Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128
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O ENTRE-LUGAR DO TEMPO EM INQUILINA DO INTERVALO, DE
MARIA LÚCIA DAL FARRA
Joseana Souza da Fonsêca (UFS)
É noite, e os galos não cantam pois
que não são horas, porque seria
profanação
e
eles
receiam
desacatar a ordem do universo. Só
a minha desobediência se põe
contra o tempo (DAL FARRA,
2005, p 33).
O trecho escolhido para abrir este artigo sobre o livro Inquilina do Intervalo
(2005), de Maria Lúcia Dal Farra, revela com prioridade o lugar de destaque que a
categoria tempo ocupa nos vinte e cinco contos que compõem este livro,
especialmente, em A Prisão, Desconstruindo Helena e Catarse, os três textos
escolhidos para análise.
Neste livro da poetisa, contista, musicista, pesquisadora e professora Dal Farra,
o leitor tem a oportunidade de entrar numa espécie de túnel do tempo que o leva a
conhecer e participar das descobertas e conjunturas de um eu-feminino na infância e
adolescência, talvez, peripécias autobiográficas da autora. “Esse tom, ou ressonância,
impõe ao texto uma perpétua oscilação, enquanto marca de construção da
subjetividade, iluminada de vários focos, fixados numa espécie de árvore do tempo”
conforme relato de Vilma Arêas na apresentação deste livro.
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A hipótese é de que os textos sejam derivados de reapropiações, recriações das
confluências da autora entre o tempo vivido e o tempo presente, no qual ainda se
adiciona à produção literária, as interferências do tempo extraliterário, que é “uma
espécie de ponte entre o tempo interno à obra, produto da elaboração anteriormente
hipotetizada, e os referentes externos consentâneos ao ato de produção: a sociedade,
a História, as ciências, etc” (NETO, 2006, p. 75). Nádia Gotlib (2004), corrobora com
este pensamento ao afirmar que não há limites precisos entre o que é real e o que é
ficção nos relatos de um conto.
A tessitura do tempo em Inquilina do Intervalo expande seu conceito usual de
delimitação de quando os fatos narrativos ocorrem, embora não se pretenda afirmar
que esta obra literária esteja voltada, especificamente, para o problema do tempo e
sua relação com o homem. Nestes textos, ele é metáfora de irrupção que angustia,
acalenta, movimenta e sossega personagens e leitor, o que confirma a teoria de que
“o tempo é um aspecto intrinsecamente ligado ao conceito do eu” (MEYERHOFF,
1976, p.1-2). Ou ainda que “o moderno tempo ficcional se faz da sucessão
psicológica, mede-se pela distância interior, variável segundo a melodia do mundo
interior de cada indivíduo” (FILHO, 2004, p. 53).
Observa-se nos contos em estudo, um forte apelo às questões cotidianas, a uma
sóbria e tensa auto-análise, características da arte contemporânea como adverte
Alfredo Bosi em O conto brasileiro contemporâneo (1985). Para este crítico literário,
o conto cumpre a seu modo o destino da ficção contemporânea. Posto entre
as exigências da narração realista, os apelos da fantasia e as seduções do jogo
verbal, ele tem assumido formas de surpreendente variedade. Ora é o quase-
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documento folclórico, ora a quase-crônica da vida urbana, ora o quasedrama do cotidiano burguês, ora o quase-poema do imaginário às soltas,
ora, enfim, grafia brilhante e preciosa votada às festas da linguagem (BOSI,
1985, p.7).
E essa trama artística com os diversos gêneros textuais é visivelmente
trabalhada neste livro de contos de Dal Farra.
A personagem principal do conto A Prisão, uma adolescente- irmã e filhaconfirma o pensamento dos autores citados anteriormente a respeito da relação entre
tempo e subjetividade. Em toda a narrativa deste conto é apresentado um intrincado
jogo estético entre tempos - presente, passado e futuro- e subjetividade. A jovem ao
ser irrompida de sua tranquilidade através de “uma sombra quase imperceptível
que, no entanto, lhe dá com a mão” (DAL FARRA, 2005, p. 39), penetra num
ambiente contraventor, de desespero e incertezas o qual ativa seu lado avesso e que
pode estar intimamente relacionado à sombra que estava sendo levada pelo
camburão da polícia.
