SÍFILIS CONGÊNITA CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTO Apresentação: Dra. Liv Janoville Unidade de Neonatologia do HRAS/HMIB/SES/DF Brasília, 4 de maio de 2015 • 2000 - a sífilis congênita é responsável por 1,3% das mortes de crianças menores do que 5 anos • OMS (2005) - 2 milhões de gestações em mulheres com sífilis em atividade • 25% resultem em óbito • 25% em recém-nascidos BP ou infecção neonatal grave • Há ainda custos significantes, difíceis de calcular, relacionados à sobrevivência dos RN com sífilis congênita. 1 • 2000 - a sífilis congênita é responsável por 1,3% das mortes de crianças menores do que 5 anos • OMS (2005) - 2 milhões de gestações em mulheres com sífilis em atividade • 25% resultem em óbito • 25% em recém-nascidos BP ou infecção neonatal grave • Há ainda custos significantes, difíceis de calcular, relacionados à sobrevivência dos RN com sífilis congênita. 2 5000 1,6 4500 4201 4000 3500 3198 3000 2840 2500 0,9 1,3 3984 1,3 1,4 3710 1,2 1,2 3085 1 1,0 1,0 2000 0,8 0,6 1500 0,4 1000 0,2 500 0 0 1998 1999 2000 número de casos Fonte:SINAN/PN-DST/Aids/SVS/MS * casos notificados até 08/01/2004 2001 2002 2003 incidência 3 Incidência de sífilis congênita em menores de 01 ano de idade (por 1.000 nascidos vivos) segundo região de residência por ano de diagnóstico 4 • Sífilis congênita é conseqüência da disseminação do Treponema pallidum através da corrente sangüínea da gestante infectada para o seu concepto (Ministério da saúde) Transmissão durante toda a gestação Risco maior nas gestantes com sífilis primária ou secundária 5 • O ideal - em termos de diagnóstico de sífilis congênita, seria identificar cinco grupos de pacientes: 1.• Dificuldade Mães infectadas e recém-nascidos infectados, com sinais do diagnóstico da infecção em crianças clínicos da infecção assintomáticas. Essa conduta, quee inclui o tratamento de casos presuntivos, 2.• • AMães infectadas recém-nascidos infectados, sem sinais orientação: nos quais diagnóstico é baseado daoinfecção •clínicos Empregar critérios diagnósticos de em altacritérios sensibilidade, mas epidemiológicos clínico-laboratoriais, deve persistir até de baixa especificidade 3. Mães infectadas eerecém-nascidos não infectados que novas tecnologias permitam traçar uma linha divisória Qualquer RN potencialmente e sua mãe sejam 4. •Mães soronegativas infectadas infectado e recém-nascidos infectados, mais firme entre pacientes infectados eambos não infectados. abordados durante a época em que tem acesso ao mas sem sinais clínicos da infecção serviço de saúde, ou seja, o período peri-partal e o 5. Mães não neonatal infectadasimediato. período 6 Critérios diagnósticos para a sífilis congênita podem ser sumarizados, segundo a orientação dada em 1988 pelo Centers for Disease Control e adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil em 1990 e ratificadas em 2004, de acordo com os seguintes parâmetros Sífilis Congênita Confirmada: isolamento do Treponema pallidum em: •Material da lesão, placenta, cordão umbilical ou material de necropsia através de exame em microscópio de campo escuro, histologia ou por teste de infectividade em coelhos 7 Sífilis congênita provável • Recém-nascido, independentemente das manifestações clínicas e laboratoriais, cuja mãe é soropositiva para sífilis (teste não treponêmico positivo em qualquer titulação) e: Não recebeu tratamento ••Adequadamente tratada na gestação, mas não apresentou uma resposta sorológica documentada no título do teste não treponêmico • Tratamento incompleto(queda com penicilina VDRL/RPR); • Tratamento para sífilis com penicilina nos últimos 30 dias antes do parto ••Adequadamente tratada antes gestação, mas não teve um Tratada com outras drogas quedanão a penicilina Inadequadamente tratada acompanhamento sorológico suficiente paramas descartar a presença infecção • Foi adequadamente tratada para sífilis, o parceiro não foi de tratado ou ativa foi durante tratado adegestação forma inadequada ou a informação não está disponível. (queda de 4 vezes nos títulos do VDRL para mulheres portadoras de sífilis primária e secundária e títulos estáveis ou decrescentes, inferiores ou iguais a 1:4, para as outras fases da sífilis). 