i ii HELDER HENRIQUE DE FARIA EFICÁCIA DE GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO GERENCIADAS PELO INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO, BRASIL. Presidente Prudente 2004 iii HELDER HENRIQUE DE FARIA EFICÁCIA DE GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO GERENCIADAS PELO INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO, BRASIL. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, na área de concentração Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, da Faculdade de Ciências e de Tecnologia da Universidade Estadual Paulista de Presidente Prudente, para obtenção do título de Doutor em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos Presidente Prudente 2004 iv Ficha Catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação UNESP-FCT – Capmpus de Prisidente Prudente-SP F234e Faria, Helder Henrique de. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, Brasil / Helder Henrique de Faria.– Presidente Prudente : [s.n.], 2004 401 f. : il. Dissertação (mestrado) Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Estadual Orientador: Messias Modesto dos Passos 1. Planejamento ambiental. 2. Unidades de conservação. 3. Gestão. 4. Indicadores. 5. Ameaças. 6. Eficácia de gestão. 7. Avaliação. I. Título. CDD 301.31 v vi DEDICO Ao magnífico profesor-consejero Don Miguel Cifuentes Arias, cidadão e sujeito extraordinário, um cosmopolita amante da Terra, com quem convivi preciosos momentos e me conduziu a uma experiência luminosa e produtiva. Agora, em seu próprio mundo, por onde seu pensamento singrar, Grande Miguel, sinta sua importância nesta realização. A Thainan e Nathan, filhos e inspiração. Que as migalhas de tempo e espaço, entre nós, só façam aumentar nossos mútuos sentimentos. vii RECONHECIMENTOS A dedicatória poderia se estender a tantas pessoas importantes para o desenvolvimento desta tese de doutoramento. Algumas muito próximas e outras já distantes e além. Até onde me lembro foi o pesquisador do Instituto Florestal, Professor Doutor José Luiz Timoni, quem primeiro enxergou em meus trabalhos o marco referencial possível de se transformar em um projeto de pesquisa e, posteriormente, um projeto de doutorado, que sob sua tutela e a do Professor Doutor Nivar Gobbi comecei a desenvolver no Centro de Estudos Ambientais da UNESP de Rio Claro. Pouco depois, tive a sorte de ter como meu superior o pesquisador Marco Antonio de Oliveira Garrido, quem possibilitou nossas primeiras idas ao campo juntamente com os amigos e pesquisadores José Antonio de Freitas e Denise Zanchetta, quando então realizamos o que chamamos ‘pré-teste’ de uma avaliação futura mais criteriosa. A propósito, sou muito agradecido ao José Antonio pois ele foi fundamental na construção dos indicadores específicos às Florestas Estaduais. Não há como esquecer o apoio dos pesquisadores Marco Antonio Púpio Marcondes, José Antonio de Freitas e Luis Alberto Bucci, que à época ocupavam, respectivamente, a Diretoria da DRPE, diretoria da DFEE e Diretoria Geral. A presença dos três numa das reuniões com os chefes de UCs emprestou um caráter diferenciado ao projeto, o suporte dos que sabem da necessidade de pesquisas dirigidas ao planejamento e à gestão de unidades de conservação. Francisco Corrêa Serio e Regina Maria Lopes, da Assessoria Técnica de Programação, do Instituto Florestal, foram de um desprendimento extraordinário num momento critico da pesquisa, facultando-me informações de qualidade sobre o Instituto Florestal e as unidades de conservação, sem as quais muito do trabalho teria se tornado difícil de realizar. Eles se complementam numa atividade louca de assessoria à DRPE e à Diretoria Geral do Instituto, complexa função, de corações tão grandes quanto o monte de trabalhos que realizam. Ninho de informações, bons sentimentos e graça. Desde a Assessoria da Divisão de Florestas, as informações auferidas por Luis Cezar foram imprescindíveis para melhor aquilatar a função e potencial de produção florestal desta divisão, assim como Clovis Ribas nos emprestou seus depoimentos sobre os módulos pré-fabricados do Instituto e, anterior a isso, recebendo-nos, como outros, nas UCs sob sua responsabilidade. No CEA-UNESP, o Professor Nivar, um brilhante profissional e extraordinário sujeito, sempre me motivou com palavras de máxima energia, e fez-me refletir sobre o que os administradores de UCs faziam: administração, manejo ou gestão? Mas também incutiu-me perguntas e muitas dúvidas sobre os (des)caminhos do Homem, da Natureza, da Vida, do Universo enfim. Leu a primeira versão do documento e me incentivou a prosseguir. Sempre lembrar-me-ei das suas boas e pertinentes palavras. viii Minhas conversas com colegas de distintas atuações dentro do Instituto Florestal permitiram que minha visão sobre a organização e as UCs fosse mais abrangente e transparente. Dentre tantos, agradeço em especial ao Pesquisador Onildo Barbosa, um ótimo interlocutor e critico de pensamento claro, cujos comentários a respeito da pesquisa desenvolvida pelo e no Instituto Florestal foram preciosos. Em certo momento enveredei por caminhos que me obrigaram a usar uma ou outra ferramenta estatística, uma disciplina que não domino como os colegas e amigos Professor Doutor Walter Barrela, da PUC de Sorocaba, Pesquisadora Leda Maria do Amaral Gurgel Garrido, aposentada do IF, e o Doutorando da UNESP de Jaboticabal Sidnei Francisco Cruz. Eles me acudiram em momentos diferenciados e de modo complementar, e o aprendizado com o amigo Walter Barrela foi sensacional. Agradeço postumamente ao Professor Doutor Felizberto Cavalheiro, do Departamento de Geografia da USP. Ele me recebeu em seu pequeno gabinete, ouviu minha proposta e o que dela havia desenvolvido, leu atentamente meus primeiros escritos e, com seus garranchos desalinhados, fez-me entender que conceitos são palavras desenvolvidas pela ciência, e que não sabê-los é uma razão para a busca do conhecimento. Foi o primeiro a devolver-me o rascunho com as suas pertinentes considerações. Não me esquecerei. Ao transferir-me da UNESP Rio Claro para o programa de pós graduação em Geografia da UNESP de Presidente Prudente fui bem recebido e encaminhado ao Professor Doutor Messias Modesto dos Passos. Transferências às vezes são traumáticas, mas ali encontrei um ambiente propício ao crescimento e um mestreorientador de elevada personalidade, incrivelmente amável e com um cabedal de conhecimentos acima das polêmicas que assolam os meios acadêmicos. Novamente tive sorte, e espero corresponder à altura. Um aspecto que tem auxiliado bastante os meus trabalhos relacionados à gestão de unidades de conservação é ter acesso à gama de publicações e informações excelentes advindas da União Internacional para a Conservação – UICN. Principalmente após meu ingresso na Força Tarefa para a Efetividade de Manejo (Management Effectiveness Task Force) a convite do Doutor Claudio Maretti e do Professor Sênior Dr. Marc Hokings. Sem saber reforçaram meus intentos. Meus sinceros agradecimentos a Rita de Cássia Cassimiro, que de maneira desprendida revisou os primeiros rascunhos deste documento, acudindo meus deslizes gramaticais. Excelente pessoa e profissional, certamente chegará aonde desejar ir. Também à Rosana Damaceno e Ilda Francisco, pela paciência e cuidado que tiveram comigo, me “escondendo“ de possíveis contra-tempos para que eu pudesse trabalhar e redigir a Tese. Aqueles momentos foram incríveis e me proporcionaram ensinamentos elevados e distintos. A Andréa Soares Pires, que revisou a parte técnica do texto e me auxiliou na montagem das apresentações necessárias à última etapa do doutoramento. Não fosse por ela eu teria sido atropelado pelo tempo. ix Aos meus amigos e companheiros de jornada, meus cavaleiros da claridade e da esperança: Pesquisadores Carlos Eduardo Ferreira da Silva e Denise Zanchetta e o Técnico de Apoio à Pesquisa Silvio dos Santos. Eles me acompanharam em várias etapas desta pesquisa, quando então discutimos, concordamos e discordamos, viramos ao avesso, rimos e até resolvemos o mundo. Os conhecimentos de Carlos Eduardo sobre planejamento e gestão de UCs, nossas discussões sobre este tema foram maravilhosas. As informações e a visão que possuía sobre o Instituto Florestal e seu engajamento foram surpreendentes e imprescindíveis. Infelizmente ele se foi deste mundo antes de compartirmos este trabalho concluído. E faz muita falta. Denise me auxiliou muito com sua aguçada percepção para as coisas técnicas. Seus conselhos e considerações nos momentos mais delicados foram extraordinários, algo muito importante quando o objeto do trabalho passa necessariamente pelo trato com pessoas dos mais variados níveis e interesses. Silvio é um autodidata, pessoa de opinião e de excelente coração, exímio conhecedor das parafernálias digitais e bom contador de piadas. Seus conhecimentos de informática foram tão importantes quanto sua excelente visão para a organização de dados, assim como seu traquejo nos afazeres relativos à administração de projetos. A pesquisa não se realizaria não fosse o apoio moral, financeiro e material do Instituto Florestal de São Paulo, da Fundação MacArthur, através da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, e da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo. Tenho muito orgulho de ter merecido a confiança desses três organismos e agradeço muitíssimo o suporte auferido ao projeto. Relativo ao Instituto Florestal, certamente a grande maioria dos chefes de UCs e toda a gente que laboramos nesta organização, desejamos que ela se fortaleça a cada dia e seja efetivamente o bastião da conservação da biodiversidade paulista. Finalmente, como eu poderia desenvolver esta pesquisa não fosse a benignidade e solicitude dos técnicos e diretores de unidades de conservação, que atenderam ao chamado e participaram das oficinas de avaliação? E como seria se não houvesse a possibilidade de visitar as UCs? Conhecemos e reencontramos amigos, gente batalhadora e idealista, gente que merece nossos agradecimentos, respeito, admiração e apoio para continuarem no front da conservação ambiental. Muito Obrigado! x SUMÁRIO Índice................................................................................................................ xi Lista de Figuras................................................................................................ xiv Lista de Quadros.............................................................................................. xv Lista de Pranchas............................................................................................. xx Lista de Siglas.................................................................................................. xxi Resumo............................................................................................................ xxii Abstract............................................................................................................ xxiv 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 7 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................. 81 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 131 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 355 6. CONCLUSÕES............................................................................................ 377 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 381 8. APÊNDICES................................................................................................ 399 xi ÍNDICE Pag. 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 7 2.1 A SITUAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS........................................................................................... 8 2.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO............................................................. 14 2.2.1 História e conceitos................................................................................ 14 2.2.2 Categorias e objetivos............................................................................ 23 2.3 MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO....................................... 33 2.3.1 Administração, manejo ou gestão.......................................................... 33 2.3.2 Pautas para uma gestão eficaz.............................................................. 41 2.3.3 Problemas e ameaças à gestão eficaz das áreas protegidas................ 51 2.4 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE GESTÃO DAS UCS................................ 57 2.5 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO...................................................................................................... 2.5.1 A representação das UCs paulistas....................................................... 71 71 2.5.2 Os problemas das UCs paulistas........................................................... 75 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 81 3.1 MATERIAL................................................................................................. 82 3.2 MÉTODOS................................................................................................ 87 3.2.1 Marco Institucional.................................................................................. 89 3.2.2 Seleção de indicadores e agrupação em âmbitos de gestão................. 90 3.2.3 Coleta de dados: oficinas de avaliação e visitas de campo................... 120 3.2.4 Análise dos dados.................................................................................. 124 3.2.5 Adequação da escala de valoração....................................................... 125 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 131 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO: INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO........................................................................................ 135 4.1.1 Planejamento Institucional...................................................................... 142 4.1.2 Unidades de Conservação sob administração direta do IF.................... 149 4.1.3 Atividades de Pesquisa.......................................................................... 151 4.1.4 Recursos Financeiros e Humanos......................................................... 156 4.1.5 Síntese da situação atual do Instituto Florestal...................................... 166 xii 4.2 EFICÁCIA DE GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PESQUISADAS......................................................................................... 169 4.2.1 Classificação da eficácia de gestão....................................................... 169 4.3 ANÁLISE DOS GRUPOS DE INDICADORES.......................................... 179 4.3.1 Planejamento e Ordenamento............................................................... 182 4.3.2 Administração........................................................................................ 189 4.3.3 Político-Legal......................................................................................... 200 4.3.4 Conhecimentos...................................................................................... 211 4.3.5 Qualidade dos Recursos....................................................................... 216 4.3.6 Florestas Estaduais............................................................................... 222 4.4 ANÁLISE DOS INDICADORES................................................................. 227 4.5 AMEAÇAS ÀS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO..................................... 233 4.6 DESCRIÇÃO DE ASPECTOS GERENCIAIS DAS UCS VISITADAS....... 248 4.6.1 Estação Ecológica Bananal.................................................................... 252 4.6.2 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia................... 256 4.6.3 Parque Estadual Xixová-Japuí............................................................... 260 4.6.4 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião.................. 264 4.6.5 Parque Estadual da Ilha Bela................................................................. 268 4.6.6 Parque Estadual da Ilha do Cardoso...................................................... 272 4.6.7 Parque Estadual da Campina do Encantado......................................... 278 4.6.8 Parque Estadual Jacupiranga................................................................ 282 4.6.9 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba.................. 286 4.6.10 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba...................... 292 4.6.11. Parque Estadual da Ilha Anchieta....................................................... 296 4.6.12 Parque Estadual de Carlos Botelho..................................................... 300 4.6.13 Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR............................ 304 4.6.14 Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus........................................ 310 4.6.15 Estação Ecológica de Jataí.................................................................. 314 4.6.16 Parque Estadual Vassununga.............................................................. 320 4.6.17 Parque Estadual de Porto Ferreira....................................................... 326 4.6.18 Parque Estadual do Juquery................................................................ 330 4.6.19 Parque Estadual do Jurupará............................................................... 334 4.6.20 Parque Estadual do Jaraguá................................................................ 340 4.6.21 Parque Estadual da Cantareira............................................................ 346 xiii 4.6.22 Parque Estadual do Morro do Diabo.................................................... 350 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 355 6. CONCLUSÕES............................................................................................ 377 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 381 8. APÊNDICES................................................................................................ 399 Apêndice A - Avaliação do manejo - Unidades avaliadas (através de visita) em 1998....................................................................................... 400 Apêndice B - Caracterização das Unidades..................................................... 401 xiv LISTA DE FIGURAS Pag. Figura 01. O processo interativo do manejo adaptável (Fonte: U.S. Forest Service, apud Agee, 1996)........................................................... 44 Figura 02. Unidades de Conservação do Estado de São Paulo gerenciadas pelo Instituto Florestal................................................................... 74 Figura 03. Distribuição espacial das UCs trabalhadas nesta pesquisa.......... 86 Figura 04. Fluxograma geral da aplicação do procedimento destinado à avaliação da eficácia de gestão de unidades de conservação.... 89 Figura 05. Involução da produção de casas de madeira pela Floresta Estadual de Manduri..................................................................... 141 Figura 06. Comportamento dos principais componentes do orçamento do Estado destinado ao IF nos últimos 9 anos.................................. 157 Figura 07. Involução da relação entre os recursos financeiros e a superficie protegida do IF.............................................................................. 158 Figura 08. Involução do Quadro de funcionários em relação ao crescimento da superfície protegida............................................. 162 Figura 09. Classificação da eficácia de gestão de todas as UCs investigadas ................................................................................. 174 Figura 10. Comportamento da classificação das UCs de proteção integral e uso sustentável............................................................................. 176 Figura 11. Classificação geral dos indicadores de gestão para as UCs de proteção integral pesquisadas, em consonância com os dados do Quadro 34................................................................................ 228 Figura 12. Comportamento das ameaças externas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável......................................... 245 Figura 13. Comportamento das ameaças internas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável......................................... 247 Figura 14. Trecho da Trilha do Ouro na Estação Ecológica Bananal............ 253 Figura 15. Raffiting no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar........................................................................................... 256 Figura 16. Praia no Parque Estadual Xixová-Japuí........................................ 260 Figura 17. Equipe administrativa do Núcleo São Sebastião defronte ao escritório do Parque...................................................................... 264 Figura 18. Cachoeira na Praia de Castelhanos na Ilha Bela. (Fausto Pires de Campos).................................................................................. 269 Figura 19. Alojamento do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.................... 273 xv Figura 20. Prédio administrativo em construção no Parque Estadual Campina do Encantado................................................................ 278 Figura 21. Limites do Parque Estadual do Jacupiranga sobre imagem de Satélite......................................................................................... 282 Figura 22. Moderna edificação construída sob os auspícios do PPMA no Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar...... 287 Figura 23. Atividade de Uso Público no Centro de Visitantes do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar........................ 293 Figura 24. Praia do Sul no Parque Estadual da Ilha Anchieta. (Fausto Pires de Campos)................................................................................... 96 Figura 25. Atividades de Uso Público no Centro de Visitantes do Parque Estadual Carlos Botelho................................................................ 301 Figura 26. Atividade ecoturística em uma das cavernas do PETAR.............. 304 Figura 27. Cascata Grande no Parque Estadual Furnas do Bom Jesus........ 310 Figura 28. Aspectos do relevo das Furnas do Bom Jesus e biomassa combustível oriunda da gramínea brachiaria................................ 311 Figura 29. Ambiente lacustre da Estação Ecológica de Jataí, com abundante avifauna característica................................................. 315 Figura 30. "Deck" de observação em uma trilha da Estação Ecológica de Jataí............................................................................................... 317 Figura 31. Jequitibá-rosa, Cariniana legalis (Martius Kuntze), com mais de três metros de diâmetro na trilha homônima................................. 321 Figura 32. Uso público no Parque Estadual de Porto Ferreira. ..................... 327 Figura 33. A Diretora do Parque Estadual Juquery mostrando a vegetação da unidade e as erosões provocadas por antigos praticantes de motocross. .................................................................................... 332 Figura 34. Represa do França pertencente à CBA no interior do Parque Estadual Jurupará. ....................................................................... 336 Figura 35. Alto do Pico do Jaraguá com seu complexo de torres de comunicação. ............................................................................... 340 Figura 36. Aspecto da vegetação do Parque Estadual da Cantareira. (Fausto Pires de Campos) ............................................................ 346 Figura 37. Vista da elevação denominada Morro do Diabo e exuberante florada de Ipês-roxo. ..................................................................... 350 xvi LISTA DE QUADROS Pag. Quadro 01. Alguns benefícios aportados pelas unidades de conservação.... 16 Quadro 02. Categorias e objetivos de gestão das unidades de conservação (UICN, 1994)................................................................................ 24 Quadro 03. Objetivos de conservação das categorias de manejo brasileiras*................................................................................... 31 Quadro 04. Algumas definições de gestão ambiental.................................... 38 Quadro 05. Requisitos gerenciais para uma gestão moderna e eficaz das Unidades de Conservação.......................................................... 51 Quadro 06. Justificativas para efetuar a avaliação do manejo de unidades de conservação........................................................................... 60 Quadro 07. Indicadores usados na avaliação do impacto do manejo das UCs do Programa “Parques em Perigo” da TNC (Brandon et al., 1998)..................................................................................... 66 Quadro 08. Escala usada para avaliar os indicadores (Faria, 1993)............. 66 Quadro 09. Escala para qualificação da eficácia da gestão (Faria, 1993)..... 67 Quadro 10. Situação de algumas UCs de São Paulo quanto à demarcação e situação fundiária..................................................................... 76 Quadro 11. Debilidades, ameaças e problemas de oito áreas protegidas de São Paulo.................................................................................... 78 Quadro 12. Área, localização geográfica e municípios abrangidos pelas Unidades de Conservação pesquisadas..................................... 83 Quadro 13. Escala para pontuação dos indicadores..................................... 88 Quadro 14. Indicadores adotados para avaliar a eficácia de gestão de unidades de conservação........................................................... 93 Quadro 15. Diferentes amplitudes da escala de classificação da eficácia de gestão e diferentes classificações, considerando apenas os resultados das 41 unidades de conservação de proteção integral estudadas....................................................................... 127 Quadro 16. Qualificativos alternativos à escala original................................. 129 Quadro 17. Escala de qualificação da Eficácia de Gestão corrigida.............. 129 Quadro 18. Estruturas de madeira pré-fabricadas produzidas pelo IF no período de 1990 a 2000............................................................. 141 Quadro 19. Programas e metas do Plano de Ação Emergencial................... 143 Quadro 20. Objetivos temáticos e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF......................................................................... 147 xvii Quadro 21. Objetivos gerenciais e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF......................................................................... 147 Quadro 22. Unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal. 149 Quadro 23. Unidades de proteção integral e uso sustentável administradas pelo Instituto Florestal (adaptado de IF, 2001)............................ 150 Quadro 24. Programas e projetos de pesquisa desenvolvidos no IF entre 1998 e 2001................................................................................ 153 Quadro 25. Recentes pesquisas desenvolvidas no IF direcionadas à gestão de Unidades de Conservação......................................... 155 Quadro 26. Orçamento total do Estado destinado ao Instituto Florestal nos últimos 9 anos............................................................................. 156 Quadro 27. Recursos financeiros destinados às 10 UCs do projeto PPMA em relação às demais unidades do Instituto Florestal................ 159 Quadro 28. Receita do IF oriunda de produtos e sub-produtos florestais ..... 159 Quadro 29. Frota de veículos disponível no IF no ano 2000.......................... 161 Quadro 30. Involução do Quadro de funcionários do IF frente ao aumento da superfície protegida................................................................ 167 Quadro 31.Matriz geral com todos os indicadores e sub-indicadores para todas as UCs estudadas............................................................. 170 Quadro 32.Matriz síntese contemplando as UCs de Proteção Integral e de Uso Sustentável Estudadas........................................................ 171 Quadro 33.Matriz síntese contemplando apenas as UCs de Uso Sustentável estudadas............................................................... 172 Quadro 34.Matriz síntese contemplando somente as UCs de Proteção Integral estudadas....................................................................... 173 Quadro 35. Frequência da classificação das UCs......................................... 175 Quadro 36. Classificação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral e uso Sustentável e porcentagem no grupo (UCPI e UCUS)......................................................................................... 176 Quadro 37. Superfície com proteção efetiva de acordo com a eficácia de gestão auferida............................................................................ 178 Quadro 38. Resultados da Analise de Regressão Múltipla para os dados obtidos nas UCs de Proteção Integral......................................... 180 Quadro 39. Sub-indicadores do processo de avaliação................................. 182 Quadro 40. Comportamento do âmbito planejamento e ordenamento para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34..... 182 Quadro 41. Situação dos planos de manejo nas 41 unidades de proteção integral pesquisadas................................................................... 183 Quadro 42. Comportamento do âmbito administrativo para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 189 xviii Quadro 43. Relação área/funcionário em função da quantidade atual e a quantidade ótima reportada pelos diretores das UCs que contestaram essa questão. Quadro 45. Relação dos recursos financeiros/hectare, em reais por hectare por mês ($/ha/mês), em função dos recursos financeiros recebidos na atualidade e os recursos necessários segundo as informações dos diretores das UCs que reportaram essa questão. Ano 2001..................... 191 Quadro 44. Relação dos recursos financeiros/hectare, em reais por hectare por mês ($/ha/mês), em função dos recursos financeiros recebidos na atualidade e os recursos necessários segundo as informações dos diretores das UCs que reportaram essa questão. Ano 2001........................................... 199 Quadro 45. Comportamento do âmbito político-legal para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 200 Quadro 46. Comportamento do âmbito conhecimentos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34....................... 211 Quadro 47. Comportamento do âmbito qualidade dos recursos protegidos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 4..................................................................................... 216 Quadro 48. Comportamento do âmbito florestas estaduais para as UCs de uso sustentável, em conformidade com os dados do Quadro 3..................................................................................... 222 Quadro 49. Resultado da Análise de Componentes Principais para 35 variáveis usadas na avaliação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral, dados do Quadro 34.................................. 229 Quadro 50. Indicadores com maior variabilidade nos dados (nesta pesquisa)..................................................................................... 231 Quadro 51. Sugestão de ponderação especifica de acordo com a área da UC............................................................................................... 232 Quadro 52. Como ficariam os ‘totais ótimos’ para três distintas UCs com situação fundiária semelhante..................................................... 233 Quadro 53. Problemas de manejo, Ameaças Internas e Externas das UCs que responderam a este questionamento................................... 234 Quadro 54. Ameaças externas e internas e respectivos fatores incidentes nas unidades de conservação analisadas.................................. 244 Quadro 55. Quantidade e porcentual de áreas protegidas com incidência de ameaças externas.................................................................. 245 Quadro 56. Quantidade e percentual de áreas protegidas com incidência de ameaças internas................................................................... 246 Quadro 57. Comparação entre os orçamentos do PEMD e PE Intervales.... 352 xix LISTA DE PRANCHAS Pág. Estação Ecológica Bananal................................................................................... 251 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia................................... 255 Parque Estadual Xixová-Japuí............................................................................... 259 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião.................................. 263 Parque Estadual da Ilha Bela................................................................................ 267 Parque Estadual da Ilha do Cardoso..................................................................... 271 Parque Estadual da Campina do Encantado......................................................... 277 Parque Estadual Jacupiranga................................................................................ 281 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba........................................ 285 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba............................................... 291 Parque Estadual da Ilha Anchieta........................................................................................ 295 Parque Estadual de Carlos Botelho....................................................................... 299 Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR.............................................. 303 Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus.......................................................... 309 Estação Ecológica de Jataí.................................................................................... 313 Parque Estadual Vassununga............................................................................... 319 Parque Estadual de Porto Ferreira........................................................................ 325 Parque Estadual do Juquery.................................................................................. 329 Parque Estadual do Jurupará................................................................................ 333 Parque Estadual do Jaraguá................................................................................. 339 Parque Estadual da Cantareira.............................................................................. 345 Parque Estadual do Morro do Diabo...................................................................... 349 xx LISTA DE SIGLAS AMOMAR Associação dos Moradores do Maruja BIOTA Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental COCAMP Cooperativa de Prestação de Serviços aos Assentados de Reforma Agrária do Pontal Ltda. COTEC Comissão Técnico-Científica do Instituto Florestal DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica DEPRN Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais DER Departamento de Estradas de Rodagem DERSA Desenvolvimento Rodoviário AS DFEE Divisão de Florestas e Estações Experimentais DRPE Divisão de Reservas e Parques Estaduais EEc Estação Ecológica EEx Estação Experimental ESALQ Escola Superior de Agronomia Luis de Queiroz FEBEM Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor FEHIDRO Fundo Estadual de Recursos Hídricos FF Fundação para a Produção e Conservação Florestal de São Paulo FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNAI Fundação Nacional do Índio IAMSPE Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IF Instituto Florestal de São Paulo IG Instituto Geológico de São Paulo IUCN (UICN) União Internacional para a Conservação JICA Agencia Japonesa de Cooperação Internacional ONG (ong’s) Organizações Não Governamentais PCA Análise de Componentes Principais PE Parque Estadual PEMD Parque Estadual do Morro do Diabo PESM Parque Estadual da Serra do Mar xxi PETAR Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira PPMA Programa de Proteção da Mata Atlântica PUC Pontifícia Universidade Católica RE Reserva Estadual SET Secretaria de Esportes e Turismo SMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente de São Paulo SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação SUDELPA Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista UCs Unidades de Conservação UCPI Unidades de Conservação de Proteção Integral UCUS Unidades de Conservação de Uso Sustentável UFSCAR Universidade Federal de São Carlos UNESP Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” UNICAMP Universidade de Campinas USNPS Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos da América do Norte USP Universidade de São Paulo WWF Fundo Mundial para a Conservação xxii Resumo Para muitos autores, as unidades de conservação da natureza, ou áreas protegidas, são ou serão os últimos baluartes da conservação estrita da biodiversidade, sendo esta razão, não excludente de outras, a principal motivadora para a existência de uma gestão verdadeiramente eficaz, que conduza ao alcance dos objetivos para os quais elas são criadas. A avaliação da eficácia de gestão através de procedimentos metodológicos estruturados com base na utilização de indicadores é uma importante ferramenta de suporte à gestão, pois possibilita a coleta periódica e sistemática sobre a qualidade da gestão, facilita a priorização de assistências e investimentos pontuais e a realimentação do sistema gerencial. Nesta pesquisa, verificou-se a eficácia de gestão de unidades de conservação de São Paulo adotando-se e adaptando-se um procedimento metodológico desenvolvido originalmente na Costa Rica, posteriormente adaptado à realidade das unidades de conservação de vários países da América Latina. Os princípios do procedimento são o uso de indicadores e critérios estritos para a qualificação, associados a uma escala de valoração geral. O universo do estudo envolveu 59 áreas gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo, sendo 41 do grupo de proteção integral e 18 do grupo de uso sustentável, totalizando 69% do total das UCs e quase 90% da superfície total sob a guarda da organização, representando 782.622,25ha. Para a coleta de dados utilizou-se a bibliografia disponível sobre o sistema em análise, oficinas de avaliação coletiva, entrevistas e visitas a áreas previamente selecionadas. A análise dos indicadores e das ameaças demonstraram as debilidades da organização e a fragilidade com que a gestão de muitas unidades de conservação é levada a termo. As Unidades de Conservação pesquisadas apresentaram padrões de qualidade de gestão intermediários, sendo que 22 tiveram a gestão classificadas como de Padrão Mediano, 27 como de Padrão Inferior e 04 como possuidoras de Padrão Muito Inferior. Apenas seis unidades alcançaram pontuação suficiente que permitiu classificá-las de Padrão de Qualidade Elevado. Todas apresentam aspectos negativos como positivos, imperando os primeiros. Há unidades que nada ou quase nada possuem que as conduzam ao atendimento dos seus objetivos de gestão. Esta situação demonstra a necessidade de maiores esforços coletivos e planejados para a busca da excelência, senão padrões mais elevados de qualidade, satisfazendo aos que nelas trabalham e à sociedade em geral, que delas dependem para a conservação da biodiversidade, como fonte de saber, inspiração, lazer e recreação naturais. Pode-se inferir que o maior problema do Instituto Florestal é a falta de políticas para as inúmeras atividades que precisa estar desenvolvendo para cumprir com a missão aceita, havendo evidências da necessidade de intervenções urgentes em aspectos e componentes políticos e estruturais, de modo a promover um ‘choque de modernidade’ gerencial na maneira de conduzir e administrar a coisa pública. Por outro lado, a pesquisa mostrou também que a instituição possui pontos positivos que devem ser usados como ferramentas para sua auto-afirmação enquanto organização responsável pelas unidades de conservação do Estado. Palavras-chave: Unidades de Conservação; eficácia de gestão; avaliação; ameaças; aspectos positivos e negativos. xxiii Abstract For many authors, the conservation units (UCs) or protected areas are or will be the last bastions of the strict conservation of biodiversity, being this reason (not exculpatory of others) one of the main reasons for the existence of a truly effective management, that leads to the reach of the objectives for which they are created. The evaluation of the effectiveness management through structuralized procedures on the basis of the use of pointers is an important tool of support to the management, therefore it makes possible the periodic and systematic collection on the quality of the management, it makes easier and gives priority to help and prompt investments and the feedback of the management system. In this research adopting themselves developed methodological procedure from Costa Rica, later adapted to the reality of the protected areas of some countries from Latin America. The principles of the procedure are the strict use of indicators and criteria for the qualification, associates to a scale of general valuation. The universe of the study involved 59 protected areas managed for the Forest Institute of São Paulo, being 41 of the group of integral protection and 18 of the group of sustainable use, totalizing 69% of the total of UCs and almost 90% of the total surface under the guard of the organization, representing 782.622,25ha. For the data collection, has been used available bibliography on the system in analysis, workshops of collective evaluation, interviews and technical visits the areas previously selected. The indicators and the threats analysis had demonstrated to the debility of the organization and the fragility with that the management of many units of conservation is taken the term. The majority of the UCs had the management classified as inferior and medium standards of quality, demonstrating as many negative aspects as positive, unfortunately reigning the first ones. It has units that nothing or almost nothing they possess that they lead them to the attendance of its objectives of management, but also exist some few with very good standard of management. This situation demonstrates the necessity of stronger efforts collective and planned for the search of the excellency, or raised standards of quality, satisfying its workers in general and the society, which needs of the Protected Areas for the biodiversity conservation, as source to their knowledge, inspiration, leisure and natural recreation. It can be inferred that the biggest problem of the Instituto Florestal is the lack of politics for the innumerable activities that it needs to be developing to fulfill with the accepted mission, having evidences of the necessity of urgent interventions in aspects and components structural and politicians, in order to promote one shock of ‘managemental modernity' in the way to lead and to manage the public environment. On the other hand, the research has shown that the Instituto Florestal de São Paulo owns positive points that must be used as tools for its autoaffirmation while responsible organization for the Protected Areas of the São Paulo State, Brasil. Key words: Protected areas; effectiveness management; measuring; threats; negatives and positives indicators. 1. INTRODUÇÃO 2 É incontestável a importância dos recursos naturais e da biodiversidade para a humanidade. O desafio reside em tentar, a todo custo, salvar o pouco que ainda resta de natureza pouco tocada lançando mão das estratégias possíveis e imagináveis no afã de se lograr, ao menos, a sustentabilidade local e regional. Neste contexto, os espaços especialmente protegidos na forma de unidades de conservação (UCs) ganham notoriedade como das mais importantes entre todas elas, ovacionadas por uma imensidão de cientistas contemporâneos. Dieckenson, apud Ham e Enriquez (1987), alheio a qualquer tipo de tendência sociológica, política ou científica afirmou que “as unidades de conservação são as únicas criações da sociedade moderna designadas para o benefício da humanidade como um todo”, uma feliz e categórica alusão à genialidade humana se enfocarmos o pensamento nos desígnios de nossa espécie sobre a Terra. Corroborando tal assertiva, Douroujeanni e Jorge Pádua (2001) afirmam que todavia o gênio humano não descobriu uma forma mais efetiva e eficiente que as UCs para preservar a biodiversidade na natureza. Tal relevância e importância é notada em razão da fantástica ampliação do quadro das unidades de conservação a partir do seu advento oficial, no distante 1872 quando da criação do 1o Parque Nacional do Mundo moderno, o PN de Yellowstone. Hoje no planeta existem mais de 30.000 sítios dedicados à conservação da natureza (Green e Paine, 1997), sendo que o Brasil contribui em termos absolutos, incluindo somente as categorias de manejo reconhecidas pela União Internacional para a Conservação, com a maior superfície protegida da América do Sul, (Dourojeanni e Jorge Pádua, 2001). Na visão destes últimos autores, em relação ao número e extensão das áreas protegidas o esforço empreendido pelo Brasil é louvável e bem sucedido, ainda que existam lacunas de representatividade ecológica. O sistema nacional de unidades de conservação, instituído no Brasil no ano 2000, não está solidificado não só em razão dos vazios ecológicos existentes mas também pela falta do que têm-se chamado de ‘efetividade de manejo’, isto é em quanto as áreas possuem os requerimentos e desenvolvem as atividades mínimas visando o atendimento dos objetivos para os quais foram criadas. Este é um termo moderno oriundo de estudos desenvolvidos ao longo dos últimos 20 anos, mas surgido no inicio do decênio de 1990 juntamente com as técnicas de avaliação 3 quantitativas do manejo; ele pressupõe a existência de níveis diferenciados de qualidade de gestão, diferente do termo estanque popularmente conhecido para designar os parques não implantados ou mal resolvidos, os famosos ‘parques de papel’, que segundo Douroujeanni e Jorge Pádua (2001) foi erroneamente cunhado no âmbito de uma pesquisa tendenciosa e com análise superficial. ‘Efetividade de manejo’ ou ‘eficácia de gestão’ são denominações que estimulam as pessoas e as organizações a buscarem soluções para os problemas identificados nos processos de avaliação, principalmente vislumbrar a factibilidade de se alcançar um nível mais elevado de qualidade, enquanto a expressão ‘parques de papel’ soa como um pejorativo perigoso que pode desalentar os ânimos dos mais aguerridos conservacionistas e estimular os contrários à conservação a tomarem posturas mais enérgicas neste sentido. É fato que existem muitas áreas protegias com gestão nula ou próximo disso, mas isso não quer dizer que elas não cumprem seu papel. Ao contrário, não há como subestimar o significado que os ecossistemas legalmente protegidos tem e os grandes benefícios, muitas vezes imperceptíveis, que eles auferem com a sua simples existência. Por outro lado, há de se convir que se as UCs são criadas elas devem ser implantadas, administradas e manejadas e, assim, prover mais benefícios à sociedade que paga por elas. A gestão das unidades de conservação não é algo complexo, mas extremamente profissional pois requer conhecimentos e ações específicas para se alcançar a eficácia. Dentre os requerimentos mais conhecidos para um manejo efetivo estão a necessidade de solução da questão dominial mediante a regularização fundiária da área, limites bem definidos em mapa e no campo, possuir mínima infra-estrutura e dotação orçamentária, staff adequado e capacitado, reconhecimento e apoio da comunidade local e regional, um plano de manejo atualizado cujo seguimento esteja garantido pela utilização de rotinas específicas para a realimentação do sistema gerencial e, sobretudo, conhecimento científico. Visando a implementação da qualidade do manejo das UCs, as últimas décadas presenciaram o aparecimento de inúmeras ferramentas e mecanismos para auxiliar a tarefa dos diretores e dos organismos gestores, dentre elas os planos de manejo, provavelmente a mais reconhecida de todas e novas técnicas de planejamento; técnicas e métodos relacionados à educação 4 conservacionista surgiram para facilitar o envolvimento e o apoio das pessoas nos assuntos das UCs; desenvolvimento de técnicas de geoprocessamento de imagens orbitais e sistemas de informação geográfica que, respectivamente, facilitaram a compreensão da paisagem e a catalogação e processamento de informações para o manejo de ecossistemas; teorias foram formuladas, como a teoria de biogeografia de ilhas, vindo a auxiliar no entendimento dos processos dinâmicos da paisagem e contribuindo para o surgimento de novos paradigmas para a gestão integrada dos recursos; etc. Nesta mesma linha, também se propalou que o monitoramento sistemático em todos os níveis consistiria uma ótima ferramenta para os administradores das UCs, permitindo aos mesmos registrar e saber, a qualquer momento, os eventos passados, sejam naturais ou não, e isto alimentar a gestão mediante alguma forma de utilização das informações. Isto é uma necessidade inquestionável, principalmente na atualidade quando as organizações e o meio ambiente estão sujeitos a mudanças conjunturais extemporâneas. Em relação à gestão de áreas protegidas propriamente dita, a primeira vez que se discutiu sobre algum procedimento que permitisse o diagnóstico do manejo de modo pontual foi em 1982, no III Congresso Mundial de Parques (Deslher, 1982), só que de lá para cá as instituições administradoras de sistemas de unidades de conservação não fizeram as tarefas necessárias, pois até o momento não se conhece iniciativa organizacional neste sentido. Os raros trabalhos desta natureza foram ou são desenvolvidos no âmbito de projetos de pesquisa, ou muito pontuais sobre uma ou um grupo de unidades de conservação. Ou seja, se os planos de manejo são reconhecidamente importantes para uma gestão eficaz, e fazem parte das políticas institucionais (ao menos da vontade ou do discurso), o monitoramento e a realimentação do sistema gerencial todavia não o é, ao menos em larga escala como o primeiro. Foi no ambiente acadêmico e das grandes organizações internacionais ambientalistas, tais como a União Internacional para a ConservaçãoUICN, a The Nature Conservancy-TNC, o Fundo Mundial para a Natureza-WWF e o Centro Agronômico Tropical de Investigación y Enseñanza-CATIE que surgiram as primeiras tomadas de posição em relação à formulação de instrumentos mais criteriosos dirigidos ao diagnóstico da eficácia de gestão das áreas protegidas. 5 Fundamentalmente a partir do IV Congresso Mundial de Áreas Protegidas, ocorrido na Venezuela em 1992. Na atualidade propagaram-se os procedimentos que tem por base o uso de indicadores e escalas numéricas para a qualificação e quantificação do nível de eficácia de gestão das UCs, que será abordado na seção específica desta tese. O Estado de São Paulo apresenta um dos melhores ‘sistemas’ de unidades de conservação estadual do Brasil, com áreas consideradas “jóias” da natureza que protegem belíssimas paisagens, supra importantes à conservação da biodiversidade de ecossistemas dos dois domínios morfoclimáticos presentes no território paulista: o Cerrado e a Mata Atlântica. São floras, faunas, águas e gentes que se interdependem e demandam uma gestão eficaz, dirigida ao espaço protegido, para que, em última instância, avancem e evoluam no tempo e encham os olhos das gerações vindouras. Mas, estarão essas áreas sendo bem geridas, de maneira tal a atingirem as razões e os objetivos que motivaram suas criações e segundo as respectivas categorias de manejo? Em que nível de qualidade elas estão sendo administradas? É possível a utilização de um procedimento metodológico para se avaliar a eficácia de gestão? Os diretores poderiam estar eles mesmos implementando a atividade de auto-avaliação da gestão? A hipótese a ser testada nesta tese é que as unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo possuem uma grande variação nos padrões de qualidade de gestão, sendo que boa parcela delas sofre a incidência de problemas e ameaças determinantes de uma gestão que não condiz com o pleno alcance dos objetivos para os quais foram criadas. Deste modo, a presente pesquisa aborda a qualidade da eficácia de gestão de unidades de conservação, objetivando: i) Testar e desenvolver uma metodologia que usa indicadores estritos para avaliar a eficácia de gestão de UCs gerenciadas pelo Instituto Florestal de São Paulo; ii) Estabelecer os indicadores a serem usados na mensuração da eficácia de gestão para as unidades de conservação de proteção 6 integral (Parques e Estações Ecológicas) e de uso sustentável (‘Estações Experimentais’ e Florestas Estaduais); iii) Determinar a eficácia de gestão de unidades de conservação administradas pelo Instituto Florestal; iv) Em relação aos indicadores usados, apontar as debilidades e os pontos fortes de cada uma das unidades de conservação e do sistema como um todo, que respectivamente nortearão a necessidade de maiores investimentos e esforços e aqueles que servem de exemplo institucional a serem seguidos; e v) Apontar as principais ameaças internas e externas incidentes sobre o sistema amostrado. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 2.1 A SITUAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS Muitos problemas ambientais surgiram devido ao crescimento econômico e a explosão demográfica observada nos séculos XIX e XX, o que regra geral tem provocado uma sistemática pressão sobre os recursos naturais silvestres nos países mais pobres, não obstante alguns autores entenderem que a verdadeira causa da degradação ambiental, em escala mundial, resida maiormente nas elevadas taxas de consumo energético no planeta, fundamentalmente nos países desenvolvidos, e a má distribuição de rendas dos países em desenvolvimento, sendo o crescimento populacional somente uma das conseqüências do subdesenvolvimento (Chandler, 1990; Comision de Desarrollo Y Medio Ambiente de América Latina y el Caribe, 1991; UICN, PNUMA e WWF, 1991; Banco Mundial, 1992). As causas dos desmatamentos em grande escala são freqüentemente muito complexas e variam conforme as características culturais dos povos e a história de seu desenvolvimento econômico. Na América Latina e nos países tropicais as causas decorrem principalmente da alta demanda por terras para a pecuária, a prática de cultivos pouco produtivos e a abertura de áreas para a colonização e projetos de desenvolvimentos a reboque de políticas mal planejadas que não consideram os custos da degradação dos recursos naturais que, em última instância, são a base do desenvolvimento econômico (Elliott, 1986; Banco Mundial, 1992). Já em 1982 o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estimaram uma perda anual global de 7,5 milhões de hectares de florestas úmidas e 3,8 milhões de florestas tropicais secas, o que para muitos autores foi considerado uma afirmação bastante conservadora. Em 1990 as florestas do planeta continuavam a desaparecer a uma taxa média de 0.6% ao ano, significando que as florestas tropicais corriam uma séria ameaça de desaparecer até o ano 2050 (Chandler, 1990; Saywer, 1991). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação existem hoje aproximadamente quase quatro bilhões de hectares de florestas cobrindo 30% da superfície terrestre do Planeta. As florestas tropicais e subtropicais respondem por 56%, as florestas temperadas e boreais por 44% e as plantações florestais por 5% do total. Segundo o estudo apresentado, no decênio de 9 1990 houve uma variação anual liquida de 9,4 milhões de hectares negativos, isto é a diferença entre a taxa anual estimada de desmatamento de 14,6 milhões de ha e a taxa anual estimada de incremento da superfície de florestas de 5,2 milhões de hectares (FAO, 2001). Isto confirma que as florestas mais ricas do mundo seguem sendo diminuídas segue aumentando a nível mundial a um ritmo bastante elevado. Analisando BRASIL (1998), o Brasil contribui sobremaneira para esse incremento. Cerca de 15% da Floresta Amazônica foi removida, principalmente pela abertura de rodovias que abriram caminho para atividades mineradoras e colonizadoras, levas que fizeram avançar a fronteira agrícola e, por conseguinte, a exploração madeireira. No Cerrado, estima-se que a remoção de vegetação nativa já supera 40% da área, também por causa do avanço da fronteira agropecuária e do conseqüente aumento da população, que nos últimos 40 anos multiplicou-se por seis e já chegou a cerca de 20 milhões de pessoas. A Caatinga sofre com as prolongadas secas, a desertificação, a erosão do solo e a salinização, além da remoção de 50% da sua vegetação. A Mata Atlântica, que se estendia ao longo de boa parte da zona costeira, sofreu com a concentração populacional ao longo de séculos, acentuada nas últimas décadas, e hoje mantém apenas cerca de 8,75% da vegetação nativa original. Na verdade, o crescimento econômico tem sido acompanhado de crescente intervenção em hábitats até então preservados, determinando significativa perda de diversidade biológica que varia entre os vários tipos de ecossistemas brasileiros. De 1970 a 1985 foram concedidos para a área amazônica US$ 700 milhões em incentivos fiscais e créditos subsidiados para 950 projetos, dos quais 631 de abertura de novas áreas para a pecuária. Somente entre agosto de 1999 e agosto de 2000 o desmatamento cresceu 15% na Amazônia Legal em relação aos 12 meses anteriores, alcançando 19.832 km2, 1.983.200ha, uma área muito próxima a do Estado de Sergipe, porém esSe dado é preliminar e pode sofrer alterações significativas como em anos anteriores, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais teve que rever suas cifras; cerca de 168.543 km2 foram desmatados entre 1990 e 2000, evidenciando que as medidas adotadas pelo governo brasileiro após a ECO’92 têm sido insuficientes (Folha de São Paulo, 2001). 10 Nesse contexto, o desaparecimento e a contínua fragmentação das florestas tem alcançado taxas exponenciais ao longo do tempo, sendo considerado, juntamente com as alterações climáticas do Planeta, uma das mudanças ambientais de maiores proporções da atualidade. Segundo Wilson (1989) a diversidade biológica no planeta foi fortemente diminuída nos períodos geológicos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triassíco e Cretáceo e, em menor grau, aqui e ali em todo o mundo em incontáveis catástrofes naturais, mas depois de cada declínio voltou a recuperar seu nível original ou maior de diversidade, precisando dezenas de milhões de anos para isso. Alguns cientistas consideram que a humanidade equivale a mais um dos grandes eventos de extinção da diversidade biológica planetária, o que se confirma mediante a leitura de inúmeros autores, dentre eles Dorst (1987), Fernandez (2000a) e Camara (2000), além de farta literatura sobre o tema. Isso se agrava se considerarmos que até hoje a ciência descreveu entre 1,5 e 1,6 milhões de espécies de todas as classes de organismos, contra um número total entre cinco milhões e 30 milhões (Wilson, 1989). Desse modo, a continuar as atuais taxas de degradação ambiental, a extinção de espécies, principalmente no caso das florestas tropicais que contem a maior parte da diversidade biológica do planeta, representará um enorme prejuízo para as futuras gerações. O intenso desmatamento das matas tropicais chegou a índices extremos nas últimas décadas e hoje não é possível saber com exatidão a perda anual, pois a degradação imposta pelo modelo de desenvolvimento econômico alcança os recursos naturais, indiscriminadamente. Alguns cientistas calculam que desastres ocorrerão muito em breve, seja pela escassez de água doce, pelo aquecimento global, pela escassez de recursos genéticos, diminuição de estoques pesqueiros, poluição da águas oceânicas, ou pela desaparição de espécies certamente importantes para o presente e futuro da Humanidade. Na medida que os recursos silvestres vão sendo degradados, antagonicamente essa situação dá lugar a uma supervalorização dos mesmos, extrapolando o juízo de valor do sistema capitalista, um fato que vem a corroborar o cunhado por um autor desconhecido que afirmou que “no sistema capitalista a natureza só tem algum valor se destruída”, o que não deixa de ser uma verdade haja 11 vista a movimentação de recursos financeiros para se proteger, manejar e recuperar as sobras daquilo que Fernandez (2000a) chamou de “poema imperfeito”. Uma das maneiras de mudar essa situação é atribuir ao estoque de capital natural que produzem os serviços ambientais um peso adequado no processo decisório, pois se não for assim, o bem-estar atual e futuro da humanidade podem ser afetados drasticamente. Se os serviços ambientais dos ecossistemas tivessem que ser pagos, em termos do valor de sua contribuição para a economia global, o sistema global de preços seria muito diferente do que é hoje. O preço das commodities que usam serviços de ecossistemas, direta ou indiretamente, seria muito maior; a estrutura de pagamento dos fatores, incluindo salários, taxas de juros e lucros, mudaria dramaticamente; o Produto Bruto Mundial seria muito diferente, tanto em magnitude como em composição, se incorporasse adequadamente o valor dos serviços de ecossistemas (Constanza et al.., 1997). Esses autores estimaram em US$ 33 trilhões de dólares o valor anual dos serviços prestados pelos sistemas ecológicos e o estoque de capital natural que os gera, duas vezes mais que o produto mundial bruto, considerando apenas o valor dos serviços que puderam ser identificados no sistema de mercado e substituíveis por ações humanas. 17 diferentes serviços de ecossistemas foram identificados, quais sejam: a regulação da composição química da atmosfera, regulação do clima, controle da erosão do solo e retenção de sedimentos, produção de alimentos, produção de matérias-primas, absorção e reciclagem de resíduos gerados por ação humana, regulação dos fluxos hidrológicos, suprimento de água (estocagem e retenção) regulação de distúrbios (proteção contra tempestades, controle de inundações, recuperação de secas etc.), processos de formação do solo, ciclo dos nutrientes, polinização, controle biológico (regulação de populações), refúgio para populações residentes e migrantes, recursos genéticos, recreação e cultura. Em termos mais pragmáticos, este estudo nos dá uma idéia do quanto vale cuidar preventivamente dos sistemas mantenedores da vida em nosso planeta, ou do quanto irá custar sua indispensável restauração no futuro (Costa, 2001b). A situação de degradação dos recursos naturais, a base de sustentação e de todo o desenvolvimento da civilização moderna, interpõe um novo 12 paradigma para as florestas manejadas com o intuito de produzir madeira e conservar ecossistemas, que reside no aumento da consciência da população sobre a importância dos produtos especiais e alternativos oriundos das florestas e dos processos industriais, os chamados produtos não tradicionais das florestas. Pesquisas em diversos países do mundo, e mais recentemente em alguns países tropicais, tem enfatizado e reconhecido a importância desses produtos especiais em suas economias. Esta questão ficou muito clara ao se adotar o conceito de desenvolvimento sustentável pelas nações participantes da Conferencia das Nações Unidades sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, em 1992, quando então foi confirmado o papel destes produtos no desenvolvimento sustentável e a sua efetiva contribuição na diversificação da economia (UICN/PNUMA/WWF, 1991; Hoyt, 1992; Corson, 1993). Neste contexto, ganharam importância as florestas plantadas com espécies exóticas de rápido crescimento, sendo um vantajoso mecanismo de controle do efeito estufa, de implementação imediata, de baixo custo e com capacidade de ampliar os estoques de carbono, reduzindo os impactos negativos das mudanças climáticas de origem antrópica. Produtos derivados das florestas plantadas produzidos continuamente e de maneira sustentável podem substituir parte das emissões dos combustíveis fósseis (Salati apud SBS, 2001). Por outra via, a atividade florestal no Brasil participa com 4% do produto interno bruto do nacional, com 4,8 milhões de hectares implantados que correspondem a 0,56% do território nacional, suprindo 62% da demanda de madeira interna. Além disso, gera milhões de empregos na medida que cada 1000ha dessas florestas corresponde a 60 empregos diretos e 90 indiretos (SBS, 2001). O enfoque sobre a biomedicina e a industria de fitofármacos naturais ilustra a escala global das mudanças voltadas para o setor florestal e de biodiversidade. Atualmente, no mercado de medicamentos mais de 25% das drogas prescritas contém ingredientes ativos oriundos de plantas naturais; cerca de 121 drogas prescritas em uso no mundo têm sua origem nos vegetais superiores, não incluindo os antibióticos naturais provenientes de microorganismos, sendo que 74% delas foram descobertas graças aos conhecimentos tradicionais de comunidades rurais. 13 Na China, mais de 5.100 espécies silvestres são utilizadas na medicina tradicional; na Amazônia cerca de 2.000; na Rússia cerca de 2.500 espécies de plantas. 1/4 de todas as receitas medicamentosas dos Estados Unidos contém princípios ativos extraídos de plantas. Mais de 3000 antibióticos são oriundos de microorganismos, incluídos a penicilina e a tetraciclina; compostos extraídos de plantas, micróbios e animais estão relacionados com o desenvolvimento dos 20 medicamentos mais vendidos nos EUA, sendo que o valor agregado aproximou-se dos US$ 6.000.000,00 em 1988. A "ciclosporina" é proveniente de um fungo do solo e constituiu uma revolução da cirurgia de transplantes cardíacos e renais, suprindo assim as reações de rejeição muito comuns nestas cirurgias; a "aspirina" e muitos outros remédios que hoje são sintetizados foram descobertos primeiro no meio silvestre (UICN/PNUMA/WWF, 1991; Corson, 1993). Muitas das espécies de plantas hoje cultivadas continuam sobrevivendo em condições silvestres, evoluindo na natureza sob regras muito diferentes das cultivadas, onde a competição pela sobrevivência origina indivíduos mais fortes às secas, inundações, calor e frio extremos, pragas, enfermidades e muitos outros diferentes perigos naturais. Os genes dos parentes silvestres contem características desconhecidas e um vigor especial, tesouros na sua maior parte desconhecidos e sub-utilizados. Um exemplo são os tomates silvestres das costas das Ilhas Galápagos, um Parque Nacional do Equador, que proporcionam genes que conferem uma tolerância ao sal de maneira que as plantas possam ser irrigadas com uma terça parte de água marinha. Um parente silvestre da soja que cresce às margens de estradas, nas matas ciliares e nos campos da Coréia e regiões da China e Rússia proporcionou genes que ajudam ao cultivo adaptar-se à curta estação de crescimento na Sibéria. Um parente silvestre do arroz teve papel importante ao dar resistência às doenças dos cultivares que alimentam a maioria das populações da Ásia, sendo talvez o exemplo mais relevante da importância de se conservar os parentes silvestres (Hoyt, 1992) Conservar o pouco de natureza que restou após milhares de anos de crescente civilização humana é algo extremamente complexo e parece realmente ser muito difícil, em razão dos poucos avanços reais transcorridos após a última 14 Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, evento no qual os governos dos principais países do mundo concordaram que “a humanidade se encontra em um momento de definição histórica, defrontando-se com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossistemas de que depende o bem-estar humano” (Agenda 21)”. A apologia ao desenvolvimento sustentável, termo cunhado pela Comissão Brundtland em 1987 (Lebel e Kane, sd) e delineado como factível, desejável e a solução para todos os males produzidos pelo Homem parece estar no começo do fim quando sob a ótica planetária, principalmente devido as constatações de que a crise ecológica não é um produto da sociedade moderna, mas tem acompanhado toda a história da humanidade (Fernandez, 2000). A continua degradação da biosfera é um fato incontestável, cuja maior ilustração é a recente recusa do governo dos Estados Unidos da América em assinar o Protocolo de Kyoto sobre as mudanças climáticas do Planeta. 2.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2.2.1 História e conceitos Sob uma ótica universal, a União Internacional para a Conservação UICN ou IUCN considera que as áreas protegidas são “áreas de terra ou de mar, especialmente dedicadas à proteção e manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais a elas associados, administrada através de mecanismos legais ou outras medidas que tornem possíveis alcançar tais objetivos” (IUCN, 1994). O recém criado Sistema Nacional de Unidades de Conservação SNUC (BRASIL, 2000) conceitua as áreas protegidas, ou unidades de conservação, como sendo um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituída pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, à qual se aplicam garantias adequadas de proteção”, uma visão muito mais apropriada, abrangente e particular ao Brasil. 