O ínfimo tempo que o homem levou para cumprimentá-la, agora, perdura em
sua consciência, ativando distintas identidades e similaridades com o dono daquele
aceno que a faz desmaiar na sala de aula. Sequência de acontecimentos que a
empurra para um fatídico futuro: O irmão mais velho a leva para a casa e, lá, apesar
do desassossego, a mãe adverte a filha.
Mas que bobagem a sua, garota! Você não está me dizendo nenhuma
novidade! É bom que descubra mesmo que somos todos muito
contraditórios! O ser humano é muitas coisas ao mesmo tempo. Somos, isso
sim, uma verdadeira colcha de retalhos (DAL FARRA, 2005, p. 44).
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Revelação que a conduz a um processo de amadurecimento precoce, porém,
necessário para suportar o acontecimento do dia seguinte.
- Foi ele! Era ele! Era ele, minha filha! Era o seu pai!!! Era o seu pai!!!. E é
nesse instante que, num átimo, a garota vê, brilhando na escuridão da sua
mente, como que um feixe de luz [...] Era isso, era isso finalmente! Sempre
fora isso, e ela, a idiota, nem o pressentira! Ou o pressentira [...] e tramara
para dar-se tempo de enfrentar a insurportável dor?! Viera do seu pai, do
seu amado pai, aquele aceno que tanto a martirizara!!! (DAL FARRA, 2005,
p. 46-47).
A descoberta do responsável pelo aceno a situa assim como o pai numa prisão
sombria e de localização desconhecida. Ela passa por um processo de epifania, “a
coisa torna-se ela mesma” (GOTLIB, 2004, p.52). Para o pai sindicalista o regresso foi
impossível, entretanto, para a menina, o dualismo inerente a cada ação humana a fez
adquirir sobriedade e força para lidar com toda a reviravolta enfrentada pela família
em apenas alguns meses.
Assim, a diferença entre o transcorrer do tempo cronológico da história e o
tempo interno/psicológico da personagem configura-se como reflexo da dimensão
da vida e das histórias humanas no contexto contemporâneo.
Ou seja, há uma
relatividade e descentralização do fator tempo que corresponde à fragmentação da
subjetividade do indivíduo num contexto de ditadura- época do conto narrado- bem
como no contexto atual no qual há a visível divergência na relação tempo/espaço,
tempo/ações, tempo/amadurecimento.
De acordo com Meyerhoff (1976), esse imbricamento do tempo ratifica o
“significado social do tempo”. Um tempo que afeta a vida dos indivíduos
abruptamente e que para que este não sucumba precisa compreender e enfrentar
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também de imediato os obstáculos de um tempo em contínua transformação. Um
tempo que é fluxo ou devir permanente. É por isso, que ele sempre está associado à
noção de mudança, movimento.
Instâncias temporal, espacial e subjetividade formando uma unidade é o que
encontramos na leitura de Desconstruindo Helena. Um conto que retrata uma
mulher que tem seus sonhos interrompidos devido ao atraso de um segundo. Helena
não atende a tempo o telefone. E isso ao desloca para um espaço introspectivo, onde
o mutismo e a desesperança num processo metafísico a transforma num ser de dor.
Tudo seria diferente se o toque do telefone tivesse se prolongado por mais um
segundo.
Quantos anos haviam renascido nos dois metros que a separavam antes
dessa tenebrosa certeza?! E, agora, de repente, soçobram, assim, sem energia,
num segundo ultrapassado [...] Helena parece quase um espectro na sua
palidez de agora. O seu rosto está coagulado de decepção (DAL FARRA,
2005, p.83).
