Produto: JT - CAD_DOMINGO - 1 - 14/01/01 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 1D 95% 98% 100% PB Produto: JT - CAD_DOMINGO - 1 - 14/01/01 jornal da tarde 2% Preto 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 1D 100% COR Preto Domingo, 14 de janeiro de 2001 %HermesFileInfo:1-D:20010114: 1D [email protected] TUDO PRONTO: o zepelim da Goodyear vai subir para os céus da cidade, com seus 39 metros de comprimento e muito charme IBIRAPUERA: a sombra navega na superfície esverdeada do lago Observando São Paulo a bordo de um zepelim sanal”, a oito mãos. O dirigível é puxado de um lado para o outro. Em frente à cabine, um dos membros da equipe inicia uma mímica que só o piloto consegue entender. Sinais indecifráveis até para quem costuma pilotar helicópteros ou aviões. Quando o piloto recebe a autorização para levantar vôo, os motores situados aolado da gôndola impulsionam o dirigível, que empina o “nariz” para o alto e segue seu vôo de forma suave. Dentro da gôndola tudo é muito simples: seus três metros quadrados comportam equipamentos de segurança, duas poltronas na frente e um banco atrás. No teto, um espelho “olho de peixe”. Os vidros grandes da frente e dos lados da gôndola fazem lembrar um ônibus de linha. A comunicação interna é feita com fones de ouvido, devido ao barulho dos motores, situados dos dois lados da gôndola. Ao contrário do que pensa a maioria, o dirigível não pertence à rede Globo. Ele presta serviços à emissora durante eventos degrande porte. O contrato favorece as duas empresas: a Globo, que recebe imagens exclusivas, e a Goodyear, que tem sua marca divulgada em todo o país. “O dirigível é da Goodyear, o cinegrafista trabalha para a Goodyear, as imagens são nossas, e os equipamentos também. E eu ficono caminhão daGlobo, coordenando o trabalho”, explica o coordenador De Santos, e conclui: “Nós entregamos o pacote pronto para a Globo”. A grande diferença entre o dirigível e as demais aeronaves é a chance que se tem de interagir com as pessoas. Muitos param suas atividades para contemplar o gracioso balé do zepelim no céu. Quando avistam o dirigível, acenam. Outros aplaudem. “Às vezes, pode-se ouvir o que as pessoas falam”, diz o piloto chefe José Eduardo Blaschek, 46anos, 30 de profissão. Aexcitação de viajar no “blimp” da Goodyear dobra quando um celular cai em suas mãos. Um telefonema para um conhecido que mora no caminho pode provocar um diálogo surreal: - Alô, tudo bem? - Tudo! - Vá para a janela e olhe para cima. - O quê? - Vamos, faça! - O que foi? - Estou bem acima de você, no dirigível! - Hã? É você mesmo? Meu Deus! Você consegue me ver?! Blaschek fica sentado do lado esquerdo da cabine, ou gôndola, e comanda o dirigível através de um leme circular, na lateral de sua poltrona. À primeira vista a imagem lembra uma cadeira de rodas. Quando o leme é girado para trás, o dirigível imbica, provocando um balanço semelhante ao de um barco. Os comandos são iguais aos dos aviões leves, exceto um par de instrumentos peculiares: manômetros para verificar a pressão do invólucro e um medidor de temperatura do gás hélio. A gôndola comporta até cinco pessoas: o piloto e quatro passageiros.Mas nem sempre esse número é possível. “Não depende só das condições técnicas, e sim das atmosféricas: pressão, temperatura, umidade e vento”, explica o coordenador das atividades do Spirit of the Americas, Maurici De Santos. Assim, mesmo em um dia de sol, de boa visibilidade, o dirigível pode deixar de voar se todas as outras condições não forem boas. A preparação para o vôo, incluindo a checagem dos equipamentos, pode durar até 40 minutos. No ar, a autonomia do Spirit of the Americas passa de 24 horas. Quando tudo está pronto, os passageiros são encaminhados ao “blimp” e fecham-se as portas da cabine. O taxeamento da aeronave é feito de forma “arte- de jamais vistos. Uma passagem sobre o Parque do Ibirapuera estampa a sombra