LITERATURA NA IDADE MÉDIA
Hieronymus Bosch (1450-1516) – pintor holandez – “O caminho da dor”
LITERATURA NA IDADE MÉDIA
• Reis, castelos, nobres cavaleiros lutando em
torneios para merecer a atenção de formosas
damas são imagens que constituíram a base
dos textos dos trovadores e das novelas de
cavalaria, divulgando os ideais de um
comportamento cortês (galante) que se tornou
um modelo até hoje explorado pela literatura
ocidental.
Contexto Histórico da Idade Média
• Início: Conquista de Roma, capital do Império
Romano do Ocidente, pelas forças do general
germânico Odoacro.
• Fim: Queda de Constantinopla, capital do
Império Romano do Oriente, tomada pelos
turcos em 1453.
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
• “Os príncipes têm poder na terra, os
sacerdotes, sobre a alma. E assim como a
alma é muito mais valiosa do que o corpo,
assim também mais valioso é o clero do que a
monarquia [...] Nenhum rei pode reinar com
acerto a menos que sirva devotamente ao
vigário de Cristo.”
Fala do papa Inocêncio III (1198-1216) In. PERRY, Marvin. Civilização
ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 218
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
• Alta Idade Média = (séc. XII E XIII) = Apogeu
do poder da Igreja (Católica) Medieval que
acumulou vastas extensões de terra,
enriqueceu e concentrou um grande poder
religioso e secular.
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
• Os papas coroavam reis, decidiam
disputas territoriais e excomungavam
príncipes que discordassem de suas
decisões políticas.
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
• O clero estimulava as pessoas a acreditar
que eram imperfeitas e inferiores e a
buscar a redenção (salvação) na total
submissão à Igreja, que representava, no
mundo a vontade de Deus.
O poder da Igreja Católica na
Idade Média
• Postura servil perante Deus e a Igreja =
postura teocêntrica.
• Teocentrismo = visão de mundo cristã =
Deus = perfeição e superioridade = centro
de todas as coisas.
• Homem = imperfeito e pecador.
A Igreja e o controle da Cultura
na Idade Média
• A Igreja possuía o controle quase absoluto da
produção cultural;
• Apenas 2% da população européia era
alfabetizada;
• A escrita e a leitura estavam praticamente
restritas aos mosteiros e abadias;
A Igreja e o controle da Cultura
na Idade Média
• Os religiosos reproduziam ou traduziam textos
sagrados do cristianismo e obras de grandes
filósofos da Antigüidade Greco-Romana, como
Platão e Aristóteles, que não representassem
uma ameaça ao poder da Igreja.
• Imagine quanto conhecimento científico foi
ocultado!!!
O Sistema Feudal
• Depois da morte do imperador Carlos Magno
(814) a sociedade organizou-se em torno dos
grandes proprietários de terra = os senhores
feudais;
• Feudo = pequena corte = senhor feudal +
membros empobrecidos da nobreza +
cavaleiros + camponeses livres e servos =
unidos por uma relação de dependência =
vassalagem.
O Sistema Feudal
• Os moradores do feudo juravam defender as
terras do senhor (seu suserano) e, como seus
vassalos, recebiam o direito de viver na
propriedade, cultivar parte das terras, além de
receber a proteção do suserano. A posição de
destaque nessas cortes era ocupada pelos
cavaleiros que em tempos de ataques dos
bárbaros, formavam o exército do senhor
feudal.
O Sistema Feudal e a Literatura
• Na literatura aparecem relações entre nobres,
cavaleiros e senhores feudais, regidas por um
código de cavalaria baseado na lealdade, na
honra, na bravura, na cortesia.
O Sistema Feudal e a Literatura
• Princípio básico da literatura medieval:
• A afirmação da total subserviência de um
trovador à sua dama (no caso da poesia =
a lírica trovadoresca = as cantigas) ou de
um cavaleiro à sua donzela (no caso das
novelas de cavalaria);
• Enfim: subordinação a Deus e às damas.
As regras da conduta amorosa na
literatura medieval
O amor cortês
• Segundo o código do amor cortês, um
trovador deveria expressar seus elogios e
súplicas a uma mulher da nobreza, casada,
que tivesse uma posição social reconhecida.
Essa posição social era necessária para que
fosse criada, nos textos literários, uma
estrutura lírica equivalente à da relação de
vassalagem.
O amor cortês
• Assim, os termos que definiam as relações
feudais foram transpostos para as cantigas,
caracterizando a linguagem do Trovadorismo: a
mulher era a senhora, o homem era o seu
servidor (servo); prezava-se a generosidade, a
lealdade e, acima de tudo, a cortesia.
O amor cortês
• O amor era visto como uma forma de
sublimação dos desejos que transformava o
trovador em um homem cortês. A dama era
vista sob uma perspectiva idealizada, de
perfeição absoluta.
• Sublimar = exaltar; engrandecer; elevar à maior
perfeição.
