Escola Estadual de Educação Profissional - EEEP Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Curso Técnico em Agroindústria Processamento de Leites e Derivados I Governador Cid Ferreira Gomes Vice Governador Francisco José Pinheiro Secretária da Educação Maria Izolda Cela de Arruda Coelho Secretário Adjunto Maurício Holanda Maia Secretário Executivo Antônio Idilvan de Lima Alencar Assessora Institucional do Gabinete da Seduc Cristiane Carvalho Holanda Coordenadora de Desenvolvimento da Escola Maria da Conceição Ávila de Misquita Vinãs Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC Thereza Maria de Castro Paes Barreto Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional LEITE 1. Definição Segundo a Instrução Normativa nº51 (18/09/2002) “entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda". 2.1 Conceito sobre aspecto biológico: Leite é uma secreção das glândulas mamárias, rico em princípios energéticos, proteínas, sais minerais e vitaminas e que serve para alimentar os mamíferos em sua primeira fase de vida. Importância biológica:é o alimento exclusivamente dos mamíferos jovens. 2.2 Conceito sobre aspecto físico-químico Leite é uma dispersão mista de aspecto branco, opaco, levemente adocicado, tendendo a neutralidade, constituído de gorduras em emulsão, proteínas em estado coloidal (caseína) e carboidratos (lactose), sais (citratos), vitaminas B e C em solução, sendo a água o meio dispersante. 2.3 Conceito sobre aspecto protéico: Leite é um produto íntegro obtido de vacas leiteiras sadias, a partir de uma ordenha completa e ininterrupta (7 a 8 minutos), convenientemente alimentadas, ordenhadas a partir de uma ordenha higiênica, com exceção do colostro. COLOSTRO - Obtido até vinte dias antes do parto e dez dias após.Não é recomendado o seu consumo, porque contém substâncias repugnantes, pus, escamações do úbere, excesso de cloretos, ácido (pH = 5,2 5,5) e pode ter células de Staphylococcus aureus, que produz toxinas. 3. Características organolépticas COR - a cor branca opaca do leite deve-se ao resultado da dispersão da luz em proteínas, gorduras, fosfatos e citrato de cálcio. O processo de homogeneização do leite aumenta a coloração branca, pois as partículas fragmentadas dispersam mais luz. O leite desnatado apresenta tonalidade mais azulada, já que existe baixa quantidade de grandes partículas na suspensão. SABOR - é levemente adocicado, reflexo da presença de lactose e cloretos. AROMA - típico do leite, bastante suave e está relacionado ao teor de ácido cítrico (citratos). Tanto o sabor quanto o aroma do leite dependem principalmente de sua composição química, entretanto outros fatores, determinados por condições ambientais as quais o leite pode estar exposto, terão influência marcante sobre o aroma e sabor. Estes fatores são principalmente: absorção de odores estranhos e ação de microrganismos (decompondo certos constituintes do leite). 4. Composição e valor nutricional do leite Vários são os componentes do leite. O que se apresenta em maior proporção é a água, sendo os demais formados principalmente por gorduras, proteínas, carboidratos, todos sintetizados na glândula mamária. Existem também pequenas quantidades de substâncias minerais, substâncias hidrossolúveis transferidas do plasma sanguíneo, proteínas específicas do sangue e traços de enzimas. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 1/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional A composição usual do leite é a seguinte: •Gordura •Proteínas •Carboidratos (Lactose) •Enzimas •Vitaminas •Minerais O leite produzido pelo animal varia quanto ao volume e quanto à relação entre os seus diversos componentes. As variações quanto à composição do leite dependem dos fatores: espécie animal, raça, individualidade animal, intervalo entre ordenhas, variação durante a ordenha, diferenças entre os quartos, período de lactação, influência das estações, alimentação, temperatura, doenças, idade do animal e condições climáticas (Pinheiro; Mosquim, 1991). Raça Gordura (%) Proteína (%) Lactose (%) Cinzas (%) Ayrshire 3,90 3,40 4,81 0,68 Pardo Suíço 3,30 3,00 5,08 0,72 Guernsey 3,60 3,20 4,96 0,74 Holandês 3,40 3,20 4,87 0,68 Jersey 4,40 3,60 5,00 0,70 FONTE: HARRIS & BACHMAN, 1988 apud DE OLIVEIRA et al. (1999). Sólidos desengordurados (%) 8,89 8,80 8,90 8,75 9,30 De acordo com Pinheiro e Mosquim (1991) a importância do leite, sob o ponto de vista nutricional, se deve a qualidade de suas proteínas, ao seu teor elevado em cálcio, fósforo, magnésio e às vitaminas A, riboflavina e niacina, entre outras. Água A água constitui, em volume, o principal componente do leite. Entra em média na percentagem de 87,5%, influindo sensivelmente na densidade do leite. Como causa da variação da percentagem de água na composição do leite salientam-se os seguintes fatores:a raça do gado e o tempo de lactação (Behmer, 1984). Gordura A gordura é o componente do leite que apresenta maior variabilidade. São as substâncias que podem ser extraídas do leite com solventes orgânicos não polares como éter, benzeno ou clorofórmio. A gordura do leite é sintetizada a partir de ácidos graxos voláteis, principalmente o acetato e o butirato, originados na fermentação ruminal de forragens e outros alimentos ricos em fibras. A adição de concentrado na ração provoca uma redução nas proporções de acetato e butirato e aumento de propionato, causando uma menor produção de gordura no leite (BRITO; BRITO, 1998). A gordura do leite se apresenta na forma de glóbulos esféricos de 0,1 a 20 µm (principalmente entre 3-4 µm) suspensos na fase aquosa do soro em uma quantidade que pode atingir 15 bilhões de glóbulos/ml (BYLUND, 1995). O diâmetro médio dos glóbulos de gordura do leite está relacionado com o conteúdo de gordura, sendo maior no leite mais gordo (VARNAM & SUTHERLAND, 1994). Já a AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 2/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional quantidade de gordura pode variar de acordo com os ítens relacionados na tabela abaixo. Item influenciador Características individuais Raça Período de lactação Alimentação Temperatura Estação