ANÁLISE DAS PRESSÕES MUSCULARES RESPIRATÓRIAS EM INDIVÍDUOS PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN 1 Ana Paula Della Giustina 2 Dayane Montemezzo 3 RESUMO A medida das pressões respiratórias máximas é um método utilizado para avaliação da força muscular respiratória, pode ser dividido em pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx). As pressões musculares respiratórias podem ser afetadas por diversos fatores, como hipotonia muscular, alterações na caixa torácica e obesidade. Considerando a hipotonia generalizada apresentada pelos portadores da síndrome de Down, levanta-se a possibilidade de apresentarem alterações das pressões respiratórias. Desta forma a pesquisa objetivou avaliar pressões respiratórias máximas em portadores da síndrome de Down, atendo-se a identificar se o gênero, a idade, a prática de atividade física e a obesidade influenciam nesses valores. A amostra composta de 21 indivíduos portadores da síndrome de Down, 14 homens e 7 mulheres, com idade entre 11 e 45 anos. Os instrumentos utilizados no presente estudo foram: ficha para a coleta de dados; análise do prontuário fornecido pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais); tomada de medidas para o cálculo do IMC (Índice de Massa Corpórea); e realização da manuvacuometria. Para a tomada das pressões respiratórias usou-se o manuvacuômetro, um instrumento que tem por função medir pressões positivas e negativas, com o indivíduo sentado, sendo que foram tomadas cinco medidas da PImáx a partir da CRF (capacidade residual funcional) e cinco da PEmáx após uma inspiração máxima. Os resultados mostram que esses indivíduos apresentam baixos valores de pressões respiratórias, sendo que na maioria dos indivíduos avaliados a média dos valores de PEmáx ficou abaixo de 50% e de PImáx abaixo de 60% dos valores preditos, quanto à atividade física, em relação a PImáx os praticantes tiveram resultados melhores que os não praticantes e em relação a PEmáx ocorreu o inverso. Relacionando os valores de PEmáx encontrados com a obesidade, observou-se que não são alterados pela obesidade pois, tanto obesos quantos não obesos têm iguais valores de PEmáx. Palavras chaves: Síndrome de Down e pressões respiratórias máximas (PImáx e PEmáx). 1 Monografia apresentada ao Curso de Graduação de Fisioterapia, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. 2 Acadêmica do Curso de Fisioterapia. 3 Professora especialista e orientadora do trabalho. 2 INTRODUÇÃO A fisioterapia hoje atua nas diversas áreas, sendo de relevante importância a fisioterapia respiratória. Essa sofreu uma sensível evolução nas últimas décadas, e vem proporcionando muitos benefícios aos pacientes com disfunções respiratórias. O sistema respiratório, como todos os demais sistemas do corpo humano, não tem funcionamento independente e isolado, trabalha em interação com outros órgãos e sistemas. Alterações nesse sistema são freqüentes em indivíduos portadores da síndrome de Down. A síndrome de Down, descrita por John Longdon Down, em 1866, é uma das síndromes de malformações congênitas mais freqüentes, segundo Ratliffe (2000, p. 232) e Polin e Ditmar (2000, p.241) esta síndrome ocorre em um para 800 nascidos vivos. Caracterizada por uma anomalia genética, apresenta diversas alterações fenotípicas, entre as quais disfunções do aparelho respiratório. As alterações respiratórias, conforme Burns (2001), além de favorecerem o desenvolvimento de infecções, propiciam as apnéias do sono e a morbidade das doenças cardio circulatórias congênitas, que incidem em cerca de 44% dos sindrômicos. Indivíduos portadores da Síndrome de Down, segundo Mustacchi e Rozone (1990, p. 80-88) apresentam diversos distúrbios que interferem na respiração como, desenvolvimento incompleto dos tecidos dos seios paranasais, nariz pequeno, palato duro