PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA. “Elaboração de uma seqüência didática para a aprendizagem de Valor Absoluto e da Função Modular, utilizando a organização curricular em rede” Dárcio Costa Nogueira Júnior Belo Horizonte 2008 Dárcio Costa Nogueira Júnior “Elaboração de uma seqüência didática para a aprendizagem de Valor Absoluto e da Função Modular, utilizando a organização curricular em rede” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientador: Prof. Dr. João Bosco Laudares Belo Horizonte 2008 Dárcio Costa Nogueira Júnior “Elaboração de uma seqüência didática para a aprendizagem de Valor Absoluto e da Função Modular, utilizando a organização curricular em rede” Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática, Belo Horizonte, 2008. Prof. Dr. João Bosco Laudares – Orientador e Presidente da banca (PUC Minas) Doutor em Educação: História, Política e Sociedade (PUC-SP) Prof. Dr. Benedito Antônio da Silva (PUC-SP) Doutor em Matemática (PUC-SP) Profª. Drª. Eliane Scheid Gazire (PUC Minas) Doutora em Educação (UNICAMP) A Deus, única razão da minha existência. AGRADECIMENTOS A Deus, pela inspiração, vida, saúde e forças quando pareciam que elas não viriam. A minha família: pai e Vanilda – sempre presentes no coração e nas orações, mesmo quando a distância é tão grande. Mãe e Oswaldo – presente nestes dois anos tão importantes. É sempre bom ter vocês ao lado. Tatiana e Douglas – a fraternidade que nos une jamais irá ser abalada. Temos que acreditar nisso. Ao prof. Dr. João Bosco Laudares pela orientação, paciência e comprometimento em partilhar sua experiência e conhecimento. Um mestre na essência da palavra. Aos professores Dr. Benedito Antônio da Silva e Drª Eliane Scheid Gazire, pelas contribuições preciosas ao fazerem parte da banca examinadora. Aos professores e amigos do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciência e Matemática, cuja contribuição a cada encontro se faz presentes nas linhas e entrelinhas desta pesquisa. Aos funcionários da PUC Minas, pelo apoio, disponibilidade e sorriso sempre presente. Aos meus amigos Andréia Silva, Maíra Kelly e Marcelo Eustáquio, professores de Matemática que sempre compartilham momentos em busca do contínuo aprimoramento. Ao amigo Pe. Sérgio Luiz e Silva, pelas inúmeras orações e momentos de amizade. “Há amigos mais chegados que um irmão” e você é um deles. Aos amigos da família Bonifácio, meu segundo lar. A inspiração musical vinda de vocês é o contrapeso das dificuldades desta vida. Ao meus amigos e alunos do Colégio Militar de Belo Horizonte, fundamentais para a realização desta pesquisa. RESUMO O ensino de funções é um tema de pesquisa em Educação Matemática com inúmeros trabalhos publicados. Entretanto, o ensino da função modular e do valor absoluto possui poucas pesquisas que tratam especificamente deste assunto. Por essa razão, esta pesquisa tem por objetivo geral a elaboração de uma seqüência didática envolvendo atividades investigativas para o ensino de função modular e do valor absoluto numa abordagem curricular em rede. Para a elaboração do produto desta pesquisa, foram propostas algumas atividades investigativas para alunos do Ensino Médio de uma escola federal de Belo Horizonte. As informações obtidas durante a elaboração da seqüência comparadas com os dados obtidos na aplicação das atividades contribuíram para a consolidação do produto desta pesquisa que é a seqüência didática para ensino de função modular e valor absoluto numa perspectiva curricular em rede. As contribuições na aprendizagem de valor absoluto são percebidas no estabelecimento da rede através da interação entre álgebra, a representação na reta numérica e a representação gráfica. Palavras chaves: Valor absoluto, seqüência didática, currículo em rede. ABSTRACT The teaching of functions is a field of study in Math Education with a great number of published researches in Brazil. However, the teaching of the modular function and of the absolute value has few published researches that approach specifically this given theme. Given that reason, this research has the general purpose of the elaboration of a didactics sequence involving investigative activity for the teaching of the modular function and absolute value on a curricular approach on network. In order to obtain the results in this research, some investigative activities where proposed to High School students of a federal public school in Belo Horizonte. The information obtained during the elaboration of the sequence, compared with data obtained on the application of the activity contributed for the consolidation of the product of this research, witch is the didactics sequence for the teaching of modular function and absolute value on a curricular approach on network. The contributions in learning of absolute value where noted in the establishing of the network thru the interaction between algebra, the representation on the numerical line and the graphical representation. Key words: Absolute Value, didactics sequence, network teaching LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Definição geométrica de função.........................................................................22 FIGURA 2 Interpretação geométrica da definição de módulo.............................................25 FIGURA 3 O gráfico da função modular básica...................................................................26 FIGURA 4 Exemplo de gráfico de função modular.............................................................27 FIGURA 5 Exemplo de gráfico de função modular.............................................................28 FIGURA 6 Seqüência relativa à construção do gráfico de uma função modular.................29 FIGURA 7 Exemplo de gráfico de função modular.............................................................30 FIGURA 8 Seqüência de construção de um gráfico de função modular..............................68 FIGURA 9 Interface do software Geogebra.........................................................................69 FIGURA 10 Resolução de uma equação modular na reta numérica....................................71 FIGURA 11 Resolução de uma equação modular no plano cartesiano...............................72 FIGURA 12 Situação problema envolvendo Óptica e função modular...............................73 FIGURA 13 Resolução de uma inequação modular na reta numérica.................................75 FIGURA 14 Resolução da inequação modular no plano cartesiano.....................................76 FIGURA 15 Protocolo extraído da atividade 1 – problema 11.............................................81 FIGURA 16 Protocolo extraído da atividade 1 – problema 14.............................................81 FIGURA 17 Protocolo extraído da atividade 1 – aplicação em Estatística..........................82 FIGURA 18 Protocolo extraído da atividade 2, problema 2.................................................84 FIGURA 19 Protocolo extraído da atividade 2, problema 3i................................................84 FIGURA 20 Protocolo extraído da atividade 2, problema 6.................................................85 FIGURA 21 Protocolo extraído da atividade 2, problema 7.................................................86 FIGURA 22 Protocolo extraído da atividade 3, problemas 6 e 7.........................................87 FIGURA 23 Protocolo extraído da atividade 3, problema 8.................................................88 FIGURA 24 Protocolo extraído da atividade 3, problemas 11e,f.........................................89 FIGURA 25 Protocolo extraído da atividade 3, última parte................................................90 FIGURA 26 Protocolo extraído da atividade 4, resolução de inequação em no plano cartesiano..............................................................................................................................92 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................. 13 1 O CONCEITO DE FUNÇÃO E FUNÇÃO MODULAR.........................19 1.1 O CONCEITO DE FUNÇÃO......................................................................................19 1.2 O CONCEITO DE MÓDULO.....................................................................................23 1.3 O CONCEITO DE FUNÇÃO MODULAR................................................................25 1.4 APLICAÇÕES DO CONCEITO DE MÓDULO E FUNÇÃO MODULAR...........31 1.4.1 Aplicação do conceito de módulo e função modular no plano cartesiano.............31 1.4.2 Aplicação do conceito de módulo e função modular na reta numérica................32 2 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E A FUNÇÃO MODULAR NOS LIVROS DIDÁTICOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA...........................................................................................................34 2.1 PARÂMETROS CURRICULARES..........................................................................34 2.2 OS LIVROS DIDÁTICOS..........................................................................................38 2.3 ANÁLISE DE TEXTOS..............................................................................................41 2.3.1 Matemática – Contextos e Aplicações – Luiz Roberto Dante...............................41 2.3.2 Matemática – Ensino Médio – Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz.............42 2.3.3 Matemática – Conceitos, Linguagem e Applicações – Manoel Paiva...................43 2.3.4 Matemática – Uma nova abordagem – José Roberto Bonjorno e José Ruy Giovanni...............................................................................................................................44 2.3.5 – Matemática – Construção e Significado – José Luiz Pastore Mello...................44 2.3.6 – Matemática – Ciências e Aplicações – Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David Degenszajn, Roberto Perigo e Nilze de Almeida..............................................................45 2.4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES................................................................................46 3 O CURRÍCULO EM REDE – A ATIVIDADE INVESTIGATIVA E A SEQUENCIA DIDÁTICA.............................................................................48 3.1 – A PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA................................................48 3.2 – CURRÍCULO EM REDE.........................................................................................50 3.3 – ATIVIDADES INVESTIGATIVAS E A SEQUÊNCIA DIDÁTICA...................53 4 UMA PROPOSTA METODOLÓGICA A PARTIR DE UMA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE VALOR ABSOLUTO E FUNÇÃO MODULAR.....................................................................................................60 4.1 METODOLOGIA.........................................................................................................60 4.2 FASES DO EXPERIMENTO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......61 4.3 A SEQUENCIA DIDÁTICA........................................................................................63 4.4 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES.............................................................................77 4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS..............................................................79 5 CONCLUSÃO..............................................................................................93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................96 APÊNDICE................................................................................................................100 13 INTRODUÇÃO Atuando como professor de Matemática do Ensino Fundamental e Médio desde 1998, este pesquisador ministrou aulas para todas as séries do Ensino Médio e para quase todas as séries finais do Ensino Fundamental. Entre as séries trabalhadas, a que despertou interesse em pesquisas, tendo em vista as inúmeras questões provenientes das atividades e da atuação em sala de aula, foi a primeira série do Ensino Médio. A dificuldade com o estudo de funções, mesmo tendo o conteúdo sido ministrado na série anterior fica evidenciada a medida em que se aprofunda em alguns conceitos e se aplica em alguns tipos básicos, como a do 1º e 2º graus que são estudadas na série anterior. A introdução de um novo tipo de função, como é o caso da modular, remete uma série de conflitos devido a diversidade de situações e casos envolvidos no estudo desta função. A exploração dos gráficos com uso de softwares, prática deste pesquisador desde a conclusão de sua especialização em Informática na Educação, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em 2001, tem contribuído para uma aprendizagem mais significativa de funções. Porém, a organização linear e compartimentada dos currículos nas escolas em que este pesquisador atuou tem refletido no processo ensino e aprendizagem de modo a não garantir uma compreensão do tema estudado. Desse modo, a reestruturação do currículo em uma nova organização em rede tornou-se um desafio. A procura por temas que se estabelecessem como nós de ligações entre outros diversos nós da rede resultou na escolha de apenas um nó para mostrar de que maneira essa rede se estabelece no contexto escolar. 14 A função modular e o valor absoluto foram os temas escolhidos nesta pesquisa como nós da rede para serem analisados quanto a suas possíveis interações com outros temas do currículo de Matemática na primeira série do Ensino Médio. Na escolha deste tema levou-se em conta a mais recente proposta de Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM 2006), que reforça a prioridade do ensino de funções para a Educação Básica. No entanto, existem lacunas nesta proposta que provocam equívocos de interpretação e que acarretam inúmeras perdas no ensino de Matemática além de desestabilizar o processo de aprendizagem e interação entre professor e aluno. Uma dessas lacunas é o estudo da função modular, que pelo fato de ser a única função não explorada amplamente pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, tem sido abordada de maneira superficial ou até mesmo suprimida nos livros didáticos do Ensino Médio. Assim, se fez necessária uma análise apurada dos impactos que o ensino de função modular e valor absoluto pode promover na concepção geral de funções, proporcionando a construção de um novo significado para o estudante, e até mesmo uma nova maneira de lidar com situações problemas e a investigação de novos conceitos. O ensino de função modular, na Educação Básica, bem como nas disciplinas de introdução ao Cálculo e Fundamentos de Matemática, é uma grande oportunidade para estabelecer estas conexões entre seus temas e com outras áreas de conhecimento, através de atividades que favoreçam a investigação em Matemática. A produção acadêmica em Educação Matemática no Brasil, no que diz respeito ao ensino e aprendizagem de valor absoluto e função modular, apresenta poucos trabalhos específicos sobre este tema, razão pela qual despertou interesse neste pesquisador. Na busca pelos trabalhos que mais se aproximassem do objeto de estudo desta pesquisa, destacam-se três, sendo duas dissertações defendidas no programa de Pós-graduação dos mestrado profissional em Ensino de 15 Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e um artigo apresentado no VIII Encontro Nacional de Educação Matemática. A dissertação de mestrado apresentada por Umberto Almeida Silva intitulada "Análise da abordagem de função adotada em livros didáticos de Matemática da Educação Básica" foi apresentada no segundo semestre de 2007 no programa do mestrado profissional em Ensino de Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O autor buscou verificar quais são as estratégias utilizadas pelos autores desses livros para apresentar a noção de função, se a relação discreto/contínuo fica evidente na construção de gráficos, e se a conversão entre os registros gráfico e algébrico ocorre nos dois sentidos. Para tanto, fez uma análise qualitativa de cinco obras verificando que na grande maioria dos livros a conversão entre os registros gráfico e algébrico não ocorre nos dois sentidos, e que as variáveis visuais pertinentes geralmente não são levadas em conta, no esboço de gráficos. No mesmo programa de Pós-graduação, Antonio dos Santos defendeu sua dissertação intitulada "Revisando as funções do 1º e do 2º grau com a interatividade de um hiperdocumento" no fim do ano de 2005. A pesquisa explorou as múltiplas interações que podem ser estabelecidas quando se usa um software para o ensino de aprendizagem de funções. Os resultados mostraram que a aprendizagem se tornou mais significativa com o uso do software, trazendo um incentivo a mais para que os alunos estudem o conteúdo de funções do 1º e 2º graus. O artigo “Formalização do conceito de função no Ensino Médio: uma seqüência de ensino-aprendizagem” foi apresentado por Maria Isaura de Albuquerque Chaves e Hamilton Cunha de Carvalho no VIII Encontro Nacional de Educação Matemática, realizado no estado de Pernambuco em 2004. Nesta comunicação científica, os autores propõem uma forma de aprendizagem mais significativa de funções. Sendo assim, a proposta inicia-se explorando a 16 noção intuitiva de funções para em seguida estudar situações em que ocorrem dependência entre os dados. Finalmente, gráficos, tabelas e situações problemas se alternam na consolidação do ensino e aprendizagem de funções. A partir deste cenário de pesquisa, a problemática consistiu em saber como uma seqüência didática, aplicada ao estudo de função modular e valor absoluto, usando a concepção e organização curricular em rede, poderia estabelecer relações e interações com os diversos saberes envolvidos na aprendizagem de funções no Ensino Médio. Tendo em vista o problema de pesquisa, buscou-se propor uma seqüência didática para o ensino e aprendizagem através da investigação e construção do conhecimento em função modular e valor absoluto, utilizando a organização curricular em rede através da interpretação geométrica em na reta numérica e no plano cartesiano. Uma proposta similar foi apresentada por Friedlander (1995) em seu artigo sobre o ensino de valor absoluto numa abordagem em espiral. Através de interpretações geométricas na reta numérica e especialmente no plano cartesiano, ele propõe uma abordagem que contribui para uma aprendizagem significativa de equações e inequações modulares sem a necessidade de resolver pelo método algébrico, que em muitas situações é considerado mais longo e intrincado. A partir do objetivo geral, fez-se necessária a elaboração de atividades investigativas sobre o conceito e aplicações de função modular e valor absoluto para alunos do Ensino Médio. Em seguida, ocorreu a aplicação do instrumento de pesquisa para posterior avaliação dessas atividades tendo em vista a análise do aprendizado e a elaboração da seqüência didática para a aprendizagem de função modular e do valor absoluto numa perspectiva curricular em rede. Durante a aplicação das atividades, o uso do software de Geometria dinâmica Geogebra, que por ser um software livre compatível com os sistemas Windows e Linux e por apresentar boa interface e navegabilidade, contribuiu para a estruturação da seqüência didática. 