8 Neurolues • Diagnóstico de extrema importância no recém-nascido • Tratamento / Acompanhamento • Há grande dificuldade na afirmação de certeza da neurolues • As alterações liquóricas em relação a células, proteínas e glicose são pouco específicas e a sorologia do LCR é pouco sensível. • A realização do exame líquórico imprescindível, diante de qualquer caso suspeito de sífilis congênita, com a finalidade de afirmar ou descartar a presença de neurolues. 9 • Considera-se normal no período neonatal a presença de glóbulos brancos inferiores a Neurolues confirmada 25/mm3 / proteína < 150 mg/dL • Amostras de LCR com mais de 100.000 glóbulos vermelhos por mm3 não podem ser avaliadas de+forma adequada quanto à celularidade e ao conteúdo protéico. • VDRL no LCR (independente do valor) • Em amostras com até 100.000 hemácias/mm3 Neurolues possível • A contagem de leucócitos pode ser ajustada: • Dividindo-se o número de glóbulos vermelhos por 500 e subtraindo este valor do número de leucócitos. • Quando existem alterações na celularidade e/ou no perfil bioquímico liquórico, acompanhadas de VDRL sérico positivo, independentemente do VDRL do líquor, ou •quando A concentração protéicaatambém pode ajustada: não foi possível realização deser exame liquórico em qualquer recém-nascido Dividindo-sedeo sífilis número de glóbulos vermelhos por mil e subtraindo este valor do total com• diagnóstico congênita confirmada ou provável. de proteínas dosado naquela amostra em mg/dL. 10 • Cinco décadas de experiência com a penicilina confirmam a sua absoluta superioridade no tratamento • • • • Primeiro trimestre costuma evitar a infecção fetal. Após esta fase trata o concepto também Eritromicina não tratará a infecção fetal Poucos estudos com ceftriaxona e azitromicina • O ceftriaxone - dose de 250 mg IM por 10 dias tem se mostrado eficaz em pequenos estudos já publicados. • Entretanto, em coelhos, a cefalosporina não se mostrou efetiva para o tratamento da neurossífilis. 11 • A eritromicina passagem transplacentária errática e a sua utilização na grávida com diagnóstico de sífilis deve ser desencorajada. • O uso de azitromicina em gestantes apresenta resultados diversos • Desenvolvimento de mutação em genes do RNA ribossômico do Treponema pallidum • Relato de caso (China) tratamento em gestantes alérgicas • Tratadas com 1-10 doses de 1g azitromicina à época do diagnóstico e três delas retratadas após 28 dias • Mostrou que todos os RN apresentaram quadro clínico evidente de sífilis congênita e sorologia positiva para a infecção. 12 • Nos casos de alergia à penicilina • Recomenda-se a dessensibilização da gestante e a posterior aplicação de penicilina benzatina, nas doses preconizadas • Vale lembrar a recomendação de Ingraham em 1951 e válida até hoje: “o valor da penicilina para prevenir a passagem da sífilis da mãe para a criança aproxima-se à perfeição” 13 Controle de cura - VDRL mensal 14 • Somente a realização do esquema terapêutico completo e com penicilina é considerado treponemicida para o feto durante a gestação. • Ao final da gravidez, as adaptações fisiológicas maternas são máximas, com aumento do débito cardíaco, da volemia e do fluxo sangüíneo renal, resultando em elevação do clearance de creatinina e redução da concentração de proteína plasmática. Tais adaptações •• Falha terapêuticaalteram a farmacocinética da penicilina, com níveis plasmáticos subterapêuticos do antibiótico apósnaseu emprego para o • Doses inadequadas de penicilina, especialmente fase secundária ou na tratamento da sífilis especialmente latência precoce materna, quando a espiroquetemianoé último alta mês da gravidez. • Tratamento é feito nas fases mais avançadas da gestação. Considera-se a sífilis congênita provável em recém-nascidos de gestantes tratadas no mês anterior ao parto. 15 • Uma vez indicada a terapêutica neonatal, há controvérsias quanto à necessidade de exames de sangue, líquor e radiografia de ossos longos nas crianças assintomáticas • Não existam dúvidas que tais exames devam ser realizados nos pacientes sintomáticos • Atualmente, os seguintes exames são preconizados pelo Centers for Disease Control e pelo Ministério da Saúde em todos os neonatos filhos de mães soropositivas para sífilis. 