DIÁRIO CATARINENSE DOMINGO www.diario.com.br Blog N9ve está de olho no Oscar 2010: acompanhe em tempo real a cobertura da entrega da estatueta a partir das 21h deste domingo Guia OS MELHORES DO CINEMA DEBORAH OU BRUNA? ELE FAZ O BBB SUBIR R$ 3,50 SANTA CATARINA, DOMINGO, 7 DE MARÇO DE 2010 - ANO 24 - Nº 8.716 TORTURA EM DOMICÍLIO Governo Como será o test drive de Pavan Interino vai dirigir Santa Catarina pelos próximos nove dias, com agenda que inclui visitas a 28 municípios. Página 6 � Esportes Jogadores e seus nomes diferentes FOTOS GUTO KUERTEN O QUE É QUE A CHINA TEM A VER COM SC PÁGINAS 22 E 23 DIVAS POR UM CLIC FESTA DO PINHÃO Policiais militares são flagrados espancando homem, na tarde de sexta-feira, no Bairro Coqueiros, na Capital PÁGINAS 4 E 5. CONFIRA MAIS FOTOS DO FLAGRANTE E VÍDEOS NO WWW.DIARIO.COM.BR A galinha dos ovos de ouro de Biguaçu A instalação do estaleiro do bilionário Eike Batista vai mexer em toda a configuração econômica da Grande Florianópolis. Páginas 18 a 20 Editais do evento saem na terça-feira Após a suspensão por corte de verba, 22ª edição da festa vai sair do papel em Lages. Página 43 4 DIÁRIO CATARINENSE, DOMINGO, 7 DE MARÇO DE 2010 Reportagem Especial Ao chegar, às 9h30min, PMs falam com homem sem camisa Outro homem aparece. Os dois são levados para os fundos O que está sem camisa é liberado e retorna para a casa VIOLÊNCIA POLICIAL 10 minutos de DC flagra o momento em que dois policiais militares fardados espancam um homem em Florianópolis tortura FOTOS: GUTO KUERTEN TEXTOS: DIOGO VARGAS � DO AURÉLIO Tortura Suplício ou tormento violento infligido a alguém. Tapas no rosto, golpes pelo corpo com cassetete e um pedaço de pau. O homem está sem arma, dominado e com os braços para trás. Não demonstra nenhum tipo de reação. Os agressores são policiais militares. Estão fardados e usam um carro da Polícia Militar. Após a sessão de violência, que dura 10 minutos, vão embora como se nada tivesse acontecido. Um dos militares vai à viatura e fala com uma mulher A cena de violência foi testemunhada na manhã de ontem por uma equipe do Diário Catarinense no Bairro Coqueiros, parte Continental de Florianópolis. Dois policiais militares chegam a um casebre na Rua José de Alencar com a Parati de placas MHC-9934. Batem na porta. Um morador sem camisa aparece, conversa com o policial e chama outro homem, que sai da casa vestindo camisa branca e bermuda laranja. Os dois são levados para os fundos da pequena residência. O que está sem camisa é liberado. O de camisa branca, não. Daí em diante, o que se vê é um espancamento brutal, sem nenhuma reação. A reportagem registrou a cena em 141 fotos. À tarde,o DC telefonou para o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para pedir informações sobre o que havia acontecido de manhã no Bairro Coqueiros. O oficial responsável informou que a única ocorrência atendida naquele horário na região foi às 8h12min. Os dois PMs buscam o homem de blusa branca outra vez Não tinha nada a ver com a Rua José de Alencar. Foi em um condomínio no Bairro Itaguaçu, perto de Coqueiros, onde um homem de bermuda branca estaria armado em uma atitude considerada suspeita. Horas depois da agressão, a reportagem encontrou o homem alvo dos militares. Estava trancado em sua casa. Falou rapidamente com a equipe mantendo a porta entreaberta.Sobre os golpes que levou, disse apenas que tinha ocorrido “um mal entendido”entre ele e os policiais. A surra recomeça. O homem apanha com pedaço de madeira 5 DIÁRIO CATARINENSE, DOMINGO, 7 DE MARÇO DE 2010 O de blusa branca começa a apanhar. Leva tapas na cabeça Assustado, afirmou que os militares procuravam um criminoso que teria cometido um abuso, mas não quis dar detalhes. Dizendo-se desempregado, declarou que era inocente, que nunca tinha sido preso e que vive há 25 anos naquele lugar. Na rua em que mora, catadores de material reciclável costumam fazer triagem do que coletam. Ninguém interveio na agressão. Secretário critica gesto de violência Eliésio Rodrigues comandante da PM em SC Sidney Dalabrida promotor de Justiça “Policial militar não deve ser justiceiro da sociedade” “Não houve qualquer reação que justificasse a violência” O coronel Eliésio Rodrigues reprovou a ação dos militares flagrados pelo DC. Ele disse que os policiais não podem ser justiceiros da sociedade e prometeu uma investigação. O promotor da Justiça Militar Sidney Eloy Dalabrida considerou as imagens chocantes. Para ele, o que houve foi uma sessão de espancamento. Diário Catarinense – Qual a avaliação do senhor ao ver as fotografias? Coronel Eliésio Rodrigues – Olha, não é orientação da Polícia Militar o policial ser justiceiro da sociedade. Policial militar é aquele que cumpre o ditame da lei. Eliésio Tem que agir dentro das orientações vigentes. Ele não pode ultrapassar os limites previstos na administração. O PM ou dá voz de prisão em flagrante ou conduz para a delegacia. DC – Os policiais flagrados pela reportagem deveriam ter levado o homem à delegacia para ver se cometeu crime? Eliésio – Exatamente. Cabe a nós a condução dos suspeitos até a delegacia. DC – É comum esse tipo de agressão para se obter provas ou confissão? Eliésio – Não é comum. Nós temos é que cumprir a lei. Se nós queremos que ela seja cumprida, não podemos burlar a legislação. DC – O senhor conseguiu identificar quem são os policiais? Eliésio – Consegui identificar um, mas não sei o nome dele. Gostaria até de receber essas fotos para fazer a identificação dos policiais para tomar as medidas. De imediato vou determinar a abertura de inquérito policial militar. DC – O que irá acontecer com os policiais? Eliésio – Eles serão submetidos ao inquérito e após será encaminhado o trâmite à Justiça Militar. DC – O senhor vê que crimes DC – Qual a avalianas imagens? ção do senhor sobre as Dalabrida – Não teimagens? mos laudo, mas claraSidney Dalabrida – mente se vê que houve São imagens chocantes. lesões corporais, que Não houve por parte do causaram constrangiagente qualquer reação mento. Pode ter ameaque justificasse emprego ça e crime de tortura aí de violência. Se a ilegali- Dalabrida envolvido. dade não foi constatada, o máximo que se podia fazer era DC – Que medida o senhor que esse sujeito fosse conduzido à pretende tomar? delegacia para se verificar se havia Dalabrida – Vou proceder mandado de prisão. uma investigação criminal com instauração de inquérito policial, DC – O que senhor diz sobre pedir o afastamento deles do poos métodos empregados pelos liciamento ostensivo e assim que dois policiais? for ouvida a vítima e feito o lauDalabrida – Não podem ser do, vou denunciá-los criminalutilizados. O rapaz sofreu uma mente pelos crimes que restarem sessão de espancamento. Não é configurados. diario.com.br Um dos policiais usa o rádio da PM para conversar com alguém isso que se espera de um policial militar. Esses policiais devem ser retirados do policiamento ostensivo porque demonstraram que não têm preparo, equilíbrio emocional e profissional. FLÁVIO NEVES, BD, 27/03/2009 [email protected] Depois, o militar continua a surra usando o cassetete ENTREVISTAS FLÁVIO NEVES, BD, 15/01/2010 O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, Ronaldo Benedet, estava ontem no Sul do Estado. Mesmo sem ver as fotos feitas pelo DC, ele prometeu uma investigação rigorosa pela Corregedoria da Polícia Militar contra os militares. Benedet garantiu que, se houver indícios de abuso, os policiais serão afastados. Ao ressaltar que haverá apuração exemplar, o secretário comentou que não engaveta nenhuma mazela de sua secretaria e que os policiais flagrados terão de dar a justificativa do episódio à Justiça. – Existem policiais e policiais. Policial bem treinado não faz isso – disse Benedet, para quem violência policial faz parte do que chama de cultura militar do tempo da ditadura, “quando policial agia com violência para dar resposta à sociedade”. O outro policial começa a bater nele com um cassetete Depois, fala com o parceiro. Os dois vão embora às 9h40min > 141 fotos da agressão dos policiais militares em www.diario.com.br/edicaododia Deixam o local no carro da corporação sem levar os homens