do “blimp” no lago esverdeado. Uma espiadela sobre o Museu do Ipiranga ou o Memorial daAmérica Latina revela alguns operários dormindo, outros tomando sol. Sobrevoar São Paulo a bordo de um dirigível é uma sensação única. As casas de telhas vermelhas, os rios escuros, os edifícios pontiagudos passeiam lentamente sob os nossos pés. Tudo é silencioso, como se estivéssemos em uma imensa bola de salão levada ao sabor do vento. Por um instante, a frenética São Paulo fica serena, romântica. Só não deixa de ser poluída: do alto, a atmosfera carregada é percebida com mais clareza. A névoa amarela que se mistura às nuvens escurece o dia e intoxica os habitantes. A majestade do zepelim impressiona até quem está dentro dele. Ao nos aproximarmos do mar de prédios, fica impossível não resgatar o espírito pioneiro de Santos Dumont, que numa tarde nublada de outono de 1901 encantou uma multidão eufórica ao contornar com o seu dirigí- vel nº6 a recém-inauguradaTorre Eiffel, em Paris. Abordo do dirigível, a primeira impressão é que tudo se passa em “câmera lenta”. Sua imensa sombra passa sobre casas e carros, chamando a atenção dos que estão em baixo. O Spirit of the Americas, trazido dos Estados Unidos em 1998 pela fabricantes de pneus Goodyear, é o único dirigível em operação na América Latina. Ele é menor que os antigos zepelins (que chegavam a medir 200 metros e pesar 200 toneladas), possui 39 metros de comprimento, 13 de altura e 10 de largura, mas não deixa de ter seu charme. O Spirit of the Americas chegou desmontado. Para retirá-lo do contêiner, montar sua cabine e inflar seu envelope com os 1.982 metros cúbicos de gás hélio, a Goodyear trouxe de sua sede em Arkon, Ohio, 14 engenhei- ros especializados. A cuidadosa montagem no hangar da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, consumiu dez horas. Controlado por uma equipe de 17 pessoas (armadores, engenheiros e mecânicos de maquina, manobristas de solo, técnicos eletrônicos e pilotos), o dirigível já sobrevoou Vitória, Curitiba, Salvador e Porto Alegre, emprestou seu charme aos céus da Argentina, Uruguai e Paraguai, porém é visto com mais freqüência em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital paulista, zarpa do Parque Aeronáutico de Manutenção do Campo de Marte, em Santana, zona norte. Seus vôos não têm dia ou horário fixo, mas, em média, durante cinco dias por semana participa de feiras, eventos e transmissões esportivas, folgando dois dias. O “blimp” -- apelido dado aos dirigíveis por um engenheiro americano que cuidava de sua manutenção – sobrevoa São Paulo a aproximadamente 300 metros de altura. O baixa altitude, aliada à uma velocidade média de 56 km/h permite ao passageiro apreciar ângulos da cida- Das ruas de um bairro, ao céu... poluído do centro da cidade. Um pouco de verde: Pacaembu... e viaduto Ana Paulina. O espelho “olho de peixe” vê a... gôndola, com piloto e repórter Imagens: isso é o que ele procura gócio é imagem aérea”, define. A companhia só permite levar em seu dirigível as pessoas que participam direta ou indiretamente do projeto, como revendedores de pneus, jornalistas e atletas patrocinados. “Recebemos dezenas de ligações, fax e e-mails de pessoas pedindo para voar.” Os pedidos concedidos, geralmente, requerem uma “carga emocional”, como o caso de uma senhora de mais de 90 anos, que escreveu à Goodyear contando sua história e pedindo uma oportunidade para voar. Atendida, levou o filho para dividir a sensação que havia sentido quando veio para o Brasil a bordo do Graf Zeppelin, 70 anos atrás. Em Porto Alegre, um garoto de 12 anos foi convidado para voar depois de contatar, do solo, o piloto enviando mensagens em código Morse com uma caneta a laser. “Gostaríamos de atender a cidade inteira, mas infelizmente não temos co- mo carregar dezenas de pessoas” lamenta De Santos. Uma pesquisa independente demonstrou que as pessoas ficam tão maravilhadas