A passagem confirma que um ínfimo intervalo de tempo é responsável pela
desconstrução do reconhecimento de Helena sobre si, sobre seus sentimentos bem
como sobre a realidade que vive. A personagem através de um processo subjetivo
levado às últimas consequências, características de quem vive uma situação de
opressão, de quem busca uma saída para uma realidade rejeitada ou que é rejeitada
por essa realidade, pode ser lida como metáfora da tensão necessária ao equilíbrio de
coerência textual e da categoria em estudo: tempo/ subjetividade. Nas palavras de
Meyerhoff, “um índice temporal faz parte tanto da autoconsciência do homem
quanto do estudo e da sociedade” (1976, p.02).
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Em Desconstruindo Helena, o prolongamento do tempo psicológico, que se
refere a “descoincidência com as medidas temporais objetivas” (NUNES, 2002, p.19),
produz um efeito estético coerente com o desconforto interior da personagem. A
contínua rememoração do tempo perdido- o intervalo entre o primeiro e o último
toque do telefone- a prende nas teias complexas que cercam o viver. “Ela, abelha
amarela, tem as asas prisioneiras de tanto fel. A hora é de água e lama” (DAL
FARRA, 2005, p. 84).
Desse modo, a duração do tempo vivido pela consciência marca o entre-lugar
do tempo, é um tempo independente, que vai-e-volta como o compasso do tic-tac do
relógio que mede o tempo cronológico, mas que escorrega antes da conclusão deste
intervalo. Ou seja, o tempo vivido pela consciência habita um terceiro
espaço/temporal.
O próprio título da obra Inquilina do Intervalo faz menção a certo desajuste
espaço-temporal, visto que o temporal e o espaço “formam domínios permeáveis,
que não si excluem” (NUNES, 2002, p.11), um entre-lugar, que significa o trânsito,
deslocamento contínuo em que espaço e tempo se cruzam. E considerando que o
termo Inquilina refere-se a alguém que habita um espaço do qual não tem a devida
apropriação, ou seja, ocupa um lugar que não tem direitos efetivos. Do mesmo modo
que Intervalo significa a relação entre o começo e o fim de determinado
movimento/ação, uma ligação do anterior ao posterior, um tempo demarcado,
limitado, preso.
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Logo, as narrativas de Inquilina do Intervalo podem ser lidas como
rememorações que habitam um espaço/tempo divergente do tempo das ações que
são narradas e que sofrem interferências do espaço/tempo em que autor empírico
está inserido. Entrecruzamento que desloca às memórias a um lugar/tempo
delimitado: um presente com recuo estético. “Apesar da distância, o presente, o
passado e o futuro formam, para Husserl, um continuum, como dimensão imanente
à consciência” (NUNES, 2002, p.60).
O narrador personagem do terceiro conto em foco, Catarse, a atriz Alda
Albanesi, através da focalização em 1ª pessoa conduz o leitor a participar ativamente
do processo de crise identitária pelo qual ela passa cuja incapacidade de discenir o
que é real do que é representação a desloca para um tempo suspenso e para um
espaço onde o sujeito pode adotar distintas identidades, viver diversas situações das
prazerosas às mais cruéis, embora todas, no caso da personagem, sejam controladas
por uma autoridade superior: o autor, o diretor. E assim, a atriz, dentro da oscilação
espaço/temporal se rende:
Ele não me entende, decididamente não pode me compreender. Diz que
devo cooperar, que o seu ofício é esse, e que eu o desacato. Pois bem, pois
bem! [...] agora me avisa que dentro de três minutos entro em cena. Ele tem
um cronômetro e a minha existência já está demarcada pelos seus ponteiros
(DAL FARRA, 2005, p.140).
A partir deste conflito, alucinação e restrição que Alda Albanesi vive, inferimos
o porquê do uso dos verbos no presente do indicativo, que indica o presente
narrativo, de acordo com Nunes (2002). Trata-se de uma experiência atemporal. Os
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questionamentos feitos pela atriz em meio ao devaneio são válidos a qualquer tempo.
