1 2,3,4 Zimmermann LA , Marson FAL 2,4 , Bertuzzo CS 1 Graduando em Medicina, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp [email protected] 2 Departamento de Genética Médica, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp 3 Departamento de Pediatria, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp 4 Laboratório Multiusuário do Departamento de Genética Médica, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp www.laboratoriomultiusuario.com.br Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, CEP 13083-887, Campinas, SP, Brasil. Palavras-chave: CFTR - Íleo meconial - ADIPOR2 INTRODUÇÃO A fibrose cística (FC) é a doença genética autossômica recessiva mais frequente na população caucasóide. É causada por mutações no gene CFTR. O fenótipo da doença inclui sintomas respiratórios, gastrintestinais e no aparelho reprodutor. Apresenta expressividade variável, sendo influenciado por fatores ambientais e genéticos secundários, a exemplo do gene ADIPOR2. Esse gene está localizado no cromossomo 12, codifica um receptor para a adiponectina, desempenhando papel metabólico e anti-inflamatório, e é considerado provável modificador para o íleo meconial (IM). O IM é uma obstrução intestinal devido ao aumento da viscosidade do muco, e acomete 15 a 20% dos pacientes com FC. Assim, o objetivo foi verificar a associação entre duas variações no número de cópias (CNVs) no gene ADIPOR2, a deleção de 315 pb no íntron 2 e a inserção de 134 pb no íntron 3, e a presença de IM em pacientes com FC, junto a outros marcadores de gravidade clínica da doença, ainda não estudados em pacientes com FC. enzima Taq DNA polimerase, levam ao acúmulo exponencial da sequência de DNA alvo. A amplificação das duas regiões (a inserção de 134 bp no íntron 3 e a deleção de 315 bp no íntron 2) foi feita em reações separadas. O resultado foi analisado em eletroforese em agarose 1,5% e coloração com brometo de etídio. MÉTODOS O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCM/Unicamp. Foram selecionados 215 pacientes com FC. Todos tiveram resultado alterado em pelo menos dois testes do suor, com valores de cloro ≥ 60 mEq/L e/ou o duas mutações no gene CFTR identificadas. Dentre estes pacientes, a análise genética para os polimorfismos foi realizada em 169, sendo os outros 46 excluídos da análise estatística mediante a falta de dados clínicos, não amplificação das amostras ou não aceite do termo de compromisso. Foram analisadas 27 variáveis clínicas no prontuário médico desses pacientes, além das alterações no gene ADIPOR2 através da técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). Neste método, repetidos ciclos de desnaturação térmica do DNA, anelamento dos iniciadores (primers) e extensão destes promovida pela A. xylosoxidans -/- 7 12 19 +/+ 1 12 13 0,042 6,474 1,615-29,09 1 - -: ausência do polimorfismo, +: deleção presente; OR: odds ratio; IC: intervalo de confiança. Tabela 3. Associação do polimorfismo de inserção de 134 pares de bases no gene ADIPOR2 com a primeira bactéria P. aeruginosa isolada dos pacientes com FC atendidos na Unicamp com duas mutações no gene CFTR identificadas Primeira P. aeruginosa -/- Figura 2: Revelação de PCR para polimorfismo de deleção de 315pb no gene ADIPOR2. 