15 De uma maneira geral, tendo em vista o ‘sistema mundial’, são superfícies terrestres ou aquáticas em desuso ou inadequados ao uso para fins urbanos, agropecuários ou industriais, podendo ser florestas, mangues, montanhas, campos, desertos, pântanos, etc. que rendem maiores benefícios ao homem se forem preservados em seu estado original. Ainda que existam outros meios para conservar a diversidade biológica (zoológicos, bancos de genes, arboretos, etc.) e outras riquezas abióticas, as áreas protegidas são, sem dúvida, os instrumentos estratégicos mais importantes para se alcançar tais objetivos, além de aportarem diversos benefícios à comunidade, região e país. São áreas que, por incluírem importantes recursos naturais ou culturais, por vezes de difícil quantificação econômica, devem ser mantidas na forma silvestre e adequadamente geridas. Por esta razão são meios essenciais para preservar a biodiversidade e, portanto, para se lograr a sustentabilidade local e regional. Não há dúvidas quanto ao papel das áreas protegidas na conservação da biodiversidade, sejam os ecossistemas, as espécies, os genes ou a diversidade cultural humana; áreas onde se pretende isentar ou diminuir as perturbações humanas incidentes sobre os processos evolutivos dos ecossistemas, com suas belezas cênicas que inspiram e reciclam o espírito humano e, sob uma ótica mais utilitarista, a principal herança de capital natural para as presentes e futuras gerações, entendendo que os juros a colher estão relacionados a uma digna qualidade de vida em razão dos diversos benefícios tangíveis e intangíveis delas oriundos. Os benefícios aportados por uma ou mais unidades de conservação podem ser muitos, mas eles somente são percebidos se elas forem geridas com padrões de excelência e os usos a que estão submetidas forem compatíveis com a categoria de manejo e objetivos de conservação. Moore e Ormazabal (1988) indicam que entre os principais benefícios estão os de caráter biológico, econômicos e os sócio-culturais adquiridos ao se proteger os valores mais relevantes da natureza, história e cultura de uma nação. Quando são mantidas em seu estado natural, as áreas silvestres contribuem para o desenvolvimento econômico de duas formas: conservando a diversidade biológica e mantendo os processos evolutivos, ecológicos e provimento 16 de serviços ambientais. Os serviços aqui sugeridos referem-se à capacidade da área protegida gerar recursos imediatamente aproveitáveis pela comunidade, como água, recursos faunísticos, energia e comércio em razão de ecoturismo. Alguns exemplos de benefícios são citados e analisados por diversos autores e instituições, como Davidson (1985), Boo (1990), Dixon e Sherman (1990), Ledec e Goodland (1990). Segundo UICN/PNUMA/WWF (1991), estes benefícios podem ser classificados em biológicos, ambientais, econômicos e culturais (Quadro 01). Quadro 01. Alguns benefícios aportados pelas unidades de conservação. Benefícios biológicos e ambientais • Guardar ecossistemas naturais e modificados que são essenciais na manutenção dos sistemas sustentadores de vida; • Conservar espécies da flora e fauna silvestres representativos de um ou mais ecossistemas, mantendo a diversidade genética das espécies presentes na área; • Conservação das características biofísicas importantes para a regulação dos ciclos hidrológicos e climáticos local e/ou regional. Beneficios econômicos • Proteção de solos em zonas sujeitas à erosão; • Regulação e purificação do caldal de água e controle da sedimentação das barragens hidroelétricas; • Oferta de empregos diretos e indiretos às comunidades do entorno e elevação dos ingressos em razão de ecoturismo nas áreas silvestres; • Possibilidade de haver aproveitamento direto sustentável dos recursos naturais por meio da coleta de produtos alternativos da floresta; • Provimento de barreiras naturais contra enfermidades em cultivos agrícolas e animais de criação. Beneficios culturais • Oportunidades para a educação e pesquisa científica; • Manutenção de sítios relevantes à inspiração espiritual, o entretenimento e a recreação; • Proteção e conservação de locais de importância cultural, lugares históricos, monumentos antropológicos, e sítios onde há uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza. Fonte: UICN/PNUMA/WWF (1991) Bernardes (1997) atribui alguns valores às unidades de conservação que podem ser mensuráveis ou não. A autora ressalta que tais valores dificilmente são percebidos pela grande maioria da população bem como pela quase totalidade dos que tomam decisões nos processos de desenvolvimento. São eles: suporte a vida; valores econômicos; valores recreativos; valores científicos; valores estéticos; valores de biodiversidade; valores históricos; simbolismo cultural; formação de caráter; diversidade/unidades; estabilidade e espontaneidade; valores dialéticos; vida; valores religiosos e filosóficos. É necessário entender que os benefícios 17 auferidos pelo homem, provenientes destes recursos, difere daqueles ligados ao processo de produção, pelo fato de se utilizar capital natural de difícil quantificação e que muitas vezes são utilizados de maneira indireta (Milano et al, 1993). Não se sabe ao certo quando a civilização humana começou a se preocupar em preservar áreas naturais para seu usofruto, porém o registro documentado mais antigo data de 252 A.C., quando o Imperador Asoka, da Índia, emitiu um diploma para a proteção de animais, peixes e florestas de seu reino (MacKinnon et al.., 1990). Apesar de não relatar o suporte de suas afirmações, Runte (1979) apud Dixon e Sherman (1990) informa que isto pode ter ocorrido bem antes, por volta dos anos 700 A.C. quando nobres Assírios reservavam grandes áreas para a caça. Informam ainda que no ano de 1084 D.C., o rei Guilherme I da Inglaterra ordenou um inventário de todas as terras, florestas, áreas de pesca e caça, áreas agrícolas e recursos produtivos do reino para realizar planos racionais de administração e desenvolvimento do país. Na Lituânia, no ano de 1541, estabeleceu-se uma Reserva para o Bisonte Europeu; na Suiça, em 1569, foram estabelecidas Reservas para proteção de "camurças"; nos séculos XVI e XVII foram estabelecidas grandes reservas de caça na Inglaterra. Estes relatos fazem parte das páginas da história da conservação mundial, sem no entanto constarem estratégias sólidas para o estabelecimento de um sistema mundial de áreas protegidas. Com certeza atitudes mais amplas para a proteção de áreas naturais só vieram a ser concebidas na medida que a sociedade moderna ingressou na era industrial, quando então as pessoas passavam a maior parte do tempo de suas vidas trabalhando em ambientes pouco salubres e, por conseguinte, demandavam espaços naturais para a recreação ao ar livre (Milano, 2000). Dentro do conceito moderno de áreas protegidas, ou unidades de conservação, coube aos Estados Unidos da América criar o 1º Parque Nacional do mundo; o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872. Seu exemplo foi seguido por outros países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália, quando então os motivos para a criação destas áreas restringiam-se ao objetivo de conservar recursos para o uso público visando a recreação e lazer. O primeiro passo voltado à preservação dos recursos naturais só surgiria em 1898, com a criação do Krugel National Park, na África do Sul, no qual os objetivos explícitos implicavam na adoção de técnicas de 18 manejo voltadas à recuperação de populações de animais que vinham sendo indiscriminadamente dizimadas pela caça esportiva e predatória (Milano, 2000; Silva, 1999). Este último autor elaborou uma tese de mestrado na qual explana com muita propriedade a evolução histórica do conceito de áreas protegidas no Brasil e no mundo. Em decorrência do avanço da degradação dos recursos naturais do planeta, o movimento conservacionista ganhou força e organizou-se para fazer frente aos desafios crescentes, seja em decorrência da extinção massiva das espécies, degradação e eliminação de hábitats, as enormes taxas de crescimento populacional e o crescimento da miséria humana que ocasiona uma constante pressão sobre as bases de sustentação da vida. Assim, em 1948 criou-se na França a União Internacional para a Proteção da Natureza, atual União Mundial para a Conservação, mundialmente conhecida por sua sigla histórica IUCN, ou UICN para os idiomas latinos. Esta organização conta com cerca de 800 agencias governamentais e não governamentais associadas em 125 países, cujos objetivos maiores são influenciar, encorajar e assistir a sociedade humana a conservar a integridade e a diversidade da natureza, assegurando que o uso dos recursos naturais seja equilibrado e ecologicamente sustentável (IUCN, sd). Em 1962 em Seatle, Estados Unidos, a UICN organizou a 1a Conferencia Mundial de Parques Nacionais, quando então discutiu-se em profundidade a conceituação das áreas protegidas, estabelecendo-se critérios e parâmetros para as atividades nelas desenvolvidas e diretrizes para a implementação de políticas conservacionistas nos países membros e participantes do encontro (Milano, 2000). Parece que deste momento em diante convencionou-se a realização de Congressos Mundiais de Parques e outras Áreas Protegidas de 10 em 10 anos, ocorrendo o 2o em 1972 em Yellowstone, Estados Unidos, o 3o em 1982 em Bali, Indonésia, o 4o em 1992 em Caracas, Venezuela e o 5o em 2003, na cidade de Durban, África do Sul. O congresso de Bali (IUCN, 1984) foi especialmente importante na medida em que recomendou a necessidade dos governos protegerem pelo menos 10% de suas terras e ecossistemas, cifra levantada pelos cientistas que discutiam, naquele então, qual a quantidade e tamanho ideal das reservas. Soulé e Wilcox (1980) diziam que as reservas devem ser amplas, múltiplas e dispersas (exceto 19 quando poucas espécies se beneficiarem da proximidade das reservas). Às questões ‘quão grande?’ ou ‘quanto?’, foram respondidas por ‘o maior possível’ e ‘o quanto possível’ “. Seis anos depois, Soulé e Simberloff (1986), que tiveram lados opostos na controvérsia grandes/pequenas reservas, chegaram a um consenso com a seguinte afirmação: “Reservas naturais devem ser o mais amplas possível, e conter o máximo possível. Para muitas espécies, certamente devem ser áreas amplas, enquanto para outras, pequenas áreas bastam para protegê-las estritamente, e, em sua maioria, manejá-las”. Em 1987 a Comissão Brundtland, das Nações Unidas, definiu o que seria designado como desenvolvimento sustentável e reafirmou o papel das áreas protegidas, recomendando que o percentual dos territórios a ser efetivamente protegido devesse ser de 12% (Noss, 1996). Schumacher (1974) e Diamond (1975), apud MacKinnon (1992) defendiam, respectivamente, que ‘áreas pequenas são maravilhosas’ e que ‘quanto maior melhor’. Os autores fazem um rápido raciocínio a este respeito e conclui que grandes reservas são mais efetivas para a preservação da biodiversidade, mas somente se forem totalmente protegidas, o que geralmente é impossível pois nas grandes UCs a demarcação, patrulhamento e monitoramento sistemático se tornam difíceis, ocorrendo uma série de conflitos que fazem com que a administração estabeleça prioridades que conduzem quase sempre à priorização de manejar alguns sítios particulares, um fato ilustrado pelos grandes parques africanos. A respeito dos critérios a serem adotados para a seleção de áreas protegidas e a conveniência do tamanho adotado, duas teses de pós-graduação foram recentemente desenvolvidas no país e merecem menção, Ishibata (1999) e Morsello (2001), trazendo uma rica revisão e estudos de casos sobre a temática. Ainda referente ao Congresso de Bali, o evento salientou a necessidade de se implementar mundialmente a capacidade de manejo das áreas protegidas mediante a promoção de adequados suportes técnicos, científicos e financeiros, enfatizando ainda uma melhoria da capacitação dos recursos humanos envolvidos nas tarefas diárias do manejo. Neste sentido o inventário de recursos e o monitoramento da qualidade da gestão de áreas protegidas ganharam papéis fundamentais na medida que provêem as organizações mundiais de conservação de dados acurados a respeito da rede mundial (Thorsell, 1992). 20 O congresso de 1992, na Venezuela, sinalizou para um fato inquestionável que mudaria o rumo do manejo das unidades de conservação da América Latina e do mundo. Mais de 1800 especialistas reunidos discutiram sobre a emergente necessidade de maiores investimentos nas áreas protegidas para que as mesmas, em última instância, pudessem cumprir com o desígnio de prover bem estar às populações vizinhas e à sociedade como um todo (UICN, 1993). Evidenciou-se também que, se até aquele momento as atividades de manejo visavam tão somente a proteção e o conhecimento científico dos recursos naturais interiores às áreas protegidas, era extremamente necessário alterar esse conceito e que para uma efetiva conservação se fazia urgente angariar a simpatia, o apoio do público e das comunidades colidentes (UICN, 1993). Também se fez importante os argumentos indicando a necessidade de se criar mais áreas protegidas marinhas e aumentar a representatividade e a qualidade do manejo das áreas protegidas. Segundo Kakabadse (2003)1, o V Congresso Mundial, ocorrido na África do Sul em setembro de 2003, reuniu mais de 3000 participantes e enfocou-se na necessidade das áreas protegidas serem gerenciadas através de fortes vínculos com os programas de conservação e desenvolvimento, de maneira tal que haja harmonia equitativa entre os interesses dos diversos setores envolvidos. Desta feita, as UCs são novamente confirmadas como elemento importante na forja da sinergia necessária entre a manutenção dos sistemas que sustentam a vida e a promoção do desenvolvimento sustentável, provendo benefícios tangíveis e intangíveis muito além das fronteiras: além das suas próprias fronteiras, além das fronteiras dos Estados, das sociedades, dos gêneros e das gerações (Crofts, 2003). Este congresso conclamou a todos os que trabalham pela conservação das áreas protegidas para manterem as vias do diálogo abertas, que deve prosperar num clima de humildade, credibilidade e confiança. Isto provavelmente são os princípios básicos para que a mesma quantidade de superfície terrestre hoje mantida na forma de UCs, cerca de 12%, seja aplicado também aos oceanos, mares e costas, que hoje contam apenas com 1% protegidos. Some-se a isto a proposta e desafio de fazer com que todas as unidades de conservação do mundo possuam um manejo efetivo até o ano de 2015, em face da 1 Yolanda Kakabadse, Presidenta da UICN, União Mundial para a Conservação. 21 crônica situação de muitas áreas protegidas, especialmente as localizadas nos países em desenvolvimento, coincidentemente os que albergam as maiores riquezas em biodiversidade Tais direcionamento das eventos políticas mundiais contribuíram conservacionistas de forma aplicadas às decisiva no unidades de conservação do planeta, fomentando a criação de sistemas de unidades de conservação completos e aumentando a representatividade dos biomas e ecossistemas, induzindo ao planejamento participativo envolvendo as comunidades vizinhas, valorizando as áreas protegidas mediante o estabelecimento de mecanismos para o desenvolvimento regional, sugerindo e ordenando um sistema de classificação mundial para as áreas protegidas, propondo medidas efetivas que garantam a sobrevivência dos povos que tradicionalmente usam os recursos naturais, alertando para o crescente e permanente afastamento do Estado de suas obrigações básicas e mostrando as oportunidades alternativas de investimento em conservação, entre outras questões fundamentais. Como bem discorre Milano (1999), nascida para a proteção da natureza em sentido amplo, a criação e manejo das unidades de conservação avançou como técnica e ciência e conta hoje com objetivos tão variados quanto a preservação da diversidade biológica, a manutenção de serviços ecológicos essenciais, a proteção de monumentos naturais e belezas cênicas associados à promoção de pesquisa científica, educação, recreação, turismo ecológico e desenvolvimento regional. Há muito as atividades de gestão das UCs deixaram de ser algo simplesmente poético; ao contrario, assumiram nas últimas décadas o papel de vanguarda conservacionista elevando o nível de profissionalização do pessoal envolvido nas atividades afins, juntamente com o advento de disciplinas, cursos acadêmicos e de especialização dirigidos às e/ou ambientados em UCs, uma série de publicações específicas tais como a Revista Parks e a Flora, Fauna y Areas Silvestres, publicadas respectivamente pela UICN e pelo Projeto FAO-PNUMA, sites na Internet dedicados ao assunto, eventos científicos em todos os níveis e uma série de outras atividades, que de maneira articulada ou não contribuem para a melhoria permanente das áreas protegidas. 22 Em 1982, quando se realizou o III Congresso Mundial de Parques, mais de cento e vinte países haviam decretado ao menos um parque nacional ou reserva equivalente, apesar dos objetivos de manejo e o nível de proteção legal pudessem variar entre áreas com a mesma designação (MacKinnon et al, 1990). Naquele momento 2.671 áreas protegidas haviam sido criadas cobrindo 396.607.351ha, respectivamente 47% e 82% a mais que o existente em 1972, um salto quantitativo considerável em 10 anos de movimento conservacionista, totalizando próximo de 6.900 áreas protegidas legalmente estabelecidas cobrindo cerca de 5% da superfície terrestre, próximo a duas vezes o tamanho da Índia (Miller, 1984). No final do século XX, 30.350 sítios estavam designados como áreas protegidas dentro da conceituação da UICN, mundialmente aceita, totalizando aproximadamente 13.232.275 km2, respondendo por mais de 8,83% da área total da superfície terrestre sob alguma forma de proteção (Green e Paine, 1997). Em 2003, quando do último congresso mundial de áreas protegidas, lançou-se a mais atual Lista das Nações Unidades das Áreas Protegidas, registrando-se mais de 100.000 sítios com uma extensão total de 18,8 milhões de Km2, ou quase 2 bilhões de hectares protegidos, representando 12% da superfície do planeta, com a estimativa de que 17,1 milhões de Km2 sejam terrestres (11,5%) e 1,64 milhões de Km2 sejam marinhas (0,5%) (Chape, 2003). A meta de se proteger 12% da Terra estabelecida no inicio da década de 1980 foi parcialmente atingida 20 anos depois. Mas provavelmente este aumento não seja decorrente apenas da criação de novas unidades, mas também da ampliação do conceito de áreas protegidas adotado pela IUCN, assim como possíveis sobreposições físicas entre diferentes categorias de manejo, como por exemplo acontece no Brasil, e mesmo em decorrência de informações de má qualidade enviadas pelos países à agencia de monitoramento internacional. Como pode-se observar, tanto o número quanto a área expandiramse nas últimas décadas sendo que 2/3 das áreas protegidas atuais foram concebidas nos últimos 30 anos, fato que demonstra a acelerada conscientização internacional que culminou na edição e ratificação da Convenção da Diversidade Biológica em 1992, cujo 8o artigo, dedicado à conservação in situ, explicita a importância desta estratégia para a conservação, insuflando cada parte contratante 23 do acordo a: i) estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas visando a conservação da biodiversidade; e ii) desenvolver, se necessário, diretrizes para a seleção, estabelecimento e manejo das áreas protegidas visando a conservação da diversidade biológica (Davey, 1998). 2.2.2 Categorias e objetivos A propósito, deve-se fazer um parênteses para sucintamente discorrer sobre o que sejam categoria de manejo e sistema de unidades de conservação. Categorias de manejo é a maneira pela qual a comunidade técnicocientífica designa o tipo ou modelo de unidade de conservação, enquadradas com base nos atributos naturais e nas aptidões de prover benefícios diretos e indiretos, nos objetivos para os quais foram criadas e nos objetivos nacionais de conservação. A existência de objetivos de conservação diversos em dado país, que podem conflitar entre si, é um fator relevante que determina a necessidade de tipos de unidades de conservação distintos, ou seja categorias de manejo (Milano, 1999). Becht (1974) apud Hart (1985) afirma que ‘sistema’ é um arranjo de componentes físicos, um conjunto ou coleção de coisas, unidas ou relacionadas de tal maneira que formam e atuam como uma unidade, uma entidade ou um todo, um conceito muito importante no desenvolvimento das ciências biológicas e outras que se utilizaram da Teoria Geral de Sistemas enunciada por Von Bertalanfly em 1968, visando explicar fenômenos naturais ou criados em laboratório, mediante a repetição de análises e a síntese de resultados. Recentemente, por exemplo, vimos surgir os sistemas agrossilvopastoris ou sistemas agroflorestais, uma nova modalidade de conhecimento nas ciências agronômicas e florestais, nascida através da aplicação da teoria geral de sistemas à produção agrícola, florestal e pecuária (Montagnini et al., 1992). Como Sistema de Unidades de Conservação entende-se o conjunto e a integração organizada de diversas categorias de manejo. Por definição, uma área protegida deve assegurar seus recursos de um uso irrestrito. Decretar porções do território como parques nacionais pode ser conveniente desde o ponto de vista conservacionista, mas pouco factível para a maioria dos países. Qualquer país que se limite a proteger somente áreas com vocação de parque nacional estará 24 condenado a ter áreas protegidas com poucas alternativas de manejo, restringindo assim a amplitude de manipulação dos recursos bióticos e abióticos existentes e que se deseja conservar (Milano et al., 1993; MacKinnon et al., 1990). Assim, considerando os objetivos de conservação adotados em um país, será necessário um conjunto de categorias de manejo que, cumprindo individualmente conjuntos específicos de objetivos deverá também, como conjunto, alcançar os objetivos nacionais de conservação (Milano, 1999). Neste contexto, Davey (1998) afirma que para se obter uma efetiva conservação nenhuma área protegida poderá ser gerenciada isoladamente, considerando que existem conexões biológicas, sociais e econômicas entre diferentes lugares e diferentes componentes do sistema, integrando-as então no processo dinâmico de planejamento do sistema. Na medida que se considera tal premissa assegura-se que o sistema em si vá além da simples soma das partes integrantes. Visando facilitar e homogeneizar a linguagem internacional, a União Internacional para a Conservação envidou esforços na elaboração de uma estrutura única e internacional para a classificação das áreas protegidas (IUCN, 1994), que apresenta 6 tipos de categorias de unidades e cujo avanço conceitual reside no fato de a classificação tomar como base os objetivos conservacionistas primários e secundários que a área pode prover (Quadro 02). Conser v terresatrçeão de paisag en s/m recreaçarinhas e s ão Uso ambiensteustentável de s/e oss is natucra is temas Co Ecossis nservação de te as e (Parqum es NacRioecreação nais) Con Caracteservação de rísticas Naturais Conser va ç gestããoo mediante ativa stre Á re a N a tural Sil ve Objetivodemanejo Ia Ib II III IV V VI Pesquisacientífica Proteçãodavidasilvestre 1 2 3 1 2 2 2 3 2 3 2 --- 3 2 Preservaçãodeespéciesediversidadegenética Manutençãodeserviçosambientais Proteçãodecaracterístaicasnaturais/culturais 1 2 --- 2 1 --- 1 1 2 1 --1 1 1 3 2 2 1 1 1 3 Turismoerecreação Educação ----- 2 --- 1 2 1 2 3 2 1 2 3 3 Usosustentável derecursosdeecossistemasnaturais Manutençãodeatributosculturaistradicionais ----- 3 --- 3 --- ----- 2 --- 2 1 1 2 Natural Reserva Estrita Quadro 02. Categorias e objetivos de gestão das unidades de conservação (UICN, 1994). 1 - Objetivo primário; 2 - Objetivo secundário; 3 - Objetivo potencialmente aplicável; --- Não aplicável 25 De uma forma sintética, segundo as características das categorias de gestão o manejo varia dos fins científicos (Ia) até áreas naturais manejadas para permitir uso e exploração a longo prazo (IV e VI), entretanto é pouco provável definir objetivos únicos para cada unidade dada a diversidade paisagística e conjuntural a que geralmente estão submetidas, sendo impossível afirmar que uma categoria é mais importante que a outra pois a conjunção das diferentes unidades e concretização do mosaico de categorias é que possibilita a existência de um sistema voltado ao ‘desenvolvimento sustentável’ nacional, regional e local (UICN, 1994). A identificação dos objetivos de manejo é um dos primeiros passos no processo de criação e planejamento de uma área protegida. Antes de começar o manejo propriamente dito deve-se proporcionar uma orientação geral para todas as pessoas envolvidas neste processo através dos objetivos de manejo, que são considerados a máxima expressão do que se deseja alcançar com a criação de uma área protegida (Eidsvik, 1977). Isto não é uma tarefa onde se considera somente os recursos a serem protegidos, mas a síntese das pesquisas e percepções a respeito das políticas de conservação, da inserção da área no desenvolvimento regional, da capacidade da instituição responsável e como ela encara a conservação da natureza, a legislação incidente sobre o uso dos recursos da área e seu entorno socioeconômico (Miller, 1980). Procedendo-se desta maneira, os objetivos resultarão claros e coerentes, não dando lugar a interpretações errôneas quanto aos seus significados, devendo ser suficientemente específicos para resultarem ações positivas e realizáveis (Linn, 1976; MacKinnon al., 1990). Segundo a União Internacional para a Conservação, os objetivos primários de conservação das áreas protegidas são (IUCN, 1994): • Manutenção dos processos ecológicos vitais e dos sistemas de suporte à vida • Preservação da diversidade biológica e genética • Proteger valores estéticos e ecossistemas naturais • Conservar bacias hidrográficas e manter a produção sustentada de água em quantidade e qualidade • Controle de erosão, sedimentação e degradação de solos • Manutenção da qualidade do ar 26 • Proteção de hábitats representativos de espécies raras e/ou em perigo de extinção • Provimento de oportunidades para o ecoturismo e recreação • Provimento de oportunidades para a pesquisa, educação e monitoramento ambiental; contribuição para o desenvolvimento sustentável • Proteção de patrimônios naturais e culturais • Manutenção de opções abertas para o futuro. Thelen e Dalfelt (1979) sugerem que os objetivos de manejo podem ser classificados em primários e secundários, como de fato pode ser observado no Quadro 02 já referido. Os objetivos primários refletem as principais razões de existência e aproveitamento da área, enquanto os secundários podem ser considerados "subprodutos" do manejo da área protegida ou serem alcançados total ou parcialmente com o logro dos objetivos primários. Muitas vezes é possível encontrar unidades onde os planos de manejo apresentam objetivos demasiado vagos e amplos ou, por outro lado, demasiado específicos. Aproveitando o raciocínio de planejamento oferecido por MacKinnon et al.. (1990), pode-se realizar um exercício simples para exemplificar esta questão, usando-se para tanto o caso verídico do Parque Estadual do Morro do Diabo, unidade administrada pelo Instituto Florestal e localizado no extremo sudoeste do Estado de São Paulo. Este Parque possui a maior população de micosleões-pretos (Leontophithecus chrysopygus) em estado selvagem, sendo que numa rotina de planejamento poder-se-ia considerar os seguintes objetivos de manejo: 1º Beneficiar ao máximo uma população de micos-leões-pretos. 2º Oferecer visitas culturais e visões recreativas dos micos-leõespretos aos visitantes. 3º Facilitar pesquisas sobre o comportamento dos micos-leõespretos. 4º Preservar o ecossistema natural dos micos-leões-pretos. Nos quatro casos o manejo está dirigido à conservação dos micosleões-pretos, entretanto é óbvio que no primeiro caso os primatas são a tônica principal da unidade, podendo o hábitat ser manejado para beneficiar esses animais, 27 inclusive em detrimento de outras espécies, tal qual em algumas áreas protegidas da África. Ainda que a categoria Parques possua como pressuposto básico o uso público indireto, os visitantes poderiam ser excluídos de sítios específicos ou até da unidade inteira caso a presença humana se contraponha à preservação dos micos, fato que poderia resultar na reclassificação da unidade para alguma categoria mais protetiva, como Reserva Biológica ou Estação Ecológica. No segundo caso os visitantes são os atores principais do manejo, o que justificaria a construção de facilidades tais como caminhos e estradas de acesso ao interior da unidade de conservação, cevas especiais e torres de observação. Poder-se-ia inclusive suprimir parcialmente maciços da vegetação para melhorar a panorâmica, entre outros. No terceiro caso a pesquisa básica é o carro chefe, significando que os resultados de manejo das duas primeiras hipóteses devessem ser totalmente refutadas neste caso. Tanto o manejo do hábitat como a presença de visitantes são descartados, assim como a proibição da liberação de micos-leões reabilitados em cativeiro que comprometam a população silvestre. Alojamento para pesquisadores, trilhas ou caminhos especiais para os mesmos seriam ações válidas para se alcançar tal objetivo. O quarto caso é de natureza muito mais ampla e sujeita as ações rumo a conservação de um ecossistema completo, dando importância à presença dos micos mas englobando uma diversidade biológica mais representativa, reduzindo-se as perturbações através da utilização de técnicas modernas de manejo e gestão. Como mencionado anteriormente, o cumprimento dos objetivos de uma unidade de conservação está associado e quase sempre ajuda no alcance de um ou mais objetivos de conservação nacional. Para o Brasil tais objetivos estão explicitados pela Lei 6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981), e pela Lei 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC (BRASIL, 2000). A primeira estabelece os seguintes princípios: i. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; ii. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; iii. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; 28 iv. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; v. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; vi. Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; vii. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; viii. Recuperação de áreas degradadas. O segundo diploma legal explicita os seguintes objetivos: i. Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; ii. Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; iii. Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; iv. Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; v. Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; vi. Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; vii. Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; viii. Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; ix. Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; x. Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; xi. Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; xii. Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; xiii. Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. Essas pautas se complementam e moldam, juntamente com o capitulo sobre meio ambiente da Constituição Federal de 1988, o arcabouço legal da conservação da natureza do Brasil, sendo um componente básico para todas as iniciativas de planejamento direcionadas às unidades de conservação da natureza. Tradicionalmente a categoria de manejo "Parque Nacional" foi a mais usada pelos países que criaram áreas protegidas, porém com o passar do tempo esta categoria foi sendo complementada com a criação de outras categorias de manejo ao nível mundial (MacKinnon et al., 1990). No Brasil, já em 1965 o Código Florestal considerava as categorias Parques, Reservas Biológicas, Florestas nos 29 níveis nacional, estadual e municipal, além dos Parques de Caça. Recentemente se propôs a separação das unidades de conservação em dois grupos com características distintas: unidades de conservação de proteção integral e unidades de conservação de uso sustentável, descritas e conceituadas na já referida Lei 9.985/2000. As Unidades de Conservação de Proteção Integral são áreas protegidas cuja finalidade é a manutenção dos ecossistemas livres das alterações causadas pela interferência humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais, ou seja somente atividades que fazem uso da natureza sem contudo causar alterações significativas nos atributos naturais. Algumas atividades de uso indireto são: pesquisa científica, recreação e educação ambiental. As categorias de manejo contempladas são as Estações Ecológicas, Reserva Biológica, Parques Nacionais, Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. Por sua vez as Unidades de Conservação de Uso Sustentável são áreas protegidas dedicadas a promover e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais, admitindo a exploração em quantidades ou com uma intensidade compatível com sua capacidade de renovação. São representadas pelas Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante Interesse Ecológico, Reservas Extrativistas, Floresta Nacional, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Para chegar a esta classificação foram necessários quase 10 anos de muita discussão, e mesmo assim os conservacionistas brasileiros ficaram divididos entre os que se dedicam a sustentar a proteção estrita e o grupo mais condescendente e com idéias mais elásticas, que põem em risco as mesmas áreas que desejam ver protegidas (Douroujeanni, 1997). Pode-se dizer que em nosso país os primeiros vêem seus argumentos respaldados em trabalhos como o de Fernandez (2000a e 2000b) e Camara (2000), e o segundo grupo, designados ‘movimento sócio-ambiental’, encontram sua maior expressão em Diegues (1996). Outro aspecto relevante é a confusão criada com tantas categorias, algumas com objetivos muito parecidos, como as Reservas Biológicas e as Estações Ecológicas, as Reservas Extrativistas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico e os Refúgios de Vida Silvestre (Jorge Pádua, 2000). 30 A respeito da priorização da criação de unidades de uso direto em detrimento das dedicadas ao uso indireto no Brasil, Milano (2000) faz uma análise critica bastante contundente, abordando e confrontando o advento e difusão do conceito de desenvolvimento sustentável na década de 80 e os reflexos que este teve sobre o comportamento de grandes agências financiadoras do desenvolvimento dos países em desenvolvimento, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que estabeleceram critérios ambientais nos projetos por eles financiados, como foi o caso do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA). As mudanças observadas refletiram-se também na postura conservacionista mundial, e no Brasil alterou o rumo e a filosofia adotada pelos governos e órgãos ambientais, que dirigiram seus esforços para a criação de unidades de uso sustentável, que no nível federal participam com quase 60% das áreas existentes. Contudo, o SNUC é uma realidade e está baseado e acorde com a classificação preconizada pela UICN, considerando-se não apenas os atributos e características biofísicas das áreas mas também os objetivos de conservação que elas possam satisfazer, conforme o Quadro 03. Muitas pautas modernas incidentes sobre a eficácia de gestão das UCs foram sacramentadas pelo SNUC, tais como a gestão bioregional, os conselhos consultivos, a possibilidade de gestão compartilhada e parcerias, a definição de regras financeiras para a distribuição dos recursos arrecadados nas unidades, os conselhos de mosaicos, etc. Em relação ao Brasil, o “Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre a Diversidade Biológica” (BRASIL, 1998) informa que o país possui, em nível federal, 103 unidades de uso indireto e 184 de uso sustentável cobrindo, respectivamente, 15.889.543ha ou 1,87% e 23.173.668ha ou 2,72% do país, totalizando 39.068.211ha ou 4,59% da superfície nacional. Este sistema é ainda complementado por uma vasta rede de unidades estaduais, com 267 UCs de uso indireto com 5.969.143ha, e 184 UCs de uso sustentável com 23.796.189ha, totalizando 29.765.332ha ou 3,50% do território nacional. E ainda 341.057ha ou 0,04% do país em unidades de conservação de domínio privado, as Reservas Particulares do Patrimônio Nacional-RPPN. 1 1 1 2 3 ----------------- 1 1 1 2 3 ----------------- Manutenção da diversidade biológica e controle ambiental Conservação dos recursos genéticos Educação, pesquisa e monitoramento ambiental Conservação de bacias hidrográficas Controle da erosão e sedimentação Proteção de sítios arqueológicos, culturais e históricos Proteção de belezas naturais Manutenção de moradia e subsistência das comunidades tradicionais Produção de proteína animal Produção de produtos extrativistas Provisão de recreação e serviços de turismo Manutenção da flexibilidade de manejo, uso múltiplo Contribuição para o desenvolvimento rural 2 --- 1 --- --- --- 1 2 3 2 1 1 1 1 2 --- 1 --- --- --- 1 2 3 2 1 1 1 1 3 --- 2 --- --- --- 3 --- 3 3 2 2 1 1 1 1 3 --- 3 --- 3 --- --- --- 3 --- 3 2 2 2 1 1 1 1 3 1 --- --- --- --- 3 3 3 3 2 --- 1 1 3 1 --- 2 --- --- 3 3 2 2 2 --- 1 1 2 2 1 --- --- --- 3 3 2 2 2 2 1 1 2 1 --- 1 --- 3 3 3 2 --- 2 1 2 2 2 --- --- --- 2 2 2 2 2 2 2 1 Siglas: EEc - Estação Ecológica; ReBio - Reserva Biológica; PN - Parque Nacional; MN - Monumento Natural; RVS - Refúgio da Vida Silvestre; APA - Área de Proteção Ambiental; ARIE - Area de Relevante Interesse Ecologico; FN - Floresta Nacional; REx - Reserva Extrativista; RF Reserva de Fauna; RDS - Reserva de Desenvolvimento Sustentável; RPPN - Reserva Particular do Patrimonio Natural. 1-Objetivos primários; 2-Objetivos secundários; 3-Objetivo complementar; --- Não aplicável 2 2 3 2 1 3 3 2 2 --- *Preparado pelo autor com base no Sistema Nacional de Unidades de Conservação. BRASIL, 2000. 1 1 EEc ReBio PN MN RVS APA ARIE FN REx RF RDS RPPN Manutenção de ecossistemas em estado natural Objetivos de conservação/UCs Quadro 03. Objetivos de conservação das categorias de manejo brasileiras*. 31 32 No âmbito dos biomas, pode-se resumir o seguinte: a Amazônia possui cerca de 10% do território em Unidades de Conservação e conta ainda com 85% de áreas naturais remanescentes; o Cerrado sofreu conversão em 40% de sua área e não possui representatividade significativa em termos de UCs; a Caatinga possui área remanescente inferior a 50% da área originária e menos de 1% está protegido em Unidades de Conservação; a Mata Atlântica é o mais ameaçado dos biomas florestais brasileiros, com área remanescente que corresponde a menos de 9% da área originária, possuindo cerca de 2% da área original em Unidades de Conservação; a Floresta de Araucária e os Campos Sulinos estão fortemente antropizados por atividades agropecuárias, e apenas cerca de 1% da área originária está protegida em Unidades de Conservação de uso indireto; a Zona Costeira e Marinha está muito fracamente representada por UCs (BRASIL, 1998). Ou seja, considerando todas as categorias de manejo de nível federal e estadual o país ainda está muito abaixo das recomendações da UICN e da Comissão Brundtland, mas se excluídas aquelas categorias de manejo consideradas apenas elementos para o ordenamento territorial, como as Áreas de Proteção Ambiental-APAS, as dedicadas à regulação do mercado de madeira, como as Florestas Nacionais, e as que atendem mais às demandas sociais e as populações tradicionais, como as Reservas Extrativistas (Jorge Pádua, 1997 e 2000) a situação fica muito mais séria. 33 2.3 MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2.3.1 Administração, manejo ou gestão Atualmente há muita polêmica ou mesmo certo desentendimento em torno de termos que designam as atividades desenvolvidas em uma unidade de conservação. Os termos administração, manejo e gestão de Unidades de Conservação estão muito popularizados em decorrência da adoção e adaptação de palavras estrangeiras no léxico português, da necessidade de estabelecer conceitos de domínio corrente e do simples avanço das ciências da administração. Ainda que sejam utilizados de modo semântico guardam similaridades e diferenças importantes. Numa concepção ampla entende-se por administração as atribuições de planejamento, organização, comando, coordenação e controle que ocorrem em dada organização, atividades intrínsecas aos ambientes de trabalho que encerram alguma complexidade sistêmica com entrada de insumos, processamento e produção de resultados (Maximiano, 1995). Para este autor, o planejamento consiste em examinar o futuro e traçar um plano de ação de médio e longo prazo; a organização refere-se à montagem de uma estrutura humana e material para realizar as tarefas e empreendimentos inerentes aos objetivos da organização; o comando está relacionado a adoção de esquemas que mantenham o pessoal realizando as atividades inerentes para se alcançar as metas estabelecidas pelos planos; a coordenação reúne, unifica e harmoniza todas as atividades e esforços envolvidos e o controle cuida para que tudo se realize de acordo com os planos. Na sua visão, uma série de princípios necessitam ser preenchidos para que a administração aconteça e seja eficaz, quais sejam: Divisão de trabalho que resulte na especialização das funções e separação dos poderes; Autoridade e responsabilidade, ou seja o direito de mandar e o poder de se fazer obedecer e as sanções que acompanham o exercício do poder; Disciplina e respeito aos acordos estabelecidos entre a organização e seus agentes; Unidade de comando, de maneira tal que cada individuo tenha apenas um superior; 34 Unidade de direção, ou seja um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam o mesmo objetivo; Subordinação do interesse individual ao interesse geral; Remuneração do pessoal de forma eqüitativa; Centralização dos poderes de decisão no chefe, que com equilíbrio será capaz de enfrentar as responsabilidades e iniciativas dos subordinados; Hierarquia e ordem; Eqüidade no tratamento dos funcionários; Estabilidade do desenvolvimento; pessoal como forma de promover seu Iniciativa e espírito de equipe. A administração como ciência sempre se ocupou dos afazeres da organização, que inicialmente era entendida como um conjunto de cargos e tarefas, depois como conjunto de órgãos e funções para, na atualidade, se desdobrar numa complexa gama de variáveis e fatores que interagem no aprimoramento da própria ciência (Andrade, Tachizawa e Carvalho, 2000). Esses autores informam ainda que a administração evoluiu tanto que alguns autores consideram não haver área da atividade humana tão importante pelo fato de a civilização dela depender para organizar todo o esforço cooperativo do Homem. Outros autores ligados à administração de empresas possuem opiniões muito similares ao discorrido acima, associando o conceito basicamente à organização e operacionalização das atividades internas da empresa ou instituição. Por seu turno a palavra ‘manejo’ tem sido utilizada para designar uma ampla diversidade de ações e atividades desenvolvidas nas unidades de conservação, sendo um termo adotado em nosso país e restante da América Latina oriundo da palavra inglesa management e manager, respectivamente administração e administrador (Michaelis, 1990). No dicionário português a primeira sinonímia ao termo refere-se ao ato de manipular, manusear e manear com as mãos algum objeto ou recurso, entretanto nos novos e modernos dicionários da língua é possível vislumbrar conotações empresariais e organizacionais tais como administração, gerência e direção (Ferreira, 1999), com certeza uma corroboração lingüística ao uso popular do termo. 35 Em termos técnicos Dalfelt (1976) declarou que o manejo das áreas silvestres protegidas é uma ciência empenhada em buscar soluções para os diversos problemas que surgem e o desenvolvimento de metodologias para as diversas categorias de manejo existentes. MacFarland (1980) sustenta que os componentes básicos do processo chamado manejo de áreas protegidas são: legislação, política, aquisição de terras, planejamento em vários níveis, infra-estrutura institucional, capacitação de pessoal, participação pública, pesquisa e monitoramento, implementacão de esquemas de proteção e manejo de recursos, utilização racional de recursos, operações e manutenção e finalmente, avaliação do planejado e executado. Cifuentes (1983) concorda com tal definição e acrescenta que o manejo deve levar a um aproveitamento adequado dos recursos naturais e a permanência da área a longo prazo. Deshler (1982) definiu o manejo como o eficiente e racional uso dos recursos humanos e materiais sob a égide do planejamento, de modo que a direção alcance ou cumpra os objetivos de manejo da área. MacKinnon et al.. (1990) também indicam que o manejo consiste na execução das atividades que conduzam ao logro dos objetivos da área protegida e que um dos aspectos fundamentais para que ele seja efetivo é a disponibilidade e uso de um plano que delimite com clareza as ações programáticas consistentes com os objetivos da área. Milano et al. (1993) após discorrerem acerca das definições vernaculares definiram manejo como “o conjunto de ações e atividades necessárias ao alcance dos objetivos de conservação e manejo das áreas protegidas: ou seja, em um sentido técnico, as atividades fins, aquelas que estão mais proximamente relacionadas com o sentido vernacular do termo em português, aquelas que dizem respeito ao manuseio, controle ou direção de processos nas unidades de conservação, tais como proteção, recreação, educação, pesquisa e manejo de recursos”. Exprimindo uma conceituação baseada em suas experiências e nas definições oriundas de vários outros autores, Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) afirmam que manejo é o conjunto de ações de caráter político, legal, administrativo, de pesquisa, de planejamento, de proteção, coordenação, promoção, interpretação e 36 educação, entre outras, que resultam no melhor aproveitamento e a permanência de uma área protegida e o cumprimento de seus objetivos. Recentemente a Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000), em seu artigo 2o inciso VIII define manejo como “todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas”, uma conceituação “guarda-chuva” suficientemente ampla para abrigar todas as tendências filosóficas. Observa-se que se por um lado alguns autores são até certo ponto reducionistas, por restringirem as ações à proteção, recreação, educação, pesquisa e manejo de recursos; outros confundem alguns fatores envolvidos nas atividades básicas das unidades de conservação (proteção e manutenção) com serviços oferecidos pelas mesmas (interpretação, educação), porém todos concordam na busca de caminhos para se alcançar os objetivos que norteiam a criação e designação da área. Deste modo, o conceito de manejo de áreas protegidas ganhou amplitude com o passar do tempo, provavelmente em razão do acréscimo de desafios e problemas a enfrentar, mais abrangente que aquele emprestado do manejo de ecossistemas em que o objeto de análises é o ecossistema em sí, com seus limites definidos e alcançáveis segundo os recortes temporo-espacial definidos pelo pesquisador. Atualmente vimos proliferar o termo gestão de negócios, gestão empresarial, gestão ambiental, etc., e gestão de unidades de conservação, mas o que seria então a gestão? De acordo com o léxico, a palavra gestão significa o “ato de gerir ou administrar oficiosamente negócios alheios, sem mandato ou qualquer representação legal”, e a gerência cuidaria então de “supervisionar e coordenar todos os procedimentos relacionados a um produto específico” (Ferreira, 1999). Uma definição seca e destituída de profundidade, mas excetuando a inexistência de mandato legal para o sujeito das ações, esta reduzida definição se compatibiliza muito superficialmente com as funções desenvolvidas pelos diretores das UCs, já que os mesmos cuidam para que um bem público (as UCs) manifeste as atribuições inerentes a seus objetivos (produto). 37 Historicamente o conceito de gestão surgiu no domínio privado e diz respeito à administração dos bens possuídos por um proprietário. Significa dizer que esses bens são susceptíveis de apropriação por outrens, a ponto de sua administração ser confiada a terceiros; e repousando em uma relação entre um sujeito e um objeto a gestão pressupõe que o vir-a-ser do objeto submete-se aos projetos, usos e preferências do sujeito (Godard,1997). Relativo ao território, Macedo (1994) afiança que para se garantir a sustentabilidade ambiental do espaço territorial é necessário lançar-se mão de quatro instrumentos técnicos: i) o ordenamento territorial, ii) o plano para desempenho ambiental, iii) um sistema de gestão territorial e iv) um sistema de gestão da qualidade ambiental. Os dois primeiros voltados ao planejamento ambiental, respectivamente ordenando o espaço a ser gerenciado e mantendo e garantindo os resultados da gestão. Os dois outros são referentes à gestão em si, mediante a definição da natureza da gestão, os fatores a serem controlados e os índices de desempenho esperados para o espaço gerenciado; o quarto elemento diz respeito ao estabelecimento de mecanismos de aferição e avaliação, que determinam a necessidade de reajustes no caso de tendências não desejáveis. Este autor não define estritamente o que seja gestão, mas assegura que existem várias abordagens para se efetuar a gestão ambiental territorial, e que poucas contemplam todos os instrumentos e ferramentas necessárias à gestão total. Pois para realizar a gestão ambiental total é necessário atuar sobre todos os elementos envolvidos na transformação ambiental, realizando a gestão de cada um deles de maneira especifica, porém integrados, caso contrário seu exercício torna-se oneroso e sem resultados práticos2. Neste contexto, a relação Homem-território é um elemento que tem que ser avaliado com atenção considerando-se que a interrelação entre a sociedade e o ambiente tem gerado resultantes complexas e nem sempre de simples interpretação, o que faz com que qualquer tipo de intervenção no território3 deva ser 2 3 Em seu livro, Macedo (1994) apresenta um fluxograma bastante completo dos diferentes componentes da gestão ambiental de territórios. Território não é o espaço geográfico em sí, mas o pedaço do território utilizado, o território vivo, levando em conta a interdependência e a inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui a ação humana (Santos e Silveira, 2003). 38 precedida da compreensão dessas dinâmicas no sistema temporo-espacial sob estudo (Mangano, 2002). Para Rodriguez (2000) a gestão ambiental define-se como “a condução, direção, controle e administração do uso dos sistemas ambientais através de determinados instrumentos, regulamentos, normas, financiamento e disposições institucionais e jurídicas, considerado, portanto, como um processo de articulação de ações dos diferentes agentes sociais e atores econômicos que interatuam em um espaço físico e temporal”. Para o autor, a gestão de um sistema tem por objetivo assegurar seu bom funcionamento e seu melhor rendimento, mas também sua perenidade e seu desenvolvimento. Santos (2000) apresenta uma revisão bibliográfica sobre gestão ambiental que permite reconhecer a existência de diversas interpretações e conceitos sobre o tema dependendo das características da fonte de informação, se governo, iniciativa privada ou academia, alguns se diferenciando na própria concepção da palavra: se gestão, gerenciamento, gerência ou manejo ambiental. A seguir algumas dessas definições. Quadro 04. Algumas definições de gestão ambiental. Definição Condução, direção e controle pelo Governo do uso dos recursos naturais, através de determinados instrumentos, o que inclui medidas econômicas, regulamentos e normalização, investimentos públicos e financiamentos, requisitos interinstitucionais e judiciais. Tarefa de administrar o uso produtivo de um recurso renovável, sem reduzir a produtividade e qualidade ambiental, normalmente em conjunto com o desenvolvimento de uma atividade. Tentativa de avaliar valores limites das perturbações e alterações que, uma vez excedidos, resultem em recuperação bastante demorada do meio ambiente, e de manter os ecossistemas dentro de suas zonas de resiliência, de modo a maximizar a recuperação dos recursos do ecossistema natural para o homem, assegurando sua produtividade prolongada e de longo prazo. Aplicação de programas de utilização dos ecossistemas naturais ou artificiais, baseada em teorias ecológicas sólidas, de modo que mantenha da melhor forma possível as comunidades vegetais e/ou animais como fonte de conhecimento científico e de lazer. Deve garantir que os valores intrínsecos das áreas naturais não fiquem alterados para o desfrute das gerações futuras, considerando todos os componentes do sistema com a mesma importância. Conjunto de operações técnicas e atividades gerenciais, visando assegurar que o empreendimento opere dentro dos padrões legais ambientais exigidos, minimize seus impactos ambientais e atenda outros objetivos empresariais, como manter um bom relacionamento com a comunidade. Conservar os recursos naturais, evitar situações irreversíveis de degradação a meio e longo prazo, evitar a contaminação e melhorar a qualidade de vida da população. Fonte: Santos (2000) Autor Selden, 1973 Hurtubia, 1980 Interim Mekong Committee, 1982 Glossário de Ecologia, 1987 Sanchez, 1993 IBAMA, 1995 39 De posse desses conceitos a autora alerta que quando a gestão ambiental está voltada para as unidades de conservação, seus objetivos estarão ligados à conservação dos recursos naturais. Ou seja, as palavras "recurso" e "conservação" levam ao entendimento de que os elementos naturais e ecossistemas podem e devem ser usados pelo homem para o Homem. Postura diversa é a referência à "preservação dos elementos naturais", frase que pressupõe uma natureza nada ou quase nada afetada pelo homem, onde as atividades do mundo moderno não são passíveis de coexistência. O gestor ambiental, e por conseguinte o gestor de UCs, comumente trabalha na primeira perspectiva, preocupando-se em integrar a informação ecológica, social e econômica à tomada de decisões técnicas. Amparado nestas pautas pode-se construir uma definição para a gestão de unidades de conservação como sendo a equilibrada coordenação dos componentes técnicos e operacionais (recursos humanos, materiais, financeiros) e os diversos atores sociais que incidem sobre o desenvolvimento da área, de maneira tal a obter-se a eficácia requerida para se lograr os objetivos para os quais a unidade foi criada e a manutenção da produtividade dos ecossistemas abrangidos. Este conceito é bastante abrangente e fidedigno com as características das atividades desenvolvidas pelos diretores das UCs, pois suas atribuições vão além dos limites físicos das unidades que administram. Isto é o mais comum de se observar, num mundo onde as mudanças são rápidas, inexoráveis e as pressões sofridas pelas áreas protegidas se intensificam na medida em que a sociedade cobra pelo direito delas serem bem geridas e instaladas, pelo direito de participarem das decisões tomadas e de saberem os caminhos a seguir. Afinal, geralmente as terras do entorno das UCs são subdivididas pelos processos normais do mercado imobiliário, até o limite da completa urbanização, e o Estado se retrai das suas obrigações para com a proteção do patrimônio natural, que em última instância pertence à população do país. A interdependência entre a conservação dos recursos inseridos nas UCs e o entorno é um fato real que transporta os diretores e seus funcionários a um cenário onde as conexões pessoais e organizacionais ou são muito fortes ou extremamente tênues, obrigando-os a manter sempre um equilíbrio dinâmico de conhecimento e forças com o meio. 40 Ainda que o termo manejo seja mais usual em toda a América Latina, entende-se que o mesmo condiz principalmente com a manipulação dos recursos naturais renováveis que são levados a cabo em determinados setores sócio-econômicos ou tipos específicos de sistemas ambientais como manejo da vegetação, manejo de fauna, manejo de solos, manejo integrado de pragas, etc. (Rodriguez, 2000). Para se proteger uma dada UC são necessários poucos requisitos, como as atividades de vigilância e de manutenção geral; por outro lado, para se conservar a mesma área à posteridade novos componentes são imprescindíveis ao sistema gerencial: a pesquisa científica, responsável pela possibilidade de intervenções inteligentes junto aos recursos protegidos; a educação ambiental visando o “dar a conhecer” à comunidade como um todo e angariando apoio político para as ações de conservação; forte elemento de psicologia humana para dirimir assuntos atinentes às relações interpessoais dos funcionários; relações públicas com os vizinhos e lideranças locais; interação com organizações locais e regionais, entre outras infindáveis variantes. Os dirigentes de UCs, principalmente dos países mais pobres e/ou em desenvolvimento, não se limitam a campos de atuação específicos; ao contrario, face aos problemas e ameaças que circundam as UC precisam possuir um perfil eclético (ou generalista) para tratar questões muito mais amplas que as encerradas no ato de administrar os bens públicos. Diferentemente dos países desenvolvidos, onde há boa infraestrutura nas áreas protegidas ao ponto de possibilitar a existência de complexos organogramas de pessoal técnico (algo extremamente inimaginável nas unidades brasileiras), aqui as soluções para os problemas rotineiros devem ser encontradas local ou regionalmente pelos diretores das UCs a partir de uma visão eclética, multidisciplinar e holística. Dentro desta ótica fica claro que o que o técnico responsável por uma UC faz, ou deveria fazer, vai além da administração ou manejo: é gestão, mediante o envolvimento sistêmico e o jogo equilibrado dos componentes presentes no teatro de operações. Com esta reflexão conceitual não se pretende que a palavra ‘manejo’ seja substituída por ‘gestão’ no jargão dos que laboram com as unidades de conservação. Pois mais importante que o tradicionalismo no emprego deste ou 41 daquele termo é a internalização da abrangência e magnitude da atuação do chefe de unidade de conservação. 2.3.2 Pautas para uma gestão eficaz Ultimamente tem ocorrido nos bastidores da conservação mundial uma discussão interessante a respeito da representatividade ecológica e a efetividade das unidades de conservação, trazendo à tona um debate polêmico e antigo sobre o que é mais prioritário: criar novas áreas protegidas ou implantar e gerir com eficácia as já existentes? Esta discussão não é o objetivo deste trabalho, e muito embora a sociedade tenha conseguido transformar 10% da superfície terrestre em unidades de conservação, tem-se claro a necessidade urgente de se melhorar a qualidade da gestão dessas áreas. Nas últimas três décadas ocorreu um aumento considerável no número de áreas protegidas, em razão de um movimento ambiental forte e consciente da necessidade de proteger o patrimônio natural mundial. Mas não basta simplesmente criar uma rede de áreas protegidas para garantir a proteção dos recursos. Ao cria-las há necessidade de estabelecer um suporte adequado para sua gestão, questão esta vinculada a diversos aspectos técnicos, políticos e econômicos tais como planejamento, capacidade institucional, conhecimentos gerados e disponíveis, aspectos legais, programas de desenvolvimento regional e educação ambiental, entre outros. A existência ou ausência destes fatores, assim como a forma como eles se arranjam na organização e como são usados ou aproveitados, determinam a eficiência do manejo de cada área individual. A gestão efetiva das unidades de conservação é o instrumento mais poderoso para se lograr a conservação da biodiversidade. Afirmamos que isso proporciona o alcance dos objetivos da UC, mas quais são os componentes contribuintes para que ocorra a eficácia pretendida? Para responder a esta pergunta é necessário manter nossa mente enfocada sobre as experiências e nuanças possíveis de ocorrer no conjunto das unidades de conservação conhecidas, observando os melhores exemplos em consonância com o estagio atual de desenvolvimento do conhecimento concernente à temática, aspecto que nos permite simular cenários ideais para as mesmas. 42 É indiscutível a urgente necessidade de se conhecer e entender a legislação incidente nas áreas protegidas, fundamentalmente a Lei 9.985, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000) e que estabelece uma série de diretrizes técnicas para as várias categorias de gestão criadas. Por outro lado, conhecer as diversas convenções internacionais, como a Convenção sobre a Diversidade Biológica, Convenção do Patrimônio da Humanidade, Convenção Ramsar sobre Áreas Úmidas e Convenção sobre Tráfico de Animais é fundamental, pois as mesmas, assim como outros tratados internacionais, afetam a conservação da diversidade biológica e servem de diretrizes para que os governos indiquem os escassos recursos disponíveis para a conservação internacional e a formulação de importantes políticas públicas voltadas ao setor (IUCN, 2000). A Convenção sobre a Diversidade Biológica, por exemplo, é o diploma internacional que garante a existência das áreas protegidas, mesmo por que reconhece que sem tais componentes da paisagem não há como se efetivar a pretendida conservação biológica a longo prazo. Ela estabelece uma série de critérios que auxiliam na gestão das mesmas, indicam a necessidade de se criar sistemas completos com base em critérios científicos para a seleção, administração, gestão e, sobretudo, afirma que as áreas protegidas são fundamentais para a promoção do desenvolvimento sustentável nas regiões nas quais estão inseridas (Phillips, 1998). Por sua vez a Convenção Ramsar, concebida em 1971, dirige os esforços para a proteção e a manutenção das condições ecológicas e o uso racional das áreas úmidas de interesse internacional, especialmente as dedicadas aos hábitats de aves aquáticas. Os sítios sob o manto desta e outras convenções internacionais tem a vantagem de receberem assessoria técnica e assistência financeira dos países membros em matéria de gestão, proteção, capacitação, manejo de dados e de informações, o que confirma algumas vantagens práticas dos tratados internacionais (Zurcher, 1994). Assim é que uma efetiva gestão não pode prescindir da legislação, na medida que elas, num estado democrático, são fruto de amplo debate (a exemplo do que ocorreu com o próprio SNUC) e representam preceitos técnicos e políticas a seguir. Entretanto, há casos que a legislação não prevê, omite ou as soluções não se encontram nos textos legais, fazendo com que a gerência busque outros 43 caminhos que não os ditados pelos diplomas legais, por vezes em razão das particularidades e nuances encerradas em cada UC (Keiter, 1996). Vejamos dois exemplos reais do Estado de São Paulo. Para a regeneração e sucessão da vegetação de Cerrado do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus usa-se o gado como o principal componente do manejo do ecossistema, de modo semelhante ao defendido por Nogueira (1990), que introduziu este elemento para a restauração de matas ciliares no Estado de São Paulo, um trabalho reconhecido e referência na área. O gado diminui a competição de plantas reptantes no período chuvoso e a massa combustível na época da seca, aspectos que ao pé da letra são ilegais, e biologicamente questionável, mas que estão melhorando a paisagem e promovendo a formação de um novo bosque protetor da fauna do lugar. Mais um exemplo reside no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, onde há alguns anos a direção vem considerando as várias comunidades internas ao Parque, tornando possível a convivência entre as culturas caiçara tradicional e a conservação da natureza, atitude até recentemente tida como ilegal mas que está sendo efetiva para o alcance dos objetivos de manejo da unidade. A respeito de populações em unidades de conservação vale a pena considerar os textos de Diegues (1996), Rocha (1997), Fernandez (2000), Galetti (2001), entre outros autores, para abstrair e contrapor as diversas condições e situações que permeiam as áreas protegidas na atualidade. Se por um lado a legislação é uma premissa necessária, mais ainda é conduzir a conservação da natureza usando-se os artifícios e as ferramentas administrativas e científicas disponíveis, executando assim o que se propala nos meios técnicos como sendo o manejo adaptativo ou adaptável, uma forma de gerenciar os recursos considerando o conhecimento acumulado e as diversas situações conjunturais antepostas às unidades de conservação (Agee, 1996). Neste sentido, Deve-se encarar a gestão como um experimento de médio a longo prazo, sujeito tanto ao fracasso quanto ao sucesso, no qual o inventário, monitoramento e a pesquisa interagem para o referendo ou não de hipóteses testáveis, em última análise os próprios objetivos de conservação (Halvorson, 1996). Um fato muito positivo a esse respeito é que quando as atividades de manejo de ecossistemas são tratadas como experimentos os administradores 44 aprendem a pensar como cientistas, o que implica na conciliação entre os administradores e pesquisadores, setores até pouco tempo considerados antagônicos (Shannon e Antypas, 1997). A Figura 01 mostra o modelo conceitual do processo interativo do manejo adaptável, salientando-se a importância do constante monitoramento e sistemáticas avaliações para a retroalimentação das decisões. M o n ito ra m e n to m o s tr a a n e c e s s id a d e d e n o v a s c o n tr ib u iç õ e s o u a d iç ã o d e in fo rm a ç õ e s M o n it o ra m e n t o m o s tra a n e c e ss id a d e d e n o v a s c o n tri b u iç õ e s o u a d iç ã o d e i n f o rm a ç õ e s O m o n i to ra m e n to m o st ra a n e c e s si d a d e de m udan ças n a im p l e m e n ta ç ã o C o n tr ib u iç õ e s D e c is õ e s • C a ra c te rís tic a s d o s c o m p o n e n t e s b io f í si c o s e s o c i a i sp a ss a d o , p re se n te e p o s s ív e l fu tu r o . • D e s c r i ç ã o d a s in te r -r e la ç õ e s e in te rd e p e n d ê n c ia s • S ín t e s e d o c o n h e c im e n to c i e n t ífi c o c o r re n t e • D e s c r i ç ã o d e s u p o s iç õ e s • E st a b e le c e r p a d rõ e s e g u ia s • O r g a n iz a r d is tri b u iç ã o d e re c u r so s • E st a b e le c e r p r io ri d a d e s p a ra a ç õ e s • E st a b e le c e r d ire ç õ e s e o b je tiv o s • P e rm itir p a rc e ria s • D e s c r e v e r p a rtic ip a ç õ e s Im p le m e n ta ç ã o • A p li c a r d e c is õ e s • E st a b e le c e r p a rc e ri a s • A p li c a r p rá tic a s d e c a m p o • F a c ilit a r p a rtic ip a ç õ e s M o n ito ra m e n to • A p li c a r d e c is õ e s • E x p lo ra r in c e r te z a s • D e te rm in a r e fi c á c ia o u i m p le m e n t a ç ã o • P ro v e r f e e d b a c k c ie n tí fic o , p e s q u is a d o r e s, p ú b l ic o , a d m in is tra d o r e s Figura 01. O processo interativo do manejo adaptável (Fonte: U.S. Forest Service, apud Agee, 1996). Apesar do monitoramento ser uma ferramenta muito importante, infelizmente é pouco usada na gestão das unidades de conservação brasileiras. Quando muito nos programas de uso público realiza-se estudos de capacidade de carga turística, ou espécies da flora ou fauna são pesquisadas e por tabela provêm a unidade de algum monitoramento; mas a regra geral é a sua não utilização. Por outro lado, os administradores sempre se defrontam com a falta de conhecimentos sobre os recursos das UCs, muitas vezes carecendo de bons mapas que sirvam de orientação mínima para as atividades de rotina, além da escassez de informações seguras sobre os ecossistemas que os permitam lidar com propriedade as temáticas referentes ao manejo da paisagem. Assim, a pesquisa e o monitoramento são componentes básicos para uma gestão eficaz, sendo então imprescindível que as UCs possuam políticas claras, versáteis, dinâmicas e 45 suficientemente amplas que possibilitem a realização de pesquisas científicas com os mais variados temas consoantes aos objetivos de manejo (Martin, 1987; Thorsell, 1990; Pulido e Oltremari, 1995). Dois relevantes temas devem ser considerados no desenvolvimento de pesquisas em áreas protegidas. A complexidade e a fragilidade dos ecossistemas tropicais associados à forte pressão social para o uso recreativo, educacional e turístico das áreas protegidas interpõe a necessidade de se estabelecer limites de uso visando a minimização dos possíveis impactos resultantes. O uso indevido destes espaços pode ocasionar a degradação do objeto que se deseja proteger, em razão da fragilidade do recurso, da falta de meios adequados para o manejo, da inexistência de planejamento para os sítios, entre outros motivos. Os impactos originados podem ser muito negativos como é o caso da compactação excessiva, erosão e migração da fauna, ou pôr em risco a qualidade do uso refletindo sobre a satisfação do usuário. Muitas vezes os objetivos de manejo das unidades são desrespeitados em favor de aproveitamentos inadequados, sendo possível observar categorias de manejo totalmente descaracterizadas dos objetivos da sua criação. Assim, os estudos que visam descortinar a capacidade de suporte dos sítios sob visitação são uma premissa importante no manejo dos ecossistemas, provendo as explicações que o manejador porventura tenha que fazer sobre as medidas tomadas, às vezes ‘antipáticas’ ao público (Stankey, 1985; Clark, 1991; Cifuentes, 1992a; FAO/PNUMA, 1992; Graefe et al., sd). Por outro lado, com os índices de degradação impostos aos recursos naturais, um dos temas em destaque é a necessidade de ações para a recuperação das áreas degradadas, seja no interior ou no entorno das áreas protegidas haja vista que estas estão tão sujeitas a tais fenômenos quanto as áreas sem proteção oficial. A convenção internacional sobre a Diversidade Biológica, nos artigos 8o e 9o, chama atenção para a necessidade de restauração e recuperação de ecossistemas, porém com a premissa de que as ações devam ser pragmáticas, avaliando-se os esforços e os custos dos resultados que se espera alcançar (Ramirez, 1995). O desenvolvimento de programas e pesquisas voltados para este objetivo é premente em regiões colonizadas e desenvolvidas, em razão das extensas áreas abandonadas ou pouco produtivas, sendo que as unidades de 46 conservação necessariamente se prestam ao fomento de tais atividades. Um exemplo mundialmente conhecido são os trabalhos desenvolvidos no Parque Nacional Santa Rosa, na Costa Rica, que após 15 anos teve grandes porções de pastagens transformadas em florestas (Janzen, 2001). Um dos componentes inseridos no processo de gestão mais propalados e defendidos nos meios acadêmicos e técnicos são os planos de manejo, cuja necessidade para uma gestão eficaz é indiscutível haja vista que estes documentos encerram e manifestam o “que fazer” para se alcançar os objetivos para os quais as unidades foram criadas. Atualmente os métodos de elaboração são bastante diversificados havendo varias maneiras de se chegar a resultados semelhantes, muito embora seja quase que consensual a imperiosa razão para que haja a participação de atores externos nos processos de planejamento e manejo (Borrini-Feyerabend, 1997), devendo-se cuidar para que esta participação não ocorra simplesmente para referendar proposições técnicas exógenas ao sistema produtivo e social local (Milano, 1999), aspecto que pode converter a condição de apoio da comunidade em adversidades e ameaças. A participação da comunidade, lideranças locais e outros atores no planejamento e gestão das UCs são avanços práticos ocorridos no Brasil nos últimos anos, um fato inegável e que a médio longo prazo verterá benefícios para ambas as partes, o social e o ambiental. Vias de regra a execução dos planos de manejo e a implantação das UCs requerem insumos para as ações propostas, dentre eles funcionários, veículos, equipamentos de comunicação, escritório administrativo, alojamento, etc., em resumo uma mínima infraestrutura para viabilizar as operações de rotina e aquelas direcionadas a objetivos específicos (Moore, 1985). Quase sempre estes componentes administrativos são os vilões para se atingir um manejo efetivo pois ou eles estão ausentes, ou em uma situação muito precária ou, pior ainda, pode estar faltando incentivo, motivação e planejamento de curto prazo. Porém, geralmente os problemas em relação aos meios administrativos ocorrem devido às baixas dotações orçamentárias destinadas às áreas protegidas e à falta de políticas modernas dirigidas ao setor. James, Green e Paine (1999) realizaram um estudo mundial para saber o estado das UCs em relação a recursos financeiros e humanos, baseando-se 47 em dados de 1993 a 1995. Em termos globais a América do Sul apresenta-se em terceiro lugar dentre as regiões que menos aplicam recursos nas unidades de conservação, cerca de US$100,00/km2 ou US$1,00/ha, enquanto que os sistemas protegidos do Pacifico, Europa e América do Norte detêm valores consideráveis, respectivamente US$2.838,00, US$2.033,00 e US$1.923,00 por km2. Em 1995 o Brasil possuía 17.909.800ha de áreas protegidas federais e aplicou US$2,24/ha, entretanto o mínimo razoável para efetivar as atividades básicas de proteção informado pelo IBAMA foi de US$4,00/ha, quase 80% a mais do que o recebido, o que demonstra um equivoco nas prioridades governamentais para o setor. Para se ter uma idéia do que isto representa tomemos por base um estudo empreendido pela Fundação Pró Natureza (1992) visando calcular os custos de implantação de UCs na Amazônia Legal Brasileira, que na época somavam 40,6 milhões de hectares, incluindo áreas propostas. O trabalho concluiu que seriam necessários US$ 523,928,000.00 (Quinhentos e vinte e três milhões, novecentos e vinte e oito mil dólares) para a implantação e cerca de US$ 27,000,000.00 (Vinte e sete milhões de dólares) para a manutenção operativa anual do conjunto considerado, respectivamente US$ 12,90/ha e US$ 0,67/ha/ano. Apesar de ser uma obrigação constitucional da nação e dos estados, os cofres públicos parecem desconhecer a importância das áreas protegidas no contexto do desenvolvimento de uma nação, ainda que o Brasil tenha ratificado a Convenção da Biodiversidade e outros tratados do gênero. Surge a alternativa da busca de recursos junto aos órgãos financiadores de projetos, governamentais ou não, o que de certa forma só depende de iniciativa e dedicação das administrações. Outra medida potencialmente eficaz é a elaboração de um Plano de Financiamento, que difere do Plano Orçamentário pois este é somente um listado das necessidades financeiras para as atividades desenvolvidas enquanto aquele usa esses dados para a identificação dos possíveis ‘clientes’ e doadores locais, regionais e internacionais e como eles poderão interagir com a gestão da unidade a curto, médio e longo prazos (IUCN, 2000b). Muitas vezes ouvimos, de maneira quase generalizada, que o número ideal de funcionários por unidade de área seja tal ou qual. Mas esse tipo de pensamento é um grande equivoco pois não há um número mágico que sirva de padrão internacional; mesmo por que cada AP é um caso diferente. O Parque Estadual da Cantareira, com 8.000ha e incrustado na periferia da cidade de São Paulo, para 48 fazer frente a toda problemática inerente a uma UC ‘urbana’ pode requerer tantos funcionários quanto o Parque Nacional do Jaú, com seus 2 milhões de hectares. Podemos continuar com este exercício indefinidamente, mas a verdade é que as particularidades de cada unidade influirão no desenho do que seja a melhor infraestrutura para ela. Além de mínima infraestrutura física, humana e financeira para garantir uma mínima proteção, as unidades precisam que suas terras estejam com sua situação fundiária regularizada, assegurando assim o domínio institucional sobre os recursos que se deseja proteger e proporcionando autoridade aos funcionários, legitimando as ações para a conservação, que somados a limites bem demarcados melhoram o status de proteção. Entretanto, é imprescindível a implementação de ações programáticas que considerem as comunidades do entorno ao se desejar equilibrar as implicações destes atores sobre a unidade, e vice versa, ao mesmo tempo que não existirá futuro para a preservação do patrimônio natural sem a existência de ações enérgicas relacionadas à educação ambiental. Na atualidade quando impera os fenômenos da fragmentação da paisagem, transformando as UCs em verdadeiras ‘ilhas de diversidade’ não se pode prescindir dos conhecimentos revelados pela ecologia teórica relacionados ao desenho das áreas protegidas. A “Teoria do Equilíbrio Dinâmico da Biogeografia de Ilhas” ou simplesmente de biogeografia de ilhas, foi proposta por MacArthur e Wilson (1967) e defende que a distância das fontes de propágulos e a superfície das ilhas estão diretamente relacionados à riqueza de espécies do local. A partir daí vários outros cientistas iniciaram meticulosas pesquisas averiguando a questão da forma, insularidade e tamanho das áreas protegidas e suas conseqüências na conservação de espécies (Wilcove et al. 1986; Suarez, 1988; Schiavetti, 1996; entre outros). O rápido ensaio produzido por Costa (2001a) enfoca o que acontece com as ‘ilhas de vegetação’ inseridas numa paisagem fragmentada, esboçando algumas das conseqüências que não podemos perceber na nossa escala temporal, cujo fenômeno designou de ‘mortos vivos’ na paisagem tropical. Conhecer um pouco sobre esses ramos da biologia permite o desenho de estratégias de conservação mais duradouras na medida que são considerados as interrelações existentes entre os vários componentes da paisagem. Sobretudo tais conhecimentos oferecem bases para uma visão moderna do manejo biológico dos ecossistemas, ratificando a necessidade de se trabalhar fora dos limites protegidos das 49 unidades visando a implantação de corredores biológicos e contínuos ecológicos (Maza, 1994), dentro de uma perspectiva que vise a elevação da qualidade ambiental e social do entorno. Deste modo, deve-se reconhecer que a zona de amortecimento (Cifuentes, 1992b), tampão, de entorno, de influência, de transição, ou qual nome desejem para a mesma, não é meramente um traçado no entorno da unidade, mas um poderoso componente de planejamento e manejo que visa minimizar os impactos mútuos entre a UC e a vizinhança imediata; que as parcerias em todos os níveis não se justificam apenas em razão da retração do Estado das suas obrigações básicas, mas é a conduta ideal para a gestão eficiente da coisa pública, facilitadora da gestão bioregional, que proporciona a descentralização das decisões através do planejamento e gestão participativas. No que tange ao manejo bioregional Miller (1996) nos prove de inúmeros exemplos internacionais, no entanto na América Latina coube ao Serviço de Parques da Costa Rica implementar em primeira mão um modelo com tais características (Garcia, 1992; SPN, 1992). Entre todos os requerimentos, a constante capacitação dos funcionários e dos dirigentes é um componente que possibilita vencer os desafios impostos por uma realidade política na qual a conservação da biodiversidade e do patrimônio natural da humanidade não são prioridade, bem como a série de conflitos e ameaças a que estão sujeitas as áreas protegidas. Os processos de capacitação em todos os níveis de decisão e de trabalho, incluindo os guardas-parque, precisam ser implantados como uma ação programática institucional de alta prioridade, mediante uma temática diversificada e sob um enfoque moderno e real, que abarque as diferentes vertentes de conhecimento existentes (Arregui e Enei, 1995). Contudo, é importante considerar ainda que mesmo com todo o conhecimento e todo o insumo necessário para se executar um manejo de qualidade elevado ele pode não acontecer. Isto pode estar relacionado ao modo como a organização trata os seus funcionários; se eles, coletiva e individualmente, sentemse parte importante e úteis da estrutura administrativa; se são parte do grupo social organizacional e se compõem os canais de comunicação e decisão ascendentes e descendentes; se são considerados e solicitados a emprestar suas capacidades individuais para problemas específicos da organização; se participam da formulação de políticas e diretrizes institucionais; etc; enfim, características comportamentais 50 das organizações que torna o trabalho das pessoas mais agradável e são pílulas de motivação constante (Bergamine, 1997). Tais características perfazem também o perfil intrínseco das organizações reflexivas, aquelas que procuram se desenvolver através da idéia de “aprender fazendo”, o que requer uma permanente atenção sobre os resultados das ações e uma grande disposição para aprender dos erros e acertos pois a experiência recente com os problemas ambientais demonstra que a sociedade não compreende o que se esta fazendo ao ambiente e, por isso, necessitamos de uma nova forma de administração, que reconheça nossa própria ignorância e limitada competência. Em uma instituição reflexiva o monitoramento e a avaliação de atividades e projetos não é uma tarefa que começa e termina mas sim uma forma de pensar que permeia a estrutura e as práticas da instituição, componente essencial para a modernização das organizações (Dudley e Imbach, sd). Talvez uma das grandes dicotomias das organizações neste final de século seja a disparidade entre o conteúdo das mudanças que ocorrem no ambiente externo e a velocidade de respostas que surgem no seu ambiente interno. Parece que muitas vezes os dirigentes pensam que as modificações e reversões representam fenômenos que só existem fora das organizações, não tendo uma ligação mais forte com a estrutura do pensar e do agir. A rapidez do processo decisório e a capacidade do fazer acontecer consistem em dois dos principais atributos da rota do sucesso de qualquer empreendimento nestes próximos anos, o qual, evidentemente, se acopla à capacidade de antecipar tendências futuras da próxima mudança (Junqueira e Vianna, 1996). A força do impacto deste novo cenário vai exigir, como contrapartida, um novo líder, substancialmente diferente daquele dos padrões do passado, e que se transformará antes, e acima de tudo, em um grande agente promotor e fomentador das adequações internas. Este novo líder precisa ter as seguintes características e atributos: entusiasta, comprometido, humano, motivador, vontade de aprender, prazer de ensinar, visão estratégica, empreendedor, assertivo e ético (Junqueira e Vianna, 1996). Uma organização reflexiva, composta por pessoal capacitado e dirigentes pró-ativos, constitui um importante fator para fazer com que a gestão seja entendida e praticada como um experimento a longo prazo, libertando-a da rotina e 51 permitindo que as novas informações trabalhem em direção ao alcance da missão organizacional. No caso de organizações dedicadas às questões ambientais podese dizer que as mesmas devem possuir, além de amplo conhecimento técnico, também requisitos gerenciais explícitos para uma gestão moderna e eficaz das unidades de conservação (Quadro 05). Quadro 05. Requisitos gerenciais para uma gestão moderna e eficaz das Unidades de Conservação • Implementar a capacitação de pessoal em todos os níveis e formação de lideranças; • Visão sistêmica da organização e visão prospectiva do sistema gerencial e das políticas de governo; • Internalização e compreensão coletiva do passado, presente e futuro da organização visando sua melhor inserção no ambiente externo; • Acompanhamento sistemático do desempenho do pessoal, da gestão e da eficácia gerencial nos vários níveis de decisão institucional; • Adoção de estratégias que resultem na utilização das informações geradas e das novidades do setor para a retroalimentação da gestão; • Adoção de esquemas administrativos onde impere a agilidade dos tramites burocráticos: Informatização e ‘internetização’ dos processos; • Adoção de uma estrutura institucional com fortes conexões horizontais que vise a promoção de comunicação entre disciplinas, departamentos e as organizações; • Implementação de sistemas que visem a captação e geração de recursos, privilegiando a consolidação de parcerias em todos os níveis de atividade institucional; • Implantar esquemas que resultem em autonomia gerencial e descentralização das decisões (capacidade com confiabilidade); • Adotar o planejamento setorial como ferramenta básica para a eliminação de erros; • Estabelecer rotinas que valorizem a administração baseada em Programas de Trabalho; • Estabelecer como diretriz básica o planejamento e a gestão participativos. Adaptado de Lucena (1992); Grumbine, apud Agee (1996); Junqueira e Vianna, (1996); Bergamine (1997); Dudley e Imbach, (sd). Enfim, são muitas as variáveis e fatores que fazem uma gestão eficaz, e todos estão sempre tão entrelaçados que é impossível dizer qual ou quais são os mais importantes ou prioritários. Para fazer frente às várias áreas do conhecimento que interagem na gestão das UCs, resta aos diretores de unidades de conservação inteirarem-se da sua realidade e manterem-se sempre atualizados, buscando as melhores técnicas e soluções para uma gestão verdadeiramente eficaz. Ao Estado e aos governos, urge o necessário apoio aos chefes de UCs para que eles desenvolvam com eficiência suas missões. 