“Ser ou não ser”? Segundo o estudioso Stuart Hall "o sujeito assume identidades
diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor do
"eu" coerente." (2006, p.13).
Além disso, a onisciência seletiva corrobora com a parcialidade do
reconhecimento de si. “O ângulo é central, e os canais são limitados aos sentimentos,
pensamentos e percepções da personagem central, sendo mostrados diretamente [...]
com quem a narração se identifica, a quem perscruta nos mínimos detalhes e de onde
o mundo é perscrutado” (CHIAPPINI, 1997, p.16-17).
Ainda conforme Nunes (2002), a utilização do pretérito perfeito, imperfeito ou
mais-que-perfeito usados nas narrativas de molde tradicional implica em um
distanciamente entre o narrador e o objeto de sua narração, em um prolongamento
de estado, num desligamento da ficção com o real. Em Catarse, há um procedimento
contrário: a eliminação do pretérito e o uso do presente do indicativo, técnica
narrativa, que dentre outras possibilidades, aproxima narrador e o mundo narrado
bem como o leitor do intercurso das ações, das decisões, das urgências das
personagens.
Este processo ratifica mais uma vez a proximidade entre tempo e subjetividade.
Ambos são relativos. É a forma que a arte contemporânea encontra para negar o real
e o absoluto. Alda precisa ter a compreensão de si, tomar as decisões certas em três
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minutos. Entretanto, os ponteiros do cronômetro não diminuem o ritmo apesar das
dúvidas e inquietações da atriz.
A utilização deste tempo verbal também pode ser lida como elemento que
aproxima locutor e interlocutor. Desse modo, os momentos indefinidos apresentados
nos textos devido a crise identitária da personagem e as lacunas textuais caem na
rede do presente para situar o leitor no continuum narrativo, apesar das inconstâncias
das ações da atriz e de sua falta de referência sobre si mesma: “Tantos anos! Tanto
desperdício correndo pelo tempo! Sua carta diz tudo, ela me põe a par de tudo. Meu
nome vem em cima: Maura; e você assina embaixo: Luís. Entre um e outro, a vida
toda – comprimida” (DAL FARRA, 2005, p. 135).
A citação em destaque afirma que Alda Albanesi, se reconhece a partir da carta
enviada pelo outro. O Outro define quem ela é, tal aspecto mostra o caráter binário
do processo identitário em que o sujeito/identidade é (re)constituído na e por meio
das relações com o “outro”, ou seja, o reconhecimento de si ocorre em concomitância
por via interna e externa.
Segundo Hall (2006), as sociedades contemporâneas se caracterizam pela
diferença, que produz uma variedade de posições do sujeito, isto é, de identidades
para os indivíduos. Novos e múltiplos processos de identificação e diferenciação
passam a influenciar, assim, a construção das identidades. Tais processos são
permeados pelas relações de poder que passam a ditar o alvo das identificações e
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diferenciações e, portanto, o que será incluído e o que deve ser excluído de tais
processos.
Esta análise, remonta ao entendimento do conceito de entre-lugar “terreno para
a elaboração de estratégias de subjetivação- singular ou coletiva- que dão início a
novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação”
(BHABHA, 2007, p.20). O entre-lugar nos remete a um terceiro espaço, a um contexto
intersticial que constitui os campos identitários nas relações sociais, a transitoriedade
do homem/Alda e das coisas no tempo, a artificialidade que cerca as pessoas, a
representação do que é ser, do que é se reconhecer e ou viver, a representação das
identidades que se adota no transcorrer do tempo.
A atriz perde o referencial de si e torna-se dependente de uma definição alheia.
“Diga-me deus dos deuses, quem é Alda Albanesi? Quem é Alda Albanesi? (DAL
FARRA, 2005, p. 143). Ela perde-se no complexo, híbrido, escorregadio e
fragmentado mundo de representação do qual faz parte.
