Fundação Educacional São José Descoberta das Inteligências para o processo de Ensino Aprendizagem Lúcia Helena de Magalhães1 Teresinha Moreira de Magalhães2 "As inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo". Rubens Alves, em Cenas da Vida. RESUMO Faz-se necessário uma visão do pensamento humano mais ampla e mais abrangente daquelas aceitas pelos estudos cognitivos tradicionais, sendo inegável a influência da Teoria de Jean Piaget que vê todo pensamento humano como uma luta pelo ideal do pensamento científico. Tomamos a decisão de escrever o presente paper a respeito das "Inteligências Múltiplas", para enfatizar um número desconhecido de capacidades humanas diferenciadas, variando desde a inteligência musical até a inteligência envolvida no entendimento de si mesmo e as implicações educacionais de tais descobertas para o Processo de Ensino Aprendizagem. Apresentaremos um background da teoria, definindo "inteligência", métodos de pesquisa, com uma visão da paisagem cognitiva, relacionando inteligência à 1 Lúcia Helena de Magalhães, Pós Graduada em Desenvolvimento de Aplicações para Web pelo Centro de Ensino Superior, Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras e Mestranda em Sistemas Computacionais – Computação de Auto-Desempenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da FACSUM e do Curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Ciências Gerenciais de Santos Dumont, Professora no Curso Superir de Tecnologia em Desenvolvimento para Web das Faculdades Integradas do Instituto Vianna Júnior. [email protected] 2 Teresinha Moreira de Magalhães, Pós Graduada em Redes de Computadores pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Pós Graduada em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras, mestre em Engenharia da Produção com ênfase em Produção de Mídias pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutoranda em Sistemas Computacionais – Computação de Auto-Desempenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Curso de Administração das FIV-FGV, Professora e coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Desenvolvimento para Web das Faculdades Integradas do Instituto Vianna Júnior. [email protected] criatividade, ao gênio, à prodigiosidade, à perícia e outras realizações mentais desejáveis. Uma consideração séria de ampla variedade de inteligências humanas que conduzem a uma nova visão de educação, sendo que a melhor maneira de compreender cada inteligência é concebendo as como inter-relacionadas, com possibilidade de existência de diferentes perfis intelectuais em diferentes grupos; resgatando portanto um novo papel para o educador. Palavras-chave: inteligência, inteligências múltiplas, cognição. ABSTRACT It’s necessary an ample point of view about humans thought comporing with that are acceptable to the cognitive searches. It’s inevitable the influence of Jean Piaget Theory, broaching all the human thought as fighting to the ideal scientific thought. With this note, we decide to emphasize the unknown numbers of the human different abilities, since the musical intelligence until the self-intelligence, studying the educacional implications of such discoveries for Education of Operational Research. How it’s possible will try to show the background of the theory, defining "intelligence", the research methods, a point of view of cognitive picture, the intelligence relationed to genius and mental making. We can say the different human "intelligence" guides to a new point of view in the education and the best way to understand each intelligence is thinking about that they are together, with the possibility of the existence of the different intellectual ability in different groups can change the function of the teacher. Key-words: intelligence, multiple inteligence, cognition. 