ao verem os dirigíveis, que podem se lembrar exatamente quando e onde os viram. Sós nos Estados Unidos, a cada ano, os três dirigíveis da Goodyear são vistos pela primeira vez por 60 milhões de pessoas. A construção de um dirigível exige, em média, US$ 5 milhões e sua manutenção anual mais US$ 1 milhão. Os “blimps” são feitos desde 1925, quando a Goodyear construiu o Pilgrim (Peregrino), seu primeiro dirigível de gás hélio para atividades de relações públicas. Os que se seguiram receberam os nomes dos vencedores da famosa Copa América de Iatismo, hábito do então presidente da empresa, Paul W. Lichtfield. A paixão pelo esporte levou Lichtfield a idealizar os “blimps” como “navios aéreos” gigantes. Desde en- tão, a Goodyear construiu mais de 300 dirigíveis. Atualmente, a empresa mantém outras seis aeronaves: três nos EUA, duas na Europa e uma na Austrália. O retorno publicitário do Spirit of the Americas está sendo tão grande, que a Goodyear já estuda trazer para o Brasil um dirigível maior e mais moderno. O investimento necessário para este projeto é de US$ 13 milhões. Quem vê o dirigível cruzar o céu pode até se perguntar como este enorme balão consegue flutuar sem ser levado pela força dos ventos. Entretanto, a segurança do dirigível hoje, ao contrário de 63 anos atrás -- quando o gigantesco Hindemburg, construído pelo conde alemão Ferdinand von Zeppelin se incendiou, em Nova York –, é enorme. A diferença principal foi a substituição do hidrogênio, inflamável, pelo hélio. Qualquer rasgo no envelope pode demorar dias pa- ra ser notado, pois o vazamento de hélio é ínfimo. Operando há mais de 70 anos com estas aeronaves, a Goodyear nunca registrou um acidente fatal. Em quase três anos de operação no Brasil, o Spirit of the Americas nunca sofreu problemas técnicos ou mecânicos. “O vento e a chuva não surgem de repente. As torres de controle nos comunicam com antecedência”, conta o coordenador De Santos. Por ser lento, o dirigível não é vulnerável aos “perigos animais”, como as aves que entram nos motores, provocando pane. “O dirigível é muito lento, não há como colidir com o pássaro”, revela José Eduardo Blaschek – único piloto habilitado para dirigíveis na América Latina. “Na pior das circunstâncias, o piloto é quem desce, porque o dirigível não cai. Mesmo sem motores, o dirigível tem a opção de flu- tuar como um balão”, diz ele. A gôndola é amarrada ao balão com 12 cabos de aço. O envelope é feito de neoprene (roupa de mergulhador) e possui uma capa que mistura alumínio e couro. Poucos aeroportos no País estão equipados para recebê-lo. É preciso uma área gramada como a do Campo de Marte, em São Paulo, por exemplo. Para cada viagem para outra cidade, o zepelim deve ser acompanhado de um comboio que leva sua tripulação e equipamentos necessários para sua ancoragem. Uma viagem ao Rio de Janeiro pode demorar 12 horas. Blaschek, que já pilotou caças F-5, confessa que nunca pensou em terminar a carreira dirigindo um “blimp”, mas que hoje é difícil ficar longe dele. Diz que no Brasil já viu muitos lugares bonitos e destaca o Cristo Redentor e as Cataratas do Iguaçu. Quanto ao mais feio... “talvez as favelas... é uma visão horrível... ” Para saber como é sobrevoar a cidade no único dirigível na América Latina, o repórter Marc Tawil e o fotógrafo Helvio Romero fizeram companhia ao piloto José Eduardo Blaschek em uma viagem pelo céu da capital A Goodyear não usará seu zepelim para passeios turísticos. Como imensa plataforma aérea, seu negócio é filmar a cidade A Goodyear não pretende disponibilizar Spirit of the Americas para o turismo. O coordenador Maurici De Santos entende que o “blimp” tem atividades mais “nobres” ou mais “eficientes”. “O dirigível é uma plataforma aérea. Fica parado lá em cima, sem barulho, super estável. O que você pode ter com isso? Imagem aérea. O melhor ne- 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Interatividade