estreito e curto, língua grande e protusa e a hipotonia muscular generalizada, que causa importante alteração sistêmica. A hipotonia, segundo Machado (2000, p. 205), é uma diminuição do tônus muscular, sendo que se entende por tônus, o estado de relativa tensão em que se encontra permanentemente um músculo normal em repouso. Conforme Mustacchi e Rozone, 1990 (apud MUSTACCHI, 2002), a hipotonia muscular no grupo Down é classicamente descrita na literatura como a hipotonia dos músculos esqueléticos estriados, relacionada ao retardo no desenvolvimento motor e às hérnias umbilicais e inguinais, além das diástases dos músculos retos abdominais. O mesmo tipo de repercussão ocorre nos aparelhos que representam musculatura lisa, pois diminui o potencial bronco-espástico, determinando a menor freqüência de asma brônquica na SD. É nessa musculatura que se apoia o eptélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado, que vibra, produzindo o movimento do muco gerado pelas células caliciformes. O muco tem funções de umidificação, filtro, aquecimento e defesa imunológica. Uma provável diminuição das vibrações ciliares pode decorrer da hipotonia da musculatura lisa, caracterizando uma 3 alteração inter-relação do conjunto epitélio respiratório e sua musculatura, favorecendo um acúmulo de secreção, e produzindo meio adequado, por estase, para a proliferação bacteriana. As obstruções de vias aéreas superiores são progressivamente reconhecidas nas crianças portadoras de Síndrome de Down, e isto ocorre devido às principais bases anatomofisiológicas dos desvios fenotípicos do trato respiratório alto e baixo. A predisposição a hipoventilação está necessariamente vinculada à hipotonia e relacionada com, por exemplo, rinorréias crônicas (de carácter infeccioso ou alérgico) e desenvolvimento anômalo do maciço crânio-facial, acarretando obstruções do oronasofaringe, Rey e Birman, 1990 (apud MUSTACCHI, 2002). Cerca de 50% dos portadores de Síndrome de Down apresentam este tipo de obstrução de vias aéreas superiores. Em 90% dos deles, esta se associa à hipoxemia gerando desconforto e incordenação dos movimentos respiratórios, podendo ocorrer completa obstrução alta, requerendo então intervenções, Southala, 1987 (apud MUSTACCHI, 2002). Várias podem ser as causas vinculadas às síndromes hipóxicas nos portadores de Síndrome de Down. Além das CPCg, que podem ser severas, temos a desproporção do rinofaringe aliada à freqüente hipertrofia do sistema linfóide, mais o aumento das adenóides e das amígdalas como causa de situações produtoras de distúrbios e apnéias do sono, Philips et al., 1988 e Wajnsztejn et al., 1993 (apud MUSTACCHI, 2002). As otites médias recidivantes são sem dúvida nenhuma a maior causa da hipoacusia, evidentemente associada à maior freqüência de anormalidades anatomofisiológicas dos orgãos do sistema otorrinolaringológico encontrados na Síndrome de Down A fisiologia muscular, conforme Bienfait (1995, p. 16), utiliza dois tipo de unidades motoras: as unidades fásicas ou dinâmicas, são constituídas por fibras longas e interligadas por axônios de conexão rápida, possuem pouca mitocôndrias e baixa resistência à fadiga e as unidades motoras tônicas que são constituídas por fibras curtas, inervadas por axônios de condução lenta, com muitas mitocôndrias e grande resistência à fadiga. Fleck e Kraemer (1999, p. 63-65), citam que os tipos de fibras musculares podem ser classificadas como tipo I ou tipo II, além dos subtipos IC, IIA, IIB ou IIC. As fibras do tipo I são as fibras musculares, vermelhas, de contração lenta e oxidativas lentas, sendo mais adequadas ao exercício aeróbico, para o desempenho de resistência e possuem baixa fatigabilidade. As fibras do subtipo IC são em menor quantidade e são uma forma menos oxidativa das fibras tipo I. As fibras tipo II, são fibras