem O papel do aluno no processo de aprendizagem Organização e gestão do tempo Carta nº 7; Carta nº 8 e Carta nº 9 Autorregulação da aprendizagem Modelo cíclico da aprendizagem autorregulada (PLEA) Estabelecimento de objetivos Monitoração Volição Metodologia de resolução de problemas Passos da resolução de problemas Problemas 6 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE 5ª Carta nº 10 Carta nº 11 Carta nº 12 Carta nº 13 Estratégias de preparação para as provas Revisão das matérias Questionamento Realização de provas anteriores Estratégias de realização de provas Tipos de perguntas Controle dos distratores Revisão das respostas Trabalho em grupo Ansiedade frente a provas Dimensões da ansiedade Distratores internos e externos Plágio e cópia Técnicas de relaxamento Reflexão final sobre o processo de aprendizagem percorrido 4. O Conhecimento do Conteúdo Pedagógico Para identificação da variável conhecimento do conteúdo pedagógico adaptamos a questão 33 do ENADE Matemática 2008, tendo por base os estudos de Kramarski; Revach (2011), na qual um conjunto de categorias foi verificado na resolução da questão aberta proposta, como a identificação do objetivo da tarefa, dos conhecimentos prévios e das dificuldades dos alunos na resolução da tarefa; apresentação de diferentes estratégias para resolução da tarefa e sugestão de abordagens de ensino. O instrumento de pesquisa foi construído através da ferramenta questionário do Moodle, com apenas uma tentativa permitida. Este instrumento foi utilizado nos pré-testes e pós-testes do estudo. As respostas do pré-teste para esta variável do Sujeito 1 são apresentadas na Figura 2, o tempo empregado para resolução deste pré-teste, segundo dados do ambiente, foi de 25 minutos e 19 segundos. 7 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE Figura 2: Respostas ao Pré-teste da variável Conhecimento do Conteúdo Pedagógico Na Figura 3, temos as respostas do Sujeito 1 no pós-teste, na qual ele empregou um tempo de 21 minutos e 22 segundos para responder o instrumento. 8 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE Figura 3: Respostas ao Pós-teste variável Conhecimento do Conteúdo Pedagógico 9 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE Todos os 41 sujeitos da pesquisa apresentaram mudanças em algum dos itens do instrumento do pré-teste para o pós-teste, podemos verificar, por exemplo, que a resposta do Sujeito 1, para o item a) do instrumento mostra uma mudança conceitual, na qual amplia seu olhar sobre a proposta pedagógica da questão, não mais valorizando apenas a resposta da equação (ver Figura 2), mas os processos algébricos abordados pelos alunos fictícios para a resolução desta equação (ver Figura 3). No item b), em seu pós-teste, verificamos que o sujeito percebe a complexidade da questão para os alunos da educação básica (ver Figura 3), em que apenas dominar as operações básicas parece não ser suficiente para resolução da equação (ver Figura 2). Quanto ao item c), o sujeito embora no pré-teste utilize o termo função, não aponta em sua escrita a compreensão da equação dada como a composição de funções (ver Figura 2) e modifica de uma forma coerente no pós-teste o termo função por equação (ver Figura 3). No item d), verificamos uma mudança radical na forma de resolução do sujeito, que no pré-teste, como a exemplo do aluno fictício João, realiza uma simplificação que apenas pode ser realizada sob a condição do termo (x – 1) ser diferente de zero, a qual não foi observada e, assim, gerou apenas uma das soluções da equação. Contudo, no pós-teste o sujeito parece perceber a utilidade da fórmula de resolução de equações do 2º grau, no Brasil, batizada de Fórmula de Bhaskara, a qual sempre determina duas raízes, não necessariamente distintas, para a equação quadrática. Esta percepção fez com que o sujeito para o item e) afirmasse que as resoluções dos alunos fictícios estão erradas, o que também não é uma verdade, pois as resoluções estão apenas incompletas, afinal não consideram as restrições de suas próprias soluções, como no caso do aluno Pedro ao considerar como conjunto solução apenas os números naturais e de João ao simplificar um termo que não pode ser nulo. Contudo, o importante é perceber que o sujeito da pesquisa, após verificar a generalização da fórmula acredita que esta seria a forma de resolução correta, o que pode