16 • Teste sorológico não treponêmico (VDRL/RPR) no sangue periférico do recém-nascido. • Sangue de cordão umbilical, uma vez que os testes realizados neste sítio apresentam um alto índice de falsa-negatividade e, também, alguns resultados falsopositivos Negativação VDRL Pesquisa de Sífilis Congênita no momento do parto: soro materno ou sangue do cordão? (Pesquisa de sífilis congénita al momento del parto: ¿Suero materno o sangre de cordón?) 1 ano 50% 2 anos 75% 2,5 anos 90% Fernando Abarzúa C., Cristián Belmar J., Alonso Rioseco R., Jacqueline Parada B., Teresa Quiroga G. y Patricia García C. Apresentação: Talita Viana, Tereza I B Dias, Tatiane Sampaio,Paulo R. Margotto 17 • Hemograma completo: • Considerar alterado diante: • Hematócrito inferior a 35% • Plaquetas abaixo de 150.000/mm3 • Leucopenia ou leucocitose de acordo com as curvas de normalidade para as horas de vida. 18 • Raio-X de ossos longos • Osteocondrite, a periostite e a metafisite, que acometem ossos longos, costelas e alguns ossos cranianos, estão presentes com freqüência. • A metafisite é o achado mais freqüente e precoce, aparecendo em 50 a 90% dos casos. • Sugere-se, ainda, que em cerca de 4 a 20% dos recém-nascidos infectados, a única alteração encontrada seja a radiográfica, o que justifica a realização do exame nos casos suspeitos de sífilis congênita 19 • Exame de líquor: • Considerar alterado até 28 dias de vida se número de células for superior a >25/mm3 e/ou proteínas > 150 mg/dL. • A sorologia do LCR, por meio do VDRL, é mandatória. • Embora o VDRL no líquor seja altamente específico para a sífilis, sua sensibilidade é baixa. 20 • Pesquisa de outras infecções congênitas de transmissão sexual é obrigatória • HIV e hepatite B durante a gestação • Outras doenças sexualmente transmissíveis • Co-infecção frequente 21 • Penicilina droga de escolha. • Ela praticamente não apresenta efeitos adversos • A penicilina cristalina ou procaína têm sido as drogas de escolha • Embora um estudo recente mostre níveis liquóricos mais altos e constantes da penicilina cristalina, comparada à procaína. • A penicilina benzatina tem pouca penetração liquórica. 22 • Não há também experiência nem indicação de qualquer outro antibiótico para a tratamento de sífilis congênita • Alguns autores sugerem o uso da ampicilina na sífilis congênita, por se tratar de um antibiótico treponemicida, capaz de atingir altas concentrações liquóricas, especialmente quando a penicilina cristalina não está disponível. • Entretanto, ainda não existem dados na literatura que permitam a sua recomendação plena como antibiótico de escolha ou como alternativa terapêutica. • Ex: RN estava em uso de 2 dias de ampicilina antes do inicio da penicilina como será a contagem do tempo de ATB? • Da mesma maneira, a eficácia do ceftriaxone para o tratamento da sífilis do recém-nascido não foi adequadamente testada. 23 1 2 3 24 25 26 27 Tratamento de RN de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada, independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido, realizar: • • • • • • • • • • • • A – VDRL, Raio X de ossos longos, estudo do LCR (com pesquisa de VDRL), e outros exames dependendo da clínica apresentada pelo recém-nascido. A1 – se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas, mas não liquóricas: Penicilina Cristalina – 100.000 UI/Kg/dia, EV, dividida em 2 doses (menos que 7 dias de vida) ou 3 vezes (se tiver mais de 7 dias), por 10 dias; ou Penicilina G Procaína – 50.000 UI/Kg/dia, IM, por 10 dias; A2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito com Penicilina G Cristalina, na dose de 150.000 UI/Kg/dia, EV, em 2 vezes por dia (se tiver menos de 1 semana de vida) ou 3 vezes (se tiver mais de 1 semana de vida), por 10 dias; A3 – se não houver alterações clínicas, radiológicas e/ou liquóricas, e a sorologia for negativa no recémnascido: Penicilina G Benzatina, IM, na dose única de 50.000 UI/Kg/dia. O seguimento ambulatorial é obrigatório. Caso não seja possível garantir o acompanhamento, o recém-nascido deverá ser tratado como esquema A1. Obs: na impossibilidade de se realizar