musculares brancas, de contração rápida, oxidativas glicolíticas rápidas, sendo mais adequadas ao trabalho anaeróbico que 4 necessitem de força num curto período de tempo. As fibras do subtipo IIA, têm boas características aeróbicas e anaeróbicas. As do subtipo IIB, apresentam boas características anaeróbicas e características aeróbicas fracas. E as do subtipo IIC, que ocorrem em número muito pequeno nos seres humanos (0% a 5%), são mais oxidativas do que as dos tipos IIA e IIB. Para Sheerson (1993, p. 26), a proporção de tipos de tipos de fibras varia em diferentes áreas do diafragma, sendo que um modo geral, cerca de 55% das fibras são de tipo I, 20% de tipo 2A e 25% de tipo 2B. com isso sua resistência à fadiga, parece ser devida a esta elevada proporção de fibras resistente à fadiga e também à capacidade de fluxo sanguíneo do diafragma aumentar aproximadamente de forma proporcional à ventilação. Considerando que a manuvacuometria é um método verdadeiramente útil para a avaliação das pressões musculares respiratórias, Azeredo (2000, p. 399) ressalta que, as mensurações da PImáx são de maior relevância clínica pelo fato dos músculos inspiratórios suportarem maiores cargas de trabalho ventilatório. Sendo as mensurações da PEmáx igualmente úteis para a diferenciação entre uma fraqueza neuromuscular de músculos abdominais e uma fraqueza específica do diafragma ou de outros músculos inspiratórios, visto que uma fraqueza desses músculos deverá reduzir apenas a PImáx, já a fraqueza neuromuscular de músculos abdominais deverá reduzir ambas as forças. MÉTODO 1. Sujeitos Os critérios para a inclusão na amostra foram os seguintes: indivíduos portadores da Síndrome de Down confirmada por diagnóstico médico, com idade superior a 10 anos e freqüentadores das instituições (APAEs) pertencentes aos municípios de Tubarão, Laguna e Gravatal, situados no estado de Santa Catarina (SC). A amostra do estudo constituiu-se de 21 indivíduos, de ambos os sexos com idade entre 11 e 45 anos, portadores da síndrome de Down comprovada por diagnóstico médico, freqüentadores de APAEs acima citadas. Sendo os mesmos avaliados nas respectivas instituições. 5 2. Procedimento A coleta de dados foi desenvolvida nas APAEs pertencentes aos municípios de Tubarão (figura 2), Laguna e Gravatal, com indivíduos portadores da Síndrome de Down com idade entre 10 e 45 anos e consistiu de quatro etapas: 1a.etapa – preenchimento do termo de consentimento pelo responsável; 2a.etapa – comprovação da Síndrome de Down e verificação da idade do paciente: análise da ficha com os dados do paciente fornecida pela APAE; 3a.etapa – tomada de medidas para o cálculo do IMC: nesta etapa, o participante era pesado e medido pelo próprio pesquisador; 4a.etapa – realização da manuvacuometria: Segundo Azeredo (1993, p. 226-227), a medida da pressão dos músculos respiratórios – manuvacuometria - deve ser feita com as vias aéreas ocluídas e com o esforço máximo. Considerando o descrito, para a utilização do manovacuômetro foi necessário um “clip” nasal, sendo também utilizada uma cadeira para acomodação do paciente. Nesta etapa, o indivíduo era colocado em posição sentada em uma cadeira, com a coluna apoiada, membros superiores apoiados sobre as coxas e pés apoiados sobre o solo, de modo que os mesmos se sentissem relaxados. Aguardava-se o tempo de 1 minuto, nesse período o pesquisador demonstrava a tomada de PImáx, e após era ocluída a via aérea nasal, utilizando um “clip” nasal. Então era solicitado para o participante respirar normalmente e após a expiração basal era acoplado o manovacuômetro em sua boca e pedido para inspirar com força total, sendo considerada a medida de pico que se mantivesse por um segundo. Seguido a isso, era dado um tempo para que o paciente se recompusesse para ser tomada a medida seguinte. Desta