implicar na desconsideração de novas resoluções, uma vez que, se os alunos fictícios considerassem as restrições já apontadas, poderiam ter chegado as duas raízes da equação, sem a utilização da fórmula geral de resolução. Por fim, é interessante perceber que o sujeito acredita na variação de recursos para o ensino da equação do 2º grau, mas ainda mostra a falta de clareza entre equação e função. As respostas para o instrumento de conhecimento do conteúdo pedagógico do futuro professor de matemática apontam, como afirmamos, para mudanças nos processos autorregulatórios dos sujeitos, como das questões de resolução de problemas, estratégia esta trabalhada na Oficina de Estratégias de Estudo. Na próxima seção apresentaremos alguns dados que podem nos permitir verificar os efeitos da incorporação do estudo dos processos autorregulatórios, a partir do Programa de Gervásio, no CLMD/UFPel. 5. Resultados e Considerações Finais No questionário avaliativo da Oficina 100% dos participantes afirmaram que irão utilizar os conhecimentos e estratégias aprendidas durante a Oficina, das quais as estratégias apontadas como a serem utilizadas já no próximo eixo temático (Hoffmann et al., 2010a; Hoffmann et al., 2010b) estão ilustradas na Figura 4. Observamos a ênfase nas estratégias de anotações e 10 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE gestão de tempo, principalmente a partir da técnica Cornell de anotações e o uso de cronogramas como procedimentos de organização de tarefas. Figura 4: Tabulação das Resposta para Estratégias a serem implementadas a partir do próximo semestre Outro dado importante são as considerações sobre os materiais e atividades propostas que ilustram as opiniões dos sujeitos da pesquisa para com a Oficina, bem como de suas aprendizagens no decorrer da mesma. Assim temos as falas do Sujeito 2 e Sujeito 3 que mostram a conscientização da importância da oficina para sua discência, docência e cidadania: Achei muito importante o conteúdo das cartas, um belo exemplo de como devemos nos organizar como aluno e professor, e também de um modo geral. (SUJEITO 2) As cartas do Gervásio ao seu Umbigo e às cartas do Umbigo ao Gervásio relatam situações parecidas que já vivenciamos ou ainda vamos vivenciar, mas em alguns momentos parecia que foram escritas para mim. As orientações foram muito importantes para autorregulação, planejamento e resolução de problemas, os ensinamentos são válidos para todos os momentos tanto para os estudos como todos os problemas do nosso dia a dia. As atividades propostas foram excelentes para pensar e repensar algumas atitudes que temos, e o que podemos fazer para mudar o que é necessário. (SUJEITO 3) O Sujeito 4 contextualiza sua aprendizagem a partir dos processos trabalhados na Oficina apontando a importância da gestão de tempo, da determinação de fatores distratores e do controle de aspectos afetivos para promoção da autorregulação, o que corrobora com a teoria social cognitiva de Bandura. Achei bem interessante este curso, acho que agora vou conseguir me autorregular para realizar minhas tarefas, e estipular horários para estudar sem distratores. Serviu para organizar melhor os estudos e as preparações para as provas, sou muito ansiosa e agora talvez eu possa me controlar nesse momento de avaliação que sempre é importante.As atividades foram bem proveitosas, foram para testar o nosso aprendizado, valeu a pena aproveitar esse tempo de férias da faculdade para 11 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE aprender a estudar. O material é simples de corresponde com o que vivenciamos em nosso cotidiano, todo aluno deveria ler estas cartas e tirar muito proveito, elas ensinam de maneira verbal sem complicações de conceitos mirabulantes. Gostei e vou continuar no próximo. (SUJEITO 4) O Sujeito 5 apontou sua dificuldade com a leitura dos materiais, embora sua opinião seja que os conteúdos abordados sejam pertinentes: “Achei o material um pouco extenso, cansativo... mas o conteúdo foi muito bom.” (SUJEITO 5) Mesmo que pareça incoerente, pois constantemente há a afirmação de que a aprendizagem online está centrada e focada no aluno, os cursos online ainda são projetados para o atendimento das necessidades dos professores, inúmeras vezes sem ter o aluno em mente, significativas do ponto de vista docente e não, necessariamente, discente (Palloff; Pratt, 