Saúde Idade Exercício Quarto do úbere Hora da ordenha Variação da gordura 1 - 2% Holteis < Ayshire < Canadense < Guernsey < Jersey Diminui nos primeiros meses Aumenta com tiroxina e lipídios encapsulados Inversamente proporcional Máximo no inverno Diminui durante os estados patológicos Diminui com a idade Aumenta de 0,2 - 0,3% Pode variar até 1% De tarde é mais rica As gorduras pertencem a um grupo de substâncias chamadas ésteres, que são compostos de álcoois e ácidos. A gordura do leite é composta principalmente de diferentes ésteres de ácidos graxos chamados triglicerídios (97 a 99% dos lipídios totais) que, por sua vez, são compostos de um álcool chamado glicerol e de vários tipos de ácidos graxos. Além disso, a gordura também contém fosfolipídios, esteróis (especialmente o colesterol), carotenóides (responsáveis pela cor amarelada), vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e outros elementos. A membrana do glóbulo de gordura possui uma espessura de 5-10 nm e é a responsável pela estabilidade do glóbulo. Ela é composta de fosfolipídios, lipoproteínas, cerebrosídios, proteínas, ácidos nucléicos, enzimas, metais e água ligada. Os fosfolipídios formam uma interface fundamental na estabilidade da estrutura do glóbulo: a molécula possui um segmento polar voltado para o exterior do glóbulo (fase aquosa) e um segmento apolar voltado para o interior (fase lipídica). Os fosfolipídios (como a lecitina) atuam como agentes emulsificantes. A membrana dos glóbulos de gordura é frágil e, por ação dos microrganismos ou por efeito da agitação do leite, pode romper-se. No centro do glóbulo concentram-se os triglicerídios mais insaturados e, portanto mais sujeitos a oxidação. Em torno de 60 a 70% da gordura do leite é constituída de ácidos graxos saturados. Dois ácidos graxos de cadeia curta e voláteis, o butírico e o capróico, são os responsáveis pelo aroma característico do leite. O Glóbulo de Gordura A estrutura do glóbulo de gordura pode ser esquematizada como círculos concêntricos com a seguinte composição (de dentro para fora): 1 - Triglicerídios insaturados e de baixo peso molecular 2 - Triglicerídios sólidos 3 - Fosfolipídios 4 - Lipoproteínas, aglutininas 5 - Cargas elétricas AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 3/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Esses glóbulos de gordura representam as partículas de maior tamanho e as mais leves do leite (densidade a 15°C é de 0,93 g/cm3) por isso elas tendem a aglomerar-se na superfície quando o leite permanece em repouso, formando a nata. Uma proteína chamada aglutinina, naturalmente presente no leite, acelera a formação da nata. A agregação dos glóbulos de gordura é acelerada pela sua influência. A aglutinina é desnaturada por um binômio temperatura-tempo de 65°C/10min ou 75°C/2 min. Os agregados de gordura são facilmente rompidos pelo aquecimento ou pelo tratamento mecânico. Triglicerídios Conhecidos como gorduras neutras, esta grande classe de lipídios não contém grupos carregados. São ésteres do glicerol (1,2,3-propanotriol). Estes ésteres possuem longas cadeias carbônicas ligadas ao glicerol, e a hidrólise ácida promove a formação dos ácidos graxos correspondentes e o álcool (glicerol). Cada molécula de glicerol pode se ligar a três moléculas de ácidos graxos (não necessariamente iguais). As moléculas de ácidos graxos são compostas de uma cadeia hidrocarbonada e de um grupo carboxil (RCOOH). Em ácidos graxos saturados os átomos de carbono estão ligados em uma cadeia por ligações simples. Ao contrário, em ácidos graxos insaturados existem uma ou mais ligações duplas na cadeia hidrocarbonada. A oxidação dos ácidos graxos leva a formação de ácidos graxos livres, que são responsáveis por parte do aroma de rancificação. Fosfolipídios Além do radical álcool e dos ácidos graxos, os fosfolipídios também são compostos por ácido fosfórico e uma base nitrogenada. São muito sensíveis a oxidação, podendo gerar um gosto/aroma de pescado (trimetilamina) no leite e nos seus derivados. Cepas de Bacillus cereus produzem lecitinases que rompem a membrana dos glóbulos de gordura provocando a formação de flocos de gordura na superfície do leite. Os fosfolipídeos são eficazes agentes emulsionantes. Gorduras – Oxidação A oxidação é a principal causa de mudanças químicas no leite e, portanto afeta diretamente a vida útil de quase todos os produtos lácteos. A oxidação da gordura inicia com a formação de peróxidos em nível das duplas ligações dos ácidos graxos, por isso, quanto maior a insaturação maior a suscetibilidade. Na presença de luz e/ou íons metálicos pesados, os ácidos graxos são quebrados até a formação de aldeídos e cetonas que dão origem aos aromas de rancidez. A oxidação aumenta com o calor, a luz e a acidez. Os ácidos graxos saturados só se oxidam em temperaturas superiores a 60°C, enquanto nos poliinsaturados a oxidação pode ocorrer a temperaturas usuais de resfriamento. Alguns fatores podem impedir ou diminuir a oxidação: • A liberação de grupos sulfidrilo (SH-) das proteínas durante os tratamentos térmicos; • Embalagem a vácuo; • Controle sobre microrganismos de degradação; • Anti-oxidantes químicos (substâncias fenólicas, sulfidrilas); • Ação proteolítica; • Anti-oxidantes naturais (tocoferóis, vit. C); • Proteases (liberação de sulfidrilas); • Crescimento de bactérias lácticas. Sob o ponto de vista nutritivo, a gordura apresenta níveis apreciáveis dos ácidos graxos essenciais linoléico e araquidônico. O ácido linoléico não é sintetizado pelo organismo humano, o mesmo não ocorre com o linolênico e araquidônico; que são sintetizados, a partir do primeiro (Pinheiro & Mosquim, 1991). A presença da gordura é um fator importante para determinar a palatabilidade dos alimentos. A AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 4/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional gordura láctea é particularmente importante neste aspecto, porque contém um número alto de lipídios de tamanho molecular pequeno, de ácidos gordurosos de cadeia curta e seus derivados que contribuem ao sabor, aroma e no caso dos lipídios para a sensação na boca (Varnam & Sutherland, 1995). Ação do aquecimento sobre as gorduras Os componentes da matéria gorda são pouco sensíveis aos tratamentos térmicos moderados. É preciso alcançar temperaturas muito superiores a 100◦C e realizar um aquecimento prolongado durante várias horas a 70-80◦C para detectar uma degradação dos glicerídeos que se traduzem pela δ-lactonas, a partir da hidrolização dos hidroxiácidos graxos. Pode formação de β-cetônicos evidenciar-se a formação de metil cetonas a partir dos ácidos procedentes da hidrólise dos glicerídeos (Veisseyre, 1988). Estes produtos não são desejáveis, pois alteram o sabor do leite. As quantidades presentes no leite pasteurizado são pequenas em comparação com as quais se encontra o leite que foi submetido a tratamentos térmicos mais severos e no caso das metil-cetonas, as quantidades presentes são somente um pouco superiores as que se encontram no leite não aquecido (Varnam & Sutherland, 1995; Veisseyre, 1988). A tabela abaixo mostra a quantidade de lactonas e metil-cetonas formadas durante os tratamentos térmicos. Formação de lactonas e metil-cetonas após o tratamento térmico Produto Lactonas e metil cetonas (nmol/g de gordura) Leite pasteurizado 12 Leite UHT 21 Leite esterilizado em recipientes herméticos 100 Fonte: Varnam & Sutherland, 1995 No leite UHT se encontram níveis mais altos de ácidos graxos livres, e que pode haver uma indução ao aumento do grau de acidez. O leite com o grau de acidez maior do que 2 é geralmente tido como inaceitável pelo sabor denominado “lipolisado”, denominação essa dada pela ocorrência da lipólise nos triglicerídeos do leite (Neto et al, 2002). Proteínas As proteínas do leite vêm despertando interesse, cada vez maior, sob o ponto de vista econômico e nutricional. A demanda crescente de derivados lácteos providos de teores elevados deste componente, a exemplo de queijos e outros produtos alimentícios, demonstra uma maior conscientização do povo quanto ao uso de proteínas balanceadas, de sabor agradável e a baixo custo (Pinheiro & Mosquim, 1991). Uma importante característica do leite, no aspecto nutricional, é que oito (nove para as crianças) dos 20 aminoácidos não podem ser sintetizados pelo organismo humano. Como eles são necessários para a manutenção de um metabolismo adequado, necessitam ser obtidos através dos alimentos. Estes são denominados aminoácidos essenciais e todos estão presentes nas proteínas do leite. As proteínas são moléculas formadas de unidades menores chamadas de aminoácidos. Uma molécula de proteína consiste em uma ou mais cadeias interligadas de aminoácidos, onde estes estão organizados em uma ordem específica. Uma molécula de proteína, em geral, contém de 100 - 200 aminoácidos ligados, mas podem conter número maior ou menor. Existem aproximadamente 20 tipos de aminoácidos, sendo que 18 deles podem ser encontrados nas proteínas do leite. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 5/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Quantidade de aminoácidos essenciais presentes no leite Aminoácidos Necessidade do mg de aminoácidos/100g essenciais adulto (mg/dia) de leite Fenilanina 2200 140-228 Histidina 59-110 Isoleucina 1400 167-240 Leucina 1200 312-490 Lisina 1600 184-338 Metionina 2200 70-140 Treonina 1000 136-176 Triptofano 500 43-70 Valina 1600 171-268 Fonte: Pinheiro & Mosquim, 1991. A Caseína Denomina-se de caseína uma classe de proteínas preponderantes no leite. As caseínas formam micelas, que são centenas ou milhares de moléculas individuais agregadas por forças de adsorção. As micelas podem chegar a um tamanho de 0,4 microns e formam uma solução coloidal. As caseínas se encontram no leite em dois estados: polimerizado em micelas esféricas e em estado monômero que é solúvel e não centrifugável. O equilíbrio entre o cálcio solúvel e coloidal do leite é fundamental para o equilíbrio das micelas de caseína. Com a adição de cloreto de cálcio (Cl2Ca) o equilíbrio se desloca para a fase coloidal e as micelas aumentam de tamanho, aglomerando-se. A caseína não é considerada precipitável pelo calor dentro dos limites normais de pH, sal e conteúdo protéico: elas resistem até a temperatura de 140°C. Contudo, a manutenção de altas temperaturas (140°C) por períodos de tempo elevados (superiores a 20 minutos) provoca a desestabilização das micelas de caseína e a formação de um gel. Além disso, as caseínas podem ser precipitadas (coaguladas) pela acidez (ao atingir seu ponto isoelétrico) e também através da atividade proteolítica (como a do coalho). A estabilidade térmica das proteínas do leite está relacionada com o teor natural de uréia e de citrato (dependente do consumo de forrageiras), quanto maiores os teores destes elementos, maior a estabilidade térmica e vice-versa (SILVA & ALMEIDA, 1998). Paralelamente, a mamite influencia negativamente a estabilidade das proteínas do leite, pois aumenta a proporção de proteínas solúveis (menos termoestáveis) em relação às caseínas (SILVA & ALMEIDA, 1998). As Micelas de Caseína As caseínas são divididas em três subgrupos: α-caseínas, κ-caseínas e β-caseínas, que diferem entre sí por poucos aminoácidos. Os três subgrupos possuem a característica comum de terem um, dos dois aminoácidos que contém grupos hidroxil, esterificados para ácido fosfórico. O ácido fosfórico liga-se ao cálcio e ao magnésio, e alguns desses sais formam pontes entre as moléculas de caseína. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 6/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional As micelas de caseína consistem em um complexo de submicelas de um diâmetro de 10 - 15 nm. O conteúdo de α, κ e β caseína é heterogeneamente distribuído nas diferentes micelas. Os sais de cálcio da κ-caseína são solúveis em água enquanto que os da κ e β-caseína são quase insolúveis. Devido à localização dominante da κ-caseína na superfície das micelas, estas são solúveis na forma de colóides. O fosfato cálcico e as interações hidrofóbicas entre as submicelas são as responsáveis pela integridade das micelas de caseína. A κ-caseína possui um terminal hidrofílico “C” composto de carboidratos o qual se projeta para forma do complexo micelar, estabilizando as micelas. O fenômeno é devido à forte carga negativa dos carboidratos. Em uma micela intacta existe um excesso de cargas negativas e consequentemente elas se repelem mantendo-se em solução. O tamanho da micela depende do conteúdo do íon cálcio (Ca++) no leite. Se a micela perde cálcio, pelo equilíbrio ativo com o cálcio em solução, a micela vai se desintegrar em submicelas. As micelas também são afetadas pela baixa temperatura: as β-caseínas começam a se dissociar e o hidroxifosfato de cálcio abandona a estrutura micelar, dissolvendo-se. A explicação para esse fenômeno é que a β-caseína é a mais hidrofóbica e suas interações hidrofóbicas são enfraquecidas quando a temperatura diminui. Essas mudanças tornam o leite menos adequado para a produção de queijo, pois elas resultam em um maior período para a coagulação e a formação de um coágulo mais mole. Felizmente essas reações são reversíveis e o leite resfriado retoma suas características normais quando aquecido. Contudo, nessa condição, a β-caseína é mais facilmente hidrolisada por várias proteases do leite após abandonar a micela. A hidrólise de β-caseína em peptídeos significa um menor rendimento de queijo, já que as estas são perdidas no soro, e pode ocasionar a eventual formação de amargor. Caseína – Coagulação Coagulação enzimática A cadeia de 169 aminoácidos da κ-caseína pode ser hidrolizada pelas enzimas quimosina e pepsina presentes no coalho. A ação proteolítica se dá mais facilmente nas ligações entre os aminoácidos 105 (fenilanina) e 106 (metionina). O terminal formado pelos aminoácidos 106 - 169 é solúvel e formado por aminoácidos polares e carboidratos que conferem uma característica hidrofílica à seqüência. Essa parte da AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 7/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional κ-caseína é chamada de glicomacro-peptídeo e é liberada no soro durante a produção de queijo. A parte remanescente da κ-caseína, consistindo dos aminoácidos 1 - 105 é insolúvel e permanece no coágulo junto com as α e β-caseínas. Essa parte é chamada de para-κ-caseína. A formação do coágulo se dá pela súbita remoção do macropeptídeo hidrofílico e pelo conseqüente desbalanceamento das forças inter-moleculares. Começam a ocorrer ligações entre os sítios hidrofóbicos e estas são reforçadas por ligações de cálcio. As micelas perdem sua solubilidade e começam a se agregar e a formar o coágulo. As moléculas d’água presas nos sítios hidrofílicos da κ-caseína começam a ser expulsas. Essa fase é conhecida como coagulação e sinerese. Toda a estrutura micelar colapsa depois de algum tempo na forma de um coágulo denso. A coagulação é fortemente afetada pela concentração do íon cálcio e pela presença ou não de proteínas do soro desnaturadas nas superfícies das micelas. Conseqüentemente, os tratamentos térmicos no leite diminuem mais ou menos intensamente a potencialidade coagulante do leite pela precipitação do cálcio solúvel e pela desnaturação térmica das proteínas solúveis do leite. O coágulo formado enzimaticamente não se desmineraliza retém a maior parte do cálcio e fósforo, que são alguns dos elementos que dão rigidez, coesão e impermeabilidade ao mesmo. Conseqüentemente o coágulo apresenta características reológicas especiais: é compacto, elástico, impermeável e contrátil, o que permite a operação de prensagem na produção de queijos de baixa e média umidade. Coagulação ácida No pH natural do leite (em torno de 6,6) as moléculas de proteína possuem carga negativa. As proteínas se mantém separadas (em solução) porque cargas elétricas idênticas se repelem. Quando íons hidrogênio são adicionados ao leite (acidificação), eles são adsorvidos pelas moléculas de proteína. Em um valor de pH em que as cargas positivas e negativas da proteína são iguais (onde o número de grupos NH3+ e COOH- das cadeias laterais são iguais) a carga total é zero. Nessa situação, as proteínas se aglomeram através da anulação das cargas positivas de uma molécula com as cargas negativas em uma outra. A coagulação ocorre, então, pelo aumento do peso molecular. O pH no qual isso ocorre é chamado de ponto isoelétrico da proteína, correspondendo a um valor de 4,6. Por outro lado, quando ocorre a coagulação por acidificação, o aumento da acidez aumenta a solubilidade dos minerais e, o cálcio e o fósforo orgânicos das micelas se solubilizam gradualmente passando para o soro. Assim, o coágulo obtido por acidificação possui características físico-químicas e reológicas que tem muita importância no processo de fabricação do queijo. Em especial, a estrutura formada não permite a prensagem da massa e esta retém muito mais umidade. As micelas ficam desestruturadas, sem enlace nem coesão, sendo incapazes de contrair-se. Conseqüentemente, toda a ação mecânica sobre a coalhada formada deve ser muito cuidadosa para evitar sua ruptura em pequenas partículas que são perdidas junto com o soro. A coagulação ácida só permite, portanto a elaboração de queijos de alta umidade. Proteínas do Soro As proteínas do soro são formadas por α-lactoalbumina (80 %) e β-lactoglobulina (20 %). Essas proteínas não são precipitadas pelo abaixamento do pH do leite nem pela ação proteolítica do coalho. Porém, o aquecimento as desnatura e elas formam complexos com a caseína. Em temperaturas superiores a 60°C a desnaturação das proteínas do soro se inicia (em especial os aminoácidos sulfurados da βlactoglobulina) e, a 90°C / 5min a desnaturação é total. Essa desnaturação térmica é uma reação irreversível. No processo de desnaturação, as proteínas que naturalmente estão enroladas, se “esticam” e pontes sulfuradas começam a se formar entre as moléculas de β-lactoglobulinas, entre uma molécula de βlactoglobulina e uma molécula de κ-caseína e entre a β-lactoglobulina e a α- lactoalbumina. Em altas temperaturas (como do tratamento UHT do leite), compostos sulfurados como sulfito de hidrogênio começam a se formar e são responsáveis pelo “sabor de cozido” de leites termotratados. O tipo de ligação estabelecido entre as proteínas do soro e a caseína diminui a possibilidade da caseína de