a análise liquórica, tratar como neurossífilis. RN de mães adequadamente tratadas Realizar o VDRL de amostra de sangue periférico do recém-nascido. B1- se o título for maior que o materno e/ou na presença de alterações clínicas, realizar Rx de ossos longos e análise do LCR. Se não houver alterações liquóricas: seguir esquema A1. B2- se houver alteração liquórica: seguir esquema A2. B3- se o título do RN for não reagente ou titulação menor ou igual à da mãe e assintomático e Rx de ossos longos sem alterações, deve-se fazer seguimento ambulatorial. Caso não seja possível, tratar como em A3. Liu Campello Porto • A opção de manter o tratamento por 10 dias tem se mostrado empiricamente satisfatória • Existem dados que indicam a erradicação do espiroqueta do líquor de recémnascidos, por meio do Teste de Inoculação em Coelhos, após dez dias do uso de penicilina por via endovenosa • Assim, não parece haver necessidade de aumentar a dose ou a duração do tratamento da penicilina em neonatos com diagnóstico de neurolues. • Em caso da interrupção do esquema terapêutico por período superior a 24 horas, há necessidade de reiniciar o esquema. • Ressalta-se, também, que os filhos de mães soropositivas para HIV não precisam de regimes terapêuticos diferenciados, podendo seguir as diretrizes acima propostas. 29 • Não há necessidade de isolar os recém-nascidos portadores de sífilis congênita, mas as precauções universais são particularmente importantes à manipulação destes pacientes. • Passadas as primeiras 24 horas após o início da antibioticoterapia, o risco de transmissão da doença é mínimo. • Com a utilização do esquema terapêutico apropriado, espera-se a negativação do VDRL após 12 a 15 meses do tratamento. • É preciso lembrar que nenhum recém-nascido deve ter alta hospitalar até que a sorologia materna seja conhecida. • A sífilis congênita tornou-se uma doença de notificação compulsória para fins de vigilância epidemiológica por meio da portaria 542 de 22 de dezembro de 1986. 30 • Deve ser acompanhado por pelo menos 2 anos: • Realizar exame clínico minucioso e VDRL com 1, 2, 3, 6, 12, 18 e 24 meses • Quando o neonato tiver sido tratado para neurolues, repetir o exame liquórico a cada 6meses até a normalização bioquímica, citológica e sorológica. • Se os títulos do VDRL estiverem caindo nos primeiros três meses e forem negativos entre 6 e 18 meses de vida, a criança foi tratada de maneira correta. Espera-se, também, que o VDRL do líquor se apresente negativo por volta do sexto mês de vida e que o líquor esteja absolutamente normal ao fim do segundo ano. • Caso isto não ocorra, é necessário reavaliar o paciente do ponto de vista clínico e laboratorial e iniciar o retratamento. • Toda criança com diagnóstico de lues congênita é obrigatória a avaliação neurológica, auditiva e oftalmológica a cada 6 meses, durante os primeiros dois anos de vida. 31 Considerações sobre VDRL Resultados em títulos e é considerado positivo título 1/1. O tratamento é considerado eficaz caso haja queda de 4 vezes os títulos durante o seguimento. Anticorpos (Ac) passivos (passagem transplacentária de anticorpos maternos): o RN não está infectado e os títulos devem diminuir e se negativar até os 3 meses de vida. Caso estes títulos permaneçam positivos após os 3 meses, o RN deve ser considerado infectado e tratado. Ac ativos (produzidos pelo RN infectado): não se deve esperar resultado negativo logo após o tratamento e sim queda dos títulos. 32 Em resumo … Quando iniciamos o seguimento do paciente podemos estar diante de duas situações VDRL + ao nascimento Ac maternos (passivos) RN não tinha sífilis VDRL + ao nascimento RN infectado Ambos os casos: Acompanhamento clínico mensal VDRL deverá ser realizado com 1, 3, 6,12 e 18 meses. VDRL negativo aos 3 meses VDRL positivo aos 3 meses CASO DESCARTADO CRIANÇA INFECTADA Acompanhamento clínico mensal Oftalmológico, neurológico e audiológico a cada 6 meses por 2 anos. 33 Consultem também, Aqui e Agora! Sífilis Congênita Autor(es): Liu Campello Porto (Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, ESCS, Brasília, 3ª Edição, 2013) E mais Infecções Perinatais Crônicas Infecções Perinatais Crônicas