1 Introdução 1.Teoria das Inteligências Múltiplas A Teoria das Inteligências Múltiplas (também chamada de teoria das IM) foi desenvolvida em meados dos anos oitenta por Howard Gardner. Psicólogo, professor e co-diretor do Project Zero na Harvard Graduate School of Education, Gardner revolucionou o conceito de inteligência conhecido pela psicologia cognitiva tradicional, o qual trazia a idéia de que o ser humano possui uma capacidade cognitiva unitária, conhecida como g, e que somente as capacidades lingüísticas e lógico-matemáticas poderiam ser consideradas como inteligência e poderiam ser medidas através de testes de QI. Gardner baseou-se numa síntese de evidências vindas de diversas fontes, como o estudo de indivíduos que sofreram lesão cerebral por trauma ou derrame, análise de indivíduos (chamados prodígios) que, em uma idade muito inicial, apresentam realizações surpreendentes em diversas áreas, como matemática ou música. Gardner baseou-se também na observação de idiot savants, que apresentam baixo QI, mas são capazes de certas realizações notáveis, como desenhar com perfeição ou tocar piano de ouvido, e que, no entanto, não conseguem interagir com outros seres humanos. Após sintetizar essas e outras fontes de evidências, Gardner apresentou sua teoria das Inteligências Múltiplas, na qual defende que a inteligência não é algo que pode ser medido através de testes de QI e não se restringe apenas às capacidades lingüísticas e lógico-matemáticas. Segundo Gardner (1995, p.14), inteligência é a “[...]capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários”, sendo que a capacidade de resolver problemas “[...]permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse objetivo” e a criação de um produto cultural “[...] é crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa.” A teoria das IM pluraliza o conceito tradicional ao defender que o ser humano possui oito inteligências distintas. São elas: Inteligência lingüística, lógicomatemática, espacial, musical, corporal-cinestésica, interpessoal intrapessoal e naturalista. Gardner também acredita que as oito inteligências acima se apresentam de maneira diferenciada em cada indivíduo. Sendo assim, nem mesmo gêmeos idênticos possuem o mesmo perfil de inteligências. Cada pessoa pode ter um perfil de inteligência que se modifica com o crescimento e com o passar dos anos. Além disso, todas as inteligências, apesar de apresentarem certa independência de funcionamento, trabalham juntas na resolução de problemas: Nós acreditamos que os indivíduos podem diferir nos perfis particulares de inteligência com os quais nascem, e que certamente eles diferem nos perfis com os quais acabam. Eu considero as inteligências como potenciais puros, biológicos, [...]. As inteligências funcionam juntas para resolver problemas, para produzir vários tipos de estados finais culturais – ocupações, passatempos e assim por diante. (Gardner, 1995, p. 15-16) Ainda sobre o perfil de inteligências apresentado em um indivíduo,Gardner afirma: [...] acreditamos que a competência cognitiva humana é melhor descrita em termos de um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais que chamamos de “inteligências”. Todos os indivíduos normais possuem cada uma dessas capacidades em certa medida; os indivíduos diferem no grau de capacidade e na natureza de sua combinação. (Gardner, 1995, p. 20) Por isso, a principal crítica feita por Gardner tem relação com o padrão tradicional de testagem de inteligência difundido nos nossos sistemas educacionais. Testes como o QI e o SAT que exigem, no formato lápis e papel, respostas a questões objetivas, avaliam somente as inteligências lingüística e lógico-matemática. Assim, se um Indivíduo possui competência refinada nessas áreas, é provável que tenha um bom desempenho nestes testes e seja aceito por uma das grandes universidades. Porém, tais testes não poderão prever se o aluno irá sair-se bem após o término de seu curso, uma vez que tenha atingido o que Gardner chama de estados finais, ou seja, a delimitação do perfil das competências que resulta no desempenho de um determinado papel na comunidade. Segundo ele: [...] Os testes de QI predizem o desempenho escolar com considerável exatidão, mas não predizem de maneira satisfatória o desempenho numa profissão depois da instrução formal. Além disso, mesmo que os testes de QI meçam somente as capacidades lógicas ou lógico-linguísticas, nesta sociedade nós sofremos quase uma “lavagem cerebral” para restringir a noção de inteligência às capacidades lingüísticos. utilizadas na solução