17 A seqüência didática para o ensino de função modular e valor absoluto na perspectiva curricular em rede é o produto desta pesquisa. As atividades que constituem a seqüência foram revistas e adaptadas de acordo com as informações obtidas ao logo da pesquisa. A seqüência é apresentada de forma integral nos anexos deste trabalho. Verificou-se através das informações obtidas na fase de elaboração das atividades que constituem a seqüência didática e durante a sua aplicação que a interação entre os diversos temas intra-matemáticos e as conexões com temas extra-matemáticos contribui para uma aprendizagem mais significativa do conceito de função modular. No primeiro capítulo é apresentado o conceito de valor absoluto e função modular. Através de uma abordagem em rede, são apresentadas situações problemas em que igualdades e desigualdades modulares são resolvidas na reta numérica e no plano cartesiano. No segundo capítulo, os Parâmetros Curriculares Nacionais são analisados tendo em vista o ensino de função modular. No capítulo seguinte, os temas valor absoluto e função modular são analisados quanto a sua apresentação em alguns livros didáticos de Matemática para o Ensino Médio. No quarto capítulo são apresentados fundamentos para a construção de uma rede curricular em que a função modular é um dos nós de interação entre as diversas funções e outros temas da Matemática, como a Geometria Analítica, através de atividades investigativas e da formação de uma seqüência didática. No quinto capítulo, a metodologia de pesquisa é apresentada. A seqüência didática é analisada tendo em vista as possíveis interações formadas em relação a rede curricular que se estabelece ao longo das atividades. Em seguida, as informações coletadas durante a aplicação das quatro atividades são analisadas, mostrando os efeitos da seqüência sobre a aprendizagem de valor absoluto e função modular. 18 Na conclusão, são apresentadas algumas considerações e recomendações a partir das informações obtidas na pesquisa. 19 1 O CONCEITO DE FUNÇÃO E FUNÇÃO MODULAR 1.1 O CONCEITO DE FUNÇÃO O conceito de função é um conteúdo que desperta mais interesse no ensino e aprendizagem da Matemática. Devido a suas inúmeras aplicações na própria Matemática e em outras áreas de conhecimento como a Física, Química, Informática e Biologia, entre outras, existe uma tentativa de estudar o seu conceito com o foco na área de conhecimento em que se pretende fazer a aplicação. Porém, limitar o conceito de função apenas às suas aplicações pode trazer dificuldades na construção do seu significado. Nesse contexto, percebe-se que o estudo do conceito de função nem sempre é proposto com o rigor matemático necessário, resultando em diversos erros de concepção na aprendizagem em relação a esse tema. A compreensão do conceito de função abre perspectivas para se fazer aplicações consistentes como crescimento populacional, demanda e oferta de mercado, movimento de uma partícula, ondas sonoras, harmonia musical entre outras. Para se definir função é necessário compreender o significado de variável, incógnita e parâmetro. Sobre essa necessidade, Usiskin (1995) propõe que na concepção da Álgebra como estudo de relações de grandezas, sejam estudadas as noções de variável dependente e independente a partir do significado de argumento (valores particulares do domínio de uma função) e parâmetro. Sobre as idéias de função no estudo da Álgebra, 20 trata-se mais uma vez de uma questão da importância relativa da visão da Álgebra como estudo de relações entre quantidades, em que a variável é manifesta predominantemente como argumento, em comparação com os outros papéis da Álgebra: como a Aritmética generalizada ou como provedora de meios para a resolução de problemas. (USISKIN, 1995, p.21) Segundo Usiskin (1995), parâmetro é uma letra que representa um número do qual dependem outros. Desse modo, ao analisar uma relação do tipo y = ax + b , entende-se por parâmetros as letras a e b, se considerarmos que as variáveis são x e y. Ao definir incógnita, Usiskin (1995) afirma que a letra é utilizada para simplificar e resolver uma determinada situação problema proposta algebricamente. Assim, em uma equação pode-se afirmar que a letra é apresentada como uma incógnita. Para Courant (2000), ocorre com freqüência entes matemáticos que podem ser livremente escolhidos a partir de um conjunto S de entes quaisquer. Assim, o autor denomina tal ente de uma variável dentro do campo de variação ou domínio S. A utilização torna-se conveniente quando se quer fazer afirmações envolvendo elementos escolhidos num conjunto equiprovável. O domínio da variável não precisa ser necessariamente numérico e nem precisa conter um número infinito de elementos. A variável numérica, tipo de variável abordada nesta pesquisa, pode apresentar um domínio de variabilidade constituído por um intervalo da reta real. Segundo Courant (2000), a variável numérica, nesta situação, denomina-se variável contínua no intervalo, podendo o domínio ser prolongado até o infinito. Sobre os tipos de variável, Caraça (1998) afirma que a variável é o que for determinado pelo conjunto numérico que a representa e que dois casos particularmente importantes são: a) O domínio é o conjunto dos números reais compreendidos entre dois números reais a e b dados, ou, como correntemente se diz: o conjunto dos números reais do intervalo (a,b); a variável x diz-se então variável contínua (porque o conjunto dos 21 números reais é o equivalente aritmético do contínuo geométrico), ou simplesmente variável real. b) O domínio é o conjunto infinito dos números naturais 1, 2, 3, ...; utilizaremos, neste caso, o símbolo n e designaremos a variável por variável inteira. (CARAÇA, 1998, p.120) Este tipo de distinção entre variável contínua e inteira se faz necessária para a compreensão de princípios da função como a continuidade, a imagem e o limite de uma função. A não distinção destes dois casos pode resultar em dificuldades no esboço gráfico de uma função, determinação de seu domínio e conjunto imagem e propriedades de funções como translação de eixos e gráficos de funções transformadas. Essa metodologia para o estudo do conceito de função a partir da definição de variável é proposta por Courant (2000) e Caraça (1998). Ambos optam por sistematizar o significado de variável para não recorrer a manipulações que envolvem produto cartesiano e relação entre dois conjuntos. Assim, Sejam x e y duas variáveis representativas de conjuntos de números; diz se que y é função de x e escreve-se y = f(x), se entre as duas variáveis existe uma correspondência unívoca no sentido x → y . A x chama-se variável independente, a y variável dependente. (CARAÇA, 1998, p.121) Segundo Courant (2000), o conceito de função possui destaque no estudo da Matemática devido a suas aplicações em outras áreas de conhecimento como a Física, uma vez que leis físicas são modelos matemáticos que expressam dependência entre grandezas. Logo, para este autor, a função matemática é uma lei que rege a interdependência de quantidades variáveis. Considerando o plano cartesiano, sistema formado no plano por dois eixos perpendiculares tais que o semi-eixo positivo Ox se pode levar à coincidência como o semi-eixo positivo Oy, por uma rotação de 90º no sentido anti-horário, é possível estabelecer uma definição geométrica de função. Para Caraça (1998), 22 Seja P um ponto qualquer da curva e tiremos, por ele, perpendiculares aos eixos, as quais os encontram nos pontos A e B; sejam a e b os números reais (relativos) iguais, respectivamente, às medidas algébricas de OA e OB . Suponhamos feita uma construção análoga para cada ponto da curva e façamos corresponder a cada número a o número b(...) Fica assim definida uma correspondência do conjunto dos aa – variável x – ao conjunto dos bb – variável y – fica, portanto, definida a função y(x). (CARAÇA, 1998, p.125) Figura 1: definição geométrica de função segundo Caraça (1998). A partir desta definição de função proposta por Caraça (1998) fica bem perceptível que a curva no plano cartesiano, para representar uma função, só pode ser interceptada uma única vez por cada reta paralela ao eixo Oy, garantindo a correspondência unívoca no sentido x → y . A definição geométrica de uma função remete ao conceito de imagem geométrica de uma função, que segundo Courant (2000), é o conjunto dos pontos no plano cartesiano cujas coordenadas (x,y) estão na relação y = f (x) . Sendo assim, o conceito de função, ao ser abordado tanto na forma algébrica quanto na forma geométrica, é um facilitador para poder estabelecer vínculos com todos os campos da 23 Matemática e proporcionar interpretações em outras áreas de conhecimento, como a Física, Química e Biologia, por exemplo. Para Braga (2006), o ensino de função é um dos fundamentos do Ensino Médio e sua abordagem necessita ser articulada com uma metodologia que realmente possibilite a concepção do conceito de função sem os vícios presentes do tecnicismo, ainda presente nas escolas. Assim, “a metodologia e o conteúdo estão entrelaçados enquanto componentes escolares. E mais, o sucesso da disciplinarização de um saber no ambiente escolar está diretamente relacionado à adequação e à eficiência desse entrelaçamento”. (BRAGA, 2006, p. 147). O estabelecimento de uma rede curricular entre Álgebra e Geometria pode ser consolidado no estudo de funções. A definição de função, ao ser abordada algebricamente e geometricamente, permite a compreensão de propriedades gráficas da função, além de relacionálas com outros conceitos como domínio, imagem, continuidade, máximo e mínimo, intervalos em que a função é crescente ou decrescente, entre outros. 1.2 O CONCEITO DE MÓDULO No estudo de função modular, o impacto dessa abordagem pode facilitar a compreensão da definição de valor absoluto, pois o conceito de módulo ao ser aplicado ao conceito de função proporciona uma abordagem bem articulada e em rede entre Álgebra e Geometria. Ao definir módulo, sua aplicação em equação modular e inequação modular pode tornar-se mais promissora em termos de ensino e aprendizagem quando a abordagem não foca apenas a intrincadas resoluções algébricas, mas também a interpretações geométricas em IR e IR² (na reta numérica e 24 no plano cartesiano, respectivamente) que em muitas situações, são métodos mais simples de resolução e possibilitam uma melhor visualização do comportamento gráfico de função e maior compreensão da resoluções de equações e inequações modulares. O conceito de módulo pode ser abordado de diversas maneiras, dependendo do nível escolar. Na abordagem espiral proposta por Friedlander (1995), o valor absoluto é estudado em várias etapas do ensino de Álgebra. Segundo o autor, em cada etapa a seqüência desenvolve a capacidade do aluno em compreender e visualizar situações problemas de complexidade crescente. Essa abordagem em espiral associada à interação com a Geometria Analítica favorece a compreensão da resolução de problemas que envolvem o módulo de um número real. Em séries com predominância do pensamento pré-algébrico, em geral a abordagem consiste numa análise aritmética com pequenas interpretações geométricas na reta numérica, quase sempre, relacionadas a distância entre dois pontos ou mensurabilidade de um segmento. Para definir valor absoluto de um número, Caraça (1998) define número relativo como a diferença entre dois números reais quaisquer, que pode ser chamada positiva, nula ou negativa, conforme o valor dos dois números reais tomados. Em seguida, Caraça (1998) define valor absoluto como um número real independente de suas qualidades no campo relativo. Para indicar o valor absoluto de um número, encerra-se esse número por dois traços verticais. Outra maneira de definir o valor absoluto de um número é apresentada por Lima (1997), que propõe que o valor absoluto de um número x é o maior dos números x e –x. A interpretação da definição de valor absoluto pode estabelecer aplicações em outras áreas da Matemática. Na Aritmética, existe uma propriedade da raiz com índice par que 25 essencialmente depende da definição de valor absoluto. Assim, n x n = x se x ∈ IR e n é natural par diferente de zero. Aplicado à Geometria Analítica, o valor absoluto de um número real pode ser interpretado como a distância entre dois pontos na reta numérica (IR). Se considerarmos dois pontos da reta numérica, X e Y, com respectivas coordenadas x e y, temos que a distância do ponto X ao ponto Y é dado por x − y . Figura 2: a interpretação geométrica da definição de Módulo na reta numérica. Segundo Lima (1997), a interpretação de valor absoluto como distância, no eixo real, entre dois pontos de coordenadas estabelecidas permite visualizar intuitivamente o significado e as resposta de algumas questões envolvendo módulos, como a resolução de equações e inequações modulares. 1.3 O CONCEITO DE FUNÇÃO MODULAR A definição de função modular permite a aplicação do conceito de módulo no plano cartesiano. Essa aplicação abre perspectivas para inúmeras relações e aplicações do conceito de módulo com o conceito de função, gráfico de uma função, função composta, translação de eixos, distância, resolução de equações e inequações na reta numérica e no plano cartesiano, condição 26 de existência para propriedades aritméticas ou aplicações em outras áreas de conhecimento que são válidas apenas para números estritamente positivos. A definição da função modular básica¹ decorre diretamente da definição de módulo. Porém, torna-se essencial compreender que em certas funções é necessário o uso de duas ou mais sentenças. É nesse caso que se encontra a função modular básica, dada por x, se x ≥ 0 f ( x) = x = . − x, se x < 0 Por se tratar de uma função definida por duas sentenças, a representação gráfica desta função no plano cartesiano consiste na reta bissetriz do 1º quadrante para valores positivos do domínio da função f, e na reta bissetriz do 3º quadrante para valores negativos do domínio da função f. O domínio da função é o conjunto de todos os números reais, porém sua imagem é formada por todos os números reais não negativos. Figura 3: O gráfico da função modular básica. ___________ ¹ A nomenclatura função modular básica, neste trabalho, será empregada para a função valor absoluto em sua forma básica, isto é, f(x) = |x|. 27 Para estudar as transformadas oriundas da função modular é possível fazer aplicações de função composta e translação de eixos para a construção de gráficos. Esses gráficos, em sua grande maioria, podem ser determinados através de princípios geométricos, como a simetria, principalmente em relação ao eixo Ox, e eventualmente em relação ao eixo Oy. Ao esboçar, por exemplo, o gráfico da função g ( x ) = x 2 − 4 x , determina-se o esboço gráfico da função f ( x) = x 2 − 4 x para em seguida transformar os pontos de ordenadas negativas em seus simétricos em relação ao eixo das abscissas, conservando os pontos de ordenadas não negativas. Neste caso, aproveita-se do estudo da função do 2º grau, cujo gráfico é uma parábola caracterizada por uma reta diretriz paralela ao eixo das abscissas, para a partir daí usar o princípio de simetria e reflexão. Figura 4: Exemplo de gráfico de Função Modular transformada com simetria em relação ao eixo Ox. 28 2 2 Para esboçar o gráfico de uma função do tipo h( x ) = x − 4 x , pela propriedade x = x 2 e pela definição de módulo de um número real, temos duas sentenças a considerar: x 2 − 4 x se x ≥ 0 f ( x) = 2 x + 4 x se x < 0 Neste caso, se faz necessária a representação de cada uma das sentenças nas condições de existência já determinadas em seu domínio. O gráfico resultante é um bom exemplo de situação em que se encontra uma simetria em relação ao eixo Oy. Além disso, nem todos os valores do conjunto imagem são não negativos, uma vez que a equação da função f ( x) é formada por uma subtração envolvendo valores absolutos, cuja diferença pode resultar em números positivos e negativos. Figura 5: Exemplo de gráfico de Função Modular transformada com simetria em relação ao eixo Oy. 29 Apesar da definição de módulo indicar que o valor absoluto de um número é sempre positivo, em algumas situações da função modular percebe-se que o conjunto imagem pode conter valores negativos. O gráfico da função f ( x) = − x 2 − 4 x é um exemplo de esboço em que o conjunto imagem é formado por números não positivos. Para construir o gráfico, basta esboçar o gráfico da parábola f ( x) = x 2 − 4 x e em seguida, por simetria em relação ao eixo Ox, transformar os pontos de ordenadas não positivas em pontos de ordenadas não negativas, determinando o gráfico de f ( x) = x 2 − 4 x . Finalmente, o gráfico de f ( x) = − x 2 − 4 x é obtido pelo mesmo princípio de simetria em relação ao eixo Ox, porém transformando os pontos de ordenadas não negativas do gráfico da função f ( x) = x 2 − 4 x em pontos de ordenadas não positivas. Figura 6: Seqüência relativa à construção do gráfico de do gráfico da parábola f ( x) = − x 2 − 4 x (gráfico da esquerda) a partir f ( x) = x 2 − 4 x (gráfico da direita) e do gráfico de f ( x) = x 2 − 4 x (central). 30 A construção do gráfico de f ( x) = − x 2 − 4 x pode ser feita a partir do gráfico da parábola f ( x) = x 2 − 4 x , transformando por simetria em relação ao eixo Ox, os pontos de ordenadas não negativas em pontos de ordenadas não positivas. Figura 7: Exemplo de gráfico de Função Modular transformada com o conjunto Imagem formado por números não positivos. Para justificar a importância da construção do gráfico de uma função modular e sua família de funções transformadas, Friedlander (1995) aponta suas aplicações na resolução de equações e inequações modulares através da representação gráfica no plano cartesiano além da utilização significativa das habilidades em trabalhar com simetria, reflexão e translação. 