maneira foram tomadas cinco medidas consecutivas da PImáx. Ao final destas, após um tempo de dois minutos, iniciavasse a mensuração da PEmáx. Nesse período o pesquisador demonstrava a tomada de PEmáx, era solicitado ao participante uma inspiração máxima, sendo acoplado o manovacuômetro em sua boca e pedido para que fizesse uma expiração com força total, considerava-se também a medida de pico sustentada por um segundo. Novamente era dado um tempo para que o paciente se recompusesse para a tomada da medida seguinte. Desta forma foram tomadas cinco medidas de PEmáx. Durante todo o processo de tomada das medidas, fazia-se estímulo verbal constante para que o indivíduo chegasse ao seu máximo esforço. 6 2.1 Tratamento dos dados Os dados coletados e calculados foram arranjados em tabelas e posteriormente convertidos em gráficos através de uma planilha eletrônica. Os tipos de representação utilizados foram gráficos de barras e dispersão. Os gráficos em questão possuem valores idênticos aos representados nas tabelas. RESULTADOS Os resultados estão demonstrados nas figuras de 11 a 19. Na figura 11, observamos que os valores de PEmáx encontrados homens em portadores da síndrome de Down com idade entre 12 e 30 anos ficaram entre 30 e 90 cmH2O, sendo que os valores preditos para indivíduos normais da mesma idade variam entre 137 e 227 cmH2O. 250 227 200 PRESSOES (cmH2O) 150 137 90 100 50 30 0 0 10 20 30 40 50 -50 -100 -150 -200 PEmax Homens Normais PEmax Homens Downs PEmax Mulheres Normais PEmax Mulheres Downs PImax Mulheres Normais PImax Mulheres Downs PImax Homens Normais PImax Homens Downs IDADES (anos) Figura 11 – Distribuição de indivíduos homens portadores da síndrome de Down e de homens normais quanto às Pressões Expiratórias máximas X idade. Na figura 12, observamos que os valores da PImáx encontrados em indivíduos homens Downs com idade de 12 a 30 anos variam de –30 a –90 cmH2O, sendo que os valores preditos para indivíduos normais de mesma idade e sexo variam de –123 a –140 cmH2O. 7 250 200 PRESSOES (cmH2O) 150 100 50 0 0 10 -50 -100 -150 20 -30 30 40 50 -123 -90 -123 -140 -200 PEmax Homens Normais PEmax Homens Downs PEmax Mulheres Normais PEmax Mulheres Downs PImax Mulheres Normais PImax Mulheres Downs PImax Homens Normais PImax Homens Downs IDADES (anos) Figura 12 – Distribuição de indivíduos homens portadores da síndrome de Down e de homens normais quanto às Pressões Inspiratórias máximas X idade. Na figura 13, observamos que os valores de PEmáx encontrados em indivíduos mulheres Downs com idade entre 11 e 45 anos variam de 40 a 90 cmH2O, sendo que para indivíduos normais de mesma idade e sexo os valores preditos variam entre 106 e 154 cmH2O. 8 250 200 154 PRESSOES (cmH2O) 150 90 100 106 50 40 0 0 10 20 30 40 50 -50 -100 -150 -200 PEmax Homens Normais PEmax Homens Downs PEmax Mulheres Normais PEmax Mulheres Downs PImax Mulheres Normais PImax Mulheres Downs PImax Homens Normais PImax Homens Downs IDADES (anos) Figura 13 – Distribuição de indivíduos mulheres portadoras da síndrome de Down e de mulheres normais quanto às Pressões Expiratórias máximas X idade. Na figura 14, observamos que os valores de PImáx encontrados em indivíduos mulheres Downs com idade entre 11 e 45 anos variam entre –40 e –75 cmH2O, sendo que para indivíduos normais de mesma idade e sexo os valores variam de –82 a –112 cmH2O. 250 200 PRESSOES (cmH2O) 150 100 50 0 -50 0 10 20 30 -40 40 -75 50 -82 -100 -112 -150 -200 PEmax Homens Normais PEmax Homens Downs PEmax Mulheres Normais PEmax Mulheres Downs PImax Mulheres Normais PImax Mulheres Downs PImax Homens Normais PImax Homens Downs IDADES (anos) Figura 14 – Distribuição de indivíduos mulheres portadoras da síndrome de Down e de mulheres normais quanto às Pressões Inspiratórias máximas X idade. 