de problemas lógicos e É um erro pensar que o ser humano não é nada mais do que um cérebro que faz contas e se expressa lingüisticamente. Tal visão unitária da cognição humana é o motivo pelo qual muitos alunos ficam restringidos ao baixo desempenho acadêmico, pois grande parte de seu perfil de inteligências está sendo ignorado pelo sistema educacional. Sobre isso, Linda Campbell (2000, p.20) afirma: Embora a maior parte das pessoas possua todo o espectro das inteligências, cada indivíduo revela características cognitivas distintas. Possuímos quantidades variadas das oito inteligências e as combinamos e usamos de maneiras extremamente pessoais. Restringir os programas educacionais ao predomínio de inteligências lingüísticas e matemáticas minimiza a importância de outras formas de conhecimento. Assim, muitos alunos que não conseguem demonstrar as inteligências acadêmicas tradicionais ficam confinados à baixa estima e seus pontos fortes podem permanecer nãopercebidos e perdidos, tanto para a escola quanto para a sociedade em geral. É importante salientar que o reconhecimento da pluralidade cognitiva humana faz-se fundamental para o desenvolvimento completo tanto da identidade de um indivíduo quanto de seu papel em uma comunidade. Educar as inteligências significa estimular as habilidades e competências do indivíduo, fazendo com que ela exercite seu potencial ao máximo para que possa se tornar um adulto bem-sucedido no futuro. Portanto: É da máxima importância reconhecer e estimular todas as variadas inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Nós todos somos tão diferentes em grande parte porque possuímos diferentes combinações de inteligências. Se reconhecermos isso, penso que teremos pelo menos uma chance melhor de lidar adequadamente com os muitos problemas que enfrentamos neste mundo (Gardner, 1995, p. 18). Em seu trabalho, Gardner procura os blocos construtores das inteligências utilizadas por marinheiros, cirurgiões, feiticeiros, prodígios, sábios, crianças e artistas, enfim todos aqueles que apresentam perfis cognitivos regulares ou circuitos irregulares em diferentes culturas e espécies. Ao observar todas essas fontes de informações sobre o desenvolvimento, sobre colapsos, sobre populações especiais e assim por diante, acabou reunindo uma grande quantidade de informações. Para organizá-las Gardner teorizou as sete inteligências, posteriormente oito com a inteligência da natureza: 1.Inteligências Lingüísticas: característica dos poetas; 2.Inteligências Lógico-Matemática: à Capacidade lógica e matemática ; 3.Inteligências Espacial: à capacidade de formar um mundo espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo (Marinheiros, Engenheiros, cirurgiões, etc.); 4.Inteligência Musical: possuir o dom da música como Mozart ; 5.Inteligência Corporal-Cinestésica: capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo (Dançarinos, Atletas, artistas, etc.); 6.Inteligência Interpessoal: capacidade de compreender outras pessoas (Vendedores, Políticos, Professores, etc.); 7.Inteligência Intrapessoal: capacidade correlativa, voltada para dentro. Capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. 8.Inteligência naturalista: capacidade de identificar e classificar os componentes que compõem nosso ambiente. (Botânicos, Fazendeiros, etc). Alguns exemplos famosos incluem: Charles Darwin, E.O. Wilson). 1.2 Descrição das Inteligências Múltiplas de Gardner 1.2.1 Inteligência Lingüística Os componentes centrais da inteligência lingüística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade de usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar com precisão experiências vividas. É possível que indivíduos com deficiências na área da visão, fala ou audição desenvolvam a habilidade lingüística através de outras inteligências. Linda Campbell (2000, p. 29) traz uma lista de eventuais funções desempenhadas pela inteligência lingüística. Campbell afirma que é provável que um indivíduo dotado de alta capacidade lingüística escute e responda ao som, ao ritmo à cor e à variedade da palavra falada, imite os sons, a linguagem, a leitura e a escrita dos outros, aprenda através de escuta, leitura, escrita