31 1.4 APLICAÇÕES DO CONCEITO DE MÓDULO E FUNÇÃO MODULAR 1.4.1 Aplicação do conceito de módulo e função modular no plano cartesiano Uma das aplicações do conceito de função modular consiste em resolver geometricamente equações e inequações modulares no plano cartesiano. Sobre este tipo de resolução, Friedlander (1995) afirma que O sistema de coordenadas cartesianas, contudo, tem algumas vantagens: * permite-nos resolver inequações com valor absoluto de maior complexidade. (...) * utiliza mais ou menos a mesma estratégia em todos os casos. Ademais, ela poderá ser utilizada posteriormente para resolver inequações de qualquer tipo. (...) * é um dos poucos casos do currículo matemático em que uma resolução gráfica é menos tediosa e consome menos tempo que a resolução algébrica. (...) * utiliza de maneira significativa a habilidade em trabalhar com simetria, reflexão e translação. (FRIEDLANDER, 1995, p.253) Para revolver uma inequação modular, o mesmo autor propõe separar cada desigualdade em duas partes, separadas pelo sinal da desigualdade e representar o gráfico das funções que cada parte representa. A partir dos pontos de interseção entre os gráficos, caso existam, se determina a solução. Se não existir ponto de interseção, basta fazer uma comparação direta entre as funções e determinar se ambas satisfazem a inequação modular. Esta aplicação em inequação modular proposta por Friedlander (1995) pode ser utilizada para a resolução de equações modulares, sendo a solução dada pelos pontos de interseção entre os gráficos obtidos pela igualdade modular. Assim, a rede estabelecida entre Álgebra e Geometria se consolida por meio dessa aplicação do conceito de função modular, que por sua vez, na 32 representação gráfica, pode utilizar todas as propriedades das funções do 1º e 2º grau, exponencial e logarítmica e trigonométricas. Além dessas propriedades, a interpretação geométrica da interseção entre gráficos de duas ou mais funções e o conceito de distância estão presentes neste tipo de resolução integrada entre Álgebra e Geometria. 1.4.2 Aplicação do conceito de módulo e função modular na reta numérica O conceito de Módulo pode ser aplicado como a distância entre dois pontos de coordenadas quaisquer, como apresentado anteriormente. Esta aplicação possibilita a resolução de equações do tipo x − a = b , com b ≥ 0 , sendo que na reta numérica, esta igualdade significa que o número x está a uma distância b do número a. Ainda nesta linha de aplicação na reta numérica, Lima (1997) propõe que Se tivermos uma desigualdade, como x − a < ε , com ε > 0 , isto significa ε , logo x deve estar entre {x ∈ IR; x − a < ε } é o intervalo aberto que a distância de x ao ponto a é menor do que a − ε e a + ε . Portanto o conjunto (a − ε , a + ε ) . (LIMA, 1997, p.73-74) A interpretação geométrica na reta numérica favorece a compreensão do uso dos conectivos lógicos nas desigualdades modulares. Neste caso, é possível perceber que ao representar o conjunto {x ∈ IR; x − a < ε }, obtém-se o intervalo aberto (a − ε , a + ε ) , ou seja, {x ∈ IR; x > a − ε e x < a + ε }. 33 Ao representar o conjunto (− ∞, a − ε ) {x ∈ IR; x − a > ε }, obtém-se dois intervalos abertos: ou (a + ε ,+∞ ) . A união destes dois intervalos determina a representação na reta numérica do conjunto dado, ou seja, {x ∈ IR; x < a − ε ou x > a + ε }. A partir da interpretação na reta numérica de problemas que envolvem igualdades e desigualdades modulares, é possível determinar o conjunto solução de equações e inequações que envolvem adição de módulos sem a necessidade de recorrer à resolução algébrica por casos. Essas múltiplas abordagens geométricas, tanto na reta numérica como no plano cartesiano, contribui para o estudo de definições e aplicações em Matemática. O conceito de distância na Geometria Analítica e suas aplicações para casos como distância entre um ponto e uma reta, a definição de limite de uma função e a interpretação geométrica da solução de sistema lineares em IR² e IR³ são alguns exemplos dessa contribuição. Enfim, o estudo do conceito de Módulo e Função Modular é uma oportunidade para estabelecer ligações entre as funções fundamentais estudadas, em especial, no primeiro ano do Ensino Médio e aplicação de propriedades de Função e propriedades geométricas como simetria, reflexão e translação usadas também em Geometria Analítica. Ao associar a Álgebra e a Geometria, especialmente pela construção de gráficos e sua análise interpretativa, a Função Modular lança perspectivas para uma integração das diversas partes em que se divide o conteúdo de Funções e Geometria Analítica, construindo uma rede de conhecimento em que se interliga as diversas funções, suas aplicações e propriedades geométricas à definição de valor absoluto de um número real. 34 2 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E A FUNÇÃO MODULAR NOS LIVROS DIDÁTICOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA 2.1 PARÂMETROS CURRICULARES Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação é um documento com diretrizes que possuem como principal objetivo a organização de uma base nacional comum. O documento propõe que esta base nacional comum deve ser completada pelos sistemas de ensino e cada estabelecimento escolar, tendo em vista as diversidades regionais e suas especificidades, demandas da sociedade, da cultura, da economia e do próprio aluno. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2006), o planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo supera a organização por disciplinas buscando a integração e a articulação dos conhecimentos em processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização. O documento apresentado aos professores contém estudos e investigações iniciadas em 2004, através de grupo de trabalho formado por pesquisadores na área de educação. Para cada disciplina foi elaborado um capítulo específico tendo em vista favorecer os diálogos entre as áreas de conhecimento. Através de um documento preliminar, foram realizados cinco seminários regionais e um seminário nacional, e a partir dessa produção, foram feitos debates e análises com a participação das Secretarias de Educação, professores e em alguns casos, até representantes dos alunos. Na apresentação das diretrizes curriculares nacionais, encontra-se a seguinte definição de currículo: 35 O currículo é a expressão dinâmica do conceito que a escola e o sistema de ensino têm sobre o desenvolvimento dos seus alunos e que se propõe a realizar com e para eles. Portanto, qualquer orientação que se apresente não pode chegar à equipe docente como prescrição quanto ao trabalho a ser feito. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 2006, p.9) Apesar de ser amplamente proposta a participação dos professores no Projeto Pedagógico e no currículo escolar, questiona-se em que medida o professor realmente participa da elaboração das propostas pedagógicas da escola, em especial, da discussão e constituição do currículo real que se efetiva no interior da escola e de cada sala de aula. E caso esta participação não ocorra, é possível ainda assim garantir o currículo como a expressão dinâmica da concepção e desenvolvimento dos alunos? Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma organização curricular que favorece o diálogo entre as áreas de conhecimento. Sendo assim, percebe-se o crescente discurso de incentivo a propostas pedagógicas multidisciplinares e interdisciplinares. Neste sentido, Zabala (1995) afirma que: “A interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir desde a simples comunicação de idéias até a integração recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados da pesquisa. Estas interações podem implicar transferências de leis de uma disciplina para outra e, inclusive, em alguns casos dão lugar a um novo corpo disciplinar, como a bioquímica ou a psicolingüística. Podemos encontrar esta concepção na configuração das áreas de Ciências Sociais e Ciências Experimentais no Ensino Médio e da área de Conhecimento do meio no Ensino Fundamental” (ZABALA, 1995, p.143) Neste contexto de diálogo entre as áreas de conhecimento, os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem a Matemática como desenvolvimento de habilidades relacionadas à representação, compreensão, comunicação, investigação e contextualização sociocultural. Os três últimos documentos sobre Parâmetros Curriculares Nacionais publicados pelo Ministério da Educação foram os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio de 2002 36 (PCNEM), as Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio de 2002 (PCN+) e os Parâmetros Curriculares Nacionais de 2006. Em todos eles, existe uma divisão do programa de Matemática em quatro blocos: Números e operações; Funções; Geometria e Análise de dados e probabilidade com a recomendação de buscar constante articulação entre eles. Ao analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais e seus documentos complementares de 2002 e 2006 percebe-se que em Números e as operações fundamentais existe uma preocupação em capacitar os alunos a resolver problemas do cotidiano que envolvem as propriedades aritméticas, porcentagem, proporcionalidade e unidades de medidas. Apesar de não citar as propriedades e definições para trabalhar no campo numérico, é inegável a necessidade de introduzir o conceito de módulo para estas situações problemas, especialmente as que envolvem princípios econômicos e por essa razão, são definidas para números estritamente positivos. Ainda no campo numérico, problemas que envolvem unidades de medidas aplicadas a Geometria podem abranger o conceito de distância que pode ser bem explorada na série inicial do Ensino Médio com a interpretação geométrica na reta numérica do conceito de Módulo. A partir daí, inúmeras propriedades podem ser estudadas através da articulação entre Aritmética, Álgebra e Geometria, tão amplamente apregoada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação. Na apresentação do estudo de funções, a função modular é ausente entre as funções que devem ser exploradas. Existe citação da função afim, quadrática, exponencial, logarítmica e trigonométricas com detalhadas sugestões de abordagem. A ausência da função modular é uma oportunidade perdida de articular ainda mais o conteúdo de função com outras áreas de conhecimento, em especial a Geometria e estabelecer uma rede de conhecimento onde a função modular desempenharia o papel de articuladora das 37 demais funções fundamentais estudadas com a Geometria, Aritmética e em alguns casos, com a análise de dados e probabilidade. A função modular básica, ao ser definida como função formada por duas ou mais sentenças, possui uma extensa e variada família de curvas, possibilitando uma aplicação das propriedades das funções polinomiais, trigonométricas, exponencial e logarítmica na construção e análise de gráficos e a aplicação de princípios como a reflexão, simetria e translação. A ausência nominal do estudo de valor absoluto não implica em suprimir tal assunto, mas pelo contrário, possibilita o estudo de Módulo no momento em que o professor julgar ideal, visto que os Parâmetros Curriculares Nacionais são flexíveis quanto a inclusão de temas pertinentes ao ensino de Matemática. A falha dos Parâmetros Curriculares Nacionais na omissão da função modular impede o estabelecimento de elos da rede conhecimento nas interações entre Álgebra, Geometria e Aritmética. Uma vez que tal conteúdo é omitido, como explicar o conceito de distância em Geometria Analítica ou até mesmo como compreender o conceito de módulo de um número complexo para em seguida escrevê-lo na forma trigonométrica a partir da forma algébrica? O estudo do valor absoluto de um número real possui algumas importantes aplicações que já podem ser exploradas no Ensino Médio. Em Estatística, pode ser aplicado no cálculo do desvio médio absoluto, assim como em Física pode ser aplicado ao conceito de distância. Na própria Matemática, no que diz respeito ao estudo de distância entre dois pontos e entre um ponto e uma reta na Geometria Analítica. Estas inúmeras aplicações e interações oriundas do estudo de valor absoluto de um número real reforçam a argumentação de que a função modular é um assunto do currículo escolar que contribui para a interação da Matemática com outras áreas de conhecimento assim como aplicações específicas em outros temas. Sobre a organização curricular, 38 “um desenho curricular deve ser composto por uma pluralidade de pontos, ligados entre si por uma pluralidade de ramificações/ caminhos, em que nenhum ponto (ou caminho) seja privilegiado em relação ao outro, nem univocamente subordinado a qualquer um. Os caminhos percorridos embora lineares, não devem ser vistos como os únicos possíveis; um percurso pode incluir tantos pontos quanto desejarmos e, em particular, todos os pontos da rede”. (PIRES, 2000, p. 204) Ao ser composto por uma pluralidade de pontos, o desenho curricular abre múltiplas possibilidades de caminhos e interações entre as diversas áreas de conhecimento. Essa pluralidade também favorece a interação entre os diversos temas presentes numa área de conhecimento, contribuindo para a consolidação de aplicações significativas no processo ensino e aprendizagem. 2.2 OS LIVROS DIDÁTICOS O livro didático no processo ensino e aprendizagem em Matemática contribui para o estabelecimento do referencial teórico e conseqüentemente, abre perspectivas para aplicações dentro da própria Matemática assim como outras áreas de conhecimento. Por essa razão, a seleção do livro didático precisa ser precedida de uma análise que justifique a opção escolhida tendo em vista os objetivos gerais e específicos da escola na qual o educador está inserido. Em 2001, coordenados por Elon Lages Lima, uma equipe de professores e pesquisadores avaliaram livros de Matemática do Ensino Médio. Essa equipe foi formada por Augusto César Morgado, Edson Durão Júdice, Eduardo Wagner, João Bosco Pitombeira de Carvalho, Jose Paulo Quinhões Carneiro, Maria Laura Magalhães Gomes e Paulo Cezar Pinto Carvalho. Do trabalho 39 da equipe organizado pelo editor Elon Lages Lima surgiu o livro Exame de textos que está disponível gratuitamente, pela Internet, no sítio da Sociedade Brasileira de Educação Matemática. A determinação de parâmetros de avaliação contribui para uma análise imparcial e justifica a escolha do livro didático. Sobre esta determinação de parâmetros, Lima (2001) propõe três componentes básico do ensino, a saber: conceituação, manipulação e aplicação. Para estabelecer uma interação entres esses componentes básicos do ensino, a estruturação curricular da Matemática, ao ser organizada em rede, pode estabelecer elos de ligação entres os seus diferentes saberes. O currículo em rede proporciona fundamentos para a conceituação através de vínculos naturais presentes no raciocínio lógico matemático. Em muitas situações, um conceito é oriundo de propriedades ou definições de outro assunto. Esses vínculos são consolidados através de manipulações cada vez mais elaboradas que culminam em aplicações simples do cotidiano ou até mesmo mais elaboradas, quer seja de caráter científico ou técnico. A escolha do livro didático é um momento de decisão pois, segundo Lima (2001) “o livro didático é, na maioria dos casos, a única fonte de referência com que conta o professor para organizar suas aulas, e até mesmo para firmar seus conhecimentos e dosar a apresentação que fará em classe. Assim, é necessário que esse livro seja não apenas acessível e atraente para o aluno, como também que ele constitua uma base amiga e confiável para o professor, induzindo-o a praticar os bons hábitos de clareza, objetividade e precisão, além de ilustrar, sempre que possível, as relações entre a Matemática e a sociedade atual”. (LIMA, 2001, p.1) Para analisar os assuntos função modular e valor absoluto nos livros didáticos utilizados nas escolas do Ensino Médio, serão usados os três componentes básicos do ensino, propostos por Lima (2001): conceituação, manipulação e aplicação. A conceituação compreende formulação de definições, elaboração de problemas, interpretação em diferentes contextos, além de favorecer, segundo Lima (2001), o 40 estabelecimento de conexões entre diferentes conceitos. Esse parâmetro está ligado ao que Zabala (1998) denomina conteúdo conceitual. A manipulação está ligada à operacionalização e instrumentação de propriedades algébricas, aritméticas e geométricas, bem como definições e características. Não se trata exclusivamente de técnicas, mas de conteúdo procedimentais, que segundo Zabala (1998), referese ao saber fazer. A aplicação compreende o estudo de situações problemas em que a Matemática é usada tanto em soluções triviais de problemas do cotidiano até solução mais elaboradas usadas pela comunidade científica. Zabala (1998) refere-se a este componente básico como conteúdo atitudinal. Os capítulos analisados nos livros selecionados neste trabalho foram escolhidos levando em conta dois critérios e considerando-se apenas o primeiro volume da coleção ou o volume único. A restrição quanto ao volume se justifica pela análise do tema valor absoluto e função modular presentes nos volumes anteriormente citados. O primeiro critério é a presença na lista de livros que foram recomendados pelo Ministério da Educação no Plano Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM/ 2007), segundo portaria 1818 de 13 de novembro de 2006. Nesta lista, foram selecionados livros dos seguintes autores: Dante (2007), Bonjorno (2000), Smole (2003) e Paiva (2002). O segundo critério é a utilização em algumas escolas da cidade de Belo Horizonte. Foram escolhidas duas escolas aleatoriamente que foram questionadas sobre qual livro didático utilizado. Sendo assim, mais dois autores foram incluídos nessa análise de livros didáticos, a saber: Iezzi (2006) e Mello (2005). 41 2.3 ANÁLISE DE TEXTOS 2.3.1 Matemática – Contextos e Aplicações – Luiz Roberto Dante – Editora Ática – 2007 O livro didático de Dante (2007), com o título: Matemática – contexto e aplicações – volume único, apresenta o assunto função modular logo após a abordagem inicial de conceitos e propriedades de função, inclusive função afim e quadrática. O capítulo dedicado ao estudo do valor absoluto e função modular apresenta a definição de módulo e propõe apenas uma interpretação dessa definição na reta numérica. Em seguida, o autor lista algumas propriedades do valor absoluto seguido de alguns exemplos e uma aplicação do conceito de distância na reta numérica. A representação do gráfico da função modular é feita de forma direta, através da escolha de cinco valores para a abscissa, preferencialmente simétricos e logo em seguida alguns gráficos são construídos explorando a translação de eixos e a simetria reflexiva em relação ao eixo Ox. No estudo de equações modulares, Dante (2007) explora apenas duas situações básicas no plano cartesiano, sendo todos os demais exemplos de cunho exclusivamente algébrico. As inequações são apresentadas apenas na sua forma de resolução algébrica. Em relação a conceituação, Dante (2007) apresenta a definição de valor absoluto para em seguida explorar as propriedades, sem demonstrá-las. A aplicação do conceito de valor absoluto em distância é feita de forma superficial, sem estabelecer interações com gráficos da função modular ou resolução de equações e inequações. 42 A manipulação se dá no campo algébrico através de situações problemas básicas e não existe, a não ser em dois momentos pouco explorados, conexão entre Álgebra e Geometria. Quando a manipulação é feita geometricamente, via construção de gráficos no plano cartesiano, as propriedades são apresentadas visualmente com poucos comentários. 