IV JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
GEOGRAFIA
1) A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO, NATUREZA E CULTURA: ELEMENTOS PARA
PENSAR A RELAÇÃO INSTRUMENTAL COM O MEIO AMBIENTE
Zuzy dos Reis Pereira1
Orientadora: Juliana de Castro Chaves2
Este trabalho pretende fornecer subsídios teóricos para a reflexão sobre a relação entre
indivíduo e meio ambiente. A base teórica que sustenta essa análise é a Teoria Crítica da Escola
de Frankfurt, representada mais especificamente pelos teóricos Max Horkheimer, Theodor
Adorno, Herbert Marcuse. As análises apresentadas nesse trabalho foram suscitadas pelas
discussões do grupo de estudo Educação e Emancipação realizado na UEG–UnUCSEH. O
objetivo desse grupo é realizar a reflexão crítica sobre a racionalidade que pauta a formação do
indivíduo na sociedade contemporânea regida pelo capitalismo tardio. Ao realizar esse
movimento, entendemos que podemos encontrar elementos de resistência à dominação e maior
possibilidade de transformação das condições objetivas da sociedade.
Atualmente muitas questões assolam a sociedade no que diz respeito à destruição da vida
em suas diversas expressões fazendo com que as pessoas se perguntem onde a civilização deseja
chegar? O progresso e a razão iluminista trouxeram uma cultura de emancipação do indivíduo,
mas não livraram o homem do conhecimento mitológico e, ao contrário, não concretizaram as
promessas de construção de uma sociedade mais justa e de uma relação mais racional com a
natureza. Essa questão só pode ser entendida no interior das condições objetivas da sociedade
capitalista que possui uma racionalidade instrumental que, por não ser refletida, perpetua
relações de dominação com a natureza.
No cenário atual questões como análise dos impactos ambientais, desenvolvimento autosustentável, devastação da natureza e cultura se entrecruzam exigindo uma teoria capaz de
pensar a relação indivíduo-sociedade-natureza. A natureza não é só aquilo que está fora do
sujeito, mas o indivíduo é natureza e mais do que natureza. No entanto, tanto a relação do
indivíduo com sua própria natureza como com o meio ambiente é coisificada. A cultura da
1
Aluna do 2º ano do curso de Geografia, monitora da disciplina Teoria do Conhecimento, estagiária do projeto
AABB Comunidade e membro do grupo de estudo Educação e Emancipação.
2
Professora Doutora da UEG e da UCG e coordenadora do grupo de Estudo Educação e Emancipação da UEG.
1
dominação perante o desconhecido e o diferente vem sendo propagada no enaltecimento de
procedimentos, controles que possam auxiliar o homem esquadrinhar a realidade em uma lógica
que perpetua a relação de dominação consigo, com o outro e com o mundo.
Marcuse (1981) aponta que o próprio Marx revelou preocupação com os efeitos
perversos da dominação da natureza pelo trabalho, tanto ao discutir o caráter nocivo do
progresso da agricultura capitalista para o trabalhador e para o solo, quanto ao verificar que a
expansão da indústria moderna e a subsunção do indivíduo à lógica do lucro são processos de
destruição do homem e da natureza. Assim, deve-se resgatar a relação de comunicação e não de
dominação entre homem e natureza, pois o homem não está na natureza, “a natureza não é seu
mundo exterior, ao qual ele teria que dirigir-se a partir de sua interiorização, e sim o homem é
natureza; a natureza é sua “exteriorização”, sua obra e sua realidade (p. 24).
É a relação com a natureza, e não a própria natureza, que deve ser transformada. A
origem do homem está na natureza e, por isso, ele deve retornar a ela para ser diferente. Desse
modo, a naturalidade pertence à essência humana e, portanto, não pode ser negligenciada. Para
um convívio pacífico da natureza com o homem, é necessário que esse também se submeta a ela
e, assim, será possível a paz entre homem e natureza. Para Adorno (1995, p. 184), a liberdade
pressupõe o estado de paz, “um estado de diferenciação sem dominação, no qual o diferente é
compartido”. A afirmação e a comprovação do homem, que consiste na apropriação de uma
exterioridade que está colocada diante dele e em um transferir-se para a exterioridade, exige, a
dimensão da natureza (MARX, 2004). Desse modo, é necessário o debate sobre a racionalidade
que não tenciona essas questões e que realiza a coisificação da natureza-meio ambiente.
Referências
ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Tradução Maria Helena Ruschel. Petrópolis-RJ:
Vozes, 1995.
MARCUSE, Herbert. Idéias sobre uma teoria crítica da sociedade. Tradução Fausto Guimarães. 2. ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 1981.
MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Tradução Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2004.
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