e discussão, escute eficientemente, compreenda, parafraseie, interprete e recorde-se do que foi dito, leia eficientemente, compreenda, resuma, interprete ou explique e recorde-se do que foi lido. Entre as outras habilidades listadas pela autora, pode-se citar a habilidade para com a escrita, fala, uso de linguagem, leitura e interpretação. Um indivíduo que possua alto grau dessa inteligência demonstra interesse por jornalismo, poesia, narração de histórias, debates, fala, escrita ou edição. Poetas, advogados, escritores, jornalistas e atores são alguns dos papéis frequentemente desempenhados por pessoas com alta capacidade lingüística. 1.2.2 Inteligência Lógico-matemática “A inteligência logico-matemática envolve usar e avaliar relações abstratas. (...) Uma operação central nessa inteligência é a numeração – a capacidade de atribuir um numeral correspondente a um objeto numa série de objetos.” (Gardner, Kornhaber, Wake, 1998, p. 219). Segundo Gardner (1995), o processo de resolução de um problema geralmente é surpreendentemente rápido, assim como acontece com um cientista bem-sucedido, que necessita lidar com muitas variáveis ao mesmo tempo e cria numerosas hipóteses. O autor também afirma que tal inteligência possui uma natureza não-verbal, portanto, a solução de um problema pode ser construída antes de ser articulada, e o processo de solução pode ser totalmente invisível até mesmo para o indivíduo que resolve o problema. Linda Campbell (2000, p. 52) lista algumas capacidades dessa inteligência. Segundo ela, uma pessoa que exiba um bom potencial lógico matemático reconhece os objetos e sua função no ambiente, está familiarizada com os conceitos de quantidade, tempo causa e efeito, usa símbolos abstratos para representar relacionamentos, objetos levanta e e conceitos testa concretos, hipóteses, usa percebe padrões e diversas habilidades matemáticas, como realizar estimativas, cálculo de algoritmos, interpretação de estatística e representação visual de informações em forma gráfica. Também tem a habilidade de pensar de forma abstrata e matemática, reunindo evidências, criando hipóteses, formulando modelos, desenvolvendo contra exemplos e construindo argumentos fortes. A inteligência lógico-matemática proporciona a principal base para os testes de Q.I., junto com a inteligência lingüística. Estes dois tipos foram largamente investigados pela psicologia tradicional e entram no paradigma da inteligência encontrado na visão clássica de outrora. Entre os papéis adultos que dependem diretamente de um alto nível de capacidade lógica, encontram se matemáticos, programadores de computador, analistas financeiros, contadores, engenheiros e cientistas. 1.2.3 Inteligência Musical “A inteligência musical permite às pessoas criar, comunicar e compreender significados compostos por sons. (...) Componentes cruciais do processamento da informação incluem tom, ritmo e timbre (qualidade do som).”(Gardner, Kornhaber, Wake, 1998, p.217-219). Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre e habilidade para produzir e/ ou reproduzir música. A criança com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si. Campbell (2000, p. 133) acrescenta que a pessoa com inteligência musical refinada ouve e responde com interesse a uma variedade de sons, incluindo a voz humana, os sons ambientais e a música, e organiza esses sons em padrões significativos. Também aprecia e busca oportunidades para ouvir música ou sons ambientais no ambiente da aprendizagem e reage à música cinestésicamente, regendo, executando, criando ou dançando, e, emocionalmente, reagindo aos humores e aos andamentos. Intelectualmente, responde através da discussão e da análise, explorando seu conteúdo e o significado. Apresentam alto grau de desenvolvimento da inteligência musical indivíduos como compositores, maestros e instrumentistas, assim como em peritos em acústica e engenheiros de áudio. 