2.3.3 Problemas e ameaças à gestão eficaz das áreas protegidas Os benefícios e os serviços ecológicos produzidos pelas áreas naturais protegidas deveriam ser motivos suficientes para que os organismos tutelares viabilizassem o verdadeiro manejo destas áreas para, em última instância, 52 cumprir com os objetivos nacionais de conservação explicitados na Política Nacional de Meio Ambiente e no Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Mas a realidade é severa para a grande maioria das áreas silvestres sob proteção especial pois se por um lado houve um significativo aumento na quantidade e na superfície das áreas protegidas em nível mundial o mesmo não aconteceu com a qualidade do manejo no campo. Ao contrário, elas enfrentam uma série de dificuldades estudadas e relatadas por vários autores. Ameaças às unidades de conservação é algo tão antigo quanto o próprio conceito de Parques. Segundo os relatos apresentados por Diegues (1996), o primeiro parque do mundo, o de Yelowstone, já as possuía na medida que grupos humanos faziam pressão sobre os recursos à época de sua criação, em 1872. O conceito de ameaças parece uma controvérsia ao relacionar o termo às unidades de conservação, pois vários autores a definem de modo muito similar, porém com conotações diferentes. Para Machelis e Neumann (1986) ameaça significou as condições de origem humanas ou naturais que causa um dano significativo aos recursos protegidos, ou então aquelas que contrariam os objetivos, o manejo e a administração das unidades de conservação. Segundo Bibelriether et al. (1992), o sistema de áreas protegidas da Europa apresentaram os seguintes problemas e ameaças: falta de planos de manejo para a maioria das aps; falta de planos de sistemas de ap regionais; atividades agrícolas no entorno com incentivos da comunidade européia; poluição ambiental; construção de represas; exploração legal e ilegal das florestas; caça, já que em alguns países se permite a caça, como nos da Noruega; criação de animais (renas) que desequilibram os ecossistemas locais da escandinávia; invasões e introduções de espécies, como o Rhododendron ponticum na Irlanda que agride a vegetação nativa; atividades militares e guerras; mineração, pastoreio excessivo; pressões do turismo; extração e contaminação da água. Para as UCs da América do Sul dois autores reportam as maiores ameaças às áreas protegidas. Torres (1990) apresenta a seguinte realidade para as 249 áreas com as quais trabalhou: somente 30% das unidades possuíam planos de manejo, dentre essas só 5% estavam implementando-os; somente 28% possuíam planos operativos anuais e 16% algum tipo de zoneamento territorial; apenas 5% possuíam um programa de pesquisa estruturado; 4% contavam com serviços educativos e 5% com atividades de interpretação. 86% das áreas pesquisadas 53 continham algum tipo de uso ilegal como pesca, caça, extração da vegetação, pastoreio, agricultura, mineração, invasão de terras, conflitos com habitantes originais e poluição por diversos agentes (mercúrio, lixo, etc.); menos de 1% contava com funcionários suficientes para alcançar seus objetivos; cerca de 70% não recebia apoio governamental (financeiro e técnico) e 66% das áreas não contavam com equipamentos destinados ao manejo. Amend e Amend (1992) trabalharam em 148 parques nacionais da América do Sul mediante questionários aos administradores e detectaram os seguintes principais problemas: Extração de recursos (33,1%); falta de pessoal qualificado (27%); conflitos fundiários (21,6%); exploração agropecuária (20,3%); planejamento deficiente (16,9%); ocupação ilegal (16,9%); limites inadequados indefinidos (16,2%); falta de controle e vigilância (16,2%); Incêndios (12,8%); ocupação legal (12,2%); falta de financiamento (11,5%); falta de infraestrutura (11,5%); colonização nas vizinhanças do parque (10,8%); mineração e exploração petrolífera (10,1%); pressão turística (8,8%); poluição (6,1%); falta de apoio políticoinstitucional (6,1%); projetos setoriais conflitantes (5,4%); atividades de narcotráficos (4,7%) e introdução e/ou invasão de espécies exóticas. Na Austrália os principais problemas para o efetivo manejo e a conservação das áreas protegidas são a existência de populações localizadas dentro das UCs, principalmente de grupos aborígenes, normatização da participação do setor privado na gestão e conservação de zonas ecologicamente importantes, “looby” das empresas mineradoras que se articulam para imporem a necessidade de prospecção mineral em todas as APs do país, e a necessidade de extrapolar as ações de gestão para fora dos limites das unidades de conservação (Bridgewater e Shaughnessy, 1992). Na América do Norte os principais problemas foram identificados pelo Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos, que podem ser extrapolados tanto para o Canadá como para o México e são os seguintes: urbanização e industrialização no entorno das UCs; impactos do excesso de visitação; desenvolvimento de projetos de desenvolvimento conflituosos aos objetivos de conservação nas cercanias das unidades; extração e/ou exploração de recursos protegidos; superpopulação de algumas espécies da fauna; degradação da qualidade das águas; falta de dados básicos para o manejo de recursos; crescimento da ameaça de incêndios florestais; alteração do regime hídrico regional; 54 necessidade de treinamento de pessoal, principalmente no que tange ao uso público (Waugh e Gil, 1992). Na América Central um dos graves problemas é a inexistência de demarcação e delimitação da grande maioria das áreas protegidas e, por conseguinte, não possessão ou registro legal das terras, sendo que em muitas delas não há nenhuma presença institucional. Deste modo, cerca de 30% das AP da região eram consideradas ‘parques de papel’ e mais de 60% delas não estavam com a situação fundiária solucionada. A questão da recategorização das áreas protegidas também foi foco de problemas haja vista que muitas unidades apresentavam categorias de manejo que não correspondiam aos usos realizados, mascarando assim os informes internacionais quando tomando por base as classificações da UICN (Ugalde e Godoy, 1992). Neste continente poucas áreas contavam com planos de manejo e menos ainda haviam consolidado estratégias para implementa-los. Na região os planos operativos resultaram mais eficientes em razão de serem mais realistas e flexíveis. À luz do debilitamento das instituições governamentais houve um avanço generalizado das organizações não governamentais de impor suas políticas como sendo políticas nacionais, causando sérios transtornos organizacionais no âmbito da conservação de recursos. A falta de recursos financeiros é extrema, que ainda é complementado por agências de financiamento externo dentro do conceito de troca da dívida externa por conservação; o ecoturismo é uma saída se solucionados os impactos pela excessiva visitação; a falta de pessoal foi ressaltada, cuja amplitude pode variar de 800 a 15.000ha por funcionário. A pobreza no entorno das APs e os conflitos armados são componentes provocadores de extremos desequilíbrios no manejo e permanência a longo prazo das UCs da América Central (Ugalde e Godoy, 1992). Para o Brasil, alguns trabalhos podem ser referenciados. Angelo (1996) aproveitando os dados levantados pelo projeto “Inventário de Áreas Úmidas do Brasil”, executado em 1990, empregou a análise de componentes principais, uma rotina das analises multivariadas, sobre 16 variáveis selecionadas do trabalho original obtendo como resultado a determinação de sete problemas principais das áreas protegidas federais: exploração predatória dos recursos naturais, carência de infra-estrutura, desmatamento, atividades agropecuárias, população dentro e fora das UCs, poluição e tráfego rodoviário. 55 O trabalho realizado pelo WWF com as áreas protegidas federais de uso indireto brasileiras destacou dados importantes (WWF, 1999). Das 86 UCs pesquisadas 47 nunca foram implementadas, outras 32 foram consideradas minimamente implementadas e somente 7 obtiveram pontuação que as classificou com grau razoável de implantação. Daquele total 37 unidades foram classificadas como vulneráveis e/ou muito vulneráveis às atividades antrópicas enquanto que 49 estão condicionadas a pouca vulnerabilidade. A partir da análise conjunta dos dados de implementação e vulnerabilidade foi possível a elaboração de uma ‘matriz de risco”, que agrupou as 86 unidades em quatro blocos, segundo o grau de ameaça enfrentado. De acordo com essa matriz, a situação dos parques e reservas brasileiros é a seguinte: 20 UCs (23%) estão submetidos a um Risco extremo; 17 UCs (19%) estão sob Risco Alto; 27 UCs (31%) estão sob Risco Médio e 22 UCs (25%) estão sob Risco Normal. Os maiores problemas identificados foram a falta total de implantação; falta de demarcação das áreas; falta de pessoal e má distribuição do quadro existente; atividades do entorno conflitantes com os objetivos das UCs; falta de plano de manejo e de adequados recursos financeiros. ¾ dos parques e reservas nacionais estão ameaçados e com elevada vulnerabilidade pela falta de implementação. As 86 unidades avaliadas correspondem a 1,85% das áreas protegidas do território nacional, porém com o desconto das unidades em situação precária, o total protegido cai para 0,4%, muito abaixo da média mundial que corresponde a 6% de área protegida por país, levando à conclusão de que as reservas brasileiras não cumprem seu papel básico de proteger e conservar a diversidade biológica, servir de local para pesquisas científicas e desenvolver o ecoturismo. Por ocasião das comemorações dos sessenta anos de criação do primeiro Parque Nacional do Brasil a revista Horizonte Geográfico (Horizonte Geográfico, 1998) lançou uma edição dedicada exclusivamente aos Parques Nacionais brasileiros, trazendo uma série de matérias e comentários assinados por técnicos e científicos reconhecidos nacional e internacionalmente. Em termos de imagens a revista esta excelente e muito embora os textos também estejam as informações neles contidas acendem as preocupações conservacionistas. A falta de controle do ecoturismo, invasão de espécies exóticas, indefinição da estrutura organizacional, falta e desvalorização dos funcionários, indefinição fundiária e dos 56 limites das unidades, invasões por comunidades ‘tradicionais’ e projetos de desenvolvimento conflitantes com os objetivos de conservação são alguns dos problemas e ameaças sofridas pelas UCs brasileiras. Morsello (2001) cita dois trabalhos realizados no Brasil e que se revestem de importância na identificação de ameaças às UCs, ambos publicados em 1997. O primeiro refere-se a banco de dados proveniente do Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais (PP/G7), que identificou as seguintes ameaças em ordem de incidência e importância: caça e pesca; incêndios; garimpagem; mineração; conflito com áreas indígenas; conflito com populações residentes; exploração de madeira; pressão de pólo de desenvolvimento; alteração de regime hídrico e estradas. O segundo relatório foi elaborado pelo IBAMA e somente acrescenta novas modalidades ou fatores incidentes nas UCs. A autora informa que a maioria dos trabalhos, senão todos, são oriundos de dados levantados através de questionários à distância, baseados unicamente na percepção que os técnicos e diretores das UCs tem sobre os domínios de sua atividade. Quando o ideal seria um trabalho amiúde em cada UC, o que permitiria a busca de soluções para o controle das ameaças identificadas. Finalmente, Milano (2002) após discutir algumas questões polemicas que rodeiam a gestão de UCs no Brasil, conclui que uma das grandes ameaças às nossas UCs está associada às pessoas envolvidas com as unidades de conservação, tomadores de decisões políticas e técnicos encarregados por elas, ainda que necessariamente a responsabilidade não seja deles. Este autor declara que muitos dos mitos incidentes na gestão das UCs está em função da falta de capacitação e de oportunidade de crescimento profissional para essas pessoas. É certo que o juízo de valor das pessoas sobre algum objeto esta eivado de influências que tem suas origens nas mais remotas situações de sua história; ou seja, o que é uma ameaça para um pode não ser para outro. E é pena que informações desta natureza só venham à baila no bojo de iniciativas esporádicas e com características de projetos de pesquisa, pois se o monitoramento sistemático fizesse parte das rotinas de gestão, os métodos e técnicas de coleta de dados seriam mais legítimos e estes menos contestes. Apesar das iniciativas em defesa das áreas protegidas, elas estão constantemente submetidas a ameaças crescentes ano a ano, sendo que os principais perigos em nível mundial são conformados por um pequeno grupo de 57 fatores de elevada incidência e cujos efeitos podem ser extremamente violentos e irreversíveis. O aumento populacional conciliado à pobreza ocasiona a elevação da demanda sobre terras e recursos para satisfazer as necessidades primárias da sociedade. Poluição, contaminação, mudanças climáticas e turismo excessivo são outros problemas criados pela modernidade que, somados à freqüente falta de apoio político, completa o quadro negativo que permeia as áreas protegidas do mundo (Phillips, 1998). Os problemas e ameaças das unidades de conservação do Estado de São Paulo são apresentados na seção a elas destinadas. 2.4 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE GESTÃO DAS UCS Para discorrer sobre as iniciativas existentes até o momento cabe uma reflexão do real significado dos termos que são utilizados, quais sejam efetividade, efetivo e eficácia de gestão. Faria (1993) ao delinear um método para medir a qualidade do manejo executado nas UCs afirmou que estaria avaliando a efetividade de manejo das áreas protegidas. Refletindo sobre o significado do termo, efetividade é a qualidade do que é efetivo e sua definição está relacionada à existência de um objeto ou fenômeno; ou seja, para que algo receba o adjetivo de efetivo ele tem que ser real e verdadeiro (Ferreira, 1999). Ocorre que em seus raciocínios Faria (1993) considerou a premissa de que a gestão das áreas silvestres protegidas era uma atividade baseada em conhecimentos científicos e, sendo assim, a tendência natural seria se alcançar a eficácia desde que existisse a gestão. O autor não levou em conta que no caso da gestão de UCs os resultados eram dependentes também do fator humano e não simplesmente dos conhecimentos sobre os recursos, já que em última instância sua utilização depende de pessoas. Segundo Ferreira (1999) eficaz está relacionado ao que produz o efeito desejado e que dá bons resultados agindo com eficiência. Eficiência, por sua vez, é definida como a razão entre o produto e o insumo, o que no caso significa dizer que mesmo que ambos, produto e insumo fossem baixos, a eficiência ainda poderia ser 100%, não impedindo porém que a eficácia seja 0%, o que é muito difícil 58 de ser medida se não houver um rígido controle e monitoramento por parte das organizações. Redin (1981) oferece uma interessante definição para a identificação da gestão empresarial eficiente e a eficaz: o autor considera que ser eficiente é sinônimo de fazer as coisas bem, resolver problemas, salvaguardar os recursos, cumprir com o dever e reduzir os custos, enquanto que ser eficaz diz respeito a fazer as coisas certas, produzir alternativas criativas, maximizar a utilização de recursos, obter resultados e aumentar o lucro e/ou a produtividade. Assim, não basta simplesmente que exista uma ‘gestão’ para se produzir resultados positivos, mesmo porque podem haver vários níveis de qualidade para o ato de gerir algum objeto. O que se persegue é a eficácia de gestão das UCs, que pode então ser definida como sendo “o conjunto de ações que permitem cumprir satisfatoriamente a função para a qual foi criada a área protegida” (Cifuentes, Izurieta e Faria, 2000). Algumas dentre as tantas metas traçadas pelo III Congresso Mundial de AP (IUCN, 1984), foram direcionadas explicitamente para a urgente necessidade de melhorar a qualidade do manejo empreendido nas UCs então existentes, revelando uma preocupação em face da dificuldade de seguir criando novas e grandes áreas protegidas. Uma das alternativas distiguidas foi exatamente a realização de avaliações sistemáticas visando saber o estado do manejo empreendido nas unidades de conservação e o fomento ao desenvolvimento de ferramentas que possibilitassem tal objetivo foi alcançado parcialmente na medida que a UICN editou o livro Managing Protected Areas in the Tropics (MacKinnon et al., 1986), que trouxe um capitulo dedicado a este assunto. O IV Congresso Mundial de Áreas Protegidas emitiu o ‘Plano de Ação de Caracas’ enfatizando a perseguição das seguintes indagações: Como as áreas protegidas podem contribuir com as estratégias globais para o desenvolvimento sustentável? De que maneira as áreas protegidas disporiam de uma apoio mais amplo da sociedade? Como o manejo das áreas protegidas pode ser mais eficaz nas condições econômicas atuais e previstas? Como pode mobilizarse um apoio internacional mais eficaz? (UICN, 1993). As medidas gerais destacadas foram: 59 Objetivo 1: Integrar as áreas protegidas em estratégias mais amplas de planejamento Ação 1.1. Desenvolver e executar planos nacionais de sistemas de áreas protegidas Ação 1.2. Integrar os planos nacionais de sistemas às diretrizes do desenvolvimento econômico Ação 1.3. Planejar as circundante áreas protegidas considerando a paisagem Ação 1.4. Desenvolver técnicas para avaliar e quantificar os benefícios das áreas protegidas Objetivo 2: Ampliar o apoio às áreas protegidas Ação 2.1. Identificar os interesses de diferentes grupos, com respeito às áreas protegidas chave Ação 2.2. Reconhecer as preocupações prioritárias das comunidades locais Ação 2.3. Estimular o apoio generalizado com nas informações levantadas Objetivo 3: Fortalecer a capacidade de manejar as áreas protegidas Ação 3.1. Estender as oportunidades de capacitação em todos os níveis Ação 3.2. Melhorar o manejo das áreas protegidas Ação 3.3. Desenvolver meios para aumentar o financiamento e gerar investimentos reais Ação 3.4. Melhorar a aplicação das ciências dirigidas ao manejo Ação 3.5. Enfocar com maior atenção o manejo das APs marinhas Objetivo 4: Ampliar a cooperação internacional nos campos de financiamento, desenvolvimento e manejo de AP Ação 4.1. Clarificar o papel e a função das instituições em todos os níveis Ação 4.2. Desenvolver planos de ação, regionais e internacionais, que respaldem a execução das prioridades estabelecidas nos planos de sistemas nacionais das áreas protegidas Ação 4.3. Reavivar as diretrizes já existentes para a cooperação internacional. Para desenvolver o terceiro objetivo a ação 3.2. detalha que deve-se “estabelecer um conjunto de exigências profissionais para o pessoal das áreas protegidas e melhorar a capacidade dos administradores para supervisionarem seu próprio desempenho mediante indicadores da eficácia do manejo”, fato que demonstra a preocupação internacional para o estabelecimento de rotinas visando o monitoramento do estado das áreas protegidas do planeta (Quadro 06). Vale dizer 60 que, em relação a esta temática, as organizações mais ativas internacionalmente são a Comissão Mundial de Áreas Protegidas (WCPA) da UICN e o Centro Mundial de Monitoramento da Conservação (WCMC), que juntos compilam e mantêm uma base de dados sobre as áreas protegidas do mundo, hoje com mais de 30.000 registros (Green e Paine, 1997). Quadro 06. Justificativas para efetuar a avaliação do manejo de unidades de conservação • Permite que o pessoal envolvido no manejo aprenda a construir sobre sua própria experiência, ajustando o curso do manejo se necessário; • Promoção do manejo adaptativo, mediante sistemáticas avaliações para se saber se ações produziram os resultados desejáveis; • Ajuda a visualizar o grau de implantação e/ou desenvolvimento da unidade, a eficiência do uso dos recursos disponíveis e as questões que necessitam maiores esforços; • Auxilia os administradores a terem uma posição acerca da eficácia de suas ações frente ao alcance de metas e dos objetivos de manejo da unidade, além de ser uma boa estratégia para a promoção e divisão de responsabilidades entre os participantes do processo de gestão; • Permite que a instituição conheça a necessidade de mudanças nas estratégias e políticas, sendo imprescindível nos processos de planejamento e priorização de ações; • Possibilita que os organismos financiadores de projetos acompanharem as melhoras alcançadas com seus auxílios e a necessidade de futuros investimentos; • Possibilitar o monitoramento regional, continental e internacional da eficácia de gestão das áreas protegidas de modo homogêneo ao se usar uma rotina metodológica comum ou adaptável às diferentes regiões. Fonte: MacKinnon et al.(1990), Faria(1993), IUCN(2000a), Cifuentes, Izurieta e Faria (2000). A prática da avaliação, entendida no seu sentido genérico, é tão antiga quanto o próprio homem. É o exercício da análise e do julgamento sobre a natureza, sobre o mundo que nos cerca e sobre as ações humanas. É a base para a apreciação de um fato, de uma idéia, de um objetivo ou de um resultado e, também, a base para a tomada de decisão sobre qualquer situação que envolve uma escolha (Lucena, 1992). Segundo Hokings, Stolton e Dudley (2000) a avaliação refere-se ao estabelecimento de modalidades de julgamento segundo critérios e/ou padrões pré determinados e monitoramento refere-se ao processo de repetição da observação no espaço e tempo usando-se procedimentos para coleta de dados que sejam comparáveis. Sem importar qual é a meta a avaliação é necessária para alcança-la, a ação e a reflexão são parte de um ciclo no qual a avaliação guia a ação e a ação informa à avaliação, um contexto que define as instituições reflexivas, isto é as 61 organizações que conduzem exercícios que alimentam o aprender fazendo, nas quais o monitoramento e a avaliação de atividades e projetos não é uma tarefa que começa e termina, mas é uma forma de pensar que permeia a estrutura e as práticas institucionais (Imbach e Dudley, sd). No processo de avaliação, mesmo que se busque os modelos mais objetivos, factuais, observáveis e de possível experimentação, haverá sempre um momento decisivo de formação de juízo, eivado pela interioridade do indivíduo com seus idealismos ou seus egoísmos, com sua audácia ou os seus medos, com sua consciência ou a sua alienação, com seus valores e crenças ou seus preconceitos e mitos, que de uma ou outra maneira irão compor um conjunto de forças que clarificam ou deturpam a percepção real dos fatos ou situações (Lucena, 1992). Nos processos avaliatórios, vias de regra os informes técnicos correntemente não apresentam as informações sistematizadas e pontuais, tornando a retroalimentação menos eficaz; geralmente são relatórios volumosos com argumentos a respeito desta ou daquela questão, mas que raramente são consumidos na integra pelos usuários (tomadores de decisão), um constrangimento para quem os produz mas sobretudo desperdício de tempo, dinheiro e atividade intelectual. Contrapondo esta situação é oferecida a possibilidade de se usar indicadores nos diagnósticos das unidades, uma exigência moderna para a gestão eficiente dos recursos em todas as áreas de desenvolvimento. Em função do desenvolvimento alcançado pela sociedade moderna, assistimos nas últimas décadas a evolução de novos modelos de gestão no meio empresarial que se aplicam também à gestão ambiental, cujas características principais são a crescente descentralização de decisões e diminuição dos níveis hierárquicos, democratização das decisões, horizontalização das informações, busca da melhoria continua, flexibilização e menores tempos mortos (Takashima e Flores, 1997). Indicadores são fatos de ordem qualitativa ou quantitativa, observáveis e mensuráveis, que refletem as características dos produtos e dos processos organizacionais, sendo utilizados para o controle da qualidade e do desempenho ao longo do tempo (Almeida, 1989; Takashima e Flores, 1997). Não importando a área de seu emprego, os indicadores devem ser selecionados considerando-se critérios de importância e/ou incidência real sobre o objeto avaliado; simplicidade e clareza; abrangência; acessibilidade dos dados; comparabilidade a 62 referenciais apropriados; baixo custo dos dados de avaliação; credibilidade e capacidade de mensuração (Galera e Hernandez, 1997; Gandara e Kageyama, 1998; Takashima e Flores, 1997). Uma questão essencial para a qual os autores chamam atenção é a demanda dos indicadores por pesquisas básicas de aplicabilidade que comprovem a idoneidade dos mesmos em diferentes situações. Por outro lado, as redes de comunicação tornaram-se mais eficazes e rápidas, a globalização foi imposta como modelo econômico mundial e o tempo disponível para a reflexão e a tomada de decisões mais escasso frente às demandas de um mundo em constantes e rápidas mudanças, fatores que exigem dos sistemas organizacionais a capacidade de responder e adaptar-se a novas circunstancias, modificando suas atitudes com base na compreensão do impacto de suas ações anteriores. Em face desta conjuntura, estão disponíveis para a iniciativa privada empresarial rotinas práticas para a avaliação e certificação da qualidade dos processos produtivos e dos produtos (série ISO 9000) e das implicações ambientais dos processos produtivos (série ISO 14000), além de outras normas da International Standarization Organization (ISO), intensamente implantadas a partir da década de 80 e que, pela rapidez na obtenção de dados e agilidade das analises, tende a se disseminar também para as instituições públicas. A produção florestal segue o mesmo caminho através da certificação de florestas pelo Forest Stewardship Council (FSC), que desenvolveu uma série de principios e critérios visando garantir a sustentabilidade das florestas e assegurar a continuidade dos empreendimentos do setor, havendo hoje 300 florestas, totalizando mais de 22 milhões de hectares certificados em 40 países e cerca de 20 mil produtos com selo FSC (IPEF, 2001). A propósito, ao discorrer sobre sistemas de gestão ambiental, Tibor e Feldman (1996) lançam mão das definições que rodeiam as normas ISO 14000 e afirmam que o mesmos incluem a criação de uma política ambiental, o estabelecimento de objetivos e metas, a implementação de um programa para alcançar esses objetivos, a monitoração e medição de sua eficácia, a correção de problemas identificados e a revisão do sistema para aperfeiçoá-lo. Um ponto que os autores chamam a atenção é que as normas ISO 14000 estão relacionadas a processos e não a desempenho, o que significa dizer que a mesma não dita às empresas o desempenho ambiental que elas devem alcançar mas oferece um sistema (carta ou protocolo de intenções) que as ajudará a alcançar suas metas 63 partindo do pressuposto que uma melhor gestão ambiental levará indiretamente a um melhor desempenho ambiental, sendo que a razão desta abordagem é a existência de muitos pontos de vista diferentes sobre o que constitui uma boa gestão e desempenho ambiental. Neste contexto estão inseridos também os dirigentes das unidades de conservação, que por razões bem conhecidas têm uma vida tão atribulada quanto os dirigentes empresariais mais ocupados. Então, porque não aplicar sobre as UC o conceito de qualidade total e iniciar um processo constante de avaliação da eficácia de gestão? Muitos são os estudos que, direta ou indiretamente, realizaram avaliações parciais de elementos do manejo, particularmente alguns trabalhos de planejamento abordam com certa relevância este tema. O “Projeto para elaboração de uma plano e estratégia do sistema nacional de áreas silvestres protegidas de El Salvador” (El Salvador, 1990), dedicou parte da investigação para saber a situação atual das áreas baseando-se em três aspectos distintos: 1) Aspectos administrativos: existência de organização administrativa, infra-estrutura física, capacidade do pessoal, acessibilidade, forma, existência de serviços básicos; 2) Aspectos legais: respaldo legal e propriedade da terra; e 3) Cooperação institucional: financiamento, políticas, grau de conhecimento, projetos para usos alternativos. Para a proposição do sistema de áreas protegidas de El Petén, Guatemala, utilizou-se um processo de planejamento derivado de um amplo debate técnico (Godoy e Castro, 1991), sendo que metodologia adotada está conformada por vários passos lógicos no qual são analisados aspectos relevantes para a seleção de áreas a contribuir para o desenvolvimento sustentável da região. Uma das seções deste trabalho destina-se a análise da "viabilidade de gestão" através da avaliação e ponderação de fatores ecológicos, institucionais, legais e administrativos. Para a pontuação das variáveis utilizou-se uma escala com três níveis: incidência positiva (+5), incidência neutra (0), e incidência negativa (-5), o que permitiu a integração de resultados em uma matriz usada para determinar o valor intrínseco das áreas e o grau de prioridade para as ações estratégicas. Na Venezuela, Blanco e Gabaldón (1992) utilizaram um método para determinar o grau de "sensibilidade" das áreas protegidas do sistema tendo por base o estabelecimento de 19 variáveis chaves e critérios estritos de julgamento. As variáveis foram ponderadas usando-se uma escala de até dez níveis e de acordo 64 com o consenso de opinião dos membros da equipe de trabalho. Como os trabalhos anteriores os resultados permitiram ao Serviço de Parques da Venezuela visualizar quais áreas necessitavam maior concentração de esforços. Cavalli et al. (1992) apresentaram um método para selecionar e agrupar espaços protegidos conforme sua "funcionalidade", o que é logrado através da verificação de um 'grid' de oito pontos distintos: lei de criação da área; existência de órgão político-administrativo designado para fazer cumprir os objetivos de criação; existência de estatuto de funcionamento da área; existência de financiamento; presença de diretor; existência de organograma do pessoal; existência de programação para a área; e realização de ações em harmonia com as atas de criação da unidade compatíveis com o potencial da área. Os autores citados usaram procedimentos que permitem saber se área está sendo manejada ou não, se é viável administrativamente ou até que ponto é importante mantê-las no sistema, não obstante não permitem saber em que medida ou proporção estão sendo executadas as atividades de manejo. O primeiro a elaborar uma proposta neste sentido foi Deshler (1982), considerando três componentes básicos: cumprimento dos objetivos de manejo, plano de manejo e uso eficiente dos recursos humanos e materiais. Ainda que o roteiro apresentado ofereça uma riqueza considerável de variáveis e fatores a serem medidos não explica como pontuar as variáveis e qualificar o nível de manejo. MacKinnon et al. (1990) descrevem detalhadamente vários estudos de caso e metodologias para uso in situ, como a comparação entre gastos e recursos, avaliação da programação no tempo, estimativa do alcance de metas, avaliação da efetividade dos custos, que podem ser utilizadas para a verificação da efetividade específica do objeto sob análise. A respeito da avaliação da efetividade do manejo, os autores proporcionam uma lista de perguntas genéricas que devem ser complementadas com indicadores derivados dos objetivos de manejo, das políticas institucionais e do plano de manejo da área, o que permite uma aproximação a todos os níveis de gestão. Mas novamente aqui não se descreve os procedimentos metodológicos para a qualificação da gestão. Para Phillips (1993) o listado apresentado por MacKinnon et al. (1990) é um "esqueleto" suficientemente amplo para ser utilizado como base para um sistema de avaliação mas que havia ainda a necessidade de desenvolver uma estrutura que permita adaptações circunstanciais, regionais e internacionais, para 65 poder ser utilizada amplamente. Este autor alude sobre a necessidade urgente de se desenvolver um sistema internacional para mensurar a efetividade do manejo, sendo que os objetivos deste estudo deveriam apontar a: i) prover uma estrutura general para que grupos de países ou países individuais desenvolvam seus próprios sistemas; ii) possibilitar a coleta de dados periódicos sobre a qualidade do manejo que permitam comparações; e iii) facilitar os esforços internacionais no sentido de reforçar o manejo de áreas protegidas através da oferta de guías claros das prioridades de assistência. O procedimento inicialmente sugerido pela IUCN (1993) para estas avaliações toma em conta os trabalhos desenvolvidos até então e propõe os seguintes aspectos para analise: legislação, objetivos de manejo, limites, plano de manejo, apoio local, pessoal, infra-estrutura, financiamento e retroalimentação informativa. Além destes recomendou-se, para uma avaliação completa, a análise dos elementos que ameaçam a integridade da área, tanto internas como externas. A proposta considerou um sistema de ponderação e indicou a maneira de categorizar o manejo segundo amplitudes pré-estabelecidas da pontuação final alcançada, mas lamentavelmente não esclareceu os critérios para a valoração das variáveis. Por outro lado recomendou avançar as pesquisas deste e outros sistemas, assim como sua adaptação a diferentes realidades para seu refinamento. Produzir diagnósticos eficazes e priorizar esforços faz parte das metas da The Nature Conservancy – TNC com o desenvolvimento do projeto Parques em Perigo, talvez o primeiro intento prático de maior vulto para se avaliar a situação das unidades de conservação especificamente para isso. Em maio de 1992 utilizando rotinas estruturadas em uma carta-convite dirigida a especialistas de áreas protegidas (TNC, 1992) a organização evidenciou que “tanto a análise qualitativa como a quantitativa são apropriadas no processo de diagnóstico das áreas selecionadas”, emitindo um presságio dos vários trabalhos subseqüentes. Corroborando aquela previsão Brandon et al. (1998) editaram o livro Parks in Peril: people, politics and protected areas, onde são relatados estudos de caso e em cujos apêndices encontra-se a relação detalhada dos 16 indicadores e critérios utilizados (Quadro 07), cada qual ponderados sob uma escala de 1 a 5. 66 Quadro 07. Indicadores usados na avaliação do impacto do manejo das UCs do Programa “Parques em Perigo” da TNC (Brandon et al., 1998). Âmbitos Atividades de proteção mínima Manejo a longo prazo Financiamento Apoio local Indicadores Infra-estrutura física; Pessoal; Treinamento; Posse de terra; Análise de ameaças; Status da área protegida. Zoneamento da reserva e manejo de zonas-tampão; Plano de manejo baseado a longo prazo; Contribuição científica e informações necessárias; Desenvolvimento e implementação de plano de monitoramento. Plano de ONG’s auto-suficientes; Plano financeiro a longo prazo. Existência de Comitês de Apoio ou Comitê Consultivo Técnico; Envolvimento da comunidade no uso e conservação dos recursos; Desenvolvimento dos programas de conservação e Programas de educação ambiental. MacKinnon (1992) reporta que utilizou um questionário para classificar a qualidade do manejo das áreas protegidas nos países Indo-Malaios usando um sistema de pontuação com três níveis. A efetividade média da análise de 25 amostras foi somente 1.4, o que permite fazer deduções acerca da estrutura do procedimento, que infelizmente também não é descrito no artigo. Em seguida Faria (1993) apresentou uma metodologia destinada a avaliar a efetividade de manejo de unidades de conservação utilizando uma série de indicadores agrupados nos âmbitos administrativo, político, legal, planejamento, conhecimentos, programas de manejo, usos atuais, características biogeográficas e ameaças, segundo uma convenção do autor respaldada por farta literatura. Os indicadores, selecionados com base nos objetivos de manejo das áreas protegidas, são valorados quantitativamente a partir da comparação de uma situação ideal com a situação encontrada na área, que devidamente articuladas possibilitam a obtenção de diferentes padrões de qualidade ou cenários alternativos. Estes são associados a uma escala de 5 níveis, de 0 a 4, onde o maior valor reflete o cenário ótimo e o menor as condições totalmente opostas ao alcance dos objetivos de manejo da área (Quadro 08). Quadro 08. Escala usada para avaliar os indicadores (Faria, 1993) Pontuação 0 1 2 3 4 Relação entre situação ótima e atual do indicador 0 – 35 36 – 50 51 – 75 76 – 90 91 – 100 Qualidade do indicador Insatisfatório ou Padrão Muito Inferior Pouco satisfatório ou Padrão Inferior Medianamente satisfatório ou Padrão Mediano Satisfatório Muito satisfatório ou Padrão de Excelência 67 A qualificação da eficácia de gestão é obtida por meio da integração e comparação dos resultados quantitativos auferidos em uma matriz. O somatório das maiores pontuações (4) resulta um valor designado de "total ótimo", que corresponde a 100% do total possível de ser alcançado; por sua vez, o somatório das pontuações alcançadas a partir da análise da situação atual dos indicadores resulta um valor proporcionalmente cunhado estas duas como "total grandezas alcançado". obtém-se uma Comparando-se quantidade em porcentagem, que correlacionada a uma escala de valoração define o nível de qualidade do manejo em conformidade com a escala de valoração do Quadro 09. Trabalhando-se com um sistema de unidades determina-se o nível de aplicação de políticas e a eficácia da gerência institucional usando-se o mesmo raciocínio. Quadro 09. Escala para qualificação da eficácia da gestão (Faria, 1993). % do Nível de total ótimo Qualidade do manejo Significado geral Insatisfatório Faltam muitos elementos para o manejo e essa situação ≤ 35% não garante a permanência da unidade a longo prazo, o que obriga a instituição envidar maiores esforços no manejo da mesma. Nas atuais condições, os objetivos não são alcançáveis. 36 - 50 Pouco Satisfatório Há recursos para o manejo, mas a área é vulnerável a fatores externos e/ou internos em razão de haver somente meios mínimos disponíveis para o manejo. Alguns objetivos primários podem não ser atingidos. 51 - 75 Medianamente A unidade apresenta deficiências que não proporcionam Satisfatório uma sólida base para o manejo efetivo, podendo não serem atendidos alguns dos objetivos secundários. 76 - 89 Padrão Satisfatório Os fatores e meios para o manejo existem e as atividades essenciais são desenvolvidas normalmente, tendendo o conjunto em direção ao logro dos objetivos da unidade. Muito Satisfatório A área possui todos os componentes-chave para o efetivo ≥ 90% manejo, porquanto ele é realizado, podendo absorver demandas e exigências futuras sem comprometer a conservação dos recursos protegidos. O cumprimento dos objetivos está assegurado. A metodologia estruturada por este último autor passou a ser utilizada em vários lugares da América Latina, com maiores ou menores ajustes e inclusão de novos e específicos indicadores. Na Costa Rica, Izurieta (1997) concluiu que o procedimento adequava-se a qualquer tipo de categoria de manejo, desde que os indicadores fossem revistos e adaptados às condições de cada área ou sistema analisado, aspecto que o induziu a introduzir indicadores para avaliar as ações da administração nas zonas de influência das unidades da Área de Conservação OSA, com oito UCs, do Serviço de Parques Nacionais da Costa Rica. 68 No Parque Nacional Galápagos os técnicos incluíram a participação efetiva de atores chave e os resultados da avaliação do manejo permitiram identificar os problemas mais críticos e propor as ações pertinentes no novo Plano de Manejo (Cayot e Cruz, 1998). Por sua vez Soto (1998) testou o procedimento usando todos os indicadores e separando-os dos de caráter qualitativo, reportando não haver diferenças significativas na qualificação final do manejo das áreas avaliadas, evidenciando assim a minimização da subjetividade ao se avaliar indicadores de caráter qualitativo. Ainda neste contexto, Faria (1997) aplicou formulários à distância usando os mesmos indicadores do seu trabalho original e obteve uma visão global do subsistema diagnosticado e evidencias dos pontos fortes, das debilidades e das ameaças externas e internas das áreas, no entanto não obteve amostras suficientes para comprovar a possibilidade e idoneidade do emprego de formulários. Correau (1999) relata os trabalhos desenvolvidos na América Central, que visaram diagnosticar os avanços e dar seguimento nas ações de manejo das unidades de conservação da região, cujo sistema de avaliação assemelha-se ao método TNC, porém com a inclusão de algumas características da metodologia apresentada por Faria (1983), como por exemplo a subdivisão em critérios, fatores e âmbitos e a utilização de padrões de referencia para a quantificação e qualificação dos indicadores e do manejo. O autor apresenta uma estratégia de monitoramento das UCs da América Central calcada nas seguintes características: que o procedimento seja simples, de baixo custo, com capacidade de ser refinada e melhorada com o tempo, ser aplicável em qualquer unidade de conservação e promova a excelência em conservação. Neste continente as iniciativas estão bastante avançadas haja vista a variedade de trabalhos desenvolvidos (Costa Rica, 1999; Mena e Sierra, 1999; Mena e Artavia, 2000), onde inclusive já despontam propostas para a certificação de áreas protegidas (PROARCA/CAPAS, 2000a; PROARCA/CAPAS, 2000b). Com a finalidade de consolidar os esforços de monitoramento nos países da América Central, a partir de um workshop reunindo vários especialistas Corrales (2000) apresentou uma versão que, além de proporcionar resultados por Área Protegida, fornece também resultados por Região Florestal, Categoria de Manejo ou informações de todo o Sistema de Áreas Protegidas de um país. O método consta de 42 indicadores agrupados em 18 fatores e estes, por sua vez, em 5 âmbitos. Aos indicadores são atribuídos valores (1, 2, 3, 4, 5) que são obtidos 69 através de avaliações de campo. Tais valores correspondem a uma porcentagem (0, 25%, 50%, 75%, 100%, respectivamente), permitindo posterior comparação entre os indicadores. No Brasil o Fundo Mundial para a Natureza, WWF (1999), realizou o primeiro estudo qualitativo e quantitativo de avaliação das unidades de conservação de uso indireto federal a partir de uma variação do procedimento de Faria (1993), avaliando 13 indicadores mediante a aplicação de formulários junto aos diretores das áreas, procurando-se definir o grau de implementação e a vulnerabilidade das unidades. Oito indicadores serviram de base para a determinação do grau de implementação e outros 5 contribuíram para a determinação do grau de vulnerabilidade das unidades. Cada indicador contempla um jogo de condições associadas a uma escala básica de 0 a 4 à qual se associam equivalências porcentuais de 0-29%, 30-49%, 50-69%, 70-89% e 90-100%. Desde 1997 a Comissão Mundial para as Áreas Protegidas da UICN envida esforços para o estabelecimento de pautas de referência para medir a efetividade do manejo, considerando as recomendações do 4o Congresso Mundial de Áreas Protegidas, que apontou a necessidade de instrumentos desta natureza em nível mundial, fundamentalmente visando a uniformização de linguagens. A publicação intitulada “Evaluation Effectiveness: A framework for assessing the management of Protected Areas” (IUCN, 2000a), o mais completo material sobre o assunto, sugere que o processo de monitoramento e a avaliação do manejo de AP requer que uma série de questões sejam respondidas relacionadas a: Contexto - O que somos? Esta análise não faz parte direta do processo de avaliação do manejo mas é importante por permitir uma visão do enfoque administrativo dado à UC ou ao Sistema, a missão e as diretrizes para a gestão das áreas protegidas, bem como a representatividade biológica, importância social, ameaças e vulnerabilidade das áreas protegidas. Planejamento e desenho - O que se deseja e como serão alcançados os objetivos propostos pode ser respondido mediante a avaliação de planos de manejo e de sistemas, planos de metas e planos estratégicos institucionais. Entretanto algumas respostas podem ser obtidas ao se avaliar, por exemplo, o tamanho das unidades em relação à possibilidade de se conservar uma população animal geneticamente viável à sua conservação. 70 Entradas (inputs) - Quais são as necessidades? Refere-se à avaliação de variáveis relacionadas ao capital investido no manejo, recursos humanos, equipamentos em geral, infra-estrutura, etc. e como elas se adequam em relação ao alcance de objetivos de manejo das áreas. Processo - Como são conduzidas as atividades diárias das áreas protegidas? Refere-se à suficiência dos procedimentos administrativos para o Sistema ou áreas isoladas como por exemplo os tramites burocráticos, canais de comunicação dentro da área, estratégias de treinamento, pesquisa e monitoramento, sistemas de manutenção de equipamentos, etc. Produtos (outputs) - O que foi realizado e que produtos ou serviços foram produzidos? cujas respostas são obtidas na medida que são avaliados os programas de gestão por exemplo. Resultados (outcomes) - O que foi alcançado? O enfoque está dirigido a saber se a administração teve êxito em relação aos objetivos de manejo segundo as metas traçadas de curto e médio prazos, a integridade da área, participação e benefícios às comunidades, etc. Tomando por base a estrutura metodológica de Faria (1993) e seu desenvolvimento progressivo, Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) produziram o manual Medición de la Efectividad del Manejo de Áreas Protegidas, apresentando uma diversidade de indicadores já testados em campo agrupados em diferentes nos âmbitos da gestão. O trabalho consolida uma metodologia eficaz e simples, passível de ser adotada para avaliar a gestão de qualquer categoria de manejo, permitindo comparações entre as unidades avaliadas. Vale dizer que esta metodologia foi considerada a mais detalhada e sofisticada dos procedimentos que utilizam indicadores e scores (Hockings, 2000), e provavelmente a mais amplamente utilizada até o momento. Na esteira dos processos de avaliação da gestão das UCs e das ações empresariais visando a conquista de novos mercados, recentemente surgiram rotinas metodológicas dirigidas à certificação da gestão das UCs (Padovan, 2001), uma temática todavia nos primórdios de uma discussão mais séria e abrangente tendo em vista ser um processo voluntário e ser conduzido por pessoal externo (auditores), fato que envolve um custo que não se sabe o valor mas ainda bastante distante da realidade brasileira. 71 2.5 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO 2.5.1 A representação das UCs paulistas O Estado de São Paulo apresenta hoje somente 13,4% do território total com cobertura florestal natural, sendo que as terras do interior, principalmente no oeste, são ocupadas por grandes extensões de pastagem com baixa produtividade, onde inclusive as áreas de preservação permanente não foram respeitadas. A região ocidental do Estado é, sem dúvida, a mais devastada, com menos de 6% de cobertura florestal, dispersos em pequenos fragmentos (Kronka et al., 1993). O recém publicado Atlas das Unidades de Conservação Ambiental do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2000) considera que o Estado alberga hoje 141 áreas especialmente protegidas nos níveis federal, estadual e municipal, distinguindo-as em unidades de Proteção Integral e de Uso Sustentável, sendo o primeiro grupo integrado pelas Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais e Estaduais e o segundo as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico e as Florestas Nacionais. Considera ainda outros espaços protegidos decorrentes de diplomas legais como as Áreas Naturais Tombadas, Áreas sob Proteção Especial, os Parques Ecológicos, as Reservas da Biosfera da Mata Atlântica e do Cinturão Verde de São Paulo, as Reservas Estaduais, os Sítios do Patrimônio Mundial Natural e as Terras Indígenas. Ao todo discrimina 15 categorias de gestão sob diversos regimes administrativos. Vale dizer que o Atlas considera várias áreas cujas categorias não são contempladas pelo SNUC, além de contém uma série de sobreposições físicas entre diferentes categorias de gestão, criando a falsa impressão de que a superfície protegida seja grande. Por outro lado, apesar de relacionar as Florestas Nacionais de Capão Bonito e Ipanema, que possuem a maior parte de suas áreas tomadas por espécies exóticas, não incluiu as Estações Experimentais e Florestas Estaduais gerenciadas pelo Estado, sendo que somente o Instituto Florestal de São Paulo detém 35.011,33ha e 13.026,94ha respectivamente (ATP/IF, 2000b). O universo das Unidades de Conservação estaduais paulistas considerado no trabalho Diagnóstico - Unidades de Conservação (Brito et al.., sd) soma 85 áreas que totalizam 897.121,70ha. O trabalho exclui as Áreas de Proteção 72 Ambiental mas considera algumas categorias não enquadradas na legislação específica, tais como Parque Ecológico, Viveiro Florestal e Horto Florestal. Já Costa (1998) reporta em seu estudo que segundo o IBGE o Estado de São Paulo possuía em 1997 61 parques e reservas com um total de 905.045ha, ou 3,64% de superfície protegida. O 1o Relatório Nacional para a Convenção sobre a Diversidade Biológica (BRASIL, 1998) informa que, devidamente enquadradas pelo SNUC, São Paulo albergava em 1998 56 UCs de proteção integral e 32 de uso sustentável, cujas áreas correspondiam a 838.163ha e 1.824.949ha respectivamente. Por outro lado, relatórios do projeto “Áreas especialmente protegidas no Estado de São Paulo: Levantamento e Definição de Parâmetros para Administração e Manejo” (Fundação Florestal, 2000), afirma que o Estado possui em seu território 213 áreas especialmente protegidas, distribuídas em 3.578.932,76 hectares sob 23 diferentes categorias de manejo. Nota-se que a quantidade e as categorias das unidades de conservação variam de acordo com o enfoque do trabalho, não havendo uma padronização até que se estabeleça um efetivo Sistema Estadual de Unidades de Conservação, fato discutido e reforçado por Silva (1999). Mesmo as listas oficiais carecem de padronização pois em algumas aparecem e em outras são desconsideradas. Entretanto, deve-se considerar o fato incontestável de que historicamente e na atualidade cabe ao Instituto Florestal de São Paulo (Figura 02), órgão vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, resguardar a maior parte das reais unidades de conservação do Estado, respondendo por 103.529,99ha de Estações Ecológicas e 690.532,96ha em Parques Estaduais, totalizando ao menos 794.062,95ha de áreas protegidas dedicadas à proteção estrita da natureza, além das já citadas UCs de uso sustentável (ATP/IF, 2001a). No âmbito estadual já existem alguns estudos para a elaboração de um Sistema de Unidades de Conservação - SEUC, entretanto até a presente data poucos avanços aconteceram no sentido de concretizar tal proposta. Em 1998 o Programa Estadual para a Conservação da Biodiversidade-PROBIO veiculou junto à comunidade técnico-científica um documento intitulado Proposta para Discussão do Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SMA, 1998b), apresentando uma mesclagem de vários estudos relacionados ao planejamento de sistemas e uma 73 tabela comparativa entre as proposições do então Projeto de Lei 2.892/92 que visava a criação do atual SNUC e uma primeira versão do SEUC. Naquele então pretendia-se a participação espontânea da comunidade técnica tendo como objetivo maior uma proposta concensual que culminasse na aprovação de um Decreto que criasse o SEUC. Ao que parece as acaloradas discussões nacionais sobre as características do SNUC, se mais ou menos conservacionista, provavelmente sofrearam as discussões no Estado, sendo que na atualidade as organizações estão mais preocupadas com a regulamentação da Lei 9985/2000. Apesar de na atualidade existir algum disciplinamento no que tange à criação de UCs no Brasil, cujos estudos imperam desde fins da década de 70 quando o Plano de Sistemas de Unidades de Conservação do Brasil-2a Etapa adotou a Teoria dos Refúgios do Pleistoceno como base para a seleção de áreas a serem protegidas (BRASIL, 1982; Jorge Pádua, 1997), o fato é que as unidades de conservação do país e do estado são ainda insuficientes em área e representatividade ecológica, considerando as recomendações internacionais de se conservar no mínimo 10% do território como unidades de conservação de proteção integral. Embora não existam trabalhos com a devida acurácia metodologica para dirimir sobre a representatividade ecológica das unidades de conservação, é sabido que dentre os biomas o que possui menor representação é o Cerrado, cujos remanescentes cobrem 280.000ha no Estado, os quais somente 25.000ha estão protegidos na forma de Unidades de Conservação, incluindo algumas unidades dedicadas ao conceito de uso sustentável, tais como as Areas de Proteção Ambiental e as Estações Experimentais (SÃO PAULO, 1997a). É sabido que as paisagens preservadas nas áreas protegidas paulistas albergam uma diversidade ecológica, biológica e genética supra importante para o desenvolvimento científico e econômico, seja pela proteção de inúmeras espécies ameaçadas de extinção, manguezais produtores de vida marinha, contenção de encostas da Serra do Mar que evitam a erosão e o conseqüente assoreamento de rios, seja pela produção de água em quantidade e qualidade essenciais a inúmeros processos produtivos. Figura 02. Unidades de Conservação do Estado de São Paulo gerenciadas pelo Instituto Florestal. 74 75 2.5.2 Os problemas das UCs paulistas A maioria das unidades de conservação do Estado atravessam uma situação problemática e já conhecida pela comunidade técnico-científica, fundamentalmente pela carência generalizada de pessoal e um adequado esquema de financiamento operacional, questões que se acirram na medida que são criadas novas UCs e o Estado se retrai desta obrigação constitucional (CONCITE, 1997; Tomazela, 2001). A questão fundiária é um problema antigo de grande parte das Unidades de Conservação situadas na região Litorânea, Serra do Mar e Serra da Paranapiacaba. Estimativas de órgãos de governo apontam que aproximadamente 35% do total da área coberta pelas UCs de proteção integral ainda precisam sofrer processo de desapropriação (Brito et al., sd). Um estudo empreendido pelo Instituto Florestal em 1995 detectou que havia cerca de 8.000 famílias residentes no interior das UCs localizadas no Vale do Ribeira e Litoral, sendo que algumas destas já habitavam aquelas áreas antes de serem decretadas como Parques ou Estações Ecológicas, excetuando o Núcleo Cubatão do P.E. da Serra do Mar e P.E. de Jacupiranga, os quais apresentavam elevada concentração de invasores e especuladores, com cerca de 75% do total existente (IF, 1995). Recentemente veiculou-se em jornal de ampla circulação informações sobre a grave ameaça que ronda os parques daquela região, enfocando as atividades ilegais de caça, extração de palmito, abertura de estradas irregulares e, sobretudo, o avanço da especulação imobiliária sobre as matas nativas integrantes do P.E. Serra do Mar, trazendo inclusive flagrantes fotográficos de imensas clareiras na floresta e bairros inteiros invadindo os limites do parque (Lemos, 2001). Segundo (Brito et al., sd), o quadro atual contêm uma série de combinações no que se refere à situação dominial das Unidades de Conservação, tais como: i) Unidades de Conservação que são totalmente regularizadas, sendo suas terras de domínio público; ii) Unidades de Conservação totalmente não discriminadas, cujas terras não se conhece a dominialidade; iii) Unidades de Conservação parcialmente discriminadas; iv) Unidades de Conservação que se encontram totalmente discriminadas, em processo de regularização fundiária; e v) Unidades de Conservação onde o processo de regularização está sendo revisto. A 76 autora informa ainda que há uma estimativa de órgãos governamentais apontando que aproximadamente 35% do total da superfície das unidades de proteção integral precisam passar pelo processo de desapropriação. Em recente palestra proferida pelo Diretor Geral do IF soube-se que dos 794.062,95ha dos parques e estações ecológicas somente 158.812,59ha, ou 20% do total, estão com as condições fundiárias legitimadas (Bucci, 2000). Grandes e importantes unidades como os P.E. da Serra do Mar e seus Nucleos de manejo, P.E. Jacupiranga, PETAR, P.E. Carlos Botelho e a Estação Ecologica Jureia-Itatins possuem graves problemas neste sentido, sendo que para algumas não se sabe com exatidão como se encontram (Quadro 10). Por sua vez as unidades de uso sustentável possuem a totalidade de suas áreas com situação dominial resolvida, mas a ausência de políticas para o setor reflete-se, por exemplo, na falta de solução para os problemas vivenciados pelas unidades de conservação invadidas por movimentos sociais, como é o caso da Floresta Estadual de São Simão e Perdeneiras, ou as invasões dos Parques Estaduais da Ilha do Cardoso, Intervales e Estação Ecológica da Juréia-Itatins por indígenas (Jorge Pádua, 2001). Quadro 10. Situação de algumas UCs de São Paulo quanto à demarcação e situação fundiária Unidade EEc. Juréia-Itatins P.E. Campina do Encantado E.Ec. Chauás P.E. Ilhabela P.E. Jacupiranga P.E. Juquery P.E. Jurupará P.E. Marinho da Laje de Santos P.E. Serra do Mar P.E. Turístico do Alto Ribeira P.E. Xixová-Japuí Área % do perímetro demarcado 79.270,00 2.359,50 2.699,60 27.025,00 150.000,00 1.927,70 26.250,47 5.000,00 315.390,69 35.884,28 901,00 0 0 80 50 80 0 0 0 10 70 4,5 % da área com situação fundiária solucionada 1 100 95 ? ? 100 ? 100 30 60 70 Fonte: ATP/IF, 2000b As maiores áreas protegidas do Estado, e que inclusive constituem grandes contínuos ecológicos, situam-se ao longo do Litoral, Vale do Ribeira, Vale 77 do Paraíba e Região Metropolitana da Capital, regiões que abrigam a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, designadas como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (ATP/IF, 2000a). Nesse contexto estão inseridas várias UCs, de diferentes jurisdições e categorias de manejo, que foram analisadas por Georgiadis e Campello (1999) tendo como pano de fundo o enfoque da gestão bioregional. Neste sentido tomaram como área física da analise o corredor biológico da Serra do Mar nos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, nos quais de uma maneira geral as áreas protegidas apresentavam vários problemas para a sua efetiva existência, gestão e consolidação. Os que mais se destacaram, segundo os autores, foram recursos financeiros inadequados; falta de apoio público dirigidas às organizações e a própria debilidade das instituições. Ao discorrer sobre o apoio público às UCs os autores dirigem a analise para um ambiente no qual prevalece o utilitarismo das áreas protegidas, a serviço do ecoturismo e do uso público, que abençoados são considerados a panacéia para um maior apoio local. Afirmam que as UCs da região da Serra do Mar recebem pouco apoio da comunidade pois a maioria das unidades não possuem instalações adequadas para receberem visitantes ou estão fechadas a este tipo de uso. Apontam como causa da debilidade das instituições a excessiva ingerência política sobre elas, os baixos salários que impedem recrutamento de pessoal com maiores capacidades e habilidades profissionais, o excesso e a rigidez dos procedimentos burocráticos, uma cultura institucional que não valoriza adequadamente o pessoal de campo, o excesso de pessoal nas agencias centrais, a utilização ineficiente dos recursos humanos e dos recursos em geral e a baixa capacitação do pessoal. Pecam na generalização das afirmações por não apresentarem em que magnitude e jurisdição isto ocorre. Faria (1997) avaliando a efetividade de manejo de 8 UCs administradas pelo Instituto Florestal mediante o uso de questionários à distância apontou os pontos fortes, as debilidades e as ameaças existentes nestas áreas, conforme apresentado no Quadro 11. O autor denota que apesar da instituição responsável pela gerência possuir vários pontos favoráveis, forjados na sua reconhecida tradição de manejar os recursos naturais, o conjunto das áreas revela a falta de compromisso governamental para com a efetiva conservação do patrimônio 78 natural, em razão das debilidades e ameaças estampadas. As áreas protegidas do Estado mais rico da nação, e de extrema importância para a conservação da biodiversidade, careciam dos mínimos recursos para um efetivo manejo, concluindose que a grande ameaça é o gradativo afastamento do Estado das suas obrigações fundamentais contempladas inclusive na própria Constituição Estadual. Quadro 11. Debilidades, ameaças e problemas de oito áreas protegidas de São Paulo. Característica Pontos fortes Debilidades Ameaças Internas Ameaças Externas Situação nas unidades de conservação estudadas* Instrumento legal de criação das unidades e o conjunto de leis incidentes sobre as mesmas; Tamanho e grau de isolamento condizentes com os objetivos de manejo; Razoável nível de informações essenciais ao manejo; Qualidade dos funcionários existentes quanto ao conhecimento de suas funções, atitudes pessoais, autoridade e motivação; Existência de normas para as atividades administrativas e dos usos existentes; Parcial apoio da comunidade à área; Compatibilidade dos usos com as respectivas categorias de manejo. Dotação orçamentária insuficiente; Salários aquém do nível de responsabilidade dos funcionários; Ineficácia dos planos de carreira, principalmente para os de níveis inferiores; Inexistência de um programa institucional de capacitação; Quantidade de pessoal insuficiente; Pouco apoio técnico, político e/ou financeiro de organizações externas ao manejo; Inexistência ou desatualidade de planos de manejo; Não implementação dos Planos de Manejo. Insuficiência de recursos humanos e financeiros, falta de seguimento dos planos de manejo, indefinição de problemas fundiários, falta de políticas para turismo nas unidades de conservação. Expansão urbana, especulação imobiliária, ocupação humana, caça, incêndios, crescimento do setor turístico e turismo desordenado, pobreza. *P.E. Campos do Jordão, P.E. Ilha Anchieta, P.E. Núcleo Curucutu da Serra do Mar, E.Ec. Itirapina, E.Ec. Santa Bárbara, E.Ec. Juréia-Itatins, P.E. Morro do Diabo e Estação Experimental de Paraguaçu Paulista. Fonte: Faria (1997). Indicadores de Desempenho Institucional I, concebido pelo Conselho Científico e Tecnológico do Estado de São Paulo (CONCITE, 1997) é o documento que melhor retrata a situação das UCs de São Paulo que, apesar de estar direcionado ao diagnóstico organizacional do Instituto Florestal, abordou justamente o órgão que detém maior responsabilidade sobre o conjunto das áreas protegidas do Estado, o Instituto Florestal. O estudo foi empreendido por pessoal interdisciplinar e traz com clareza informações, então atualizadas, que permitem estabelecer o perfil institucional, seus pontos positivos, negativos e os problemas vivenciados pelas unidades de conservação administradas pelo órgão. 79 Dentre as áreas protegidas estaduais algumas se destacam ao apresentarem uma situação de gestão diferenciada da realidade geral, sendo o Parque Estadual Intervales, gerenciado pela Fundação Florestal, o melhor representante devido as suas qualidades administrativas, cujo cenário em nada se assemelha às demais unidades do sistema. Possui um excelente e estável orçamento, sede administrativa completa dotada dos equipamentos necessários, hospedarias e alojamentos de elevado padrão e funcionários em quantidade e qualidade muito satisfatória. Possui trilhas interpretativas guiadas por pessoal capacitado e atividades programáticas de interpretação e educação ambiental, além de um bom inventário de recursos embutido em algum mecanismos de fomento à pesquisa científica (Fundação Florestal, 2001). Apesar disso é uma área sob a ameaça constante de palmiteiros e caçadores, tal quais outras UCs da região. Certo é que as dificuldades para se manejar adequadamente as UCs tem motivado iniciativas direcionadas a explorar as debilidades das organizações estatais, como a que propôs a criação de um Serviço de Parques Estaduais (Campos et al., 1997) como sendo a solução de todos os problemas das áreas protegidas paulistas. A proposta admite a necessidade de se implementar os estudos para a viabilização do Sistema Estadual de Unidades de Conservação, algo realmente urgente e extremamente necessário, mas denota uma análise pouco profunda ao menosprezar as unidades de uso sustentável, estações experimentais e florestas de produção sob a égide do Instituto Florestal, o que denota o desconhecimento do que venha a ser realmente um ‘sistema’ de unidades. Dois anos depois, os mesmos autores voltam à carga defendendo a criação de um ‘programa’ de proteção da fauna silvestre em São Paulo juntamente com a criação do Serviço Estadual de Parques (Campos et al., 1999), novamente carecendo de uma análise mais participativa e envolvente, pois ao mesmo tempo que discorre sobre a urgência de criar um Serviço de Parques indica, antagonicamente, que o ‘programa de fauna’ deve ser inicialmente implantado junto ao ‘órgão executivo estadual responsável pelas unidades de conservação estrita’, o próprio Instituto Florestal que propõem transformar em Serviço de Parques, apontando para a possibilidade do ‘programa’ constituir-se futuramente em uma das Divisões do Instituto. 3. MATERIAL E MÉTODOS 82 3.1 MATERIAL Serviram de base para o presente estudo 59 Unidades de Conservação do Estado de São Paulo gerenciadas pelo Instituto Florestal: 28 Parques Estaduais, 12 Estações Ecológicas, 01 Reserva Estadual, 02 Florestas Estaduais, 15 Estações Experimentais e 01 Horto Florestal. O Quadro 12 apresenta a localização geográfica dessas áreas e a Figura 3 a sua representação e distribuição espacial no território paulista. Para as reuniões coletivas de avaliação, ou oficinas de avaliação, foram convidadas todas as unidades de conservação administradas pelo Instituto Florestal, além do Parque Estadual Intervales administrado pela Fundação Florestal. Dessas reuniões participaram representantes de 56 unidades. Além destas áreas, investigou-se também o diretores do Núcleo São Sebastião do Parque Estadual da Serra do Mar, Parque Estadual de Jacupiranga e do Parque Estadual da Ilha do Cardoso. As 59 unidades de conservação que participaram deste estudo estão citadas no Apêndice B, que também traz os nomes dos técnicos participantes e outras características relevantes desses sítios. Vale ressaltar que a pesquisa abarcou 69% das unidades administradas pelo Instituto Florestal e 90% da superfície total sob proteção institucional, representando 782.622,25ha. Deve-se explicar que nesta pesquisa as Estações Experimentais gerenciadas pelo Instituto Florestal foram consideradas também como unidades de conservação, inseridas no contexto das Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS), ainda que assim não sejam consideradas por alguns técnicos e especialistas, apesar da Lei 9.985/2000 – SNUC possibilitar a sua reclassificação segundo estudos dirigidos para o reenquadramento dessas áreas às categorias e aos objetivos de manejo definidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000), tarefa que de factível e relevante foi iniciada no âmbito do Instituto Florestal em meados de 20021. 1 Decreto No 47.096, de 18 de setembro de 2002, que amplia a Estação Ecológica de Jataí; Decreto o o N 47.097, de 18 de setembro de 2002, que amplia a Estação Ecológica de Assis; Decreto N 47.098, de 18 de setembro de 2002, que transforma a Estação Experimental de Assis em Floresta Estadual o de Assis; Decreto N 47.099, de 18 de setembro de 2002, que transforma a Estação Experimental de Pederneiras em Floresta Estadual de Pederneiras. Diário Oficial do Estado. 19 de setembro de 2003. Seção I, páginas 2 a 5. 