2.3.2 Matemática – Ensino Médio – Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz – Editora Saraiva – 2003 O livro Matemática – Ensino Médio – volume 1, de Smole (2003) apresenta o conceito de módulo introduzido por pequenas contextualizações para em seguida explorar algumas propriedades, que segundo a autora, são usadas na resolução de equações e inequações modulares. Não se percebe nenhum incentivo ou oportunidade de estabelecimento de interações entre a Álgebra e Geometria. Quanto a manipulação, sem nenhuma demonstração ou exploração dos diversos casos de resolução de equações e inequações, Smole (2003) propõe exercícios aleatórios de revisão sem qualquer vínculo com o assunto do capítulo. Ao final, uma oportunidade de explorar a aplicação de módulo em estatística se resume a um pequeno comentário, sem qualquer outro tipo de exploração. 43 2.3.3 Matemática – Conceitos, Linguagem e Applicações – Manoel Paiva – Editora Moderna – 2002 Para apresentar a definição de módulo de um número real, Paiva (2002), em seu livro didático: Matemática – conceitos, linguagem e aplicações – volume 1, define a distância entre dois pontos do eixo real. Ao explorar alguns exemplos de distância e módulo, lista algumas propriedades com as respectivas explicações, simbologia e em algumas delas, exemplos. A aplicação feita do conceito de módulo é a mesma proposta por Smole (2003), porém através de uma situação problema. Quanto a manipulação, o estudo do gráfico da função modular contém uma regra prática que pode induzir ao leitor generalizar que a imagem da função modular básica, qualquer que seja a função transformada estudada, é sempre positiva. A resolução de equações e inequações modulares se conduz pela via algébrica, exceto por uma atividade proposta. E em todos os casos, tratam-se de situações básicas sem explorar conceitos vistos anteriormente e sem prosseguir na linha inicial de aplicar o conceito de valor absoluto através da interpretação de distância. 44 2.3.4 Matemática – Uma nova abordagem – José Roberto Bonjorno e José Ruy Giovanni – Editora FTD – 2000 No primeiro volume da coleção Matemática – uma nova abordagem – Bonjorno (2000) apresenta a definição de módulo de modo formal logo no início do capítulo. Propõe alguns exemplos e uma breve aplicação sobre a ordenação na reta numérica. A função modular, assim como a resolução de equações e inequações, é apresentada por exemplos, através do princípio de função formada por várias sentenças, assunto este ausente na obra. Percebe-se uma única tentativa de associar a resolução de equações e inequações modulares com a representação gráfica no plano cartesiano. Sem aplicações, o livro didático do Bonjorno (2000) apresenta pouca manipulação de propriedades operatórias e gráficas, que pode ser traduzida pela indução ao leitor em aceitar que a imagem da função modular é sempre positiva. 2.3.5 – Matemática – Construção e Significado – José Luiz Pastore Mello – Editora Moderna – 2005 Em seu livro didático na versão volume único, Mello (2005) apresenta a função modular antes do estudo das funções polinomiais e logo a seguir de funções definidas por mais de uma sentença. Devido a esta inusitada disposição da obra, o valor absoluto e a função modular são 45 estudados de forma superficial sem qualquer conexão entre Álgebra e Geometria e sem apresentar nenhum aplicação. O autor apresenta a construção gráfica da função modular através da indiscriminada atribuição de valores para a abscissa sem qualquer interação com o assunto anterior, que é a função formada por várias sentenças. Durante o estudo de funções polinomiais, o autor propõe algumas aplicações à função modular, momento em que é estudada a inequação modular através de casos simples. 2.3.6 – Matemática – Ciências e Aplicações – Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David Degenszajn, Roberto Perigo e Nilze de Almeida – Editora Atual – 2006 Em seu livro didático Matemática – ciências e aplicações – volume 1, Iezzi (2006) incia o estudo de função modular com a definição de função formada por várias sentenças e inúmeros exemplos e situações problemas em que este tipo de função pode ser aplicada. Para definir módulo, Iezzi (2006) recorre a propriedade da raiz quadrada de um número elevado ao quadrado. Desse modo, ele apresenta a definição sem estabelecer qualquer aplicação a distância na reta numérica. A função modular é explicada em sua forma básica e em seguida, as transformadas são estudadas através de função composta e translação de eixos. Porém, o estudo gráfico é feito apenas por meio de exemplos. 46 Em equações e inequações modulares, a resolução se restringe ao modo algébrico e a situações básicas. Não existe nenhum incentivo por parte do autor em promover interações entre Álgebra e Geometria. Não existe aplicações em outras áreas de conhecimento. 2.4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Em todos os livros didáticos analisados, percebe-se uma exposição do assunto valor absoluto e função modular sem qualquer preocupação em estabelecer as possíveis conexões entre Álgebra e Geometria. Em alguns livros percebe-se uma ou duas situações problemas em que se propõe a resolução de equações e inequações modulares no plano cartesiano. Em nenhum caso foi explorada esta metodologia ou a resolução na reta numérica. Quanto a conceituação, existem em alguns casos graves equívocos referentes a representação gráfica da função modular e suas transformadas, especialmente no que diz respeito a imagem da função. A grande maioria dos livros pode induzir o leitor a concluir que a função possui imagem sempre positiva por apresentar um número muito reduzido de situações em que a imagem é formada também por número não positivos. No que diz respeito a manipulação, as obras se prendem a resoluções algébricas de casos básicos. A grande maioria das propriedades não são demonstradas e não tem seu uso incentivado em equações e inequações. As aplicações propostas pelos autores são sintéticas e em grande parte, desconexas do assunto que está sendo discutido. Algumas aplicações em Física e Estatística são pouco 47 exploradas e suas conexões com o assunto se resumem a exemplos aritméticos, sem abordar as suas interpretações algébricas e geométricas. Sendo assim, percebe-se que a proposta de diálogo entre as áreas de conhecimento, presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais assim como a organização curricular favorecendo a interação entre Álgebra e Geometria não é plenamente seguida pelos autores em seus livros didáticos. Existe uma forte tendência de abordar métodos algébricos e abandonar interpretações geométricas. 48 3 O CURRÍCULO EM REDE – A ATIVIDADE INVESTIGATIVA E A SEQUENCIA DIDÁTICA 3.1 – A PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA A pesquisa em Educação Matemática apresenta diversas tendências temáticas e metodológicas em desenvolvimento desde a década de 1990. Por ser uma área relativamente nova, consolidou-se ao longo da segunda metade do século XX, período em que estabeleceu e delineou seu campo profissional. A pesquisa em Educação Matemática tende a ser qualitativa quanto à metodologia e métodos de pesquisa empregados. Sobre essa tendência, Bicudo (2004) afirma que para se fazer uma pesquisa qualitativa privilegiam-se descrições de experimentos, relatos de compreensões, respostas discursivas de questionários, entrevistas e relatos de observações. Esses procedimentos dão conta de dados sensíveis, concepções, estados mentais e acontecimentos, entre outros. A autora ainda afirma que a principal diferença entre a pesquisa quantitativa e qualitativa está no fato da última conter procedimentos e concepções alternativas em relação ao paradigma positivista. A partir desses princípios estabelece-se a grande parte das tendências temáticas da pesquisa em Educação Matemática e fundamenta-se as metodologias empregadas nas pesquisas. Segundo Fiorentini (2006), algumas dessas tendências temáticas são o processo ensino e aprendizagem da Matemática, mudanças curriculares, utilização de Tecnologias de Informação e 49 Comunicação, prática docente, formação de professores, práticas de avaliação e o contexto sociocultural e político do ensino aprendizagem da Matemática. No eixo temático do processo ensino e aprendizagem da Matemática, Fiorentini (2006) verifica a emergência de estudos que procuram investigar o modo como os alunos desenvolvem seu processo de aprendizagem de algum conceito de Matemática. De acordo com o autor, essas pesquisas utilizam, com freqüência, mapas conceituais elaborados pelos próprios alunos como recurso de coletas de dados. Associado a este eixo temático, as mudanças curriculares focam a procura pelos fatores que provocam as transformações no currículo e o modo como se processam na prática escolar. As mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorrem na realidade onde a escola está inserida, assim como o uso de tecnologias de informação e comunicação, para Fiorentini (2006) são responsáveis por grande parte das mudanças curriculares. A pesquisa-ação é um meio de mudança curricular usada por alguns professores que buscam inovações em sua prática tendo em vista sua vivência no contexto escolar. O terceiro eixo temático, da Tecnologia de Informação e Comunicação é também considerado por Borba (1999), que faz uma análise das mudanças provocadas pelo uso dos meios de informação no ensino de Matemática e seu impacto na pesquisa em Educação Matemática, considerando que ao mesmo tempo que as técnicas se tornam cada vez mais humanizadas, na medida em que as interfaces amigáveis são desenvolvidas buscando seduzir o usuário em geral, em nosso caso o estudante, vemos que as técnicas permeiam e condicionam o pensamento humano. As mídias, vistas como técnicas, permitem que “mudanças ou progresso do conhecimento” sejam vistos como mudanças paradigmáticas impregnadas de diferentes técnicas desenvolvidas ao logo da história. É neste sentido que no atual momento da Educação Matemática devemos testar essas metáforas teóricas geradas por diferentes pesquisas, para que consigamos desenvolver novas práticas pedagógicas que permitam que mais estudantes tenham acesso a estudar Matemática e a resolver problemas que sejam relevantes para sistemas seres-humanos-computadores, quer sejam estes 50 problemas propostos pelo professor, como no caso da experimentação, quer desenvolvidos pelos próprios estudantes, como no caso da modelagem. (BORBA, 1999, p.294) A associação entre os eixos temáticos, citados por Fiorentini (2006), abre perspectivas para novas pesquisas em Educação Matemática, em especial no Ensino Médio e Superior, segmentos da Educação que começaram a ser pesquisados mais recentemente. Neste contexto, esta pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de valor absoluto integra estes eixos temáticos e aborda a tendência metodológica de aproximação crítica, que segundo Kilpatrick, citado por Fiorentini (2006), leva o pesquisador a se inserir no ambiente educacional não só para compreendê-lo, mas para provocar mudanças em direções que permitam aos participantes do processo de ensino e aprendizagem maior liberdade de ação. 3.2 – CURRÍCULO EM REDE Uma das mudanças curriculares propostas nesta pesquisa é a organização curricular em rede. Esta estruturação segue tendência contrária à organização linear, onde percebe-se uma forte fragmentação dos temas que em geral, podem resultar em aprendizagens superficiais e currículos extensos e sem quase nenhuma ligação entre as suas diversas partes, sendo as poucas existentes presentes em algumas situações problemas. Para fundamentar o currículo em rede, Pires (2000) propõe alguns pilares de sustentação dessa nova organização curricular. Na Pedagogia, a autora recorre à interdisciplinaridade para 51 buscar a interação entre duas ou mais disciplinas e a reconstrução da unidade perdida, bem como a complementaridade nas ações que envolvem diferentes áreas de conhecimento. Na Ciência, Pires (2000) analisa instrumentos como a analogia e a metáfora para a realização de inferências a partir de semelhanças entre dois domínios de conhecimento. Deste modo, “ao estabelecer uma conexão entre os diferentes contextos semânticos, a metáfora possibilita a transferência de relações de um feixe consolidado para outro em formação, desencadeando e desenvolvendo novos significados”. (PIRES, 2000, p.86) Tendo em vista o uso de analogias e metáforas, Pires (2000) faz uso da teia como metáfora do universo, para justificar através da Física, que os eventos são inter-relacionados e formam deste modo, uma teia dinâmica. Propriedades individuais não é fundamental, pois todas decorrem de propriedades de outras partes, o que garante a consistência das relações que estruturam toda a teia. Destacando a concepção sistêmica da vida, a mesma autora faz uso da Biologia para mostrar que o mundo hoje é visto em termos de relação e integração. Afirma que os sistemas são totalidade integradas e os princípios básicos de organização são destacados em detrimento de elementos ou substâncias básicas. No campo da Psicologia, Pires (2000) explora as teorias sobre as inteligências múltiplas em que as manifestações de inteligência formam um amplo espectro de competências tais como a lingüística, lógico-matemática, musical, corporal-cinestésica, intrapessoal e interpessoal. Desse modo, todos podem desenvolver múltiplas inteligências que favorecem o estabelecimentos de interações entre as áreas de conhecimento a partir das relações interpessoais e intrapessoais. Ainda a autora afirma que na Matemática se usa a trilha das categorias e alegorias tendo em vista que a categoria é constituída por uma coleção de objetos ou morfismos, sendo cada um deles associado a dois objetos, que podem ser idênticos, e uma tábua de multiplicação que 52 possibilita a composição entre certos morfismos. Sobre alegoria, mostra que os correlatos dos morfismos deixam de ter origem e extremidades para torna-se elos, arcos de ligação, formando assim relações e conexões. Assim, a noção de estrutura caracteriza-se pelo deslocamento das atenções do ser como essência para os objetos articulados por sistemas de relações. Com as categorias, ocorre um deslocamento nas atenções dos entes para as relações, na medida em que, tendo por objetos as próprias estruturas matemáticas, os objetos passam a ser constituídos por sistemas de relações, o que leva a uma dualidade entre objetos e relações. (PIRES, 2000, p.74) Na Comunicação, Pires (2000) busca inspiração para o desenvolvimento da idéia de conhecimento como rede, sendo que da Tecnologia da Informação, utiliza-se da linguagem do hipertexto, que trata da escrita e leitura não linear num sistema de informática, possibilitando inúmeras conexões entre os diversos caminhos oferecidos. Assim, seu último fundamento é a Educação, como elo de ligação entre todos os demais pilares, focando as teias de aprendizagem e buscando romper com a linearização presente na estrutura do ensino básico até a pós-graduação. Desse modo, abrem-se oportunidades para qualquer indivíduo ter acesso aos recursos disponíveis em qualquer época de sua vida. Essa teia permite a interação entre as diversas áreas de conhecimento, a partir do desenvolvimento das inteligências múltiplas que favorecem as relações interpessoais e intrapessoais, buscando consolidar uma rede que seja fundamentada nas relações e não nos entes que a compõe. Consolidando a idéia da rede, Weil (1993) propõe a transdisciplinaridade como axiomática comum entre as diferentes áreas de conhecimento. Trata-se do resultado de um esforço de conceitualização que leva à compreensão e definição do novo paradigma holístico. Para tecer a rede, Pires (2000) propõe um desenho curricular integrado por uma pluralidade de pontos e cada um desses pontos com diversas ramificações. Após escolher alguns 53 temas, denominados nós pela autora, os primeiros fios de ligação são puxados dando inícios a percursos que serão formados tendo em vista as significações, ampliando assim os eixos temáticos. A escolha desses temas é aleatória, ou seja, qualquer tema pode ser escolhido para começar a tecer a teia que formará o currículo em rede. A escolha do tema de pesquisa valor absoluto e função modular como um dos nós entre as ligações e interações do currículo em rede revela que cada elo formado entre os nós (temas) não tem início e fim, isto é, um tema não pode ser considerado exclusivo gerador e nem receptor dos elos de ligação. Isto se deve ao fato do currículo em rede não ser fundamentado nos temas, mas nos elos de ligação entre os temas. Desse modo, a forma de estabelecer estes elos é que vai determinar a quantidade de ramificações que podem ser originadas entre os diversos nós. Uma das formas de estabelecer estes elos é através de atividades investigativas. Este tipo de atividade permite a exploração de temas por meio de uma aprendizagem significativa e possibilita a interação entre os diversos temas de uma área de conhecimento ou áreas distintas. 