1.2.4 Inteligência Espacial “A inteligência espacial refere-se à capacidade de perceber informações visuais ou espaciais, de transformar e modificar essas informações, e de recriar imagens visuais mesmo sem referência a um estímulo físico original. (...) Capacidades centrais nessa inteligência incluem a capacidade de construir imagens em três dimensões e de mover e rotar essas representações. “ (Gardner, Kornhaber, Wake, 1998, p.219). Tal inteligência também é usada por deficientes visuais, para encontrarem o caminho para casa, por exemplo, pois a inteligência espacial não depende da sensação visual propriamente dita. Gardner (1995) afirma que as populações cegas ilustram a distinção entre a inteligência espacial e a percepção visual, pois uma pessoa cega pode reconhecer formas ao passar a mão ao longo do objeto – tal método traduz a duração do movimento, que por sua vez é traduzida no formato do objeto. Portanto, para a pessoa cega, o sistema perceptivo da modalidade tátil equivale à modalidade visual na pessoa que enxerga. Gardner também ilustra algumas aplicações da inteligência espacial. Segundo ele, além da principal aplicação desta nas artes visuais, essa inteligência também é utilizada entre os geógrafos, cirurgiões e navegadores. “ A solução de problemas espaciais é necessária na navegação e no uso do sistema notacional de mapas. Outros tipos de solução de problemas espaciais são convocados quando visualizamos um objeto de um ângulo diferente, e no jogo de xadrez. As artes visuais também utilizam esta inteligência no uso do espaço.” (Gardner, 1995, p.26). Robert McKim (1980, apud. Campbell, 2000, p. 102) sugere que o pensamento visual está presente em toda atividade humana. Essa inteligência é usada não somente por artistas mas também por cirurgiões, engenheiros, executivos, arquitetos, matemáticos, carpinteiros, mecânicos e até mesmo por sonhadores e por pessoas pensando no que vestir no dia. Segundo Campbell, (2000, p. 103), outras possíveis habilidades de pessoas com inteligência espacial bem desenvolvida são: aprender através da visão e da observação, reconhecendo fisionomias, objetos, formas, cores, detalhes e cenas; perceber e produzir imagens mentais, pensar através delas e visualizar detalhes, usando as como auxílio para recordar informações. 1.2.5 Inteligência Corporal – Cinestésica Este tipo de inteligência é o que mais se distancia das visões tradicionais do que conta como intelecto humano. Gardner (1998, apud Terman, 1921, p. 124) lembra que o psicólogo Lewis Terman via como “perturbado” qualquer um que pensasse que uma pessoa capaz de “manejar ferramentas habilmente, ou jogar bem beisebol” era tão inteligente quanto alguém “capaz de resolver equações matemáticas...” De acordo com Gardner, Kornhaber e Wake (1998, p.221), [...] a inteligência corporal-cinestésica envolve o uso de todo o corpo ou de partes do corpo para resolver problemas ou criar produtos. Operações centrais associadas a essa inteligência são o controle sobre as ações motoras amplas e finas e a capacidade de manipular objetos externos. Campbell (2000, p. 79) acrescenta que uma pessoa dotada de um bom desenvolvimento corporal-cinestésico aprende melhor através do denvolvimento e da participação diretos, lembrando-se mais claramente do que foi feito do que daquilo que foi dito ou observado. Este indivíduo mostra destreza no trabalho realizado com movimentos motores restritos ou amplos, é sensivel e reage a ambientes e sistemas físicos, além de demonstrar preocupação com a melhora do desempenho físico e com padrões de vida saudáveis. Pessoas dotadas dessa inteligência podem exercer papéis como atletas, dançarinos e coreógrafos. 1.2.6 Inteligência Interpessoal Gardner, Kornhaber e Wake (1998, p. 221) definem a inteligência interpessoal em dois estágios: A inteligência interpessoal emprega capacidades centrais para reconhecer e fazer distinções entre os sentimentos, as crenças e as intenções dos outros. No início do desenvolvimento, essa inteligência é vista como a capacidade das crianças pequenas de discriminar entre os indivíduos de seu meio ambiente e perceber o humor dos outros. Em suas formas mais desenvolvidas, se manifesta na capacidade de compreender os sentimentos e atitudes dos outros, agir em função deles e moldá-los, para o bem ou para o mal. Em outras palavras, essa inteligência é a habilidade de relacionar-se com outros, dialogar e convencer as pessoas próximas para um objetivo determinado, entender