33.845,33 77569,64 95176,33 47572,15 9058,06 PESM Cubatão PESM Picinguaba PESM Curucutu 2.069,06 PE Morro do Diabo PESM Caraguatatuba PE Furnas do Bom Jesus 611,55 PE Porto Ferreira 21774,87 PESM Cunha 1.732,14 502,96 13385,83 PE Mananciais de Campos do Jordão PESM Santa Virginia PE Vassununga 8.385,89 PE Campos do Jordão 64,30 1.927,70 PE Juquery PE ARAValinhos 26.250,47 PE Jurupará 174,00 901,00 7.900,00 PE Xixová Japuí PE Cantareira PE Capital 5.000,00 27.025,00 828,08 Área PE Marinho Lage de Santos PE Ilha Bela PE Ilha Anchieta Nome da UC 45º03’45” a 47º17’20’’ 44º59’30” a 45º05’30’’ 47º03’ a 47º05’ 47º35’ a 47º40’ 47º25’ a 47º28’ 47º22’ a 47º29’ 52º05’ a 52º30’ 45º16’10” a 45º43’00’’ 45º53’20” a 46º39’10’’ 23º14’05’’ a 23º29’05’’ 23º12’50’’ a 23º18’50’’ 23º00’ a 23º02’ 21º37’ a 21º45’ 21º50’ a 21º52’ 20º11’ a 20º16’ 22º15’ a 22º40’ 23º28’50’’ a 23º46’40’’ 23º29’00’’ a 24º40’10’’ 44º43’40” a 45º16’40’’ 46º33’30” a 46º59’40’’ 45º32’ a 45º35’ 22º45’ a 22º47’ 23º11’50’’ a 23º32’40’’ 23º57’30’’ a 24º08’10’’ 45º24’ a 45º31’ 46º37’ a 46º39’ 23º27’ a 23º29’ 22º37’ a 22º45’ 46º28’ a 46º42’ 23º20’ a 23º27’ 47º10 a 47º23’ 46º22’ a 46º25’ 23º58’ a 24º02’ 46º39’ a 46º44’ 46º09’ a 46º12’ 24º16’ a 24º21’ 23º19’ a 23º22’ 44º59’ a 45º28’ 23º42’ a 23º58’ 23º49’ a 24º01’ 45º02’ a 45º05’ Longitude Oeste 23º31’ a 23º34’ Latitude Sul Itanhaém, Juquitiba, Mongaguá Caraguatatuba, Natividade da Serra, Paraibuna Bertioga, Biritiba Mirim, Cubatão, Mogi das Cruzes, Praia Grande, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Paulo, São Vicente Ubatuba Teodoro Sampaio Pedregulho Porto Ferreira Santa Rita do Passa Quatro Campinas Cunha São Luís do Paraitinga Campos do Jordão Campos do Jordão Caieiras, Franco da Rocha Ibiúna, Piedade Caieiras, Guarulhos, Mairiporã, São Paulo São Paulo São Vicente, Praia Grande Santos Ilhabela Ubatuba Municípios Abrangidos Quadro 12. Área, localização geográfica e municípios abrangidos pelas Unidades de Conservação pesquisadas. 83 4.532,18 EEc Jataí FE Manduri 1.485,14 741,83 2.699,60 EEc Chauás Floresta de Avaré I 106,77 EEc Itapeva 48,40 180,00 EEc Itaberá RE Águas da Prata 2.300,00 154,16 EEc Itirapina EEc Ribeirão Preto 75,26 1.312,38 EEc Assis EEc São Carlos 635,00 2.178,84 EEc Paranapanema EEc Caetetus 884,00 79.270,00 EEC Juréia-Itatins EEC Bananal 22.500,00 150.000,00 PE Ilha do Cardoso PE Jacupiranga 2.359,50 28393,23 PE Campina do Encantado PESM São Sebastião 492,68 Área 35.884,28 37.644,36 Nome da UC PETAR PE Carlos Botelho PE Jaraguá (continuação) 49º03’ a 49º06 46º41’ a 46º43’ 46º41’ a 46º43’ 49º20’ a 49º23’ 21º54’ a 21º57’ 21º54’ a 21º57’ 22º59’ a 23º03’ 49º07’ a 49º09’ 23º50’ a 23º52’ 47º36’ a 47º44’ 47º51’ a 47º55’ 22º11’ a 22º15’ 24º41’ a 24º48’ 47º50’ a 47º52’ 21º12’ a 21º14’ 24º04’ a 24º05’ 48º01’ a 48º02’ 44º19’ a 44º23’ 22º46' a 22º49’ 22º04’ a 22º06’ 47º00’ a 47º31’ 24º17’ a 24º35’ 47º45’ a 47º51’ 48º00’ a 48º35 24º35’ a 25º15’ 21º33’ a 21º38’ 45º24’00” a 45º55’05’’ 47º53’ a 48º05’ 23º36’40’’ a 23º50’05’’ 25º03’ a 25º19’ 49º40’ a 49º44’ 50º21’ a 50º24’ 47º44’ a 47º48’ 24º36’ a 24º41’ 48º44’ a 48º46’ 47º47’ a 48º07’ 24º01’ a 24º15’ 22º22’ a 22º26’ 22º33’ a 22º37’ 48º29’ a 48º44’ 24º16’ a 24º38’ 23º29’ a 23º31’ 46º45’ a 46º47 Longitude Oeste 23º27’ a 23º29’ Latitude Sul Manduri Avaré Águas da Prata Iguape Itapeva Itaberá Brotas, Itirapina Ribeirão Preto Dourado Luís Antônio Alvinlândia, Gália Assis Paranapanema Bananal Barra do Turvo, Cajati, Cananéia, Eldorado Paulista, Iporanga, Jacupiranga Iguape, Itariri, Miracatu, Peruíbe Cananéia Salesópolis, São Sebastião Capão Bonito, São Miguel Arcanjo, Sete Barras, Tapiraí Pariquera-Açu Apiaí, Iporanga São Paulo Municípios Abrangidos 84 2.637,32 EE São Simão 2.650,00 HF Navarro de Andrade 782.622,25 2.379,05 EE Itararé Fonte: ATP/IF 2000b 1.827,61 198,48 EE Tupi EE Itapeva 143,36 EE Araraquara 3.212,81 145,65 EE Mogi Mirim EE Itirapina 2.706,28 258,65 43,09 EE Moji Guaçu EE Jaú EE Bauru 416,36 6.267,73 EE Luiz Antônio EE Bento Quirino 3.167,62 EE Assis 442,09 EE Paraguaçu Paulista Área 494,18 Nome da UC EE Casa Branca (continuação) 47º01’ a 47º05’ 50º34’ a 50º36’ 50º21’ a 50º28’ 47º40’ a 47º51’ 47º34’ a 47º39’ 47º34’ a 47º37’ 49º02’ a 49º03’ 48º34’ a 48º39’ 47º07’ a 47º13’ 46º56’ a 46º58’ 48º10’ a 48º12’ 47º31’ a 47º33’ 47º48’ a 47º51’ 49º03’ a 49º08’ 49º09’ a 49º14’ 47º30’ a 47º34’ 22º21’ a 22º’24’ 22º33’ a 22º38’ 21º31’ a 21º’41’ 21º21’ a 21º’26’ 21º26’ a 21º’28’ 22º18’ a 22º’20’ 22º07’ a 22º’15’ 22º10’ a 22º’18’ 22º26’ a 22º’28’ 21º44’ a 21º’46’ 22º43’ a 22º’44’ 22º11’ a 22º’15’ 24º02’ a 24º’06’ 24º13’ a 24º’19’ 22º22’ a 22º26’ Longitude Oeste 21º45’ a 21º’48’ Latitude Sul Rio Claro Itararé Itapeva Itirapina Piracicaba Araraquara Mogi-Mirim Mogi-Guaçu Jaú Bauru São Simão São Simão Luiz Antônio Assis Paraguaçu Paulista Casa Branca Municípios Abrangidos 85 Figura 03. Distribuição espacial das UCs trabalhadas nesta pesquisa 86 87 Para as oficinas de avaliação produziu-se um questionário objetivo para maior fluidez dos trabalhos coletivos, o que também foi usado nas visitas técnicas como roteiro de investigação. O questionário foi elaborado tendo por base os indicadores e descritores de qualidade expostos no item 3.2.2 mais adiante. Para a verificação das características gerais da paisagem circundante das unidades visitadas, fundamentalmente estado dos ecossistemas, bem como para cotejar a forma e insularidade dessas UCs à pontuação auferida aos respectivos indicadores pelos diretores das áreas, usou-se, além da observação de campo, imagens orbitais LANDSAT 5 TM do banco de imagens da Seção de Inventário Florestal do Instituto Florestal, devidamente adaptadas por Sério2 . 3.2 MÉTODOS Para alcançar os objetivos deste projeto usou-se como referência básica a metodologia elaborada originalmente por Faria (1993), que foi posteriormente melhorada por outros pesquisadores e publicada na forma de manual por Cifuentes, Izurieta e Faria (2000). Este manual é dirigido à autoavaliação a ser praticada pelos diretores e/ou técnicos de dada área protegida, contemplando assim algumas etapas essenciais para quando o procedimento é aplicado sobre uma ou um grupo de UCs. Esta metodologia pressupõe o uso de indicadores previamente selecionados, em consonância com os objetivos de manejo das categorias de gestão das unidades a serem avaliadas, construção de cenários ótimos e atuais para cada indicador e associação dos mesmos a uma escala padrão (Quadro 13). Os indicadores são qualificados tomando-se por base os cenários delineados, os critérios estabelecidos para a avaliação dos indicadores e uma escala padrão para sua quantificação, na qual o maior valor corresponde à melhor situação concebida, o "cenário ótimo", e o menor à pior situação possível de ocorrer no sistema, aquela totalmente em conflito com a gestão da unidade. 2 Sério, Francisco Correa. 2001. Sobreposição dos limites georeferenciados das unidades de conservação sobre imagens orbitais do estado. 88 Quadro 13. Escala para pontuação dos indicadores. Pontuação 0 1 2 3 4 Relação entre situação ótima e atual do indicador ≤ 35 36 – 50 51 – 75 76 – 90 ≥ 91 A determinação da eficácia de gestão é obtida mediante a integração e comparação dos resultados quantitativos auferidos, sintetizados em uma matriz de dupla entrada, tais quais as apresentadas nos Resultados desta Tese. O somatório das maiores pontuações possíveis de serem atribuídas a cada indicador (valor 4) resulta um valor chamado de "total ótimo", que corresponde a 100% do total possível de ser alcançado; por sua vez, o somatório das pontuações alcançadas a partir da análise da situação atual dos indicadores resulta um valor designado como "total alcançado". Comparando-se proporcionalmente estas duas grandezas obtém-se um valor em porcentagem, que correlacionada a uma escala de valoração define o nível de qualidade do manejo. Para um sistema de unidades determina-se o nível de aplicação de políticas e a eficácia da gerência institucional através do mesmo raciocínio. O procedimento original foi desenvolvido usando-se como material de estudo áreas protegidas de proteção integral, mas ainda que Faria (1993), Izurieta (1997) e Soto (1998) tenham concluído que pudessem aplicá-lo sobre qualquer categoria de gestão esses autores usaram somente categorias de gestão voltadas à conservação estrita. Ou seja, para a aplicação sobre categorias de gestão de uso sustentável seria necessário a estruturação de indicadores voltados a essas unidades, o que se realizou através de um teste abarcando algumas dessas unidades de conservação, como veremos mais adiante. O fluxograma geral da aplicação deste procedimento à realidade paulista está esboçado na Figura 04. Um dos aspectos dissimiles entre esta pesquisa e as anteriormente realizadas reside no fato de os autores não terem dado a devida atenção ao estabelecimento de um perfil institucional, um marco de políticas mediante o estudo e descrição detalhada da situação da organização responsável pelas UCs, o que no presente caso se insere na etapa dedicada à obtenção de informações secundárias e primárias. 89 A A 6 < 6 < = = . . 0 0 < < . @ @ / / . 0 < 0 < @ 6 7 @ 7 6 " # " # ! ! $ $ ? . ? . 8 8 7 7 . . @ @ 3 3 9 : 9 : ; ; & " ' & J # " ' 2 J . # J 2 J J . J 7 7 < % 7 7 < % 4 4 B B $ $ ( ( O N . O N . 0 0 . . > 0 > 0 . B . C B C 9 9 & & ' " ' " * ! ! ; ; $ * $ ) ) : . : # 8 $ $ ( / / . ( ( ( . $ $ $ " $ # " 8 . 0 0 & # & " # & & " # " # " $ ! ! $ + % > 3 = + % < > 3 = 6 6 < 1 . . 1 2 . 2 . 3 3 5 4 . 5 4 . " " ! $ ! $ $ - $ ( ( , , & & & & I # # H I G H ! ! F E D ( E D ( F + + G + $ + $ , , 2 4 2 Q 4 Q P P K . : . . . L L K 2 . : 2 . 2 . 2 . M J . 0 0 J 8 M 8 . ; 7 7 ; 2 . 2 . 0 0 6 6 â 8 8 . . A A ; 6 6 ; 4 . 4 . çã . . 9 > 9 > . . çã B B B B 6 6 Figura 04. Fluxograma geral da aplicação do procedimento destinado à avaliação da eficácia de gestão de unidades de conservação, adaptado de Faria (1993) e Cifuentes, Izurieta e Faria (2000). 3.2.1 Marco Institucional O procedimento divulgado por Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) não propõe a necessidade de se estabelecer um marco ou uma visão da organização responsável pelas áreas protegidas, provavelmente por enfocarem o processo de avaliação sobre uma ou poucas unidades de conservação. Na presente pesquisa isto foi imprescindível dada a quantidade de unidades amostrais e a diversidade de 90 situações possíveis de serem encontradas durante o processo de avaliação, sendo que o estabelecimento deste perfil institucional permite homogeneizar a linguagem e informações primárias e secundárias relevantes para esclarecer algumas circunstancias que se apresentem no campo. Para este mister foram revisados documentos de diversas origens, além de informações primárias obtidas de reuniões e entrevistas com técnicos e dirigentes da Instituição. Também foram importantes as discussões travadas entre e com os técnicos nas ‘oficinas de avaliação’, pois nestes espaços as pessoas se encontravam libertas de receios e distantes dos seus chefes imediatos e mediatos. As informações secundárias já existiam, no entanto alguns dados foram de difícil consecução ainda que fossem públicos haja vista que se encontram fragmentadas em razão dos diferentes estilos gerenciais havidos na organização nos últimos anos, fato que resultou na completa desfiguração dos setores internos que deveriam funcionar como fontes naturais de informações. O ideal seria discorrer sobre as diretrizes institucionais para a administração e manejo das áreas protegidas, entretanto isto não foi possível em razão da organização atravessar um momento político delicado por não haverem essas pautas tão esclarecidas como deveria. O que se delineou não é exatamente o perfil institucional, algo que melhor seria executado mediante um grande e envolvente processo de discussão para elucidar as indagações e preencher as lacunas existentes. O que se obteve foi mais uma aproximação ao estado geral da organização, o que de uma maneira muito clara permitiu vislumbrar e ter uma expectativa do que acontece no campo. 3.2.2 Seleção de indicadores e agrupação em âmbitos de gestão A seleção e as agrupações dos fatores ou indicadores incidentes na gestão das áreas protegidas, designado âmbito no procedimento original, além de ser um requerimento metodológico é uma maneira de facilitar a análise do sistema. No presente caso os indicadores foram estabelecidos pelo pesquisador, que procurou ajusta-los e ordena-los aos objetivos da presente pesquisa, tomando por base os trabalhos de Faria (1993), Faria (1997), Izurieta (1997), WWF (1999), Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) e IUCN (2000). Procurando novas contribuições fez-se contato também com o Grupo Costeiro Marinho da UICN-Brasil, que proporcionou cópia do 91 documento Workshop Avaliação e Ações Prioritárias para a Zona Costeira e Marinha: Relatório do Grupo Temático Unidades de Conservação, que trazia algumas sugestões de indicadores, entretanto já contemplados nos trabalhos revisados. Um exercício de avaliação realizado em 1998 abarcando 12 unidades de conservação, conforme os dados apresentados no Apendioce A, serviu para testar a base principal dos indicadores considerados na presente pesquisa3. Esses dados foram obtidos por uma equipe de quatro técnicos mediante a realização de visitas in locu àquelas unidades de conservação, com observações de campo e entrevistas formais com os diretores e funcionários das mesmas. Só não foi possível mensurar aqueles indicadores para o qual foi impossível obter informação ou que simplesmente não incidiam sobre as unidades visitadas. Neste ajuste metodológico, os componentes da gestão, ou âmbitos, usados e apresentados por Cifuentes, Izurieta e Faria (2000) foram rearranjados de acordo com uma convenção assumida pelo pesquisador-autor, principalmente em face da necessidade de sintetizar ainda mais a análise dos n indicadores usados. Por exemplo, os âmbitos Político e Legal fundiram-se em um só. Planejamento, Programas de Manejo, Usos legais e Usos Ilegais a mesma coisa, ainda que o nível de profundidade da análise da compatibilidade dos usos existentes nas UCs não abarque o mesmo detalhamento. O âmbito Ameaças daqueles autores transformou-se em um indicador do componente “Qualidade dos Recursos Protegidos” desta pesquisa, mas não há perda de informações pois aos técnicos das UCs lhes foi solicitada a revelação inicial, nas Oficinas de Avaliação e entrevistas, das ameaças internas e externas conforme as definições adotadas. E os indicadores do âmbito Características Biogeográficas foram incorporados à “Qualidade dos Recursos Protegidos” Em relação ao trabalho e as orientações da IUCN (2000), o “Contexto” é analisado ao se apresentar, antes da avaliação mesma dos indicadores, o “Marco Institucional”, as características da organização gerenciadora, Marco sua missão e ação programática, bem como sua situação atual no enfrentamento dos desafios para desenvolver as UCs; a distribuição espacial das unidades, seus atributos e suas singularidades sistêmicas. “Planejamento e 3 Faria, H. H. de. Avaliação da eficácia de gestão das unidades de conservação do Instituto Florestal. Uma metodologia e resultados preliminares. Reunião Técnica da Divisão de Florestas e Estações Experimentais. Instituto Florestal. Parque Estadual do Morro do Diabo. Dezembro de 1998. Palestra. 92 desenho” é respondido através dos indicadores de “Planejamento e Ordenamento”; aspectos de desenho também estão incorporados em indicadores tais como ‘tamanho’, ‘forma’ e ‘insularidade’, que também provêem indicações da sustentabilidade dos ecossistemas e a possibilidade da mesma manter uma população geneticamente viável à conservação. Por seu turno, o componente “Entradas” está integralmente considerado no âmbito “Administrativo”. Os Processos são analisados por indicadores tais como “autoridade dos funcionários”, “regularidade do repasse ou entrega de recursos financeiros”, “geração de recursos próprios”, “regularização de atividades”, “aplicação e cumprimento de normas legais”, “comunicação interna na UC”, “relacionamentos inter e intra-institucional”, “capacitação de pessoal” entre outros. Para o componente Produtos obtêm-se respostas analisando-se os programas de gestão. Para os Resultados têm-se uma visão a partir da totalidade dos indicadores aplicados à presente pesquisa, bem como através de indicadores específicos tais como a “execução do plano de manejo” e “apoio e participação da comunidade” por exemplo. Deste modo, os âmbitos ou grupos de componentes da gestão definidos para avaliar a eficácia da gestão das áreas protegidas trabalhadas foram: Planejamento e Ordenamento, com 5 indicadores; Administrativo, com 8; PolíticoLegal, com 8; Conhecimentos, com 6 indicadores; Qualidade dos Recursos Protegidos, com 8 e Manejo Florestal com 5 indicadores, totalizando 40 indicadores e 61 quesitos a serem analisados (Quadro 14). Uma observação: não é possível estabelecer uma ordem de importância entre os âmbitos ou mesmo entre os indicadores pertencentes a âmbitos diferentes haja vista que esta importância é relativa e interdependente, pois na falta de algum a gestão falha ou não acontece (Cifuentes, 1992). A descrição dos grupos e dos indicadores é dada na seqüência, sendo que os mesmos serviram de base aos roteiros usados nas reuniões coletivas de avaliação e nas visitas de campo. Em caixa alta e sublinhado estão os nomes dos grupos de indicadores, em caixa alta os indicadores e nos quadros os descritores de qualidade associados à respectiva pontuação. Demarcação de limites Equipamentos e materiais Infra-estrutura Instalações básicas Instalações especiais Salubridade Segurança Acessos Geração de recursos Organização Arquivos Organograma Comunicação interna Normatização Financiamento Financiamento operativo Financiamento extra Regularidade de entrega Corpo de funcionários Quantidade Qualidade do pessoal Motivação do pessoal Atitudes Apresentação Autoridade Administrador Administração Uso público Pesquisa Proteção Manutenção Programas de manejo (Existência e execução) Respaldo ao pessoal Compatibilidade dos Usos (legais e ilegais) Recreação Turismo Educação Pesca Exploração madeireira Agricultura Pecuária Outros. Aplicação e cumprimento de normas Capacitação Situação fundiária Diploma de criação Apoio interinstitucional Apoio intrainstitucional Apoio e participação comunitária Político-Legal Zoneamento da área Nível de planejamento Plano operativo anual Plano de manejo Existência e atualidade Equipe de planejamento Método Execução do plano Planejamento Ameaças Compatibilidade do Uso do entorno com objetivos Exploração de recursos na unidade Integridade das cabeceiras das bacias Áreas alteradas Insularidade Forma Qualidade de Recursos Tamanho Quadro 14. Indicadores adotados para avaliar a eficácia de gestão de unidades de conservação. Monitoramento e Retroalimentação Pesquisas e projetos Informação Legal Informação Cartográfica Informação Biofísica Informação Socioeconômica Conhecimento Fitossanidade Produtividade Florestas melhoradas Inventário Existência, atualidade e uso Manejo Florestal (Apenas UCUS) Manejo continuado 93 94 Âmbito Planejamento e Ordenamento Este grupo de indicadores procura descortinar a existência de instrumentos de planejamento, que proporcionem diretrizes sólidas para o alcance dos objetivos programáticos e mecanismos e meios que controlem e cumpram a função de ordenar as várias atividades desenvolvidas. Sem um perfeito planejamento das ações que se deseja implementar é pouco provável lograr-se bons resultados, entendendo-se o planejamento como um processo contínuo de formular, revisar e e aprovar objetivos propostos, tentando-se prever ou ter o futuro sob controle, aproveitando as oportunidades para solucionar os conflitos do meio resistente. Isto não é a panacéia do manejo de áreas protegidas mas uma ferramenta imprescindível e consagrada, que a administração deve ter em mãos para o perfeito ordenamento das suas ações. Plano de manejo – refere-se à existência, atualidade e uso de instrumento de planejamento que aponte as diretrizes para a gestão e manejo da unidade de conservação, integrando os elementos indispensáveis para a condução de ações que visem o atingimento de objetivos de conservação específicos. Na atualidade prima-se para que os planos de gestão sejam elaborados por equipe interdisciplinar, mas preferencialmente com a participação dos atores impactados pela existência da área protegida, tornando o plano mais transparente à sociedade com maiores chances de efetiva implementação. Entende-se por planejamento o processo contínuo de formular, revisar, aprovar e perseguir objetivos, tentando prever ou ter o futuro sob controle, aproveitando oportunidades para solucionar os conflitos do meio resistente. Existência e atualidade do plano de manejo Existe um plano de manejo que foi elaborado ou revisado nos últimos anos e que é implementado pela administração da área A área está passando por um processo final de elaboração do plano ou trabalha-se em sua revisão Há um plano com mais de 5 anos sem revisão, ou estudos básicos visando sua elaboração, ou existe algum outro instrumento de planejamento que orienta as atividades de manejo da unidade Há somente um plano de manejo muito desatualizado (> 10 anos) que a direção da área já não utiliza Não há plano de manejo nem perspectivas de sua elaboração 4 3 2 1 0 95 Características da equipe de planejamento Equipe interdisciplinar com participação da comunidade Equipe interdisciplinar Plano elaborado em grupo mais comunidade Plano elaborado em grupo Plano elaborado individualmente 4 3 2 1 0 Execução do plano Plano executado em 90% ou mais do planejado Plano executado entre 75% e 90% do planejado Executado entre 50% e 75% do planejado Só se conseguiu executar 35% a 50% do plano Menos de 35% do proposto no plano foi executado 4 3 2 1 0 Zoneamento – refere-se à existência, conhecimento e respeito de algum delineamento físico dos recursos da área protegida, de acordo com seus atributos e a capacidade de uso de cada uma das zonas estabelecidas. Ainda que o zoneamento de uma área protegida esteja quase sempre contemplado nos planos de manejo, é importante considerar se o desenho existe e se é atual, se foi concebido segundo os estudos mínimos necessários e se incorpora conhecimentos e conceitos técnicos atualizados que conduzam à normas de uso claras e adequadas para cada zona. Existe um sistema de zoneamento definido, cujo delineamento incorpora modernos conhecimentos e conceitos técnico-científicos; a regulamentação está estabelecida e os funcionários conhecem devidamente as regras de uso impostas às zonas Há as condições acima expostas, porem o zoneamento não é conhecido ou tomado em conta pela totalidade dos funcionários da área O zoneamento existente tem algum tempo de implantação, necessitando passar por uma revisão criteriosa devido as mudanças ocorridas (se a área está sendo replanejada, a ponderação pode ser neste nível) O zoneamento proposto para a área é muito desajustado da realidade e as zonas são pouco reconhecidas e aceitas entre os funcionários; suas normas não condizem com os usos e atividades atuais Não há nenhum tipo de zoneamento na área 4 3 2 1 0 Nível de planejamento – este indicador refere-se ao uso de técnicas e rotinas de planejamento compatíveis à complexidade da unidade e se os instrumentos oriundos desta prática são realmente utilizados no dia-a-dia dos programas específicos. Um dos critérios a observar é a existência de instrumentos de planejamento alternativos ou especiais como os planos operativos (PO), planos de desenvolvimento de sitio, planos de pesquisa, etc. considerando ainda que a 96 integração programática é o cenário mais desejável para todas as categorias de gestão. Todos os programas ou atividades desenvolvidas na área têm seus planos específicos sob a orientação de um plano geral; os planos específicos integram-se nos planos operativos anuais A área conta com Plano de Manejo e operativo, porém nem todos os programas ou atividades possuem planos específicos; a área tem amplas perspectivas de melhorar a utilização de instrumentos de planejamento Plano de Ação Emergencial elaborado e com Plano de Manejo pouco atualizado Unidade não possui Plano de Manejo mas segue diretrizes de manejo emanadas das oficinas centrais (1/30 para o manejo sustentado das florestas plantadas) A área possui o Plano de Manejo e operativo junto com alguns documentos que podem ser considerados linhas mestras para algumas atividades PAE elaborado para a unidade que nunca teve Plano de Manejo A área possui somente o Plano de Manejo muito desatualizado, ou este encontram-se em processo de revisão; os técnicos da área necessitam melhorar seus conhecimentos sobre planejamento como instrumento para o manejo inteligente da unidade A área carece totalmente de instrumentos de planejamento 4 3 3 2 2 1 1 0 Compatibilidade dos usos com os objetivos da unidade – Ao avaliar os usos existentes numa determinada área protegida, como elemento da análise da gestão, se estabelece uma relação que mede a correspondência dos procedimentos de manejo e o uso dos recursos com os objetivos da unidade, aspecto que está vinculado à definição conceitual da categoría de gestão, em conformidade com os padrões de classificação aceitos nacional e internacionalmente. Isto contempla uma importância vital ao se avaliar a eficácia de gestão pois quando os usos são incompatíveis eles podem vir a se tornar ameaças ao cumprimento dos objetivos da área protegida. Vários autores descrevem a compatibilidade e incompatibilidade dos usos de acordo com as diversas categorías de manejo existentes. Tanto os usos legais como ilegais são avaliados de acordo com a categoria de manejo, as características próprias da UC e a incidência dos usos sobre os recursos. As sub-variáveis podem ser: Extração de madeira, extração de recursos naturais não renováveis, extração de flora e fauna, depredação de recursos culturais, caça, agricultura, pecuária, pesca, recreação e turismo, construção de infra-estrutura, extração de madeira, extração de material pétreo, outros. 97 Usos compatíveis, de acordo com a capacidade instalada e de suporte da área e sob bom manejo técnico e administrativo Usos compatíveis, de acordo com a capacidade instalada e com manejo técnico-administrativo aceitável Usos compatíveis, sobre utilizado de acordo com a capacidade instalada e de suporte da unidade e com manejo técnico-administrativo deficiente Usos compatíveis, sobre utilizado e sem manejo técnico-administrativo Usos incompatíveis e de incidência reduzida sobre os recursos protegidos Usos incompatíveis e de incidência mediana sobre recursos, comunidades ameaçadas ou em perigo Usos incompatíveis e de elevada incidência, com destruição e perda de recursos 4 3 2 1 2 1 0 Programas de manejo – são importantes em qualquer processo de avaliação ou diagnóstico da gestão pois referem-se aos resultados de um processo de planejamento, devendo constituir o ‘que fazer’, ‘como fazer’ e ‘quem vai fazer’ para cumprir os objetivos específicos de cada setor de desenvolvimento da unidade, entendendo-se ainda que a implementação dos programas é a máxima expressão do esforço local e institucional (organizacional) visando a efetiva implantação da área. Deste modo, a estrutura programática e o grau de execução das metas estabelecidas são dois critérios indispensáveis a serem observados. Programa de Proteção O programa está bem estruturado, abarca todas as ações e atividades para atingir seus objetivos específicos no intuito de alcançar os objetivos da unidade e as atividades desenvolvem-se normalmente O programa está estruturado, porém nem todas as atividades planejadas são possíveis de serem realizadas; somente as principais caminham normalmente O programa é parcialmente estruturado, carecendo de insumos específicos para alcançar o nível desejável e necessário frente a seus objetivos Algumas atividades inerentes são executadas, mas o programa não existe ou as condições são muito precárias para seu desenvolvimento Não existe o programa ou atividades relacionadas 4 3 2 1 0 Execução do Programa de Proteção ≥90% das atividades planejadas tem sido executadas 76-89% das atividades planejadas tem sido executadas 51-75% das atividades planejadas tem sido executadas 36-50% das atividades planejadas tem sido executadas ≤35% das atividades planejadas tem sido executadas 4 3 2 1 0 98 Programas de Manutenção O programa está bem estruturado, abarca todas as ações e atividades para atingir seus objetivos específicos no intuito de alcançar os objetivos da unidade e as atividades desenvolvem-se normalmente O programa está estruturado, porém nem todas as atividades planejadas são possíveis de serem realizadas; somente as principais caminham normalmente O programa é parcialmente estruturado, carecendo de insumos específicos para alcançar o nível desejável e necessário frente a seus objetivos Algumas atividades inerentes são executadas, mas o programa não existe ou as condições são muito precárias para seu desenvolvimento Não existe o programa ou atividades relacionadas 4 3 2 1 0 Execução do Programa de Manutenção ≥90% das atividades planejadas tem sido executadas 76-89% das atividades planejadas tem sido executadas 51-75% das atividades planejadas tem sido executadas 36-50% das atividades planejadas tem sido executadas ≤35% das atividades planejadas tem sido executadas 4 3 2 1 0 Programa de Educação Ambiental O programa está bem estruturado, abarca todas as ações e atividades para atingir seus objetivos específicos no intuito de alcançar os objetivos da unidade e as atividades desenvolvem-se normalmente O programa está estruturado, porém nem todas as atividades planejadas são possíveis de serem realizadas; somente as principais caminham normalmente O programa é parcialmente estruturado, carecendo de insumos específicos para alcançar o nível desejável e necessário frente a seus objetivos Algumas atividades inerentes são executadas, mas o programa não existe ou as condições são muito precárias para seu desenvolvimento Não existe o programa ou atividades relacionadas 4 3 2 1 0 Execução do Programa de Educação Ambiental ≥90% das atividades planejadas tem sido executadas 76-89% das atividades planejadas tem sido executadas 51-75% das atividades planejadas tem sido executadas 36-50% das atividades planejadas tem sido executadas ≤35% das atividades planejadas tem sido executadas 4 3 2 1 0 Programas de Interpretação ambiental O programa está bem estruturado, abarca todas as ações e atividades para atingir seus objetivos específicos no intuito de alcançar os objetivos da unidade e as atividades desenvolvem-se normalmente O programa está estruturado, porém nem todas as atividades planejadas são possíveis de serem realizadas; somente as principais caminham normalmente O programa é parcialmente estruturado, carecendo de insumos específicos para alcançar o nível desejável e necessário frente a seus objetivos Algumas atividades inerentes são executadas, mas o programa não existe ou as condições são muito precárias para seu desenvolvimento Não existe o programa ou atividades relacionadas 4 3 2 1 0 99 Execução do Programa de Interpretação Ambiental ≥90% das atividades planejadas tem sido executadas 76-89% das atividades planejadas tem sido executadas 51-75% das atividades planejadas tem sido executadas 36-50% das atividades planejadas tem sido executadas ≤35% das atividades planejadas tem sido executadas 4 3 2 1 0 Programas de Pesquisa O programa está bem estruturado, abarca todas as ações e atividades para atingir seus objetivos específicos no intuito de alcançar os objetivos da unidade e as atividades desenvolvem-se normalmente O programa está estruturado, porém nem todas as atividades planejadas são possíveis de serem realizadas; somente as principais caminham normalmente O programa é parcialmente estruturado, carecendo de insumos específicos para alcançar o nível desejável e necessário frente a seus objetivos Algumas atividades inerentes são executadas, mas o programa não existe ou as condições são muito precárias para seu desenvolvimento Não existe o programa ou atividades relacionadas 4 3 2 1 0 Execução do Programa de Pesquisa ≥90% das atividades planejadas tem sido executadas 76-89% das atividades planejadas tem sido executadas 51-75% das atividades planejadas tem sido executadas 36-50% das atividades planejadas tem sido executadas ≤35% das atividades planejadas tem sido executadas 4 3 2 1 0 Âmbito administrativo Está relacionado à capacidade institucional para gerir os recursos protegidos, o que depende diretamente das condições objetivas e dos instrumentos que a área dispõe para conduzir a aplicação das políticas e metas estabelecidas para a unidade. Assim, neste grupo são inseridos componentes tais como recursos humanos e sua qualidade inerente, equipamentos em geral, infraestrutura, procedimentos administrativos e organizacionais, financiamento entre outros. Alguns autores consideram que este grupo de indicadores o mais imprescindível para que as funções básicas dirigidas às UCs sejam realizadas Administrador – O administrador da área é o encarregado da direção e condução da gestão da área. É muito provável que sem um responsável geral a anarquia se estabeleça, impedindo que a eficiência de uso dos recursos não 100 aconteça e a eficácia se perca nos conflitos dos interesses humanos. Há que se valorar aspectos que não dependam da opinião direta do diretor ou administrador. Dentre as características possíveis de avaliar estão o nível acadêmico, o nível de treinamento, a presença na unidade e a iniciativa para administrar e solucionar conflitos da área. A permanência na área é pontuada segundo os resultados das entrevistas com funcionários da área e observação do comportamento do diretor. A iniciativa pode ser valorada com base nas opiniões dos superiores e dos subalternos do diretor, como também na forma como este reage ante situações imprevistas ou emergentes. É importante ter claro que a capacidade profissional (capacitação e iniciativa) precisa Ter mais peso que a permanência no sitio pois esta última está condicionada às necessidades de coordenação fora da unidade. No caso da auto-avaliação deve-se alertar para a necessidade de honestidade das respostas. Nível universitário ou mestrado com cursos de especialização, iniciativa alta a média e elevado índice de presença na unidade Universitário com cursos de especialização, iniciativa média a alta, presença média a alta nos sítios de trabalho Universitário, iniciativa média a alta e média presença no local de trabalho Nível técnico, iniciativa média a baixa e média a baixa presença local Técnico com baixa iniciativa na solução de problemas, presença local baixa Universitário com cursos de especialização, iniciativa média e presença média a alta na unidade Universitário com cursos de especialização, iniciativa média e presença local média a alta Técnico com cursos de especialização, iniciativa média a alta na solução de conflitos, índice de presença médio no local de trabalho 4 3 2 1 0 2 2 2 Corpo de funcionários – este grupo de sub-indicadores procura estabelecer um perfil geral dos funcionários disponíveis para a gestão da unidade, entendendo-se que estão envolvidos fatores como quantidade, capacitação, experiência, motivação, apresentação física dos mesmos, suas atitudes frente às atividades a desenvolver, etc. Quantidade de pessoal – É indiscutível que qualquer área protegida precisa de uma mínima quantidade de trabalhadores para que a gestão aconteça a bom termo. Entende-se que o diretor e encarregados de setores das UCs são os profissionais que sabem definir as necessidades de pessoal. Para a atribuição da pontuação compara-se a quantidade ótima necessária com a 101 quantidade total de pessoal existente. Os critérios para a definição da quantidade atual está na dependência de quem faz a análise: pode-se entender a quantidade atual como o número total de pessoas envolvidas nas atividades de gestão, incluindo-se estagiários, contratos pontuais, efetivos, etc; ou não. Isto irá depender da estabilidade administrativa e política da organização. A pontuação é feita comparando-se percentualmente o total ótimo, atribuído pela administração da unidade ou outra técnica eleita, e a quantidade de funcionários disponíveis. ≥ 90% do ótimo 76% - 89% do ótimo 51% - 75% do ótimo 36% - 50% do ótimo ≤ 35% do ótimo 4 3 2 1 0 Qualidade dos funcionários – este indicador procura descortinar qual o nível de qualidade do corpo de funcionários, sendo usados critérios relativos à escolaridade, as iniciativas pessoais e experiência. A dificuldade aqui reside em qualificar a iniciativa dos funcionários, aspecto que pode ser feito mediante a observação das evidências sobre as atitudes diárias do grupo, se existe tempo hábil para tal, e perguntas diretas aos superiores e ao grupo, entretanto há que se cuidar para não incorrer em falsas interpretações, pois a iniciativa esta diretamente relacionada ao grau de autonomia e capacitação. Escolaridade alta ou média, capacitação alta, alta experiência Escolaridade alta ou média, capacitação alta, média experiência Escolaridade média, capacitação média, experiência baixa Escolaridade baixa, capacitação média, experiência baixa Escolaridade baixa, capacitação baixa, sem experiência Escolaridade baixa, capacitação alta, experiência alta Escolaridade alta, capacitação média, experiência baixa 4 3 2 1 0 3 2 Motivação do pessoal – refere-se ao entusiasmo funcional para o desenvolvimento das tarefas diárias e está relacionado diretamente com o sentimento intrínseco do funcionário quanto ao fazer parte da organização e se sentir importante para ela. 102 Motivação muito elevada, os funcionários respondem com entusiasmo às atividades e estão satisfeitos com as condições de trabalho Motivação elevada, mas os funcionários sentem que faltam algumas condições de trabalho fáceis de serem alcançadas Motivação moderada, os funcionários executam suas funções mas com sentimento generalizado de insatisfação quanto às condições de trabalho Motivação baixa; há pouco entusiasmo para o trabalho e os funcionários sentem-se abandonados pela instituição Sem motivação; não há entusiasmo para o trabalho e as condições são insatisfatórias 4 3 2 1 0 Apresentação do pessoal – verifica se os funcionários possuem uniformes que os identifiquem ou que lhes proporcionem segurança no trabalho. Neste último caso os elementos a serem observados ou avaliados é a existência e uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Uniforme completo que caracteriza muito bem o funcionário Falta algum componente do uniforme Falta mais de um elemento ou componente do uniforme Faltam muitos elementos do uniforme ou apresentam-se em mal estado Não há um padrão de apresentação que possibilite identificação 4 3 2 1 0 Atitudes pessoais dos funcionários – este sub-indicador mantém estreita relação com o grau de motivação e as condições existentes para se desenvolver as tarefas na unidade, sendo necessário para sua avaliação a busca de evidências sobre a atenção ao trabalho e como ocorre suas relações com os demais atores da gestão. Funcionários respondem sempre positivamente aos usuários e seus colegas(superiores e subalternos) Funcionários usualmente mantém postura educada e respeitosa aos usuários e colegas Há casos isolados de falta de respeito ou mau tratos aos usuários da área e colegas Funcionários não tem um padrão de comportamento adequado para com os usuários e/ou colegas Há uma postura de descaso com os usuários e más relações entre funcionários 4 3 2 1 0 Autoridade dos funcionários – procura evidenciar se os trabalhadores disponíveis na área protegida possuem mandato para fazerem cumprir as diversas atividades e funções relativas à proteção e conservação dos recursos. Atualmente isto pode ser comum em face da “terceirização” de alguns serviços 103 básicos, como no caso das atividades de proteção, ou mesmo no caso de funcionários desviados de suas funções legais. Não há dúvidas das atribuições e autoridade dos funcionários frente ao manejo O funcionário possui autoridade, porém existe necessidade de adequá-la à realidade política da região O funcionário possui alguma autoridade oficial, mas esta não está devidamente esclarecida ou evidenciada institucionalmente O funcionário encontra muitas dificuldades para impor sua autoridade no dia-a-dia do manejo da área, principalmente pela falta de claridade de seu papel institucional Os funcionários não tem nenhuma autoridade institucionalizada 4 3 2 1 0 Financiamento (operativo e de manutenção) – procura descortinar a situação em relação aos recursos financeiros necessários para se fazer a gestão integrada da unidade. Avalia-se através das quantidades recebidas num determinado período, comparando-as com o ‘ótimo’ informado pela direção e/ou atores envolvidos . A área recebe 90% ou mais do ótimo A área recebe entre 76 % e 59 % do ótimo A área recebe entre 51 % e 75 % do ótimo A área recebe entre 36 % e 50 % do ótimo A área recebe 35 % ou menos do ótimo Regularidade de 4 3 2 1 0 entrega de recursos – procura verificar a capacidade administrativa da organização para manter um fluxo constante e periódico de recursos, de maneira tal que possibilite ao pessoal de campo planejar e executar com sucesso as tarefas de curto prazo. Deve-se considerar as transferências ou a capacidade de cumprir o cronograma orçamentário estipulado. Regularidade de entrega de adiantamentos (p.e. mensais) A unidade recebe sempre regularmente no período ou datas estabelecidas pela administração central Recebe com variações ocasionais Há entrega com alguma regularidade, com variações previsíveis Há pouca regularidade de entrega, dificultando a execução do planejado A entrega de verbas é totalmente irregular Financiamento extraordinário – refere-se à 4 3 2 1 0 capacidade institucional ou da fonte de financiamento de cobrir gastos imprescindíveis e 104 emergenciais, como por exemplo nos casos de incêndios, catástrofes naturais, eventos, etc. Há grande capacidade para cobrir gastos imprevisíveis e emergenciais, com rapidez e agilidade A Instituição mantém um Fundo Especial que é acionado sem dificuldades em situações de emergência Há moderada capacidade para suprir tais demandas e a rapidez e agilidade são comprometidas pelos excessos burocráticos As situações emergenciais são solucionadas, mas os processos e tempo requeridos são desalentadores Não há nenhuma capacidade para solucionar os assuntos relativos a emergências financeiras 4 3 2 1 0 Geração de recursos próprios – refere-se à capacidade legal, administrativa e financeira destinada a gerar recursos econômicos próprios que possam ser utilizados ou retornem à unidade. A Unidade conta com mecanismos legais e administrativos para gerar recursos, que são revertidos sem dificuldades para o seu manejo (na totalidade ou um porcentual) A Unidade conta com mecanismos legais e administrativos para gerar recursos, mas a reversão dos mesmos ou parte deles para o manejo é demorada em razão do aparelho burocrático institucional A Unidade conta com mecanismos legais para gerar recursos mas sua estrutura administrativa deficitária, aliada à burocracia institucional, dificulta os processos de reversão de recursos A Unidade não conta com mecanismos legais para gerar recursos, ainda que sua estrutura operacional seja condizente com tais diretrizes A Unidade não conta com mecanismos legais para gerar recursos e sua estrutura operacional a impede de fazê-lo 4 3 2 1 0 Organização interna – este grupo de sub-indicadores procura revelar se a unidade possui uma mínima estrutura organizacional que permita o desenvolvimento das tarefas diárias de modo eficiente. Arquivos – refere-se à existência, funcionalidade e disponibilidade de informação a respeito do movimento financeiro e administrativo. Há um sistema de arquivos, complexo e funcional com amplas informações sobre a área e assuntos pertinentes Os arquivos são simples mas suficientemente completos para proporcionar um bom suporte à administração Os arquivos são incompletos, sem a devida ordem que permita a funcionalidade mínima requerida Há os arquivos, porém mal acondicionados, desorganizados e incompletos Não há sistema de arquivos de documentos 4 3 2 1 0 105 Organograma interno – procura distinguir a existência e a adequação de um instrumento que viabilize um estrutura orgânica e funcional, mediante critérios de clareza e autonomia proporcionada à rede de comando da unidade. Organograma claro que contempla todos os objetivos de manejo da área, mostrando e determinando uma adequada autonomia de decisões internas para os diversos níveis e postos Organograma claro correspondendo bem às atividades programáticas da área, com suficiente grau de autonomia para os diversos níveis e postos Organograma definido de acordo com as atividades da área, porém ocasionalmente ocorrem sobreposições de responsabilidades pela falta de clareza do instrumento O organograma demonstra falhas estruturais significativas em relação aos objetivos da área, sendo possível observar pouco seguimento prático do mesmo Não existe ou é pouco claro Regularização de atividades – refere-se à existência 4 3 2 1 0 de procedimentos e normas que devem guiar os trabalhos de administração (compras, contratação de pessoal e serviços, trâmite de documentos, etc.), atividades burocráticas rotineiras e dos funcionários, permitindo o controle integrado desses componentes. Há um sistema unificado, moderno e flexível para normatização dos procedimentos que permite a administração uma perfeita condução e controle das atividades desenvolvidas na área O sistema não apresenta integração de todas as atividades, porém é satisfatório em vista da flexibilidade e controle do sistema sobre as principais atividades administrativas Existe moderada normatização de atividades, havendo necessidade de integrar e esclarecer a estrutura existente para melhor controle das atividades A área apresenta normatização de poucas atividades e todavia não há estrutura requerida para que tais normas cumpram a função de controle Não é possível identificar normas de controle administrativo na área 4 3 2 1 0 Comunicação interna – destina-se a avaliar à maneira como as informações são transmitidas aos funcionários a respeito do planejamento e execução das tarefas diárias, aspecto que vai depender diretamente da estrutura existente e as características da unidade tamanho da UC, localização, pressões, etc,). (quantidade de pessoal, programas, 106 Há um adequado fluxo de informações entre direção e funcionários que ocorre através de meios desenvolvidos ou adotados para este fim, o que permite a participação dos funcionários na gestão A comunicação entre direção e funcionários ocorre satisfatoriamente ainda que não existam meios formais para este fim A comunicação entre as partes é improvisada nos encontros de rotina e esporádicos, mas observa-se certa harmonia entre estas condições e as necessidades da unidade Há pouca comunicação entre direção e alguns setores dos funcionários, o que se reflete em conflitos internos e baixo rendimento coletivo Não há contato entre direção e funcionários, fato que impede o razoável desenvolvimento das atividades 4 3 2 1 0 Infra-estrutura – procura-se verificar se a infra-estrutura existente está adequada à demanda atual e se abarca os programas e/ou atividades desenvolvidas. É muito importante observar-se o estado de higiene, salubridade e segurança que possuem as instalações físicas, e em alguns casos se elas estão harmonizadas com o ambiente (Alojamento-hospedaria, centro de visitantes, trilhas, sinalização, sede administrativa, guaritas, trapiche, quiosques, etc.). A infra-estrutura está totalmente adequada às necessidades atuais da unidade em quantidade e qualidade As estruturas existentes não são suficientes em quantidade mas possuem qualidade satisfatória que permite atender a maioria das atividades da UC Faltam algumas instalações para programas especiais, mas a unidade possui sede administrativa Há necessidade de redimensionamento e melhoria das instalações, dada a demanda atual e o estado geral das mesmas. A unidade possui apenas sede administrativa. As estruturas são insuficientes e de moderada qualidade. A área carece de instalações essenciais para seu manejo e com sede administrativa parcial As estruturas são insuficientes ede baixa qualidade Sem nenhuma infra-estrutura; não há um ambiente de trabalho adequado para gerenciar os recursos da área. 4 3 3 2 2 1 1 0 Equipamentos e materiais – diz respeito a existência, adequação e condições de conservação dos equipamentos para transporte, comunicação interna e externa, escritório, fiscalização e proteção, material de consumo, etc. A unidade possui todos os equipamentos e materiais necessários para sua plena operação em perfeitas condições de uso Os equipamentos e materiais suprem as demandas, mas as condições de conservação estão medianamente comprometidas Possui transporte e comunicação em boas condições e parte dos demais equipamentos e materiais necessários Possui parte dos equipamentos e materiais necessários para o funcionamento da unidade Possui equipamento mas não possui material de consumo e/ou vice-versa Nenhum equipamento e material para trabalho 4 3 3 2 1 0 107 Aceiros e carreadores – são barreiras físicas destinadas à prevenção e controle de incêndios florestais, sendo necessários naquelas unidades situadas em regiões mais áridas. ≥ 90% dos aceiros e carreadores estão em perfeito estado de conservação (roçados ou gradeados e sem erosões) 76% - 89% 51% - 75% 36% - 50% ≤ 35% 4 3 2 1 0 Demarcação física da UC – refere-se à porcentagem do perímetro da unidade que encontra-se demarcado comparado ao perímetro demarcável. As partes do perímetro que possuem limites naturais não precisam entrar no calculo. ≥90% do perímetro esta demarcado 76-89% do perímetro esta demarcado 51-75% do perímetro esta demarcado 36-50% do perímetro esta demarcado ≤35% do perímetro esta demarcado 4 3 2 1 0 Âmbito Político-Legal Este âmbito procura averiguar se existe ou não uma sólida base que dirija a gestão e se as unidades correspondem a essas políticas ditadas ou adotadas pela organização. Considerando que as políticas institucionais também podem ser avaliadas através de indicadores presentes em outros âmbitos, é recomendável usar aqui somente aqueles de elevada concreção institucional, que representem as políticas ou são conseqüência direta da sua aplicação, ou não. Há que se reconhecer que é muito difícil avaliar políticas de uma organização tendo por base uma escala de pontuação, sendo então necessário usar meios indiretos, avaliando aspectos que reflitam a existência e a aplicação das mesmas. As políticas quase nunca estão traduzidas em documentos oficiais, sendo geralmente diretrizes gerais que dirigem as ações dos governos, as instituições e as pessoas, representando o nível máximo de concreção da posição doutrinária do governo. Aqui a questão política refere-se à congruência das ações intra e interinstitucionais que refletem, de certo modo, a existência e cumprimento de políticas gerais dirigidas à conservação da biodiversidade encerrada nas UCs. Por outro lado, um programa de conservação de áreas protegidas necessita que as políticas sejam traduzidas em instrumentos para 108 que as mesmas sejam cumpridas. Assim, a legislação é a ferramenta que promove a jurisprudência institucional sobre a área protegida e as respectivas ações desenvolvidas para a conservação dos recursos. Instrumento legal de criação da unidade – refere-se à existência de um instrumento jurídico específico que garanta a inalienabilidade e permanência da área protegida, segundo as Leis do estado no qual esta inserida. O instrumento jurídico de criação da área é do mais alto nível, encontrando-se atualizado e devidamente regulamentado, em conformidade com as necessidades para o manejo O nível do instrumento jurídico de criação da área é satisfatório e encontra-se regulamentado, porém o mesmo necessita adequar-se aos conceitos teóricos sobre o assunto e à realidade política nacional e regional O instrumento tem moderado poder em nível de país, ainda que garanta a existência e permanência da área; há necessidade de adequação a conceitos e realidades atuais O instrumento jurídico de criação da área é muito inadequado pelo pouco poder que tem, constituindo uma ameaça potencial à permanência da área a longo prazo A área não possui nenhum instrumento jurídico de criação 4 3 2 1 0 Aplicação e cumprimento de normas – reporta-se ao cumprimento das leis e normas por parte dos usuários da unidade e aos esforços dos funcionários para fazer com que sejam cumpridas. As leis e normas relacionadas à UC são cumpridas pelos usuários e os funcionários são orientados e se esforçam para isto São cumpridas pela maioria dos usuários; os funcionários realizam a divulgação e as fazem cumprir com relativa facilidade São cumpridas com algum grau de dificuldade apesar da divulgação e empenho dos funcionários São cumpridas com muita dificuldade e os funcionários se limitam a realizar algum controle e esporádicas divulgações para propiciar seu cumprimento São raramente cumpridas pelos usuários; há pouco esforço dos funcionários para este intento 4 3 2 1 0 Situação fundiária – entende-se como o sistema de relações jurídicas que permite e assegura o domínio institucional sobre a superfície total da unidade, seja ela pública ou privada. ≥ que 90% da área declarada está sob domínio da instituição 76% - 89% da área declarada está sob domínio da instituição 51% - 75% da área declarada está sob domínio da instituição 36% - 50% da área declarada está sob domínio da instituição ≤ que 35% da área declarada está sob domínio da instituição 4 3 2 1 0 109 Apoio e participação comunitária - é definido pela existência de uma relação positiva entre a comunidade e a área, entendendo-se que ambos componentes ganham com esse tipo de relação. Há mecanismos formais de participação comunitária e o apoio dos vizinhos da área é inquestionável; há uma grande geração de benefícios diretos à comunidade Não há mecanismos que garantam a participação comunitária, porém ocorre participação informal dos líderes comunitários em sua gestão; devido aos laços criados, há um grau de mediano a alto em termos de geração de benefícios Existe ajuda mútua entre a administração e comunidade, porém esta não participa no planejamento e manejo da área, ainda que preste apoio para a sua permanência; a geração de benefícios é media Não há cooperação entre a administração e comunidade, porém os vizinhos reconhecem parcialmente o valor intrínseco da área; os benefícios são poucos Não há nenhuma forma de cooperação, nem reconhecimento ou apoio comunitário pela área; os benefícios diretos quantificáveis ou perceptíveis são muito baixos ou não existem 4 3 2 1 0 Apoio e/ou relacionamento Interinstitucional - refere às relações da área com outras instituições e organizações governamentais, privadas ou comunitárias, tendendo a solucionar problemas de manejo e participar no desenvolvimento integrado da região. Muitas vezes a existência de boas relações entre as organizações de atuação local fazem com que diminua a dependência da UC para com as oficinas centrais da instituição responsável, além de diminuir as deficiências do isolamento institucional. A) Jurisdição e papel institucional definidos; B) Há coordenação com outros órgãos de atividades conjuntas para solução de problemas; C) Há intercâmbio de informações, experiência e recursos; D) Não há desenvolvimento de projetos setoriais conflitivos ou incompatíveis com os objetivos da área A definido, e existência de B com maior intensidade que C A definido, e existência de B com menor intensidade que C Somente a circunstância A está definida Ocorrem projetos setoriais conflitivos com os objetivos da área e as situações A, B e C não são claras 4 3 2 1 0 Respaldo ao pessoal/Plano de carreira – procura descortinar a existência de mecanismos que promovam incentivos reais e uma progressão funcional gradual, que estimula a permanência no serviço e proporciona ânimo para o trabalho. 110 Os funcionários contam com planos de carreira com progressão gradual que estimula permanência no serviço e proporciona ânimo para o trabalho Há plano de carreira incipiente e desajustado da realidade. Há incentivos de acordo com as atividades desenvolvidas pelo funcionário Não há plano de carreira, porém esforço institucional para sua constituição, com previsão de curto-médio prazo para seu alcance. Ocorrem incentivos esporádicos e seletivos Não há um plano de carreira e nenhuma previsão de mudanças. Ocorrem incentivos e apoio ocasionais Não há planos de carreira nem incentivos ao pessoal 4 3 2 1 0 Programa de capacitação – existência de um programa estruturado especificamente voltado para melhorar a atuação funcional e valorizar o corpo de funcionários nos vários níveis de cargos e salários. Há um programa de capacitação organizado que é cumprido eficientemente para a especialização dos funcionários Há um plano que não é executado em sua totalidade, mas os funcionários recebem satisfatória cota de treinamento Não há um programa oficial regular mas os funcionários recebem certo grau de informações relevantes para o manejo da unidade Há um programa documentado e oficial, porém não é ativo ou sofre problemas que impedem o seu desenvolvimento mínimo Não existe o programa nem perspectivas de implantação 4 3 2 1 0 Apoio ou facilitação intra-institucional – refere-se a fatores relacionados ao apoio institucional rotineiro dado à unidade de conservação de maneira tal que facilite a gestão e transmitam segurança na implementação das atividades. Ainda que muitos dos elementos introduzidos como indicadores estejam dentro das responsabilidades da organização, é necessário dar enfoque especial a esta variável pois ela pode traduzir a percepção dos técnicos de campo em relação a este quesito. Deve ser qualificado mediante a observação de aspectos como a capacidade de assistir tecnicamente a UC nos campos jurídico, planejamento, monitoramento, administrativo, etc.; a autonomia proporcionada aos diretores das unidades; agilização de trâmites burocráticos; existência e execução de diretrices para o planejamento do sistema; existência de mecanismos que possibilitem a oficialização, implantação e seguimento dos planos de gestão; política específica dirigida ao ecoturismo; estratégias de financiamento a longo prazo; entre outras. 111 A instituição tem alta capacidade de apoiar as áreas e a administração local planeja e desenvolve as atividades baseada neste suporte Faltam alguns elementos para o excelente apoio, porém há razoável liderança, funcionalidade e comunicação organizacional que proporcionam autonomia administrativa local, assegurando assim um satisfatório apoio A estrutura atual da instituição não lhe permite dar assistência estável para as atividades desenvolvidas na unidade A instituição necessita evidenciar suas políticas de apoio às áreas; há excesso de entraves burocráticos, pouca autonomia administrativa e uma comunicação ineficiente Não há vestígios de apoio institucional à unidade de conservação 4 3 2 1 0 Âmbito Conhecimentos Enfoca-se a necessidade permanente dos diretores de UCs terem informações de qualidade disponíveis e que estas possam ser eficientemente usadas e disseminadas, sob a premissa básica de que tais conhecimentos são importantes elementos para a compreensão da complexidade e fragilidade dos recursos protegidos e, por conseguinte, para seu manejo inteligente. Neste sentido inclui-se aqui a existência e disponibilidade de informações básicas para a gestão (cartográficas, biofísicas, sócio-econômicas e legal), a maneira como são tratadas as informações geradas pela pesquisa, se a unidade conta com algum sistema para o monitoramento de fenômenos e atividades e se possui esquemas para o aproveitamento das informações pelo sistema gerencial. Informações biofísicas – refere-se existência e atualidade de informações sobre os recursos naturais protegidos na unidade, bem como seu entorno imediato. Informações atualizadas e disponíveis na unidade Informações atualizadas mas não disponíveis na unidade Informações pouco atuais porém disponíveis na área Informações pouco atuais e não disponíveis na área Informações desatualizadas e disponíveis na unidade A área está implementando estudos visando obter as informações necessárias Informações desatualizadas e não disponíveis na área Inexistência de informações 4 3 3 2 2 2 1 0 Informações cartográficas – existência e atualidade de uma boa base cartográfica sobre os recursos naturais protegidos na unidade, bem como seu 112 entorno imediato, que atenda às necessidades da direção, funcionários e pesquisadores. Informações atualizadas e disponíveis na unidade Informações atualizadas mas não disponíveis na unidade Informações pouco atuais porém disponíveis na área Informações pouco atuais e não disponíveis na área Informações desatualizadas e disponíveis na unidade A área está implementando estudos visando obter as informações necessárias Informações desatualizadas e não disponíveis na área Inexistência de informações 4 3 3 2 2 2 1 0 Informações socio-econômicas – existência e atualidade de uma boa base cartográfica sobre os recursos naturais protegidos na unidade, bem como seu entorno imediato, que atenda às necessidades de gestão da área. A disponibilidade deste tipo de informação pode está sujeita a transformações maiores e rápidas dentro do contexto geopolítico regional e local e a razão para maior ou menor ênfase deste indicador reside no fato da necessidade de se incorporar as atividades humanas ao processo de planejamento e gestão da área. Informações atualizadas e disponíveis na unidade Informações atualizadas mas não disponíveis na unidade Informações pouco atuais porém disponíveis na área Informações pouco atuais e não disponíveis na área Informações desatualizadas e disponíveis na unidade A área está implementando estudos visando obter as informações necessárias Informações desatualizadas e não disponíveis na área Inexistência de informações 4 3 3 2 2 2 1 0 Informação legal – refere-se à disponibilidade e ao conhecimento interno e externo sobre as principais normas jurídicas incidentes na gestão e manejo da unidade, aspecto que pode auxiliar e atender particularidades locais na medida que permite a sustentação de decisões por vezes em conflito com outros interesses dissociados dos objetivos da área ( Leis, normas, procedimentos jurídicos). Elevada disponibilidade e difusão na unidade, entorno e usuários Elevada disponibilidade e moderada difusão Moderada disponibilidade e pouca difusão Pouca disponibilidade e difusão Não há evidências de informações deste nível na unidade 4 3 2 1 0 113 Pesquisas e projetos – é a relação entre as pesquisas realizadas e/ou em execução com as necessidade de manejo da unidade, assim como a disponibilidade dos conhecimentos gerados para sua devida aplicação e aproveitamento. Os conhecimentos gerados por pesquisas e projetos de desenvolvimento com o patrimônio da área estão disponibilizados na unidade para o aprimoramento do seu manejo e consultas Os conhecimentos gerados estão parcialmente disponíveis em cadastros locais e são utilizados para retroalimentar o manejo Poucos dos resultados das pesquisas estão disponíveis na unidade e são moderadamente difundidos para a retroalimentação do manejo Ainda que não estejam na unidade, os conhecimentos gerados podem ser encontrados na instituição e são pouco difundidos na retrolimentação do manejo Os conhecimentos gerados pelos projetos de desenvolvimento e pesquisas não estão disponíveis na unidade e não são conhecidos pelos manejadores 4 3 2 1 0 Monitoramento e retroalimentação – refere-se à capacidade da UC de implementar sistemas de acompanhamento dos fenômenos naturais, sociais e administrativos que permitam identificar mudanças nos sistemas sob manejo e tomar decisões adequadas a essas mudanças. A área conta com mecanismos eficientes para cobrir adequadamente o monitoramento de fenômenos e atividades desenvolvidas; da mesma maneira conta com meios para retroalimentação de conhecimentos A área usa ferramentas de monitoramento para alguns fenômenos naturais e atividades básicas desenvolvidas, usando as informações para a retroalimentação do manejo A unidade conta com alguns instrumentos para o monitoramento e retroalimentação, que atendem parcialmente necessidades básicas do manejo Há algum mecanismo para o monitoramento e/ou retroalimentação, mas não são formalizados e sua aplicação não parece ser sistemática Não há mecanismos de monitoramento e retroalimentação na área 4 3 2 1 0 Qualidade dos Recursos Protegidos São avaliados fatores que podem ser determinantes para o cumprimento dos objetivos de manejo das unidades de proteção integral. Em razão dos altos índices de fragmentação da paisagem pode-se aplicar os conceitos advindos da Teoria de Biogeografia de Ilhas mediante a avaliação das influências do tamanho, forma e isolamento das reservas destinadas à conservação. Um exemplo hipotético é ter como objetivo de uma área a conservação da totalidade de determinado 114 ecossistema, sem que a superfície da UC suporte a longo prazo a conservação de determinadas espécies; ou uma forma que maximiza os efeitos de borda ou dificulte demasiado as ações de proteção. Também são considerados alguns fatores relevantes que possibilitam saber o estado dos recursos interiores às áreas, tais como a integridade das bacias hidrográficas e das margens dos mananciais hídricos, a existência e as condições de exploração dos recursos bióticos e físicos e a quantidade de áreas alteradas e/o degradadas no interior da unidade, além da forma predominante de uso do entorno e como isto influi na sua conservação, além das ameaças externas e internas, fatores naturais ou antrópicos que comungam para o descumprimento dos objetivos de manejo da unidade mediante a desestabilização do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas e do sistema gerencial, podendo ser classificadas em externas e internas dependendo da origem do fator. Tamanho – diz respeito à superfície mínima necessária para satisfazer uma população viável do predador que requer o maior espaço dentro do ecossistema, ou então alguma outra parâmetro a superfície espécie de interesse. Pode-se usar como necessária para abrigar amostra significativa de ecossistemas tomando por base bacias ou sub-bacias hidrográficas completas; área necessária para conservar modos alternativos de apropriação dos recursos naturais, etc., relacionados ao atingimento dos objetivos da unidade de conservação. Em relação às UCs de proteção integral é interessante se observar a existência de uma zona núcleo livre das ameaças externas. A área possui mais de 90% da superfície total ótima para salvaguardar os atributos que se deseja conservar ou aproveitar de forma sustentável A área possui entre 76% e 89% da superfície total ótima A área tem entre 51% e 75% da superfície total ótima A área tem de 36% a 50% da superfície total ótima A área possui menos de 35% da superfície total ótima 4 3 2 1 0 Forma – refere-se à figura aproximada da área e à condição de fragmentação da totalidade da área, que poderá sofrer maiores ou menores impactos oriundos do efeito de borda em consonância do uso dado ao entorno imediato. Pode-se comparar a figura aproximada da UC com figuras geométricas, tais quais as concebidas e descritas por Diamond (1975), considerando-se ainda as 115 variações em razão da fragmentação da superficie total, existência de espaços livres ou abertos no interior da área e as irregularidades decorrentes dos acidentes naturais. Forma aproximadamente circular ou muito regular, inteira Forma aproximada circular ou oval, regular, fragmentada Forma aproximada crenada, quadrada, moderadamente regular, inteira Forma aproximada quadrada ou retangular, fragmentada Forma muito irregular, inteira Forma muito irregular fragmentada Forma aproximada linear, muito irregular, inteira ou fragmentada 4 3 2 1 1 0 0 Isolamento ou insularidade – a maior ou menor distância da área protegida de outras áreas com recursos em bom estado influi no fluxo e na sobrevivência das populações protegidas em seu interior, assim como também na permanência dos processos ecológicos vitais, aspectos relacionados com o estado de uso e degradação dos recursos naturais fora da área. Áreas silvestres contíguas, podendo ser da mesma ou de outras unidades, ou mesmo de áreas naturais privadas Distância de 2 a 5 km entre áreas, com corredores e/ou manchas esparsas (stepstone, trampolins ecológicos) Distância de 2 a 5 km entre áreas, sem com corredores e/ou manchas esparsas Distância de 5 a 10 km entre áreas com corredores e/ou manchas esparsas Distância de 5 a 10 km entre áreas, sem corredores e/ou manchas esparsas Distância de 10 a 25 km entre áreas com corredores e/ou manchas esparsas Distância de 10 a 25 km entre áreas sem corredores e/ou manchas esparsas Distância maior que 25 km entre áreas 4 3 2 2 1 1 0 0 Porcentagem de áreas alteradas dentro das unidades – na atualidade, mesmo as áreas protegidas contém significativas extensões depauperadas que podem estar incidindo no alcance dos objetivos de gestão, sendo que tal diagnóstico prove informação valiosa para o aproveitamento de oportunidades pela instituição. Até 10% dos ecossistemas da unidade encontram-se alterados 11-15% dos ecossistemas da unidade encontram-se alterados 16-20% dos ecossistemas da unidade encontram-se alterados 21-30% dos ecossistemas da unidade encontram-se alterados + 30% dos ecossistemas da unidade encontram-se alterados 4 3 2 1 0 116 Integridade das cabeceiras das bacias hidrográficas – num momento em que o apelo pela conservação da água é uma realidade as áreas protegidas precisam estar inseridas neste contexto manejando os recursos de maneira tal a resguardar tais atributos. As nascentes externas às unidades não devem ser consideradas, a não ser que a gestão da área e o atingimento dos seus objetivos impliquem tal necessidade. Mais de 90% das nascentes d’água da unidade encontram-se protegidas e florestadas e mais de 90% dos cursos d’água apresentam vegetação ciliar De 76 a 89% das nascentes d’água da unidade encontram-se protegidas e florestadas e a mesma porcentagem dos cursos d’água apresentam vegetação ciliar De 51 a 75% das nascentes d’água da unidade encontram-se protegidas e florestadas e a mesma porcentagem dos cursos d’água apresentam vegetação ciliar De 36 a 50% das nascentes d’água da unidade encontram-se protegidas e florestadas e a mesma porcentagem dos cursos d’água apresentam vegetação ciliar ≤35% das nascentes d’água da unidade encontram-se protegidas e florestadas e a mesma porcentagem dos cursos d’água apresentam vegetação ciliar 4 3 2 1 0 Exploração de recursos naturais dentro das unidades – refere-se à existência e a intensidade de exploração de recursos na UC independentemente das condições jurídicas do uso. Tal exploração pode ainda ser relacionada ao zoneamento e as normas de uso estabelecidas para as mesmas. Sem exploração Exploração esporádica em menos de 10% da área Exploração sistemática em menos de 10% da área ou exploração esporádica entre 10 a 50% da área Exploração sistemática entre 10 e 30% da área Exploração sistemática (de vários recursos) em mais de 30% da área 4 3 2 1 0 Ameaças à unidade – abrange fatores naturais e antropogênicos que afetam a estabilidade do ambiente protegidos e o cumprimento dos objetivos de manejo, podendo ser de origem interna ou externa. Alguns exemplos são impactos por visitação, contaminação (terrestre e aquática), incêndios, avanço de assentamentos humanos, migração, organismos introduzidos, desastres naturais, infraestrutura para desenvolvimento, narcotráfico, etc. Não há ameaças perceptíveis à unidade Fatores causam poucos efeitos ao ambiente protegido Fatores cujos efeitos são graves porém são reconhecidos como manejáveis, evitáveis ou de fácil recuperação Fatores cujos efeitos são violentos mas podem ser revertidos a médio-longo prazo Fatores cujos efeitos são reconhecidos como extremamente violentos e irreversíveis 4 3 2 1 0 117 Forma predominante de uso do entorno – procura verificar a adequabilidade dos usos efetuados no entorno das UCs a seus objetivos de gestão, cuja matriz pode promover a conservação dos recursos como a sua gradual degradação. Alguns exemplos são entorno com áreas naturais e extrativismo extensivo, agricultura de subsistência de baixa densidade, monocultura de reflorestamento, pecuária, exploração madeireira, agricultura de alta densidade, agricultura e/ou pecuária intensiva, polo industrial, urbanização, mineração, depósitos de lixo, turismo de massa, etc. Os usos do entorno estão acordes com as atividades e objetivos de manejo da unidade O uso dado ao entorno não compromete o desenvolvimento das atividades e/ou o cumprimento dos objetivos de manejo O uso do entorno compromete parcialmente o desenvolvimento das atividades e/ou o cumprimento de alguns objetivos de manejo secundários O uso do entorno prejudica, a médio prazo, a continuidade das atividades e o cumprimento dos objetivos secundários e alguns objetivos de manejo primários O uso do entorno vem prejudicando as atividades e o cumprimento dos objetivos de manejo, comprometendo seriamente a integridade da unidade a curto prazo 4 3 2 1 0 Florestas Estaduais Este componente da avaliação refere-se aos indicadores incidentes somente sobre as unidades de conservação de uso sustentável, Estações Experimentais e Florestas Estaduais, cujo objetivo é medir o desempenho da área e institucional para a solução de assuntos julgados imprescindíveis ao manejo eficaz das florestas plantadas, de maneira tal que haja sustentabilidade do sistema produtivo. Buscou-se os indicadores cuja avaliação dependa apenas do conhecimento imediato por parte dos diretores, não necessitando a verificação documental para evidenciar o fato. Deste modo, o âmbito inclui a existência e a atualidade do inventário florestal, uma ferramenta tão importante para o manejo das unidades de uso sustentável quanto o plano de manejo para as de proteção integral; as condições dos aceiros e carreadores para a condução e exploração florestal; a condição da floresta em relação a agentes patogênicos (formigas); se estas florestas são produzidas usando-se os conhecimentos de melhoramento genético desenvolvidos pelo IF e se as florestas estão sendo manejadas dentro do escopo da sustentabilidade a longo prazo mediante o seguimento do planejamento que prevê um ciclo de 30 anos de exploração. 