3.3 – ATIVIDADES INVESTIGATIVAS E A SEQUÊNCIA DIDÁTICA A investigação em Matemática, segundo Silva (1999), consiste em atividades que permitem a formulação de conjecturas, a avaliação de sua plausibilidade e a escolha dos testes adequados para sua validação ou rejeição. É um processo de criação matemática que é inerente ao que é Matemática e ao que significa saber Matemática. Apesar de demandar um tempo certo para sua realização, a atividade investigativa em Matemática pode trazer contribuições no processo ensino e aprendizagem que justifiquem o 54 tempo utilizado. Tais contribuições são citadas por Ponte (2005) em sua pesquisa sobre investigações matemáticas em sala de aula: a realização de investigações matemáticas, pelo aluno, pode contribuir de modo significativo para a sua aprendizagem da Matemática e para desenvolver o gosto por essa disciplina. Também o professor pode desenvolver uma atitude investigativa em relação à Matemática e em relação à sua prática. Ao envolver-se, ele próprio, a investigar situações matemáticas, o professor pode desenvolver idéias para propor aos alunos. É também, a melhor garantia de que será capaz de dar uma boa seqüência a uma questão inesperada de um aluno. (PONTE, 2005, p.142) Neste contexto, Ernest (1996) afirma que a resolução de problemas e as investigações, ao serem considerados como métodos de ensino, devem levar em consideração o contexto social da sala de aula. Na abordagem investigativa, o papel do professor como gestor do ambiente e dos recursos de aprendizagem consolidam sua atuação como facilitador da aprendizagem. Assim, o aluno define seus próprios problemas dentro da situação e traça seu próprio caminho de busca pela resolução. Desse modo, o professor torna-se um articulador do processo, estimulando o aluno na investigação matemática e prestando a assistência para a construção de significados na Matemática que propiciem aplicações dentro da própria Matemática e em outras áreas de conhecimento. As atividades investigativas possibilitam, inclusive, o uso de tecnologias da informática e comunicação para estudar temas numa perspectiva integrada do currículo. Para Silva (1999), a utilização crescente do computador ao nível da investigação impulsionou de maneira relevante a produção do conhecimento matemático. O papel do computador está além da realização de cálculos numéricos auxiliares, pois contribui para a formação de conjecturas e estabelecimento de provas, que segundo o autor, aprofundam o conhecimento sobre objetos que ajuda a visualizar. Outro fator que permite o estabelecimento de elos no currículo organizado em rede é a utilização de seqüências didáticas. Num primeiro momento, a seqüência associada com atividade 55 de investigação em Matemática contribui para a compreensão de significados e conceitos matemáticos e a interação entre eles. Sobre a interação entre os diversos temas matemáticos, a realização de investigações proporciona, muitas vezes, o estabelecimento de conexões com outros conceitos matemáticos e até mesmo extramatemáticos. O professor precisa estar atento a tais oportunidades e, mesmo que não seja possível explorar cabalmente essas conexões, deve estimular os alunos a refletir sobre elas. Essa é mais uma das situações em que o professor dá evidência do que significa raciocinar matematicamente. (PONTE, 2005 p.51) Assim, além de contribuir para formação de conjecturas e formulação de provas, a investigação matemática permite a interligação entre os nós da teia que se pretende tecer através da organização curricular em rede. Uma das formas de usar a abordagem investigativa em atividades de Matemática consiste na elaboração de seqüências didáticas que permitam explorar temas, como o valor absoluto e a função modular, nesta investigação realizada e irá mostrar a interligação com outros temas da Matemática e estabelecendo aplicações em outras áreas. A definição de seqüência didática é apresentada por Zabala (1998, p.18) como “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”. A articulação das atividades se faz necessária para garantir a construção do significado num contexto mais amplo, que permite a interação entre os diferentes temas, resultando em diversas aplicações. Dessa forma, interações entre os nós da rede podem ser estabelecidas construindo uma teia em que os significados dos objetos contribuem para a conexão entre os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. 56 As seqüências didáticas possuem, como elementos identificadores, as atividades que a compõem. Desse modo, ao organizar uma seqüência utilizando a abordagem investigativa, as atividades ampliam as múltiplas possibilidades de exploração de um determinado tema, articulando os conteúdos conceituais (referentes ao saber), procedimentais (referentes ao saber fazer) e atitudinais (essência de ser). Esta articulação abre perspectivas para a construção da rede de conhecimento a partir das conexões estabelecidas tendo como foco um determinado tema. No caso do estudo do valor absoluto e da função modular, produto da investigação apresentado nesta dissertação, entende-se que este tema, por sua posição estratégica no currículo de Matemática de grande parte das escolas no Brasil, possui múltiplas possibilidades de conexões com outros assuntos da Matemática. A definição de valor absoluto no campo aritmético possibilita a interação com a geometria através do conceito de distância, associando a idéia de ordenação dos números reais na reta numérica tendo em vista a sua distância relativa ao ponto de abscissa zero e o seu valor relativo. Sobre esta perspectiva de ensino, Stallings-Roberts (1991) utiliza material manipulativo formado por uma tira de papel com a devida marcação, simulando a reta numérica e dois indicadores móveis sobre a tira para visualizar situações problemas com uso da interpretação geométrica em IR. Sobre sua pesquisa, ela descreve os resultados obtidos apontando que os alunos foram capazes de desenvolver melhor o significado da definição formal de valor absoluto. Com o apoio necessário e a experimentação, os alunos desenvolveram sua capacidade de determinar a afirmação lógico-matemática que descreve o valor absoluto numa expressão. (STALLINGS-ROBERTS, 1991, p. 304, tradução nossa) ² ________________ ² Students now should be able better to develop a formal but more meaningful definition for absolute value. With proper guidance and experimentation, students should be able to determine a logical mathematical statement that describes the absolute value of an expression. 57 Ainda no campo aritmético, através do uso de padrões é possível explorar propriedades de módulo para números reais favorecendo a iniciação ao pensamento algébrico que será utilizado mais adiante quando for explorada a função modular ou outras propriedades operatórias no conjunto dos números reais, como por exemplo, a raiz com índice par de um número elevado ao mesmo valor do índice da raiz. A função modular possui uma amplitude maior de ligações na própria Matemática por ser estudada quando o pensamento algébrico está se consolidando no processo ensino e aprendizagem. Deste modo, este tipo de função pode ser introduzido utilizando o conceito de função formada por várias sentenças. Além de inúmeras aplicações ligadas à Economia e cotidiano, é possível utilizar funções como a do 1º grau, 2º grau, exponencial, logarítmica e trigonométricas, bem com suas respectivas propriedades gráficas para a construção de gráficos de funções formadas por várias sentenças e, conseqüentemente, o gráfico da função modular. Outras propriedades podem ser utilizadas como a simetria, reflexão e translação de eixos, sendo esta última uma referência direta a gráficos de funções compostas. A interpretação geométrica na reta numérica e no plano cartesiano permite uma abordagem em espiral do tema valor absoluto, conforme propõe Friedlander (1995)³, que explora principalmente a interpretação geométrica no plano cartesiano. Nesta situação, ele mostra como ________________ ³ No livro The ideas of Álgebra, Alex Friedlander e Nurit Hadas publicaram um artigo sobre o ensino do valor absoluto numa abordagem em espiral (Teaching Absolute Value Spirally). A partir de vários artigos publicados na revista Mathematics Teacher, entre 1976 e 1985, eles desenvolveram uma abordagem espiral interligando a Álgebra e a Geometria para resolver problemas que envolvem o módulo de um número real. Estes tipos de artigos aparecem com razoável freqüência na revista acima citada e três deles foram usados nesta pesquisa. Na edição de abril de 1991, Virginia Stallings-Roberts desenvolveu uma técnica que usa material manipulativo para a interpretação geométrica de valor absoluto na reta numérica. Na edição de dezembro de 1992, Charles R. Parish propõe uma novo método para alunos entendam o uso de conectivos lógicos nas desigualdades modulares. Este método consiste em usar a interpretação geométrica no plano cartesiano e regiões do plano para compreender as situações em que se usa os conectivos que indicam conjunção e disjunção. Na edição de agosto de 2005, Shiyuan (Steve) Wei propõe o uso de Geometria Analítica, em especial a definição de cônicas a partir do conceito de distância e lugar geométrico para a resolução de equações modulares. Os três artigos reforçam a importância de uma integração curricular para que tais abordagens sejam realmente implementadas e apresentam resultados significativos em relação a aprendizagem. 58 equações e inequações podem ser resolvidas tendo em vista esta perspectiva. A resolução de equações e inequações através da interpretação geométrica na reta numérica e no plano cartesiano, associada com a resolução algébrica consolida, como mostrado na seqüência didática apresentada nesta dissertação, pode contribuir para a compreensão do significado de valor absoluto, a aplicação de suas propriedades em um contexto adequado e interação com outros temas como a distância em Geometria Analítica. Na Geometria Analítica, são estabelecidas diversas interações que contribuem para a compreensão da definição de valor absoluto e suas aplicações. A interpretação geométrica de sistemas de equações com duas variáveis possibilita a visualização das raízes de uma equação modular assim como os intervalos que descrevem a solução de uma desigualdade modular. Em diversas situações, problemas da Geometria Analítica fazem uso do valor absoluto para determinação de resultados como a área de um triângulo dado os seus três vértices, distância entre dois pontos e distância entre ponto e reta, entre outros. A interação entre Geometria Analítica e o valor absoluto ainda inclui o uso das definições de cônicas como lugares geométricos e o conceito de distância. Esta interação, explorada por Wei (2005), consiste em resolver equações modulares algebricamente e comparar as soluções com cônicas que descrevem geometricamente no plano cartesiano as igualdades propostas. Em relação a inequações modulares, Parish (1992) desenvolveu uma associação entre o eixo Ox e o eixo Oy com o objetivo de usar corretamente o conectivo lógico na solução. Deste modo, segundo autor, essa abordagem tornou assuntos abstratos como os conectivos lógicos em temas mais acessíveis e significativos para o aluno. Certamente o estudo sem conexões entre os diversos temas não tornaria em realidade a construção de significados e a consolidação de aplicações. As interações feitas com a função modular podem facilitar, segundo Friedlander (1995), a elaboração de um currículo em espiral, 59 em que ao longo das séries do Ensino Básico, extratifica cada vez mais interações à medida que o tema vai sendo aprofundando ao longo das séries. 60 4 UMA PROPOSTA METODOLÓGICA A PARTIR DE UMA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE VALOR ABSOLUTO E FUNÇÃO MODULAR 4.1 METODOLOGIA Com o objetivo de elaborar uma seqüência didática em que o estudo do valor absoluto e a função modular ocorra numa perspectiva curricular de rede, esta pesquisa foi adotada com abordagem qualitativa. Sendo assim, levantou-se um referencial teórico para a elaboração de atividades de investigação em Matemática que contribuíssem para a formação da rede curricular com ligações interativas entre os nós (assuntos) que compõem o currículo, em especial do Ensino Médio, segmento focado nesta pesquisa. O nó escolhido como referência foi o valor absoluto e a função modular e partir desta escolha, foram analisadas as interações estabelecidas com outros assuntos da Matemática e de outras áreas de conhecimento, tendo em vista as aplicações. Através da inserção do pesquisador no meio investigado, foram realizadas observações sobre a forma de construção e desenvolvimento dos conteúdos assim classificados por Zabala (1999): conceitual, procedimental e atitudinal. A análise ocorreu com a comparação entre os dados prévios obtidos na fase de planejamento das atividades e os dados posteriores, obtidos com a observação direta da postura dos alunos diante da atividade, a formação de conjecturas para a resolução das atividades e as estratégias utilizadas. 61 O processo foi analisado, através de descrições tendo em vista a situação em que se desenvolveram os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais e sua relação com a proposição das atividades numa perspectiva curricular de rede. 4.2 FASES DO EXPERIMENTO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A primeira fase constituiu no planejamento das atividades de investigação do valor absoluto e função modular. Esse planejamento foi fundamentado no referencial teórico e na análise das atividades através de discussões com o orientador sobre as possíveis interações que poderiam ser estabelecidas a partir desta seqüência didática. As estratégias de solução para cada atividade foram analisadas para suscitar conjecturas e interações estabelecidas na rede curricular que envolve o valor absoluto e a função modular. Uma vez que o foco desta pesquisa está na elaboração das atividades investigativas envolvendo valor absoluto e função modular numa perspectiva curricular de rede, a interação entre Álgebra e Geometria consolida-se na resolução de problemas pela interpretação geométrica na reta numérica e no plano cartesiano, estabelecendo conexões entre os vários temas presentes na Matemática do Ensino Médio e criando condições para uma aprendizagem significativa. A partir da necessidade do Mestrado Profissional em se realizar um estágio, foi planejada uma aplicação das atividades para a sua validação e avaliação. Assim, as duas próximas fases descrevem a realização deste estágio e mostra o impacto que os dados obtidos tiveram sobre a última fase. 62 A segunda fase foi marcada pela escolha dos alunos participantes nas atividades investigativas sobre valor absoluto e função modular. Uma escola pública federal de Belo Horizonte foi escolhida para a realização das atividades e, em seguida, mediante autorização dos pais, os alunos que voluntariamente se dispuseram foram selecionados. Em um total de doze alunos, oito efetivamente participaram de todas as seções e os quatro restantes participaram de 75% das atividades. Esses alunos foram agrupados em duplas para facilitar a observação e na fase final, foram organizados em grupos de quatro alunos para uma discussão dos resultados e estratégias, antes da socialização final envolvendo todos os alunos. A terceira fase foi composta por cinco sessões, sendo quatro delas com duração de 150 minutos e uma sessão, a segunda, com duração de 90 minutos. Nesta fase foram propostas quatro atividades investigativas, que juntas formam a seqüência didática proposta, sendo que as segunda e terceira atividades envolveram uso de computador para a construção e exploração de gráficos através do software livre Geogebra. Observação e descrição dos fatos ocorridos durante esta fase, bem como a postura dos alunos diante de cada atividade proposta, foram realizadas para comparação com a análise feita na primeira fase. A última sessão foi realizada em duas partes, sendo a primeira em grupo de quatro pessoas, quando as duplas puderam discutir os resultados obtidos e comparar estratégias de resolução. A segunda parte foi uma ampla discussão sobre a experiência, dificuldades e o que foi feito pela dupla para resolver todas as atividades. A última fase consistiu na análise de dados obtidos após a aplicação das atividades em comparação com alguns dados obtidos pelas discussões na fase de elaboração, durante as orientações. Tendo em vista as evidências levantadas e o referencial teórico, algumas questões foram respondidas e contribuíram para a consolidação da seqüência didática. 63 4.3 A SEQUENCIA DIDÁTICA A seguir serão descritas as quatro atividades integralmente apresentadas em anexo, que formam a seqüência didática sobre a abordagem curricular em rede de valor absoluto e função modular. Cada atividade será dividida em partes que serão analisadas de acordo com as possíveis estratégias de resolução e as interações que podem ser feitas dentro da Matemática e em outras áreas de conhecimento. Primeira atividade A primeira atividade, denominada “o conceito de módulo e seu significado geométrico”, possui um foco no campo da Aritmética e propõe discussões relativas a introdução à Álgebra e o uso de Geometria para a compreensão do significado de valor absoluto e função modular. As atividades enfatizam as propriedades numéricas e estabelece interações entre a Aritmética e a Geometria e em algumas situações, com a Álgebra. As propriedades enfatizadas são fundamentais para a resolução de equações e inequações modulares e formam a essência das ligações em rede, que mais adiante, serão realizadas entre a Álgebra, Geometria e Aritmética. Nesta atividade será apresentada a interpretação geométrica na reta numérica, explorando interpretação geométrica de distância e a relação entre os conectivos lógicos, desigualdades modulares e intervalos de reta. 64 A primeira parte, intitulada “definição e interpretação geométrica” é precedida pela seguinte definição de valor absoluto: |x| = máximo{x,-x} A partir desta definição, são propostos alguns problemas para o aluno, referente a cálculo de expressões numéricas do tipo 4 − 7 , sua representação na reta numérica, determinação da distância relativa à origem e comparação das representações feitas na reta numérica, buscando identificar casos de simetria. Esta parte é finalizada com a definição de números simétricos ou opostos e sua comparação com o conceito de distância. Percebe-se, então, a possibilidade de integrar Aritmética e Geometria através do conceito de distância na reta numérica. As estratégias de resolução são bem simples e consistem na aplicação imediata da definição de módulo de um número real. A segunda parte trata das propriedades aritméticas do valor absoluto de um número real. Em princípio, pede-se os possíveis valores de x, caso existam, para igualdades como x = π , x = 0 e x = −1 . Em seguida, questiona-se em quais igualdades foram determinados dois, um ou nenhum valor para x, solicitando sempre a justificativa para que o aluno reflita sobre as condições de existência que serão sistematizadas na segunda atividade. A estratégia de resolução, assim como na primeira parte, vem da aplicação da definição de valor absoluto. Na mesma perspectiva de aplicação do conceito de módulo de um número real, são propostas duas tabelas para exploração das propriedades mais relevantes do valor absoluto. As propriedades, estudadas de modo intuitivo, são |x.y| = |x|.|y| para todo x ∈ IR e y ∈ IR , x x y para todo x ∈ IR , n y = y ∈ IR * e x n = x , sendo n natural par. A partir dos valores 65 encontrados, são levantadas algumas questões para a compreensão das propriedades que estão sendo estudadas por meio da tabela. Por meio destas propriedades, propõe-se uma conexão com a definição e uma das propriedades de radiciação no conjunto dos números reais com o problema que encerra esta parte. Neste problema, a radiciação é apresentada como uma das operações inversas da potenciação. Assim, n a = b ⇔ b n = a para a, b ≥ 0 se n é par ou a, b ∈ IR se n é ímpar. Em seguida, é questionado se pelas condições de existência da radiciação e pela definição de módulo, podemos afirmar que n a n = a, ∀a, n ∈ IR . Nesta conexão é possível explorar as condições de existência da radiciação e entender, conseqüentemente, algumas propriedades gráficas de funções como a exponencial e logarítmica, no que diz respeito a restrição estritamente positiva para o domínio da primeira e o contra-domínio da segunda. Na terceira parte, são exploradas as desigualdades modulares em sua forma básica, a saber x ≥ a e x ≤ a , sendo a ∈ IR+ . Por meio da interpretação geométrica na reta numérica, isto é, em IR, propõe-se uma pequena discussão sobre o uso dos conectivos lógicos que indicam conjunção e disjunção. A primeira atividade se encerra com uma aplicação em Estatística envolvendo o conceito de desvio médio absoluto. Nesta parte é proposta uma situação problema, próxima ao contexto escolar, envolvendo um grupo de 20 alunos e suas respectivas notas numa avaliação bimestral. A partir do conceito de média aritmética simples e valor absoluto, apresenta-se o conceito de desvio médio absoluto e pede-se os cálculos de cada desvio para determinação da média dos desvios. O conceito de valor absoluto e distância são utilizados na compreensão deste conceito estatístico que por sua vez, contribui para a interpretação de desvio padrão em dados discretos ou agrupados. 