ser hidrolizada pelo coalho e de se ligar com o cálcio. Conseqüentemente, o coágulo formado a partir de leite AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 8/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional aquecido a altas temperaturas não vai coagular normalmente devido à dificuldade de ação hidrolítica das enzimas do coalho sobre a κcaseína. Na produção de alguns queijos duros e semi-duros, a duração do tratamento térmico não deve ser prolongado. Por outro lado, na produção de iogurte, a desnaturação das proteínas do soro obtida a 90 95°C / 3 - 5 minutos vai contribuir, pela característica hidrofílica das mesmas, com o aumento da qualidade pela reduzida sinerese e aumento da viscosidade do produto. As proteínas do soro em geral e a α-lactoalbumina, em especial, possuem alto valor nutricional. Sua composição de aminoácidos é próxima aquela considerada ideal. Elas são mais ricas que a caseína nos três aminoácidos mais importantes na alimentação humana: lisina, metionina e triptofano. Derivados das proteínas do soro são amplamente utilizadas na indústria de alimentos. Ação do aquecimento sobre as proteínas O tratamento térmico do leite origina a desnaturação das proteínas do soro. O efeito varia dependendo da severidade do aquecimento desde a desnaturação parcial durante a pasteurização até a total na esterilização convencional. As imunoglobulinas são as proteínas mais lábeis e em ordem lactoglobulina e -lactoalbumina crescente de estabilidade, a albumina sérica, (Varnam & Sutherland, 1995). A desnaturação das proteínas do soro desempenha um importante papel no desenvolvimento do aroma de cozido. Este aroma não é perceptível no leite pasteurizado HTST, porém forma parte do sabor característico do leite esterilizado (Varnam & Sutherland, 1995). A desnaturação é tão mais importante quanto mais alta a temperatura. Pode constatar-se que uma pasteurização realizada em condições ótimas não ocasiona uma desnaturação apreciável. No leite pasteurizado podem ocorrer maiores perdas por ação de luz, sendo os aminoácidos mais afetados a metionina, triptofano e a tirosina. A esterilização convencional, em autoclave, provoca a máxima desnaturação. Já o aquecimento UHT Direto não desnatura mais do que 60% das proteínas do lactosoro, o que não afeta o valor biológico das mesmas, apenas desfazem parte de sua conformação globular, podendo tornar-se até mais digerível (Varnam & Sutherland, 1995; Veisseyre, 1988). A Tabela 7 mostra a desnaturação das proteínas solúveis do leite. Tabela 7 - Desnaturação das proteínas do soro durante o tratamento térmico Tratamento térmico % Pasteurização 11 UHT Direto 50 UHT Indireto 90 Esterilização mediante autoclaves 100 Fonte: Varnam & Sutherland, 1995 As caseínas não se comportam, frente ao aquecimento, como as proteínas solúveis. Para poder constatar alguma modificação, é necessário o aquecimento a temperaturas muito elevadas, superiores a 120◦C durante 10 minutos (Veisseyre, 1988). Após a pasteurização observam-se perdas do aminoácido lisina, decorrentes da Reação de Maillard, na qual grupamentos amina de alguns decorrentes da Reação de aminoácidos unem-se a lactose, que tem um paralelismo entre a sua intensidade, a temperatura do tratamento térmico e o valor nutricional do leite. Quanto maior a temperatura utilizada durante o tratamento térmico, maior a velocidade da Reação de Maillard e, portanto maiores as perdas de lisina. As perdas de lisina podem chegar a 4% por tratamento UHT direto e por volta de 5,5% pelo UHT indireto. As perdas de lisina na pasteurização são de aproximadamente 1 a 2%, podendo ter maiores perdas por ação da luz (Varnam & Sutherland, 1995). As perdas de lisina na pasteurização em relação aos tratamentos térmicos são pequenas, como pode ser observado na tabela abaixo: Perdas de lisina após os tratamentos térmicos AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 9/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Produto % Lisinas Leite Pasteurizado 1–2% Leite UHT Direto 4% Leite UHT Indireto 5,5% Leite Esterilizado (sistema convencional) 13% Fonte: Varnam & Sutherland, 1995. Lactose O leite contém em torno de 5% (3,6 - 5,5%) de lactose e 0,1% de glicose além de traços de outros açúcares (como a galactose). Os açúcares pertencem ao grupo dos carboidratos. Os carboidratos são a fonte de energia mais importante em nossa alimentação. Eles se dividem em compostos de alto valor energético que podem participar de todas as reações bioquímicas, onde proporcionam a energia necessária. Os carboidratos também fornecem material para a síntese de alguns compostos químicos importantes no organismo. Eles estão presentes nos músculos como glicogênio e no fígado como glicogênio do fígado. A lactose é um açúcar encontrado somente no leite. Sendo um dissacarídeo, contém uma molécula de glicose e uma de galactose. Esses açúcares são a fonte de produção de ácido láctico pelos microrganismos. As bactérias lácticas possuem uma enzima chamada lactase que hidrolisa a molécula de lactose nos seus dois monossacarídeos. Além disso, os açúcares formam reação de Maillard com as proteínas causando escurecimento do leite aquecido (em temperaturas superiores a 100°C) e perda do valor nutricional, em especial lisina, que é um aminoácido essencial. É utilizada como ingrediente alimentar devido as suas propriedades estabilizantes de proteína e a seu baixo poder edulcorante, é menos doce que a maioria dos açúcares mais comuns, permitindo o seu emprego em maiores concentrações sem, contudo, tornar o produto enjoativo (Pinheiro & Mosquim, 1991). Na produção de queijo a maior parte da lactose permanece dissolvida no soro. A lactose é 30 vezes menos doce do que a sacarose e é um dos açúcares menos solúveis, com uma solubilidade em água de 17,8% a 25°C. Esta baixa solubilidade têm como conseqüência na elaboração de leite concentrado, condensado e sorvetes, a necessidade da indução da cristalização (por rápido resfriamento e introdução de pequenos cristais de lactose / núcleos de cristalização) para produzir um grande número de pequenos cristais e dessa forma evitar uma textura arenosa defeituosa. Uma percentagem relativamente alta da população, especialmente de origem africana e asiática, apresenta intolerância à lactose (deficiência em lactase). Os sintomas variam desde a incapacidade de ingerir produtos lácteos até distúrbios gastro-intestinais após o consumo. Ação do aquecimento sobre a lactose A formação de lactulose, dissacarídeo formado por um resíduo de frutose e um resíduo de galactose, aumenta com a temperatura do tratamento térmico. Isto não é desejável, pois a lactulose não é hidrolisada pelas enzimas dos mamíferos, porém pode ser fermentada no intestino grosso produzindo flatulências. Este problema não parece importante com as quantidades presentes no leite pasteurizado e UHT, no entanto, pode ser mais grave nos consumidores do leite esterilizado pelo sistema convencional (Varnam & Sutherland, 1995). A tabela abaixo mostra as quantidades de lactulose de acordo com cada tratamento térmico. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 10/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Formação de lactulose após o tratamento térmico Tratamento térmico lactulose (mg/l) Pasteurização 50 UHT 100-500 Esterilização convencional 900-1380 Fonte: Varnam & Sutherland, 1995 O aquecimento de dissoluções de lactose acarreta conseqüências tecnológicas importantes, sobretudo quando o açúcar está em presença de proteína. Isto é a origem do escurecimento não enzimático observado durante a fabricação e armazenamento dos diversos produtos lácteos (Veisseyre, 1988). Quando os cristais de lactose são aquecidos a temperaturas mais elevadas, observa-se primeiramente, a perda da água de cristalização a 110◦C, seguido de amarelecimento a 150◦C, e escurecimento (marrom) a 170◦C devido a caramelização (Veisseyre, 1988). O escurecimento do leite durante o aquecimento se deve a reação entre o grupo aldeído da lactose e o grupo amino das proteínas (Reação de Maillard) e a polimerização (caramelização) das moléculas de lactose. Também é possível que a lactose se decomponha por oxidação em ácidos orgânicos, o que explicaria em parte o aumento de acidez que se produz durante a esterilização do leite. No meio alcalino, a termodestruição da lactose pode dar lugar à aparição de ma cor cinza, mais ou menos escura, que se observa freqüentemente nos processos de cocção (Amiot, 1991). Enzimas Classificam-se como enzimas, um grupo de proteínas produzidas pelos organismos vivos, que têm a habilidade de acelerar os processos bioquímicos nos organismos. Por esta razão, são muitas vezes chamadas de biocatalisadores. A ação das enzimas é específica, cada enzima catalisa somente um tipo de reação. Dois fatores influenciam fortemente a ação enzimática: temperatura e pH. Geralmente as enzimas têm uma temperatura ótima de atividade entre 25 e 50ºC. Após esta temperatura, elas iniciam o processo de desnaturação (inativação enzimática). Quanto ao pH, o valor ótimo depende da enzima em questão. A presença ou não de certas enzimas no leite é utilizada nos testes de qualidade. Entre as principais enzimas encontradas no leite estão: • Lipases; • Proteases; • Oxidorredutases. Enzimas – Lipases As lipases presentes no leite podem ser de origem microbiana ou endógena. Essas enzimas hidrolizam a gordura em glicerol e ácidos graxos. A ruptura do glóbulo de gordura aumenta muito a eficácia da lipólise pelo aumento da superfície de contato e da freqüência de contato. As lipases naturais do leite são termolábeis (inativadas pela pasteurização), sensíveis à oxidação e ainda sensíveis às proteases, o que torna sua atividade de pouca importância. Contudo, as lipases de origem microbiana são muito mais resistentes à desnaturação térmica e, portanto possuem grande importância tecnológica, uma vez que causam a degradação progressiva de produtos lácteos de longa vida de prateleira. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 11/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Enzimas – Proteases As proteases presentes no leite podem ser de origem microbiana ou endógena. Essas enzimas hidrolisam as proteínas em aminoácidos e peptídeos, podendo provocar amargor. A plasmina é a principal protease natural do leite. Essa enzima é termo-estável no pH normal do leite e mantém de 70 a 80% da sua atividade após a pasteurização e, de 30 a 40% após o tratamento UHT. O leite mamítico possui teores mais elevados de plasmina (MACHADO & PEREIRA, 1998) e, portanto, é mais suscetível a ocorrência de coagulação doce no leite UHT ou o desenvolvimento de amargor em queijos. Enzimas – Oxidoredutases O leite contém várias oxidoredutases, incluindo catalase, peroxidase e xantin-oxidase. A catalase decompõe o peróxido de hidrogênio em oxigênio molecular e água. O leite normal contém uma pequena quantidade dessa enzima. Sua quantidade está ligada à presença de leucócitos e células epiteliais no leite, por isso sua quantificação é usada para identificar leites mamíticos ou colostrais. Contudo, muitas bactérias produzem esse tipo de enzima, falseando os resultados. A catalase é inativada a 75°C / 60 s. A peroxidase transfere oxigênio do peróxido de hidrogênio (H2O2) para outras substâncias facilmente oxidáveis. Presente em grandes quantidades no leite é capaz de catalisar reações de oxidação da gordura. Essa enzima forma parte do complexo lactoperoxidase / tiocianato / peróxido de hidrogênio (LPS) que é um sistema anti-microbiano natural potencialmente importante. A peroxidase é inativada em temperaturas superiores a 80°C por 5 segundos. Por isso deve estar presente no leite in natura ou no leite pasteurizado. A fosfatase alcalina hidrolisa ésteres fosfóricos em ácido fosfórico e álcool. A concentração dessa enzima no leite varia de acordo com a estação do ano, raça, estágio da lactação e produtividade do animal (ROBERTO et al., 2001). A fosfatase alcalina é desnaturada em temperaturas próximas a de pasteurização (72-75°C / 15-20 s) por isso deve estar ausente no leite pasteurizado. Contudo, a restauração da atividade enzimática pode ocorrer com o tempo, por isso o teste deve ser realizado logo após o termotratamento. A reativação pode ser evitada se o leite for devidamente resfriado