118 Manejo continuado – procura detectar o estado em que se encontra o conjunto das florestas plantadas e se estas seguem um cronograma de manejo ditado por um plano em regime de exploração sustentada. Para tanto estabeleceu-se como referência a densidade média ótima segundo a idade dos talhões. As amplitudes de classe de idade e as respectivas densidades dos maciços foram estabelecidas ouvindo-se especialistas no assunto, de maneira tal a abarcar diferentes estágios de manejo (desbastes e condução) e produtos desejados (resina, madeira, postes, etc.). Deste modo, considerando-se que a maioria das florestas de produção do IF contém na atualidade talhões mais antigos, estabeleceu-se como parâmetro de avaliação o estagio de condução e exploração dos mesmos, de acordo com as metas trintenais estabelecidas pela DFEE (1992), os objetivos do plantio e em conformidade com os seguintes critérios: R Talhões com 20 a 25 anos de idade deveriam possuir de 500 a 1000 arvores por hecatare; R Talhões com 25 a 30 anos devem possuir de 250 a 500 arvores/ha; R Talhões com mais de 30 anos devem possuir no máximo 250 árvores por hectare ≥ 90% das florestas da unidade estão dentro do ótimo 76% - 89% do ótimo 51% - 75% do ótimo 36% - 50% do ótimo ≤ 35% 4 3 2 1 0 Fitossanidade – refere-se à quantidade de formicida adquirido ou disponibilizado para a unidade frente à quantidade real ou ótima que deveria existir para o período de atividades de controle de pragas e enfermidades dos plantios. ≥ 90% do volume ótimo necessário para a floresta 76% - 89% do ótimo 51% - 75% do ótimo 36% - 50% do ótimo ≤ a 35% do ótimo 4 3 2 1 0 119 Controle fitossanitário – refere-se à proporção de florestas plantadas que receberam tratamentos sistemáticos visando a desinfecção de formigas, outras pragas e doenças. ≥ 90% das florestas da unidade recebeu controle sistemático no último ano 76% - 89% 51% - 75% 36% - 50% ≤ 35% 4 3 2 1 0 Florestas Melhoradas – é um indicador voltado a verificar se as florestas plantadas nos últimos anos tem sido feitas a partir de técnicas modernas dedicadas a garantir a máxima qualidade e quantidade dos produtos e sub-produtos florestais; em última instância provê informações se as tecnologias nesta área estão disponíveis e se são efetivamente usadas. Tomou-se como critério de avaliação os últimos 15 anos tendo por base informações de pesquisadores envolvidos com o assunto na instituição. ≥ 90% das florestas implantadas nos últimos 15 anos provem de sementes melhoradas 76% - 89% 51% - 75% 36% - 50% ≤ 35% 4 3 2 1 0 Existência e atualidade do inventário – procura detectar se as florestas plantadas estão dotadas de inventários que subsidiem a exploração sustentada, a comercialização dos produtos e o planejamento do manejo. Existe um inventário que foi elaborado ou revisado nos últimos 5 anos e que é implementado pela administração da área A área está passando por um processo final de elaboração do inventário ou trabalha-se em sua revisão Há um inventário com mais de 5 anos que orienta as atividades de produção da unidade Há inventário muito desatualizado (> 10 anos) Não há inventário nem perspectivas de sua elaboração 4 3 2 1 0 120 3.2.3 Coleta de dados: oficinas de avaliação e visitas de campo O procedimento original privilegia a obtenção dos dados diretamente nas unidades de conservação, mediante a realização de entrevistas individuais e coletivas, reuniões grupais e observações de campo, além das informações secundárias geradas na unidade de conservação. Evoca ainda as vantagens de se realizar a avaliação de modo participativo, usando-se técnicas que possibilitem a harmonização das diversas opiniões que surjam durante o processo (Izurieta, 1997). Ao estudar pequenos grupos de unidades a proposição é academicamente ideal, no entanto, ao defrontar uma grande quantidade de unidades de conservação tais rotinas tornam-se de difícil coordenação, demoradas e custosas. Como na presente pesquisa o objetivo foi mais amplo que apenas uma ou um grupo de unidades, as técnicas para a coleta das informações não puderam ser as mesmas, mas deveriam possibilitar a interação dos técnicos e diretores das UCs com o referido processo. Inicialmente pensou-se utilizar formulários-questionários a serem enviados aos diretores das Unidades de Conservação de São Paulo, de modo similar ao que fizeram Faria (1997) e WWF (1999), para em seguida se proceder à seleção de algumas unidades visando a aferição das informações em campo. Muito embora o questionário à distância seja uma técnica adequada ao desenvolvimento de estudos em diferentes áreas do conhecimento, optou-se pela realização do que acabamos por designar de ‘oficinas de avaliação’, com a participação dos responsáveis diretos pela gestão das unidades ou técnicos nela envolvidos, permitindo assim uma maior sinergia em razão dos mesmos estarem descontraídos e todos imbuídos em um único objetivo, qual seja a avaliação da gestão das suas unidades. Outro fator importante que influenciou nesta decisão foi o baixíssimo índice de devolução dos questionários. Durante uma das oficinas foram entregues aos representantes de 12 unidades os respectivos impressos, acompanhados de disquetes e envelopes selados, entretanto passadas várias semanas somente uma UC retornou as informações, confirmando a decisão de praticar a avaliação mediante a realização de reuniões coletivas. 121 Um fato muito positivo foi o envolvimento dos dirigentes do Instituto Florestal no projeto, que em duas oportunidades prestigiaram a abertura das oficinas discorrendo sobre a relevância do trabalho, provendo o projeto de algum reconhecimento oficial. Deste modo, foram realizadas quatro reuniões nas quais ocorreram a seguinte seqüência de eventos: R Exposição sobre as origens dos debates sobre avaliação da eficácia da gestão e da metodologia usada, inclusive; R Entrega e explicação detalhada sobre os formulários a serem usados durante a oficina; R Acompanhamento e orientação aos participantes durante os trabalhos; R Ao termino das atividades dirigidas discutia-se, com maior ou menor profundidade, acerca dos trabalhos realizados, as expectativas geradas e generalidades a respeito do estado em que se encontrava as UCs e a Instituição. Para cada indicador o representante da unidade deveria selecionar uma alternativa ou padrão de qualidade incidente sobre o mesmo e que refletisse a realidade em sua unidade. Caso as alternativas oferecidas destoassem da situação ocorrente na unidade o participante poderia, sucintamente, descrever a situação atual, atribuindo-lhe um valor de 0 a 4, conforme a escala de pontuação usada, o mesmo ocorrendo com a ‘situação ótima’, cujos novos descritores de qualidade foram integrados ao questionário de avaliação usado. Ao discorrer sobre o planejamento e a gestão participativa, MacKinnon et al. (1986) e Borrini-Feyerabend (1997) defendem que uma das grandes vantagens destes processos é facilitar para que os diretores e o staff das UCs construam seus planos e metas a partir das suas próprias experiências. Portanto, nas ‘oficinas de avaliação’ os representantes das UCs puderam, mediante adequada orientação, desenhar cenários alternativos aos padrões de qualidade ótimo e atual para cada indicador, melhorando os descritores de qualidade para os indicadores e garantindo a incorporação da visão de campo dos participantes, prática adotada em todas as oficinas. Portanto, os descritores de qualidade para os 122 indicadores apresentados no item 3.2.2 já incorporaram tais considerações e melhorias. Como parte da metodologia original, visando subsidiar e emprestar maior clareza ao processo de avaliação, foram realizadas 22 visitas técnicas a algumas unidades de conservação administradas pelo Instituto Florestal, principalmente àquelas que estiveram representadas nas oficinas de avaliação. As unidades visitadas foram selecionadas de acordo com os seguintes critérios: i) unidades de proteção integral, Parques Estaduais ou Estações Ecológicas; ii) possuírem mais de 1000ha, salvo as de reconhecida importância regional; iii) e áreas reconhecidamente importantes para a conservação da biodioversidade do Estado. O procedimento original (Faria, 1993; Cifuentes, Izurieta e Faria, 2000) não aponta a necessidade de se relatar as particularidades das unidades envolvidas no processo de avaliação, servindo as visitas de campo quase que unicamente ao propósito básico de evidenciar as manifestações dos indicadores selecionados. A experiência vivenciada com a realização da presente pesquisa, com um maior número de amostras e envolvendo uma ampla diversidade de situações, pôs em relevo a utilidade das informações geradas pela percepção de campo, pois quando no campo as pessoas estão despojadas das amarras formais do trabalho de escritório. Os relatos apresentados para essas unidades estão alicerçados basicamente nas observações e percepção dos integrantes da equipe sobre o objeto estudado (gestão) e nas informações primárias obtidas junto aos funcionários e diretores das unidades. Apesar de serem agendadas com certa antecedência, em algumas oportunidades os diretores ou não se encontravam ou estavam enredados nos afazeres extemporâneos surgidos na ocasião, o que implica num maior ou menor grau de profundidade das informações relatadas. Ocasionalmente informações secundárias de domínio público foram revisadas, como folders, planos de manejo, laudos de danos ao meio ambiente, projetos em execução, etc., mas 123 sempre no sentido de se verificar as iniciativas, a dedicação das pessoas envolvidas no manejo e sua inserção na realidade local. As entrevistas sempre se pautaram pela informalidade de modo a permitir ampla liberdade de expressão às pessoas, ainda que a abordagem enfocasse as operações relacionadas à gestão da unidade, usando-se como roteiro a lista de indicadores da gestão. Na medida do possível procurou-se estimular a livre exposição das particularidades da gestão, dando menor importância aos assuntos relacionados às características biofísicas das áreas. O questionário usado nas oficinas de avaliação continha ainda indagações a respeito dos problemas de manejo, as ameaças internas e externas vivenciados pelos diretores e incidentes sobre as áreas protegidas. Os problemas de manejo referem-se às dificuldades rotineiras enfrentadas para o desenvolvimento das atividades inerentes a área, como por exemplo insuficiência de recursos humanos e financeiros, falta de equipamentos adequados e treinamento de pessoal. Por suas características endógenas e em conformidade com o seu alcance o problema pode vir a ser considerado uma ameaça ao sistema. De acordo com Machelis e Neumann (1986), as ameaças são os fatores que comungam para o descumprimento dos objetivos de manejo da unidade mediante a desestabilização do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas e do sistema gerencial, podendo ser classificadas em externas e internas dependendo da origem do fator. As ameaças internas referem-se a fatores oriundos do próprio sistema gerencial, mas não estão circunscritas simplesmente à instituição responsável, abrangendo toda a estrutura político-administrativa de concreção governamental, como por exemplo a ausência de políticas institucionais para o manejo dos visitantes, a falta de apoio político-institucional para solucionar problemas de invasões das unidades por grupos humanos, ingerências setoriais conflitivas, entre outras. O limite organizacional é a estrutura da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Por seu turno, as ameaças externas são definidas pela ação ou existência de agentes exógenos ao sistema gerencial, que neste caso não possui controle absoluto sobre os fatores, como por exemplo a invasão de terras, projetos 124 setoriais conflitivos com os objetivos da unidade (estradas, barragens, aeroportos, etc.), entre outros. Cabe salientar que os dados coletados correspondem ao período de 2000-2001, quando os trabalhos de campo aconteceram. 3.2.4 Análise dos dados Para se chegar à classificação da eficácia de gestão das unidades de conservação os dados quali-quantitativos obtidos foram tabulados em planilha eletrônica Excel, na qual usou-se as formulas pertinentes para o cálculo dos totais ótimos e dos totais alcançados, que comparados entre si geraram os valores percentuais em cada âmbito analisado, para cada unidade amostral, para os indicadores e para o sistema como um todo. Os valores percentuais foram comparados à uma escala apropriada, permitindo a classificação da qualidade da gestão das unidades e dos objetos avaliados (grupos, indicadores e gestão). Visando saber a influência que cada grupo de indicadores teve sobre a nota final aplicou-se uma análise de regressão múltipla, considerando-se o percentual final alcançado pelas unidades de conservação a variável dependente (Y) e os percentuais alcançados pelos grupos de indicadores ‘planejamento e ordenamento’, ‘administrativo’, ‘político-legal’, ‘conhecimentos’ e ‘qualidade dos recursos’ como as variáveis independentes, X1, X2, X3, X4 e X5 respectivamente, sendo usado para este cálculo o programa estatístico SANEST. Para esta análise usou-se os dados relativos às unidades de conservação de proteção integral. Os indicadores foram submetidos a uma análise de componentes principais (PCA) para verificar quais dentre todos eram os responsáveis pelos maiores padrões de variação nos resultados obtidos. A Análise de Componentes Principais (PCA) é uma das técnicas multivariadas mais simples utilizadas em estudos ecológicos. Seu principal objetivo é a redução da dimensionalidade dos dados, ordenando as amostras num reduzido número de dimensões, de tal forma que se dá uma maior ênfase aos maiores padrões de variações nas suas respostas (BARRELA, sd). O programa estatístico usado foi o SISTAT. As ameaças reportadas pelos diretores foram agrupadas sob rótulos comuns segundo a afinidade entre os fatores incidentes nas unidades de 125 conservação, correspondendo a uma convenção adotada nesta pesquisa. Inicialmente pretendia-se diferenciar problemas de manejo das ameaças, no entanto ocorreram distorções interpretativas que inviabilizaram este feito. Após o reordenamento, as ameaças internas e internas foram contadas para se chegar à freqüência com que incidiam no sistema analisado. 3.2.5 Adequação da escala de valoração da eficácia de gestão Durante o processo de análise de resultados foi necessário uma reflexão sobre a escala de classificação e qualificação da eficácia de gestão e seus significados. A escala construída e usada no procedimento para classificar a eficácia de gestão foi adaptada por Faria (1993) a partir de bibliografia relativas a auditorias da qualidade dos serviços prestados pelas organizações empresariais, notadamente o diagnóstico do desempenho do Serviço de Parques Nacionais da Costa Rica. É uma escala atípica, pois as amplitudes das classes não seguem um padrão de distribuição homogêneo: inicia-se com amplitude 35, passando a 15, aumentando para 25, diminuindo para 15 e mais ainda para a última classe, apenas 10 pontos, conforme o Quadro 15 a seguir, ainda que o desenho da mesma siga o modelo da maioria das escalas atualmente em uso, pois apresenta um ponto médio para registro da manifestação intermediária. Percebe-se que esta escala é rigorosa por possibilitar que somente as UCs que atinjam mais de 90% do total ótimo sejam classificadas como possuidoras de um padrão de excelência, entretanto parece pecar na classe C, pois esta pode abrigar UCs que atingiram 52% como aquelas que venha a atingir 74% daquele total, aspecto que depõe contrariamente à escala em razão das dissimiles situações potenciais sob um mesmo rotulo. Trabalha com uma escala exigente, que aufere classificação do “excelente” a partir de uma pontuação elevada, permite ao pesquisador uma posição confortável em relação a esta classificação, pois haverá sempre poucas ou nenhuma dúvida para os objetos avaliados, entretanto essas dúvidas poderão surgir em 126 relação à classe C, o que pode ocorrer sempre que a amplitude de uma classe for muito grande, como neste caso. Os modelos 2 e 3 eliminam este problema pois a representação numérica aufere uma classe mediana com menor amplitude, e até semelhante a outras classes, muito embora ambas as escalas sejam complacentes com os objetos com pontuações superiores a 80, que são considerados em nível de “excelência”. Uma unidade que alcança 81% da pontuação pode ser agrupada com aquela que obteve 95% ? Perguntas dessa natureza devem ser mantidas em foco, pois ainda que a escala de valoração possa ser apenas uma convenção adotada pelo pesquisador elas devem refletir o conhecimento existente sobre o objeto avaliado e sua realidade. E D C B A Classe Qualidade da gestão Escala Faria (1993) Amplitude% Quantidade do de UCs total ótimo ≥ 90% Muito Satisfatório __ 10 Padrão 76-89 Satisfatório 1 15 Medianamente 51-75 Satisfatório 24 25 Pouco 36-50 Satisfatório 14 15 Insatisfatório 2 ≤ 35% Escala 2 Amplitude% Quantidade do de UCs total ótimo ≥ 81% 1 20 66-80 8 15 51-65 16 15 36-50 14 15 2 ≤ 35% Escala 3 Amplitude% Quantidade do de UCs total ótimo ≥ 81% 1 20 61–80 11 20 41– 60 25 20 21–40 4 20 __ ≤ 20% Escala 4 Amplitude% Quantidade do de UCs total ótimo ≥ 85 __ 15 70-84,99 5 15 55-69,99 13 15 40-54,99 19 15 4 ≤ 40,99% Quadro 15. Diferentes amplitudes da escala de classificação da eficácia de gestão e diferentes classificações, considerando apenas os resultados das 41 unidades de conservação de proteção integral estudadas. 127 128 A escala 2 possibilita uma distribuição mais normalizada, mas permite a existência de uma UC com gestão “muito satisfatória”, uma fato que não se pode provar verdadeiro por não se detectar nenhuma UC com gestão tão excelente assim. A escala 3 perpetua a aglomeração de áreas na classe C. A escala 4 também elimina as ‘dúvidas’ geradas pelas escalas assimétricas, mantêm boa proporcionalidade entre as diferentes classes e eleva o nível de exigência para as unidades mal ou não implantadas. Analisando detidamente os resultados das unidades de proteção integral, fundamentalmente as visitadas, e cotejando-os com a situação real encontrada em campo às escalas sob teste, pôde-se verificar que há uma maior consistência na classificação auferida pelo modelo 4 do que com a escala original e os demais modelos, ao menos nesta pesquisa. Se por um lado aumenta a quantidade de UCs com gestão de padrão inferior, o que de fato acontece em campo, por outro também aumenta a quantidade com padrão elevado, terminando com a aglutinação de unidades com padrão mediano de qualidade em face de se praticar uma amplitude menor. Outro aspecto trabalhado relacionado à escala foi quanto aos adjetivos usados para a qualificação da eficácia de gestão, principalmente em razão da subjetividade inerente ao que é satisfatório ao objeto sob avaliação. Pois o que pode ser satisfatório em dada situação pode se relacionar a algo bom, em outras situações pode não ser o melhor e até o contrário. Portanto, há a necessidade de adequação ao léxico português desta qualificação, e isto não precisa ser um exercício exaustivo e teórico, bastando apenas a utilização das palavras corretas associadas aos conceitos dados à cada classe originalmente. O Quadro 16 sugere 4 grupos de palavras que podem ser associadas aos adjetivos originais. Muito embora os adjetivos das colunas A e B sejam conhecidos, bastante diretos e objetivos, há de se convir que para as pessoas que laboram em dada unidade de conservação saberem que a mesma foi classificada como possuidora de uma gestão Ruim ou Muito Ruim não é nada agradável ou estimulante. Isto pode pesar tanto para as pessoas que estão na ponta como àquelas que apóiam a gestão desde os escritórios centrais. Além de serem adjetivos desaprovadores, soam também ligeiramente pejorativos. Do mesmo modo pode-se dizer do que é Baixo ou Muito Baixo, relativo à coluna C. 129 Quadro 16. Qualificativos alternativos à escala original. Original Muito satisfatória Satisfatória Medianamente satisfatória Pouco satisfatória Insatisfatória A Ótima Boa Eficácia de Gestão B C D Excelente Padrão de Excelência Padrão de Excelência Boa Padrão Elevado Padrão Elevado Razoável Mediana Padrão Razoável Padrão Mediano Ruim Muito Ruim Ruim Muito Ruim Padrão Baixo Padrão Muito Baixo Padrão Inferior Padrão Muito Inferior Por sua vez, a coluna D apresenta uma classificação alternativa, com uma classe intermediária bem definida e seus respectivos extremos, reconhecendo a existência dos opostos (o melhor e o pior) e um gradiente de significações que permite a plena diferenciação das qualidades do objeto. Assim sendo, propõe-se uma nova escala de valoração para a classificação da eficácia de gestão (Quadro 17), com alteração das amplitudes das classes e respectivos significados. Quadro 17. Escala de qualificação da Eficácia de Gestão corrigida. % do total ótimo ≤ 40,99% 41 – 54,99 55 – 69,99 70 – 84,99 ≥ 85% Nível de qualidade Descrição do Padrão de Qualidade do manejo Padrão Muito Faltam muitos elementos para a gestão e essa situação não garante a Inferior permanência da unidade a longo prazo, o que obriga a instituição envidar maiores esforços sobre a mesma. Nas atuais condições, os objetivos de manejo não são alcançáveis. Padrão Há recursos para a gestão, mas a área é vulnerável a fatores externos Inferior e/ou internos em razão de haver somente os meios mínimos necessários à gestão, o que pode acarretar o descumprimento de alguns dos objetivos primários da área. Padrão A unidade apresenta deficiências muito pontuais que não permitem a Mediano constituição de uma sólida base para o efetivo manejo. Alguns dos seus objetivos secundários podem ser desatendidos. Padrão Os fatores e meios para a gestão existem e as atividades essenciais são Elevado desenvolvidas normalmente, tendendo o conjunto em direção ao logro dos objetivos da unidade. As principais ações programáticas são levadas a cabo. Padrão de A área possui todos ou quase todos os componentes-chave para sua Excelência gestão efetiva, podendo absorver demandas e exigências futuras sem comprometer a conservação dos recursos protegidos. O cumprimento dos objetivos está assegurado. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 132 Todos os trabalhos de avaliação da eficácia de gestão desenvolvidos até a presente data enfocaram-se sobre poucas unidades de conservação, excetuando a investigação executada pelo WWF (1999), que mediante a utilização de questionários à distância conseguiu informações sobre 86 UCs brasileiras, oferecendo um bom diagnóstico sobre o estado de implementação e vulnerabilidade das áreas pesquisadas. A presente iniciativa é pioneira no Estado de São Paulo, marcando o que pode vir a ser o inicio da avaliação sistemática da eficácia de gestão das UCs estaduais sob a administração do Instituto Florestal usando-se um procedimento padronizado, que se aperfeiçoará na medida que adotado e implementado efetivamente. Nesta pesquisa estiveram envolvidas nos trabalhos 59 áreas protegidas administradas pelo Instituto Florestal representando 782.622,25ha, 69% do total das unidades e 90% da superfície total sob proteção institucional. Inicialmente a aspiração do projeto era envolver o máximo de unidades de conservação possível; das 46 unidades de conservação de proteção integral, aqui somando-se os Núcleos de Gestão do Parque Estadual da Serra do Mar – PESM, estiveram representadas 41, ou 89%, mas das 38 de uso sustentável (excetuandose os dois viveiros florestais) participaram apenas 18, ou 47%, não se sabendo os reais motivos de tal distinção. Durante as oficinas de avaliação e entrevistas observou-se a ansiedade dos diretores e técnicos das UCs em discutir as questões relacionadas ao levantamento que se estava efetuado, desejosos de saber quando os resultados estariam disponíveis e como seriam usadas as informações pela organização. A esperança geral era de que os resultados provocassem atitudes que mudassem a situação enfrentada pelas unidades, o que também não deixa de ser um ponto positivo do processo de avaliação. Os autores que usaram a estrutura básica da metodologia aqui enfocada e suas variações nunca trabalharam com mais de oito UCs (Izurieta, 1997), ao contrario a predileção quase sempre recai sobre um número mínimo de áreas, fato que aliado às condições para desenvolver a avaliação influi nas técnicas adotadas para colecionar os dados primários necessários ao julgamento individual e coletivo. O aumento da quantidade de amostras pode influenciar na profundidade das informações obtidas, muito embora a maior vantagem disto resida no fato de se 133 ter uma visão de sistema muito mais aguçada. Isto pode provocar os ânimos a infindáveis discussões, pois geralmente os técnicos das áreas de planejamento e manejo de UCs estão acostumados a dirigir suas atenções sobre uma ou outra área, quando muito um grupo de unidades muito específicas de uma região, seção técnica ou um subsistema de interesse. Muito embora o método utilizado seja objetivo e gere informações de inequívoca validade e qualidade, isto somente ocorre se houver o perfeito entendimento dos indicadores e respectivos critérios de avaliação por parte de quem realiza a avaliação. Significa dizer que ao se fazer e considerar a auto-avaliação parte-se do princípio de que as pessoas não incorrerão em erros de julgamento motivados pelo não entendimento dos conceitos, entretanto podem ocorrer tanto a sub-avaliação como a sobre-avaliação de um ou outro indicador em razão da percepção diferenciada dos padrões de qualidade por parte das pessoas que avaliam. É certo que os resultados da avaliação são frutos da percepção dos técnicos e dirigentes das UCs envolvidas nesta pesquisa, cujos juízos de valor para com os indicadores podem estar afetados pelas circunstâncias do momento, resultando erros de sub ou sobre valoração. Há casos que podem confundir as pessoas que conhecem estas áreas, causando indagações do tipo “Se esta UC está melhor implantada que aquela, porque não obteve pontuação maior?”. Com certeza a gestão do PE Morro do Diabo é muito melhor que a do Núcleo Cubatão do PESM; a primeira está implantada e funcionando, inclusive sem problemas fundiários, e a segunda possui toda a sorte de problemas. A resposta para tal questionamento está em que o nível de requerimentos para a excelência da gestão de ambas é simplesmente diferente, e o nível de exigência de seus diretores também. E esta exigência decorre de sua percepção do mundo, as experiências vividas, seus valores e crenças e seus preconceitos. Ou seja, mesmo que se busque parâmetros objetivos, factuais, observáveis e de possível experimentação, há sempre um momento de formação de juízo no qual estará influindo a própria personalidade das pessoas (Lucena, 1992). Dois perfis profissionais se ajustam à sobre e sub avaliação: respectivamente, o profissional que deseja mostrar o que na verdade não existe para que seu conceito se eleve ou se mantenha perante seus superiores; e aquele que apesar de trabalhar arduamente para o efetivo desenvolvimento das atividades 134 de sua unidade se mantêm numa postura incomodamente modesta. Ambos antagonizam a efetividade dos resultados desta pesquisa, muito embora estas causas tenham sido alertadas nas oficinas de avaliação; parece que não com a eficácia requerida pois ocorreram desvios que impedem de se considerar os dados de algumas das unidades de conservação estudadas. A pontuação equivocada ou injusta que um único indicador possa receber não influencia significativamente na nota final da unidade em particular, porém se isto se repete em diferentes indicadores na mesma unidade ou se um conjunto de unidades apresentam pontuações equivocadas do mesmo indicador isto distorcerá a nota final e as interpretações sobre a verdadeira qualidade do indicador no sistema analisado. Tais fatos foram mais evidentes e freqüentes nas unidades de conservação de uso sustentável - UCUS, provavelmente por que manteve-se o desenho do procedimento original, destinado a atender, prioritariamente, os conceitos e definições das unidades de conservação de proteção integral. Mas esta é a segunda razão dos resultados desta Tese estarem enfocados mais sobre os dados obtidos para as unidades de conservação de proteção integral, ou UCPI. A primeira razão reside na mínima quantidade de amostras de unidades de uso sustentável, UCUS, muito inferior às de proteção integral, implicando em baixa representatividade. Some-se a isto que duas das unidades de uso sustentável não contestaram as questões específicas a elas dirigidas, provavelmente porque o âmbito “Florestas” não incidisse sobre as mesmas, diminuindo o número de amostras viáveis para 16 UCs, ou 42% do total, comprometendo uma avaliação mais consistente do grupo. Por outro lado, nos últimos anos surgiram com força total os critérios e parâmetros para a certificação de florestas plantadas, no Brasil prevalecendo as atividades do Conselho de Manejo Florestal, ou Forest Stweardship Concil (FSC), cujos princípios e critérios estão disponibilizados na internet (www.fsc.org.br) e que ao nosso ver devem direcionar a avaliação da eficácia de manejo das florestas plantadas e comerciais. Assim mesmo, para não se perder o esforço empreendido na coleta dos dados, nos respectivos quadros são apresentados os dados originais de todas as unidades pesquisadas, incluindo as UCUS, o que nos permitirá esboçar algumas considerações sobre o desempenho das florestas plantadas gerenciadas pelo Instituto Florestal. 135 Em relação às UCPIs, há evidências de uma maior consistência dos dados, pois fez-se uma comparação, para as 22 áreas visitadas, entre os resultados auferidos segundo a percepção dos seus dirigentes e a percepção de um grupo de especialistas, auxiliado que fomos por outros técnicos, constatando-se uma concordância média de 95% entre todos os indicadores avaliados. Daquelas 22 unidades, apenas 3 apresentaram diferenças maiores, quais sejam em 14%, 18% e 21% dos indicadores. Entretanto, considerando os argumentos de Lucena (1992) sobre os fatores que influem na percepção humana, os dados destas 3 UCs foram julgados válidos para efeito dos objetivos desta pesquisa. Em geral, os autores que usaram metodologias que aliam indicadores a escalas (scores) realizaram as abordagens desde as esferas e situações mais gerais para, posteriormente, desembocarem em descrições específicas e detalhadas. Aqui os resultados serão apresentados da mesma forma, seguindo o seguinte ordenamento: • Contextualização da organização administrativa; • Resultado geral da avaliação das UCs; • Apresentação dos resultados por âmbito avaliado; • Resultado e detalhamento dos indicadores avaliados; • Análise das ameaças às Unidades de Conservação e • Descrição das UCs visitadas (Diagnósticos Rápidos de Campo). 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO: INSTITUTO FLORESTAL DE SÃO PAULO A seguir é apresentada uma rápida contextualização a respeito da organização responsável pela maior parte das unidades de conservação do Estado de São Paulo, o Instituto Florestal de São Paulo, sendo que para este mister lançouse mão da sistematização e compilação das informações secundárias já produzidas, bem como a consideração das entrevistas e discussões mantidas informalmente com pesquisadores e técnicos envolvidos nos afazeres institucionais. Muito já se escreveu sobre o IF, uma instituição cujo percurso se mescla à história do desenvolvimento do Estado, porém o que se pretende é realizar uma leitura atual, numa abordagem critica que visa refletir o escopo das políticas voltadas ao manejo das áreas protegidas de São Paulo. 136 Fundado em fins do século XIX, o Instituto Florestal é uma entidade pioneira nas ações de conservação da natureza, detendo através de sua filosofia de trabalho, posição marcante na realidade florestal paulista, seja como gerador de atividade sustentável e econômica, seja pela proteção de áreas significativas que abrigam ecossistemas primitivos. Vinculado à Secretaria do Meio Ambiente desde 1986, é responsável pela consolidação das atividades de reflorestamento no Estado, intervindo no setor florestal desde os primórdios de sua existência, tanto em ações voltadas à estabilização de encostas, quanto na formação de extensos maciços florestais com povoamentos de espécies exóticas, distribuídos por uma rede de unidades de florestas implantadas, denominadas florestas ou estações experimentais, viabilizando uma nova oportunidade econômica, bem como o desenvolvimento de pesquisas voltadas para a atividade silvicultural, exploração de produtos e subprodutos florestais e atividades educacionais e recreativas. Cumpre sua função social contribuindo na economia regional, mediante exploração dos maciços florestais por empresas madeireiras e resiníferas, importando na viabilização de inúmeros empregos diretos e indiretos. Atua no desenvolvimento de pesquisas em conservação da diversidade biológica de espécies nativas e exóticas, voltadas à produção de sementes florestais melhoradas, para recomposição de áreas degradadas e no reflorestamento visando suprir o mercado consumidor de madeira e subprodutos florestais. Podem ser ressaltadas ainda as externalidades que estas florestas oferecem ao bem estar da população regional, como: qualidade do ar, manutenção dos fluxos hídricos, controle de erosão, conservação de flora e fauna, entre outros. Isto mostra o imenso valor que as florestas representam para as regiões paulistas. Atualmente ouve-se muito falar em desenvolvimento sustentável, mas as atividades silviculturais executadas pelo Instituto, por décadas e décadas, em caráter de rendimento sustentado, demonstram o pioneirismo e visão de futuro acerca do planejamento das políticas públicas, que direcionavam a instituição no âmbito da gestão dos recursos florestais. A atual estrutura organizacional foi estabelecida em 1970, com a transformação do então Serviço Florestal a Instituto Florestal, no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. De atribuições mais amplas até aquela data a organização passou a ser definida e conhecida como uma instituição voltada 137 à implementação de pesquisas de caráter ambiental, buscando solucionar problemas relacionados à silvicultura e conservação de espécies exóticas, nativas e manejo de recursos naturais protegidos. Fatos mais detalhados sobre a evolução histórica da Instituição poderão ser encontrados em trabalhos de divulgação institucional (IF, 1994; SÃO PAULO, 1996) e de circulação mais restrita e interna (DFEE, 1995; CONCITE, 1997). Em 1986 o IF foi transferido para a então recém criada Secretaria do Meio Ambiente e no mesmo ano foi criada a Fundação Florestal, com a finalidade de agilizar os tramites orçamentários e financeiros e, assim, constituir-se no braço operacional das metas e diretrizes da organização principal. Naquela época as competências da Instituição norteavam-se por uma série de dispositivos legais Decretos 11.138/78, 30.555/89, 33.135/91, 33.618/91, e a Lei complementar No125/75 que criou a carreira de Pesquisador Cientifico, considerando também o IF uma Instituição de Pesquisa. Sua estrutura básica era constituída pela Diretoria Geral, Assistência Técnica de Programação, Divisão de Dasonomia, Divisão de Administração, Divisão de Reservas e Parques Estaduais, Divisão de Florestas e Estações Experimentais e o Serviço de Comunicações Técnico-Científicas (CONCITE, 1997). Os objetivos de gestão preconizados para a Instituição eram: • Realizar pesquisa e experimentar sobre espécies florestais de importância econômica; • Estudar e desenvolver técnicas silviculturais para as diversas regiões ecológicas do Estado; • Intervir no setor florestal detendo o domínio das florestas de preservação permanente, efetuando reflorestamentos como empresário florestal, com fins conservacionistas, técnicos e econômicos, de acordo com plano previamente aprovado; • Estudar, propor e executar medidas de conservação e exploração racional e econômica de florestas; • Realizar investigações sobre biologia da fauna silvestre especialmente de animais de caça e de suas relações com o ambiente florístico; • Promover estudo sobre paisagismo e o aproveitamento de áreas florestais de responsabilidade do Estado, para fins educacionais e recreativos; • Manter e desenvolver o museu florestal estadual; • Aperfeiçoar seu corpo técnico promovendo cursos e estágios de treinamento, em estabelecimentos nacionais e estrangeiros; • Divulgar conhecimentos científicos, a experiência técnica e os resultados dos trabalhos realizados pelo Instituto; • Estabelecer intercâmbio com instituições congêneres do país e do exterior 138 Denotando um forte e importante componente de pesquisa, a missão institucional passou por uma revisão criteriosa que será exposta mais adiante ao se discorrer sobre os macro-processos de planejamentos pelos quais o IF passou em anos recentes. As diversas seções administrativas e de pesquisa são importantes para o suporte das atividades rotineiras de manejo das Unidades de Conservação, tais como a Divisão de Administração e suas respectivas Seções, envolvidas no controle e trâmites de documentos e recursos; a Divisão de Dasonomia na realização de pesquisas básicas florestais e de meio ambiente; a Assessoria Técnica de Programação na função de planejamento e acompanhamento de projetos setoriais, a Assessoria de Estudos Patrimoniais para a solução das questões fundiárias e de patrimônio, o Serviço de Comunicações Técnico Cientificas e seu apoio silencioso às UCs de modo geral, etc. Fazer uma abordagem completa do órgão em todas as suas atribuições é uma tarefa complexa e, portanto, destaca-se aqui uma breve resenha dos dois setores que respondem diretamente pelas unidades de conservação, a Divisão de Reservas e Parques Estaduais-DRPE e a Divisão de Florestas e Estações Experimentais-DFEE. Contudo, cabe esclarecer sobre a Fundação Florestal (FF). A FF foi criada pela Lei 5.208 de 1986, tendo por força deste diploma legal atuação complementar que visa fundamentalmente comercializar os produtos e sub-produtos gerados pelo IF. Ou seja, a Fundação foi criada para ser o que todos desejavam, o braço operacional de uma série de atividades antes desenvolvidas pelo IF, mas que seriam agilizadas tornando o sistema gerencial mais eficiente e o financiamento do sistema mais consistente, o que realmente se observou nos primeiros anos após sua efetiva implantação (Castanho Filho, 1996). Entretanto, por ser um órgão autônomo e independente, suas ações às vezes se confundem com as do Instituto, causando desgastes entre as duas organizações1. Um grave problema político-gerencial verificado nos últimos anos é o fato da Fundação comercializar os produtos florestais oriundos das Florestas e Estações Experimentais do IF e nem sempre reaplicar os recursos auferidos nas florestas que os produziram2. 1 Nos últimos meses de 2003 o Instituto Florestal e a Fundação Florestal romperam relações administrativas e operacionais. (Nota do autor). 2 GARRIDO, M.A. de O. A comercialização florestal e as relações IF e FF. Informação verbal. 139 À DRPE cabe a responsabilidade de proteger significativos representantes dos biomas e ecossistemas associados à Mata Atlântica, mediante a administração e manejo de 17 Parques Estaduais, 03 Estações Ecológicas e 02 Viveiros Florestais, que albergam respectivamente 83.053,60ha, 643.166,61ha e 19,72ha que totalizam 726.239,93ha. Com certeza é a repartição do IF que recebe as maiores pressões da sociedade devido ao extraordinário patrimônio natural sob sua guarda, correspondendo a 3% do território estadual. Segundo o CONCITE (1997), suas atribuições atuais são a promoção dos programas de gestão relativos à implementação das unidades de conservação; planejamento de ações integradas com outros órgãos para viabilizar o alcance de metas dos programas de gestão voltados às UCs; contribuição para o aprimoramento da legislação e políticas voltadas para as UCs; estudos para a criação de novas unidades de conservação que visem a manutenção da diversidade natural do estado e a implementação de políticas de conservação nas regiões onde as UCs estão inseridas. Um dos maiores problemas enfrentados por esta divisão têm sido as constantes mudanças de diretores observada nos últimos 10 anos, cujas origens e estilos diferenciados conduziram à descontinuidade de trabalhos outrora bastante sólidos. Houveram inclusive diretores totalmente dissociados dos conceitos clássicos de unidades de conservação, com reconhecida experiência no desenvolvimento de projetos de pesquisa científica, mas nenhuma em planejamento e manejo de unidades de conservação. Tal situação conturbou esta importante divisão do IF, que precisa de um amplo processo de reflexão participativa visando retomar os rumos atualmente perdidos. Tradicionalmente à DFEE cabia a administração e o manejo racional das florestas plantadas do Estado, estudar a produção de sementes de interesse econômico, realizar sistematicamente o inventario florestal, desenvolvendo tabelas de volume e de rentabilidade que dessem suporte aos programas de reflorestamento, aplicar e desenvolver métodos de manejo florestal e desenvolver pesquisas correlatas no âmbito das florestas plantadas (CONCITE, 1997). Até o inicio da década de 90 a DFEE foi responsável apenas pelas unidades experimentais e de produção florestal, mas arranjos internos visando regionalizar e racionalizar os recursos logísticos atribuíram à mesma a condição de gerenciar também algumas unidades tradicionalmente administradas pela DRPE, 140 fundamentalmente as localizadas no interior do Estado (SÃO PAULO, 1997). Deste modo, passaram à DFEE os Parques Estaduais do Morro do Diabo, Vassununga, Porto Ferreira e Furnas do Bom Jesus, e a Estação Ecológica de Paulo de Faria, que somadas às áreas de vegetação nativa contíguas às unidades de produção e que foram transformadas em Estações Ecológicas, totalizam 31 unidades de uso sustentável e 23 de proteção integral com áreas de 48.038,27ha e 55.862,53ha respectivamente. Na atualidade a superfície total das UCs de proteção integral suplanta às de uso sustentável, e um fato chama a atenção para o conjunto das primeiras pois algumas delas possuem áreas muito pequenas para conformarem verdadeiras Estações Ecológicas (Bauru, Ibicatu, Itaberá, Itapeva, Ribeirão Preto, São Carlos, Valinhos), Parques Estaduais (ARA) ou Reservas Estaduais (Águas da Prata), cuja somatória e de apenas 1.123,26ha. O fato de assumir novas unidades não afeitas à sua tradição elevou sobremaneira as atribuições e a missão específica desta Divisão do IF, que deste modo assumiu outro perfil, adotando veladamente os seguintes objetivos: Implantação e condução de pesquisas florestais; manejo florestal sustentável, com a produção de madeira e resina e geração de recursos financeiros para aplicação nas UCs de proteção integral; proteção de fragmentos de vegetação nativa nas E.Ec. e Parques; produção e comercialização de sementes e mudas; produção de casas pré-fabricadas; planejamento, implantação, administração e realização de pesquisas voltadas ao uso público; apoio às demandas da comunidade e às pesquisas realizadas em suas dependências (CONCITE, 1997). Se não é elencado como um dos objetivos da DFEE, a conservação ex-situ ganhou um lugar de destaque junto ao Programa de Melhoramento Genético Florestal do IF, mediante a implantação e condução de áreas produtoras e pomares de sementes de espécies exóticas e nativas, estabelecimento de bancos genéticos de essências introduzidas superior àqueles das regiões de origem (América Central, Caribe e Ásia) e a obtenção de clones altamente produtivos (IF, 1994; DFEE, 1995). Um aspecto muito peculiar e que diferencia o IF enquanto gestor de UC é o fato da instituição possuir, no âmbito da DFEE, uma unidade produtora de casas pré-fabricadas (Floresta de Manduri) e 3 unidades produtoras de madeira tratada (E.Ex. Luiz Antonio e Itapetininga e Floresta de Manduri), o que resulta em um grande potencial para a implantação das infra-estruturas nas unidades. Nota-se 141 no Quadro 18 e Figura 05 que boa parte do esforço para construção das casas de madeira é destinado a outros objetivos que não somente às demandas das unidades de conservação, atendendo maiormente a projetos e programas muito específicos da SMA e outras entidades. Nota-se também que o ritmo de fabricação de construções prémoldadas tem decaído gradativamente, o que está relacionado à situação financeira do IF e a um arrefecimento das atividades voltadas à implantação e gestão das unidades de conservação. A paralisação gradativa da produção de casas de madeira é uma das provas cabais de que a Fundação Florestal não tem cumprido com uma das metas para as quais foi criada que era a de incrementar e aperfeiçoar a produção verticalizada do Instituto. Quadro 18. Estruturas de madeira pré-fabricadas produzidas pelo IF no período de 1990 a 2000. Destino Instituto Florestal Particulares outros Produção total em m2 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 TOTAL 1.2 410 563 1.32 870 202 265 667 489 292 390 6.666,50 e 1.82 120 330 213 252 66 642 171 440 0 292 4.346 Fonte: Floresta Estadual de Manduri - DFEE Figura 05. Involução da produção de casas de madeira pela Floresta Estadual de Manduri. 142 4.1.1 Planejamento Institucional A crise econômica iniciada no final da década de oitenta não poderia deixar de influir no sistema estadual de meio ambiente, mediante a redução desproporcional dos recursos investidos nas Unidades de Conservação. Frente ao colapso emergente, houveram alguns intentos para contornar a crise através do planejamento interdisciplinar, visando principalmente constituir documentos norteadores das ações futuras como também para convencer os tomadores de decisão na esfera governamental sobre as necessidades sempre e cada vez mais prementes para o efetivo manejo das unidades de conservação do Estado. A Divisão de Reservas e Parques Estaduais (DRPE) elaborou o “Plano de Ação Emergencial: Implantação e Manejo de Unidades de Conservação” (DRPE/IF, 1992), proporcionando uma visão bastante detalhada das UCs sob sua responsabilidade, traçando metas para os anos de 1993 e 1994 que abrangeram os programas de regularização fundiária, proteção/fiscalização, uso público, comunidades e ecologia humana, pesquisa, capacitação e novas unidades de conservação. O documento mostra com muita clareza a enorme defasagem dos recursos aplicados nas UCs e o estado de abandono em que se encontravam muitas delas, com o sucateamento da infra-estrutura e dos equipamentos em geral. O Quadro 19 contém os programas das principais metas propostas. Além dessas metas programáticas, consideradas as mais urgentes, o documento propõe diretrizes voltadas à pesquisa e à criação de novas unidades de conservação, trazendo ainda um diagnóstico sobre o estado atual e o requerido para alguns elementos imprescindíveis ao alcance daquelas, quais sejam: recursos humanos, veículos, equipamentos de comunicação, obras, outros materiais permanentes e recursos financeiros operativos. Quando da elaboração do Plano Emergencial a DRPE tinha sob sua guarda direta 764.430,58ha representados por 17 Parques Estaduais, 7 Estações Ecológicas e 2 Reservas Estaduais, sendo que para operacionalizar as ações propostas, excetuando os recursos para cobrir despesas salariais do pessoal existente e o solicitado, o montante necessário previsto alcançou a cifra de US$ 9,356,705.92 (nove milhões, trezentos e cinqüenta e seis mil, setecentos e cinco dólares e noventa e dois centavos) para o ano de 1993, perfazendo a média de US$12,25/ha/ano. 143 Quadro 19. Programas e metas do Plano de Ação Emergencial. • • • • • • • • • • • • • • 1. Regularização Fundiária Ampliar a área sob controle dominial efetivo de 18,9% em 92 para 33,8% em 93 e 45,6% em 94; Ampliar a área sob controle dominial relativo (em avançado estagio de regularização fundiária) de 10,0% em 92 para 21,8% em 93 e 22,0% em 94; Reduzir a área sem controle dominial de 71,1% em 92 para 44,4% em 93 e 32,4% em 94. 2. Proteção Ampliar a área com nível de proteção satisfatório (em área da Fazenda do Estado) de 10,9% em 92 para 33,8% em 93 e 45,6% em 94; Propiciar um segundo nível considerado satisfatório/critico (em áreas com regularização fundiária) de 28% em 92 para 21,8% em 93 e 22% em 94; Reduzir áreas com nível de proteção extremamente critico, aprofundando trabalhos nessas áreas visando minimizar agressões ao patrimônio natural, de 61,1% em 92 para 44,4% em 93 e 32,4% em 94. 3. Visitação Pública Ampliar o controle da visitação de 13,2% em 92 para 37,9% em 93 e 84,4% em 94. 4. Comunidades/Ecologia Humana Em 1993 consolidar projetos agroecologicos na E.Ec. Jureia-Itatins, Núcleo Picinguaba do P.E.S.Mar, PETAR e iniciar no PE Ilhabela. 5. Capacitação e Divulgação Treinar os funcionário da DRPE (inclusive os previstos a serem contratados via Fundação Florestal) em regime intensivo nos meses de março e abril/93 e nos trabalhos rotineiros a partir de maio do mesmo ano. Fonte: DRPE/IF (1992) Em termos de recursos humanos contava com 788 funcionários, uma relação de 1 (um) funcionário para cada 970ha, apresentando um Quadro de problemas bastante amplo tais como formas de contratação diferenciadas, baixos salários, falta de condições de trabalho, ausência de adequados planos de carreira, impossibilidade de ascensão profissional, falta de respaldo legal compatível para a execução de suas funções, desvios de funções e idade avançada. O plano propôs a contratação de mais 959 funcionários em diversas categorias trabalhistas, mediante a realização de concurso público específico pela Fundação Florestal, melhorando então aquela relação para 1funcionário para cada 437ha. Se por um lado as metas previstas no Plano Emergencial foram ambiciosas, por outro constituíram (ou ainda constituem) propostas reais segundo as necessidades inadiáveis para a efetiva proteção e conservação da diversidade da vida no Estado. Metas que com certeza seriam alcançadas se o Plano fosse considerado tão prioritário quanto as obras de construção civil que o Estado implementa a cada nova gestão de governo. Em relação às unidades administradas pela DFEE, em 1992 tentouse estabelecer um marco referencial em bases técnicas para o manejo sustentado e integrado das florestas de produção, mediante a elaboração do Plano de Manejo das 144 Florestas de Produção, que previa as necessidades para o pleno manejo das florestas, incluindo os cronogramas de desbastes, cortes rasos e reposição florestal em um regime de rotação florestal de 30 anos (DFEE/IF, 1992). As propostas contidas neste Plano consubstanciaram a elaboração de um Manual de Procedimentos e Normas aplicadas ao manejo das florestas, também de circulação interna, entretanto o não seguimento daquelas diretrizes fez com que muitas das unidades florestais atualmente contenham talhões cujas etapas de manejo estão defasadas, o que em última instância é uma importante fonte de recursos para serem destinados ao efetivo manejo das áreas protegidas do sistema. Outra séria intenção de planejamento concluída e publicada internamente refletiu-se no documento intitulado Novos Rumos (DFEE/IF, 1994), que impele à renovação dos princípios filosóficos norteadores das Estações Experimentais (floretas de produção) no afã de implantar definitivamente o conceito de desenvolvimento sustentável preconizado pela Agenda 21 já que naquele momento estavam sob a guarda da DFEE não somente as florestas de produção (32), mas também estações ecológicas (15), cujas áreas eram aproximadamente 29.000 e 32.000ha respectivamente. No diagnóstico sobre as unidades que administra, empreendeu-se um detalhado levantamento dos recursos humanos envolvidos nas atividades da DFEE constatando-se que dos 863 funcionários 318, ou 37% do total, possuíam mais de 50 anos ou em vias de se aposentarem; mas para adequar o Quadro às necessidades da época seriam necessários pelo menos mais 881 contratações, uma defasagem de mais de 100%. O mérito dos Novos Rumos concentra-se na consolidação de proposições exeqüíveis a médio e longo prazo, todas dependentes de uma necessária mudança na visão do corpo técnico para uma “mentalidade de integração das atividades econômicas, cientificas, tecnológicas e conservacionistas”. Os programas prioritários para dinamização foram 6: Conservação de Ecossistemas Naturais; Recuperação de Áreas Degradadas; Produção de Mudas; Melhoramento Genético Florestal; Uso Público e Implantação, Manejo e Exploração Florestal, de conformidade com a realidade das unidades e regiões onde as mesmas estão inseridas. Na mesma época, ainda no âmbito da DFEE, desenvolveu-se um esforço interdisciplinar de planejamento de áreas protegidas. Parte das Estações Ecológicas foram criadas a partir de glebas com vegetação nativa contíguas às 145 Estações Experimentais, fato este que impulsionou a iniciativa técnica à elaboração de Planos de Manejo Integrados para estas unidades, nas quais a gestão e manejo seriam conduzidos dentro de um enfoque participativo e uma visão regionalizada da conservação mediante a consideração e o estabelecimento de estratégias de ação para a zona de entorno ou de amortecimento. As áreas contempladas foram as Estações Experimental e Ecológica de Itirapina e as unidades que conformam a Seção de Manduri (Florestas Estaduais de Manduri, Piraju e Santa Bárbara e a Estação Ecológica de Santa Bárbara). Apesar de haver sob a guarda da DFEE várias unidades de uso direto e indireto contíguas, fato relevante no planejamento integrado dessas unidades, infelizmente aquelas iniciativas não prosperaram, pois até o momento nenhum dos planos foi publicado e efetivamente implementado. As constantes mudanças de diretores e estilos gerenciais ocorridos no Instituto nos últimos anos, aliados à falta de prioridades e planejamento contribuíram para que tanto os Novos Rumos como o Plano Emergencial se tornassem exemplos da elevada capacidade de produção técnico-científica dos Quadros institucionais e, ao contrario, a incapacidade e despreparo organizacional para traçar vias estratégicas que visem garantir a execução das propostas delineadas. Decorrente daquelas iniciativas e da extrema necessidade de esclarecer a identidade funcional e política do Instituto Florestal desenvolveu-se um movimento e processo de planejamento estratégico denominado Repensando o IF (IF, 1995), considerando a premente necessidade de mudanças em todos os aspectos e níveis institucionais para atualizá-la perante as demandas da SMA e da sociedade. Dentre os princípios norteadores das ações desenvolvidas encontram-se argumentos que visam não somente estimular ao trabalho de construir uma nova organização, mas também unir todos os funcionários em torno de um único objetivo. Convoca ao desafio os funcionários regimentais do IF propalando que não se está partindo do zero, em razão da história institucional de 100 anos e as muitas conquistas realizadas até então, assim como desperta o interesse dos ‘novos’ funcionários, egressos de outros órgãos e com uma visão diferenciada da instituição, direcionando as mudanças rumo a um futuro integrado ao Sistema de Meio Ambiente do Estado, em última análise visando a missão central do órgão 146 Repensando o IF foi uma iniciativa envolvente, com ampla participação, internalização e discussões que originaram claras definições sobre a nova missão institucional, os objetivos e os programas temáticos (o que fazer, metas e prioridades) e programas gerenciais (como fazer), hierarquizando a visão e o entendimento da instituição e proporcionando diretrizes modernas para se enfrentar os desafios impostos pelos constantes câmbios globais e demandas sociais. Assim, a partir deste momento a Missão do IF, extra-oficial, difundida e parcialmente aceita passou a ser “Proteger, Pesquisar e Recuperar a Biodiversidade e o Patrimônio Natural e Cultural a ela associados, na perspectiva do Desenvolvimento Sustentável do Estado de São Paulo”, abarcando os objetivos temáticos e gerenciais apresentados nos Quadros 20 e 21. O maior sentido do exercício Repensando o IF foi delinear a urgente necessidade de progresso junto ao planejamento estratégico institucional visando a modelagem de uma organização voltada aos graves problemas administrativos, tais como a defasagem entre as demandas sociais e os programas de ação, a falta de políticas institucionais consistentes voltadas às UCs, pouca autonomia financeira e política e a velada duplicidade de papéis desempenhados tradicionalmente pelo Instituto Florestal e pela Fundação Florestal. Ao se estabelecer objetivos gerenciais no processo de planejamento surgiram novos problemas até então dissimulados nas discussões internas que, se por um lado eram reconhecidos pelo corpo técnico e dirigentes por outro não eram tratados devidamente. Fato é que a abordagem neste contexto realçou a necessidade de mecanismos dirigidos à modernização procedimental e administrativa da organização, assolada pelos excessos burocráticos e pela ausência de diretrizes claras, modernas e emanadas daquela realidade. Outras iniciativas não totalmente voltados ao planejamento, mas que serviram como justificativa para a decisão, argumentação e estabelecimento de diretrizes para o planejamento institucional foram os processos de ‘Avaliação de Desempenho’ do corpo técnico da DFEE; a ‘Avaliação das UCs da DFEE’ e o estudo do Comportamento Financeiro das Florestas Estaduais e Estações Experimentais (ATP, 1998). 147 Quadro 20. Objetivos temáticos e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF. Coordenar, Fomentar e Executar ações visando à implantação e atualização do Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC • Criação e Planejamento de UCs • Implantação e Administração de UCs • Proteção de UCs e Entorno • Regularização Fundiária e Ecologia Humana • Uso Público, Educação Ambiental e Integração Regional • Pesquisa e monitoramento em UCs • Proteção e Recuperação do Patrimônio Cultural em UCs • Apoio à UCs Municipais e Privadas Promover o manejo integrado e sustentável de recursos florestais • Melhoramento Genético Florestal • Recuperação de Áreas Degradadas • Manejo e Produção Florestal Sustentatada Executar ações de mobilização, capacitação e educação ambiental que estimulem a participação da sociedade na proteção e melhoria do meio ambiente. • Produção/Difusão de Informações Ambientais • Eventos Técnico-Científicos e Comemorativos • Capacitação e Treinamento • Comunicação e Mobilização • Ecoturismo Produzir, fomentar e difundir conhecimentos científicos e tecnológicos voltados à conservação e manejo da biodiversidade. • Inventário Florestal de São Paulo • Fauna Nativa • Hidrologia Florestal • Fomento à Pesquisa Contribuir na elaboração e implementação de uma política florestal para o Estado de São Paulo. Fonte: IF (1995) . Quadro 21. Objetivos gerenciais e ações programáticas propostos pelo Repensando o IF. Reestruturação Institucional • Nova Missão e Planejamento Estratégico / Integração Instituto Florestal e Fundação Florestal / Autarquização Modernização Administrativa • Planejamento Estratégico / Regionalização e Descentralização / Repovoamento e Capacitação de RH / Informatização e Sistema de Informações Gerenciais / Desburocratização / Apropriação e Custos / Avaliação de Desempenho. Sustentabilidade Financeira • Orçamento do Tesouro / Comercialização de Produtos e Sub-produtos Florestais / Produção e Comercialização de Produtos de Comunicação Ambiental / Comercialização de Serviços Ecoturisticos / Taxas de Serviços Técnico-Científicos / Prestação de Serviços de beneficiamento de Produtos e Subprodutos Florestais / Royalties Ambientais / Uso de Áreas, Instalações e Equipamentos / Ressarcimento de danos Ambientais / Seguro de Riscos Ambientais em UCs / Participação em Renda de Origem Ambiental / Patrocínio Ambiental Parcerias • Integração Regional / Gestão Compartilhada / Ações e Projetos Conjuntos / Fóruns e Conselhos de Participação e Apoio e Voluntariado Fonte: IF (1995). 148 O primeiro visava monitorar as atividades e a produtividade de cada técnico de nível superior dentro da realidade econômica e política do órgão, emprestando à gerencia informações valiosas para o estabelecimento de diretrizes e planejamento setorial. Infelizmente a iniciativa prosperou por apenas dois anos tendo em vista a mudança de dirigentes. O segundo foi um processo que visava a reestruturação ou diminuição do número de unidades, que por suas características tais como localização, área, importância para a comunidade regional, atributos culturais e científicos, poderiam ser terceirizadas para a iniciativa privada ou disponibilizadas às prefeituras. Foi uma atitude corajosa pois intentava racionalizar os recursos disponíveis capitalizando-os para as unidades de maior retorno econômico e científico, entretanto foi abortado pelos dirigentes maiores sob a alegação de que o IF não poderia ter sua área total diminuída. Contudo, nem todas os problemas e soluções são discutidos no seio da instituição, ganhando destaque nos últimos anos as restritas conversas para a criação de um ‘Programa de Proteção da Fauna’ junto ao IF, a ser localizado no Parque Estadual da Capital (Campos, Vellardi e Jordão, 1999). Ainda que a proposta seja coerente com a missão do Instituto a mesma carece de profundidade e de uma maior participação da comunidade organizacional, haja vista que poucos dos seus membros conhecem com exatidão a sua essência e os impactos que possa ter sobre a atual estrutura e orçamento da instituição. O fato é que recursos financeiros apareceram e prédios foram adaptados e construídos para abrigar a proposta, que num momento é apresentada como um ‘programa’, noutro como uma possível ‘Divisão’ dentro da estrutura do IF, demonstrando o quão desarticulada e pouco respeitada está a Instituição. 149 4.1.2 Unidades de Conservação sob administração direta do IF Quadro 22. Unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal. Unidades de Conservação de Proteção Integral Estações Ecológicas (22) E.Ec. Angatuba 1.394,15 E.Ec. Assis 1.312,38 E.Ec. Bananal 884,00 E.Ec. Bauru 287,98 E.Ec. Caetetus 2.178,84 E.Ec. Chauás 2.699,60 E.Ec. Ibicatu 76,40 E.Ec. Itaberá 180,00 E.Ec. Itapeti 89,47 E.Ec. Itapeva 106,77 E.Ec. Itirapina 2.300,00 E.Ec. Jataí 4.532,18 E.Ec. Juréia-Itatins 79.270,00 E.Ec. Mogi-Guaçu 980,71 E.Ec. Paranapanema 635,20 E.Ec. Paulo de Faria 435,73 E.Ec. Ribeirão Preto 154,16 E.Ec. Santa Bárbara 2.712,00 E.Ec. Santa Maria Parques Estaduais (23) P.E. Aguapeí Reservas Estaduais (01) R.E. Águas da Prata 9.043,9741 48,40 P.E. A.R.A 64,30 P.E. Albert Löfgren 174,00 P.E. Campina do Encantado 2.359,50 P.E. Campos do Jordão 8.385,89 P.E. Cantareira 7.900,00 P.E. Carlos Botelho 37.644,36 P.E. Furnas do Bom Jesus 2.069,06 P.E. Ilha Anchieta 828,08 P.E. Ilha do Cardoso 22.500,00 P.E. Ilhabela 27.025,00 P.E. Jacupiranga 150.000,00 P.E. Jaraguá 492,68 P.E. Juquery 1.927,70 P.E. Jurupará 26.250,47 Unidades de Conservação de Uso Sustentável Estações Experimentais (21) E.Ex. Araraquara Florestas Estaduais (10) F.E. Angatuba Hortos Viveiros Florestais Florestais (07) (02) H.F. Andrade e V.F. Silva Pindamonhangaba 143,36 1.196,21 720,39 10,00 E.Ex. Assis F.E. Avaré H.F. Cesário V.F. Taubaté 3.167,62 741,83 37,24 9,72 E.Ex. Bauru F.E. Batatais H.F. Navarro de 43,09 1.353,27 Andrade 2.230,53 E.Ex. Bento Quirino 416,36 E.Ex. Buri 1.080,68 E.Ex. Casa Branca 494,18 E.Ex. Itapetininga F.E. Bebedouro 99,41 F.E. Botucatu 33,80 F.E. Cajuru 1.909,56 F.E. Manduri H.F. Oliveira Coutinho 12,41 H.F. Palmital 72,60 H.F. Santa Ernestina 69,70 H.F. Sussuí 9,68 6.706,78 1.485,14 E.Ex. Itapeva F.E. Paranapanema 1.827,61 1.547,84 E.Ex. Itararé F.E. Piraju 2.379,05 680,00 E.Ex. Itirapina F.E. Santa Bárbara do Rio Pardo (I e II) 3.212,81 3.979,88 E.Ex. Jaú 258,65 E.Ex. Luiz Antônio 6.267,73 E.Ex. Marília 554,35 E.Ex. Mogi-Guaçu 2.706,28 P.E. Mananciais C. de Jordão 502,96 P.E. Marinho da Laje de Santos 5.000,00 P.E. Morro do Diabo 33.845,33 P.E. Porto Ferreira E.Ex. Mogi-Mirim 145,65 E.Ex. Paraguaçu Paulista 442,09 E.Ex. Pederneiras 2.143,67 E.Ex. Santa Rita do Passa Quatro 96,26 E.Ex. São José do Rio Preto 89,30 E.Ex. São Simão 2.637,33 113,05 611,55 E.Ec. São Carlos P.E. Serra do Mar 75,26 315.390,69 E.Ec. Valinhos P.E. Turístico do Alto Ribeira 16,94 PETAR 35.884,28 E.Ec. Xitué P.E. Vassununga 3.095,17 1.732,14 E.Ex. Tupi 198,48 P.E. Xixová-Japuí 901,00 Subtotal Subtotal 103.529,99 Total • • • Subtotal 690.532,96 Subtotal 48,04 794.111,35ha Subtotal 35.011,33 Total Subtotal 13.026,94 Subtotal 3.152,55 19,72 51.210,54 ha Horto Florestal de Palmital: destinado ao Instituto Florestal e encontra-se sob sua administração. Os demais pertencem ao patrimônio da FEPASA e encontram-se sob a administração do Instituto Florestal (Convênio CPRN-IF/CAIC, atual CODASP). Quanto ao Horto Florestal Navarro de Andrade pertence à FEPASA e está sob administração do IF por Resolução do Secretário do Meio Ambiente. P.E. Aguapeí: criado por Decreto e será transferido para o IF após a desapropriação das terras pela CESP. R.E. Lagoa São Paulo: inundada pelo Reservatório de Porto Primavera - CESP. Em andamento tratativas para compensação por danos ambientais, com acréscimo de novas áreas. De conformidade com o Quadro 22, no Estado de São Paulo, existem 87 áreas protegidas sob a responsabilidade direta do IF, perfazendo um 150 patrimônio de aproximadamente 845.321,89 hectares, abrangendo ecossistemas extremamente ameaçados e vulneráveis dentre os mais significativos, tais como a Floresta Atlântica, o Cerrado, a Floresta de Araucária, Campos de Altitude, Ambientes Marinhos e também extensos maciços florestais plantados com espécies exóticas. O Quadro a seguir é uma síntese de todas as UCs agrupadas em Unidades de ‘Proteção Integral’ e de ‘Uso Sustentável’. Quadro 23. Unidades de proteção integral e uso sustentável administradas pelo Instituto Florestal (adaptado de IF, 2001). Categoria de Manejo Proteção Integral Unidades de Conservação Estação Ecológica Parques * Reservas Estaduais** Estações Experimentais Florestas Estaduais Hortos Florestais Viveiros Florestais Quantidade 22 23 01 21 10 07 02 Área (ha) 103.529,99 690.532,96 48,40 Uso Sustentável 35.011,33 13.026,94 3.152,55 19,72 845.321,89 * Inclui o PESM (excluindo os seus Núcleos de Gestão como unidades) e o PE Aguapeí, criado em 1998. ** Exclui a área da R.E. Lagoa São Paulo, de 13.343,88ha, inundada pelo UHE de Porto Primavera e em tratativas para compensação com a criação e implantação dos PE Rio do Peixe e Aguapeí. Segundo Silva (1999), muito embora seja uma quantia significativa em termos de patrimônio físico, a superfície total de áreas protegidas representa menos de 4% do território paulista, muito abaixo do preconizado pela UICN, que recomenda pelo menos 10% da superfície territorial do Estado, do País ou do bioma sob proteção estrita. Entretanto este autor alude, consoante a Resolução CONAMA nº 13/90 (BRASIL, 1992), que o somatório das áreas de entorno das unidades de conservação, compreendidas nos limites do raio de 10 km demarcados a partir do perímetro das mesmas, importa em aproximadamente 3.506.000 hectares, ou seja, numa área quatro vezes maior que aquela ocupada pelas unidades de conservação, demonstrando a complexidade e os desafios do trabalho nesse campo. Na prática o IF há muito deixou de ser um Instituto de Pesquisa clássico, sendo a pesquisa apenas uma das várias atividades desenvolvidas (IF, 1996), mesmo porque suas maiores atribuições, problemas e desafios se concentram na proteção e resguardo da biodiversidade do Estado, o que lhe conferiu a alcunha de Guardião da Biodiversidade no início da década de 90. Nos termos da Convenção para a Proteção dos Patrimônios Culturais e Naturais Mundiais, adotada pela Conferência Mundial da UNESCO de 151 1972, o Comitê Intergovernamental para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, denominado “Comitê do Patrimônio Mundial”, incluiu, em dezembro de 1999, a área da MATA ATLÂNTICA S.E. (Sul/Leste) BRASIL na “Lista de Patrimônio Mundial” como Bem Natural de Valor Universal. O trabalho foi elaborado por técnicos e pesquisadores do Instituto Florestal sob a Coordenação do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e contou com a colaboração do Instituto Ambiental do Paraná, Fundação Florestal, Projeto de Preservação da Mata Atlântica. É constituído de uma área Núcleo com 468.193 hectares abrangendo as Unidades de Conservação do litoral Sul e do Vale do Ribeira. Envolvendo estas unidades de conservação esta delineada uma Zona Tampão com 1.223.557 hectares, coincidindo com os limites da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Reserva de Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo (ATP, 2000). 4.1.3 Atividades de Pesquisa Um dos focos principais do desenvolvimento institucional é a coordenação e execução de pesquisas norteadas ao âmbito da ciência florestal, visando a criação e teste de metodologias de manejo para as suas florestas, de modo a garantir a produção de benefícios diretos e indiretos de forma sustentável. As áreas do conhecimento albergadas pelas pesquisas desenvolvidas são abrangentes, envolvendo desde o levantamento detalhado dos solos e vegetação, sua composição e estrutura, ciclagem de nutrientes, fauna, clima, botânica e fitossociologia, biologia de reprodução de espécies, hidrologia, conservação ex situ, etc., cujo resultado deveria ser uma efetiva colaboração para o manejo dos recursos e a elaboração de planos de manejo das unidades de conservação. Na conservação ex situ ressalta-se a existência de bancos de germoplasma de pináceas oriundas da América Central e Sul da Ásia, onde as matas nativas há muito foram dizimadas (IF, 1994). A década de 70 foi testemunha do pioneirismo do Instituto ao adaptar metodologias para o delineamento dos primeiros planos de manejo de áreas naturais protegidas do Brasil, cujos exercícios promoveram a capacitação do corpo técnico e originaram alguns Planos de Manejo reconhecidos por suas excelência (Campos do Jordão, Cantareira, Ilha do Cardoso, etc). Na mesma época empreenderam-se estudos que resultaram no Zoneamento Econômico Florestal visando nortear as políticas públicas para a proteção ambiental e as atividades 152 inerentes ao setor madeireiro. Situação análoga motivou a elaboração do Inventário Florestal de São Paulo (DFEE, 1992; IF, 1994). O pioneirismo é notável também quando se trata de pesquisas de melhoramento genético florestal destinado ao aumento da produtividade de resinas de Pinus. O Instituto Florestal vem desenvolvendo importante programa de melhoramento das espécies produtoras, contando atualmente com Pomares Clonais de alta produtividade com ganhos de até oito vezes mais que as matrizes originais, uma importante contribuição dirigida a este setor econômico brasileiro haja vista que o país iniciou a exploração do produto em 1978 e em pouco tempo tornou-se grande produtor de resina, sendo que hoje é o segundo maior produtor mundial de resina, atrás apenas da China (Romanelli, 2001)3. Os 1o e 2o Congressos Nacional sobre Essências Nativas (SÃO PAULO, 1982; SÃO PAULO, 1992), estão entre as realizações científicas mais marcantes conduzidas pelo Instituto Florestal, reunindo especialistas das mais distintas formações profissionais e abordando os mais diferentes temas relacionados à conservação da natureza e aos recursos florestais. Em relação ao segundo congresso, o IF cumpriu a importante tarefa de fornecer subsídios à sociedade para que esta pudesse participar e definir políticas voltadas a defesa do meio ambiente, antecedendo as discussões que aconteceriam na Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de janeiro em 1992. Como não poderia deixar de ser o Instituto Florestal possui seus próprios mecanismos de divulgação científica, alguns já fora de circulação como é o caso do periódico Silvicultura em São Paulo, que circulou de 1962 a 1988; o Boletim Técnico do Instituto Florestal, entre 1972 e 1988; e a Publicação Instituto Florestal, de 1972 a 1988. Atualmente são editados a Revista do Instituto Florestal e o I.F.– Série Registros, ambos a partir de 1989. Folhetos educativos (folders) e publicações avulsas como o Inventário Florestal do Estado são emitidos ocasionalmente (SÃO PAULO, 1996). Em 1994 havia nas áreas naturais e laboratoriais do Instituto 341 projetos registrados, deste montante 241 ou 70% eram coordenados por pesquisadores do próprio IF (Instituto Florestal, 1994). Entretanto, passados pouco 3 Romanelli, Reinaldo Cardinali. O estado da arte das pesquisas em melhoramento genético de pinus produtores de resina. IN Reunião das Chefias de Seção da DFEE/IF. Itapetininga, SP. 11/10/2001. Informação verbal. 153 mais que seis anos a situação se inverteu e hoje a maioria dos projetos, ou 74% do total, são conduzidos por pesquisadores de outras instituições (Quadro 24), demonstrando uma alteração de prioridades, postura e mesmo da missão institucional que foi adaptada às novas demandas da sociedade. Quadro 24. Programas e projetos de pesquisa desenvolvidos no IF entre 1998 e 2001. PROGRAMAS DE PESQUISA I Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais II Conservação e Melhoramento Genético III Fauna IV Métodos Silviculturais V Biologia Florestal VI Manejo de Áreas Silvestres VII Proteção Florestal VIII Comunicação Ambiental IX Inventário X Influências Florestais XI Manejo de Florestas Implantadas Total Fonte: Cotec/IF, 2000 Projetos IF Projetos externos Projetos conjuntos Total de projetos 8 0 2 10 18 5 4 27 0 7 4 3 0 2 1 4 2 49 110 3 77 31 2 10 0 4 0 242 4 2 11 2 0 0 0 0 0 25 114 12 92 36 2 12 1 8 2 316 O quadro é preocupante, pois mostra também as lacunas existentes em algumas áreas do conhecimento imprescindíveis à gestão de unidades de conservação, ao menos em relação ao corpo de pesquisadores do IF, como Fauna, Biologia Florestal, Manejo de Áreas Silvestres, Proteção Florestal e Comunicação Ambiental, levando profissionais da casa a esboçarem críticas do tipo “nós temos programas de pesquisa ou títulos de programas?”. Pois os mesmos foram definidos ainda na década de 1980 e a realidade mudou muito de lá para cá, ainda que haja o consenso geral de que é necessário se ter uma base sólida de conhecimento gerado pela pesquisa para se fazer conservação da biodiversidade com lógica e propriedade. A propósito, durante o Workshop sobre Pesquisas em Unidades de Conservação (SMA, 2000), difundiram-se os argumentos que apontam os problemas das pesquisa dirigidas às UCs, citando-se entre outros pontos i) a falta de suporte institucional para que os pesquisadores busquem apoio externo; ii) existência de conflitos entre o que os políticos desejam, as demandas sociais e ambientais e o que o corpo técnico é capaz de realizar; falta de diretrizes para a realização de pesquisas 154 específicas em ambientes cavernícolas, ambientes marinhos, conservação genética, etc. (Barbosa, 2000). No citado evento conclui-se a debilidade da política de pesquisa em vigor e iniciou-se a construção de algo mais sólido (CINP, 2001), mas apesar das evidências contrárias e da desarticulação do setor na instituição deve-se ressaltar a realização de algumas pesquisas voltadas à gestão das unidades de conservação, implementadas pelo pessoal da própria casa (Quadro 24), fato que demonstra a demanda interna para a qualificação profissional, já que todos os trabalhos são de pós-graduação, e o interesse e preocupação do Quadro técnico em direcionar os esforços para a temática em questão. Os trabalhos desenvolvidos no IF tem merecido o reconhecimento nacional tendo em vista os recentes prêmios recebidos. A Seção de Manejo e Inventário Florestal, da Divisão de Dasonomia do IF foi contemplada em 1999 com dois prêmios na área de informática: Prêmio CONIP – Excelência em Informática Pública com o trabalho “A Informatização na Preservação de Recursos Naturais” e o Premio CASE de Meio Ambiente com o trabalho “Áreas de Domínio do Cerrado no Estado de São Paulo”. Em 2000 recebeu o Premio Top de Ecologia com o trabalho “Utilização de Técnicas de Geoprocessamento no Levantamento da Vegetação e Suporte ao Planejamento das Unidades de Conservação”. Em novembro de 1999 o IF instituiu o Ciclo de Palestras Técnicas, promovido pelo Serviço de Comunicações Técnico-Científicas, com o objetivo de divulgar os resultados das atividades do corpo técnico e científico, abrangendo as diferentes áreas de atuação institucional e servindo aos propósitos de capacitação dos funcionários. Se por um lado o IF carece de uma política clara que direcione as pesquisas que realiza, por outro o Workshop sobre Pesquisas Voltadas ao Manejo de Unidades de Conservação (SMA, 2000) estabeleceu uma série de regras e prioridades, salientando as lacunas de pesquisa para um efetivo suporte à gestão das áreas protegidas do Estado. Entretanto os problemas no setor vão além do estabelecimento daquelas diretrizes, sendo identificado no IF falhas de registro, acompanhamento e retorno dos projetos, bem como a pulverização das áreas de atuação dos pesquisadores, aspectos mais relacionados à organização e que evidencia a urgente necessidade de modernização interna (Barbosa, 2000). 