9 A figura 15 mostra todas as figuras acima descritas em uma, fornecendo uma visão geral das pressões respiratórias encontradas nos indivíduos portadores da síndrome de Down e os valores preditos para indivíduos normais de mesma idade e sexo. Observamos que todos os valores encontrados nos Downs estão próximos ao eixo x, indicando a fraqueza muscular respiratória presente nesses indivíduos, sendo que os valores preditos estão em níveis bem acima. 250 200 PRESSOES (cmH2O) 150 100 50 0 0 10 20 30 -50 -100 -150 -200 40 50 PEmax Homens Normais PEmax Homens Downs PEmax Mulheres Normais PEmax Mulheres Downs PImax Mulheres Normais PImax Mulheres Downs PImax Homens Normais PImax Homens Downs IDADES (anos) Figura 15 – Distribuição de indivíduos portadores da síndrome de Down e indivíduos normais quanto às Pressões Inspiratórias e Expiratórias máximas, gênero X idade. Na figura 16, podemos observar o percentual do valor predito de PImáx e PEmáx de acordo com a idade e com o gênero dos indivíduos avaliados. É importante esclarecer que para os indivíduos com mesma idade, calculou-se a média das pressões respiratórias encontradas. Alisando–se a PImáx, observa-se que 2 indivíduos alcançaram até 90% do predito, 3 até 80% do predito, 3 até 70% do predito, 3 até 60% do predito, 1 até 50%, 6 até o 40% do predito e 1 até 30% do predito. Analisando-se a PEmáx, observa-se que 2 indivíduos atingiram até 60% do predito, 3 até 50% do predito, 6 até 40% do predito, 7 até 30% do predito e 1 até 20% do predito. É importante salientar que somente 19 indivíduos puderam ter suas pressões respiratórias comparado com o normal, sendo que três indivíduos apresentaram idade entre 17 e 19 anos, não tendo valores normais para comparação. 10 100% 90% 2 80% 3 70% 3 60% 3 2 1 50% 6 40% 2 - PE 6 1 30% 1 - PI 3 7 1 20% 10% 0% 0 1 2 PRESSÕES(cmH2O) Figura 16 – Distribuição de indivíduos portadores da síndrome de Down em relação ao percentual de PImáx e PEmáx alcançado do valor predito. A figura 17 nos mostra a relação entre a PEmáx dos indivíduos portadores da síndrome de Down e a prática de atividade física, sendo que podemos observar que dos 21 avaliados, apenas dois não praticam atividade física e seus valores de PEmáx estão entre 80 e 100 cmH2O. Dos 19 praticantes de atividade física, 4 (21,05%) apresentam valor de PEmáx entre 20 e 40 cm H2O, 11 (57,90%) apresentam valores de PEmáx entre 50 e 70 cm H2O e 4 (21,05%) apresentam valores de PEmáx entre 80 e 100 cmH2O. 12 INDIVÍDUOS (quantidade) 10 8 não pratica 6 pratica 4 2 0 0 - 4 20 - 0 - 7 50 - 00 - 1 80 - 30 -- 1 110 60 -- 1 140 PRESSÕES (cmH2O) Figura 17 – Distribuição de indivíduos portadores da síndrome de Down em relação à prática de atividade física e o valor da PEmáx. 11 A figura 18 nos mostra a relação entre os valores da PImáx dos indivíduos portadores da síndrome de Down e a prática de atividade física, sendo que podemos observar que dos 21 avaliados, os 2 indivíduos que não praticam atividade apresentaram valores de PImáx entre –20 e –40 cmH2O. Dos 19 indivíduos praticantes de atividade física, 6 (31,58%) apresentaram valores de PImáx entre –20 e –40 cmH2O, 8 (42,11%) apresentaram valores entre –50 e –70 cmH2O, 2 (10,53%) apresentaram valores entre –80 e –100 cmH2O, 2 (10,53%) apresentaram valores entre –110 e –130 cmH2O e 1 (5,25%) apresentou valor entre –140 e –160 cmH2O. INDIVÍDUOS (quantidade) 8 6 4 não pratica pratica 2 0 40 -- -20 70 -- -50 0 0 100 -13 -16 -- 0 -0 --80 -11 -14 PRESSÕES (cmH2O) Figura 18 – Distribuição de indivíduos portadores da síndrome de Down em relação à prática de atividade física e o valor de PImáx. A figura 19, mostra a relação entre os valores da PEmáx e o número de indivíduos obesos, incluindo obesos mórbidos para melhor apresentação, e normais portadores da síndrome de Down. Dos 9 indivíduos que apresentam obesidade e obesidade mórbida, dito na figura 10 