Princípios básicos do amor cortês
• Coita de amor = (o homem é um coitado)
sofrimento provocado pelo amor não
correspondido = mulher (nobre dama)
inacessível;
• Idealização da dama por seu trovador = amor
que não se concretiza;
• “A conquista fácil torna o amor sem valor; a
conquista difícil dá-lhe apreço. (...)”
A linguagem da vassalagem
amorosa
• Unindo poesia e música, os textos medievais
eram divulgados de forma oral. Esse modo de
circulação determinou algumas de suas
principais características estruturais, como o
emprego de metros regulares e a presença
constante de rimas, por facilitarem a
memorização das cantigas.
As regras da vassalagem amorosa
• O trovador NÃO devia revelar, em sua cantiga,
o nome da dama a quem dirigia elogios, mas
precisava apresentá-la de modo a permitir que
os membros da corte a identificassem;
• Expressões para nomear a dama: senhor, mia
senhor, senhor fremosa, etc.)
As regras da vassalagem amorosa
• O trovador fala da mesura (mérito, valor) de
sua dama, pede que ela reconheça sua
“cortezia” (ou prez) e lhe garanta o “galardam”
(prêmio) a que tem direito por seguir as regras
da vassalagem amorosa.
As cantigas trovadorescas
As cantigas líricas
Cantigas de amor e de amigo
Cantigas de amor
• As cantigas de amor exprimem a paixão infeliz,
o amor não correspondido que um trovador
dedica a sua senhora;
• O eu-lírico é sempre masculino e dirige seus
elogios a uma dama;
• O homem é o “coitado” (sofre de uma dor
imensa) e a mulher é “formosa”;
• Destaca-se o valor moral, social e a
superioridade da dama.
Cantigas de amigo
• As cantigas de amigo falam de uma relação
amorosa que acontece entre camponeses;
• O tema central é a saudade;
• O eu-lírico é sempre feminino e representa a
voz de uma mulher (amiga) que manifesta a
saudade pela ausência do amigo (namorado ou
amante);
• Expõe a visão feminina da saudade e do amor;
• O amor é real e ocorre entre pessoas de
condição social semelhante.
As cantigas satíricas
Cantigas de escárnio e maldizer
As cantigas satíricas
• As cantigas de caráter satírico apresentavam
críticas ao comportamento social e de seus
pares, difamavam alguns nobres ou
denunciavam as damas que deixavam de
cumprir seu papel no jogo do amor cortês.
Cantigas de escárnio
• Nas cantigas de escárnio, o trovador critica
alguém por meio de palavras ambíguas (de
duplo sentido), para que não sejam facilmente
compreendidas. O efeito satírico que
caracteriza essas cantigas é obtido por meio de
ironias, trocadilhos e jogos semânticos. De
modo geral, ridicularizam o comportamento de
nobres ou denunciam as mulheres que não
seguem o código do amor cortês.
Cantigas de maldizer
• Nas cantigas de maldizer, o trovador faz suas
críticas de modo direto, explícito, identificando
a pessoa satirizada. Essas cantigas costumam
apresentar linguagem ofensiva e palavras de
baixo calão. Muitas vezes, tratam das
indiscrições amorosas de nobres e membros
do clero.
As novelas de cavalaria
As novelas de cavalaria
• As novelas de cavalaria são os primeiros
romances, ou seja, longas narrativas em
versos, surgidas no século XII. Elas contam as
aventuras vividas pelos cavaleiros andantes e
tiveram origem no declínio do prestígio da
poesia trovadoresca. Tiveram intensa
circulação pelas cortes medievais e ajudaram a
divulgar os valores e a visão de mundo da
sociedade medieval.
As novelas de cavalaria
• No chamado “ciclo bretão” surgem narrativas
centradas nas aventuras do herói lendário da
Grã-Bretanha, o rei Artur, que teria introduzido
o Cristianismo na Inglaterra e, com seus
cavaleiros da Távola Redonda, teria dominado
os anglos do Norte e os saxões do Oeste, no
fim do século V.
As novelas de cavalaria
• Neste ciclo narrativo, redigido em prosa
durante a época das Cruzadas, distinguimos
duas vertentes romanescas. Uma, de influência
religiosa, tem como obra exemplar A demanda
do Santo Graal. O romance narra a lenda da
busca da taça onde fora recolhido o sangue de
Cristo e do heroísmo dos heróis castos,
Galaaz, Perceval e Boors, que encarnam o
idealismo cavaleiresco, revelado na defesa da
fé cristã e na busca da graça divina, de que é
símbolo o cálice sagrado.
As novelas de cavalaria
• A outra vertente do romance de Cavalaria, de
origem e espírito cortesão, exalta a
sensualidade amorosa e a paixão adulterina. A
mais famosa narrativa desse segundo tipo é o
Amadis de Gaula: o personagem título, fruto de
um amor pecaminoso, põe-se ao “serviço” da
bela Criana e, após vitórias fantásticas sobre
monstros e gigantes, consegue merecer a
posse da mulher amada.