155 Assim, se persiste a desorganização nos procedimentos de cadastramento e acompanhamento das pesquisas o Quadro 24 pode não refletir com exatidão o numero de projetos em andamento no IF. Um fato real resultante do pouco investimento sobre esta questão é a dificuldade dos diretores de áreas protegidas terem retorno dos trabalhos desenvolvidos em suas unidades. Quadro 25. Recentes pesquisas desenvolvidas no IF direcionadas à gestão de Unidades de Conservação. Autor Andrade, V. J. Ano 1998 Enfoque Uso Público Burgi, R. 1998 Planejamento Mazzei, K. 1999 Zona entorno Melo Neto, J. E. 1999 Uso Público Robim, M. de J. 1999 Uso Público Sério, F. C. 1999 Planejamento Silva, C. E. F. 1999 Planejamento Lutgens, H. D. 2000 Zona entorno Tabanez, M. F. 2000 Educação ambiental Kronka et al. 2001 Inventario e planejamento de de Titulo Trilha de longa distância na Serra da Mantiqueira: planejamento e definição de estratégia para implantação com participação de força voluntária. Contribuição ao zoneamento e gestão de uma unidade de conservação: Estudo de caso no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, PETAR - SP. Manejo de unidades de conservação em áreas urbanas: Discussão para incorporação de novas áreas. Ordenamento conceitual do uso público participativo do Parque Estadual de Campos do Jordão, São Paulo - Brasil. Análise das características do uso recreativo do Parque Estadual da Ilha Anchieta: uma contribuição ao manejo. Desenvolvimento de método automatizado para zoneamento de áreas naturais protegidas: Estação Ecológica de Itapeti, São Paulo - Brasil. Desenvolvimento de metodologia para a análise da adequação e enquadramento de categorias de manejo de unidades de conservação. Caracterização ambiental e proposta de manejo para zona de entorno da Estação Experimental e Ecológica de Itirapina, SP. Significado para professores do programa de educação ambiental da Estação Ecológica de Caetetus. Técnicas de geoprocessamento aplicadas ao levantamento da vegetação e suporte às unidades de conservação. Fonte: SMA/CINP (2000) Um aspecto relevante quanto ao desenvolvimento de pesquisas em um órgão que também tem como atribuição a gestão de unidades de conservação é que se ambas as atividades forem conduzidas em harmonia e integradas em políticas consistentes elas se complementam com resultados satisfatórios para a conservação. O Serviço de Parques dos Estados Unidos enfrenta uma série de dificuldades por não possuir em seus quadros repartições dedicadas à realização das pesquisas mais elementares, pois a legislação que regulamenta o órgão 156 simplesmente o proíbe desta função, o que o torna dependente de uma série de outros organismos daquele país (Wendt, 1992; Peterson, 1996) e o impede de ser mais ágil para problemas que podem ser solucionados com pesquisas de curto prazo, como o estabelecimento da capacidade de carga turística, mapeamento dos recursos para posterior zoneamento, estudo do perfil dos usuários das UCs, entre outras modalidades. 4.1.4 Recursos Financeiros e Humanos A última década presenciou uma considerável diminuição do orçamento do Instituto Florestal, conforme se observa no Quadro 26. Até 1992 a despesa com pessoal podia ser considerada ínfima e correspondia a uma pequena porcentagem dos recursos obtidos junto ao Estado. Quadro 26. Orçamento total do Estado destinado ao Instituto Florestal nos últimos 9 anos. ANO Item de Despesa 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 222,00 4.645,00 8.314,00 9.193,00 9.037,0010.308,81 9.859,9310.630,9911.850,60 Pessoal 3.067,00 5.506,00 5.081,00 3.362,00 2.793,00 2.460,83 2.055,80 1.803,01 1.736,23 Custeio 1.688,00 228,00 3.749,00 3.045,00 248,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Investimento 4.977,0010.379,0017.144,0015.600,0012.078,0012.769,6411.915,7312.434,0013.586,83 Total Geral Total sem pessoal 4.755,00 5.734,00 8.830,00 6.407,00 3.041,00 2.460,83 2.055,80 1.803,01 1.736,23 Fonte: Período 1992-1996 -- (CONCITE, 1997); Período 1997-2000 (DFEE-DA/IF, 2001) A partir de 1995 as despesas com pessoal suplantaram as operacionais e em 1997 deixou de existir o item Investimentos; os recursos não pararam de decrescer a somas inexpressivas, tanto que os gastos com despesas públicas no ano 2000 (água, esgoto e energia) consumiram cerca de 46% do total. Somente a título de comparação, os orçamentos do Parque Estadual Intervales, administrado pela Fundação Florestal, em 1997, 1998, 1999 e 2000 foram de R$1.489.900,00; R$1.540.000,00, R$1.540.000,00 e R$1.318.600,00 respectivamente (Campos, 2001), o que demonstra uma enorme disparidade no que tange aos orçamentos do IF e da Fundação Florestal, provavelmente em razão do peso político diferenciado destas duas organizações. O gráfico da Figura 06 ilustra o comportamento dos itens orçamentários, ficando claro que apesar da existência de um ligeiro acréscimo nos 157 valores totais aplicados na Instituição estes ocorreram graças a um pequeno aumento nas despesas com pessoal. Figura 06. Comportamento dos principais componentes do orçamento do Estado destinado ao IF nos últimos 9 anos. Na medida que diminuiu os recursos do Tesouro, o IF tomou precauções no sentido de recuperar o poder de gestão mediante a obtenção de recursos de outras agências nacionais e internacionais, e deste modo de 1992 a 1996 obteve-se próximo a R$11.832.000,00 mediante a formulação de convênios e parcerias (ATP- IF, 2000). Segundo Alonso (2000)4 algumas razões podem ser apontadas para a atual crise e a drástica redução dos recursos do Tesouro, como por exemplo i) a capacidade que tem o órgão de captar recursos externos, motivando a Secretaria da fazenda a diminuir anualmente a dotação orçamentária do Instituto; ii) não houve aguerrimento, por parte de diretores administrativos passados, junto à Secretaria de Planejamento visando justificar as solicitações de recursos haja vista contarem com recursos externos (PNMA, PPMA, JICA, etc.); iii) os vários projetos com financiamento extraordinários conseguidos nos últimos anos não foram corretamente planejados e aquilatados para se saber seus reais impactos na gerencia e no futuro institucional. 4 Alonso, A. L. Situação financeira do Instituto Florestal. Palestra. Reunião dos Chefes de Seção da Divisão de Florestas e Estações Experimentais. Novembro de 2000. 158 Alguns profissionais alegam que essa diminuição de recursos é uma tendência natural de uma economia globalizada e do sistema de governo neo-liberal adotado pelo Estado, não havendo recursos suficientes para setores básicos como saúde e educação, quanto mais para meio ambiente. Para Garrido (2001)5, as constantes mudanças dos Diretores Gerais nos últimos anos, cerca de seis em oito anos, quebrou toda uma ‘escola’ cultivada por pessoas realmente engajadas na organização e que efetivamente pelejavam junto à Secretaria de Planejamento para conseguir as verbas necessárias, independentemente dos recursos de convênios e da arrecadação própria. Outro fato já mencionado é que, por mais lamentável que possa parecer, a Fundação Florestal só fez piorar essa situação, pois nem arrecadou eficientemente e nem ‘permitiu’ que o IF o fizesse. Certo é que a relação entre os recursos financeiros e superfície protegida (Figura 07) tem caído progressivamente e a situação tem se apresentado desalentadora para os dirigentes da organização e diretores das UCs. 20000,00 860.000,00 18000,00 16000,00 855.000,00 12000,00 850.000,00 10000,00 8000,00 845.000,00 Área (ha) R$ x 1000 14000,00 6000,00 4000,00 840.000,00 2000,00 0,00 835.000,00 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 Ano Total Geral Total s/pessoal Área Figura 07. Involução da relação entre os recursos financeiros e a superfície protegida do IF. Um fato curioso ocorrido nos últimos anos refere-se à decisão de se privilegiar as unidades contempladas pelo Projeto de Preservação da Mata Atlântica-PPMA, financiado pelo KFW, com boa parcela dos parcos recursos 5 Garrido, M. A. de O. Sobre os estilos gerenciais dos Diretores Gerais do Instituto Florestal. Informação Verbal. 159 existentes. Assim, as 10 unidades, todas da Serra do Mar e Litoral, que compõem o projeto foram agraciadas com uma reserva de R$650.000,00 em termos de recursos operacionais para o ano 2000, enquanto que as demais 75 unidades tiveram que se contentar em repartir R$1.700.000,00. Apesar de a relação recursos/área estar relativamente equilibrada (Quadro 27), não foi possível saber se houve algum estudo para a definição de prioridades e demandas das demais áreas protegidas na partição dos poucos recursos destinados ao Instituto. Quadro 27. Recursos financeiros destinados às 10 UCs do projeto PPMA em relação às demais unidades do Instituto Florestal. Unidades/Inserção UCs – KFW Orçamento IF 2000 Área 229.750,35 615.571,65 Recurso operacional 650.000,00 1.736.231,00 $/ha 2,83 2,82 Fonte: ATP/IF (2000) A valência do IF é que a organização possui receitas internas advindas da venda de produtos e sub-produtos das florestas plantadas, além de uma parte resultante da cobrança de ingressos por visitação pública (Quadro 28). Quadro 28. Receita do IF oriunda de produtos e sub-produtos florestais 1997 IF FF 1998 IF FF 1999 IF FF 2000 IF FF 251.647,00 1.512.326,00 398.611,00 1.303.042,00 510.226,00 713.841,00 194.269,00 654.790,00 Madeira 1.367.405,00 668.012,00 1.366.265,00 Resina 71.134,00 20.534,00 80.113,00 3.366,00 100.960,00 80,00 80.523,00 Mudas 1.210,00 11.404,00 14.763,00 Biomassa 28,00 250,00 70,00 Sementes 133.275,00 92.836,00 Gado 969,00 22.837,00 3.236,00 1.417,00 4.598,00 287.456,00 119,00 Outros Total parcial 323.750,00 2.923.102,00 616.445,00 1.975.865,00 627.438,00 2.367.642,00 382.580,00 654.790,00 3.246.852,00 2.592.310,00 2.995.080,00 1.037.370,00 Total ano Fonte: DFEE/IF (2001) Nestes termos, a participação das florestas e estações experimentais na arrecadação total do Instituto (e direcionada à manutenção do sistema administrativo via Fundo Especial de Despesa) é bastante significativa, mas infelizmente há uma grande dificuldade para se saber os reais valores percebidos em razão da Fundação Florestal administrar a totalidade dos recursos advindos da produção de resina e tanto IF-DFEE e FF gerenciarem os provenientes da comercialização de sementes, mudas e madeira, não havendo até então uma única 160 forma de controle das receitas auferidas, incluindo as arrecadações provenientes da visitação pública. Deste modo, as informações anteriores a 1997 ou foram mal acompanhadas ou mal registradas e por este motivo os dados apresentados aqui podem não estar totalmente corretos. Por exemplo, no ano 2000 a FF comercializou resina, mudas e sementes, entretanto não foi possível obter tais dados em tempo hábil para este relato. É interessante notar que nos anos 1997, 1998 e 1999 a receita oriunda do esquema comercial IF/FF sempre foi maior que a dotação orçamentária do Estado para cobrir as despesas operacionais básicas. É sabido que a produção florestal poderia ser ainda maior em beneficio do ‘sistema’ de unidades de conservação caso fossem adotadas medidas que resultassem no manejo integrado de todas as florestas do Estado segundo um enfoque de manejo sustentado. Deste modo, deveriam estar sendo efetivados os plantios de florestas nas áreas disponíveis e renovando-as com a utilização de variedades mais produtivas oriundas das pesquisas desenvolvidas no próprio Instituto Florestal (Gurgel Garrido et al.., 1997). Segundo profissionais seniores do IF6, florestas que hoje produzem 15m3/ha/ano passariam para 35-40m3/ha/ano de madeira; de 2,5kg/arv/ano para 7kg/arv/ano de resina, provendo maior arrecadação, maior geração de empregos diretos e indiretos e maior disponibilidade de madeira plantada, com amplas possibilidades de serem ainda certificadas e terem mercado garantido. Esta afirmação não é nova, sendo uma das metas estipuladas para a Fundação Florestal quando de sua criação (Castanho Filho, 1996). Conforme um recente inventário realizado nos povoamentos florestais das unidades de uso sustentável do Instituto florestal, a área ocupada por florestas plantadas é de 28.590,71ha contendo um estoque de madeira potencialmente comercializável na ordem de 5.553.473,67m3 (Toyama et al., 1999). Estimando-se o valor deste material pelo preço mínimo para lenha, um produto menos nobre no mercado madeireiro e avaliado em R$ 30,00/m3 na média7, em 1999 havia estocado nas florestas plantadas do IF um capital acima dos R$160.000.000,00 (Cento e sessenta milhões de reais), sendo que deste resultado 6 GARRIDO, M. A. de O. Melhoramento das florestas de produção do IF. Informação Verbal. Acompanhamento do preço médio praticado na compra de carvão vegetal de origem de reflorestamento. 1999. http://www.ipef.br/estatflorest/tabelas/precocvreflor99.html 13 161 estão excluídos todos os demais subprodutos da floresta, tais como resina e madeira para serraria. O mesmo informe mostra que há uma enorme defasagem no manejo das florestas em razão da não ocorrência da reposição dos estoques na mesma medida que os cortes avançaram. Somente em termos de superfície livre para plantio existem aproximadamente 3000ha disponíveis de imediato, sem contar as áreas cujos cortes finais estão sendo adiados em razão da incapacidade de plantio, o que revela o não seguimento do plano de manejo florestal de 1992 (DFEE/IF, 1992). Ou seja, na atualidade o manejo florestal está voltado para a produção de dinheiro e não mais para a produção sustentada, como preconizado pelo excelente Plano de Desenvolvimento Florestal Sustentável elaborado pela Fundação Florestal para o Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1993) ou pelas diretrizes que previam um plano trintenal para as florestas de produção do Instituto Florestal. Uma das inúmeras conseqüências e evidências da grave crise financeira que assola o IF reside na sua precária frota de veículos, que se apresenta em quantidade insuficiente e com manutenção bastante comprometida (Quadro 29). Dos 352 veículos disponíveis no IF mais da metade (187) passam dos 10 anos de uso e cerca de 15% dos que ainda estão em serviço possuem mais de 20 anos, uma situação antagônica às diretrizes de redução dos custos do governo já que é de conhecimento popular que quanto mais velhos e mais usados os veículos, maiores serão as despesas de manutenção. Quadro 29. Frota de veículos disponível no IF no ano 2000 Ano Quantidade Até 1980 50 1981-1990 137 1990-2000 165 Total 352 Fonte: Adaptado de ATP/IF (2000) % 14 39 47 100 Em termos de pessoal a situação não é diferente. Em 30 anos a área sob a responsabilidade do IF aumentou cerca de 150%, mas a quantidade de pessoal designado para a proteção e manejo dos ecossistemas englobados diminuiu em ritmo maior (Quadro 30), passando de 133ha/funcionário em 1970 para 600ha/funcionário em 2000, um aumento de 450% no índice em 30 anos que eleva significativamente a responsabilidade do organismo. A Figura 08 possibilita visualizar 162 a oscilação descendente do quadro de pessoal do IF em relação ao aumento da área protegida. Quadro 30. Involução do Quadro de funcionários do IF frente ao aumento da superfície protegida Ano 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 Área (ha) 350000,00 350000,00 350000,00 350000,00 350000,00 350000,00 350000,00 758000,00 758000,00 758000,00 758000,00 758000,00 765000,00 765000,00 Superfície / Funcionário 133,43 134,72 136,03 140,11 147,87 151,19 151,45 337,04 344,55 346,91 345,96 383,60 401,36 415,31 Pessoal 2623 2598 2573 2498 2367 2315 2311 2249 2200 2185 2191 1976 1906 1842 Ano 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 2000* Área (ha) 771920,00 771920,00 841948,00 843564,00 844908,00 844908,00 844908,00 844908,00 844908,00 844908,00 844908,00 847388,67 847388,67 859.283 Pessoal 1804 1920 2001 1800 1795 1723 1650 1570 1358 1325 1926 1740 1478 1439 Superficie / Funcionário 427,89 402,04 420,76 468,65 470,70 490,37 512,07 538,16 622,17 637,67 438,69 487,00 573,33 597 Fonte: ATP, IF (2000) Número de funcionários 3.000 1.000.000 900.000 800.000 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 Área (ha) *Inclui todos os Parques Estaduais, Estações Ecológicas, Reservas Estaduais, Estações Experimentais, Floresta Estaduais e exclui, no ano 2000, a área da Reserva Estadual Lagoa São o Paulo, cujo Decreto de criação foi revogado pela Lei Estadual n 10.018, de 02/07/1998. 96 Anos Pessoal Área Figura 08. Involução do Quadro de funcionários em relação ao crescimento da superfície protegida. Para a atual situação demográfica do Instituto Florestal cabe salientar alguns aspectos importantes Do total de funcionários 80% estão quase que exclusivamente dedicados aos labores de gestão e manejo das áreas protegidas e 163 os demais, que perfazem cerca de apenas 20%, próximo de 290 pessoas, estão alocados nos escritórios centrais, ao contrario do que generalizaram Georgiadis e Campello (1999). Mas vale ressaltar ainda que entre estes últimos uma boa parte atua apoiando atividades dirigidas às UCs como por exemplo o pessoal da Divisão de Dasonomia dedicados aos estudos cartográficos imprescindíveis na elaboração de planos de manejo, as Seções de Desenhos e a Assessoria de Estudos Patrimoniais, entre outras; se excluirmos esses 20% a relação área/funcionário geral se eleva para 708ha/funcionário. Outro fato positivo é o nível de qualificação do pessoal de nível superior, que congrega 34 graduados, 44 Mestres e 9 Doutores (SÃO PAULO, 2001). Por outro lado, as diferenças existentes entre as duas divisões responsáveis por áreas protegidas da organização. A DFFE cuida de 106.953,94ha de áreas protegidas e a DRPE de 752.329,60ha, e possuem respectivamente 637 e 576 funcionários, o que resulta em relações funcionário/área de 1/167ha e 1/1.306ha por funcionário, demonstrando um acentuado desequilíbrio que não condiz com a Missão Institucional que referenda a prioridade de se conservar a biodiversidade. Há diversas carreiras profissionais e formas de contratação e, por conseguinte, salários e vantagens diferenciados dentro do próprio Instituto Florestal. O Quadro de funcionários é composto por funcionários do Estado, efetivos e estatutários, funcionários da Fundação Florestal, funcionários da CETESB, funcionários de empresas de terceirização, etc., resultando em explícitos conflitos internos já que para as mesmas responsabilidades e atribuições existem disparidades salariais gritantes. Na medida em que escassearam os recursos do Tesouro destinados aos trabalhos inerentes às unidades de conservação, técnicos do IF e a própria Instituição promoveram uma corrida visando financiamentos alternativos para a pesquisa ou para o desenvolvimento de projetos inseridos nos programas de manejo das unidades. Infelizmente os recursos auferidos em dado período e o destino dos mesmos é algo muito difícil, senão impossível de ser determinado, entretanto as fontes são oriundas tanto de organizações nacionais como internacionais. Mas com certeza nos últimos 10 anos sabe-se que muitos projetos foram financiados pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente-FNMA, Fundo Mundial para a Natureza-WWF, Fundação o Boticário de Proteção à Natureza, FAPESP, CNPq, Programas de Pequenos Projetos do Banco Mundial, entre outras fontes. 164 Segundo a Assessoria Técnica de Programação do IF, dois grandes projetos foram desenvolvidos na Instituição através de parcerias internacionais no decênio de 1990: Projeto de Pesquisa em Conservação de Florestas e do Meio Ambiente e Projeto de Preservação da Mata Atlântica. O primeiro, com duração de cinco anos visou, basicamente, o estabelecimento e execução de objetivos voltados à pesquisa para a conservação em microbacias hidrográficas, abarcando recursos na ordem de cinco milhões de dólares aplicados na melhoria da infra-estrutura de pesquisa das Estações Experimentais de Assis, de Paraguaçu Paulista e da Divisão de Dasonomia no desenvolvimento de estudos voltados para a caracterização do meio biofísico, hidrologia, climatologia e recuperação da paisagem alterada. Os resultados práticos deste projeto refletem-se em inúmeras publicações científicas em periódicos nacionais e internacionais, incluindo-se aí dois manuais muito práticos dirigidos ao conhecimento das sementes florestais e ao reflorestamento ciliar da região oeste do estado (IF/JICA, 1998). O Projeto IF/JICA contemplou ainda um importante componente de capacitação na medida que eram promovidos anualmente cursos internacionais de manejo florestal em bacias hidrográficas voltados a países de idioma português e espanhol com o objetivo de atualizar conhecimentos, aperfeiçoar métodos e técnicas de pesquisa em relação ao meio biofísico, visando ao manejo florestal de bacias hidrográficas, com transferência de tecnologia absorvida em cooperações bilaterais com o Governo do Japão. Foram realizados 5 cursos com a participação de técnicos dos seguintes países: Angola, Argentina, Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Moçambique, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela. As oportunidades de capacitação estendiam-se aos brasileiros participantes do projeto, mediante viagens técnicas empreendidas a centros tecnológicos de excelência do Japão. O segundo projeto, Projeto de Preservação da Mata Atlântica PPMA, ainda em fase de execução, tem por objetivo principal a implantação de unidades de conservação situadas na Mata Atlântica e visa ampliar a capacidade de fiscalização e monitoramento nas regiões do Vale do Ribeira, Litoral Sul e Norte de São Paulo, bem como planejar e consolidar a implantação de unidades de conservação inseridas nestas regiões, prevendo um investimento total de 30 milhões de dólares de 1995 a 2000. O governo brasileiro participa com 44% dos recursos e o 165 Banco KFW, da Alemanha, responde por 56% dos investimentos, metade dos quais na forma de doação. As UCs contempladas por este projeto são o Parque Estadual da Serra do Mar em seus Núcleos Cubatão, Caraguatatuba, São Sebastião, Santa Virginia e Picinguaba, e os Parques Estaduais da Ilha do Cardoso, Ilha Bela, Ilha Anchieta e Campina do Encantado e a Estação Ecológica de Bananal. Posteriormente outras áreas foram incluídas e favorecidas pela elaboração de planos de manejo, usando-se a metodologia desenvolvida pelo IBAMA que considera sua construção em 3 fases de acordo com o nível de conhecimento adquirido sobre a unidade. O resultado foi a publicação inédita no Diário Oficial do Estado dos Planos de Manejo dirigidos às UCs referenciadas mais os dos Parques Estaduais Intervales e Xixová-Japuí (SÃO PAULO, 1998). As unidades foram beneficiadas de modo abrangente pois os recursos são destinados à melhoria dos componentes da gestão, abarcando desde a instalação de infra-estrutura e saneamento básico (água, luz e esgoto), a aquisição de materiais e equipamentos em geral e culminando na realização de estudos e diagnósticos para a elaboração dos planos de manejo. Alguns empreendimentos relevantes do Projeto para o manejo efetivo destas unidades são: desenvolvimento de amplo banco de dados; elaboração de Sistema de Informações Geográficas (SIG); produção e edição de vídeo sobre as UCs; estudos específicos de Ecoturismo sobre as potencialidades de exploração turística das unidades; implementação de capacitação do corpo de funcionários mediante a contratação de cursos de: Planejamento Estratégico; Oficina de Planejamento do Uso Público em unidades de Conservação do PPMA; Informática; Captação de Recursos na Área Ambiental; Banco de Dados Geográfico e Análise Espacial de Dados Geográficos. Conforme informações de técnicos que trabalham nas unidades agraciadas pelo KFW, o projeto possui os méritos de ser bem conduzido e organizado para o pleno alcance dos objetivos propostos, entretanto a contrapartida financeira da SMA tem falhado quanto ao volume e a regularidade de repasse dos recursos, fato que vem comprometendo as atividades de campo e, por conseguinte, o bom andamento do Projeto. Segundo Sério (2001), em 1992 uma equipe técnica do IF elaborou uma proposta que a Secretaria do Meio Ambiente apresentou ao Ministério do Meio Ambiente no âmbito do Programa Nacional do Meio Ambiente-PNMA, poderoso 166 instrumento federal que financia ações relacionadas ao efetivo cumprimento da Política Nacional de Meio Ambiente. O projeto no valor total de US$5.000.000,00 (cinco milhões de dólares) foi aprovado e compunha-se dos componentes Capacitação, Fiscalização, Educação Ambiental e Pesquisa, sendo que 80% do volume dos recursos foram destinados aos Parques Estaduais de Carlos Botelho, Ilha do Cardoso, Jacupiranga, PETAR e Estação Ecológica da Juréia-Itatins, além da Reserva Biológica de Paranapiacaba administrada pelo Instituto de Botânica. Foram implementados cursos para guardas-parque, aquisição de veículos, projeção e implantação de infra-estruturas e fiscalização intensiva das áreas protegidas, o que melhorou substancialmente a gestão das unidades envolvidas. Cabe ainda ressaltar que ao longo de sua existência o Instituto Florestal interagiu de modo muito positivo com inúmeras organizações nacionais e internacionais que trabalham com a problemática ambiental, ocupando lugar de destaque e obtendo ampla respeitabilidade no meio em razão da ação pontual de técnicos da instituição e das atividades que desenvolve. Organizações famosas e atuantes como WWF, UICN, US Fish and Wildlife Service, US National Park Service, Instituto de Pesquisas Ecológicas, SOS Mata Atlântica, UNESP, USP, entre outras formam o rol das organizações que potencializam uma maior e efetiva inserção do IF no cenário conservacionista brasileiro e mundial. 4.1.5 Síntese da situação atual do Instituto Florestal Para o Instituto Florestal, suas atividades resultam em linhas de atuação que subsidiam, diretamente, a condução de políticas públicas referentes à conservação, educação ambiental e à produção florestal, quer através da pesquisa e experimentação, quer através de ações políticas, no âmbito dos Órgãos Públicos ou no relacionamento com a sociedade civil, nas esferas: estadual, federal e municipal. Algumas vezes, estas políticas têm sido assumidas com endosso e apoio governamental formal, mas, na maior parte das vezes, são implementadas como conseqüência da atuação e inserção dos técnicos da instituição em suas atividades cotidianas, dentro de suas especializações. São muitas as distorções verificadas nesse campo, desde a carência de profissionais qualificados, inexistência de diretrizes para a capacitação continuada dos recursos humanos e recursos financeiros muito aquém do necessário, sucateamento da frota de veículos e máquinas, ineficiente manejo das 167 unidades de uso sustentável, ineficácia gerencial e operacional das três unidades industriais; até aspectos mais graves como a expressiva fragilidade política da organização, culminando com equívocos desastrosos relativos a missão Institucional e desrespeito gritante à sua comunidade como no caso da criação ou implantação do ‘Programa de Proteção a Fauna’. Em grande parte dos casos, os projetos prioritários institucionais transformam-se em instrumentos de referendo de políticas com forte apelo popular visando a obtenção de votos nas esferas superiores, desconsiderando-se o papel principal da organização como instrumento de efetivo direcionamento das medidas conservacionistas do estado. No campo do manejo de unidades de conservação o contexto, infelizmente, não é diferente, pois as políticas estabelecidas, com seus objetivos e metas, não se constituem em instrumentos potenciais para estudos e projetos que visam a proteção, prevenção, mitigação e aferição dos impactos causados aos remanescentes do patrimônio natural protegido, hoje reduzido a fragmentos na desolada paisagem do estado. Outro aspecto relevante e desconsiderado é a potencialidade das UCs como ferramenta integradora da conservação dos recursos naturais e promoção do desenvolvimento social em programas e políticas de âmbito local, regional e até mesmo nacional. As iniciativas nesse sentido são isoladas e não atingem resultados consistentes. Têm-se observado uma inadequação dos parâmetros qualitativos e quantitativos do manejo nas UCs sem a definição de indicadores de sustentabilidade que visem nortear um conjunto de orientações de caráter metodológico, envolvendo aspectos de diagnóstico, avaliação de impactos e proposição de medidas e estratégias de acompanhamento e monitoramento, bem como medidas corretivas quando necessárias. Isto tem sido possível devido à cultura que a Instituição cultivou ao longo de sua existência. A preservação desta cultura vem garantindo a sua inserção na realidade sócio-ambiental e econômica, o que contribui significativamente para a continuidade das políticas, que nem sempre têm encontrado a sensibilidade necessária de alguns Governos. Uma análise mais detida da atuação institucional demonstra que sua inserção social tem sido tão forte a ponto de extrapolar os limites da área florestal e, mesmo, da ambiental. A perspectiva da manutenção da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável estão intimamente ligados a qualidade de vida do 168 homem no planeta e não nos permite excluir desta macro-política dimensões como a econômica, a energética, a educacional, a científica e a tecnológica. Entretanto, é paradoxal que numa época em que as unidades de conservação da natureza e a conservação ambiental são tão divulgadas e discutidas nos mais variados fóruns uma organização cuja missão aí se insere não seja capaz de se alavancar e mostrar sua importância para a sociedade e os governos. O IF carece de planejamento de médio e longo prazos e de uma real valorização enquanto responsável pela maioria das Unidades de Conservação que encerram a biodiversidade do Estado. A involução de sua economia não reflete a atual crise mundial, os efeitos da globalização ou a filosofia dos governos neoliberais, mas sim o estado a que chegam as organizações que não se preocupam em forjar as condições presentes necessárias para dominar o futuro que virá. Em termos da massa critica técnico-científica do Instituto não restam dúvidas da competência, inclusive por saberem distinguir a necessidade de capacitação em todos os níveis visando a melhoria da gestão das áreas protegidas. A solução é o que se está designando como ‘choque de modernidade gerencial e administrativa’, do mesmo modo que fez o Instituto de Pesquisas da Amazônia quando seus caminhos se tornaram pouco claros (INPA, 1994). O planejamento estratégico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia pautou-se em estabelecer modernas diretrizes para um efetivo desenvolvimento científico e tecnológico da organização tendo por base a realidade na qual a organização estava inserida, as demandas e as oportunidades do ambiente externo, as debilidades e os pontos fortes internos. No Caso do IF isto é imperativo, porém com a premissa de que é uma organização florestal impar, ao menos no território brasileiro, constituída de áreas de conservação estrita e de uso sustentável que devem se complementar no sistema de conservação, inseridas num contexto no qual a pesquisa e a produção sustentada são importantes atividades meio e complementares à conservação da biodiversidade, esta a missão principal. 169 4.2 EFICÁCIA DE PESQUISADAS GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 4.2.1 Classificação da eficácia de gestão Da coleta de dados produziu-se inicialmente uma matriz completa com os dados brutos de todos os indicadores e sub-indicadores e abarcando todas as unidades de conservação pesquisadas, não distinguindo as de proteção integral das de uso sustentável (Quadro 31). Em seguida obteve-se uma segunda matriz mais refinada, com as notas dos sub-indicadores incorporadas aos respectivos indicadores, que por sua vez estão arranjados por âmbitos que apresentam a síntese quantitativa da avaliação (Quadro 32). Seqüencialmente apresentam-se os Quadros 33 e 34, que são um desdobramento da anterior distinguindo as amostras, respectivamente, em Unidades de Conservação de Uso Sustentável e Unidades de Conservação de Proteção Integral. 170 171 172 173 174 Considerando a matriz do Quadro 32 e a escala acima, a classificação geral e a frequência para todas as unidades de conservação estudadas é a seguinte (Figura 9 e quadro 35): 29,24 33,8 PE Mananciais de Campos do Jordão EEc Ribeirão Preto PE Juquiri EEc São Carlos EExAraraquara EExMogi Mirim PE Jurupará EEc Juréia-Itatins EExCasa Branca PE ARAValinhos PE Jacupiranga PE Campina do Encantado PE Vassununga EExBauru PE Jaraguá EExMoji Guaçu PE Xixová Japuí PE Capital RE Águas da Prata EExBento Quirino EExSão Simão PESM Curucutu PE Porto Ferreira PESM Cunha EEc Chauás EEc Assis HF Navarro de Andrade EEJJG PESM São Sebastião PE Ilha Bela PE Furnas do Bom Jesus EExItirapina PE Campos do Jordão EExTupi PE Morro do Diabo PESM Santa Virginia EExAssis EEc Paranapanema PESM Cubatão PE Marinho Lage de Santos PESM Picinguaba EEc Itaberá PETAR EExItararé EEc Caetetus EEc Itapeva EExLuizAntônio EExItapeva PE Cantareira PESM Caraguatatuba FE Manduri Floresta de Avaré I PE Carlos Botelho PE Ilha Anchieta EEc Bananal EEc Itirapina EExJaú EEc Jataí PE Ilha do Cardoso 39,25 40,67 41,34 41,63 41,64 42,83 43,23 43,63 43,92 44,57 44,71 44,81 46,64 47,55 48,1 48,24 48,43 49,08 49,08 49,85 49,86 51,55 51,61 52,07 52,12 53,21 53,57 54,2 54,84 55,74 55,89 56,07 56,24 57,93 58,67 59,02 59,17 60,43 60,87 61,05 61,48 62,44 64,39 65,66 66,53 67,27 67,5 67,86 68,08 68,71 68,74 70,21 70,4 71 71,43 71,92 82,68 0 10 20 30 40 50 60 70 Figura 9. Classificação da eficácia de gestão de todas as UCs investigadas 80 90 100 175 Quadro 35. Frequência da classificação das UCs. % do total ótimo ≤ 40,99% 41 – 54,99 55 – 69,99 70 – 84,99 ≥ 85% Nível de qualidade do manejo Padrão Muito Inferior Padrão Inferior Padrão Mediano Padrão Elevado Padrão de Excelência Quantidade de UCs Porcentagem 4 27 22 6 0 6,78 45,76 37,29 10,17 0,00 Somente seis UCs alcançaram um nível de qualidade que possibilita afirmar que os fatores e meios para o manejo existem e as atividades essenciais são desenvolvidas normalmente, tendendo o conjunto em direção ao logro dos objetivos da unidade, inclusive mediante a efetivação de programas de manejo especiais. 22 unidades obtiveram pontuação que as classificaram possuidoras de uma gestão medianamente satisfatória; elas apresentam deficiências que não proporcionam uma sólida base para o manejo efetivo e o desenvolvimento de todos os programas essenciais, podendo não ser atendidos alguns dos objetivos secundários de manejo. 27 UCs apresentaram padrão inferior de gestão; há recursos para o manejo, todavia a área é vulnerável a fatores externos e/ou internos pois há somente meios mínimos disponíveis para as atividades essenciais do manejo, podendo alguns dos objetivos primários não ser atingidos. Quatro unidades aparecem com pontuações abaixo de 40%, o que caracteriza uma total falta de implementação de ações visando emprestar alguma base para se proceder à gestão propriamente dita. Faltam muitos elementos para o manejo e essa situação não garante a permanência da unidade a longo prazo, o que obriga a instituição envidar maiores esforços no manejo das mesmas; nas atuais condições, seus objetivos não são alcançáveis. Observe-se, porém, que várias unidades estão com suas classificações situadas nas proximidades dos limites das classes, seja inferior ou superior, sendo que em ambos os casos um deslize ou um pequeno investimento podem piorar ou melhorar a gestão e a classificação das mesmas. Esta classificação geral é pertinente, porém para uma visão mais detalhada do que acontece com os indicadores e grupos de indicadores (âmbitos) em cada sub-sistema analisado (UCUS e UCPI) é necessário separar estes universos amostrais, sendo esta a razão da existência dos Quadros 32 e 33 já apresentados, nos quais tanto os totais ótimos como os totais alcançados por 176 indicador são alterados em função da diminuição do número de amostras, muito embora isto não se reflita na pontuação obtida pelas unidades isoladamente. Naturalmente que os pesos reais dos âmbitos “qualidade dos recursos” e “florestas estaduais” sobre a pontuação final de ambos sub-sistemas, respectivamente UCPI e UCUS, é superior ao serem analisados isoladamente do que quando todas as amostras são consideradas um único conjunto, o que corrobora a necessidade de se proceder a analise dos dois grupos separadamente. Mas isto não desabona a metodologia original, ou os autores que a aplicaram em campo e confirmaram a possibilidade de comparações de resultados entre categorias diferentes (Izurieta, 1997), o que de fato é possível desde que os indicadores sejam todos iguais, ou a maioria, e com incidência comum a todas as unidades de conservação. Para detalhar a classificação entre os dois grupos considerados apresenta-se a seguir o Quadro 36 e Figura 10. Quadro 36. Classificação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral e uso Sustentável e porcentagem no grupo (UCPI e UCUS). % do total ótimo ≤ 40,99% 41 – 54,99 55 – 69,99 70 – 84,99 ≥ 85% Padrão de Qualidade da Gestão Padrão Muito Inferior Padrão Inferior Padrão Mediano Padrão Elevado Padrão de Excelência ≤ Proteção integral Uso Sustentável Quantidade % Quantidade % 4 10 0 0 18 44 9 50 14 34 8 44 5 12 1 6 0 0 0 0 41 100 18 100 ≥ Figura 10. Comportamento da classificação das UCs de proteção integral e uso sustentável. 177 Observa-se que há uma tendência geral do nível da eficácia de gestão das UCs situar-se nos padrões inferior e mediano de qualidade. Em relação às UCs de proteção integral, o conjunto partilha de duas tendências reais bastante significativas. Uma esta relacionada à possibilidade de ocorrerem o que comumente designa-se “parques de papel”, unidades totalmente desprovidas de qualquer atributo gerencial que as façam sair do estado de estagnação e ostracismo em que se encontram, e a outra, mais alentadora e partilhada também pelas unidades de uso sustentável, a busca de uma efetiva gestão que pode ser detectado na medida que há um número maior de unidades com pontuações acima da média, ou acima dos 50% do total ótimo, o limite inferior da classe ‘medianamente satisfatório’. Tomando-se apenas as 41 unidades dedicadas à conservação da biodiversidade (UCPI) pode-se fazer um exercício associando à área de cada unidade a porcentagem de eficácia de gestão obtida e, assim, inferir-se sobre a superfície real que cada unidade efetivamente tem condições de proteger e conservar (Quadro 37). Raciocinando desta maneira, dos 753.405,00ha representados somente 415.814,53ha, ou 55% da superfície são geridos de maneira a se alcançar os objetivos de conservação inerentes às categorias de manejo. 178 Quadro 37. Superfície com proteção efetiva de acordo com a eficácia de gestão auferida 22.500,00 82,68 Área efetiva sob proteção 18.602,68 EEc Jataí 4.532,18 71,92 3.259,60 EEc Itirapina 2.300,00 71,00 1.633,00 884,00 828,08 70,40 70,21 622,38 581,43 PE Carlos Botelho 37.644,36 68,74 25.876,02 PESM Caraguatatuba 77569,64 67,86 52.636,54 PE Cantareira 7.900,00 67,50 5.332,50 Unidades PE Ilha do Cardoso EEC Bananal PE Ilha Anchieta EEc Itapeva Área Pontuação 106,77 65,66 70,10 2.178,84 64,39 1.402,88 35.884,28 61,48 22.060,29 180,00 61,05 109,90 PESM Picinguaba 47572,15 60,87 28.956,71 PE Marinho Lage de Santos PESM Cubatão 5.000,00 95176,33 60,43 59,17 3.021,45 56.312,66 EEc Caetetus PETAR EEc Itaberá EEc Paranapanema 635,00 59,02 374,75 PESM Santa Virginia 13385,83 57,93 7.754,22 PE Morro do Diabo PE Campos do Jordão 33.845,33 8.385,89 56,24 55,89 19.034,08 4.686,97 2.069,06 54,84 1.134,63 27.025,00 28393,23 54,20 53,57 14.648,19 15.210,66 1.312,38 52,07 683,38 EEc Chauás 2.699,60 51,61 1.393,14 PESM Cunha PE Porto Ferreira 21774,87 611,55 51,55 49,86 11.224,43 304,93 9058,06 49,85 4.515,40 RE Águas da Prata PE Capital 48,40 174,00 48,43 48,24 23,44 83,93 PE Xixová Japuí 901,00 48,10 433,34 PE Furnas do Bom Jesus PE Ilha Bela PESM São Sebastião EEc Assis PESM Curucutu PE Jaraguá 492,68 46,64 229,80 1.732,14 2.359,50 44,71 44,57 774,45 1.051,65 150.000,00 43,92 65.875,00 64,30 43,63 28,06 EEC Juréia-Itatins 79.270,00 42,83 33.953,98 PE Jurupará 26.250,47 41,64 10.931,62 PE Vassununga PE Campina do Encantado PE Jacupiranga PE ARAValinhos EEc São Carlos PE Juquery EEc Ribeirão Preto PE Mananciais de Campos do Jordão 75,26 40,67 30,61 1.927,70 154,16 39,25 33,80 756,58 52,10 502,96 29,24 147,05 753.405,00 55 % 415.814,53 179 Por outro lado, comparando-se a pontuação final ótima - 15.960 à pontuação final alcançada - 8.804,93 (Quadro 31) obtêm-se um valor em porcentagem que, conforme a metodologia original, nos permite inferir sobre a eficácia geral do sistema administrativo e, conseqüentemente, uma posição sobre a situação em que se encontra a organização responsável. Neste caso pode-se inferir que o Instituto Florestal tem conseguido oferecer 55% do suporte total requerido pelo sistema de unidades, estando então no limite inferior da classe de padrão mediano de qualidade. Um exame mais minucioso das ocorrências reportadas e encontradas nas unidades de conservação é produzida a seguir. 4.3 ANÁLISE DOS GRUPOS DE INDICADORES De modo geral a organização parece enfrentar problemas em todas as linhas de atuação haja vista os resultados parciais dos 6 grupos de indicadores analisados (Quadro 31). O melhor pontuado foi o relativo à qualidade dos recursos (64,24%) inseridos no contexto das unidades de conservação de proteção integral e que indica um grau de qualidade medianamente satisfatório. Os âmbitos planejamento e ordenamento, administração, políticas de gestão e conhecimentos obtiveram, respectivamente, 44,09%, 53,02%, 54,87% e 61,09% em relação ao total ótimo possível de ser alcançado. O grupo cuja qualificação foi a mais baixa diz respeito exatamente às unidades de uso sustentável, florestas estaduais, atingindo somente 42,19% do valor ótimo total, um dado que corrobora as afirmações de Dourojeanni e Pádua (2001) que afirmaram que as UCs públicas dedicadas ao manejo florestal tem obtido menos sucesso na América Latina que as UCs dedicadas exclusivamente à proteção de ecossistemas. Uma análise de regressão múltipla (Quadro 38) aplicada aos 5 grupos de indicadores incidentes sobre as unidades de conservação de proteção integral, tomando por base os dados do Quadro 34, demonstrou que o âmbito ‘administrativo’ foi o mais importante, com um coeficiente de correlação de 0.84 e coeficiente de determinação de 0.70, o que significa que somente este grupo tem uma influência e explica 70% dos resultados finais obtidos. 180 Quadro 38. Resultados da Analise de Regressão Múltipla para os dados obtidos nas UCs de Proteção Integral Y = % do Total Ótimo Geral; X1 = % do Ótimo para o âmbito Planejamento e Ordenamento; X2 =% do Ótimo para o âmbito Administrativo; X3 = % do Ótimo para o âmbito Político-Legal; X4 = % do Ótimo para o âmbito Conhecimento; X5 = % do Ótimo para o âmbito Qualidade dos Recursos MODELO COM 1 VARIAVEL: COEFICIENTES DE CORRELACAO SIMPLES X1 e Y = 0.712864 | X2 e Y = 0.839489 | X3 e Y = 0.814786 | X4 e Y = 0.780591 | X5 e Y = 0.548607 A primeira variável selecionada é X2 (Âmbito Administrativo) porque tem o maior coeficiente de correlação (r = 0,839489). Coeficiente de determinação r² = 0.7047410, ou seja, a influência da variável X2 para o resultado de Y é 70,47%, ou prove 70% de explicação dos resultados finais obtidos (Y). B0 = 22.624083 / B2 = 0.645918 Isto significa que a equação seria: Y = 22,624083 + 0,645918 X2 MODELO COM 2 VARIAVEIS: COEFICIENTES DE CORRELACAO PARCIAIS X1 e Y = 0.499277 | X3 e Y = 0.613360 | X4 e Y = 0.795287 | X5 e Y = 0.570983 | Agora recalcula-se os coeficientes de correlações e se determina o coeficiente de correlação parcial maior, que no caso é a variável X4 (Âmbito Conhecimentos). Coeficiente de determinação r² = 0.8914869, ou seja, a influência das variáveis X2 e X4 para o resultado de Y seria de 89,15%, ou ainda, a entrada da variável X4 contribuiu com 18,68% de explicação do modelo. B0 = 11.454440 / B2 = 0.465185 / B4 = 0.332365 A equação seria: Y = 11,454440 + 0,465185 X2 + 0,332365 X4 MODELO COM 3 VARIAVEIS: COEFICIENTES DE CORRELACAO PARCIAIS X 1 e Y = 0.489409 | X 3 e Y = 0.553629 | X 5 e Y = 0.529334 Coeficiente de determinação 0.9247467. Se fosse o caso de escolher grupos de variáveis poderse-ia ficar só com as duas primeiras variáveis, X2 e X4, já que a entrada de outra variável (X3) aumentaria o coeficiente de determinação em 0,0332 ou apenas 3,32%. B0 = 5.729863 / B2 = 0.356180 / B3 = 0.269698 / B4 = 0.274553 A equação seria: Y = 5,729863 + 0,356180 X2 + 0,269698 X3 + 0,274553 X4 MODELO COM 4 VARIAVEIS: COEFICIENTES DE CORRELACAO PARCIAIS X1 e Y = 0.482330 | X5 e Y = 0.656508 B0 = 4.695892 / B1 = 0.158800 / B2 = 0.321095 / B4 = 0.206824 / B5 = 0.231078 A equação seria: Y = 5,729863 + 0,15880 X1 + 0,356180 X2 + 0,269698 X3 + 0,274553 X4 MODELO COM 5 VARIAVEIS: COEFICIENTES DE CORRELACAO PARCIAIS X3 e Y = 0.995623 B0 = -0.186032 / B1 = 0.141433 / B2 = 0.243068 / B3 = 0.225695 / B 4 = 0.165598 / B5 = 0.226942 A equação seria: Y = -0,186032 + 0,141433 X1 + 0,243068 X2 + 0,225695 X3 + 0,165598 X4 + 0,226942 X5 181 O segundo âmbito mais importante foi o ‘conhecimentos’, que juntamente com o primeiro grupo de indicadores influencia em 89,15% os resultados finais, ou seja a entrada dos dados de ‘conhecimentos’ agrega 18,68% de explicação ao modelo. O terceiro grupo de indicadores mais importante coube ao âmbito ‘político/legal’, cuja entrada no modelo soma 3,32% de explicação e resulta um modelo matemático que tem uma influencia de 92,24% sobre os resultados finais obtidos. Na seqüência vem os âmbitos ‘qualidade dos recursos’ e ‘planejamento e ordenamento’, que agregam pouca explicação ao modelo, respectivamente 5,25% e 2,28%. Considerando tal análise poder-se-ia enfocar, para as UCPI, os resultados apenas sobre os âmbitos ‘administrativo’ e ‘conhecimentos’ já que os mesmos os influenciam em 89%. No entanto a gestão de unidades de conservação é algo muito mais complexo que meras determinações estatísticas. Concordando com o afirmado por Cifuentes (1992), se de um lado o âmbito ‘planejamento’ não tem uma incidência estatística tão grande como o âmbito ‘administrativo’, a falta do primeiro pode causar sérios transtornos à administração pois o planejamento permite saber o que se deseja a médio-longo prazos, direcionando as ações do presente para se construir o futuro que se delineou para a unidade de conservação. Por outro lado, há uma relação de interdependência entre indicadores e grupos de indicadores, sendo que a importância de cada um é muito relativa. Assim sendo, mantêm-se a proposta original de analisar todos os grupos de indicadores. Antes de discorrer sobre cada grupo de indicadores específicos, é necessário ter-se em mente que a pontuação de alguns indicadores presentes no Quadro 32 são médias oriundas do que se convencionou designar sub-indicadores (Quadro 39); para se conhecer as pontuações originais destes sub-indicadores devese reportar à matriz do Quadro 31. 182 Quadro 39. Sub-indicadores do processo de avaliação Indicador Plano de manejo Programas de manejo Corpo de funcionários Organização Sub-indicador Existência e atualidade Equipe de planejamento Execução do Plano Existência e estrutura dos... Programa de manutenção Programa de proteção Programa de interpretação Programa de educação ambiental Programa de pesquisa e Execução dos respectivos programas Quantidade Qualidade (capacitação, experiência) Motivação Apresentação Atitudes pessoais Autoridade Arquivos Organograma Comunicação interna Normatização de atividades Como definiu-se anteriormente, no detalhamento da análise dos grupos e respectivos indicadores dá-se ênfase aos componentes incidentes sobre as unidades de conservação de proteção integral, cujos dados encontram-se na matriz do Quadro 33 e servem de base para as explanações a seguir. 4.3.1 Planejamento e Ordenamento Quadro 40. Comportamento do âmbito planejamento e ordenamento para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34. Total Total % Indicadores de planejamento e ordenamento atual ótimo Ótimo Compatibilidade dos usos com os objetivos da unidade 85 164 51,83 Zoneamento 68 164 41,46 Programas de manejo 66 164 40,30 Nível de planejamento 65 164 39,63 Plano de Manejo 62 164 38,01 346 820 42,25 Como observado no Quadro 39, aqui encontramos uma situação bastante grave em razão do incipiente planejamento observado nas unidades já que das 41 unidades de proteção integral 17 (41%) não possuem plano de manejo ou qualquer documento que indique as diretrizes básicas para as ações visando o alcance dos objetivos da área. Duas unidades possuem planos muito antigos com 183 mais de 10 anos, porém sem revisão sistemática e por esta razão pouco utilizados ou mesmo desconsiderados pelas respectivas administrações, sendo este o caso dos PE Morro do Diabo (1975) e Campos do Jordão (1977). Onze UCs (26%) possuem planos mais recentes com menos de 10 anos de elaboração e as demais (26%) estão em situação medianamente satisfatória, com planos sendo revisados ou passando pelo processo de planejamento (Quadro 41). Quadro 41. Situação dos planos de manejo nas 41 unidades de proteção integral pesquisadas Plano de Manejo Inexistente Unidades* PE06, PE10, PE28, EEc08, EEc10, EEc11, EEc12, RE01, PE07, PE12, PE13, PE15, PE21, PE22, PE24, EEc01, EEc07 PE09, PE17 Defasado ≥10 anos PE-01, PE-02, EEc09, PE14, PE16, PE23, EEc05, PE11, PE19, Atual ≤ 10 anos PE27, EEc02 Em Revisão ou em Fase PE04, PE05, PE20, PE25, PE26, EEc03, EEc04, EEc06, PE03, Inicial PE08, PE18 *Códigos de acordo com a matriz do Quadro 33. Das 11 unidades que possuem planos de manejo atualizados sobressaem os PE da Ilha Anchieta, PE da Ilha do Cardoso e a EEc de Caetetus, que reportaram implementar as ações propostas nos respectivos planos de modo satisfatório, o que significa dizer que no mínimo 75% do previsto tem sido executado, inclusive com a formação e funcionamento dos Comitês de Apoio à Gestão. Entretanto, algumas áreas deste time não tem conseguido alavancar o processo satisfatoriamente como é o caso do PE Ilha Bela, Núcleo Santa Virginia e EEc do Bananal. Neste grupo estão incluídas as UCs beneficiadas pelo PPMA, que atravessam um planejamento por etapas mediante a aplicação da metodologia desenvolvida pelo IBAMA (1997), algumas já com a Fase 2 em plena execução e adiantada implementação como o PE Ilha do Cardoso, EEc Bananal e Núcleo Santa Virginia. Em resumo, pode-se dizer que das 41 amostras somente 11 unidades (26%) estão em situação satisfatória quanto à existência dos planos de manejo, os quais receberam pontuação 3 ou 4 para o indicador. O PE de Campos do Jordão é um exemplo clássico da urgente necessidade de esforços para se planejar as UCs. Este parque possui um plano datado de 1975 quando então um grupo de técnicos do IF assessorados por especialista internacional elaboraram o documento, mas desde então nunca se 184 procedeu uma revisão, e hoje se encontra totalmente em desacordo com a realidade reinante, aspecto que com certeza motivou a nota “0” atribuída ao indicador. Duas evidências de que esta estratégia funciona são os PE Xixová-Japuí e PE Juquery, áreas que apesar de não possuírem financiamentos extraordinários para esta finalidade tiveram o processo iniciado recentemente. Outro exemplo de perseverança, capacitação e esforço concentrado está no PE Porto Ferreira, cujos administradores obtiveram recursos do FNMA para a elaboração do seu plano. Ainda quanto aos planos de manejo não podemos deixar de citar as duas iniciativas pioneiras envolvendo a Estação Ecológica e Experimental de Itirapina e as quatro Florestas e uma Estação Ecológica da regional de Manduri, nas quais implementou-se um processo de planejamento com uma nova filosofia de gestão, integrando unidades de uso sustentável e proteção integral em um só instrumento de planejamento. Apesar do tempo decorrido da elaboração ambos os planos ainda não foram publicados e enfrentam toda sorte de dificuldades para seu efetivo reconhecimento e incrementação. Um aspecto que foi levantado durante as visitas de campo é quanto ao componente sócio-econômico dos planos de manejo mais atuais, fundamentalmente os elaborados durante a vigência e financiados pelo PPMA. Ainda que todos os diretores entendam a importância de haver considerações a respeito das inter-relações das unidades de conservação com a zona de entorno e com a população ali residente, alguns entendem que a carga de responsabilidade atribuída à unidade e sua direção visando a melhoria da qualidade de vida da comunidade é extremamente elevada, e em alguns casos muito difícil de ser cumprido, aspecto para o qual sugeriu-se revisar e redefinir quando das avaliações e revisões dos planos de manejo. A partir disto deve-se concordar com MILANO (1999) que afirmou que o problema de não se implantar os planos de manejo não reside no método de planejamento adotado ou se a comunidade participou ou não do processo mas sim na inexistência de seguimento e vontade política para sua efetiva implementação, resultando em documentos de gaveta para a insatisfação dos dirigentes e outros seguimentos sociais. Acompanhando a tendência apresentada nos parágrafos anteriores, o nível de planejamento rotineiro das metas e atividades ainda se restringe às improvisações pois não há nenhuma diretriz para uniformizar este ponto na instituição, como por exemplo planos operativos anuais - POAs. 185 Uma boa experiência é o caso da Estação Ecológica e Experimental de Assis, na qual estão inseridos sete técnicos de nível superior que apresentavam certos conflitos de relacionamento. Na medida que a direção adotou, com o auxilio de professores da UNESP, um esquema de reuniões periódicas entre as partes, quase um planejamento estratégico sistemático, os conflitos interpessoais tomaram uma solução juntamente com o estabelecimento de metas coletivas e individuais, o que se traduziu no aumento da produtividade e na melhoria do ambiente de trabalho. Quanto à compatibilidade dos usos existentes em relação à categoria de gestão, 10 unidades apresentaram ponderações “1” e uma teve pontuação “0”, indicando a necessidade de intervenção para solucionar a incidência negativa dos usos, que embora possam ser compatíveis podem estar acima da capacidade de suporte do recurso e não possuir manejo técnico adequado. Os PE Vassununga e PE Campos do Jordão são dois bons exemplos de unidades com usos compatíveis cujos impactos tendem a ser muito negativos devido a falta de manejo técnico adequado, fundamentalmente pela falta de funcionários para a execução das tarefas de monitoramento e a inexistência de esquemas para o ordenamento dos usos. Para o PE Xixová-Japui poder-se-ia considerar que todo e qualquer utilização da unidade é incompatível haja vista a impossibilidade real de se controlar qualquer tipo de uso, ainda que lá ocorram usos compatíveis como surf e caminhadas. Usos incompatíveis com a categoria de gestão tem incidido em várias unidades de conservação, porém há fortes evidências de impactos negativos na EEc Juréia e PE Jacupiranga. A primeira é uma estação ecológica na qual não poderia existir usos turísticos ou mesmo a exploração extrativistas de recursos da floresta, esta última uma atividade extremamente ameaçadora que encontra respaldo em setores que apregoam sua importância para a sustentabilidade de grupos sociais específicos (Diegues, 1996). Por sua vez, o PE Jacupiranga poderia ser um ícone a este respeito pois lá acontecem todos os tipos de uso incompatíveis possíveis, desde a simples retirada de madeira, mineração, invasões de terras, entre outras, passando ainda pela ineficiente condução dos assuntos relacionados ao uso público devido a falta de pessoal e treinamento. Em geral o conjunto dos programas de gestão considerados na avaliação são pobremente estruturados e a execução é muito parcial, refletindo-se na baixa pontuação auferida ao respectivo indicador, de apenas 40,30% do ótimo. 186 Muitas vezes a unidade possui os componentes para implementar as ações previstas e necessárias mas lhes faltam elementos básicos como combustível e veículos em condições de tráfego, uma situação peculiar a várias das unidades amostradas como os PE Cantareira, PE Jacupiranga e PE Juquery. A falta de funcionários também atinge a efetivação dos programas e novamente aqui se apresentam o PE Vassununga, PE Xixová-Japui e PEM Laje de Santos, entre outras, sendo que estes dois últimos possuem tão só seus administradores e um oficial administrativo, um fato que se repete em outras áreas. Das 41 amostras, 16 unidades de conservação apresentaram para os 5 programas considerados uma pontuação média acima de 2 pontos (quando o ótimo é 4), quais sejam PE Ilha do Cardoso, PE Ilha Anchieta, PE Cantareira, PE Porto Ferreira, PE Morro do Diabo, PE Jaraguá, PETAR, PE Carlos Botelho, EEc Bananal, EEc Caetetus, EEc Jataí, EEc Itirapina e Núcleos Santa Virginia, Cunha, Caraguatatuba e Picinguaba do PE Serra do Mar, o que permite inferir que essas unidades possuem razoável consistência na execução das atividades básicas, fundamentalmente quanto a proteção e manutenção. Em relação especificamente ao Programa de Proteção, merecem destaques os trabalhos desenvolvidos no Núcleo Caraguatatuba do PESM, PE Carlos Botelho e PE do Morro do Diabo, ainda que em outras unidades possa haver trabalhos de mesmo nível. O primeiro pela presteza e capacidade do pequeno corpo de guardas-parque que, além de realizar o serviço de fiscalização rotineiro, o que inclui o combate à exploração ilegal do palmito (Euterpe edulis), presta inúmeros serviços à conservação da natureza da Mata Atlântica através do acompanhamento e assessoramento ao Ministério Público no que tange à elaboração e apresentação de muitos laudos técnicos de danos ao meio ambiente provocados por ações antrópicas ao PESM, uma luta gloriosa mas que ocupa um precioso tempo que poderia ser dedicado ao desenvolvimento da unidade. No PE Carlos Botelho as ameaças pessoais oriundas de grupos de palmiteiros é uma constante, fato que recentemente resultou em mortes para os dois lados e que poderia esmorecer o ímpeto da direção e do corpo de guardas na proteção da natureza ali encerrada, entretanto a fiscalização tem melhorado paulatinamente na medida que se adotou uma filosofia cujas características são a cidadania, a transparência das decisões e atividades e o trabalho conjunto com 187 outros órgãos de fiscalização de atuação local e regional, o que tem surtido impacto positivo e merece ser amplamente replicado. No Morro do Diabo o pessoal também tem se pautado em trabalhar com outros órgãos como o IBAMA e a Policia Florestal; some-se a isto que o corpo de funcionários demonstra atitudes reveladoras de um entusiasmo contagiante quanto a atividade, que somado à experiência adquirida no campo se traduz em resultados bastante eficazes concernente à prevenção e combate a incêndios florestais e à caça e pesca ilegais. Dentre as unidades que possuem atividades programáticas no tocante à Educação Ambiental e Interpretação da Natureza destacam-se os Parques Estaduais da Ilha Anchieta, da Cantareira, de Porto Ferreira, de Carlos Botelho, da Ilha do Cardoso, Núcleo Picinguaba do PESM e as Estações Ecológicas de Caetetus e Itirapina, que juntamente com outras unidades do sistema constituem pontos focais do Instituto Florestal e da Secretaria de Meio Ambiente nesta área de atuação. Entretanto 23 Unidades (56%), do grupo de proteção integral, apresentam sérias deficiências, notadamente algumas unidades consideradas importantes para a conservação da biodiversidade do Estado como alguns Núcleos do PESM, PE Jurupará, PE Jacupiranga, Estação Ecológica Juréia-Itatins entre outras, nas quais deveria existir a atividade em face dos conflitos com residentes dentro e fora dos limites das unidades, especuladores imobiliários, invasores e toda a sorte de problemas e ameaças. Nota-se que em relação ao Programa de Pesquisa poucas são as unidades que o possuem estruturado e em franco desenvolvimento, sendo a EEc de Itirapina e a EEc de Jataí as melhores representações de como as unidades de conservação podem se beneficiar com a formatação de programas objetivos e dinâmicos e a efetivação de parcerias com as universidades visando unicamente a geração de conhecimentos. Outras unidades também possuem elevado grau de esforço no sentido de se implementar tais atividades, notadamente o PE Campos do Jordão, Núcleos Cunha, Caraguatatuba e Picinguaba do PESM, PE do Morro do Diabo, PETAR, Carlos Botelho e EEc dos Caetetus; em algumas destas áreas não há nem mesmo o plano de manejo, como nos casos do Morro do Diabo e Carlos Botelho, mas as atividades afins encontram-se organizadas e controladas satisfatoriamente. Contudo, vale ressaltar que 31 unidades (75%) carecem de 188 investimentos sérios no setor, fundamentalmente considerando que o órgão gestor foi criado como uma instituição voltada para o desenvolvimento de pesquisas. Alguns diretores entendem a real necessidade de se estruturar e desenvolver a contento os programas básicos para fazer cumprir os objetivos das unidades, porém se queixam da elevada carga de responsabilidade administrativa e a necessidade de um costumeiro ‘corpo-a-corpo’ com os dirigentes da organização para a obtenção de recursos financeiros e manutenção do que consideram básico, como combustível e consêrto em veículos, o que lhes toma tempo e estimulo para outras ações que visam melhorar os serviços prestados pelas UCs à população e à conservação. O zoneamento geralmente está condicionado à existência de um plano de manejo, mas aqui o que se deseja é saber se são aplicadas técnicas de ordenamento territorial e designação de unidades de uso diferenciadas. A porcentagem do total ótimo (41,46%) demonstra que poucas unidades implementam tais estudos e técnicas de ordenamento, o que pode se refletir no mal uso dos recursos naturais, inclusive para a realização de pesquisas já que não se sabe as implicações que o desenvolvimento destas podem estar causando na conservação da área. Pior ainda quando os próprios funcionários não conhecem o porque da diferenciação das zonas e porque alguns usos podem ocorrer e outros não em determinados sítios, fato que configura que os planos de manejo e as atividades de planejamento muitas vezes passam ao largo do corpo de funcionários, sendo que os resultados e documentos produzidos ainda servem apenas para a ‘elite’ da conservação. Das 41 UCs somente 11 (26%) apresentaram situação satisfatória quanto a esta questão. Para as UCs de proteção integral o grupo de indicadores relativos ao planejamento e ordenamento teve um peso de 10,90%8 sobre a nota final geral, obtendo 42,25% do total ótimo, o que significa um padrão de qualidade inferior. 8 Razão entre o total alcançado pelo âmbito e o total geral multiplicado por 100 do Quadro 34. Aqui 346/3177,18 x 100 189 4.3.2 Administração Quadro 42. Comportamento do âmbito administrativo para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34. Indicadores de administração Administrador, pessoal técnico e administrativo Demarcação física da UC Equipamentos e materiais Infra estrutura Organização Corpo de funcionários Aceiros e carreadores Geração de recursos próprios Financiamento Total Total % atual ótimo Ótimo 117 164 71,34 101 164 61,59 92 164 56,10 89 164 54,27 88 164 53,51 80 164 48,98 37 84 44,05 48 164 29,27 39 164 23,58 691 1396 49,48 É ponto pacífico que todas as unidades de conservação precisam de um diretor local, residindo o mais próximo possível da unidade, engajado nos afazeres e solucionando os problemas que surgem diariamente. Esta é uma das características desejáveis, mas espera-se também que o diretor de UCs possuam bom nível acadêmico, iniciativa e alguma experiência na lida com os assuntos pertinentes à administração e manejo de áreas protegidas, o que corresponderia ao cenário ótimo idealizado para o cargo. Observa-se nas matrizes de avaliação que no geral os administradores se auto-qualificaram com pontuações muito boas, sendo que os envolvidos com as UCs de proteção integral obtiveram uma pontuação média de 71,34% do ótimo, e os das UCs de usos sustentáveis 75%, o que por si dispensaria qualquer comentário a respeito, mesmo porque, salvo as características das personalidades individuais, entende-se que esses profissionais realmente são detentores deste valor. Entretanto há situações que denotam debilidades deste componente gerencial. Algumas áreas simplesmente não possuem diretores, como o PE Mananciais de Campos de Jordão, ou eles residem ou tem suas sedes de trabalho distantes das unidades pelas quais respondem, sendo o caso do PE Jurupará, PE ARA-Valinhos, Núcleo Curucutu do PESM, PETAR, PE Jacupiranga, EEc Bananal, EEc Caetetus, EEc Chauas e RE Águas da Prata. Por outro lado alguns técnicos respondem por até 4 unidades, em alguns casos por unidades de proteção integral e uso sustentável ao mesmo tempo, fato que pode comprometer a gestão por ser humanamente muito difícil, senão impossível, fazer eficientemente a gestão 190 dividindo constantemente o pensamento entre dois objetos, que apesar de não serem antagônicos são bastante diferentes em seus princípios e objetivos. Há um ou outro caso isolado de diretores que não sabem exatamente o que desejam fazer ou desconhecem o seu papel frente à conservação da biodiversidade e a gestão das unidades, e isto provavelmente ocorra devido ao seu abandono pela Instituição, que não lhes proporciona adequadas oportunidades de crescimento pessoal e profissional e tampouco treinamento sistemático e contínuo. O mesmo ocorre quando eles são designados para suprirem lacunas para as quais padecem de perfil adequado, aspecto muito comum numa instituição considerada de pesquisa na qual boa parte do quadro técnico constitui-se de funcionários ligados ao desenvolvimento da pesquisa científica. É passível que um diretor pesquisador dará mais ênfase à sua produção científica, pois daí adveé seus proventos pessoais e crescimento profissional, às expensas do desenvolvimento da própria unidade. Com isso não se está afirmando que o papel de diretor de parques não pode ser ocupado por pesquisadores pois estaríamos negando a importância que estes tiveram, e ainda tem, na criação e implantação das unidades de conservação. Por outro lado, não há uma forma única e padronizada de contratação dos diretores das UCs, estando os mesmos inseridos em carreiras tão diferentes (pesquisadores, engenheiros, técnicos de nível superior, auxiliares agropecuários) quanto os salários que recebem e vinculados a diferentes organizações (CETESB, Fundação Florestal e IF), o que sem dúvida gera velados conflitos internos, desmotivação profissional e debilitação organizacional. Quanto ao corpo de funcionários lotados nas unidades a situação não é alentadora já que 28 UCs (68%) possuem menos de 50% da quantidade necessária e 19 (46%) possuem menos que 35% do número mínimo necessário. Somente 4 unidades reportaram haver satisfatória quantidade de funcionários: PE Capital, PE Cantareira, Núcleo Picinguaba do PESM e EEc de Itirapina. Nos PEM Laje de Santos, PE Xixová-Japui, PE Manaciais de Campos do Jordão, EEc de São Carlos e EEc Chauas inexiste um quadro fixo de trabalhadores. Nas EEc Jataí, EEc Itirapina, EEc Itapeva e EEc Assis não há funcionários designados mas os serviços básicos são realizados por aqueles das unidades contíguas, que muito embora promovam uma mínima proteção não conseguem alavancar o desenvolvimento das unidades. 191 Algumas unidades, ainda que tenham diretor e pessoal técnico, não possuem pessoal para a vigilância ou para os serviços gerais de campo, sendo o PE de Porto Ferreira um dos exemplos das dificuldades causadas por isso. O Quadro 43 ilustra a situação enfrentada pelas unidades de conservação de São Paulo, na qual se observa a discrepância entre o que os diretores julgam precisar para realizar uma gestão eficaz e a realidade atual, além da relação área/funcionário considerando-se a quantidade ótima e a atual. Uma fantástica constatação que este quadro nos proporciona é a confirmação de que o número de funcionários para cada unidade de conservação não é dado em função simplesmente do seu tamanho, mas sim do grau de complexidade da sua gestão, que por sua vez esta diretamente relacionada com as particularidades regionais tais como densidade demográfica, ecossistema, pressões antrópicas, etc. Considerando as amostras que responderam sobre a quantidade atual e ótima dos recursos humanos (Apêndice B) obtêm-se um índice da relação RHÓtimo/RHAtual, cuja média geral para todas as unidades que responderam o quesito foi de 2.7, o que significa dizer que há uma necessidade de recursos humanos na ordem de no mínimo 2,7 vezes mais que os existentes na atualidade no campo. Seguindo este raciocínio pode-se projetar este índice sobre os 1.439 funcionários atualmente existentes no IF, obtendo-se uma quantidade próxima a 4.000 e uma relação de um funcionário para cada 225ha, uma cifra que apesar de parecer elevada devolveria as mesmas condições que a instituição tinha até a primeira metade do decênio de 1970, quando a relação funcionário/área era de menos de 200ha por funcionário, muito diferente da atual relação de quase 900ha por funcionário (CONCITE, 1997). Quadro 43. Relação área/funcionário em função da quantidade atual e a quantidade ótima reportada pelos diretores das UCs que contestaram essa questão. ) Unidades PE Ilha Anchieta PE Ilha Bela PE Marinho Lage de Santos PE Xixová Japuí PE Jurupará PE Juquery PE Campos do Jordão PESM Santa Virginia RH Atual 12 16 2 2 15 16 90 19 Proporção atual 1 funcionário para cada x ha 69,01 1689,06 2500,00 450,50 1750,03 120,48 93,18 704,52 ProporçãoÓtima RH 1 funcionário para cada Ótimo x ha 48 17,25 30 900,83 9 555,56 10 90,10 40 656,26 23 83,81 130 64,51 38 352,26 192 (Continuação) Unidades RH Atual Proporção atual 1 funcionário para cada x ha 1088,74 346,43 55,60 159,16 890,67 5966,90 1982,17 566,13 14,93 640,79 941,11 112,36 9464,41 562,5 5000 1981,75 294,67 317,5 363,14 1312,38 ProporçãoÓtima RH 1 funcionário para cada Ótimo x ha 50 435,50 25 69,29 20 30,58 23 89,96 60 564,09 60 1292,83 56 849,5 40 226,45 60 8,21 100 358,84 70 537,78 28 84,27 15 1892,88 63 357,14 71 2112,68 80 990,88 18 49,11 6 105,83 15 145,26 6 218,73 25 181,29 PESM Cunha PE Vassununga PE Porto Ferreira PE Furnas do Bom Jesus PE Morro do Diabo PESM Caraguatatuba PESM Picinguaba PESM Curucutu PE Jaraguá PETAR PE Carlos Botelho PE Campina do Encantado PESM São Sebastião PE Ilha do Cardoso PE Jacupiranga EEC Juréia-Itatins EEC Bananal EEc Paranapanema EEc Caetetus EEc Assis EEc Jataí 20 5 11 13 38 13 24 16 33 56 40 21 3 40 30 40 3 2 6 1 0 EEc São Carlos 0 6 12,54 EEc Itirapina 0 12 191,67 EEc Itapeva 0 3 35,59 RE Águas da Prata Floresta de Avaré I FE Manduri EE Paraguaçu Paulista EE Assis EE Luiz Antônio EE São Simão EE Bento Quirino EE Bauru EE Moji Guaçu EE Mogi Mirim EE Araraquara EE Tupi EE Itirapina EE Itapeva 1 8 40 19 38 23 9 9 15 39 7 6 15 38 21 6 15 70 24 70 70 35 70 22 70 20 15 30 50 40 8,07 49,46 21,22 18,42 45,25 89,54 75,35 5,95 1,96 38,66 7,28 9,56 6,62 64,26 45,69 48,4 92,73 37,13 23,27 83,36 272,51 293,04 46,26 2,87 69,39 20,81 23,89 13,23 84,55 87,03 Quiçá esta projeção seja a necessária para uma gestão realmente eficaz, considerando-se a complexidade dos ecossistemas abrangidos pelas UCs, as demandas por um uso público de qualidade, a dimensão do objeto que se deseja proteger, o atraso em que ainda se encontram algumas unidades e, enfim, a importância do manejo dos ecossistemas visando a conservação a longo prazo. 