66 Segunda atividade Essa atividade, denominada “função modular e sua família de curvas”, trata das propriedades gráficas, em especial a simetria em relação aos eixos coordenados e translação de eixos. Também são estudadas as funções combinadas, sendo este o eixo integrador entre a função modular e as outras funções que são estudadas no Ensino Médio. A interpretação geométrica por meio das imagens das funções será usada nas próximas atividades para a resolução de equações e inequações modulares no plano cartesiano, visto que na atividade anterior foi priorizada a interpretação na reta numérica. Na primeira parte é explorada a função formada por várias sentenças. Assim, é proposta uma situação problema envolvendo o valor da conta da água de um determinado local em função de seu consumo. A partir de uma tabela, pede-se para esboçar o gráfico daquela função, que será formado por vários segmentos de retas com inclinações distintas. Esta aplicação à Matemática Financeira está diretamente ligada ao cotidiano de qualquer família e contribui para a interpretação de cobranças tarifárias por faixas de consumo. Na segunda parte da atividade, a definição da função modular na sua forma básica é explorada a partir de princípios gráficos como a simetria e a distância de pontos no plano cartesiano em relação aos eixos coordenados. A partir destes princípios, desenvolve-se o conceito de função modular como função formada por duas sentenças: x se x ≥ 0 f ( x) = x = − x se x < 0 A partir da construção do gráfico, é realizada a análise no que diz respeito ao domínio, imagem, raízes ou zeros da função, simetria em relação aos eixos coordenados, ponto de mínimo, 67 intervalos de crescimento e decrescimento. Nesta parte, consolida-se a interação com as propriedades e elementos da função assim como o princípio de distância de ponto a reta na Geometria Analítica. Na terceira parte, a família de curvas é explorada através da translação de eixos. Desse modo, constrói-se gráficos de tipo f (ax ± b) ± c com a ∈ IR * e b, c ∈ IR a partir do gráfico de f ( x) = x , considerada uma função elementar. Após cada construção, segue-se a análise de cada gráfico em relação ao domínio, imagem, ponto mínimo, zeros da função, intervalos de crescimento e decrescimento. A partir da construção de gráficos de função modular é possível estabelecer uma rede com tantas interações quantas se desejar com as funções do 1º e 2º graus, exponencial e logarítmica. Em algumas situações é possível explorar funções trigonométricas. Sabendo da forma básica de cada uma delas, usa-se combinação de funções e translação de eixos na interpretação geométrica, para a construção dos gráficos de suas transformadas e em seguida, quando for o caso, observa-se a simetria em relação aos eixos coordenados. Em algumas situações estuda-se primeiro a simetria para em seguida aplicar translação de eixos. Por exemplo, para construir o gráfico de f ( x) = 2 x − 1 + 2 , ao final da terceira parte desta atividade, sugere-se a construção do esboço de p ( x) = x e em seguida, g ( x) = 2 x para enfim determinar h( x) = 2 x − 1 e f ( x) = 2 x − 1 + 2 . Essa construção gráfica é um exemplo de situação problema que integra o conceito de função do 1º grau e suas propriedades com o valor absoluto. 68 Figura 8: seqüência da construção do gráfico de p ( x) = 2 x − 1 + 2 a partir de f ( x) = x A segunda atividade finaliza com algumas tarefas complementares que exploram as propriedades estudadas na atividade anterior. É o estabelecimento de interações entre as partes 69 que compõem o estudo do valor absoluto e função modular. Ao traçar os gráficos de f ( x) = x − 3 e f ( x) = 3 − x , propriedade vinda da definição e do conceito de distância podem ser explorados, uma vez que a − b = b − a , ∀a, b ∈ IR . A partir desta atividade, começa a ser utilizado o software livre Geogebra 4 . Trata-se de um software de fácil acesso e que pode ser utilizado nos sistemas operacionais Windows e Linux. Possui uma boa navegabilidade, interface de fácil compreensão, comandos dedutíveis e por ser um software de geometria dinâmica, permite múltiplas explorações e conexões entre Álgebra e Geometria, através da Geometria Analítica. Desenvolvido por Markus Hohenwarter, da Florida Atlantic University, desde 2001 com contribuições de Yves Kreis, da University of Luxembourg (desde 2005), Loic Le Coq (França, desde 2006), Joan Carles Naranjo, Victor Franco e Eloi Puertas, da University of Barcelona (desde 2007) e Philipp Weissenbacher (Áustria, desde 2007). Barra de ferramentas Janela de álgebra Janela de geometria/ gráficos Campo de entrada Figura 9: interface do software Geogebra. _____________________ 4 O software Geogebra pode ser obtido no sítio da Internet: http://www.geogebra.org 70 Terceira atividade A terceira atividade abrange o estudo de igualdades que envolvem valor absoluto e suas resoluções algébrica, em palavras, geométrica na reta numérica e no plano cartesiano. Nesta atividade, a integração curricular ocorre nas diferentes resoluções propostas para cada equação modular. Ao apresentar de maneira gradual cada uma das resoluções, a interação entre elas ocorre na comparação dos resultados obtidos e na percepção das diferentes estratégias utilizadas em cada problema. Na primeira parte da atividade, estuda-se a aplicação do conceito de distância em equações modulares, buscando a expressão verbal para que se entenda o significado da aplicação que está sendo realizada. Ao representar na reta numérica a distância entre x e – x, a escrita em palavras do significado desta representação contribuirá para a resolução de equações modulares, em especial as que envolvem expressões algébricas lineares. i) Resolução na reta numérica Na segunda parte da atividade, três equações modulares são propostas, pedindo-se inicialmente para descrever cada equação verbalmente, usando o conceito de distância para em seguida representar na reta numérica a resolução da equação. Ao resolver uma equação do tipo x − 2 = 4 , verbalmente, tem-se: 71 “valores de x que são abscissas dos pontos cuja distância ao ponto de abscissa 2 é igual a 4”. Desse modo, a representação na reta numérica torna-se simples de ser realizada. A solução é constituída pelos valores -2 e 6, abscissas dos pontos A e B respectivamente. Figura 10: resolução da equação x − 2 = 4 na reta numérica. ii) Resolução no plano cartesiano A terceira parte inicia-se com a resolução no plano cartesiano das mesmas equações modulares que foram resolvidas na reta numérica. Através do princípio de igualdade entre funções, estabelece-se que cada membro da igualdade representa uma função, e em seguida, representa-se no plano cartesiano as funções definidas em cada membro da igualdade, considerando-se cada ponto de interseção dos gráficos das funções como solução da equação modular. Desse modo, uma equação do tipo x − 2 = 4 pode ser escrita como uma igualdade entre as funções y = x − 2 e y = 4 . A solução obtida é a mesma da resolução na reta numérica, isto é, os pontos de abscissas -2 e 6. 72 Figura 11: resolução da equação x − 2 = 4 em no plano cartesiano. Além das três equações propostas inicialmente, são apresentadas mais duas equações, com destaque para a igualdade x − 2 = 2 − x , que trata-se de uma identidade. Após as resoluções, algumas questões contribuem para que se compare os resultados obtidos no plano cartesiano como os observados na reta numérica. Este tipo de comparação, para Friedlander (1995), é o fundamento para a abordagem em espiral do valor absoluto. A quarta parte ocupa-se com a resolução algébrica de cada equação resolvida anteriormente através da interpretação geométrica na reta numérica e no plano cartesiano. A última parte trata de uma aplicação de equações modulares na Física, por meio do estudo da Óptica, em especial os trajetos dos raios luminosos ao serem refletidos em espelhos planos. Em seguida, por meio de uma situação problema em que uma pessoa vê sua imagem refletida em um espelho plano, propõe-se, a descrição de cada trajeto de raio luminoso como uma 73 função modular, considerando-se o plano horizontal como eixo y e a origem como o ponto de interseção do espelho com este plano horizontal. Em seguida, pede-se a localização exata do olho do observador. Figura 12: situação problema envolvendo Óptica e função modular. Este tipo de interação com outras áreas de conhecimento como a Física, mostra como a rede pode ser estabelecida dentro da própria Matemática, entre os diversos temas que a compõem e suas respectivas aplicações, envolvendo conteúdos extra-matemáticos. O uso de software torna-se fundamental devido ao grande número de gráficos explorados no decorrer das atividades. Sobre as contribuições no processo ensino aprendizagem, pode-se afirmar que a informática é uma extensão da memória, com diferenças qualitativas em relação às outras tecnologias da inteligência e permite que a linearidade de raciocínios seja desafiada por modos de pensar, baseados na simulação, na experimentação e em uma “nova linguagem” que 74 envolve escrita, oralidade, PENTEADO, 2001, p.46) imagens e comunicação instantânea. (BORBA, Assim, percebe-se que linearidade do raciocínio cede espaço para a descontinuidade, característica dos inúmeros caminhos que se pode percorrer no estabelecimento da rede. Esta descontinuidade é retratada na terceira atividade nas questões comparativas entre os diferentes métodos de resolução de uma equação modular. Quarta atividade A quarta atividade refere-se ao estudo das desigualdades modulares. Esta atividade foi aplicada em duas versões para fins de comparação de resultados. Metade dos grupos realizou a versão que inicia com a interpretação na reta numérica para em seguida apresentar a interpretação no plano cartesiano. A outra metade realizou a versão que inicia com a interpretação no plano cartesiano para depois resolver na reta numérica as mesmas desigualdades modulares. i) Resolução na reta numérica Na parte que considera a resolução na reta numérica, o valor absoluto é estudado por meio de interpretação geométrica na reta numérica e o uso da expressão verbal para descrever as inequações. Uma inequação do tipo x − 3 + x − 1 ≤ 3 pode ser expressa verbalmente como: 75 “a soma da distância de um número cuja abscissa é x até o 3 e do mesmo ponto de abscissa x até o 1 é menor ou igual a 3”. Após ser expressa em palavras, a interpretação geométrica na reta numérica fica mais simples de ser representada. Neste caso, procura-se o intervalo real que contém os números que satisfazem a desigualdade. Primeiro se estabelece o ponto médio entre 1 e 3 e em seguida, sabendo que a distância pode ser igual a 3, obtém-se os pontos de abscissa 0,5 e 3,5, uma vez que em relação ao ponto de abscissa 2 ambos são eqüidistantes (distância igual a 1,5). Como a distância pode ser menor que 3, segue o intervalo [0,5; 3,5] como solução da equação. Figura 13: resolução da inequação x − 3 + x − 1 ≤ 3 na reta numérica. ii) Resolução no plano cartesiano Na parte que considera a resolução no plano cartesiano, as desigualdades apresentadas anteriormente são resolvidas usando o mesmo raciocínio explorado nas equações, isto é, considera-se cada membro como uma função e a partir da interseção dos gráficos é estabelecido o intervalo que satisfaz a inequação modular proposta. Na equação x − 3 + x − 1 ≤ 3 , que pode ser escrita como x − 3 ≤ 3 − x − 1 , percebe-se a comparação entre duas funções, a saber y = x − 3 e 76 y = 3 − x − 1 . Pede-se os valores em que a primeira função é menor ou igual à segunda função. Ao representar graficamente as funções em um mesmo plano, as interseções ocorrem nos pontos de abscissas 0,5 e 3,5. Assim, pela imagem das funções, determina-se o intervalo [0,5; 3,5] como solução da inequação, apresentado graficamente a seguir. Figura 14: resolução da inequação x − 3 + x − 1 ≤ 3 no plano cartesiano. Após cada resolução no plano cartesiano, compara-se a resposta com a obtida na interpretação geométrica na reta numérica e em seguida propõe-se a resolução algébrica da inequação x − 3 + x − 1 ≤ 3 . 77 Na parte complementar, são propostas mais duas inequações, sendo que uma delas envolvendo o princípio da função do 2º grau: x 2 − 3 ≤ 2 x − 3 . Essas inequações são interpretadas geometricamente no plano cartesiano, sem envolver a solução algébrica, que em muitas situações é longa e subdividida em várias partes. Desse modo, como Friedlander (1995) afirma, a resolução geométrica é mais rápida e significativa para o aluno. 4.4 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES As atividades foram aplicadas na segunda quinzena do mês de setembro de 2007. Conforme descrição anterior, doze alunos participaram da aplicação das atividades, sendo que oito alunos participaram de todas as seções. Foram selecionados alunos da primeira série do Ensino Médio de uma escola federal de Belo Horizonte. Na primeira sessão, que contou com a participação de 12 alunos, foi aplicada a primeira atividade, sobre o valor absoluto e o significado geométrico de seu conceito. A aplicação ocorreu no dia 17 de setembro de 2007, entre 10h e 12h 30 min, em uma das salas de aula da escola e nela, os alunos foram organizados em dupla. Quase a totalidade das duplas resolveram todas as partes da primeira atividade antes do tempo estimado, que foi de 150 minutos. Apenas uma dupla terminou a atividade depois de decorridos 120 minutos. Na segunda sessão, que ocorreu no dia seguinte ao da primeira atividade, foi realizada a atividade sobre função modular e sua família de curvas no laboratório de informática da escola. Esta sessão contou com a presença do orientador desta pesquisa, conforme previsto no estágio 78 curricular. Na ocasião, os alunos desenvolveram as atividades com auxílio do software Geogebra. Apesar de ser o primeiro contato dos alunos com o programa, todos o utilizaram sem maiores problemas. As dúvidas quase sempre se restringiam à lembrança de alguns comandos. Neste dia, devido a uma aplicação de prova bimestral, a atividade teve duração de apenas 90 minutos e dos doze alunos presentes, seis (três duplas) não terminaram a atividade, ficando para o dia seguinte o término das atividades. A terceira sessão ocorreu no dia 19 de setembro de 2007 e foi aplicada no laboratório de informática. Participaram desta atividade nove alunos, sendo que os demais ausentes justificaram a ausência por motivos diversos. A proposta inicial era retornar à sala de aula, mas os alunos solicitaram a continuação do uso do programa Geogebra para encerrar a segunda atividade e realizar as etapas da terceira atividade, que na resolução das equações modulares em IR² poderia dar continuidade ao uso do programa. Desse modo, o programa foi fundamental para garantir aos alunos a continuidade das tarefas sem gerar atrasos que pudessem comprometer o andamento das atividades, que foram desenvolvidas neste dia com um prazo de 150 minutos. A quarta sessão ocorreu no dia 24 de setembro de 2007 devido a disponibilidade no calendário escolar da instituição. Esta atividade, sobre as desigualdades modulares ocorreu dentro do prazo previsto, que era de 150 minutos e contou com a participação de dez alunos. A atividade ocorreu em uma das salas de aula da escola, sem auxílio do software Geogebra. A grande maioria dos alunos terminaram a atividade antes do prazo previsto. A última sessão contou com a participação de 11 alunos e ocorreu no dia 26 de setembro. Este último encontro foi dividido em duas partes. Em um primeiro momento, com duração de 60 minutos, as duplas foram organizadas em grupos de quatro alunos para trocar experiências, estratégias e comparar os resultados obtidos. Em seguida, os alunos participaram de uma 79 socialização que teve duração de 90 minutos, sendo que os 30 minutos finais foram registrados em vídeo. 4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS A seguir serão apresentados alguns resultados sobre as atividades quanto à sua aplicação e as respostas apresentadas pelos alunos durante as quatro primeiras sessões. Para efeitos de análise, serão apresentados protocolos contendo as respostas das duplas que evidenciaram alguns fatores apresentados no referencial teórico quanto a organização curricular de rede. Também serão mostrados os protocolos que em comparação com os dados da primeira fase da pesquisa, a de elaboração das atividades, possibilitaram algumas alterações na estrutura da seqüência didática. A análise das respostas foi feita em duas etapas. Na primeira etapa, cada dupla teve as respostas de cada uma das atividades analisadas tendo em vista a evolução do desenvolvimento dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Na segunda etapa, as respostas das duplas para um mesmo problema foram comparadas entre si tendo em vista os mesmos conteúdos propostos por Zabala (1998) e as observações feitas durante a aplicação do instrumento de pesquisa e a socialização final. 80 Primeira atividade Na primeira atividade, a grande maioria dos alunos não apresentou grandes dificuldades. O debate inicial dos componentes das duplas consistiu na questão: “a distância pode ser negativa?” Após alguns poucos minutos de discussão eles chegaram a conclusão que não poderia ser negativa. Apesar do levantamento dessa questão, a primeira parte que tratava da definição e sua interpretação geométrica foi resolvida com considerável facilidade. Na segunda parte, sobre propriedades, a polêmica entre os alunos concentrou-se logo no início dessa parte, problema 5, item c, quando foi solicitado aos alunos determinar os possíveis valores de x caso existam para x = 0 e no problema 6, item c, perguntando por que foi observado a presença de apenas um valor para x. Quase todas as duplas afirmaram, após um pequeno tempo de discussão, que o zero é um número neutro, que para eles, implicava não ser nem negativo e nem positivo. As tabelas dessa segunda parte foram preenchidas rapidamente e as questões colocadas logo a seguir, que buscavam levar o aluno a refletir sobre as propriedades exploradas, contribuíram para estabelecer algumas interações entre a Aritmética e o valor absoluto. A conexão entre a definição da radiciação e a definição do valor absoluto pode ser observada de forma intuitiva na resposta a seguir: 81 Figura 15: protocolo extraído de uma das duplas, referente à primeira atividade, problema 11. Duas das duplas afirmaram que a proposição do problema 11 estava correta e aplicaram a propriedade do expoente fracionário sem perceber as restrições da condição de existência da radiciação e sem lembrar que a propriedade do expoente fracionário só pode ser aplicada se o máximo divisor comum entre o índice da raiz e o expoente da base for igual a 1. A parte sobre as desigualdades, isto é, o uso dos conectivos, fator integrador entre a lógica matemática, valor absoluto, inequações e intervalos reais, ficou mais evidenciado no raciocínio dos alunos. A interpretação geométrica na reta numérica contribuiu para a compressão do uso dos conectivos lógicos, ainda que de forma intuitiva. Figura 16: protocolo extraído de uma das duplas referente à primeira atividade, problema 14. 