Sugestões de filmes:
Sugestões de filmes:
O HUMANISMO
“O cambista e sua esposa” , de Marinus Claeszon Van Reymerswaele (1539) =
pintor holandês que registra aqui o enriquecimento da burguesia.
O HUMANISMO
• Entre os séculos XIV e XV, uma mudança
significativa passa a ocorrer na Europa
Medieval. O homem começa a se libertar do
poder centralizador da Igreja e a desenvolver
uma nova mentalidade em que cabem
preocupações e prazeres mais humanos.
“Os efeitos de um bom governo”, de Ambrogio Lorenzetti (1290-1348)
= nessa obra o pintor retrata o reflorescimento da vida urbana e do
comércio, provocando maior interação entre pessoas de diferentes
segmentos sociais.
O surgimento da burguesia
• Na Itália do século XIII, as cidades-Estado que
se desenvolveram no norte do país tornaramse prósperos centros comerciais e bancários.
Roma, Milão, Florença, Veneza, Mântua,
Ferrara, Pádua, Bolonha e Gênova dominavam
o comércio marítimo com o Oriente e
controlavam a economia mercantil. A riqueza
passou a ser associada ao capital obtido pelo
comércio e não mais à terra, como ocorria na
sociedade feudal.
O surgimento da burguesia
• Muitos camponeses, atraídos pelas promessas
de prosperidade, transferiram-se para os
burgos, onde começaram a trabalhar como
pequenos mercadores. Surgia, assim, a
burguesia, constituída por todos aqueles que,
sem nobreza de sangue, acumulavam capital
por meio de atividades mercantis.
BURGO & BURGUESIA
• Na Idade Média, burgo era o nome dado à
muralha edificada em torno das vilas ou
cidades para proteção de seus moradores. O
termo passou a denominar a própria cidade
fortificada. Desse termo derivou a palavra
burguesia, que designava originalmente o
segmento da sociedade formado pelos
homens livres que moravam nos burgos,
dedicavam-se ao comércio e desfrutavam de
uma situação econômica confortável.
Uma cultura leiga
• Enriquecida com as atividades comerciais, a
burguesia necessitava de uma formação
cultural mais sólida, que a ajudasse a
administrar a riqueza acumulada. O burguês
passa a investir em cultura, algo que até então
só era feito pela Igreja e pelos grandes
soberanos. Aos poucos, os leigos começam a
conquistar um papel importante na produção e
circulação da cultura.
Uma cultura leiga
• A busca por uma formação levou à
redescoberta de textos e autores da
Antigüidade Clássica, considerada uma fonte
de saber a respeito do ser humano. As
universidades criaram programas especiais
denominados humanidades, nos quais os
alunos liam textos greco-latinos para estudar
poética, retórica, ética e política. Os
professores desses cursos eram conhecidos
como humanistas.
O HUMANISMO
• O Humanismo foi um movimento artístico e
intelectual que surgiu na Itália no final da Idade
Média (séc. XIV) e alcançou plena maturidade
no Renascimento. Buscava reviver os modelos
artísticos da Antigüidade Clássica,
considerados exemplos de afirmação da
independência do espírito humano.
O HUMANISMO
• O foco dos humanistas, portanto, era o ser
humano, o que os afastava do teocentrismo
medieval. Resgatava-se, assim, a visão
antropocêntrica característica da cultura
greco-latina.
ANTROPOCENTRISMO
• É a atitude ou doutrina que considera o
ser humano (o homem) o centro ou a
medida de todas as coisas.
O projeto literário do Humanismo
• O Humanismo é um momento de transição
entre o mundo medieval e o moderno. Assim o
projeto literário humanista não tem
características completamente definidas: o
velho e o novo convivem, provocando uma
tensão que se evidencia na produção artística e
cultural.
Características ideológicas da
produção literária do Humanismo
• Abandono da subordinação absoluta à Igreja
Católica;
• Resgate dos valores clássicos greco-romanos;
• Procura na Ciência uma explicação para
fenômenos até então atribuídos a Deus;
• Afirmação da capacidade do indivíduo em
controlar seu próprio destino.
Modelos artísticos
• Poetas italianos:
• Dante Alighieri (1265-1321) – “A Divina
Comédia” = poema didático-alegórico +
elementos da cultura clássica = proposta:
busca do caminho da justiça social e da
perfeição moral.
Modelos artísticos
• Francesco Petrarca (1304-1374) =
“Cancioneiros” = primeiro grande poeta
introspectivo e sentimental do Ocidente =
valorização do soneto = tema: o
platonismo amoroso.
A produção do Humanismo em
Portugal
• Reinado da Dinastia de Avis (1385):
• Crônica historiográfica e prosa doutrinária
(manual de normas de comportamento para os
nobres da corte).
• Reinado de D. Afonso V, no século XV:
ressurge a poesia, separada da música: a
poesia palaciana = de tendência humanista
A produção do Humanismo em
Portugal
• A poesia palaciana: composições coletivas,
produzidas para serem apresentadas nos
serões da corte.
• O teatro crítico e moralizante de Gil Vicente.
Sugestão de filme:
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Idade Media e Humanismo