Por que é preciso reformular a formação policial? Porque a cidadania não se constrói apenas com mudança de leis. É preciso adequar o trabalho policial às demandas atuais da sociedade, para isso está sendo criado um Grupo de Trabalho, sob a coordenação do Instituto de Segurança, a fim de elaborar um currículo que atenda às necessidades das polícias civil e militar, respeitando as especificidades das instituições, mas tendo como foco a filosofia da prevenção da violência; da mediação de conflitos; da investigação e inteligência no controle da criminalidade; do policiamento voltado para a construção de uma relação entre polícia e sociedade como parte de uma política de direitos humanos; do exercício de valores morais e éticos de caráter coletivo; e da polícia como um serviço público voltado para a proteção e defesa da cidadania. A integração do ensino policial se dará através de um sistema pedagógico, que articule os conteúdos com uma metodologia que permita o diálogo e a reflexão. O Curso Superior de Polícia já está funcionando nesse novo modelo, e a partir de 2005, pretendemos reestruturar a formação básica e continuada dos praças, inspetores, detetives e oficiais de cartório. Um outro ponto urgente diz respeito à qualificação e valorização profissional dos professores e instrutores que atuam, bem como das condições materiais em todas as unidades de ensino das polícias. O levantamento das condições atuais nos permitirá otimizar a distribuição dos recursos materiais e humanos de forma mais eqüitativa. A reformulação do ensino policial tem como objetivo romper alguns paradigmas ainda vigentes no ensino policial para estabelecer novos conceitos. Diversas pesquisas realizadas já apontaram que há no Brasil uma cultura compartilhada pelos policiais, marcadamente autoritária e hierárquica, que ainda não foi totalmente substituída pela reconstrução democrática do país. A convivência destes modelos distintos pode levar a conflitos de identidade, já que não fica claro qual é o papel da instituição policial. A identidade policial se constrói a partir daquilo que se apresenta como sua missão. Ora lhe dizem que se deve respeitar as leis, ora que é preciso endurecer, o que significa, desrespeitar as leis. Assim, ficam os policiais vulneráveis a não saber como se comportar diante da realidade. É preciso interromper essa dissociação entre a identidade policial e o regime social vigente. É preciso mudar os policiais que já chegam às corporações com valores pré-estabelecidos, ofertando- lhes uma formação que valorize o respeito aos direitos dos cidadãos. As polícias precisam deixar de ser a polícia do Estado, para se tornar a polícia que presta serviços de qualidade à sociedade.