após a pasteurização. No Brasil, o método aprovado oficialmente utiliza a reação do fenol liberado da 2,6 dibromo ou 2,6 dicloroquinona cloroimida produzindo indofenóis azuis que são detectados visualmente (LANARA, 1981). A interpretação do resultado é realizada de três formas: i) leite cru: coloração azul intensa; ii) leite aquecido mas não pasteurizado: azul esmaecido; iii) leite pasteurizado: coloração cinza. Este método visual foi substituído nos países desenvolvidos, desde a década de 70, por métodos mais sensíveis; inicialmente pelo método que utiliza o fosfato de fenolftaleína e, mais recentemente, pelos métodos espectrofotométricos ou fluorimétricos automáticos (ROBERTO et al., 2001). Ação do aquecimento sobre as enzimas No tratamento de pasteurização várias enzimas do leite são inativadas e as provas da inativação enzimática como o teste da fosfatase alcalina, são utilizadas desde muitos anos para comprovar que o leite tem recebido uma pasteurização adequada (Varnam & Sutherland, 1995). As lipases naturais do leite também se inativam, uma vez que a membrana do glóbulo graxo está muito danificada podendo haver alguma atividade residual. Pelo contrário, a principal proteinase do leite, plasmina, é muito resistente à pasteurização, mantendo de 70 a 80% de sua atividade depois de um tratamento HTST. Os plasminógenos parecem ser menos afetados do que a plasmina ativa e o grau de ativação dos plasminógenos podem aumentar depois da pasteurização devido à inativação de compostos que normalmente atuam como inibidores. Portanto, a pasteurização não tem um efeito importante sobre o nível de atividade proteolítica total, já que se produz um certo grau de inativação da plasmina. Depois da esterilização UHT permanece de 30 a 40% de plasmina ativa e na esterilização pelo sistema convencional, AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 12/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional dependendo do tratamento aplicado, a enzima pode ser totalmente inativadas (Varnam & Sutherland, 1995). A tabela abaixo mostra a porcentagem de plasmina inativada de acordo com o tratamento térmico utilizado. Inativação das plasminas segundo o tratmento térmico Tratamento térmico % plasmina inativada Pasteurização 20-30 UHT 30-40 Esterilização convencional 100 Fonte: Varnam & Sutherland, 1995. Vitaminas O leite é uma fonte de vitaminas lipossolúveis, A, D e E, e de vitaminas hidrossolúveis C, B1, B2, B6, ácido pantotênico, niacina, biotina e ácido fólico. Contém a variedade mais completa de vitaminas, porém estas se encontram em pequenas quantidades (Veisseyre, 1988). O leite contribui significativamente para atender as necessidades de vitamina A do homem e possui quantidades relativamente grandes de vitaminas hidrossolúveis, como a vitamina B1 e B2, enquanto outras, pouco contribuem para atender as necessidades do homem, a exemplo da C e do ácido nicotínico (Pinheiro & Mosquim, 1991). A tabela abaixo relaciona as vitaminas presentes em 1 litro de leite e a necessidade diária de uma pessoa adulta. Quantidade presente em 1 litro de leite (mg) Necessidade diária de um adulto (mg) A 0,2 - 2,0 1,0 - 2,0 B1 0,4 1,0 - 2,0 B2 1,7 2,0 - 4,0 C 5,0 30 - 100 D 0,002 0,01 Vitamina Minerais A concentração total de sais minerais corresponde a menos de 1% da composição total. Os sais minerais ocorrem em solução no soro ou ligando-se às sub-micelas de caseína. Os sais mais importantes são os de cálcio, sódio, potássio e magnésio. Eles ocorrem como fosfatos, cloretos, citratos e caseinatos. Os sais de potássio e de cálcio são os mais abundantes no leite. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 13/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Porcentagem de elementos minerais no leite Elemento % Cálcio 0,13 Fósforo 0,10 Potássio 0,15 Magnésio 0,012 Cloro 0,10 Sódio 0,05 Cobre 0,00002 Ferro 0,00005 Enxofre 0,03 Fonte: Pinheiro & Mosquim, 1991. As características de qualidade dos produtos lácteos, um dos principais itens da dieta de crianças, devido à qualidade de suas proteínas, e de seu teor elevado em cálcio, magnésio e fósforo, embora pobres em cobre e ferro, dependem muito da relação entre os seus diversos sais (Pinheiro & Mosquim, 1991). A estabilidade das proteínas do leite depende dos sais em solução, principalmente no que diz respeito aos íons cálcio, magnésio, fosfatos e citratos. Qualquer desequilíbrio entre os níveis dos cátions bivalentes e dos ânions polivalentes reduz a estabilidade da caseína (Pinheiro & Mosquim, 1991). A estabilidade do leite pode diminuir devido a uma alta da atividade do cálcio, uma baixa atividade de fosfatos e citratos e sucessivos tratamentos térmicos. Com o aquecimento do leite, ocorre o deslocamento de parte do cálcio e do fosfato solúvel para a fase coloidal. Isso leva à precipitação do fosfato tricálcico, devido à sua pouca solubilidade a altas temperaturas (Silva & Almeida, 2000). Características organolépticas São as características que se pode perceber através do paladar, olfato e visão. Através destes sentidos é possível observar o aspecto, sabor, odor, cor, e aroma do leite. Sabor O leite fresco possui um sabor levemente adocicado e agradável, devido essencialmente a alta quantidade de lactose. Alem disso, os outros elementos do leite, inclusive as proteínas que são insípidas, participam de alguma forma, direta ou indireta, na sensação de sabor. Pode ocorrer mudança no sabor do leite devido a várias causas, no qual estas estão relacionadas fundamentalmente ao manejo dos animais e como o leite é processado pois mesmo depois da pasteurização e embalagem, o leite ainda pode absorver sabores indesejáveis. O teor de gordura também influencia no sabor do leite, pois, normalmente, quanto maior o teor de gordura mais saboroso o leite será. Odor O leite possui odor suave, levemente ácido, e lembra mais ou menos o animal que o produziu e ele recém-ordenhado tem um odor relacionado ao ambiente de ordenha, que desaparecem logo depois.Os principais elementos que influenciam o odor do leite são provenientes de alimentos, meio ambiente, utensílios que entram em contato com o leite e