193 A avaliação do corpo de funcionários não se restringiu à quantidade mas também à qualidade, motivação, autoridade, atitudes e apresentação pessoais dos mesmos. A qualidade considera o grau de escolaridade, a capacitação e a experiência e, como observado na matriz do Quadro 30, a pontuação para este quesito ficou na classe intermediária, com certeza influenciada pela inexistência de esquemas que possibilitem a constante capacitação do grupo, ainda que para os funcionários de nível superior existam facilidades (corporativistas) oferecidas pela organização e oportunidades esporádicas devido às iniciativas pessoais. A maneira como os funcionários se apresentam vestidos para os labores diários reveste-se de importância porque isso dá garantias de segurança e autoridade para o desenvolvimento eficiente das suas funções, mas em relação às amostras observa-se que, excetuando 10 unidades (5 delas financiadas pelo PPMA), a maioria reporta a falta de um padrão razoável de apresentação, seja quanto a uniformes para vigias e trabalhadores de campo seja quanto aos imprescindíveis equipamentos de proteção individual (EPI’s). Essa falha, no entanto, parece não influir nas atitudes dos funcionários para com seus pares, chefia e visitantes, que é considerada satisfatória e pode estar relacionada ao engajamento dos mesmos nas atividades de proteção do patrimônio natural e à respeitabilidade e urbanidade no ambiente de trabalho. Por outro lado, a motivação para o trabalho dependente de n fatores, sendo a ela atribuídas notas muito baixas possivelmente decorrente da falta de boas condições (meios) para desenvolver as atividades de trabalho e os baixos salários percebidos, além das já referidas contratações diferenciadas, que impõem situações desconfortáveis para os funcionários e os diretores das unidades quando pessoas que fazem tarefas idênticas ganham salários diferentes. O regime de contratação também influencia no entusiasmo individual, mas muito mais no grau de autoridade oferecido ao funcionário, fatos evidenciados no PE Juquery, aonde o pessoal é quase todo advindo da Secretaria da Saúde, e os funcionários das empresas de segurança contratados para a fiscalização, que apesar de atuarem na defesa patrimonial não estão aptos a trabalhar no campo coagindo a caça e pesca ilegais (como em outras UCs do IF). A infra-estrutura das unidades é bastante razoável e atingiu 54% do total ótimo, o que significa dizer que a maioria possui ao menos os elementos básicos para a proteção e uma mínima gestão. Apenas 11 unidades (27%) 194 informaram não possuir infra-estrutura razoável. Dentre elas destacam-se o PE Xixová-Japui e o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, cujas ‘sedes’ funcionam em algumas salas cedidas pelo Instituto de Pesca em Santos; caso semelhante vivência o Núcleo São Sebastião do PESM que, apesar de beneficiado pelo PPMA, à época da visita de campo possuía sua sede em um anexo gentilmente cedido pela Policia Florestal e de Mananciais, que antagonicamente ocupa um prédio construído pelo próprio Instituto Florestal. Como repetem os diretores dessas unidades, suas sedes “não parecem sedes de parques”, e eles pecam pela modéstia. Dentre todos os casos de maior gravidade despontam o PE Mananciais de Campos do Jordão e a EEc Chauás que não possuem nenhum tipo de instalação, ‘aguardando’ serem lembradas e efetivamente implantadas enquanto são geridas pelas unidades mais próximas, respectivamente o PE Campos do Jordão e o PE Campina do Encantado. Este último, apesar de ser pontuado com o valor 1 (pouco satisfatório) possui escritório na cidade e investimentos do PPMA para a constituição da sua sede de campo, já em avançado estagio de implantação. O PE Juquery possui uma sede oriunda da adaptação de antigos prédios do famoso Hospital do Juquery, um complexo arquitetônico semi arruinado que vem sendo recuperado através de um grande e louvável esforço de sua direção; mesmo assim carece de uma “cara de parque” e investimentos para que possa desenvolver programas que atendam as demandas geradas por uma população de entorno que se aproxima dos 500.000 habitantes. A Estação Ecológica de Assis reportou a ausência de sede mas esta unidade, assim como as EEc de Jataí e Itirapina, atualmente são geridas aproveitando-se as infra-estruturas das unidades contíguas, que por serem de uso sustentável podem ter influenciado negativamente na percepção do avaliador. As EEc de São Carlos, Ribeirão Preto e Itaberá não possuem sede ou elas estão muito inadequadas à gestão, havendo em comum entre elas o diminuto tamanho, respectivamente 75, 154 e 180ha, aspecto que pode estar influenciando negativamente nas decisões e nos esforços para se implantar uma sede pois via de regra as atenções se voltam para as unidades maiores e responsáveis pela conservação da mega-diversidade biológica, um erro de avaliação já que em algumas situações pequenas áreas podem albergar importantes recursos biológicos, caso contrário é contraproducente mantê-las no sistema estadual. 195 Apesar desses maus exemplos entende-se que a infra-estrutura física é um ponto forte do conjunto das unidades do IF, aspecto certamente influenciado pela existência da unidade produtora de construções modulares, situada na Floresta Estadual de Manduri, cujos prédios estão espalhados por quase todas as áreas protegidas do IF. Duas outras unidades de uso sustentável atendem as necessidades das unidades de proteção integral em razão de possuírem e produzirem madeiras tratadas essenciais na construção de cercas, trilhas, quiosques, portais, placas de sinalização, móveis e uma infinidade de outros materiais. Um ponto em que o Instituto acertou suas diretrizes foi quanto a aproveitar os vários convênios firmados nos últimos anos para investir em infraestrutura básica das unidades. Dentre todas as avenças provavelmente o acontecido no PE do Morro do Diabo seja o melhor exemplo disso. Em 1986 3.000,57ha da então Reserva Estadual do Morro do Diabo foram “excluídos” da unidade devido a inundação daquela porção pelo lago da UHE de Rosana. Visando mitigar e indenizar os danos causados pela perda da melhor porção das matas do Parque e por haver espécies ameaçadas de extinção no local firmou-se um vultuoso convênio que viabilizaria a infra-estrutura atual da unidade, inclusive a contratação de 35 novos funcionários e sua posterior incorporação aos quadros do Estado. Em 1990 fez-se a atualização dos valores do convênio devido aos chamados Plano Cruzado, Plano Bresser e Plano Verão e assinou-se novo acordo que beneficiaria o Morro do Diabo e outras sete UCs do IF, quais sejam Estação Ecológica de Caetetus, Estação Ecológica de Paulo de Faria, Estação Ecológica de Santa Bárbara, Parque Estadual de Vassununga, Parque Estadual de Carlos Botelho e Estação Experimental de Assis. Situação semelhante ocorreu com o convênio IF/JICA e com o PPMA. Na implantação das infra-estruturas das unidades ressalta-se a importância da iniciativa dos diretores e pessoal técnico local, para o que tomamos como exemplo o PE Vassununga e PE Porto Ferreira. Ambas as unidades são gerenciadas por diretores específicos, mas sob uma mesma coordenação, cuja filosofia é a busca de soluções externas ao sistema gerencial vigente. Deste modo obteve-se financiamentos externos para construção de um moderno centro de visitantes em Vassununga e busca-se alternativas para se terminar um centro de visitantes em Porto Ferreira, cuja obra esta parada a cerca de cinco anos (oriunda 196 de administrações passadas). Na mesma região os técnicos obtiveram recursos da FAPESP para a adequação de prédios antigos onde implantou-se um Centro de Sementes na Estação Experimental de Santa Rita do Passa Quatro. A demarcação das unidades é considerado um requisito de infraestrutura, mas é dependente de decisões políticas para a regularização fundiária. Segundo os diretores e técnicos, 14 unidades (34%) possuem menos de 50% de seus limites demarcados, dentre elas áreas protegidas de dimensões e importância significativas como os PE Cantareira, Ilha Bela e PETAR. Os PE de Jacupiranga, Juquery, Vassununga, Xixová-Japuí, Ilha Bela e EEc Juréia, além dos Núcleos de Gestão do PESM, não possuem nenhum tipo de demarcação oficial ou as que foram feitas se perderam pela falta de manutenção ou reavivamento. Coexistem unidades na mesma seção técnica e muito próximas em situação antagônica, como o P.E. Vassununga, com demarcação inadequada ou inexistente e P.E. Porto Ferreira com seus limites bem definidos e demarcados. As Estações Ecológicas oriundas de desmembramentos de Estações Experimentais possuem a totalidade de seus limites demarcados pois estas foram criadas numa época em que os governos importavam-se em legitimar a posse das terras antes mesmo de iniciar o processo de implantação das unidades. A situação descrita acima mostra o descaso do Estado e governos para com as obras que não aparecem, mas que são fundamentais à efetiva proteção do seu patrimônio natural. O indicador “Aceiros” teve uma incidência reduzida sobre o universo amostral em razão de boa parte das unidades localizarem-se em regiões muito declivosas, de elevada precipitação ou em ambiente costeiro-marinho, resultando em baixo peso relativo na nota final do âmbito. Entretanto este indicador tem uma incidência real sobre as UCs do interior, sendo que várias delas receberam um considerável investimento no ano 2000 quando então o IF contratou a CODASP para a prestação dos serviços afins. Na ausência dessas iniciativas em algumas unidades lança-se mão das boas relações locais para suprir tal necessidade, como os exemplos dos Parques Estaduais do Morro do Diabo, das Furnas do Bom Jesus e de Porto Ferreira que foram, ou tem sido, auxiliados por movimentos sociais organizados, prefeituras e empresa privadas. Em termos de equipamentos para a gestão, na atualidade sobressaem-se as unidades beneficiadas pelo projeto PPMA, que privilegiou a 197 melhoria da capacidade de gestão das unidades contempladas. Muitas unidades tiveram uma pontuação baixa em relação a equipamentos devido, principalmente, ao sucateamento da frota de veículos e de máquinas agrícolas que ou são muito velhas ou demandam urgentes serviços de manutenção, como o observado no PE Juquery, PE Jacupiranga, PE Jataí entre outras. Nas unidades possuidoras de mínima infra-estrutura e pessoal há razoável organização funcional dos procedimentos administrativos, com arquivos simples mas suficientemente completos para proporcionar suporte à administração. As atividades desenvolvidas não estão totalmente integradas em um sistema de normas unificado, mas em geral ocorre um bom controle sobre o setor administrativo. Mesmo nas unidades que informaram não haver quadro de pessoal suficiente ocorre a divisão de trabalho de modo moderadamente satisfatório, nas quais o fluxo da comunicação interna entre direção e funcionários acontece na rotina de cada uma delas, contudo não há mecanismos para uma efetiva participação dos funcionários na gestão. Entre todos os fatores de ordem administrativa essenciais, os recursos financeiros são o nó critico do sistema, cujo indicador obteve somente 24% do total ótimo, uma defasagem que inviabiliza ou estanca qualquer desejo dos diretores das unidades de desenvolvê-las. O IF atravessa a maior crise de sua história, com falta de investimentos em setores urgentes como proteção e uso público, manutenção da infra-estrutura e renovação da frota de veículos. Nos últimos 5 anos os serviços de telefonia, eletricidade, água e esgoto e transporte coletivo tem sofrido constantes ameaças de suspensão pelas empresas fornecedoras, chegando mesmo às vias de fato por curtos períodos. Se no início do ano 2000 a sede do IF ficou incomunicável por quase 15 dias não é difícil imaginar o que as unidades de conservação tem sofrido. No mesmo ano e também em 2001 ocorreu o cancelamento das bolsas de estágios mantidas pelo Fundo Especial de Despesa, resultando na dispensa generalizada de estudantes de vários níveis, que além de executarem tarefas na área de pesquisa ambiental também ofereciam auxilio em várias atividades desenvolvidas nas UCs, fundamentalmente as voltadas ao atendimento ao público e administrativas. A carência de recursos vem afetando sobremaneira atividades reconhecidas como básicas em uma organização eminentemente florestal, como a coleta e comercialização de sementes de espécies nativas e 198 exóticas. Em relação a isto dois exemplos podem ser citados: O PE do Morro do Diabo que colhia e enviava à sede em São Paulo mais de 1000Kg anuais passou a entregar menos de 200Kg; para o ano 2001 sementes demandadas pelas unidades de uso sustentável visando a produção e comercialização local de mudas não foram encontradas na Seção de Sementes do IF, notadamente o Eucaliptus citriodora, para a qual a comunidade rural tem uma inegável predileção. O Quadro 44 ilustra a relação e a defasagem entre o que os diretores das unidades de conservação precisam para realizar a gestão das áreas sob sua responsabilidade e o quanto recebem em valores reais. Considerando as amostras que responderam sobre a quantidade atual e ótima de recursos financeiros pode-se produzir um índice da relação $Ótimo/$Atual, cuja média geral foi 4,7 (vide Apêndice B), indicando que os recursos mínimos para gerir bem o sistema deveriam ser ao menos 4,7 vezes maior que os recursos disponíveis na atualidade. Considerando somente as áreas protegidas de proteção integral este índice sob para 5,40. Assim, para um orçamento anual de R$1.736.230,00 (Um milhão, setecentos e trinta e seis mil, duzentos e trinta reais) em 2000, excluindo o pagamento do pessoal, o IF deveria ter obtido no mínimo R$ 8.125.556,00 (Mais de oito milhões de reais) segundo o raciocínio desta projeção. Ou seja, considerando que a superfície total gerenciada pelo Instituto Florestal é 900.000ha, a instituição deveria possuir um orçamento que correspondesse a no mínimo R$9,00/ha (nove reais por hectare), muito acima dos atuais R$1,9/ha. Agrava ainda mais essa situação o fato de a organização não cumprir as orientações normativas internas que determinam o retorno às UCs de 70% das receitas geradas pela visitação pública (portaria DG de 06/7/94), um fato que, segundo Melo Neto (2000), sempre se faz justificar por sofismas contabilísticos da sede. Provavelmente algo semelhante justifica o fato de o PETAR e outras unidades elencadas no mesmo dispositivo administrativo não estarem recebendo retorno do que se recolheu. 199 Quadro 44. Relação dos recursos financeiros/hectare, em reais por hectare por mês ($/ha/mês), em função dos recursos financeiros recebidos na atualidade e os recursos necessários segundo as informações dos diretores das UCs que reportaram essa questão. Ano 2001. Unidades PE Ilha Anchieta* PE Ilha Bela* PE Marinho Lage de Santos PE Xixová Japuí PE Jurupará PE Juquery PE Campos do Jordão PESM Santa Virginia* PESM Cunha* PE Vassununga PE Porto Ferreira PE Furnas do Bom Jesus PE Morro do Diabo PESM Caraguatatuba* PESM Picinguaba* PESM Curucutu PE Jaraguá PETAR PE Carlos Botelho PE Campina do Encantado* PESM São Sebastião* PE Ilha do Cardoso* PE Jacupiranga EEC Juréia-Itatins EEC Bananal EEc Paranapanema EEc Caetetus EEc Assis EEc Jataí EEc São Carlos EEc Itirapina Floresta de Avaré I FE Manduri EEJJG EE Assis EE Luiz Antônio EE São Simão EE Bento Quirino EE Bauru EE Araraquara EE Tupi EE Itirapina EE Itapeva $ Atual 3000,00 5000,00 300,00 350,00 1200,00 2700,00 5000,00 12000,00 1200,00 500,00 2500,00 1000,00 1600,00 6000,00 10000,00 300,00 4000,00 0,00 250,00 6000,00 2000,00 20000,00 2500,00 1800,00 4000,00 0,00 600,00 0,00 0,00 0,00 400,00 1200,00 4000,00 1000,00 1500,00 3000,00 1000,00 800,00 700,00 2100,00 1850,00 2500,00 2000,00 Proporção Atual $/ha/mes 3,62 0,19 0,06 0,39 0,05 1,40 0,60 0,90 0,06 0,29 4,09 0,48 0,05 0,08 0,21 0,03 8,12 0,00 0,01 2,54 0,07 0,89 0,02 0,02 4,52 0,00 0,28 0,00 0,00 0,00 0,17 1,62 2,69 2,26 0,47 0,48 0,38 1,92 16,25 14,65 9,32 0,78 1,09 $ Ótimo 7000,00 10000,00 1000,00 1500,00 5000,00 6000,00 25000,00 15000,00 8000,00 5000,00 5000,00 4000,00 8000,00 6000,00 12000,00 1500,00 12000,00 10000,00 12000,00 6000,00 8000,00 40000,00 25000,00 7000,00 6000,00 2000,00 3000,00 2000,00 5000,00 1000,00 1000,00 3000,00 10000,00 2000,00 10000,00 10000,00 4000,00 3000,00 4000,00 4200,00 3000,00 10000,00 4000,00 Proporção Ótima $/ha/mes 8,45 0,37 0,20 1,66 0,19 3,11 2,98 1,12 0,37 2,89 8,18 1,93 0,24 0,08 0,25 0,17 24,36 0,28 0,32 2,54 0,28 1,78 0,17 0,09 6,79 3,15 1,38 1,52 1,10 13,29 0,43 4,04 6,73 4,52 3,16 1,60 1,52 7,21 92,83 29,30 15,11 3,11 2,19 Além da falta de verbas uma dificuldade maior se interpõe ao pessoal de campo na atualidade pelo fato da grande irregularidade na entrega dos poucos recursos existentes, ficando algumas unidades até alguns meses sem os 200 receber, inviabilizando por completo o planejamento e a execução de curto e médio prazos. Para as unidades de proteção integral o âmbito apresentou um peso de 21,74%9 sobre a nota geral e uma pontuação muito baixa, apenas 49,48% do ótimo, um padrão de qualidade inferior que sugere urgente atenção institucional para os problemas verificados. 4.3.3 Político-Legal Quadro 45. Comportamento do âmbito político-legal para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34. Indicadores de políticas de gestão Instrumento legal de criação da unidade Situação fundiária Apoio e/ou relacionamento Interinstitucional Aplicação e cumprimento de normas Apoio e participação comunitária Apoio ou facilitação intrainstitucional Respaldo ao pessoal / Plano de carreira Programa de capacitação Total Total % atual ótimo Ótimo 146 164 89,02 115 164 70,12 102 164 62,20 94 164 57,32 86 164 52,44 62 164 37,80 57 164 34,76 51 164 31,10 713 1312 54,34 Ainda que o nome indique, este grupo de indicadores não é o único responsável em conformar a existência e a aplicação de políticas para a gestão e o desenvolvimento das áreas protegidas administradas pelo Instituto Florestal, aspecto que somente a integração de todos os âmbitos e indicadores inseridos no processo de avaliação poderá oferecer. Na ausência de um outro rotulo para a agrupação dos indicadores resolveu-se por Político-legal, que também pode ser entendido como Apoio à Gestão caso a palavra ‘políticas’ soe ou tome uma conotação muito forte, apesar dos indicadores considerados estarem quase todos relacionados à filosofia de trabalho adotada pela organização, e por conseguinte à suas políticas intrínsecas. A criação das unidades de conservação paulistas, assim como no restante do país, realiza-se mediante a edição de algum diploma legal pelo poder executivo, algumas vezes passando pelo crivo do poder legislativo. Assim, as UCs investigadas possuem diploma legal competente para dirimir a autoridade do Estado 9 Razão entre o total alcançado pelo âmbito e o total geral multiplicado por 100 do Quadro 34. Aqui 691/3177,18 x 100 201 sob os recursos protegidos, sendo o Decreto o artifício mais comumente usado. Algumas particularidades precisam ser atendidas para adequar os instrumentos jurídicos à realidade haja vista que alguns diplomas são bastante antigos e não abarcam a evolução técnica e conceitual das áreas protegidas, principalmente após o advento da Lei 9985, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Há unidades que, antigas, não foram criadas por diploma jurídico maior, constando somente a escritura da propriedade, fato mais comum nas Estações Experimentais. A recategorização das UCs paulistas é uma necessidade premente e uma exigência da legislação (BRASIL, 1998), mas fundamentalmente em razão da má inserção técnica e política de algumas delas, como por exemplo o Parque Estadual ARA-Valinhos cuja superfície de apenas 64,30ha não o justifica como tal; o PE Capital (Alberto Lofgren), com a maior parte de seus 174ha antropizados por albergar um uso público muito intensivo e impactante da biota; a Reserva Estadual de Águas da Prata, cuja diminuta área de 48,40ha quiçá seja melhor gerida em outros níveis que não o estadual; a Estação Ecológica da Jureia-Itatins, com seus quase 80.000ha, na qual os usos a que esta sujeita e seu potencial parecem estar mais coadunados com a categoria Parque do que a uma Estação Ecológica. A diversidade de casos similares a estes é significativa e deve motivar um grande esforço organizacional visando preencher esta lacuna, que parece ter influenciado muito pouco na avaliação procedida pelos diretores das unidades. Em relação à existência, aplicação e cumprimento de normas há o entendimento geral de que a organização possui tal arcabouço, mas sua efetiva aplicação está relacionada à existência de pessoal em quantidade e qualidade, efetivamente engajados nos afazeres da conservação da biodiversidade, o que não é o caso, por exemplo, do que acontece no PE Juquery, cujos funcionários, excetuando a própria diretora, são oriundos da Secretaria da Saúde. Em outros casos, como a Estação Ecológica Júreia-Itatins e o PE Ilha Bela, o indicador está comprometido pelo fato das áreas serem extremamente grandes para a quantidade de funcionários existentes e não haver legitimidade na posse da terra pelo Estado. Observando a planilha geral de pontuação veremos que o indicador Situação Fundiária, para as 41 UCs de Proteção Integral, alcançou os 70,12% em termos absolutos, uma cifra estranha já que se revelou a situação fundiária das áreas do IF na seção destinada às UCs de São Paulo, e a verdade é outra. 202 Aos fatos: Dos 28 Parques Estaduais amostrados 8 possuem menos de 35% de sua área regularizada, dentre eles PE Ilha Bela, PEM Laje de Santos, PE Xixová-Japuí, PE Caraguatatuba, PE Picinguaba, PETAR, Núcleo São Sebastião do PESM e PE Jacupiranga. No PE Serra do Mar a situação difere de Núcleo para Núcleo: Curucutu possui mais de 75% de seu território resolvido; Santa Virginia possui entre 50 e 75% de sua superfície resolvida; Cunha e Cubatão entre 35 e 50%; Caraguatatuba, São Sebastião e Picinguaba, no máximo 35% de suas terras legitimadas. Das 41 AP de Proteção Integral ao menos 16 (39%) possuem algum problema fundiário levando-se em conta que somente a pontuação 4 confere um padrão de qualidade excelente ao indicador. Das 16 Unidades que apresentam problemas fundiários, 13 o possuem em situação bastante grave (com notas entre 0 e 2), redundando em uma área problemática da ordem de quase 600.000ha, mais da metade da superfície administrada pelo Instituto Florestal e pouco menos da superfície total tratada nesta pesquisa. Dentre as Estações Ecológicas somente a da Juréia-Itatins não possui solução para tais problemas, estando as demais em melhores condições pelo fato já relatado, de as mesmas serem oriundas do desmembramentos de outras unidades que já possuíam situação fundiária solucionada. No processo de criação de áreas protegidas é quase sempre inevitável que moradores sejam englobados em seus limites. Este fato é comum a quase todos os empreendimentos que implicam na modificação do uso de alguma área. Assim, quando se deseja construir uma ponte, uma hidroelétrica, uma estrada ou fazer reforma agrária as pessoas são afetadas e, por esta razão, são indenizadas pela perda de suas casas, terras ou benfeitorias. Isto ocorre por serem empreendimentos importantes para a coletividade, independente das eventuais distorções que possam haver em tais processos. Conforme Rocha (1997), no caso dos empreendimentos públicos as indenizações são rápidas e dependem da sua relevância sócio-econômica, dos interesses político-partidários e empresariais ajustados ao momento, porém as áreas protegidas públicas não possuem tais cacifes e são deliberadamente abandonadas a toda sorte de conflitos gerados pela falta de saneamento fundiário, provavelmente por serem ‘menos importantes’ que as famigeradas ações e obras eleitoreiras. 203 A correlação simples entre a pontuação obtida para este indicador e a nota final das áreas é insignificante, o que pode levar à falsa conclusão de que a situação fundiária não influencia na eficácia de gestão. Mas, ao contrário, toda sorte de conflitos podem disso derivar e serem enfrentados nas unidades de conservação, retardando sua implantação e desenvolvimento mas sem impedir que os trabalhos de gestão aconteçam. A situação dominial deve ser encarada como condição elementar para se fazer uma gestão eficaz, senão não existiriam os transtornos que a direção do PE Jacupiranga enfrenta diariamente, e mesmo o pessoal dos núcleos de gestão do PE da Serra do Mar. Um dos elementos indispensáveis para as iniciativas de conservação mais duradouras é a obtenção do apoio comunitário (BorriniFayerabend, 1997), principalmente quando não se tem a posse e o domínio das terras em definitivo, procurando estabelecer alianças com os vizinhos e com a comunidade em geral no sentido de manter a integridade dos recursos. Infelizmente isto ainda está longe de ser uma qualidade do sistema estudado, haja vista o indicador receber pouco mais de 50% do total ótimo alcançável. Na maioria dos casos as UCs não possuem os mecanismos que promovem a participação da comunidade no planejamento ou na gestão das áreas, excetuando algumas UCs financiadas pelo PPMA e outras muito pontuais. O relacionamento entre as partes fica truncado e sujeito à sazonalidade dos eventos diários, o que de uma forma direta impede que as pessoas aquilatem o verdadeiro valor das áreas protegidas e do trabalho ali desenvolvido, resultando em um apoio incipiente para as demandas conservacionistas. Dentre alguns exemplos positivos descreve-se a seguir alguns selecionados. A experiência positiva do PE Ilha do Cardoso em relação à comunidade é compensadora e deve servir de exemplo para iniciativas nesta direção. Este Parque insular antes mesmo de ser transformado em UC já era habitado, constituindo pequenos núcleos habitacionais de pescadores, principalmente. Por este motivo e para facilitar a gestão dos recursos o parque é estruturado em Núcleos que abrigam, além das citadas populações tradicionais caiçaras, indígenas e residentes não tradicionais. Além do Núcleo Pereque existem os Núcleos Marujá, que abriga um importante componente social do manejo, a Associação de Moradores do Maruja (AMOMAR); Núcleo Enseada da Baleia, Núcleo Pontal do Leste e Vila Rápida, com menores número de pescadores. Ao todo a Ilha 204 contém cerca de 160 unidades familiares que vivem da pesca, agricultura de subsistência e o corte da caxeta10 (permitido somente às famílias consideradas tradicionais) totalizando uma população aproximada de 400 pessoas entre tradicionais e não tradicionais. Um fator exógeno a este sistema social é a invasão e presença de um grupo indígena Guarani com cerca de 45 pessoas que chegaram em 1992 e foram autorizados a ficar por decisão judicial proferida em 1997. Este grupo vive da caça, pesca, roça e artesanato de caxeta, sendo objeto de um projeto de pesquisa que procura averiguar os efeitos e os impactos da caça sobre a biota e na qualidade de vida do grupo. Este componente social é um elemento desagregador pois os caiçaras não compreendem como os índios podem exercer a caça e eles não; como os indígenas podem tudo ou quase isso e eles submetidos aos diplomas legais que norteiam a conduta ambiental. Essa questão aflige não só algumas UCs de São Paulo, mas também o PN Araguaia, Monte Pascoal, Superagui, Pacaás Novos, Estação Ecológica de Ique e Reserva Biológica de Guaporé e Gurupi (Jorge Pádua, 2001), precisando políticas urgentes e consistentes haja vista que a FUNAI parece ser um outro Brasil11. Para administrar este conflito e dar solução aos problemas oriundos dos anseios comunitários, a direção do PEIC conta com dois elementos de gestão imprescindíveis: todas as unidades familiares estão cadastradas em um arquivo contendo informações referentes a cada clã, variando desde o n0 de filhos até um memorial descritivo detalhado de cada uma das moradias, o que permite um controle bastante satisfatório sobre as atividades desenvolvidas por cada uma delas. O segundo componente é a existência de um sólido Comitê de Apoio à Gestão, constituído por membros de diversas instituições (Parque, AMOMAR, representantes das vilas de pescadores, Prefeitura e Câmara dos Vereadores de Cananéia, IBAMA, Instituto de pesca, Pastoral, e ONG’s como SOS Mata Atlântica). Este Comitê está implantado a mais de dois anos, com uma prática consistente de reuniões participativas e democráticas e trata de todas as questões relativas ao manejo do Parque e que envolvam os interesses comunitários, exceção feita ao grupo indígena (invasor) que é orientado pela FUNAI. Este comitê realizou 10 11 Caxeta, Tabebuia Cassinoides DC., árvore da família Bignoniaceae. Nogueira Neto, P. 2001. Comentário sobre a invasão das terras do Parque Nacional do Araguaia por grupos indígenas. Comissão Mundial de Áreas Protegidas-Brasil. UICN. Grupo de discussão via Internet. 205 cerca de 40 reuniões mensais em esquema de rodízio nos diversos Núcleos Comunitários existentes no interior da unidade, possui um caráter essencialmente consultivo mas na prática delibera sobre aspectos do manejo como reformas e ampliações de residências, novas construções, energia, saneamento, corte de árvores para canoas, área de cultivo mínimo, etc. Caso o pleito seja autorizado pelo Comitê este é encaminhado ao DEPRN, que passa a conduzir o processo. Para os não tradicionais o Comitê não autoriza nada, ao contrario, interpõe barreiras previstas na legislação corrente. No Parque Estadual do Morro do Diabo desde 1988 há um certo envolvimento da população da cidade nos assuntos da unidade, principalmente após a estruturação e implementação de atividades de visitação pública e educação ambiental. No decênio de 1990 mudanças na administração causaram a diminuição do apoio comunitário ao Parque, entretanto a partir da metade da mesma década este reconhecimento foi melhorado na medida que a unidade estabeleceu uma parceria informal com uma organização não governamental (Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ) que implementa projetos de pesquisa nas áreas de biologia da conservação e de desenvolvimento sócio-ambiental junto aos assentamentos humanos na periferia da unidade, oriundos de movimentos sociais (Valadares-Pádua et al., 1997). Os trabalhos desenvolvidos pelo IPÊ são distinguidos de outrens pois os técnicos da organização intrincam-se com a comunidade, com os seus anseios, na busca de alternativas para os problemas tecnológicos voltados à produção sustentada; mas sobretudo porque os projetos não são apenas de pesquisa e procuram transformar a realidade presente no Pontal do Paranapanema, incomodando alguns órgãos de Estado que deveriam poder estar cumprindo com tais obrigações. O reconhecimento da importância da UC para a região e como fonte de benefícios indiretos para a comunidade levou esta mesma comunidade a se organizar em defesa da biota da área, um fato que certamente ficará marcado na história do Parque. A unidade é fragmentada por uma rodovia asfáltica, numa extensão de 14Km, cuja maior conseqüência são os incontáveis atropelamentos de animais silvestres, muitos ameaçados de extinção, além dos incêndios florestais provocados e de outros tantos impactos relatados por Faria e Moreni (2000). 206 Dentre as várias iniciativas políticas, gerenciais, institucionais e jurídicas visando solucionar ou minimizar o problema relaciona-se a firme manifestação popular ocorrida em agosto de 2001, cujos integrantes, na maioria pequenos agricultores e suas famílias, fecharam a referida rodovia até que as autoridades locais estivessem presentes e manifestassem sua posição favorável em relação ao problema. Por outro lado, o mesmo MST que já invadiu unidades de conservação do Estado (Florestas de São Simão e de Pederneiras) auxiliou a administração do PEMD a reformar os aceiros de ambas as margens da mesma rodovia num momento em que não havia recursos do Estado destinados a tal objetivo. Outra unidade que merece destaque no tocante a relações com a comunidade é o Núcleo Picinguaba do PESM. Em razão de 80% do município ser constituído de áreas do Parque este núcleo de gestão precisa manter estreitas relações com a sociedade em geral, sejam os lideres comunitários sejam as organizações que atuam na localidade, na tentativa de minimizar os impactos derivados da expansão do uso da terra para a segunda residência ou residência de verão, e os impactos causados pelo parque na medida que este é um impeditivo para que a cidade de Ubatuba se expanda como balneário. Para tanto há em atividade um programa de educação ambiental que discute esses temas com os estudantes, ao mesmo tempo que os técnicos locais atuam junto aos organismos de desenvolvimento no afã de solucionar os conflitos deste suposto antagonismo. Da mesma maneira pode-se referir, em menor ou maior profundidade e qualidade de relacionamento e apoio comunitário, aos PE de Carlos Botelho, PE Campos do Jordão, PE de Porto Ferreira, EEc do Bananal, Núcleo São Sebastião do PESM e PE da Ilha Anchieta Observando-se as notas auferidas aos indicadores “Apoio e/ou relacionamento interinstitucional” e “Apoio e/ou relacionamento intrainstitucional” nota-se que no entendimento dos diretores há uma maior facilidade de obter melhor suporte e participação de instituições e organismos forâneos que das diversas secções da sua própria organização que, ao contrário, deveria apoiá-los com maior proximidade. Um dos casos mais notáveis e que justifica a necessidade de um bom relacionamento com os organismos de atuação local é o PE Jaraguá, onde isto efetivamente não tem acontecido às expensas de a unidade ser muito próxima da sede do Instituto Florestal. 207 O Parque recebe uma média de 5.000 pessoas por fim de semana, cujo controle é bastante dificultado por serem dois focos de atendimento ao público: na área de recreação junto à sede e no Pico do Jaraguá. As dificuldades são potencializadas pela falta de um bom acerto interinstitucional entre a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de Esportes e Turismo – SET, para a tarefa de fiscalizar, controlar e proteger usuários e patrimônio, o que com certeza é uma das causas da ocorrência de tantos acidentes pessoais e danos ao patrimônio público. Por exemplo, em ambas áreas de visitação deveria ser proibida a venda de bebidas alcoólicas, porém parece haver a parcimônia da SET, o que já resultou em acidente fatal no Pico do Jaraguá. Outro fato que demonstra a necessidade urgente de um melhor arranjo interinstitucional para a gestão do PEJ é a rodovia que dá acesso ao Pico. A mesma passa diante da área de recreação da SET e da sede do Parque, situadas na base do Pico, mas nenhuma forma de controle de acesso ao cume é realizada pois a estrada é administrada pelo DER, entretanto ao longo da mesma é praxe ocorrerem irregularidades que põem em risco os recursos protegidos no Parque e os usuários pois é possível observar enorme quantidade de lixo abandonados pelos usuários, caminhos alternativos, pichações, etc. No PE Ilha Bela, uma área inserida num contexto estritamente turístico, a inserção da direção junto à comunidade ainda é deficitária. Há evidências de pouco entrosamento com os órgãos interessados, como a prefeitura, hotéis, igrejas, líderes comunitários, ong’s locais, entre outros, uma debilidade no que deveria ser um ponto forte para uma unidade cujo domínio público ainda não é legitimado. Entretanto a tendência é a reversão desta situação pelo fato de haver agora uma diretora residente no próprio município e a obstinação apresentada pela direção e funcionários em relação ao assunto. Um exemplo desta maneira de agir é detectado no Núcleo São Sebastião do PESM, que apesar de contar com financiamento do PPMA a gestão está seriamente ameaçada pela falta de infra-estrutura e recursos humanos. Esses problemas estão sendo parcialmente e temporariamente solucionados mediante uma ‘parceria’ mantida com a Prefeitura Municipal de São Sebastião e com a Petrobrás, que possibilita o mínimo funcionamento de atividades ligadas à proteção, educação ambiental e ecoturismo, além do trabalho conjunto com a Policia Florestal e de Mananciais no caso do programa de proteção. Além dessas parcerias a gestão é 208 conduzida permeada pela participação dos representantes da comunidade no Comitê de Apoio à Gestão. Ações, embora embrionárias, estão sendo efetuadas no sentido de se elaborar e desenvolver um programa de pesquisa com a participação da ESALQ/USP. Em relação ao apoio e ao relacionamento intra-institucional o que se percebe é o sentimento quase que generalizado de abandono das áreas protegidas por parte dos setores gerenciais da sede, ou pelo Estado. Ainda que inexistam entraves burocráticos por parte dos escritórios centrais do IF, há uma carência total de apoio e aconselhamento para as coisas jurídicas, como o estabelecimento de normas e procedimentos para as diversas atividades que se deseja ‘institucionalizar’ e ver gerando recursos para a unidade. Quando o PETAR deixou de receber sua cota de financiamento por alguns meses consecutivos faltou apoio institucional e, fundamentalmente, ética ao não se consultar a diretora da área sobre a viabilidade do remanejamento das verbas. O PE Porto Ferreira obteve financiamento do FNMA para elaborar seu plano de manejo, mas a dificuldade para conseguir os documentos necessários junto ao IF e a SMA impediram a concretização do respectivo convênio por mais de uma ano. Caso semelhante ocorreu com o PE Juquery e PE Ilha Anchieta, cujas equipes técnicas, articuladas com outros organismos de atuação local, aprovaram projetos junto ao FEHIDRO para a recuperação de áreas degradadas e educação ambiental, respectivamente. Os entraves para a formalização de convênios são muito grandes, em alguns casos necessitando da anuência direta do governo do Estado, o que faz do trâmite longo e demorado ou os processos relativos serem barrados pela e na Assessoria Jurídica da SMA caso não estejam completamente defesos. Isto foi o que desmotivou a oficialização de uma parceria entre o IF e o Instituto de Pesquisas Ecológicas visando a implementação de ações no já relatado caso do PE do Morro do Diabo. Deste modo, fica patente a necessidade de se constituir um setor no IF que dedique-se exclusivamente a prestar apoio jurídico pertinente aos casos expostos, tão necessários no atual momento quando os diretores buscam alternativas para alavancar a gestão de suas unidades, além de esquemas modernos que melhorem o relacionamento entre a sede e as unidades para o efetivo apoio que elas merecem. 209 Quanto ao apoio que os funcionários recebem da organização para o desenvolvimento da sua vida profissional que, evidentemente, reflete-se na vida pessoal e na motivação interior das pessoas (Bergamined, 1996), entende-se que ocorre ausência e/ou omissão institucional/governamental no provimento de maior atenção às demandas dos funcionários. A existência de salários e contratações diferenciadas entre funçõesatividades similares é uma rotina que culmina em insatisfações pessoais, insubordinações e abandono do serviço, ainda que haja um movimento do funcionalismo público em prol da efetivação da Carreira de Apoio à Pesquisa, que se aprovada e regulamentada certamente será a redenção de grande parte dos funcionários de nível básico e médio dos Institutos de Pesquisa. Entretanto, ainda não se fala em uma carreira voltada à administração das UCs ou de ‘diretores de parques’, uma lacuna que se preenchida solucionaria os dissimulados conflitos gerados entre as diversas profissões, cargos e salários dos atuais diretores das unidades de conservação de São Paulo. Um dos graves problemas enfrentados na atualidade quanto aos funcionários do IF é quanto ao “desvio de função” de parte significativa dos quadros do nível básico. Muitas vezes funcionários contratados para serem trabalhadores de campo executam tarefas de vigias, e vice-e-versa, sendo que em algumas unidades inexistem os dois cargos citados, como no PE Porto Ferreira cujo pessoal se insere exclusivamente nas carreiras de pesquisa, prejudicando o desenvolvimento normal das tarefas. Este problema parece quase ‘institucionalizado’ por não lhe ser dado a devida atenção pelas várias direções do IF e pelo governo do Estado. Outro problema grave é quanto aos benefícios diferenciados que trabalhadores efetivos e estatutários do IF e os contratados pela Fundação Florestal possuem. Enquanto os efetivos tem acesso a benefícios do tipo licença prêmio de até três meses a cada período de cinco anos de assiduidade os estatutários não são enquadrados da mesma forma; enquanto os funcionários do IF possuem estabilidade, os contratados pela Fundação tem melhores salários, bônus alimentação e convênio saúde. Quanto a este último fator, os funcionários públicos contribuem compulsoriamente para com o IAMSPE (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), porém 210 este serviço está disponível em apenas 93 dos municípios do Estado e 46 postos de atendimento na cidade de São Paulo12. A instituição não possui mecanismos internos para a valorização de seu quadro funcional e tampouco um mínimo programa de capacitação voltado à promoção profissional em todos os níveis, mas seguramente as possibilidades e alternativas para a capacitação são muito mais facilitadas para o pessoal de nível superior, que apesar de as vezes não obterem as licenças oficiais para freqüentar cursos tem a vantagem de possuírem maior autonomia, podendo equilibrar as atividades acadêmicas com suas férias e licenças prêmio (no caso dos efetivos). Quando existem, as iniciativas para melhorar a qualidade dos funcionários geralmente partem das unidades, com um caráter muito espontâneo e oportunista. A pontuação auferida ao indicador ‘Programa de Capacitação’ para as UCPI, que avalia em que nível a instituição e as unidades provêm tal atividade a seus funcionários, obteve uma correlação positiva de 47% em relação à nota final obtida pelas áreas protegidas. Ou seja, em 47% dos casos estudados, ou 26 das unidades, há uma correspondência entre a qualidade da gestão da unidade e a existência ou não de atividades voltadas à capacitação, mas isto não significa uma tendência real haja vista não se poder predizer tal comportamento em razão da mínima quantidade de amostras. Para as unidades de proteção integral, este grupo de indicadores teve um peso de 22,44%13 sobre a nota final e uma pontuação de 54,34% do ótimo, um padrão de qualidade medianamente satisfatório cuja nota situou-se no limite inferior desta classe, sugerindo também a necessidade de uma inequívoca atenção às lacunas relatadas. 12 Secretaria de Estado da Saúde. Instituto e Assistência Médica ao Servidor Público Estadual. Relação das entidades credenciadas pelo IAMSP. Seção de Pessoal. Divisão de Administração. Instituto Florestal. 13 Razão entre o total alcançado pelo âmbito e o total geral multiplicado por 100 do Quadro 34. Aqui 713/3177,18 x 100 211 4.3.4 Conhecimentos Quadro 46. Comportamento do âmbito conhecimentos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34. Indicadores de conhecimento Informações cartográficas Informações biofísicas Informações socioeconômicas Informação legal Pesquisas e projetos Monitoramento e retroalimentação Total Total % atual ótimo Ótimo 132 164 80,49 110 164 67,07 100 164 60,98 99 164 60,37 99 164 60,37 57 164 34,76 597 984 60,67 Não é lógico, de maneira alguma, falar-se de conservação da biodiversidade sem que haja uma sólida base de conhecimentos gerados pela pesquisa cientifica. No geral este âmbito foi bem pontuado, o que traduz que as Ucs, de uma ou outra maneira, estão disponibilizadas para a realização de pesquisas, mesmo quando não há plano de manejo e/ou programa estruturado para conduzir e controlar a atividade. Ainda assim 20 das áreas protegidas de proteção integral apresentaram deficiências específicas que resultaram em uma pontuação abaixo de 60% e, deste conjunto, 10 possuem uma situação critica em relação à geração e aproveitamento dos conhecimentos, quais sejam os Parques Estaduais da Capital, Cantareira, Juquery, Jurupará, Campos do Jordão, Mananciais de Campos do Jordão, Porto Ferreira, Curucutu, Jaraguá e Estações Ecológicas Juréia-Itatins e de Ribeirão Preto. As condições extremamente críticas estão associadas às UCs com implantação mínima ou sem nenhuma implantação, como o PE Juquery, PE Mananciais de Campos do Jordão e Estação Ecológica de Ribeirão Preto. Em contrapartida, algumas unidades se destacam por apresentarem elevados níveis de satisfatoriedade neste âmbito, notadamente o PE Ilha do Cardoso e as Estações Ecológicas de Caetetus, Assis, Jataí, Itirapina e Itapeva, cujas pontuações alcançaram a casa dos 80%, uma nítida vantagem para a categoria Estação Ecológica que assim cumpre com seus objetivos primários. Ainda que não haja recursos humanos e financeiros, e infra-estrutura especifica para a EEc de Assis ela obteve pontuação satisfatória pois os técnicos e a estrutura da Estação Experimental contígua oferecem um bom suporte à mesma. As demais áreas situam-se em condições intermediaria aos dois grupos aqui apontados. 212 Na atualidade, em termos de produção de conhecimentos destacamse algumas UCs nas quais investe-se com maior vigor nas atividades correlatas. Na Estação Ecológica de Jataí são desenvolvidos uma série de estudos integrados, conduzidos por equipe interdisciplinar da Universidade Federal de São CarlosUFSCAR, que parece ter adotado a unidade como extensão de seu campus onde executa e fomenta vários projetos de pesquisa, dissertações e teses, recentemente compilados no livro Projeto Jataí (UFSCAR, 2000). Na EEc de Itirapina o ecossistema prevalecente é o Cerrado, estudado intensamente por um grupo de pesquisadores do Departamento de Botânica da Universidade de Campinas, Universidade Estadual Paulista, Universidade de São Paulo e Instituto Butantã, cujo enfoque é o detalhamento da biodiversidade da área visando definir estratégias de manejo e conservação. Isto tem contribuído para se conhecer a biota das duas UCs, inseridas nos domínios do Cerrado, além de divulgá-las e assim potencializar o apoio externo para ambas. Muito embora nestas UCs as atividades de pesquisa funcionem sem que haja consumo de qualquer recurso extra da organização principal, devendo servir de exemplo para as demais do sistema, ao menos em Jataí há um defeito grave haja vista que o Projeto Jataí foi implantado à revelia do Instituto Florestal, podendo os projetos estarem mais voltados aos interesses prioritários da UFSCAR. Outros dois bons exemplos são o Parque Estadual de Carlos Botelho e o Parque Estadual do Morro do Diabo. O primeiro é bastante procurado para a realização de diversos trabalhos voltados à titulação acadêmica, principalmente oriundos da PUC de Sorocaba, UNESP de Jaboticabal e Rio Claro, USP e UNICAMP. Pesquisas de longa duração e geradoras de informações mais voltadas ao manejo dos recursos são desenvolvidas pelos Projetos Muriqui, Macaco Prego e pelo programa BIOTA da Fapesp. Até onde se pode detectar, foram desenvolvidos na unidade 64 projetos de pesquisa, que originaram 36 publicações científicas, 8 dissertações de mestrado e 1 tese de doutorado. Em Morro do Diabo a pesquisa foi incrementada no decênio de 1990, havendo no momento deste trabalho cerca de 30 projetos de pesquisa desenvolvidos por diversas instituições. Muito embora a organização não governamental IPE se destaque na atuação de campo na região do PEMD, todavia são as universidades as que mais contribuem para o desenvolvimento de 213 conhecimentos sobre a unidade, incluindo-se aí a descoberta e descrição de espécies novas. Há uma forte tendência de os diretores e técnicos das UCs privilegiarem a obtenção e uso de informações cartográficas, provavelmente em razão da tradição do uso de mapas para a síntese das informações e, sobretudo, porque o Instituto possui uma atuante seção dedicada quase que exclusivamente à produção e a interpretação de tais materiais (Kronka et al. 2001). Algumas UCs já dispõem inclusive de mapas digitalizados usando-se Sistemas de Informações Geográficas como o PE do Morro do Diabo, PE Campina do Encantado, PE Ilha do Cardoso e EEc do Bananal, entre outras. Em relação às informações biofísicas, nos Parques prevalecem as pesquisas voltadas à flora, vindo a seguir fauna, meio físico e uso público; nas Estações Ecológicas predominam os projetos com flora e fauna. Três unidades apresentam quadro critico por não possuírem esses dados, quais sejam PE Jurupará, uma unidade nova no sistema, a EEc Juréia-Itatins, que segundo seu diretor carece de muitos estudos na área, e a Estação Ecológica de Ribeirão Preto com nenhum investimento. 17 UCs informaram que as informações biofísicas estão desatualizadas ou não estão disponíveis para consulta; 11 dizem possuí-las de modo satisfatório, porém podem não estar disponíveis nas UCs ou então não serem tão atuais quanto necessário. Somente 10 unidades, ou 25% das unidades, informaram possuí-las de fato e com as características julgadas desejáveis, isto é, atualizadas e disponíveis localmente. Informações de caráter social e econômica do entorno e da região são muito importantes na medida que oferece aos administradores das unidades a real situação do ambiente no qual se insere a UC, aspecto que os auxiliam na tomada de decisões relativas à zona de amortecimento e ao entorno que impliquem negociações com as populações e organizações ali presentes. Algumas UCs apresentaram um quadro desalentador relativo a este quesito, quais sejam PE Xixová-Japui, Mananciais de Campos do Jordão, Núcleo Cunha do PE Serra do Mar, Furnas do Bom Jesus, PE do Morro do Diabo, EEc São Carlos e Ribeirão Preto. Em 20 unidades os técnicos entendem que tais informações estão em um nível satisfatório, mas em algumas as informações podem não estar disponíveis ou não são suficientemente atuais. 214 Apenas o PE da Cantareira, Ilha do Cardoso e as Estações Ecológicas de Jataí e Itirapina informaram possuir algum tipo de mecanismo que garanta o acompanhamento dos fenômenos naturais, sociais e administrativos visando a realimentação da gestão e do manejo de ecossistemas, aspecto que parece manter estreita correlação com a existência de um programa de pesquisa estruturado e em funcionamento. Deste modo pode-se afirmar categoricamente que uma ou outra UC, em caráter de exceção, possuem condições e pessoal capacitado para o monitoramento, entendo-se que tal atividade encerra as ações de registro, classificação e armazenamento das informações, sendo que para ocorrer a realimentação são necessários mecanismos simples que possibilitem a análise para o posterior aproveitamento da informação. Ao serem indagados sobre o retorno dos produtos das pesquisas e sua disponibilidade nas UCs o resultado foi que 8 UCs informaram não conhecer o que seja retorno das pesquisas; 13 reportaram que essa situação é moderadamente satisfatória e 9 informaram que há o retorno das pesquisas, mas para isso acontecer precisa haver cobrança sistemática aos pesquisadores ou às instâncias internas do Instituto. Entenda-se que a palavra ‘retorno’ significa tanto a incidência dos propósitos das pesquisas sobre os objetivos da unidade como o depósito do produto final nas UCs, aspecto que parecer incidir apenas sobre 10 unidades investigadas. Deste modo pode-se concluir que não há um controle satisfatório sobre as pesquisas desenvolvidas e, principalmente, sobre os produtos gerados, o que impede ou dificulta que os conhecimentos sejam efetivamente aproveitados para alimentar a gestão. Uma das razões para este parcial descontrole pode residir no fato da Comissão Técnico-Científica, COTEC, do Instituto Florestal, órgão responsável pelo cadastro, controle e acompanhamento dos projetos de pesquisas desenvolvidos nas UCs, possuir normas internas desprovidas da efetiva participação das pessoas que estão na ponta do sistema gerencial (Barbosa, 2000). Assim, carecem de modernidade com embasamento nos fatos que acontecem no campo, envolvendo administradores e pesquisadores, que as vezes intrincam-se em embates que podem influir de modo significativo no alcance dos objetivos das áreas (Shannon e Antypas,1996). As demandas por pesquisa nas UCs de São Paulo é um fato e uma carência generalizada pois os diretores de UCs precisam ter informações de qualidade 215 disponíveis, de maneira tal que possam ser eficientemente usadas e disseminadas, sob a premissa básica de que tais conhecimentos são importantes elementos para a compreensão da complexidade e fragilidade dos recursos protegidos e, por conseguinte, para seu manejo inteligente. Uma evidência que mostra o quanto os diretores de UCs julgam importante a pesquisa científica é que muito raramente os mesmos estão satisfeitos com o nível de conhecimento sobre os recursos protegidos, sendo este um dos principais fatores motivadores da pesquisa nas unidades de conservação. O monitoramento de fenômenos naturais e humanos e a posterior retroalimentação do sistema com os novos conhecimentos são as principais fontes de energia para o desenvolvimento equilibrado das áreas protegidas. Os ecossistemas não podem solucionar os problemas que surgem diariamente. Isto cabe às pessoas, só acontecendo de fato a partir do momento que elas compreendam suas reais limitações e adotem medidas contrárias à situação atual (Dudley e Imbach, sd). O uso de modelos que privilegiam a reflexão individual e coletiva conduz as áreas protegidas a uma nova dimensão, onde a gestão integrada dos recursos de fato ocorrerá. Como se pode notar, os requerimentos deste âmbito para a gestão independem, como em outros âmbitos, do tamanho, da importância ecológica, do tempo de existência das áreas ou mesmo da posse de planos de manejo. Para as UCPI, o âmbito conhecimentos teve um peso de 18,79%14 sobre a nota final e uma pontuação de 60,67% do ótimo, um padrão de qualidade medianamente satisfatório que pode ser melhorado mediante investimentos simples, tal como a definição de uma política de pesquisa a partir das bases. 14 Razão entre o total alcançado pelo âmbito e o total geral multiplicado por 100 do Quadro 34. Aqui 597/3177,18 x 100 216 4.3.5 Qualidade de Recursos Quadro 47. Comportamento do âmbito qualidade dos recursos protegidos para as UCs de proteção integral, conforme dados do Quadro 34. Indicadores da qualidade dos recursos protegidos Integridade das cabeceiras das bacias das UCs Exploração de recursos naturais dentro das unidades Tamanho Isolamento, insularidade, conectividade % de áreas alteradas dentro das UCs Forma Forma predominante de uso do entorno Ameaças à unidade Total Total % Ótimo atual ótimo 121 144 84,03 125 164 76,22 114 164 69,51 114 164 69,51 109 164 66,46 98 164 59,76 81 164 49,39 68 164 41,46 830 1292 64,24 Excetuando a forma predominante do uso do entorno e as ameaças que espreitam as áreas protegidas analisadas, os demais indicadores deste âmbito foram avaliados com pontuações que indicam padrões de qualidade igual ou acima das condições mínimas razoáveis que satisfaçam o atingimento dos objetivos das mesmas. Dentre as 41 unidades em foco apenas seis apresentaram uma classificação geral ruim, abaixo de 50%, quais sejam Núcleos Santa Virginia e Cubatão do PESM, PE ARA Valinhos, PE Vassununga, PE Porto Ferreira e PE Jacupiranga. As unidades melhores classificadas, com pontuação acima dos 75%, foram os Núcleos Cunha, Caraguatatuba e Picinguaba do PESM, PE Ilha Anchieta, PETAR, PE Carlos Botelho, PE Ilha do Cardoso e Estações Ecológicas de Bananal, Jataí, Itaberá e Itapeva. As demais UCs não mencionadas aqui estão entre estas duas situações. Dentre os oito indicadores, três são oriundos diretamente dos conhecimentos advindos da Teoria de Biogeografia de Ilhas (MacArthur e Wilson, 1967) e tem um peso considerável na nota final do âmbito. Isto se reflete em cada um dos grupos acima referidos, sendo possível esperar que as áreas protegidas com melhores notas estejam localizadas em regiões que proporcionem dificuldade de acesso e contemplem contínuos ecológicos. Das onze melhores classificadas, sete estão nestas condições, duas são ilhas costeiras (Anchieta e do Cardoso) e as outras três situam-se nas regiões sul e norte do Estado, onde as condições de insularidade são muito graves e suscita dúvidas sobre elas, principalmente em relação à EEc de Jataí, que foi visitada durante a pesquisa. 217 Em relação às características biogeográficas, sobresai na paisagem paulista os grandes contínuos ecológicos da Serra da Mar, da Serra da Paranapiacaba, o Vale do Ribeira e o Litoral Sul de São Paulo, onde estão localizadas grandes e importantes áreas protegidas como PE Carlos Botelho, PETAR, PE Jacupiranga, PE Ilha do Cardoso, PE Campina do Encantado, PE Jurupará, EEc Jureia-Itatins e PE Serra do Mar com seus vários Núcleos de gestão. A paisagem prevalecente deveria emprestar uma proteção especial às UCs da região, entretanto as ameaças externas a que estão sujeitas revela o quão é necessário administrá-las sob um enfoque bioregional e integrador (Miller, 1996). Ora, o PE Jacupiranga apresenta aproximadamente 30% de sua superfície em mal estado de conservação, o que significa que pelo menos 45.000ha dos seus 150.000ha estão severamente comprometidos, e somente a gestão bioregional não solucionará o problema que, como já descrito, tem suas origens na incúria do Estado em não legitimar a posse da terra da unidade. Situações semelhantes, áreas com significativas porções degradadas, ocorrem também nos Parques Estaduais da Capital, Jurupará, Juquery, Campos do Jordão, Mananciais de Campos do Jordão, Santa Virginia, ARAValinhos, Vassununga, Porto Ferreira e Campina do Encantado. E em menor grau nos Parques Estaduais da Ilha Anchieta, Ilha Bela, Núcleo Cubatão do PESM, nas Estações Ecológicas de Paranapanema e Chauás e na Reserva Estadual Águas da Prata. Olvidando a pontuação dada pelos diretores aos indicadores específicos, observa-se pelos dados apresentados que algumas áreas administradas pelo IF possuem superfícies muito pequenas, abaixo dos 200ha, quais sejam o PE Capital, PE ARA Valinhos, EEc São Carlos, EEc Ribeirão Preto, EEc Itaberá, EEc Itapeva e RE Águas da Prata. O PE da Capital é uma área totalmente antropizada e assemelha-se mais a um parque municipal ou a uma Área de Recreação pois destoa completamente do conceito de Parque sugerido pelo SNUC (BRASIL, 2000) ou pela IUCN (1994). A EEc de Ribeirão Preto, por exemplo, possui uma área de 154ha, recebeu nota ‘2’ para tamanho, mas segundo o seu diretor a área já não comporta alguns grupos de macacos, estando a unidade bem próxima de se transformar em um ‘Central Park’ da cidade de Ribeirão Preto, o que pode dar uma idéia da insustentabilidade ecológica da unidade. Por outro lado, segundo as informações 218 primárias apresentadas pelos diretores, essas áreas protegidas não resguardam atributos excepcionais, como espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção, fato que põe em relevo o questionamento sobre a necessidade de se manter áreas com tais características sob a responsabilidade do IF e mesmo do Estado. Em relação à forma das áreas observa-se que, excetuando as UC das ilhas costeiro-marinhas, nas quais a forma do espaço a ser protegido é definido pela natureza, quanto à seleção e criação as demais parecem ter sido delineadas sobre mapas nos escritórios centrais (ainda que se saiba do grande esforço empreendido pela Procuradoria Geral do Estado e pela Procuradoria do Patrimônio Imobiliário na solução de conflitos durante a demarcação de áreas protegidas do Estado). Assim, os Parques Estaduais da Ilha Bela, Xixová-Japuí, Vassununga, Furnas do Bom Jesus, Jacupiranga, Núcleos Curucutu, São Sebastião e Santa Virginia do PESM e EEc de Ribeirão Preto obtiveram pontuação ‘0’ ou ‘1’ por possuírem formas muito irregulares e/ou descontinuas que privilegiam o efeito de borda ou dificultam os labores de proteção. Não obstante o tamanho do PE Jacupiranga ser considerável, sua forma é totalmente desuniforme, apresentando limites que não seguem os acidentes naturais tais como rios, bacias hidrográficas, canais de drenagem, etc. Em pelo menos duas grandes seções do Parque observa-se linhas retas como limites. O PE Vassununga é uma das unidades mais curiosas, com cerca de 2045,06ha e formada por cinco distintos fragmentos, entrecortados por rodovia intensamente transitada e áreas de agricultura intensiva com utilização de agrotóxicos potencialmete agressivos à biota. Apesar disso possui uma considerável população de Jequitibá Rosa - Cariniana legalis (Martius Kuntze) e o cachorro do mato vinagre - Speothos venaticus (Lund), considerado criticamente em perigo de extinção. Estas são razões suficientes para a implementação de estratégias eficazes que conduzam a permanência destas áreas a longo prazo. O recém criado Parque Estadual do Aguapeí é um exemplo de uma forma que maximiza os efeitos de borda e dificulta os labores de fiscalização, que apesar de não fazer parte da amostra deste trabalho vale a pena citá-lo como ilustração. Esta unidade foi criada ao longo das margens do Rio Aguapeí em 1998 por exigência do Ministério Público visando mitigar e indenizar os impactos da UHE Sergio Mota, no rio Paraná, sobre duas áreas protegidas oficialmente existentes na região impactada, porém ‘virtuais’: a Reserva Estadual do Pontal do Paranapanema 219 e a Reserva Estadual da Lagoa São Paulo. Na seqüência apresenta-se um pequeno trecho do relatório técnico realizado por pessoal do IF quando em vistoria à referida área (SMA, 1998). “A unidade possui mais de 30km de comprimento rio acima, e na maior parte de sua extensão a largura média é de 2,5km; somente nos últimos 4km possui largura de 6km e desta maneira forma uma figura assemelhada a uma chave inglesa. A superfície total protegida alcança somente os 9.043,97ha, mas considerando as atuais discussões a respeito da importância dos fragmentos florestais e o estado atual da conservação in situ no Estado, a área é considerável. Porém... Além do tamanho da unidade estar muito abaixo do tamanho ótimo para um Parque Estadual, a forma de corredor submete as espécies a um permanente estresse em busca de abrigo, haja vista a proximidade do habitat com as pastagens e a constante presença de gado e humana nas redondezas; também o efeito de borda, ocasionado pelas diversas reentrâncias e "enseadas", alavanca as conseqüências negativas sobre a flora e a fauna reduzindo as oportunidades evolutivas das espécies e do próprio habitat. O entorno do remanescente é completamente desfavorável à conservação integral da biota e à prevalência de um habitat de fauna específica, haja vista ser usado basicamente para a pecuária extensiva. Conforme vários autores, nos ambientes tropicais as áreas protegidas devem conformar grandes superfícies, preferencialmente acima do 10.000ha contínuos e com uma forma o mais próxima da circular. Quanto mais se afasta destas características mais a área protegida deverá ser restritiva para garantir a perpetuação dos recursos bióticos. No caso particular do Parque Estadual do Aguapeí deve-se entender que a forma da unidade é oriunda do oportunismo ambiental, assim como sua própria criação, sendo então que para mitigar tal fato e as conseqüências futuras pressupõe-se que a melhor medida é estabelecer-se uma categoria de manejo mais protetiva e mais apta ao resguardo dos atributos ali protegidos. Atividades de uso intensivo como a recreação e o turismo ecológico ou ecoturismo, para os quais em primeira análise não há atrativos, são opções de aproveitamento que ocasionam uma degradação maior do habitat e das espécies ali existentes, atentando-se para o fato que usos turísticos e recreativos mais intensos se deslocarão naturalmente para o lago formado pela UHE de Primavera.” Pior que a forma da unidade é o grau de insularidade a que esta sujeita. Mesmo unidades de pequeno tamanho podem manter a viabilidade das espécies caso hajam fragmentos no entorno que possibilitem o fluxo gênico, pois a ausência deste entre as populações aumenta a endogamia e a perda da variabilidade genética, podendo acarretar sérias conseqüências deletérias nas espécies (Valladares-Pádua e Cullen Jr., 1995). Deste modo, UCs pequenas e com elevado grau de insaluridade são as mais vulneráveis à perda de biodiversidade, tais como os Parques Estaduais ARA Valinhos, Vassununga, Porto Ferreira, XixováJapui, Jaraguá e as Estações Ecológicas de Paranapanema e Ribeirão Preto. As UCs situadas em regiões intensamente urbanizadas, como os PE Jaraguá, XixováJapui e Cantareira são ainda mais problemáticas e ameaçadas. 220 Sete UCs apresentaram níveis de exploração sistemática dos recursos em pelo menos 10% de sua área. Em Campos do Jordão isto decorre da exploração dos plantios de pinus efetuados no passado visando segurar as encostas declivosas da unidade; em Jurupará as evidências apontam para as pequenas propriedades que todavia ainda não foram indenizadas e incorporadas ao patrimônio protegido, mas nos Núcleos de gestão do PESM e no PE Jacupiranga a exploração tem sua origem na ilegalidade da extração de recursos. Com certeza a maior parte das UCs compreendidas pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado de São Paulo sofrem com algum tipo de exploração ilegal, o que provavelmente não irá diminuir a curto ou médio prazo em face das dificuldades gerenciais enfrentadas por elas e da grande pressão gerada pela imensa população e mercado concentrados na região. Apenas dez UCs reportaram que os usos dados ao redor das mesmas são totalmente adversários do cumprimento dos objetivos de manejo, dentre elas PE Vassununga, Porto Ferreira, Jacupiranga, Jaraguá, e EEc de São Carlos e Ribeirão Preto. Neste rol pode-se inserir todas as áreas urbanas além de uma série de outras mais cujos entornos são explorados por monoculturas, tais como Furnas do Bom Jesus (café), EEc Jataí (cana) e PE do Morro do Diabo (cana e pasto). Contudo, de um modo geral as unidades mantêm as cabeceiras e recursos hídricos internos aos limites de maneira satisfatória. As ameaças externas e internas, bem como os principais problemas enfrentados pelas áreas protegidas investigadas serão apresentadas mais adiante, mas há evidências da ocorrência de pelo menos um tipo de ameaça por UC, cuja incidência causa desequilíbrios nas ações de manejo e eterniza a batalha entre a conservação e a degradação dos recursos. O indicador ameaças recebeu a menor pontuação do grupo Qualidade dos Recursos. Muitas das áreas paulistas, senão a maioria, não tiveram a conformação de seus desenhos segundo os preceitos ecológicos existentes, tais quais os apresentados por Ishibata (1999) e Morsello (2001). A criação das UCs parece sempre ter se amparado no oportunismo dos governos e dos políticos, oportunismo este muito bem aproveitado à época pelos conservacionsitas, sendo o maior exemplo o Parque Estadual da Serra do Mar, criado em 1977, com seus problemas fundiários, seus limites mal definidos e ainda não demarcados. 221 Com toda a bagagem técnico-científica disponível para viabilizar a criação de áreas protegidas mais efetivas, com delineamento acompanhando preceitos modernos ditados nacional e internacionalmente, ainda hoje observa-se iniciativas sem conteúdo e pragmatismo algum, como a recente criação do Parque Estadual Chácara da Baronesa, no município de Santo André (SÃO PAULO, 2001). A área constitui acervo histórico-cultural, tem apenas 35ha e esta ocupada por diversas famílias. Apesar de o governo tentar o veto do Projeto de Lei a ação foi rejeitada pela Assembléia Legislativa do Estado, um exemplo que se tornará clássico para o Estado. Em algumas situações específicas ocorreram pontuações equivocadas sobre indicadores deste âmbito facilmente demonstráveis, inferindo a necessidade de capacitação do corpo técnico no que tange aos conhecimentos relacionados à biologia da conservação e suas implicações na conservação da biodiversidade. Por exemplo, nos PE Juquery e Xixová-Japuí o uso predominante do entorno é a urbanização e, portanto, não poderiam receber o qualitativo de ‘satisfatório’ ou nota ‘3’; a EEc Jataí recebeu nota máxima (4) para tamanho, forma e insularidade, mas seu tamanho é relativamente pequeno frente a outras UCs do sistema e a área está submetida a um alto grau de isolamento. As estações ecológicas de Itaberá e Itapeva foram muito bem avaliadas, porém são áreas pequenas, de 180 e 106ha respectivamente, cuja sustentabilidade é duvidosa; a pontuação dada ao Núcleo Cubatão para o tamanho da unidade foi ‘1’, um lamentável erro de entendimento pois não considerou o contínuo ecológico da Serra do Mar. O conceito de vulnerabilidade de unidades de conservação é um tanto quanto vago, mas o WWF (1999) o usou para definir o “conjunto de ameaças internas e externas sofridas pelas áreas protegidas”. Para determinar a vulnerabilidade das unidades de conservação de proteção integral administradas pelo IBAMA foram usados cinco indicadores básicos. Desde este ponto de vista, infere-se que o âmbito “Qualidade dos Recursos Protegidos” poderia assim ser interpretado: 6 UCs estariam extremamente vulneráveis, 11 em situação pouco vulnerável e as demais moderadamente vulneráveis, em consonância com a agrupação definida no primeiro parágrafo que discorre sobre o presente âmbito. 222 No entanto, entende-se que a vulnerabilidade das áreas protegidas não está condicionada apenas aos fatores usados pelo WWF (1999), tais como insularização, áreas alteradas dentro das UCs, exploração de recursos, demarcação física, uso do entorno e projetos setoriais conflitantes com os objetivos das unidades. A palavra ‘vulnerável’ é extremamente poderosa para estar limitada a apenas estes fatores ‘bio-sócio-ambientais’, sendo necessário para isso necessário uma investigação mais detalhada e abrangente, cujo enfoque abarque indicadores destinados a responder essa inquietação, muito embora a qualidade da eficácia de gestão possa demonstrar uma certa tendência neste sentido. Este componente da gestão apresentou um peso de 26,12%15 sobre a nota final e uma pontuação de 64,24% do ótimo, um padrão de qualidade mediano e pouco abaixo do necessário para alcançar um melhor padrão. 4.3.6 Florestas Estaduais Ao iniciarmos a discorrer sobre os Resultados desta pesquisa relatamos que as informações das unidades de uso sustentável foram comprometidas pelas razões já expostas, entretanto isto não invalida alguns comentários pontuais que se possa fazer sobre elas, naquilo que as diferencia das demais. Assim sendo, não nos ateremos a discorrer sobre os demais componentes da gestão, também avaliados para elas, mas sim dar ênfase e salientar os indicadores do âmbito Florestas Estaduais, que efetivamente as tornam dissimiles das demais. Quadro 48. Comportamento do âmbito florestas estaduais para as UCs de uso sustentável, em conformidade com os dados do Quadro 33. Indicadores para Florestas Estaduais Manejo continuado Fitossanidade Controle fitossanitário Florestas Melhoradas Existência e atualidade de inventário 15 Total Total % atual ótimo Ótimo 31 64 48,44 16 64 25,00 20 64 31,25 15 64 23,44 53 64 82,81 135 320 42,19 Razão entre o total alcançado pelo âmbito e o total geral multiplicado por 100 do Quadro 34. Aqui 713/3177,18 x 100 223 Em geral poucas são as unidades que possuem planos de manejo concebidos a partir de metodologia aceita na atualidade, dentre elas figuram a Floresta Estadual de Manduri e as Estações Experimentais de Itirapina e Tupi. A EEx de Luiz Antonio possui um Plano de Manejo cujo enfoque esta voltado para a integração desta com a Estação Ecológica de Jataí sob a égide de um Parque Estadual, portanto não delineia diretrizes para o manejo sustentado da floresta plantada, ao contrario propõe transformar gradativamente a floresta exótica em nativa segundo cortes e condução da regeneração. A EEx de Jaú com certeza não possui plano de manejo e há dúvidas se a EEx de Mogi-Guaçu e Horto Florestal Navarro de Andrade possuam tais instrumentos de planejamento. Mas as unidades apresentam razoável quota de informações que poderiam estar sendo utilizadas para a elaboração de planos de gestão, apresentando defasagens no que tange a existência de esquemas de monitoramento e aproveitamento das informações geradas pelas pesquisas e projetos. Em termos de programas de manejo deve-se evidenciar que as unidades de produção há muito abandonaram seu papel passivo frente às demandas da sociedade, sendo que várias delas apresentam ao menos algum tipo de atividade com o público, seja apenas algum ordenamento de sítio que facilite a visitação até programas bem estruturados como os das Estações Experimentais de Assis, Itirapina e Avaré. Na EEx de Jaú há um interessante e continuado trabalho com pré-adolescentes visando a formação profissional no que tange a produção de sementes, mudas e florestas, algo semelhante ao que é desenvolvido, e reconhecido regionalmente, na EEx de Itapetininga sob os auspícios de financiamentos externos. Ademais, a situação geral deste indicador (Quadro 33) demonstra a inserção e o valor social das florestas plantadas nas suas respectivas regiões. Há argumentos que diferenciam o papel dos diretores das UCs de uso sustentável das de proteção integral, sob a alegação de que os primeiros auxiliavam com maior claridade e espontâneidade o desenvolvimento regional mediante a doação de mudas, madeira, etc., enquanto que os segundos ‘cerceia’ este desenvolvimento ou possuem maior dificuldade de mostrar isso à sociedade pois a eles cabia a aplicação de uma legislação ambiental mais rigorosa e a 224 proibição de quase tudo, além de emissão de laudos de danos ambientais para as ações do Ministério Público (Campos, Vellardi e Jordão, 1997). Esta é uma opinião realista que deveria influir no apoio que a comunidade empresta às unidades, porém observa-se que apenas esta diferenciação essencial entre as UCs não basta para que elas tenham um efetivo apoio comunitário, senão as poucas unidades aqui representadas de UCUS não teriam obtido apenas 53% do total ótimo para o respectivo indicador, pontuação que provavelmente iria seguir o padrão das UCs de proteção integral caso houvesse maior número dessas amostras. Ainda que se tratem de unidades de produção por excelência, a geração de recursos próprios e posterior reinvestimento não acontece como seus diretores anseiam em razão de não estarem devidamente regulamentadas e/ou esclarecidas as normas e procedimentos para este mister, além de diretrizes e decisões neste sentido. Esta é uma das maiores reclamações dos diretores das unidades pesquisadas em relação à Fundação Florestal e ao Instituto Florestal e que com certeza motivou também uma nota baixa para o indicador ‘apoio intrainstitucional’. Contrário às UCs de proteção integral, a totalidade das Florestas plantadas possuem a situação fundiária e demarcação resolvidas. Seria contraproducente avaliar a qualidade dos recursos protegidos nas UCs de uso sustentável, mas é interessante denotar aqui qualidades ambientais poucas vezes consideradas pelos autores ao discorrerem sobre conservação no Estado de São Paulo: i) as florestas de produção se prestam excelentemente à conservação de solos e podem funcionar como buffer zones das unidades de proteção integral, a exemplo do que acontece com algumas das Estações Ecológicas, notadamente em Assis, Luiz Antonio e Itirapina; ii) servem para a dispersão de usos públicos mais intensivos que poderiam estar demandando sítios das unidades de proteção integral contíguas; iii) servem como abrigo para uma fauna mais adaptada a ecossistemas modificados; iv) em algumas destas unidades as florestas são constituídas por um sub-bosque de espécies do cerrado com ampla capacidade de se desenvolver, 225 oferecendo assim alternativas futuras para a reconstrução de hábitats caso haja alteração na abordagem do manejo das florestas de produção. Esta última alusão parece não estar longe de ocorrer haja vista a pontuação dos indicadores específicos da categoria de gestão. O único que mereceu uma pontuação melhor foi o ‘inventario das florestas’, realizado há pouco para se prover a Fundação Florestal de informações fidedignas das florestas a serem manejadas (Toyama et all, 1999). Os demais indicadores apresentam uma situação pouco alentadora. O indicador ‘manejo continuado’ pretende medir se a floresta esta sendo conduzida dentro de preceitos técnicos que garantam um máximo rendimento sustentado seguindo o planejamento trintenal elaborado para conduzir as atividades de explotação florestal (DFEE/IF, 1992), mas o quadro que se tem é um mosaico de situações que demonstra a ineficácia do sistema de manejo da floresta, seja pelos desbastes e cortes rasos não realizados ou a inexistência de reposição e substituição das florestas. Muitas unidades apresentam hoje talhões inteiros que deveriam ter sido substituídos, mas ao contrario as árvores são mantidas de pé, em estagnação, por não se conseguir vendê-las ou pelo receio de liberar as áreas e não se conseguir plantar, sujeitando as unidades à ocupação pelos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Por outro lado, florestas de produção nas quais não se faz combate sistemático a formigas não prosperam, ainda que as medidas físicas para a proteção das florestas, os aceiros, estejam adequadamente construídos e conservados. Um fato que deve servir de alerta para os dirigentes institucionais é a quantidade insignificante de florestas implantadas nos últimos 15 anos tendo por base sementes geneticamente melhoradas, algo muito curioso e até certo ponto contraditório considerando-se que as atividades do Programa de Melhoramento Florestal do IF iniciaram-se extra-oficialmente antes da transformação do Serviço Florestal em Instituto Florestal, em 1970, com destaque para o melhoramento de Pinus para resinagem16. No geral, o quadro das florestas estaduais demonstra que o manejo sustentado não é praticado e que as florestas de produção não são geridas de modo 16 Gurgel Garrido, L M. do A. 2001. Programa de melhoramento genético florestal do Instituto Florestal. Informação verbal. 