os sentimentos e as características pessoais dos outros e saber lidar com elas de maneira eficiente. A inteligência interpessoal foi fundamental para a execução do trabalho de personalidades como Madre Teresa, Mao Tse-Tung e Martin Luther King. Campbell (2000, p. 151) sugere que indivíduos como esses tenham a a habilidade de compreender e comunicar-se efetivamente, de modos tanto verbais quanto não verbais, além de perceber perspectivas diferentes em qualquer questão social ou política e desenvolver novos processos ou modelos sociais. Alguns papéis desenvolvimento adultos interpessoal que podem dependem ser: de um terapeutas, bom pais, grau de professores dedicados, vendedores, políticos, etc. 1.2.7 A Inteligência Intrapessoal Relaciona-se com a noção que o indivíduo tem dos próprios sentimentos, e com a capacidade de auto-conhecimento que ele possui. Gardner vê essa inteligência como desenvolvendo-se a partir de uma capacidade de distinguir o prazer da dor e de agir em função dessa discriminação. Segundo Gardner(1998), em seu nível mais avançado, a inteligência intrapessoal consolida uma discriminação avançada dos próprios sentimentos, intenções e motivações, que traz um elevado nível de auto-conhecimento semelhante àquele utilizado pelas pessoas mais velhas quando fazem uma decisão importante ou ao aconselharem outros indivíduos de sua comunidade. O autor também enfatiza o papel desempenhado por essa inteligência para permitir que os indivíduos construam um modelo acurado de si mesmos e utilizem esse modelo para tomar boas decisões em suas vidas. Assim, de acordo com Kornhaber e Gardner (1991) essa inteligência pode agir como uma “agência central de inteligências”, permitindo que os indivíduos conheçam as próprias capacidades e percebam a melhor maneira de usá-las. Linda Campbell (2000, p. 178) complementa a lista de possíveis habilidades intrapessoais afirmando que pessoas em posse de um alto grau dessa inteligência geralmente trabalham de maneira independente, encontram abordagens e modos de expressar seus sentimentos e pensamentos, lutam pela auto-realização e pela busca e compreensão das experiências internas, além de estimularem outras pessoas. 1.2.8 Inteligência Naturalista Recentemente acrescentada por Howard Gardner à lista original, essa inteligência relaciona-se com a capacidade de reconhecimento da flora e da fauna, distinção coerente no mundo natural e uso de tal capacidade de maneira produtiva. Em um contexto mais cotidiano, usamos as capacidades naturalistas para identificar pessoas, objetos e outras características em nosso ambiente. Também faz parte da inteligência naturalista a habilidade de observar, classificar e categorizar objetos em uma série – como fazem crianças que colecionam figurinhas, moedas ou selos. Estas crianças querem entender como as coisas funcionam e crescem, apresentam uma fascinação quanto ao cuidado para com os habitantes do mundo natural e apreciam classificar objetos e identificar padrões. É interessante ressaltar que Gardner conjectura a possibilidade de sua própria identificação da teoria das inteligências múltiplas ter emergido das habilidades de identificação de padrões e classificação do naturalista. Uma pessoa com inteligência naturalista bem-desenvolvida pode mostrar interesse em profissões como biologia, ecologia, química, zoologia, ou botânica. Charles Darwin e José Lutzenberger são alguns indivíduos com notáveis capacidades naturalistas. Propósito da Escola Para Gardner o propósito da escola deveria ser o de desenvolver essas inteligências e ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos de ocupação adequados ao seu espectro particular de inteligência. Gardner propõe uma escola centrada no indivíduo, voltada para um entendimento e desenvolvimento ótimos do perfil cognitivo do aluno. A escola ideal de Gardner baseia-se em algumas suposições: • nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades, nem aprendem da mesma maneira. • ninguém pode aprender tudo o que há para ser aprendido. • a tarefa dos especialistas em avaliação seria a de tentar compreender as capacidades e interesses dos alunos de uma escola. •a tarefa do agente de currículo