A partir destas constatações oriundas da análise do elemento estético tempo e
sua relação com a subjetividade das personagens nos contos de Inquilina do Intervalo,
conclui-se, que o imbricamento dos tempos ficcionais seja ele de ordem física ou
psicológica
decorre
da
aproximação
com
as
fronteiras
factuais,
com
o
entrecruzamento das categorias tempo/ sujeito na contemporaneidade, levando em
consideração o que Otto Maria Carpeaux afirma: “A relação entre literatura e
sociedade
[...]
é
uma
relação
complicada,
de
dependência
recíproca
e
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interdependência dos fatores espirituais (ideológicos e estilísticos) e dos fatores
materiais (estrutura social e econômica)” (CARPEAUX apud BOSI, 2002, p.7).
A filha, Helena e Alda Albanesi, protagonistas dos contos estudados são
metáforas do indivíduo do contexto contemporâneo, que vive o paradoxo cartático –
purgação/purificação – no qual só o tempo é capaz de ajustar ou não tal indivíduo a
uma nova ordem linear da vida. Até mesmo os títulos dos contos: Prisão,
Desconstrução e Catarse remetem a esta assertiva, embora seja preciso ressaltar que
as personagens não encontram uma saída para seus problemas. E assim, tanto a
subjetividade
dessas
personagens femininas quanto
a
referência
temporal
responsável pelas angústias que cada uma delas habita um entre-lugar. O que
confirma a premissa da relação instrínseca entre tempo e ação humana como diz
Meyerhoff (1976) e Nunes (2004).
O tempo em tais narrativas indica mais que a sucessão dos fatos, a sequência do
discurso, ele adota um comportamento polissêmico. Nesse sentido, este elemento
estético adicionado ao conjunto de circunstâncias exteriores e interiores constitui e
garante a coerência da trama narrativa.
Este artigo inicia com uma citação “[...] Só a minha desobediência se põe contra
o tempo” (DAL FARRA, 2005, p. 33). Desobedecer sempre, eis uma assertiva que
garante vitalidade à vida humana e ao continnum do tempo. Assim, o estudo finaliza
com a pretensão de ter pontuado alguns elementos dos voos narrativos de uma
escritora que tempera suas construções literárias com a vivência mística, intelectual,
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cultural e sentimental que circunda a sua vida de pesquisadora atenta ao pathos
literário e humano.
Maria Lúcia Dal Farra é dona de uma escrita que conduz o corriqueiro, o
feminino, o fantástico, o histórico, o subjetivo ao espaço múltiplo e fértil da ficção.
Por isso, “a lida com a escrita continua ocupando toda a atenção dessa mulher
“paridosa de sentidos” [...]. E é também o exercício calibrado da escrita que dirige o
gozo dessa subjetividade” (CABANÃS, 2005, p. 553). Então, apesar da recorrência
temática das dores de perdas irreversíveis, de um tempo que está num vácuo, da
inconstância do ser, o leitor torna-se, facilmente, inquilino desta inteligência
imaginativa.
REFERÊNCIAS
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BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço
de Lima Reis, Glaúcia Renata Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1985.
______. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
CABAÑAS, TERESA. A razão construtiva e o rendilhado poético de Maria Lúcia Dal
Farra. In: Estudos Feministas. Florianópolis, v.13, nº 3, pp. 545-566, setembrodezembro/2005. Disponível em www.periodicos.ufsc.br. Acesso em março de 2012.
CHIAPPINI, Lígia. O Foco Narrativo. São Paulo: Ática, 1997.
DAL FARRA, Maria Lúcia. Inquilina do Intervalo. São Paulo: Iluminuras, 2005.
FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 2004.
GOTLIB, Nádia Battela. Teoria do Conto. São Paulo: Ática, 2004
HALL, Stuart. Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,
2006.
MYERHOFF, H. O tempo na literatura. Tradução de Myriam Campello. São Paulo:
McGrau – Hill do Brasil, 1976.
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. São Paulo: Ática, 2002.
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