como obesos, 5 (55,56%) apresentam PEmáx com valor entre 50 e 70 cmH2O e 4 (44,44%), apresentam valor entre 80 e 100 cmH2O. Visto que dos 12 indivíduos com IMC normal, portadores da síndrome de Down, 4 (33,3%) apresentaram valores de PEmáx entre 20 e 40 cmH2O, 6 (50%) apresentaram valores entre 50 e 70 cmH2O e 2 (16,67%) apresentaram valores entre 90 e 110 cmH2O. 12 INDIVÍDUOS (quantidade) 6 5 4 3 obesos 2 normais 1 0 0 - 4 20 - 0 - 7 50 - 00 - 1 80 - 30 -- 1 110 60 -- 1 140 PRESSÕES (cmH2O) Figura 19 – Distribuição dos indivíduos portadores da síndrome de Down em relação ao IMC e o valor de PEmáx. DISCUSSÃO Considerando que a contratilidades dos músculos respiratórios está diretamente relacionada às condições anátomo-fisiológicas que se apresenta o sistema respiratório, pôde ser observado que a síndrome de Down é uma das diversas situações nas quais a força muscular está alterada. Shneerson (1993, p. 146), ressalta que a fraqueza generalizada dos músculos respiratórios, leva a um defeito restritivo com uma capacidade vital (CV) pequena, em função da redução da capacidade pulmonar total (CPT) e a um aumento do volume residual (VR). A CPT diminui por causa da fraqueza dos músculos inspiratórios e da redução da complacência pulmonar e da parede torácica. A complacência pulmonar diminui em função do fechamento das vias aéreas basais, a pequenos volumes pulmonares, o que leva a colapso das unidades pulmonares distais. Esta tendência é exacerbada por uma incapacidade de suspirar ou respirar profundamente e, com freqüência, por uma tosse ineficaz, que leva a retenção de escarro e áreas de colapso pulmonar. Sabendo-se que da relação existente entre a PEmáx, músculos abdominais e produção da tosse, ressalta-se que uma fraqueza observada pela baixa PEmáx apresentada pelos indivíduos avaliados, indica fraqueza de músculos abdominais o que leva conseqüentemente a uma tosse ineficaz. 13 Para Bethlem et all (1995, p. 312 e 313), a impossibilidade de tossir possibilita o aparecimento de brocoplegia e/ou retenção de secreção, levando ao aparecimento de pneumonias secundárias. Para Shneerson (1993, p. 146), a queda da CV constitui importante característica da fraqueza dos músculos respiratórios, porém as alterações da PImáx e da PEmáx precedem quaisquer alterações dos volumes pulmonares. Os baixos valores de PEmáx e PImáx observados nos indivíduos pesquisados, indicam que eles são fortes candidatos a terem diminuição dos volumes e capacidade pulmonares, com conseqüente diminuição da complacência pulmonar e colapso das unidades pulmonares distais. Os pulmões da criança com síndrome de Down, para Pueschel (1993, p. 81), no geral não apresentam características de anormalidade, somente alguns poucos bebês tem pulmões subdesenvolvidos (hipoplásicos). Sendo que algumas crianças, em particular aquelas com doença cardíaca congênita, podem apresentar hipertensão pulmonar, levando, às vezes, à pneumonia. Outro fator relevante é a fraqueza e a protuberância apresentada pelos músculos abdominais desses neonatos. Para Kopelman, Guinsburg e Miyoshi (1998, p. 67), no recém-nascido o crescimento e o desenvolvimento da estrutura músculo-esquelética ainda é incompleto, arcos costais inseridos horizontalmente na coluna vertebral e menor quantidade de fibras musculares fadiga-resistentes tipo I no diafragma, isso propicia uma menor área de aposição do diafragma. Nos Downs observa-se a presente lassidão ligamentar e a hipotonia muscular, o que contribui para aumentar sua suscetibilidade a doenças respiratórias, pelo fato de potencializar as alterações encontradas nos neonatos e lactentes. As alterações esclarecidas acima, contribuem para uma diminuição da CPT e conseqüente aumento do trabalho respiratório, por necessidade de maiores pressões de insuflação para manter o volume pulmonar, o que