82 A última parte, que apresenta uma interação entre um conteúdo matemático (módulo de um número real) e outro extra-matemático (desvio médio absoluto), demandou um pouco mais de tempo por partes dos alunos. As discussões foram ricas e a representação em IR contribuiu para que o conteúdo conceitual, desenvolvido até aqui por meio das partes anteriores, proporcionasse de maneira integrada o desenvolvimento do conteúdo procedimental inerente à aplicação no cotidiano. Isso ficou evidenciado na forma como os alunos se posicionaram diante da aplicação, com respostas que mostraram a compreensão da atividade proposta e com uma postura de interesse por se tratar de uma análise que eles mesmos podem fazer diante da divulgação de algum resultado das notas de uma sala de aula. figura 17: protocolo de resolução da primeira atividade, referente à aplicação em Estatística. 83 Em relação a primeira atividade, percebe-se que trata-se mais de uma seqüência de conteúdos, como propõe Zabala (1998), visto que a ênfase está no tema valor absoluto. Porém percebem-se ainda algumas tendências que poderiam classificar esta atividade com seqüência didática. A investigação e o estímulo à busca pelas respostas através das conexões estabelecidas entre Aritmética e Geometria são fatores que caracterizam esta primeira atividade como parte da seqüência didática. Segunda atividade Esta atividade foi iniciada com uma aplicação de função descrita por várias sentenças. Tratava-se de um problema que envolvia a segmentação tarifária na cobrança de uma conta de água. O fato da atividade ter iniciado com uma aplicação que estava mais extensa comprometeu o tempo de aplicação. Os alunos apresentaram dificuldades relativas ao problema original que, além de representar a situação problema inicial, simulava uma outra situação problema com alteração percentual em seus valores, resultando em um novo gráfico. Portanto, a dificuldade não estava presente na contextualização, mas no excesso de atividades ligadas à situação problema original referente ao pagamento de uma conta de água. As devidas alterações foram feitas na atividade, de modo que a versão apresentada no anexo já está alterada. O fato de a tabela tarifária apresentar uma descontinuidade entre 10 e 11m³ provocou um intenso debate sobre questões como: “qual o valor a pagar por um consumo de 10,5m³?” ou “por que apenas entre estas faixas apresenta uma interrupção?” Essas questões contribuem para 84 a integração entre os diversos saberes em Matemática. Sem ainda estudar o princípio da continuidade, o aluno pode ter um contato inicial com uma situação problema bem próxima ao seu cotidiano. Esse contato rompe com a linearidade presente na maioria dos currículos de Matemática e abre perspectivas para a organização curricular em rede, proposta por Pires (2000). Figura 18: protocolo de resolução retirado da segunda atividade, problema 2. A segunda parte da aplicação tem como objetivo apresentar a definição de função modular em sua forma básica elementar (y=|x|) e o estudo de sua representação gráfica. Para evitar um salto entre Aritmética e Álgebra, a Geometria foi utilizada para uma série de questões sobre simetria e representação gráfica, afim de criar condições para a compreensão da função modular como uma função formada por suas sentenças. Figura 19: protocolo de resolução retirado da segunda atividade, problema 3, item i. 85 Alguns detalhes foram esquecidos pelas duplas, como por exemplo, a inclusão do zero em uma das condições. A grande maioria reconheceu o esquecimento após uma pequena intervenção por parte do pesquisador no momento de socialização. A partir do gráfico da função modular básica, a saber, f ( x) = x , foram propostas várias construções para explorar princípios como a translação de eixos e combinação de funções. Neste momento, o uso do software Geogebra contribuiu para ampliar a quantidade de gráficos que foram feitos e facilitar a visualização das propriedades estudadas. Mesmo usando o software, os alunos transcreveram cada representação gráfica na folha da atividade (em folha de papel). Em seguida, responderam questões básicas sobre o gráfico, tais como domínio, imagem, intervalos em que é crescente e/ou decrescente, raízes e ponto de mínimo/máximo. Figura 20: protocolo de resolução retirado da segunda atividade, problema 6. 86 Após o esboço gráfico de cada caso, a questão que se segue contribuiu para uma reflexão mais apurada dos alunos em relação às propriedades estudadas. A aprendizagem mostrou-se mais significativa e integrada com os demais problemas, uma vez que a comparação entre os diferentes casos gráficos ocorre naturalmente na medida em que a atividade se desenvolve. Figura 21: protocolo de resolução da segunda atividade, problema 7. Com exceção de uma dupla que apresentou mais dificuldades, as demais realizaram todas as atividades, inclusive a parte complementar que encerra esta atividade. Nesta parte, os alunos realizaram os gráficos de funções modulares combinadas com a função quadrática sem dificuldades. Percebe-se que uma vez entendida a combinação da função modular com qualquer uma das funções, é possível combinar com as demais, tecendo a rede curricular de forma ampla e consistente. A utilização do software contribuiu para a construção do significado da função modular e em que condições ocorrem sua família de curvas, evitando vícios cometidos em grande parte dos livros didáticos, como por exemplo, que a imagem da função modular é sempre positiva. 87 Terceira atividade Esta atividade, sobre as igualdades modulares, inicia-se conjugando a representação na reta numérica com a expressão verbal o conceito de distância entre dois números para várias situações. Alguns alunos apresentaram uma certa resistência em escrever verbalmente o significado de cada expressão, mas ao resolver equações modulares na reta numérica perceberam a importância da verbalização para uma interpretação geométrica adequada. Ao depararem com uma equação do tipo x − 2 = 3 − x , a interpretação geométrica na reta numérica e sua expressão verbal tornou-se complicada para a maioria das duplas, que ficaram agitadas. As duplas não conseguiram perceber a igualdade x − 3 = 3 − x . O conteúdo conceitual estudado nas propriedades da primeira atividade não estabeleceu uma conexão com o conteúdo procedimental que começa a ser aplicado nesta atividade. Neste caso, como Ernest (1996) apresenta, a atividade deve ser guiada para que o aluno possa realmente compreender a situação problema e assim, estabelecer a estratégia que julgar conveniente para a resolução. Figura 22: protocolo de resolução da terceira atividade, problemas 6 e 7. 88 Com relação ao protocolo de resolução anterior, é interessante observar que na resolução algébrica, uma das partes da resolução não apresenta solução. Isso levantou questionamentos do tipo: “não era para ter duas raízes?” ou “ainda não consegui achar a outra raiz!” Este tipo de equação remete a uma reflexão que na função modular, a diversidade de situações rompe com a tendência tecnicista de resolver todos os problemas da mesma maneira, como por exemplo, a equação do 2º grau, que sempre pode ser resolvida pela fórmula conhecida como “de Bháskara”. Assim, a rede curricular fica favorecida devido a diversidade dos casos ser acompanhada por uma diversidade ainda maior de possíveis interações que podem ser estabelecidas dentro da própria Matemática ou com outras áreas de conhecimento. Ao introduzir a resolução em no plano cartesiano das mesmas equações que na parte anterior foram resolvidas na reta numérica, os alunos não apresentaram dificuldades em identificar os valores de x que satisfazem a igualdade. Desse modo, afirmaram que se tratava de uma resolução mais fácil que a anterior. A parte seguinte, referente a resolução algébrica demandou um tempo excessivo devido a tendência de separar em partes e fazer a resolução de cada parte dentro das condições de existência, determinando assim, a solução da equação. Figura 23: protocolo referente a resolução do problema 8, terceira atividade. 89 Sobre a equação x − 2 + x + 3 = 4 , proposta no problema 11, uma aluna afirmou que “equações modulares sem solução são mais fáceis de visualizar no plano cartesiano”. De fato, a resolução na reta numérica não permite uma rápida visualização desse tipo de situação, mesmo que seja trabalhada a expressão verbal. Figura 24: protocolo da atividade 11, itens e-f, terceira atividade, sobre a interpretação no plano cartesiano. 90 A terceira atividade se encerra com um problema de aplicação da função modular na Física, estudo de Óptica e formação da imagem em espelhos planos. Como se trata de reflexões simétricas bilateralmente, foi proposta uma situação em que o aluno escreve a equação de cada trajetória dos raios. Neste problema, os alunos apresentaram um pouco de insegurança em relação ao novo conteúdo da Física, mas o conhecimento em função modular contribuiu para a interação entre Matemática e Física, formando uma rede entre duas áreas de conhecimento distintas. Figura 25: última parte da terceira atividade – protocolo de resolução. 91 Quarta atividade Esta atividade foi realizada por quatro grupos (formados por dois ou três alunos), de modo que a metade dos grupos realizou a atividade na seguinte ordem: resolução na reta numérica para depois resolver no plano cartesiano e a outra metade dos grupos fez a mesma atividade em ordem inversa. De acordo com Friedlander (1995) em seu artigo sobre o ensino de valor absoluto numa abordagem espiral, os alunos e professores tendem a achar mais fácil a resolução em no plano cartesiano. Porém, as duplas que resolveram na reta numérica primeiro apresentaram maior desenvoltura e facilidade na resolução das inequações. Isto se deve ao fato daqueles que resolveram primeiro no plano cartesiano apresentarem uma certa dificuldade em resolver os mesmos problemas na reta numérica, sendo que o contrário não se verifica, ou seja, ao resolver na reta numérica, a resolução no plano cartesiano ocorre de modo mais natural, caso seja feito em seguida. As inequações modulares que são propostas nesta atividade estão organizadas em ordem crescente de dificuldade. Por essa razão, todos os grupos realizaram no tempo proposto todas as atividades, inclusive as complementares. A resolução das desigualdades se deu numa agilidade consideravelmente maior se comparada com a resolução das equações (sem considerar as resoluções algébricas). Optou-se por não explorar demasiadamente a resolução algébrica, por ser extensa e pelo foco integrador entre Álgebra e Geometria, presente nesta pesquisa. Os alunos perceberam que a resolução das inequações segue o mesmo princípio das equações modulares. Isso torna-se perceptível nas resoluções na reta numérica e no plano 92 cartesiano, quando os pontos válidos no caso de uma igualdade são marcados e a partir deles, determina-se, se for o caso, o(s) intervalo(s) que satisfaz(em) a desigualdade. Todos os alunos se equivocaram na resolução de uma desigualdade do tipo 3 x − 5 > 2 x − 1 . Muitos consideraram que o simples fato de existir uma variável externa às barras de módulo implica que a expressão externa deve ser estritamente positiva ou igual a zero. É possível que este tipo de equívoco seja resultante de uma generalização indevida dos princípios restritivos de uma equação. Figura 26: protocolo de resolução da inequação modular 3 x − 5 > 2 x − 1 no plano cartesiano. 93 5 CONCLUSÃO O ensino do valor absoluto e função modular, por meio de uma seqüência didática formada numa perspectiva curricular em rede, foi abordado nesta pesquisa qualitativa. As evidências levantadas ao longo da elaboração das atividades investigativas e os dados e informações obtidos na aplicação contribuíram para a formação de uma seqüência didática que integra características de uma seqüência de conteúdo, currículo em rede e os tipos de conteúdos: conceituais, procedimentais e atitudinais, além de suas peculiaridades. Em relação ao problema de pesquisa, as evidências mostram que a função modular e o valor absoluto, por serem assuntos que possuem diversas estratégias para resolução de problemas, estabelecem interações diversificadas, de modo que o uso de combinação de funções e translação de eixos permitem conexões com outras funções matemáticas e com alguns princípios da Geometria Analítica que estejam relacionados com distância. Logo, a formação de ligações entre os diversos nós (assuntos) da Matemática abrem perspectivas para interações entre diferentes áreas de conhecimento, como a língua Portuguesa e a Matemática na expressão verbal de equações e inequações modulares; Física e Matemática na trajetória de raios na formação de imagens em espelhos planos; Estatística e Matemática com a definição de desvio médio absoluto. Como afirma Pires (2000), as conexões não ocorrem apenas em nível intra-matemático. A resolução de igualdades e desigualdades modulares, a partir da expressão verbal e interpretação geométrica, na reta numérica e no plano cartesiano, contribui para uma abordagem integrada entre Álgebra e Geometria, que segundo Friedlander (1995) resulta num ensino em 94 espiral. Ora, se a abordagem é espiral, ao percorrer um caminho com essa trajetória se faz necessário a interligação entre as diversas partes para romper com a linearidade dos currículos. Desse modo, as estrutura do Ácido Desoxirribonucléico ADN (ou DNA na língua Inglesa) constitui uma boa metáfora para indicar o perfil do caminho que assuntos como a função modular percorrem. Trata-se de uma junção entre a abordagem espiral e a curricular em rede, que possibilita várias interações entre os diversos temas, numa referência à dupla hélice que liga fortemente as duas longas fitas que constituem o ADN. A informação genética que cada ADN traz são os tipos de conteúdos que podem ser formalizados por meio das interações. O nó escolhido para análise das interações estabelecidas na rede revela que qualquer assunto pode ser integrador. Basta focar nas interações, pois assim o significado de cada nó será amplamente conhecido. O uso de informática para explorar gráficos foi essencial para a aprendizagem significativa das propriedades da função, evitando concepções equivocadas a respeito de princípios matemáticos como a definição de valor absoluto de um número real e a representação gráfica de funções modulares. Assim, a utilização de software contribuiu para a conexão entre os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. A aplicação das atividades mostrou que a ordem entre os tipos de resolução possíveis no estudo de determinado tema não segue a coerência rígida presente no currículo linear e compartimentado. Antes, segue a flexibilidade condicionada à organização curricular em rede. A aplicação também revelou que o grau de dificuldade dos alunos em relação a temas específicos não são relevantes na formação de estratégias de resolução e no raciocínio desenvolvido. Mesmo temas de outras áreas de conhecimento que ainda não são conhecidos pelos alunos, ao serem associados com temas que estão sendo estudados e aplicados no processo ensino e aprendizagem, tornam-se acessíveis e passíveis de um significado integrador. 95 Os dados obtidos na aplicação, ao serem confrontados com os dados do processo de elaboração das atividades, não evidenciaram o motivo que levou algumas conexões entre as atividades a não subsistirem. Algumas das propriedades aritméticas e gráficas não foram aplicadas na resolução de equações, mesmo as atividades sendo aplicadas em dias consecutivos. Contudo, algumas questões surgiram com o a análise de resultados: • Como associar o ensino de função modular e valor absoluto com a Matemática Financeira e as restrições estritamente positivas de funções como demanda e receita? • Como desenvolver o estudo de lugar geométrico na Geometria Analítica através do conceito de módulo? • Como realizar a mesma abordagem curricular no Ensino Superior, envolvendo números complexos? • Como se dá a interação entre valor absoluto e a introdução ao cálculo diferencial na definição de limite de uma função? Propõe-se como temas de futuras pesquisas sobre o ensino de valor absoluto e função modular a utilização da definição de valor absoluto, lugar geométrico, distância e cônicas para a resolução de igualdades e desigualdades algébricas modulares na reta numérica e no plano cartesiano. Pode-se estender a pesquisa para a resolução em IR³. Portanto, espera-se que a pesquisa aqui apresentada contribua para o desenvolvimento de mais ações integradas no currículo e desperte o interesse em projetos que envolvam o estudo do valor absoluto e da função modular, tendo em vista suas múltiplas abordagens. 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BICUDO, Maria A. V. Pesquisa Qualitativa e Pesquisa Qualitativa segundo a abordagem fenomenológica. In: Marcelo C. Borba & Jussara Loiola Araújo (orgs.): Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.99-112. BORBA, Marcelo; PENTEADO, Miriam. Informática e educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. BRAGA, Ciro. Função: a alma do ensino da Matemática. São Paulo: Annablume - FAPESP, 2006. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) . Secretaria de Educação Média e Tecnológica - Brasília: MEC/SEMT, 2002. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) – Orientações Educacionais complementares (PCN+). 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Sabe-se que o módulo (valor absoluto) de um número real x, é definido como sendo o maior valor entre x e -x, isto é: |x| = máximo{x,-x} 1ª parte: Definição e interpretação geométrica. 1) Usando a definição acima, determine qual o valor de cada expressão numérica abaixo. a) 4 − 7 = ........................ b) 3 + 5 = ........................ c) π − 4 = ....................... d) 4 − π = ....................... e) 7 − 4 = ........................ 2) Represente na reta numérica cada valor relativo no item anterior e em seguida represente seu valor absoluto correspondente. 3) Determine a distância de cada número assinalado na reta numérica em relação a origem (zero). a) b) c) d) e) 4 – 7 – Distância: ............................. 3 + 5 – Distância: ............................. π − 4 - Distância: ............................ 4 − π - Distância: ............................ 7 – 4 – Distância: ............................. 