para o aluno seria a de ajudar a combinar os perfis, objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de aprendizagem. • a tarefa do agente da escola-comunidade seria a de encontrar situações na comunidade determinadas pelas opções não disponíveis na escola, para as crianças que apresentam perfis cognitivos incomuns. • um novo conjunto de papéis para os educadores deveria ser construído para transformar essas visões em realidade. Gardner passa a se preocupar com aquelas crianças que não brilham nos testes padronizados, e que, consequentemente, tendem a ser consideradas como não tendo nenhum tipo de talento. Para Gardner os professores seriam liberados para fazer aquilo que deviam fazer: ensinar o assunto de sua matéria, em seu estilo de ensino preferido. O professor-mestre faria a supervisão e a orientação dos professores inexperientes, procurando assegurar que a equação aluno-avaliação-currículo-comunidade estivesse adequadamente equilibrada. Para concretizarmos a escola centrada no aluno devemos resistir as enormes pressões atuais para a uniformidade e para as avaliações unidimensionais. Para Gardner existem 3 tipos de preconceitos na sociedade atual. • Ocidentalista: colocar certos valores culturais ocidentais num pedestal (Pensamento lógico); • Testista: sugere um preconceito no sentido de focar aquelas capacidades ou abordagens humanas que são prontamente testáveis. "Os psicólogos deveriam passar menos tempo classificando as pessoas e mais tempo tentando ajudá-las". • Melhorista: qualquer crença de todas as respostas para um dado problema estão em uma determinada abordagem, tal como o pensamento lógico-matemático, pode ser muito perigoso. Se pudéssemos mobilizar toda a gama das inteligências humanas e aliá-las a um sentido ético, talvez pudéssemos ajudar a aumentar a probabilidade da nossa sobrevivência neste planeta, e talvez inclusive contribuir para a nossa prosperidade. A proposta deste trabalho é o Ensino Auxiliado por computador utilizando realidade virtual. O Que Constitui uma Inteligência? Na visão tradicional a inteligência é conceituada como a capacidade de responder a testes de inteligência, o Q.I. Alguns testes realizados demonstram que a "faculdade geral da inteligência" não muda muito com a idade ou com treinamento ou experiência. A inteligência é um atributo ou uma faculdade inata do ser humano. Gardner procurou ampliar este conceito. A inteligência para ele, é a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite às pessoas abordar situações, atingir objetivos e localizar caminhos adequados a esse objetivo. A criação de um produto cultural torna-se crucial nessa função na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos são os mais diversos, indo desde uma teoria científica até uma composição poética ou musical. A teoria das inteligências múltiplas foi elaborada à luz das origens biológicas de cada capacidade de resolver problemas. A tendência biológica deve ser vinculada aos estímulos culturais. A linguagem, por exemplo, que é uma capacidade universal, ora pode apresentar-se como oratória, ora como escrita, ou secreta, etc. Considerando o desejo de selecionar inteligências como é possível identificá-las? Gardner procurou evidências de várias fontes: • o conhecimento a respeito do desenvolvimento normal; • do desenvolvimento em indivíduos talentosos; • informações sobre o colapso das capacidades cognitivas nos casos de danos cerebrais; • estudos sobre prodígios, autistas e estudos psicológicos; • testes de correlações e outros. Somente as inteligências candidatas que satisfaziam a todos ou a maioria dos critérios foram selecionadas como inteligências genuínas justamente por satisfazer determinados critérios e fazerem parte de um conjunto de operações identificáveis. Dessa forma, cada inteligência deve ter uma operação nuclear ou um conjunto de operações, semelhante a um sistema neural, sendo cada inteligência ativada ou desencadeada por certos tipos de informações internas ou externas. Como exemplo ele cita que o núcleo da inteligência musical está na sensibilidade para determinar relações, ao passo que um dos núcleos da inteligência lingüística é a sensibilidade aos aspectos