levará ao uso da musculatura acessória e aumento do gasto energético desses indivíduos. Para Koiffman, Diament e Wajtal (1996, p. 317), a polissonografia nos portadores da síndrome mostrou aumento das fases do sono REM, demonstrando função cortical imatura. Kopelman, Guinsburg e Miyoshi (1998, p. 67), relatam que o recém-nascido (RN ) normais em relação ao adulto apresenta maior quantidade de sono REM e que durante esse tipo de sono, ocorre uma hipotonia muscular generalizada, em particular, da musculatura intercostal, 14 que é importante na fixação dos arcos costais durante a contração do diafragma. Essas características resultam em maior tendência à distorção da caixa torácica durante os movimentos respiratórios, levando a uma inspiração paradoxal, pouco efetiva e com aumento do trabalho respiratório e, conseqüente, episódios de apnéias. Conforme Koiffman, Diament e Wajtal (1996, p. 316), que a hipotonia dos indivíduos portadores da síndrome de Down cede com a idade, porém geralmente apresentamse desajeitados, movem-se lentamente e com base alargada. Isso nos faz crer que as alterações cardiorrespiratórios presentes na fase de neonato e lactente somados a doenças respiratórias presentes na infância, podem deixar seqüelas trazendo problemas futuros. Considerando que nos indivíduos Downs esse fatos são mais evidentes convém ressaltar a importância da atuação fisioterapêutica para minimizar-los contribuindo para diminuição de problemas futuros. Na ausência de uma doença aguda, Shneerson (1993, p. 146) cita que, a hipercapnia constitui, habitualmente uma característica tardia da fraqueza muscular. Ela pode aparecer durante a vigília, se a PImáx e a PEmáx estiver abaixo de 30% do previsto. Pode também aparecer num estágio mais precoce, durante o sono. A hipoventilação pode resultar de apnéias obstrutivas devida à perda do tônus muscular das vias aéreas superiores. A queda PO2 pode ser desproporcional ao aumento da PCO2, por causa de um equilíbrio ventilação/perfusão abaixo do ideal. Comprovou-se a fraqueza muscular presente nos portadores da síndrome de Down, em função dos baixos valores de PEmáx e PImáx, sendo que na amostra nota-se, que 8 (42,10%) dos 19 indivíduos apresentam valores PEmáx abaixo de 30% do predito, sendo que 1 desses 8 apresenta também valor de PImáx abaixo de 30% do predito. Indicando fazerem apnéias obstrutivas em função do baixo tônus muscular. Analisando os resultados, observa-se que os indivíduos que não praticam atividade física apresentaram os valores de PEmáx mais altos encontrados. Nota-se que a prática de atividade física não está contribuindo positivamente para o aumento dos valores de PEmáx nos indivíduos praticantes, mas sugere-se a isso freqüência de atividade física. Considerando que o ideal para atividade leve ou moderada, segundo Heath (2000, p. 133-134) é de 30 minutos diariamente, também ressalta que somente para atividades vigorosas esse tempo pode ser diminuído para 20 minutos 3 vezes por semana, o que não ocorre nestes 15 indivíduos. Outro aspecto a ser ressaltado é o reduzido número de indivíduos deste estudo que não praticam atividade física. Considerando que a PImáx avalia a pressão dos músculos inspiratórios, incluindo o diafragma, principal músculos da respiração, observa-se que os não praticantes de atividade física obtiveram os menores valores de PImáx. Blascovi-Assis, Monteiro e Enríquez (1993), em um estudo feito com crianças portadoras de síndrome de Down, a fim de analisar o desempenho respiratório dessas crianças submetidas a um programa de atividades físicas específicas; mostraram que a prática diária de atividade física englobando atividade física geral, atividade respiratória específica, atividades na água e manobras fisioterápicas passivas, propiciaram aquisições tanto de domínio respiratório como ganho de