2004). A Oficina de Estratégias de Estudo visou o trabalho com um conjunto de estratégias a fim de propiciar aos estudantes uma aprendizagem autônoma, apontando a importância de exercer o papel de agente no processo de aprendizagem na educação superior, através do Programa de Gervásio. Finalizamos com a da carta para o Gervásio escrita pelo Sujeito 1 desta pesquisa, as considerações apontadas neste artigo são parciais, referentes especificamente ao trabalho com a Oficina, para o próximo semestre pretendemos verificar se os sujeitos irão realmente utilizar as estratégias pretendidas e, se mostrarão indivíduos realmente autorregulados. Olá Gervásio, Ao longo dessas semanas, invadi sua privacidade e acabei lendo suas cartas, sei que não é legal e até é crime violar a correspondência alheia. Mas foi preciso, principalmente por partilhar a maior parte de seu problemas com relação a aprendizagem e autorregulação. Espero que o fato de ter ajudado muito no meu processo de aprendizagem me redima do fato de ter lido suas cartas. Já nas primeiras cartas comecei a trabalhar a regulação do meu tempo, elaborando o meu cronograma e refletindo sobre o que realmente era útil gastar meu precioso tempo, definir e gerir as prioridades é uma tarefa árdua e requer a abstenção de tudo que seja irrelevante, sendo a fase de elaboração do cronograma árdua, imagina implantar, seguir rigorosamente porem com uma certa flexibilidade, pois sempre haverão imprevistos no decorrer da jornada. Olhar pra frente, determinar onde se quer chegar, e então definir os caminhos a serem seguidos, é importantíssimo para obtermos sucesso. Observar se os objetivos que pretendemos atingir são concretos, realistas e avaliáveis, e diferencia-los dos sonhos e até delírios, se faz necessário. É como se conseguíssemos seguir nosso caminho conscientemente, tendo o efetivo controle de nossos atos, por que na maioria das vezes agimos conforme a maré, totalmente inerte a realidade. Deixar de lado os papos inúteis, controlar a procrastinação, não perder tempo viajando na internet sem rumo, o melhor que quando aprendemos tudo isso, sobra tempo para o lazer, e o lazer sem culpa, que é capaz de renovar nossas energias e nos tornar mais aptos a atingir nossos planos e objetivos. Clarifica nossas ideias, oxigena nossos cérebros, isso é fundamental para que nossos estudos sejam cognitivos. Aprendi em suas cartas, identificar um problema, elaborar um problema, enfim não ter medo de problemas... saber olhar para os problemas de maneira estratégica, desmembrando eles em problemas menores, através de varias perspectivas, nos faz ter o controle, o domínio e assim resolve-los com mais sabedoria. 12 ESUD 2013 – X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Belém/PA, 11 – 13 de junho de 2013 - UNIREDE E nessas ultimas cartas, aprendi como agir diante da ansiedade, que assola todos de maneira maior ou menos, de acordo com seu desempenho ao longo da aprendizagem, também aprendi que se seguirmos um roteiro de estudos sistematizado, coerente e democrático, sempre estaremos preparados para resolver qualquer problema não seremos pegos de surpresa pela famigerada ansiedade. Teremos o controle sobre nossos pensamentos e ações. Ao final da leitura de suas cartas me sinto preparada para alcançar meus objetivos e encarar os problemas com autocontrole que estão por vir. Percebo, também, que a autorregulação é diária e deve ser incorporada em nossas vidas sistematicamente e que o processo de aprendizagem é continuo. Assim, me despeço, agradecendo imensamente a oportunidade de poder ter lido estas cartas recheadas de tanto saber e informações pertinentes a minha vida. Atenciosamente Sujeito 1 Referências BANDURA, A.; JOURDEN, F. J. Self-Regulatory Mechanisms Governing the Impact of Social Comparison on Complex Decision Making. Journal of Personality and Social Psychology, v. 60, n. 6, p. 941-951, 1991. BANDURA, A. A Evolução da Teoria Social Cognitiva. In: BANDURA, A.; AZZI, R.; POLYDORO, S. (Org.). Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 14-40. BANDURA, A. Social Cognitive Theory: an agentic perspective. American Review of Psychology, 52, p. 1-26, 2001. BEHAR, P. (Org.) Competências em Educação a Distância. Porto Alegre: Penso, 2013. BEHAR, P. (Org.). Modelos Pedagógicos em Educação a Distância. 1. ed. 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