fonológicos. Para ele a inteligência deve ser capaz de ser codificada num sistema de símbolos e significados culturalmente criados que capturam e transmitem formas importantes de informação. A linguagem, a pintura e a matemática são símbolos quase universais necessários à sobrevivência e à produtividade humana. A inteligência relaciona-se com um sistema de símbolos não por acidente mas, por ser esta a forma da sua manifestação. Considerações Tendo esboçado as características e critérios de uma inteligência, procuramos apresentar breves considerações de cada uma das inteligências. Embora cada biografia ilustre uma inteligência particular, não se pode dizer que na idade adulta as inteligências operam isoladamente. Exceto em indivíduos anormais, as inteligências sempre funcionam combinadas e, qualquer papel adulto sofisticado envolverá uma fusão de várias delas. Conclusão Não existe nenhuma receita para a educação das inteligências múltiplas. A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida numa tentativa de descrever a evolução e a topografia da mente humana. A mente é um instrumento multifacetado, de múltiplos componentes, que não pode, de qualquer maneira legítima, ser capturada num simples instrumento estilo lápis e papel. Portanto, a necessidade, de se repensar os objetivos e métodos educacionais, torna-se profunda. Os neurobiólogos documentaram que o sistema nervoso humano é altamente diferenciado. Todos os seres humanos normais possuem vários potenciais, mas por razões genéticas e ambientais, os indivíduos diferem notavelmente nos perfis particulares de inteligência que apresentam em qualquer momento dado de sua vida. Portanto é evidente a necessidade de utilização de instrumentos pedagógicos diferenciados para as diversas inteligências desenvolvidas, pode ser decisivo nos processos de ensino aprendizagem nas disciplinas de maior índice de dificuldades. Este trabalho terá continuidade com o desenvolvimento de ferramentas de apoio através de tecnologias de realidade virtual. Desta maneira conseguiremos "preencher" nossos numerosos papéis e posições mais efetivamente para as pessoas que apresentam perfis de inteligências diferentes. Já está estabelecido que os indivíduos possuem mentes muito diferentes umas das outras. A educação deve ser modelada de forma a responder a essas diferenças, deve se tentar garantir que cada pessoa receba uma educação que maximize seu potencial intelectual, pois nenhum indivíduo pode dominar completamente nem mesmo um único corpo de conhecimentos, quanto mais toda a série de disciplinas e competências. Logo, a Teoria das Inteligências Múltiplas não deve ser utilizada para ditar um curso de estudos ou carreira, mas constitui uma base razoável para sugestões e escolhas de matérias opcionais. Há premência de se direcionar a aprendizagem para a compreensão ampla de idéias e valores indispensáveis no momento atual e isso poderá ser obtido a partir de uma metodologia baseada na interdisciplinaridade, na qual o professor seja um elemento mediador do conhecimento, exercitando a pesquisa de novos saberes, em sintonia com as necessidades dos tempos atuais; sem desconsiderar os variados potenciais de cada aluno. Conhecendo a Teoria das Inteligências Múltiplas, concluímos que na Escola, o prazer e o desejo de todos não devem submeter-se aos desígnios da razão, ou seja, importa desenvolver o pensamento lógico e a cognição, em parceria com as demais dimensões humanas, sempre. "A tarefa do professor: mostrar a frutinha. Comê-las diante dos olhos dos alunos. Provocar a fome. Erotizar os olhos, fazê-los babar de desejo. Acordar a inteligência adormecida. Aí a cabeça fica grávida: engordar com idéias. E quando a cabeça engravida não há nada que segue o corpo". Rubens Alves Bibliografia Arnheim, Rudolph. Pensar visual. Berkeley: Universidade da imprensa de Califórnia, 1969. GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GARDNER, Howard. A Criança pré-escolar :como pensa e como a Escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CECI, S.J. On Intelligence ... more or less : a bio-ecological theory of intellectual development. 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