capacidade respiratória, referentes a idades dos indivíduos. Observando-se que os praticantes de atividade física tiveram os maiores valores de PImáx, salienta-se que mesmo não sendo ideal a freqüência da prática de atividade física, já se pode observar a influência na pressão muscular inspiratória desses indivíduos. Isso prova que devemos estimular a prática de atividade física precoce com o intuito de diminuir as complicações respiratórias bem como para se observar aquisições de funções respiratórias contribuintes para o desenvolvimento neuropsicomotor normal. De acordo com Shneerson (1993, p. 169-172), a associação da obesidade e distúrbios respiratórios é conhecida há muito tempo. O obeso apresenta um quadro de hipoventilação devida a várias alterações fisiológicas e por vezes apresenta apnéias do sono obstrutivas. A interação de alterações nos volumes pulmonares, da complacência pulmonar e da função muscular respiratória contribui para isso. Nesses indivíduos a PEmáx, encontram-se reduzidas. Uma grave hipoxemia secundária a obesidade pode diminuir a contratilidade dos músculos respiratórios. Sendo que em um relato de autópsia, encontrou-se extensa infiltração gordurosa no diafragma e nos músculos intercostais, o que pode comprometer a função. Também as alterações do comprimento ou configuração do diafragma por causa do tecido adiposo, no abdômen, são importantes. A pressão transdiafragmática cai, no decúbito dorsal, quando o diafragma é elevado pelo peso do conteúdo abdominal. A posição elevada do diafragma pode hiperestender suas fibras, levando à redução do diafragma e de sua função. Ressalta-se que esses indivíduos além de apresentarem as alterações da síndrome, ainda apresentam a obesidade como agravante para as alterações das funções respiratórias. 16 Porém na presente pesquisa observa-se que a maioria dos indivíduos obesos teve PEmáx entre os mesmos valores encontrados para a maioria dos indivíduos normais. Não houve uma equivalência entre as considerações feitas por Shneerson (1993) e os dados coletados neste estudo quanto às diferenças de pressões respiratórias entre os indivíduos obesos e os considerados normais; acredita-se que estes resultados foram obtidos em função do reduzido número de indivíduos correlacionados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando as alterações das pressões musculares respiratórias encontradas nos Down na presente pesquisa e ressaltando os achados literários em relação ao desenvolvimento motor retardado dos indivíduos Downs, sugere-se que esses sejam incluídos em um programa de reabilitação, que inclua fisioterapia respiratória específica, bem como de atividades que desenvolvam suas habilidades motoras. Cabe ressaltar ainda a condições que eles possuem de se integrarem na sociedade quando adequadamente estimulados. Durante a pesquisa foram encontradas algumas dificuldades, como a grande diferença de faixa etária dos indivíduos avaliados, visto o difícil acesso a esses em nossa sociedade, bem como o baixo cognitivo dos avaliados, sendo que para a realização de novas pesquisas sugere-se que os indivíduos estejam dentro de uma faixa etária mais reduzida. REFERÊNCIAS AZEREDO, C.A.C. Métodos para avaliar a função muscular respiratória. In: _____. Fisioterapia respiratória no hospital geral. São Paulo: Manole, 2000. cap. 39, p. 398-410. BLASCOVI-ASSIS, S.M.; MONTEIRO, M.I.B.; ENRÍQUEZ, N.N.B. Análise do desempenho respiratório de crianças com síndrome de down submetidas a um programa de atividades físicas específicas. Temas sobre desenvolvimento, São Paulo, n. 12. p. 10-15. maio-jun. 1993. BIENFAIT, M. A fisiologia. In: _____. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus, 1995. cap. 1, p. 13-56. BURNS, D.A. Aspectos respiratórios na síndrome de down. 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