15 38 53 0,048 0,169 0,039-0,742 -: ausência do polimorfismo, +: deleção presente; OR: odds ratio; IC: intervalo de confiança. A análise estatística foi realizada pelo teste de MannWhitney para as variáveis com distribuição numérica e pelo Teste Exato de Fisher para as variáveis com distribuição categórica. O valor de p corrigido para múltiplos testes foi obtido pelo teste FDR (“False Discovery Rate”), sendo considerado p menor que 0,05 como estatisticamente significante. RESULTADOS Com relação ao genótipo do CFTR, houve maior prevalência de alelos com a mutação F508del (64,6%). Para o polimorfismo de 315 pb no gene ADIPOR2, foram encontrados 51 -/- (homozigotos normais), 79 -/+ (heterozigotos) e 30 +/+ (homozigotos mutados), sendo possível observar associação com a raça dos pacientes, primeira Pseudomonas aeruginosa isolada e presença do Achromobacter xylosoxidans. Já para o polimorfismo de 134 pb, os genótipos encontrados foram 132 -/- e 37 -/+, também havendo associação com a primeira P. aeruginosa e com a saturação de oxigênio transcutânea (SaO2). Figura 1: Variabilidade clínica na Fibrose Cística Tabela 2. Associação do polimorfismo de deleção de 315 pares de bases no gene ADIPOR2 com a cultura para o A. xylosoxidans dos pacientes com F C atendidos na Unicamp com duas mutações no gene CFTR identificadas Variável clínica Sexo feminino Raça caucasóide Idade Inicio dos sintomas Inicio da doença pulmonar Inicio da doença digestiva Tempo para o diagnóstico Escore de Bhalla Escore de Kanga Escore de Shwachman-Kulczycki SaO2 CVF(%) VEF1 (%) VEF1 /CVF(%) FEF25-75% IMC – magreza e magreza acentuada Polipose nasal Diabetes melittus Osteoporose Ileo meconial Insuficiência pancreática Primeira P. aeruginosa P. aeruginosa mucóide status P. aeruginosa não mucóide status A. xylosoxidans status S. aureus status B. cepacia status N 169 169 168 159 154 140 162 122 131 144 162 126 124 123 124 167 166 166 166 168 168 122 169 169 169 169 169 Distribuição dos dados 87 (51,5%)2 158 (93,5%)2 154 / 206,50 ± 14,065 (7 a 1274)1 3 / 28,90 ± 7,711 (0 a 720)1 1 5,50 / 36,95 ± 8,668 (0 a 720) 4 / 39,89 ± 8,931 (0 a 720)1 1 21,50 / 85,38 ± 12,085 (0 a 833) 8 / 8,59 ± 0,503 (0 a 25)1 1 17 / 18,76 ± 0,510 (10 a 40) 65 / 66,14 ± 1,374 (20 a 95)1 96 / 94,99 ± 0,329 (66 a 99)1 82,50 / 80,76 ± 2,055 (19 a 135)1 74 / 72,73 ± 2,452 (17 a 132)1 86 / 60,29 ± 3,212 (5 a 150)1 60,50 / 60,29 ± 3,212 (5 a150)1 34 (20,4%)2 32 (19,3%)2 30 (18,1%)2 28 (16,9%)2 25 (14,9%)2 136 (81%)2 30,50 / 93,66 ± 14,458 (2 a 872)1 70 (41,9%)2 91 (53,8%)2 17 (10,1%)2 23 (13,6%)2 134 (9,3%)2 1. mediana / média ± desvio padrão (mínimo máximo). 2. Número de pacientes com a característica descrita (frequência). Figura 3. Boxplot da associação do polimorfismo de inserção de 134 pb no gene ADIPOR2 com a Saturação de Oxigênio Transcutânea (SaO2), sem considerar a distribuição dos pacientes pelo genótipo do gene CFTR. Os resultados não demonstraram associação significativa entre as duas CNVs e o IM. Como a população brasileira tende a ser miscigenada e a casuística ficou limitada por falta de dados clínicos, outras possíveis associações positivas deixaram de ser observadas no estudo. CONCLUSÃO A deleção de 315 pb no íntron 2 e a inserção de 134 pb no íntron 3 do gene ADIPOR2 podem influenciar na gravidade clínica da FC. Embora não tenha sido estatisticamente significativa a relação entre essas CNVs e a presença de IM em pacientes com FC, outros marcadores analisados demonstraram seu potencial de associação com a gravidade da doença, confirmando o papel de modificador atribuído ao gene ADIPOR2. APOIO D.A.D.C.C. FCM-UNICAMP