101 4) Verifique que o valor absoluto indica em IR a distância do número a origem. Sendo assim, podemos afirmar que o módulo representa a distância de um número até a origem. Quando existem dois números com módulos iguais e valores relativos com sinais opostos, dizemos que esses números são opostos ou simétricos. Identifique os pares de números simétricos na representação feita no questão 02. 2ª parte: Propriedades. 5) Determine os possíveis valores de x em cada item (se existir). a) x = 4 ................................................................................... b) x = π .................................................................................. c) x = 0 ................................................................................... d) x = −4 ................................................................................ e) x = −1 ................................................................................ 6) Responda as seguintes questões sobre o exercício anterior. a) Em quais itens você observou a existência de dois valores para x? Por quê? b) Em quais itens você observou a inexistência de valores para x? c) Em quais itens você observou a presença de apenas um valor para x? Por quê? 102 7) Calcule os módulos e efetue as operações indicadas, completando as tabelas a seguir. Tabela 1 x 1 -3 -4,5 π 4 y |x| |y| |x.y| |x|.|y| x x y y -2 -4 6 −π 5 Tabela 2 8) a) Quais igualdades podem ser estabelecidas a partir da tabela 1? b) Este tipo de propriedade poderia ser usada em adição e subtração de valores absolutos e módulo da soma ou diferença dos respectivos valores relativos? Explique dando contraexemplos. 9) Na tabela 2, identifique pares de colunas que apresentam resultados congruentes. 103 10) Generalizando, para que tipo de expoente temos resultados iguais valor absoluto e relativo? Justifique. 11) A radiciação é uma das operações inversas da potenciação. Assim, n a = b ⇔ b n = a para a, b ≥ 0 se n é par ou a, b ∈ IR se n é ímpar. Pelas condições de existência da radiciação e pela definição de módulo, podemos afirmar que n a n = a, ∀a, n ∈ IN * − {1} ? Justifique. SÍMBOLOS: ∀ - para todo ⇔ se, e somente se 3ª parte: desigualdades. 12) Determine o conjunto de todos os valores reais de x para os quais tem-se: a) x ≥ 6 ⇒ x ≥ ........ ou x ≤ ............ b) x > 4,5 ⇒ x > ....... ou x < ............... c) x ≤ 3 ⇒ x ≤ ......... e x ≥ ............ d) x < 5 ⇒ x < .......... e x > ............. 13) Represente cada conjunto acima na reta numérica. a) 104 b) c) d) 14) Conectivo lógico é um operador lógico que se liga a uma ou mais proposições simples transformando-as em proposições compostas. O conectivo “e” é usado para indicar conjunção e o conectivo “ou” é usado para indicar disjunção. Observe que na questão 12 foram empregados conectivos lógicos distintos. Explique a distinção no uso dos conectivos lógicos. 15) Se a ∈ IR+ logo x ≥ a se ........................ e x ≤ a se ....................................... Geometricamente, como podemos representar as condições acima na reta numérica? 105 4ª parte: Aplicações. 16) Considere uma sala de aula da primeira série do Ensino Médio com 20 alunos. O professor de Matemática decidiu fazer um levantamento estatístico das notas que os alunos apresentaram na sua última avaliação bimestral. Ao fazer o levantamento, ele obteve as seguintes notas, numa escala de 0 a 10: 3,4 7,5 4,5 7,6 5,6 8,0 5,7 8,3 6,1 9,1 6,2 9,4 6,7 9,7 7,1 9,8 7,1 10,0 7,2 10,0 Determine a média aritmética simples das notas nesta sala, sabendo que a média aritmética de n elementos é dada pela divisão por n da soma dos n números dados. 17) Ao determinar o valor de uma grandeza em um experimento ou levantamento de dados, é necessário determinar o intervalo de valores ao qual pertence o valor determinado. Podemos escrever esta grandeza da seguinte forma: x = x ± d , sendo x o valor da grandeza, x o valor mais provável e d o desvio médio absoluto, isto é, média aritmética simples dos desvios dos valores a contar da média, ignorando-se o sinal de diferença. Assim: d 1 + d 2 + d 3 + ... + d n d= n sendo n a quantidade de dados e cada d n o desvio que afeta sua respectiva medida. Complete a tabela a seguir com a medida de cada desvio e em seguida determine o desvio médio absoluto. 106 Tabela 3 xi d i = xi - x di d = ................................................................. 18) Ao realizar este tipo de tratamento de dado, o professor está procurando a nota média e seu respectivo desvio. Escreva o resultado da grandeza procurada pelo professor conforme definição apresentada no item anterior. 107 19) Represente numa mesma reta numérica cada nota, a média aritmética simples das notas, cada desvio e o desvio médio absoluto. O que você observa nesta representação? (Para facilitar sua observação, represente a média e o desvio absoluto médio com cores diferentes). 20) Por que deve ser usado módulo para calcular o desvio médio absoluto? 108 ATIVIDADES INVESTIGATIVAS EM MATEMÁTICA. 2ª atividade: A função modular e sua família de curvas. ALUNOS: _____________________________________________________________ 1ª parte: Função formada por várias sentenças. 1) Observe a tabela abaixo que ilustra um documento referente ao consumo de água residencial em um determinado mês. Observe que a conta possui uma tarifa mínima e diferentes faixas de tarifação. COMPANHIA DE SANEAMENTO (tarifas de água/m³) Faixas de consumo Tarifa – R$ consumo Valor – R$ 6,50 Tarifa mínima 6,50 Até 10 0,95 5 4,75 11 a 15 1,75 5 8,75 15 a 20 2,50 3 7,50 20 a 25 3,00 ---------------Acima de 25 Total ---------23 27,50 Represente graficamente o valor da conta de água acima em função do consumo em m³. Em seguida, trace os segmentos de retas que unem os pontos assinalados para observar a generalização desta situação. 109 2) Observe a seguir as equações das retas suportes de cada segmento acima traçado e determine suas respectivas condições que descrevem a função da conta de água em função do consumo. * f ( x) = 6,50 ................................................................. * f ( x) = 6,50 + 0,95 x ...................................................... * f ( x) = 11,25 + 1,75 x........................................................ * f ( x) = 19 + 2,50 x............................................................. * f ( x) = 26,50 + 3 x.............................................................. A função acima é um exemplo de função formada por várias sentenças. Neste tipo de função encontramos várias equações descrevendo uma mesma função, porém em intervalos de domínio distintos. 110 2ª parte: a Função Modular. Os subitens a, b, c, d da atividade 4 devem ser realizadas no primeiro plano cartesiano. 3) Dê o que se pede: a) Trace a reta f ( x) = x , conhecida como função identidade. Esta reta é bissetriz dos 1º e 3º quadrantes do plano cartesiano. b) Determine a equação g (x ) da reta que é bissetriz dos 2º e 4º quadrantes e em seguida trace esta reta. c) Determine as imagens a seguir e trace suas coordenadas no plano cartesiano f (−3), f (−1), f (0), f (1), f (3), g (−3), g (−1), g (0), g (1) e g (3). d) Trace no plano cartesiano as distâncias de cada ponto do item c ao eixo das abscissas e ao eixo das ordenadas. 111 e) Complete a tabela referente ao item d da questão 04. Tabela 1: x f(x) Distância do ponto em relação ao eixo das abscissas. Distância do ponto em relação ao eixo das ordenadas. |x| g(x) Distância do ponto em relação ao eixo das abscissas. Distância do ponto em relação ao eixo das ordenadas. |x| Tabela 2: x f) O que você observa em relação às distâncias aos eixos coordenados para cada ponto observado na tabela? 112 g) Trace os gráficos dos valores absolutos de f ( x ) e g ( x) no plano abaixo, obtendo assim o gráfico que será chamado h(x). h) O que você observa para os valores de x e suas respectivas imagens nos gráficos dos valores absolutos de f ( x ) e g ( x) ? 113 i) Reescreva a equação do gráfico de h( x) = x como função formada por duas sentenças e seus respectivos domínios. j) Sobre o gráfico de h(x) , determine: • Domínio da função. • Imagem da função. • intervalo de crescimento. • intervalo de decrescimento. • ponto mínimo da função. • se existe simetria em relação aos eixos coordenados. E em caso afirmativo, a quais eixos. • zero da função. 114 3ª parte: o gráfico das funções modulares transformadas. Na 3ª parte será fundamental a utilização de um software para construção de gráficos. Sugerimos a utilização do software GEOGEBRA. 4) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções e transcreva o esboço para o plano abaixo: a) f ( x) = x b) f ( x) = x − b para b = 1. c) f ( x) = x + b para b = 1. 115 d) Sobre os gráficos traçados acima, determine: Tabela 3: ************** f ( x) = x f ( x) = x − b para b = 1. f ( x) = x + b para b = 1. Domínio Imagem Ponto mínimo Zero da função Intervalo crescimento Intervalo decrescimento de de 6) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções e transcreva o esboço para o plano abaixo: a) f ( x) = x b) f ( x) = x − b para b = 2, 3, 4 ... c) f ( x) = x + b para b = 2, 3 , 4 ... 116 7) O que você observa nos gráficos de f ( x) = x − b e f ( x) = x + b em relação a f ( x) = x ? (Considere b ∈ Z ). 8) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções: a) f ( x) = x b) f ( x) = x + b para b = 1. c) f ( x) = x − b para b = 1. 117 d) Sobre os gráficos traçados acima, determine: Tabela 4: ************** f ( x) = x f ( x) = x + b para b = 1. f ( x) = x − b para b = 1. Domínio Imagem Ponto mínimo Zero da função Intervalo crescimento Intervalo decrescimento de de e) Por que a imagem assume alguns valores negativos nas funções f ( x) = x ± b , b = 1? 9) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções e transcreva o esboço para o plano abaixo: a) f ( x) = x b) f ( x) = x + b para b = 2, 3, 4 ... c) f ( x) = x − b para b = 2, 3, 4 ... 118 10) O que você observa nos gráficos de f ( x) = x + b e f ( x) = x − b em relação a f ( x) = x ? (Considere b ∈ Z ). 119 11) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções: a) f ( x) = x b) f ( x) = ax para a = 2. c) f ( x) = ax para a = ½. d) Sobre os gráficos traçados acima, determine: Tabela 5: ************** Domínio Imagem Ponto mínimo Zero da função Intervalo crescimento Intervalo decrescimento de de f ( x) = x f ( x) = ax para a = 2. f ( x) = ax para a = ½. 120 12) Esboce num mesmo plano cartesiano a seguinte família de funções e transcreva o esboço para o plano abaixo: a) f ( x) = x b) f ( x) = ax para a = 3, 4, 5 ... c) f ( x) = ax para a = 1/3, ¼, 1/5 ... 13) O que você observa nos gráficos de f ( x) = ax em relação a f ( x) = x ? (Considere a ∈ R * e a ≠ 1). 121 14) Reescreva a função f ( x) = 2 x − 1 + 2 como uma função formada por duas sentenças. 15) A partir das observações levantadas em exercícios anteriores, determine o esboço gráfico de f ( x) = 2 x − 1 + 2 a partir da translação de eixos. Sugestão: determine o esboço de f ( x) = x e em seguida, g ( x) = 2 x para enfim determinar h( x) = 2 x − 1 e p ( x) = 2 x − 1 + 2 . 122 ATIVIDADES COMPLEMENTARES. 16) Esboce o gráfico de f ( x) = x − 3 e f ( x) = 3 − x . O que você observa em relação a estes gráficos? 17) Escreva cada função a seguir como função formada por duas sentenças e em seguida, esboce seu gráfico. 2 a) f ( x) = x − 4 ⋅ x − 5 123 b) f ( x) = x 2 − 4 ⋅ x − 5 124 18) Por que os gráficos do exercício anterior não são congruentes? 125 ATIVIDADES INVESTIGATIVAS EM MATEMÁTICA. 3ª atividade: A equação modular. 1ª parte: Equação modular e o conceito de distância em IR. 1) Represente na reta numérica e escreva em palavras a distância entre: a) x e –x b) x e 3 com x > 3. c) x e 3 com x < 3. d) x e -5 com x > -5. e) x e -5 com x < -5. 126 f) x + 5 e x. g) x + 2 e x. h) x + 5 e x + 2. i) x – a e x + a. j) a – x e x – a. 2ª parte: Resolução de equações modulares em IR. 2) Com o conceito de distância, escreva em palavras a equação x − 2 = 4 127 3) Mostre na reta numérica a resolução da equação acima. 4) Com o conceito de distância, escreva em palavras a equação x + 2 = 4 5) Mostre na reta numérica a resolução da equação acima. 6) Escreva em palavras a equação x − 2 = 3 − x com o conceito de distância. 7) Mostre na reta numérica a resolução da equação acima. 128 3ª parte: Resolução de equações modulares em IR². 8) Observe a equação x − 2 = 4 e dê o que se pede. a) Escreva em palavras a equação acima como igualdade entre duas funções. b) Expresse algebricamente as duas funções. c) Represente graficamente estas funções e determine o(s) ponto(s) de interseção dos gráficos em R² . 129 d) Comparando com a resolução em IR, o que você observa em relação ao conjunto solução e a interseção dos gráficos? 9) Observe a equação x + 2 = 4 e dê o que se pede. a) Escreva em palavras a equação acima como igualdade entre duas funções. b) Expresse algebricamente as duas funções. c) Represente graficamente estas funções e determine o(s) ponto(s) de interseção dos gráficos em R² . 130 d) Comparando com a resolução em IR, o que você observa em relação ao conjunto solução e a interseção dos gráficos? 10) Observe a equação 3 − x = x + 2 e dê o que se pede. a) Escreva em palavras a equação acima como igualdade entre duas funções. b) Expresse algebricamente as duas funções. c) Represente graficamente estas funções e determine o(s) ponto(s) de interseção dos gráficos em R² . 131 d) Comparando com a resolução em IR, o que você observa em relação ao conjunto solução e a interseção dos gráficos? 11) Observe a equação x − 2 + x + 3 = 4 e dê o que se pede. a) Com o conceito de distância, escreva em palavras a equação acima. b) Mostre na reta numérica a resolução da equação acima. c) Escreva em palavras a equação acima como igualdade entre duas funções. d) Expresse algebricamente as duas funções. 132 e) Represente graficamente estas funções e determine o(s) ponto(s) de interseção dos gráficos em R² . f) Comparando com a resolução em IR, o que você observa em relação ao conjunto solução e a interseção dos gráficos? 12) Observe a equação x − 2 = 2 − x e dê o que se pede. a) Escreva em palavras verbalmente a equação acima como igualdade entre duas funções. 133 b) Represente graficamente estas funções e determine o(s) ponto(s) de interseção dos gráficos em R² . 4ª parte: Resolução algébrica de equações modulares. 13) Resolva algebricamente as equações. a) x − 2 = 4 134 b) x + 2 = 4 c) 3 − x = x + 2 135 d) x − 2 + x + 3 = 4 136 5ª parte: aplicação em Física. 14) Considere um espelho plano horizontal sobre o qual incide um raio de luz com inclinação de 60º em relação ao plano do espelho. Dê o que se pede: a) Represente no diagrama a seguir a trajetória do raio que será refletido pelo espelho. b) Qual o ângulo, em relação ao plano do espelho, formado pelo raio refletido? c) Supondo que o ponto do espelho em que ocorre a reflexão do raio de luz seja o ponto de origem do plano cartesiano, escreva matematicamente a função que melhor descreve a trajetória do raio de incidência e do raio de reflexão. 15) Considera-se espelho plano toda superfície plana e lisa onde predomine a reflexão regular da luz. Formação de imagens num espelho plano • • O objeto e a sua imagem fornecida por um espelho plano são simétricos em relação ao espelho. Um espelho plano associa a um objeto real uma imagem virtual. 137 Considere a situação a seguir e escreva as equações das funções que representam a trajetória do raio 1, com inclinação de 60º em relação ao espelho e seu raio refletido e a trajetória do raio 2, com inclinação de 30º em relação ao espelho e seu raio refletido. Considere ainda os pontos (3,0) e (5,0) sendo A e B respectivamente. (Observação: considere o plano horizontal como eixo y e a origem como o ponto de interseção do espelho com este plano horizontal). a) Escreva as equações das funções determinadas. 138 b) Determine a posição exata do olho do observador na situação proposta e justifique sua resposta. 139 ATIVIDADES INVESTIGATIVAS EM MATEMÁTICA. 4ª atividade: Desigualdades modulares. 1ª parte: Expressão verbal de desigualdades modulares e representação na reta numérica. 1) Complete a tabela que apresenta a expressão verbal de inequações modulares. Inequação Expressão verbal Representação na reta numérica x ≥3 x ≤6 x−2 > 4 Números cuja distância até o 2 é maior que 4 unidades x−2 < 4 x +1 ≤ 3 x +1 ≥ 3 2) Usando o conceito de distância, escreva em palavras a desigualdade modular x − 3 > x −1 . 3) Represente na reta numérica sua solução. 140 4) Usando o conceito de distância, escreva em palavras a inequação x − 3 + x − 1 ≤ 3 . 5) Representa na reta numérica a solução da inequação acima. 2ª parte: Representação de desigualdades modulares em IR². 5) Considere a desigualdade x − 2 > 4 . a) Escreva em palavras a inequação acima como comparação entre duas funções. 141 b) Represente no plano cartesiano cada função, determinando as interseções entre os gráficos (se for o caso). c) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade. d) Compare a solução obtida com a apresentada na tabela da atividade 1. 142 6) Considere a desigualdade x − 3 > x − 1 e dê o que se pede. a) Escreva em palavras a inequação acima como comparação entre duas funções. b) Represente no plano cartesiano cada função, determinando as interseções entre os gráficos (se for o caso). 143 c) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade. d) Compare a solução obtida com a apresentada na tabela da atividade 3. 7) Considere a desigualdade x − 3 + x − 1 ≤ 3 e dê o que se pede. a) Escreva em palavras a inequação acima como comparação entre duas funções. 144 b) Represente no plano cartesiano cada função, determinando as interseções entre os gráficos (se for o caso). c) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade. d) Compare a solução obtida com a apresentada na tabela da atividade 5. 145 e) Determine a solução algébrica da inequação. 146 8) Considere a seguinte desigualdade modular 3 x − 5 > 2 x − 1 . a) Existe alguma restrição para esta desigualdade? b) Escreva em palavras a inequação acima como comparação entre duas funções. c) Represente no plano cartesiano cada função e, caso exista, as interseções entre os gráficos. 147 d) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade. e) A solução determinada é compatível com a restrição? ATIVIDADES COMPLEMENTARES: 9) Considere a seguinte desigualdade modular 3 x − 5 + x − 1 > 2 . a) Expresse verbalmente a desigualdade como comparação entre duas funções. 148 b) Representa no plano cartesiano cada função, suas respectivas interseções com os eixos coordenados e, caso exista, as interseções entre os gráficos. c) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade. d) Resolva algebricamente a inequação proposta. 149 10) Considere a seguinte desigualdade modular x 2 − 3 ≤ 2 x − 3 a) Expresse verbalmente a desigualdade como comparação entre duas funções. 150 b) Representa no plano cartesiano cada e, caso exista, as interseções entre os gráficos. c) Hachure a região da solução e determine o conjunto solução da desigualdade.