microrganismos. Odores desagradáveis do leite podem ser eliminados durante a pasteurização, quando o produto passar por um equipamento denominado aerador. Neste equipamento o leite levemente aquecido é turbilhonado de tal forma que as substâncias voláteis que conferem odor desagradável sejam evaporadas. Cor A cor característica do leite (branco-amarelada opaca) é devido principalmente à dispersão da luz pelas micelas de caseína, sendo que glóbulos de gordura dispersam a luz, mas pouco contribui para a cor branca do leite. A cor amarelada do leite e devido a substancias lipossolúveis (caroteno e a riboflavina). AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 14/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Aspecto O leite deve ter o aspecto liquido, homogêneo, formando uma camada de gordura na superfície quando deixado em repouso. Não pode conter substâncias estranhas, devendo esta sempre limpo. Alergia e intolerância ao leite O leite é um alimento completo (tabela abaixo), tendo que ser consumido por crianças jovens e adultos. Ele é indispensável na alimentação. O leite é composto de água e é nessa porção que encontram dispersos os componentes sólidos, denominados sólidos totais (ST). Os sólidos totais são constituídos de proteínas, gordura, lipídios, lactose e sais. Os sólidos totais são divididos em lipídeos (gorduras) e sólidos não gordurosos (SNG – proteínas, lactoses e cinzas). A composição do leite pode variar de acordo com os seguintes fatores: raça, período de lactação, alimentação, saúde, período de cio, idade, características individuais, clima, espaço entre as ordenhas e estação do ano. O teor de gordura no leite é em média 3,5%. A quantidade de gordura é variável de acordo com alimentação, sanidade, idade e raça do animal. A determinação e gordura é um dos meios de verificar se o leite foi fraudado. A determinação de gordura pode ser realizada através de testes químicos e eletrônicos. Na tabela 2 é mostrada a composição do leite de diferentes espécies. Acidez, pH e efeito tampão no leite A acidez do leite fresco varia de 0,12 a 0,23% em ácido lático. Vários são os métodos utilizados para a quantificação da acidez em leite e derivados. Todos eles, no entanto, utilizam soluções de hidróxido de sódio como titulante e solução de fenolftaleína como indicado. A acidez é determinada pela porcentagem de ácido lático no leite. O leite possui acidez natural que varia de 14 a 16° Dornic (um grau Dornic corresponde a 0,001g de ácido lático contido em 10ml de leite, a 0,01% de ácido lático (g ácido lático/100g leite) e com o desenvolvimento bacteriano, a lactose é transformada em ácido lático. O crescimento excessivo de bactérias pode elevar acidez a níveis elevados (< 18° D) impedindo a recepção e processamento do leite. r O pH do leite recém ordenhado de uma vaca sã pode variar entre 6,4 a 6,8, e também pode ser um indicador da qualidade sanitária e da estabilidade térmica do leite. Nos casos graves de mastite, o pH pode chegar a 7,5 e na presença de colostro, pode cair a 6,0. Densidade do leite AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 15/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional A densidade do leite é uma relação entre seu peso e volume e é normalmente medida a 15oC ou corrigida para essa temperatura. A densidade do leite é, em média, 1,032 g/mL, podendo variar entre 1,023 e 1,040 g/mL. A densidade da gordura do leite é aproximadamente 0,927 e a do leite desnatado, cerca de 1,035. Assim, um leite com 3,0% de gordura deverá ter uma densidade em torno de 1,0295, enquanto um com 4,5% deverá ter uma densidade de 1,0277.Através dela é possível avaliar a relação entre os sólidos e o solvente no leite, utilizado juntamente com o teste de gordura para determinar o teor de sólidos do leite. A densidade abaixo do nível serve para identificar fraude no leite (água), problemas nutricionais ou ainda problemas na saúde do animal. AGROINDÚSTRIA – Processamento de Leites e Derivados I 16/17 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional BIBLIOGRAFIA Básica BEHMER, M. L. A. Tecnologia do leite. Nobel, 1984. CARUSO, J. G. B.; OLIVEIRA, A. J. Leite: obtenção, controle de qualidade e processamento. ESALQ – USP. FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos Alimentos. Ed. Atheneu, São Paulo, 1996, 182 p. GAVA, A. J. Princípios de Tecnologia de Alimentos. 8ª Ed. Editora Nobel. São Paulo, 1988, 284 p. ORDONEZ PEREDA, J. A. Tecnologia de Alimentos: alimentos de origem animal. Porto Alegre: Artmed, 2005. v. 2. TRONCO, V. M. Manual para inspeção da qualidade do leite. 3 ed. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2008 206 p. Complementar EVANGELISTA, J. Tecnologia de Alimentos. 2º edição. Livraria Atheneu Editora. São Paulo, 2000, 652 p. 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Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada,Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores." Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado." Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Mudem-se em flor as pedras dos caminhos! Chuvas de prata rolem das estrelas... E despertando, deslumbrada, ao vê-las Ressoa a voz dos ninhos... Há de florar nas rosas e nos cravos Rubros o sangue ardente dos escravos. Seja teu verbo a voz do coração, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte! Ruja teu peito em luta contra a morte, Acordando a amplidão. Peito que deu alívio a quem sofria E foi o sol iluminando o dia! Tua jangada afoita enfune o pano! Vento feliz conduza a vela ousada! Que importa que no seu barco seja um nada Na vastidão do oceano, Se à proa vão heróis e marinheiros E vão no peito corações guerreiros? Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas! Porque esse chão que embebe a água dos rios Há de florar em meses, nos estios E bosques, pelas águas! Selvas e rios, serras e florestas Brotem no solo em rumorosas festas! Abra-se ao vento o teu pendão natal Sobre as revoltas águas dos teus mares! E desfraldado diga aos céus e aos mares A vitória imortal! Que foi de sangue, em guerras leais e francas, E foi na paz da cor das hóstias brancas!