226 planificado, estando submetidas a regras extemporâneas e/ou imediatistas que as transformam em meras produtoras de dinheiro rápido. 227 4.4 ANÁLISE DOS INDICADORES Esta análise pretende apontar quais os indicadores obtiveram as melhores e as piores posições no sub-sistema de unidades de conservação de proteção integral, permitindo assim revelar seus pontos fortes e as debilidades meritórias de especial atenção da organização. Isto é possível associando-se as porcentagens do ótimo obtidas pelos indicadores à escala padrão, distinguindo-se assim os cinco níveis de qualidade, o que de fato é recomendado e usado por todos os autores relatados por Cifuentes, Izurieta e Faria (2000). A última coluna da matriz de avaliação das unidades de proteção integral (Quadro 34) apresenta a pontuação geral dos 36 indicadores usados no processo de avaliação, cabendo salientar que os indicadores ‘plano de manejo’, ‘programas de manejo’, ‘corpo de funcionários’ e ‘organização’ embutem seus respectivos sub-indicadores, como já referenciado. Visando facilitar a compreensão das informações, esses dados são apresentados na Figura 11 a seguir, classificados e rotulados de ‘debilidades fortes’, ‘debilidades’, ‘nível de atenção’, ‘positivo’ e ‘muito positivo’ de acordo com a pontuação obtida pelo indicador. Este quadro é auto-explicativo e denota o quanto e onde a organização administradora e as instâncias superiores do sistema gerencial precisam envidar mais esforços para prover soluções duradouras, tais como a formulação de políticas de gestão direcionadas aos pontos mais débeis, assim como aqueles componentes da gestão que merecem ser multiplicados e divulgados em razão das suas características positivas. Se por um lado os diplomas legais de criação das UCs foram julgados satisfatórios, por outro há a necessidade de serem revistos e atualizados em face da Lei No 9.985/2000, cujo artigo 55 enfatiza a necessidade de revisão das categorias de gestão para aquelas UCs criadas com base em legislações anteriores e que não se enquadrem nas categorias explicitadas pelo novo diploma legal. Mais adiante exporemos uma posição em relação a indicadores que se mostraram problemáticos, quais sejam “situação fundiária” e “demarcação física” das UCs. 228 23,58 Financiamento 29,27 Geração de recursos próprios 31,1 Programa de capacitação Monitoramento e retroalimentação 34,76 Respaldo ao pessoal / Plano de carreira 34,76 Apoio ou facilitação intra-institucional 37,8 38,01 Plano de Manejo (existência e implemantação) 39,63 Nível de planejamento 40,3 Programas de manejo (existência e implementação) Ameaças às unidades 41,46 Zoneamento 41,46 44,05 Aceiros e carreadores* Corpo de funcionários 48,98 Forma predominante de uso do entorno 49,39 Compatibilidade de usos com objetivos da UC 51,83 Apoio e participação comunitária 52,44 Organização interna da UC 53,51 Infra-estrutura (manutenção) 54,27 Equipamentos e materiais 56,1 57,32 Aplicação e cumprimento de normas Forma da unidade 59,76 Informação legal 60,37 Pesquisas e projetos 60,37 Informações sócio-econômicas 60,98 Demarcação física da UC 61,59 Apoio e/ou relacionamento Inter-institucional 62,2 % de áreas alteradas dentro das UCs 66,46 Informações biofísicas 67,07 Tamanho da UC 69,51 Insularidade 69,51 Situação fundiária 70,12 71,34 Administradores Exploração de recursos naturais dentro das unidades 76,22 80,49 Informações cartográficas 84,03 Integridade das cabeceiras das bacias das UCs 89,02 Instrumento legal de criação da unidade 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 11. Classificação geral dos indicadores de gestão para as UCs de proteção integral pesquisadas, em consonância com os dados do Quadro 34. 229 Os dados referentes aos indicadores das 41 amostras de proteção integral foram submetidos a uma análise fatorial do tipo PCA, análise de componentes principais, que é uma técnica estatística que visa determinar quais as variáveis básicas ou fundamentais entre n medidas realizadas sobre N unidades amostrais. Isto é, esta análise distingue entre tantas quais foram as variáveis que tiveram maior variabilidade nos dados, possibilitando assim a redução da dimensionalidade dos dados através da formação de novos componentes, que agregam os indicadores com maiores variações (Barrella, sd). Para efeito desta análise, os indicadores foram codificados com as letras PO para os do âmbito Planejamento e Ordenamento, IA para o Administrativo, PL para o Politico-Legal, IC para Conhecimentos e QR para Qualidade dos Recursos (Quadro 34). O resultado é uma tabela (Quadro 49) com os Componentes Principais, cujos índices de correlação oscilam de -1,0 a 1,0, significando que a variável (indicador) possui correlação negativa ou positiva na construção do componente ou novo fator. Tomou-se em conta que para um indicador estar significativamente associado a dado componente necessita que seu coeficiente de correlação seja maior que o modulo [0,5], similar ao trabalho de Ângelo (1996)17. Desta análise excluímos o indicador “aceiros e carreadores”, incidente apenas sobre 21 das 41 amostras. Quadro 49. Resultado da Análise de Componentes Principais para 35 variáveis usadas na avaliação da eficácia de gestão das UCs de proteção integral, dados do Quadro 34. Código das variáveis PO1 PO2 PO3 PO4 PO5 IA1 IA2 IA3 IA4 IA5 IA6 IA7 17 1 0.625 0.425 0.769 0.556 0.807 0.494 0.616 0.573 0.419 0.739 0.744 0.724 Componentes Principais 2 3 4 -0.196 0.503 0.231 -0.101 0.627 0.202 -0.301 0.345 0.160 -0.042 0.021 0.555 -0.157 -0.097 0.285 0.100 0.013 0.058 0.142 -0.428 -0.069 -0.435 0.003 -0.142 -0.458 -0.185 -0.234 0.043 -0.267 -0.109 -0.009 -0.314 0.047 -0.079 -0.059 -0.123 5 0.028 0.117 0.116 0.221 0.079 -0.448 0.059 -0.294 0.455 0.160 0.133 -0.005 Este autor efetuou um estudo sobre os problemas principais das unidades de conservação do Brasil, tendo por base os dados do Inventário de Áreas Úmidas do Brasil. Sobre 17 UCs e de uma lista de problemas identificou 16 fatores ou variáveis principais. Sobre estes aplicou uma análise fatorial que possibilitou a construção de 7 grupamentos de problemas envolvendo apenas 13 das variáveis originais. 230 (Continuação) Código das variáveis IA8 PG1 PG2 PG3 PG4 PG5 PG6 PG7 PG8 IC1 IC2 IC3 IC4 IC5 IC6 QR1 QR2 QR3 QR4 QR5 QR6 QR7 QR8 Variança Explicada por Componente Porcentagem da Varianca Total Explicada 1 -0.150 0.025 0.634 -0.220 0.705 0.485 0.235 0.535 0.570 0.334 0.249 0.622 0.443 0.371 0.566 0.399 0.271 0.236 0.321 0.166 -0.214 -0.113 0.035 Componentes Principais 2 3 4 0.631 0.099 0.234 0.043 0.320 -0.288 0.452 -0.362 -0.161 0.453 -0.029 0.520 -0.031 -0.049 0.039 0.024 0.274 0.094 0.266 0.002 -0.163 -0.270 -0.170 0.351 0.038 -0.083 -0.138 0.263 0.539 0.141 0.298 0.248 -0.145 0.191 0.046 0.083 0.214 0.348 -0.351 0.522 0.260 0.063 0.245 -0.146 0.260 0.152 -0.476 -0.451 0.469 -0.458 0.098 -0.063 -0.011 -0.353 0.381 0.250 -0.347 0.196 0.465 -0.596 0.567 -0.098 0.319 0.657 0.033 0.035 0.578 0.026 -0.224 5 0.460 0.502 0.075 0.038 0.033 0.185 0.640 -0.388 -0.235 -0.074 -0.200 -0.345 -0.150 0.001 0.132 0.110 -0.106 -0.068 -0.078 -0.078 -0.071 -0.119 -0.192 8.438 3.650 2.813 2.444 2.046 24.109 10.430 8.038 6.984 5.846 Obteve-se 5 componentes principais para os 35 indicadores, sendo que esses 5 componentes, ou ‘novas variáveis, respondem por 55% da variação total dos dados, que é dada pela somatória das porcentagens de variação de cada componente. A partir do 6o componente a porcentagem de explicação da variância dos dados é sempre menor que 5%, não apresentando correlação significativa na medida que os módulos dos coeficientes de correlação nunca foram superiores a 0,5. O que se deseja com esta análise multivariada é expor que das 35 variáveis originais destacam-se 26 indicadores que apresentaram correlação acima de 50%, cujos códigos e índices estão em negrito no Quadro 49, o que é um indicativo da importância dessas variáveis nos resultados auferidos no processo de avaliação efetuado neste estudo. Para melhor visualização, os mesmos são reapresentados no Quadro 50 a seguir. 231 Pode-se dizer então, complementando os resultados apresentados no Quadro 47, que esses 26 indicadores, ou fatores incidentes na gestão, são os que efetivamente traduziram as diferenças entre as amostras, e que provavelmente são os fatores que devam ser atendidos ou observados com prioridade em função, justamente, das suas dissimilaridades entre as amostras. Isto é, se esses indicadores apresentaram as maiores variações significa que as pontuações abrangeram valores extremos da escala de pontuação e, sendo assim, esses indicadores são factíveis de serem melhorados através da gestão efetiva e eficáz. Quadro 50. Indicadores com maior variabilidade nos dados (nesta pesquisa) Âmbito/Grupo Administração (6) Conhecimentos (4) Político-Legal (7) Qualidade dos recursos (4) Planejamento e ordenamento (5) Código IA2 IA3 IA5 IA6 IA7 IA8 IC1 IC3 IC5 IC6 PL1 PL2 PL3 PL4 PL6 PL7 PL8 QR5 QR6 QR7 QR8 PO1 PO2 PO3 PO4 PO5 Indicador Corpo de funcionários Financiamento Organização interna Infra-estrutura Equipamentos e materiais Demarcação física dos limites Informações biofísicas Informações socioeconômicas Pesquisas e projetos Monitoramento e retro-alimentação Instrumento legal de criação da UC Aplicação e cumprimento de normas Situação fundiária Apoio e participação comunitária Respaldo ao pessoal Programa de capacitação Apoio intra-institucional Integridade das cabeceiras de bacias Exploração de recursos Ameaças Uso do entorno Plano de manejo Zoneamento Nível de planejamento Compatibilidade dos usos e categoria Programas de manejo Considerando esses resultados e o modelo matemático obtido com a regressão múltipla, há uma redução significativa na dimensionalidade dos atributos a serem mensurados, pois o modelo que melhor explicou os resultados das 41 UCs de proteção integral foi o que abarcou os indicadores dos âmbitos “administração” e “conhecimentos”, cujos indicadores originais aqui foram diminuídos para um número de 6 e 4 respectivamente. Desta maneira, seguindo o raciocínio e as faculdades matemáticas, de um universo de 36 indicadores originais, distribuídos por 5 grupos, posteriores 232 avaliações poderiam se circunscrever a apenas 2 âmbitos e 10 indicadores principais. Aqui é necessário um rápido apontamento metodológico. Um caso prático que sugere alterações no procedimento usado é quanto a mensuração da ‘situação fundiária’ e a ‘demarcação física’ das áreas protegidas, pois uma unidade com 100ha e outra com 1.000ha ou 100.000ha terão a mesma nota se a porcentagem de terras sob o domínio do Estado forem próximas ou similares, mascarando a verdadeira incidência do indicador sobre a realidade imposta à ou às unidades de conservação, bem como a própria qualidade do indicador no sistema analisado. Por exemplo, tanto o PE Ilha Bela como o PE Jacupiranga e a EEc Juréia obtiveram nota ‘0’ para este indicador, mas isto é muito relativo considerando-se as áreas de cada uma dessas UCs. A pontuação equivocada ou injusta que um único indicador possa receber não influencia significativamente na nota final da unidade, porém se o conjunto das unidades apresentar pontuação equivocada do mesmo indicador isto afetará as interpretações sobre a verdadeira qualidade do indicador no sistema analisado, raciocínio que infere a necessidade de se atribuir pesos diferenciados consoantes ao tamanho da área. Atribuindo-se ponderações específicas para diferentes classes de superfície de área protegida (Quadro 51), pode-se obter uma pontuação final para o indicador mais fidedigna à realidade. Quadro 51. Sugestão de ponderação especifica de acordo com a área da UC. Classe de tamanho 0-1000 1001-5000 5001-10000 10.000-50.000 50.000-100.000 > 100.000 Peso especifico 1 2 3 4 5 6 Deste modo e somente a título de orientação para iniciativas futuras semelhantes, as três unidades citadas seriam pontuadas com a mesma nota ‘0’, porém tal nota seria em relação não mais a um total ótimo de 4 para o indicador, mas em relação a 16, 20 e 24 conforme o quadro abaixo, valores que irão influenciar tanto na porcentagem final obtida para cada unidade como para o indicador no sistema estudado (Quadro 52). 233 Quadro 52. Como ficariam os ‘totais ótimos’ para três distintas UCs com situação fundiária semelhante. PE Ilha Bela EEc Juréia Itatins PE Jacupiranga Área 27.025,00 79.270,00 150.000 Peso 4 5 6 Nota ‘situação fundiária’ 0 0 0 Total ótimo com peso 16 20 24 O mesmo raciocínio pode ser estendido aos demais indicadores estritamente quantitativos, como ‘demarcação física’, ‘financiamento’ e ‘quantidade de recursos humanos’. Outro fator que deve ser analisado é quanto à exploração de recursos nas unidades, que aparece como um ponto positivo, mas que na verdade não o é em razão da sua real incidência nas unidades de conservação maiores e as localizadas no continuo da Serra do Mar e região costeira, nas quais ocorrem a indiscriminada retirada de produtos florestais como palmito, orquídeas, bromélias, xaxins, etc., fatores que notadamente provocam o ‘assoreamento’ genético das espécies e uma devastação imensurável. 4.5 AMEAÇAS ÀS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Ainda que o indicador ‘ameaças’ tenha sido valorado pelos diretores das unidades, não seria justo reduzir a importância dos perigos iminentes sofridos pelas áreas protegidas a uma simples pontuação, mesmo que ela sugira a gravidade da situação enfrentada. No formulário preenchido pelos diretores os mesmos tiveram a alternativa de designar quais eram os problemas de manejo e as ameaças internas e externas incidentes sobre as unidades que administram, em conformidade com as definições pré-determinadas (vide Material e Métodos), o que se realizou tanto para as UCs de proteção integral como as de uso sustentável, apresentado no quadro 53. Inicialmente pretendia-se diferenciar problemas de manejo de ameaças, mas em face de confusões interpretativas e a repetição semântica de fatores entre esses dois grupos decidiu-se que as informações relatadas nos problemas de manejo não seriam usadas como elemento informativo direto à pesquisa, mas sim como suporte para o detalhamento e acurácia das ameaças ao sistema sob analise. Quadro 53. Problemas de manejo, Ameaças Internas e Externas das UCs que responderam a este questionamento. Falta infra-estrutura, recursos humanos, equipamentos (transporte) Falta de controle permanente das áreas de maior utilização devido a insuficiência de recursos humanos Pressão urbana, obras de grande porte, uso do solo no entorno de difícil controle PARQUE ESTADUAL MARINHO LAGE DE SANTOS PARQUE ESTADUAL XIXOVÁ JAPUÍ PARQUE ESTADUAL CANTAREIRA Pesca ilegal (profissional, esportiva e subaquática) Pressão para o uso de áreas pelas prefeituras e particulares; superutilização das áreas de visitação e falta de apoio das prefeituras Ocupação urbana desordenada Caça intensa; pressão da sociedade em não aceitar o Parque que não oferece nada em troca e ocupa 85% do município Questão fundiária indefinida, especulação imobiliária; comunidades tradicionais Ameaças Externas PARQUE ESTADUAL ILHA BELA Problemas de Manejo Insuficiência de recursos humanos e financeiros; Falta de conhecimento por parte de ausência de um conselho consultivo, porém em políticos e da população dos benefícios gerados por um parque vias de criação PARQUE ESTADUAL ILHA ANCHIETA Unidade de Conservação Recursos humanos e financeiros Falta de recursos humanos e materiais Melhor diretriz do IF; problemas internos no PEIB; inexperiência do diretor; trocas constantes de diretores no Parque; tráfico da fauna e flora; burocracia institucional; falta parcial de perfil institucional de gestão Não conseguir dotar as UCs de estrutura; falta de recursos humanos e financeiros Ameaças Internas Ameaças externas - são definidas pela ação ou existência de agentes exógenos ao sistema gerencial, que neste caso não possui controle absoluto sobre os fatores, como por exemplo a própria invasão de terras, projetos setoriais conflitivos com os objetivos da unidade (estradas, barragens, aeroportos, etc.), entre outros. Ameaças internas - referem-se a fatores oriundos do próprio sistema gerencial mas não estão circunscritas simplesmente à instituição responsável, abrangendo toda a estrutura político-administrativa de concreção governamental como por exemplo a ausência de políticas institucionais para o manejo dos visitantes, a falta de apoio político-institucional para solucionar problemas de invasões das unidades por grupos humanos, ingerências setoriais conflitivas, entre outras. O limite organizacional é a estrutura da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ameaças - fatores que comungam para o descumprimento dos objetivos de manejo da unidade mediante a desestabilização do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas e do sistema gerencial, podendo ser classificadas em externas e internas dependendo da origem do fator. Problemas de manejo – referem-se às dificuldades rotineiras enfrentadas para o desenvolvimento das atividades inerentes a área, como por exemplo insuficiência de recursos humanos e financeiros, falta de equipamentos adequados e treinamento de pessoal. Por suas características endógenas e em conformidade com o seu alcance o problema pode ser considerado uma ameaça ao sistema. 234 NÚCLEO SANTA VIRGÍNIA PARQUE ESTADUAL MANANCIAIS CAMPOS DO JORDÃO PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR PARQUE ESTADUAL CAMPOS DO JORDÃO PARQUE ESTADUAL JUQUERY PARQUE ESTADUAL JURUPARÁ PARQUE ESTADUAL CAPITAL – ALBERT LOFGREN Unidade de Conservação (Continuação) Problemas de Manejo Área não totalmente desapropriada; falta de levantamentos básicos (fauna, flora, geomorfológicos, etc.); A UC é cortada pela rodovia SP-125 (Taubaté a Ubatuba); falta de políticas institucionais para a REAL administração do PESM Falta de recursos humanos e financeiros; de capacitação de recursos humanos; e de uma política e planos institucionais Falta de planejamento e implantação A unidade não possui Plano de Manejo; as intervenções são pontuais; a UC sofre pressões urbanas; a categoria de manejo deve ser revista Ocupação ilegal, por conseqüência, desmatamentos, represamentos, implantação de construções, introdução de espécies exóticas, extração ilegal de produtos florestais (palmito, samambaia, etc.) Inexistência relativa" de verbas, problemas para sua implantação. Não há problemas fundiários; área pequena, já aceita pela população (90%) Ameaças Internas Extração ilegal de palmito, bromélias, orquídeas; caça, pesca, desmatamento; falta de atuação da Polícia Florestal; fragmentação das propriedades, não desapropriadas; demora para o Estado desapropriar os ocupantes; ameaça de morte aos funcionários. Turismo Número insuficiente de funcionários; apenas 1 técnico de nível superior trabalhando na UC; falta de demarcação do Parque; comitê de apoio à gestão está no início (4a reunião) Ausência de pessoal e equipamentos Dificuldade de recursos financeiros; interposição gerencial e expectativas políticas Difícil situação econômica do país Recursos financeiros insuficientes para que estimula as ocupações; gerir a UC, para implementar o dependência da Procuradoria Geral programa de manejo; recursos humanos do Estado, nas ações que implicam insuficientes e não treinados para a na desocupação da UC execução dos trabalhos Nenhuma Esta diretora administra a área sozinha. Não conta com funcionários do IF. Porém existem 14 trabalhadores braçais da Secretaria da Saúde (Hospital Juquery) que realizam as tarefas de fiscalização e combate aos incêndios. O plano de manejo ainda não foi iniciado, estando amarrado a uma verba que virá do Projeto Fehidro. (falha da administração do IF). Ingerência do município e da própria Perda de funcionários e falta de SMA recursos Ameaças Externas Forte pressão urbana e suas conseqüências 235 NÚCLEO SÃO SEBASTIÃO NUCLEO CURUCUTU PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR PARQUE ESTADUAL SERRA MAR NUCLEO PICINGUABA NUCLEO CUBATÃO PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR NUCLEO CARAGUATATUBA PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR NÚCLEO CUNHA PARQUE ESTADUAL SERRA DO MAR Unidade de Conservação (Continuação) Problemas de Manejo Ameaças Externas Especulação imobiliária; porto São Sebastião como ponto de pressão; BR 101 corta o Parque em vários pontos; Urbanismo; falta de estrutura adequada (recursos humanos + logística) Ameaças Internas Especulação imobiliária ligada à segunda residência; em menor escala, extração de palmito, bromélias, orquídeas; invasão organizada (mão de obra) Falta estrutura (recursos humanos) Recursos humanos; recursos financeiros; capacitação. Ocupação da área do entorno, caça, Política equivocada de recursos fogo, construções clandestinas, humanos; envelhecimento do quadro de especulações imobiliárias. funcionários; redução do quadro, descaso quanto à proteção; falta de políticas de proteção das UCs. Ausência de política local Perda intensiva dos recursos naturais (Municipal) e Estadual; ausência de criada pela população de baixa renda criação de alternativas para com incentivo político regional; organizar a exploração da UC regularização fundiária da UC; políticas (cooperativa, etc.) governamentais que apoiem o Plano de Manejo da UC, etc. Situação fundiária; ocupação Recursos humanos; recursos humana e expansão urbana financeiros; falta de regulamentação adequada Extração ilegal de palmito, caça; Faltam recursos humanos, financeiros e atividades agropecuárias no Parque equipamentos Situação fundiária (regulamentação, demarcação, posse); ocupação humana consentida e não regulamentada; quadro funcional pequeno e desqualificado; instrumentos de fiscalização insuficientes Recursos humanos; recursos financeiros; Demanda do ecoturismo; pressão pressão urbana; especulações imobiliárias; urbana Invasões domésticas da UC; desenvolvimento industrial (poluição) na região; interferências da pesca, caça, palmiteiros. Ausência de plano de manejo; carência de recursos humanos, financeiros e equipamentos; existência de muitas propriedades particulares no interior do Parque; ocorrência de palmiteiros e caçadores Deficiência do quadro de funcionários; capacitação dos funcionários; infra-estrutura não concluída 236 PARQUE ESTADUAL PORTO FERREIRA PARQUE ESTADUAL VASSUNUNGA PARQUE ESTADUAL ARA VALINHOS Unidade de Conservação (Continuação) Problemas de Manejo Ameaças Externas Terminar os estudos básicos (de flora já Proximidade de rodovias efetuado); empenho da instituição e alocação de (Anhanguera), com vilas próximas, recursos existência de marginais que praticam assaltos nas imediações; produtos químicos, agrotóxicos dos vizinhos que exploram fruticultura; estrada vicinal asfaltada que margeia as 2 áreas Falta de previsão orçamentária; ausência de um Pressão das atividades de entorno; plano de manejo; fragmentação da área do demanda da população por parque (4 glebas) e suas conseqüências sobre a atividades de recreação e lazer; fauna e flora do Parque (efeito de borda, descaso da Instituição e das desaparecimento de espécies, etc); questão autoridades quanto ao papel das fundiária irregular unidades de conservação na biodiversidade do Estado; falta de uma política florestal clara e objetiva, Falta de recursos humanos, financeiros e infraCaça, fogo depredação, roubo de estrutura; caça, efeito de borda, erosões, fogo, equipamento de pesquisa; efeito de áreas limites (fazenda e rodovia) borda Redução de recursos humanos, falta de investimentos financeiros; falta de plano de carreira; falta de diretrizes institucionais; falta de equipamentos em geral; falta de apoio institucional para implementação do programa de uso público e monitoramento Reconhecimento da Instituição que além da pesquisa, a mesma tem compromisso com a administração das unidades de maneira que as mesmas cumpram sua atribuições em benefício da conservação da Biodiversidade Falta de recursos financeiros e pessoal para proteger e melhor administrar a reserva; intenções demagógicas de políticos (prefeito e vereadores) em transformar toda a reserva em área de lazer para o público Ameaças Internas 237 PETAR PARQUE ESTADUAL JARAGUÁ PARQUE ESTADUAL MORRO DO DIABO Ameaças Internas Falta plano de manejo; Defasagem de recursos para desenvolvimento da área. Falta de treinamento de pessoal; de vigias e monitores, de presença efetiva de pesquisadores para acompanhar os projetos de recuperação e implementação da unidade. Falta de recursos financeiros e humanos, maior apoio da Instituição Falta de regularização das questões fundiárias; de definição com relação ao Bairro da Serra; falta de política definida do IF e SMA de apoio e valorização às UCs; palmiteiros; caçadores; mineração dentro da UC; falta de concurso público para atender a crescente demanda (visitação, preservação), reposição de funcionários demitidos e aposentados O Estado não provê condições do Não há uma equipe multidisciplinar cumprimento de seu papel pró-ativo; formada; distanciamento da Instituição; frustração da comunidade questão financeira, incluindo-se não só a ajuda oficial, mas as formas para parcerias Distanciamento institucional; desconhecimento da realidade existente e dos incríveis potenciais do papel de uma UC na região Ameaças Externas PARQUE ESTADUAL CARLOS BOTELHO Problemas de Manejo Falta de cultura preservacionista por se tratar de Fogo (em áreas de confrontantes região eminentemente agrícola (pecuária e para manejo da terra), poluição de cafeicultura); dificuldade de acessos córregos que adentram a unidade, além de extrativismo de ervas e essências nativas para confecção de remédios caseiros e alimentação; invasão de gado de terceiros para uso de pastagem em áreas alteradas, cuja forração trata-se de gramíneas e cerrado em recuperação, junto às divisas do Parque. Falta de pessoal técnico local; falta de plano de Rodovia que atravessa o Parque; manejo; manutenção inadequada dos bens falta de consciência nos móveis e imóveis; sucateamento de veículos e assentamentos humanos do máquinas; recursos financeiros inadequados entorno; caça; fogo; visão destorcida dos políticos locais Várias autorizações para o uso por outras Loteamentos clandestinos; secretarias e empresas de telecomunicações especulação imobiliária da região Falta de plano de manejo atualizado, Plantações de tomate no entorno contemplando as alterações e demandas (herbicidas nos rios); palmiteiros; relacionadas ao ecoturismo, visitação, etc; falta caçadores; presença de de funcionários e de políticas claras do IF que mineradoras no entorno da UC promovam o retorno dos recursos gerados dentro da UC PARQUE ESTADUAL FURNAS DO BOM JESUS Unidade de Conservação (Continuação) 238 Problemas de Manejo Caça predatória e extração de palmito Ameaças Externas Ameaças Internas Lentidão nas decisões governamentais Recursos humanos insuficientes nas áreas específicas do manejo de parques, pois a mão-de-obra existente é só de manutenção; apoio institucional incipiente PARQUE ESTADUAL ILHA DO Regulamentação administrativa dos usos Falta de vontade política Falta de vontade política CARDOSO (Sem ameaças maiores) (Sem ameaças maiores) PARQUE ESTADUAL JACUPIRANGA Palmiteiro, madereiro, posseiro, mineração e Principalmente invasões e Falta de recursos; de entrosamento e invasões que aumentaram muito após aa especulações imobiliárias disposição dos técnicos e dirigentes da abertura da BR 116 que corta o Parque do Instituição; situação fundiária; falta de quilômetro 508 até o quilômetro 568 definição da área de domínio do Estado ESTAÇÃO ECOLÓGICA JURÉIAInexistência de plano de manejo; Especulação imobiliária; Indefinição da malha fundiária; ITATINS incompatibilidade do uso atual do solo (de desenvolvimento desordenado do expansão das áreas algumas áreas) com as exigências legais; turismo na região ocupadas/agricultura; falta de recursos impossibilidade de sustentabilidade financeira humanos e financeiros mínimos para da UC gerenciamento da área ESTAÇÃO ECOLÓGICA BANANAL Reduzida equipe de funcionários (apenas 3) Controle de visitantes e pesquisadores Número insuficiente de funcionários no local; responsável pela UC sediado a 250 devido ao reduzido número de km de distância da Unidade; a área sofreu funcionários alteração em cerca de 25% para extração de madeira a 50 anos atrás ESTAÇÃO ECOLÓGICA Falta de recursos humanos e financeiros Caça predatória Não aprovação do plano de manejo; PARANAPANEMA inexistência do Conselho Gestor; corpo de guarda-parques inadequado ESTAÇÃO ECOLÓGICA CAETETUS Monocultura cafeeira/gado; água; plantas Monocultura cafeeira; caça; incêndios; Falta de recursos financeiros e invasoras/efeito borda efeito de borda principalmente humanos (vigilância) ESTAÇÃO ECOLÓGICA ASSIS Recuperação de áreas degradadas, pecuária, Incêndios; caça; retirada de plantas; Falta de recurso humanos e financeiros; cana-de-açúcar plantas invasoras; lixão infra-estrutura; vigilância ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE JATAÍ Atos de vandalismo; caça e pesca predatória Investidas políticas; queimadas; Falta de recursos humanos, materiais e mineração do Rio Mogiguaçu; invasão financeiros por grupos de sem terras; proximidade com centros urbanos; agricultura extensiva e monocultura da cana PARQUE ESTADUAL CAMPINA DO ENCANTADO Unidade de Conservação (Continuação) 239 FLORESTA ESTADUAL DE MANDURI FLORESTA ESTADUAL DE AVARÉ I RESERVA ESTADUAL ÁGUAS DA PRATA ESTAÇÃO ECOLÓGICA ITABERÁ ESTAÇÃO ECOLÓGICA ITAPEVA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CHAUÁS ESTAÇÃO ECOLÓGICA SÃO CARLOS ESTAÇÃO ECOLÓGICA RIBEIRÃO PRETO ESTAÇÃO ECOLÓGICA ITIRAPINA Unidade de Conservação (Continuação) Problemas de Manejo Ameaças Externas Falta de recursos financeiro; caça e pesca Ainda não tem plano de manejo na UC Urbanização desordenada; mineração; caça; gado de propriedades vizinhas conduzidos dentro da Estação Políticas Governamentais voltadas para Ucs inexistentes A unidade já possui uma infra-estrutura para Grupos de pessoas que fazem picreceber turistas, com apoio da Prefeitura, tendo nic nos fins de semana; por estar instalações sanitárias, quiosques, torneiras e perto da reserva e dentro do bebedouros para o público se abastecer de água perímetro urbano, muitas pessoas mineral, de nascentes dentro da Reserva. Existe invadem a área para beber, trilhas cimentadas e uma estrada municipal que consumir tóxico, caçar, etc. ; rodovia corta a reserva. Existe a necessidade de formar interestadual que corta a Reserva, uma equipe para receber grupos de estudantes com grande fluxo de carro da região. Atos de vandalismo; lixo; rompimento de esgoto; Recursos financeiros invasão de animais domésticos Corte raso adiado por falta de retorno dos recursos gerados, para serem usados no replantio da área Falta plano de manejo Falta plano de manejo Caça e extração de palmito Regeneração de várias espécies de pinus na vegetação nativa Sem recursos humanos; falta de vigilância e manutenção Ainda não tem plano de manejo na UC Recursos humanos Falta de recursos humanos e infraestruturas físicas Falta de recursos humanos e financeiros Falta de diretrizes Institucionais para a gestão. Falta de recursos humanos e manutenção Ameaças Internas 240 ESTAÇÃO EXPERIMENTAL JAÚ ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE BAURU ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE BENTO QUIRINO ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE SÃO SIMÃO ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ASSIS ESTAÇÃO EXPERIMENTAL LUIZ ANTÔNIO ESTAÇÃO EXPERIMENTAL CASA BRANCA Unidade de Conservação (Continuação) Ameaças Externas Ameaças Internas Área próxima à cidade, aberta ao Falta de recursos financeiros e pessoal público para lazer e escritório técnico e braçal autorizado da Polícia Florestal nas proximidades, o que ajuda na fiscalização da área; grande fluxo de visitantes, sem infra-estrutura e vigilância; existência de rodovias que cortam a Estação; intenção de políticos em pedir cessão de áreas para outros fins Caça; incêndios; lixão Falta de recursos humanos e financeiros; Atos de vandalismo; caça e pesca predatória; Investidas políticas; queimadas; Falta de recursos humanos, materiais e incêndios; definição da manutenção ou não da invasão por grupos de Sem Terras; financeiros floresta plantada proximidade com os centros urbanos; agricultura e monoculturas da cana Falta de um plano de manejo (floresta plantada Invasão de Sem Terras; investidas Falta de equipamentos para e/ou vegetação natural); questionamento quanto políticas para fins não específicos manutenção; de sementes melhoradas; à floresta plantada (deve existir ou não ?); falta das atividades da unidade; falta de recursos humanos de recursos humanos, financeiros e materiais incêndios criminosos Falta de recursos humanos, financeiros e Invasão de Sem Terras; investidas Falta de recursos humanos materiais; questionamento quanto à floresta políticas que não aquelas inerentes plantada (deve-se plantar ou não?); falta de aos trabalhos da unidade (ex.: plano de manejo para as unidade de produção construção de lixões, etc.); incêndios criminosos Vigilância da unidade; manutenção de aceiros Problemas relacionados à falta de Falta de recursos financeiros para contra incêndios; resíduos sólidos dos visitantes bom senso dos visitantes, como por manutenção da Unidade, bem como exemplo: vandalismo, lixo problemas na eleição de prioridades para manutenção da área e desenvolvimento do projeto Carência de mão-de-obra e materiais básicos Competitividade com a iniciativa Falta de recursos para a produção de mudas privada Problemas de Manejo Área fragmentada, com espécies exóticas; poucas nascentes junto ao vizinhos, córregos; escritório e viveiro estão localizados dentro do perímetro urbano; expansão da cidade nos limites da Estação; grande voçoroca dentro da área principal da Estação 241 HORTO FLORESTAL NAVARRO DE ANDRADE ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITARARÉ ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITAPEVA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ARARAQUARA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE TUPI ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITIRAPINA Unidade de Conservação (Continuação) Problemas de Manejo Ameaças Externas Loteamentos limítrofes; rua que corta a unidade O principal problema de manejo é a falta de uma A ocupação geral da zona de linha de atuação definida; as ações são amortecimento desenvolvidas em esquema de urgência, ou seja, para atender as necessidades imediatas, sem obedecer a nenhum planejamento. Este problema, poderia ser solucionado com a efetiva implantação de um plano de manejo, no qual a instituição investiu recursos financeiros e técnicos, foi elaborado por treze pessoas e não é considerado no dia a dia da unidade Falta plano efetivo de gestão e ou de manejo A unidade é circunvizinhada por 06 agrovilas e famílias acampadas na estrada Falta plano efetivo de gestão e ou de manejo Órgãos estaduais e municipais fazendo gestões para obtenção de parte das áreas Situação fundiária não regularizada; pressão da Visitação desordenada sem infracomunidade com opinião pública desfavorável; estrutura mínima para atendimento bem como posição administrativa de comando do público; extração de madeira de duplo, ou seja, de um lado a SMA e do outro a forma furtiva; caça; bairros direção do Museu periféricos no entorno desenvolvendo-se em fonte de pressão ao cumprimento dos objetivos da área Falta de recursos, mão-de-obra, parcerias Falta de condições mínimas da Instituição para auxiliar a implantação da Floresta. Falta de recursos Falta de recursos (dificuldades para plantio) A falta de um direcionamento da instituição, bem como a falta de apoio institucional em termos de recursos financeiros e humanos, comprometem seriamente o manejo da unidade Falta de recursos, mão-de-obra, plano de manejo Ameaças Internas 242 243 Assim, foi preciso um minucioso trabalho de filtragem para apurar, ordenar e agrupar as respostas dos técnicos, expostas no Quadro 53, segundo a afinidade entre elas e sob um rotulo comum, de tal maneira a permitir homogeneidade de expressão, ainda que tal agrupação siga a uma convenção do autor desta pesquisa. Isto permitiu obter a freqüência com que os fatores incidem sobre as 59 unidades trabalhadas, o que se apresenta no Quadro 54. Em relação às ameaças externas obteve-se 5 grupos de fatores e para as ameaças internas 7 grupos; o nombramento dos tipos de ameaças também segue a uma convenção do pesquisador e mantêm estreita correspondência com o relatado na bibliografia revisada. No âmbito das Ameaças Internas, a dificuldade de julgamento pairou no processo de separação e distinção dos fatores incidentes sobre os recursos humanos, recursos financeiros e infra-estrutura daquilo que genericamente designou-se Gestão/gerência; sobretudo por se reconhecer que aqueles são importantes alicerces da gestão de UCs e, por esta razão, (supostamente) não deveriam ser considerados separadamente. No entanto, a significativa freqüência de opiniões sobre tais variáveis apontou a necessidade de incorporá-las de modo inverso, tal como é apresentado no quadro a seguir. 7 6 5 4 3 2 Tipo 1 3 32 15 17 36 46 21 18 Fatores Incidentes Quant. UCs Caça, pesca, mineração, palmito, madeira, orquídeas, bromélias. 22 Agricultura intensiva, monoculturas com deriva de agrotóxicos, crescimento de pólos industriais, rodovias, 26 expansão urbana, lixão, obras de grande porte, poluição de mananciais hídricos. Invasão por animais domésticos, efeito de borda, fogo, fragmentação, rodovias internas. 17 Construções clandestinas, especulação imobiliária, invasões por grupos organizados. 15 Desconhecimento dos potencias das unidades de conservação por políticos e população em geral, conscientização, falta de apoio das prefeituras, falta de atuação da Polícia Florestal e de Mananciais, pressão da sociedade e de políticos por usos inadequados dos recursos protegidos, falta de cultura preservacionista, vandalismo. Ameaça Interna Fatores Incidentes Gestão/gerência Ausência de Conselho Consultivo; mal relacionamento entre instituições atuantes na unidade; excesso de burocracia institucional; compromisso da instituição com as unidades; indefinição quanto à floresta plantada; falta de diretrizes institucionais; distanciamento da direção dos problemas do campo; falta de demarcação; perfil institucional ambíguo; falta de políticas para a gestão de campo; apoio incipiente da sede dirigido às UCs; falta de assessoria jurídica interna; dificuldade de implementar parcerias e convênios; ausência de políticas concretas para o retorno dos recursos gerados para as UCs. Recursos humanos Falta de capacitação de RH; falta de pessoal técnico para suporte à gestão; falta de técnico local; falta de plano de carreira. Recursos financeiros Dificuldade para se aproveitar os potenciais financeiros das UCs; recursos financeiros operacionais inadequados; falta de investimento para alavancar programas de manejo especiais. Infra-estrutura Dificuldade de acessos; falta de equipamentos e materiais; falta de infra-estrutura; infra-estrutura inadequada; bens móveis e imóveis sem manutenção adequada; sucateamento da frota. Política Conflito com comunidades tradicionais; ingerências de Prefeituras Municipais; ingerência de setores da Secretaria do Meio Ambiente; Falta de saneamento fundiário; demora para solucionar questões jurídicas para desocupação; falta de vontade política do governo. Planejamento Falta de Plano de Manejo; categoria de manejo inadequada; falta de levantamentos básicos; falta de planejamento e implantação; ausência de um Programa de Monitoramento; falta de Programa de Uso Público; inexistência de regulamentação administrativa dos usos; superutilização das áreas de visitação; aumento da demanda turística e do uso público. Degradação dos Áreas interiores muito alteradas; erosão; sedimentação. recursos naturais Biológica Especulação/ Ocupação Apoio político/social 3 4 5 Ameaça Externa Extração ilegal Uso do entorno Tipo 1 2 Quadro 54. Ameaças externas e internas e respectivos fatores incidentes nas unidades de conservação analisadas. 5 54 25 29 61 78 35 30 29 25 % de UCs 37 44 244 245 Nas unidades de conservação de proteção integral as ameaças externas mais notáveis e identificáveis ainda são oriundas das práticas relativas à exploração ilegal dos recursos protegidos (Quadro 55 e Figura 12), tais quais as identificadas por Amend e Amend (1991) paras UCs latinoamericanas e Ângelo (1996) para as UCs brasileiras federais, seguidas de perto pelo potencial ameaçador dos usos dados ao entorno, na maioria das vezes incompatíveis com o uso racional dos recursos e a sustentabilidade dos sistemas produtivos. Quadro 55. Quantidade e porcentual de áreas protegidas com incidência de ameaças externas Categoria/Grupo Proteção Integral Uso Sustentável Todas categorias Quantidade de UCs 41 18 59 Quantidade de UCs/porcentagem no grupo Tipo de Ameaça 1 2 3 4 5 20/49 2/11 22/37 19/46 7/39 26/44 13/32 4/22 17/28 12/29 3/17 15/25 10/24 8/44 18/30 Obs. Os valores porcentuais foram calculados tomando-se por base a quantidade de unidades em cada grupo de categoria de gestão. Figura 12. Comportamento das ameaças externas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável, em termos absolutos. A caça e a extração ilegal de produtos da floresta são causadores de sérios danos à biota, porém em casos específicos como em alguns Núcleos de Gestão do PESM e outras UCs, essa exploração conduz a administração a tomar decisões no sentido de priorizar a fiscalização em detrimento do desenvolvimento 132 das unidades, em termos de uso público e pesquisa por exemplo. Ainda que a incidência destas ameaças não seja a mesma para os dois grupos de categorias de gestão, observa-se que a percepção dos diretores interpõe novos paradigmas para a gestão das áreas protegidas haja vista o uso do entorno ser uma firme referencia dos problemas com origem externa. A necessidade de se trabalhar fora dos limites das UCs atacando as fontes causadoras de ameaças fica evidente ao se verificar o elevado porcentual de unidades que admitem a falta de um apoio político mais consistente oriundo da sociedade, ainda que tanto ‘especulação imobiliária’ como a ‘ocupação ilegal de terras’ das unidades também estejam relacionadas às convicções e atitudes da sociedade, que não deixam de ter uma forte conotação política. Esses problemas, ou ameaças, podem ser tratadas e minimizadas a médio-longo prazo na medida que se reconheça a gravidade dos problemas a enfrentar e se estabeleçam ações programáticas direcionadas para uma maior interação com os atores externos ao sistema oficial de conservação. Em relação às ameaças internas fica claro as adversidades enfrentadas para uma gestão eficaz, geradas pela falta ‘recursos humanos’ e ‘financeiros’ adequados, o que corrobora as notas auferidas a ambos os indicadores. A falta de ‘planejamento’ adequado, a inexistência de plano de manejo e de programas de gestão estruturados, conformam a terceira grande ameaça interna, seguida dos fatores inerentes à ‘gerencia organizacional’, deficiências pontuais na ‘infra-estrutura’ física, ‘aspectos políticos’ e ‘degradação dos recursos’ (Quadro 56 e Figura 13). Quadro 56. Quantidade e percentual de áreas protegidas com incidência de ameaças internas Categoria/Grupo Proteção Integral Uso Sustentável Todas categorias Quantidade de UCs 41 18 59 1 15/37 6/33 21/36 Quantidade de UCs/porcentagem no grupo Tipo de Ameaça 2 3 4 5 6 34/83 12/67 46/78 23/56 13/72 36/61 13/32 4/22 17/29 14/34 1/6 15/25 22/54 10/56 32/54 7 2/5 1/6 3/5 133 Figura 13. Comportamento das ameaças internas incidentes nas UCs de proteção integral e de uso sustentável em termos absolutos. Às expensas de haver-se procedido a distinção dos fatores relativos às ameaças internas, alguns deles possuem uma dissimilidade muito tênue quando relacionados à gestão/gerência, enquanto um dos grupos. Senão vejamos, a manutenção preventiva e reparativa de infra-estruturas depende de recursos financeiros, que poderiam ser obtidos se houvessem políticas consistentes apoiando a formação de parcerias e convênios multilaterais. A falta de planos de manejo e de planejamento das atividades periódicas poderiam ser sanados se houvessem políticas que incentivassem o corpo técnico a se capacitar neste quesito; ou diretrizes muito claras de como se proceder para construir um plano de trabalho anual, bianual ou polianual. Conhecendo-se a situação das ameaças internas e sua incidência nas UCs, a situação da qualidade dos indicadores e da eficácia de gestão do sistema avaliado, pode-se inferir que as UCs, na sua maioria, estão condicionadas à ação ou ociosidade da organização, à falta de tomadas de decisão e atitude nos momentos de necessário enfrentamento, falta de planejamento continuado e omissão no delieamento de diretrizes e políticas institucionais para sanar as lacunas existentes e reveladas. Algumas destas ameaças são reportadas por diversos autores (Ugalde e Godoy, 1992; Faria, 1997; Horizonte Geográfico, 1998; WWF, 1999). Georgiadis e Campelo (1999) apresentam várias razões para justificar suas 134 afirmações a respeito do pouco apoio social às UCs inseridas na Serra do Mar. Eles parecem ter acertado que a debilidade das organizações se deve à excessiva ingerência política sobre as instituições, os inadequados procedimentos administrativos, a falta de pessoal, treinamento e salários condizentes com suas funções, além de culturas institucionais que não valorizam o pessoal de campo. 4.6 DESCRIÇÃO DE ASPECTOS GERENCIAIS DAS UCS VISITADAS Como parte da metodologia original, visando subsidiar e emprestar maior clareza ao processo de avaliação, foram realizadas visitas técnicas a algumas unidades de conservação administradas pelo Instituto Florestal, principalmente àquelas que enviaram representantes ou os seus diretores participaram das reuniões previas de auto-avaliação. Essas amostras foram selecionadas de acordo com os seguintes critérios: i) unidades de proteção integral, Parques Estaduais ou Estações Ecológicas; ii) reconhecidamente importantes para a conservação da biodioversidade do Estado; iii) possuírem mais de 1000ha, salvo as de importância regional. O procedimento original (Faria, 1993; Cifuentes, Izurieta e Faria, 2000) não aponta a necessidade de se relatar as particularidades das unidades envolvidas no processo de avaliação, servindo as visitas de campo quase que unicamente ao propósito básico de evidenciar as manifestações dos indicadores selecionados. A experiência vivenciada com a realização da presente pesquisa, com um maior número de amostras e envolvendo uma ampla diversidade de situações, pôs em relevo a utilidade das informações geradas pela percepção dos pesquisadores, que quando no campo estão despojados das amarras formais do trabalho de escritório e das reuniões de avaliação com os diretores. Os relatos estão alicerçados basicamente nas observações e percepção dos integrantes da equipe sobre o objeto estudado (gestão) e nas informações primárias obtidas junto aos funcionários e diretores das unidades. Apesar de serem agendadas com certa antecedência, em algumas oportunidades os diretores ou não se encontravam ou estavam enredados nos afazeres extemporâneos surgidos na ocasião, o que implica num maior ou menor grau de 135 profundidade das informações relatadas. Ocasionalmente informações secundárias de domínio público foram revisadas, como folders, planos de manejo, laudos de danos ao meio ambiente, projetos em execução, etc., mas sempre no sentido de se verificar as iniciativas, a dedicação das pessoas envolvidas no manejo e sua inserção na realidade local. As entrevistas sempre se pautaram pela informalidade de modo a permitir ampla liberdade de expressão às pessoas, ainda que a abordagem enfocasse as operações relacionadas à gestão da unidade. Na medida do possível procurou-se estimular a livre exposição das particularidades do manejo, dando menor importância aos assuntos relacionados às características biofísicas das áreas. As seguintes UCs fazem parte desse estudo: Estação Ecológica de Bananal; Núcleo Santa Virginia; Núcleo Caraguatatuba; Núcleo São Sebastião; Núcleo Picinguaba (estes pertencentes ao PE Serra do Mar); PE Xixová-Japuí; PE Ilha Bela, PE Ilha Anchieta; PE Carlos Botelho; PE Ilha do Cardoso; PE Jacupiranga; PETAR; PE Furnas do Bom Jesus; PE Vassununga; PE Porto Ferreira; Estação Ecológica de Jatai; PE Campina do Encantadado; PE Juquery; PE Jurupará; PE Jaraguá; PE Cantareira e PE do Morro do Diabo. Excetuando a classificação do PE Xixová-Japuí, a pontuação e classificação da gestão das demais unidades está acorde com a percepção gerada pelas visitas de campo. Há que se alertar para o fato de que os resultados e relatos a seguir retratam uma realidade passada no biênio 2000-2001, sendo que muitos aspectos aqui apresentados certamente se alteraram em face das novas conjunturas da organização e das UCs em particular. 252 4.6.1 Estação Ecológica Bananal Diretor: José Luis de Carvalho, Engenheiro Agrônomo com especialização. Instituto Florestal. Tempo na UC: Desde 1996. O acesso é feito através de uma estrada de terra cascalhada partindo da cidade de Bananal em direção às montanhas que conformam a Serra da Bocaina. O caminho é sinuoso, porém recortado por belas paisagens e riachos. Na medida que se sobe a montanha observa-se uma nítida melhoria nas condições da paisagem e da vegetação, mais exuberante e densa, onde as árvores encimam boa variedade de bromélias. Com algum grau de dificuldade percorre-se estes 25Km que separa a cidade mais próxima da sede da unidade, a mais de 1000 metros de altitude. A unidade é pequena, com menos de 1000ha, mas seu entorno é bem preservado e composto basicamente por formações florestais nativas ou plantadas que conformam um importante contínuo ecológico. Alguns vizinhos apontam inclusive para a possibilidade de se criar Reserva Privada do Patrimônio Natural visando o uso sustentado dos recursos e a exploração do turismo ecológico. A sede é simples, possui duas casas de madeira que servem de alojamento, escritório, cozinha e refeitório; água de boa qualidade, luz elétrica, um sistema de telefonia rural, uma estação meteorológica completa e um barraco que serve de almoxarifado. Quanto a veículos e transporte a área conta com uma camionete S10 e um trator recém adquiridos pelo PPMA, um fusca e uma moto em razoável estado de conservação. Há folders e cartazes alusivos aos recursos da Estação Ecológica. Possui apenas 6 funcionários: o diretor, engenheiro agrônomo com elevada capacitação e iniciativa, mas na maior parte do tempo ausente devido ao fato de residir a 250Km do local; e trabalhadores braçais, sendo dois afastados e com amplas possibilidades de não retornarem à unidade por motivo de saúde. Portanto, o efetivo real é de 3 funcionários quando em atividade. As belezas naturais e a informação de que o lugar pode abrigar algum endemismo o tornam superior às limitações imposta pelo reduzido número de funcionários. Há planos de melhorias da infra-estrutura com a construção de um centro de visitantes, alojamento-hospedaria e escritório administrativo pelo PPMA. Detectou-se uma lacuna nos projetos futuros para a unidade: a inexistência e 253 mesmo perspectiva de construção de uma moradia fixa para funcionário, aspecto fundamental na manutenção e proteção das UC pelo fato de sempre haver alguém para zelar do patrimônio natural e prestar o devido apoio a qualquer momento. Uma iniciativa louvável é o ‘trabalho de formiguinhas’ para desobstruir e revelar a antiga Trilha do Ouro, um exemplo da abnegação dos funcionários que ali emprestam seu sentimento e suor há pelo menos 5 anos à tarefa (Figura 14). Existem 3 trilhas, sendo uma com placas interpretativas e informativas, usadas pelos quase 3000 visitantes anuais, um aspecto importante que impulsiona o manejo para o planejamento para o uso público. Figura 14. Trecho da Trilha do Ouro na Estação Ecológica Bananal. Mesmo sendo uma Estação Ecológica, o manejo e as prioridades da unidade enquadram-se melhor no que seria um Parque, haja vista a projeção de estacionamento, centro de visitantes, área de camping e trilhas auto-guiadas. Longe de ser um absurdo este talvez seja o melhor exemplo do que venha a ser o manejo adaptativo: independente da categoria de manejo e dos conhecimentos técnicos que conduziram a Instituição a passar a categoria de manejo da unidade de Reserva a Estação Ecológica, seus atributos paisagísticos e ecológicos e as características do entorno, suas demandas e potencialidades indicam que a área deve passar necessariamente pelo processo de recategorização aludido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A gestão alcançou 70,4 de pontuação e ficou classificada como de Padrão Elevado, ainda que no limite inferior da classe e a existência de dificuldades impostas pelas características do seu quadro de recursos humanos. 256 4.6.2 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia Diretor: João Paulo Vilanni, Engenheiro Florestal com especialização. Fundação Florestal. Tempo na UC: Desde 1989 Como outras UCs da Serra do Mar e Mata Atlântica, a unidade também recebe os auspícios do PPMA e, segundo terceiros, uma das mais beneficiadas pelo Projeto. O Núcleo possui boa infra-estrutura, com escritório administrativo, garagens, almoxarifado, oficina e alojamento, quase todos novos e com distribuição espacial bem planejada, muito embora as reformas, ampliações e construções não estivessem terminadas haja vista haver, naquele momento, um projeto para a construção ou adaptação de uma hospedaria. É dado um importante enfoque à visitação pública, inclusive com a implementação de esportes radicais como o ‘raffiting’ e ‘rapel’, contando com parcerias informais das empresas desta área de atuação (Figura 15). A área conta com 3 trilhas auto-guiadas e a participação efetiva dos guardas-parque, treinados para receber e orientar visitantes. Figura 15. Raffiting no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar. Possui satisfatórios recursos materiais para transporte, água, luz, telefonia rural e comunicação interna por rádio, e bom nível de recursos financeiros. Para atender as demandas atuais os 19 funcionários são suficientes, todavia nos 257 períodos de licenças e férias observa-se uma defasagem e algum atropelamento das atividades. Um problema real foi detectado: a inexistência de boas relações entre a comunidade de São Luis do Paraitinga, a cidade mais próxima, e a unidade, ainda que o corpo de funcionários seja em sua maioria residentes desta cidade e a administração local procurar o estreitamento de relações. Este fato parece ter alguma relação com a questão fundiária da unidade, para a qual alguns cidadãos se vêem lesados pelo Estado. A constante ameaça dos recursos protegidos por grupos de palmiteiros organizados é um fato que revela a necessidade de ações programáticas direcionadas à educação, conscientização ambiental e manutenção de relações públicas com os vizinhos e o entorno, além de bons sistemas de fiscalização e monitoramento. Durante a permanência da equipe na unidade detectou-se algum distúrbio, algum ruído no relacionamento direção-funcionário, mas não houve oportunidade para maiores apreciações dado os eventos em desenvolvimento na ocasião da visita. Um ponto muito positivo na gestão da unidade é o fato da mesma contar com iniciativas para o monitoramento da exploração ilegal do palmito (Carvalho e Villani, 2000) e estudos da capacidade de carga turística para as atividades de rafting no rio que corta o Núcleo (Raimundo e Vilani, 2000). Pesquisas são desenvolvidas por universidades, sendo a mais presente a Universidade de Taubaté. Em relação ao manejo de ecossistemas, a direção local tem se mantido preocupada e tendente a solucionar a presença de espécies exóticas (Eucaliptus spp.) na floresta, mas tem esbarrado em impedimentos jurídicos e técnicos. A pontuação geral foi de 57,93 e a gestão da unidade classificada como de Padrão de Qualidade Mediano, apresentando graves problemas de ordem fundiária e de demarcação ainda não resolvidos pelo Estado, porém alberga amplas possibilidades para a efetiva melhoria da sua gestão em função das iniciativas da sua direção. 260 4.6.3 Parque Estadual Xixová-Japuí Diretor: Cláudio de Moura, Biólogo e Assistente de Apoio à Pesquisa. Instituto Florestal. Tempo na UC: Desde 1997. O Parque foi criado em 27/09/93, pelo Decreto Estadual número 37.536, com 901ha, albergando remanescentes do bioma Mata Atlântica e ecossistemas associados como costões rochosos, mata de restinga e restinga em recuperação (Figura 16). Figura 16. Praia no Parque Estadual Xixová-Japuí. Não possui qualquer tipo de infra-estrutura (física, móvel e RH) ou serviço ao público, a não ser caminhos que poderiam ser adequados ao verdadeiro conceito de trilhas interpretativas. Existem residentes no seu interior que, no entanto, parecem não causar danos ao ambiente protegido, ao contrario até auxiliam veladamente a conservação do lugar mediante limpeza dos caminhos de acesso, controle de vandalismos e do lixo produzido, pois o transportam para fora do lugar ou simplesmente o queimam. Em uma destas ocupações, anteriores à criação da unidade, há instalações elétricas, sanitárias e água potável aonde outrora funcionou uma pequena fabrica de blocos de cimento e que atualmente abriga um pequeno bar que funciona aos fins de semana oferecendo algum tipo de serviço afim. O caminho (a possível trilha) tem uma extensão aproximada de 1600m, inicia-se na estrada asfaltada São Vicente-Japui e termina na face oceânica do Parque. A maior parte de seu trajeto é feito sobre uma antiga e danificada estrada de pedras, bastante pitoresca, em cujo percurso aparecem construções e 261 pedreira abandonadas. O primeiro caminho é passível de ser recuperado para dar lugar a iniciativas administrativas e relacionadas ao uso público; a segunda com amplo potencial para eventos musicais e culturais, instalação de área de camping e realização de práticas derivadas do alpinismo. No percurso pôde-se observar vários caminhos ‘alternativos’ e impróprios feitos pelos usuários. Na face oceânica encontra-se uma grande porção de área alterada, encimada por pioneiras e gramíneas ‘capim-gordura’ e ‘sapé’, mas descortina-se uma belíssima paisagem, com vegetação característica e um mar deslumbrante, com pelo menos uma pequena praia que é utilizada com baixa intensidade por surfistas locais. Segundo o Diretor, estes usuários colaboram para manter o lugar e acessos limpos, inclusive mediante a criação de uma organização não governamental que já fincou placa alusiva à conservação na entrada do caminho em epigrafe. Ainda que o Diretor esteja na área desde 1996 há evidências de que ele não tenha conseguido se inserir no contexto da unidade. Parece mesmo haver uma dissociação de valores entre os que utilizam a área e a filosofia predominante, na qual estão presentes somente dificuldades e impossibilidades de ação. A situação que impera evidencia o abandono institucional para com profissionais que não nasceram ‘diretores de Parque’, mas que certamente com o devido acompanhamento Institucional e capacitação trocariam a insegurança pelo conhecimento e experiência, aliados generosos na consolidação da efetiva prática do manejo das áreas naturais protegidas. A única iniciativa detectada foi a elaboração de um instrumento de planejamento, o plano de manejo, em parceria com a UNESP, campus de Botucatu, e o Instituto de Botânica, resultado da compilação de bibliografias sobre a área, oriundos de monografias, mestrados, doutorados, entre outros. Este plano foi dividido em duas fases, a primeira com o diagnóstico do meio biofísico; e a segunda com o zoneamento e as proposta de programas de manejo que, todavia, não foi aceito pelo Conselho Técnico do Instituto Florestal. No aludido processo de planejamento não ocorreram levantamentos sócio-econômicos e nem mesmo a participação da comunidade através de seus líderes e representantes. Apesar do seu enorme potencial, em razão de suas características naturais e a proximidade com as cidades de Santos e São Vicente, indicativo de um Parque eminentemente urbano, este parece ser ainda um “Parque de Papel” do sistema paulista. Há uma evidente necessidade de capacitação do Diretor e 262 assessoramento das suas ações, além de todos os recursos para a efetiva implantação do parque. O manejo da unidade recebeu pontuação de 48,10, equivalente a um Padrão de Qualidade Inferior. A julgar pela percepção gerada na visita de campo, a gestão deveria ser classificada como Muito Inferior, necessitando muitos investimentos para sair da situação na qual se encontra. 264 4.6.4 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião Diretor: Edson Lobato, biólogo com especialização. CETESB. Tempo na UC: Desde 1997 A sede do Núcleo localiza-se em próprio cedido pela Polícia Florestal, na qual se dá os serviços administrativos. Conta com os equipamentos necessários para atender as atividades exercidas, quais sejam telefone, fax, computador, retro-projetor, projetor de slides e materiais de consumo em geral, além de veículos e motos em bom estado de conservação, sendo uma caminhonete Land Rover nova e duas motos. Figura 17. Equipe administrativa do Núcleo São Sebastião defronte ao escritório do Parque. Os recursos humanos do núcleo resumem-se ao Diretor e dois estagiários, um da Fundação Florestal e outro voluntário. Os recursos financeiros advém do Programa de Preservação da Mata Atlântica e de um convênio formal firmado com a Petrobrás, por iniciativa do próprio Diretor, no montante de R$180.000,00, os quais privilegiam as atividades de educação ambiental e ecoturismo. O ecoturismo é o ponto forte da unidade, tanto social quanto economicamente, sendo motivo de grande interesse comunitário em razão da vocação natural da área para a formação e geração de empregos de guias interpretativos. Esta vocação e as atitudes sinérgicas da direção possibilitam uma real inserção da UC junto à comunidade, sobretudo porque a sociedade é organizada e participativa, com prerrogativas ambientais claras e bem definidas auxiliadoras das questões ambientais conflituosas. A equipe de planejamento do PPMA teve sua atuação facilitada por tais características. 265 Em contrapartida, a pressão causada pela demanda de uma segunda moradia, ou residência de veraneio, geram problemas sociais e ambientais graves como a especulação imobiliária e a ‘favelização’ do entorno devido a falta de estrutura para absorver a mão de obra necessária para a construção civil. Isto, aliado ao fato de não haver saneamento fundiário e a maior parte do Núcleo não ser demarcado, com seus limites não identificáveis e desconhecidos pelos funcionários e população em geral, dificulta sobremaneira as atividades de proteção, que é efetuada pelo pequeno efetivo da Policia Florestal. Outra grave ameaça ao PESM neste Núcleo de Gestão são as várias transposições da BR-101 sobre a área e a ausência completa de pessoal para os setores de proteção e visitação pública (este último suprido por guias oriundos da Prefeitura e voluntários). No âmbito dos recursos protegidos, nada se compara à produção de água em quantidade e qualidade na vertente oceânica da unidade, contribuindo para conferir-lhe um valor inestimável no qual o ser humano torna-se refém do manejo. A inserção, flexibilidade e plasticidade do diretor foram detectadas e facilmente aferidas; tendo em vista que em condições adversas (falta de infraestrutura e recursos humanos) são desenvolvidas as atividades dos Programas de proteção, educação ambiental e ecoturismo. A administração conta com a participação da Prefeitura Municipal de São Sebastião, através de um convênio com a Petrobrás, e da Policia Florestal no caso do programa de proteção. Além das parcerias citadas todo o manejo é conduzido permeado pela participação dos representantes da comunidade no Comitê de Apoio à Gestão. Ações, ainda que embrionárias, são efetuadas visando a elaboração e desenvolvimento de um programa de pesquisa com a participação da ESALQ/USP. Oficialmente o Núcleo conta apenas com o diretor, entretanto algumas atividades básicas são desenvolvidas devido, principalmente, às características pessoais e profissionais, a capacitação e experiência na lida com conflitos e adversidades, interesse no relacionamento humano e, fundamentalmente, a iniciativa e motivação impulsionadas provavelmente por uma carreira sólida e bem remunerada. Apesar dos distintos pontos positivos, a pontuação auferida na planilha de avaliação foi de 53,57, determinando um Padrão de Qualidade Inferior, mas no limite superior da classe. 268 4.6.5 Parque Estadual da Ilha Bela Diretor: Kátia Regina Beagini Arean, Agrônoma com especialização. CETESB. Tempo na UC: Desde 1996. A sede da unidade está construída sobre terreno cedido pela Prefeitura de Ilha Bela, pois a implantação da infra-estrutura no interior do Parque está inviabilizada pelo fato das terras não serem públicas, com exceção de uma porcentagem insignificante e de difícil determinação. A Diretora é funcionária da CETESB, residente da ilha, apresentando aparente lucidez e equilíbrio quanto aos desígnios da unidade, as ações e atividades a serem conduzidas. Falta-lhe, no entanto, capacitação e experiência para a gestão de áreas naturais protegidas, fato este constatado pela própria Diretora como um dos principais problemas administrativos ao cumprimento dos objetivos de manejo da área, juntamente com a alta rotatividade de diretores pelo qual o Parque tem passado. Esta aparente fragilidade torna-se o grande aliado para a sua melhoria futura visto que reflete com transparência as debilidades da atual gestão, proporcionando ao profissional, à Instituição e ao Sistema como um todo a possibilidade de repará-las. A Diretora expôs ainda como ameaça ao manejo a falta de um perfil e uma conduta padrão dos diretores de Parques, o que gera conflitos e perda de credibilidade junto aos usuários das unidades e a sociedade em geral. Sua inserção junto à comunidade é deficitária para uma área inserida num contexto estritamente turístico, não apresentando entrosamento com a comunidade interessada, como são os casos da prefeitura, donos de hotéis, igrejas, líderes da comunidade, ong’s locais, entre outros, o que influencia negativamente no que deveria ser um ponto forte para uma unidade cujo domínio público ainda não é legitimado. O quadro de recursos humanos é constituído de 30 funcionários públicos oriundos do Instituto Florestal, cuja única exceção é a referida Diretora, o que favorece em muito a administração do pessoal e a gestão tendo em vista que evita os possíveis conflitos detectados em outras unidades que possuem funcionários que desenvolvem a mesma função e desfrutam de condições e salários desiguais conforme o órgão em que se insere e o regime jurídico da contratação. 269 Há evidencias de boa organização funcional, com o desenvolvimento dos programas de educação ambiental, bem estruturado e atuante nas escolas locais, fiscalização, manutenção e administração. Um fator relevante é a unidade ser agraciada pelo PPMA, que prove suporte logístico (infra-estrutura em geral) e de planejamento estratégico adequados. Apesar de não ter a posse da terra, a unidade mantém guaritas e fiscalização em pontos estratégicos de acesso ao Parque, como por exemplo a guarita e cancela na estrada que conduz à praia dos Castelhanos (Figura 18), esta já fora dos limites do parque mas muito procurada por veranistas e turistas. Figura 18. Cachoeira na Praia de Castelhanos na Ilha Bela. (Fausto Pires de Campos) A pontuação foi de 54,20 e a eficácia de gestão foi classificada como de Padrão Inferior, porém nos limites superiores desta classe de qualidade. 272 4.6.6 Parque Estadual da Ilha do Cardoso Diretor: Marcos Bührer Campolim, Oceanógrafo com especialização. Fundação Florestal. Tempo na UC: desde 1997 O Parque localiza-se no extremo sul do litoral paulista, no município de Cananéia e na divisa com o Estado do Paraná, com uma superfície oficial de 22.500ha, apesar de uma recente aferição indicar apenas 15.500ha. A unidade é integrante do Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá, que se estende por uma área de 200km de litoral, desde Peruíbe-SP até Paranaguá no Paraná, com uma inestimável diversidade de ecossistemas (manguezais, restinga, mata atlântica de encosta, praias, dunas, costões rochosos e vegetação de altitude). Em frente ao pier da cidade de Cananéia, único município a englobar a unidade, encontra-se o escritório administrativo continental do Parque, contígua aos escritórios do Instituto de Pesca em espaço cedido por este. Em razão dos recentes patrocínios do Projeto PPMA o Parque é suficientemente provido de novos equipamentos tais como telefone, fax, computadores, veículos terrestres, embarcações aquáticas que incluem lanchas rápidas e barcos com capacidade de até 40 pessoas, e um bom estado de conservação dos equipamentos mais antigos. Todavia uma deficiência evidenciada foi a inexistência de radio-comunicação adequada que, entretanto, não impede a solução das atividades rotineiras. Se a sede continental não possui os aspectos de uma sede de Parque, assim como os PE Xixova-Japuí, Núcleo São Sebastião do PESM entre outros, os prédios da sede insular situados no Núcleo Perequê são bastante espaçosos, tendo sido construídos durante a época do ‘Milagre Brasileiro’para abrigar o então CEPARNIC - Centro de Pesquisa Avançado dos Recursos Naturais da Ilha do Cardoso. Ao longo dos anos e principalmente na atualidade eles tem sido adaptados para abrigar as demandas programáticas do Parque, sendo que neste sitio encontram-se instalados museu marinho, escritórios, centro de visitantes, alojamentos, refeitórios para funcionários e pesquisadores, laboratório e casas de funcionários. Os alojamentos abrigam 80 pessoas simultaneamente e o plano é elevar esta capacidade para 120 leitos em razão da grande procura por grupos organizados e escolas (Figura 19). 273 Figura 19. Alojamento do Parque Estadual da Ilha do Cardoso. A Ilha do Cardoso antes mesmo de ser transformada em área protegida já era ocupada por pequenos núcleos habitacionais de pescadores, principalmente. Por este motivo e para facilitar a gestão dos recursos o parque é estruturado em núcleos que abrigam, além de populações tradicionais, indígenas e residentes não tradicionais. Além do Núcleo Pereque existem os Núcleos Marujá, que abriga um importante componente social do manejo, a Associação de Moradores do Marujá (AMOMAR); Núcleo Enseada da Baleia, Núcleo Pontal do Leste e Vila Rápida, com menores número de pescadores. Ao todo a Ilha abriga cerca de 160 unidades familiares que vivem da pesca e agricultura de subsistência e o corte da caxeta (permitido somente às famílias consideradas tradicionais) totalizando uma população aproximada de 400 pessoas entre tradicionais e não tradicionais. Um fator exógeno a este sistema social é a invasão e presença de um grupo indígena Guarani, com aproximadamente 45 pessoas que chegaram em 1992 e autorizados a ficar por decisão judicial proferida em 1997. Este grupo vive da caça, pesca, roça e artesanato de caxeta, sendo objeto de um projeto de pesquisa que procura averiguar os efeitos e os impactos da caça sobre a biota e na qualidade de vida do grupo. Há fortes evidências que este componente social é um elemento desagregador pois os caiçaras não compreendem porque os índios podem exercer a caça e eles não; porque os indígenas podem tudo ou quase isso e eles submetidos aos diplomas legais que norteiam a conduta ambiental. Para administrar o conflito de possuir gente no interior do Parque e dar solução aos problemas oriundos dos anseios comunitários, a direção conta com 274 dois elementos de gestão imprescindíveis: todas as unidades familiares estão cadastradas em um arquivo contendo informações referentes a cada clã, variando desde o n0 de filhos até um memorial descritivo detalhado de cada uma das moradias, o que permite um controle bastante satisfatório sobre as atividades desenvolvidas por cada uma delas. O segundo componente é a existência de um sólido Comitê de Apoio à Gestão, constituído por membros de diversas instituições (AMOMAR, representantes das vilas de pescadores, Prefeitura e Câmara dos Vereadores de Cananéia, IBAMA, Instituto de Pesca, Pastoral e ONG’s locais como a SOS Mata Atlântica). Este comitê trata de todas as questões relativas ao manejo do Parque e que envolvam os interesses comunitários, exceção feita ao grupo indígena que é orientado pela FUNAI. Este comitê realizou cerca de 40 reuniões mensais em esquema de rodízio nos diversos Núcleos, possui um caráter essencialmente consultivo, mas na prática delibera sobre aspectos do manejo como reformas e ampliações de residências, novas construções, energia, saneamento, corte de árvores para canoas, área de cultivo mínimo, etc. Caso o pleito seja autorizado é encaminhado ao DEPRN que passa a conduzir o processo; para os não tradicionais o Comitê não autoriza nada, ao contrario, interpõe barreiras previstas na legislação corrente. A propósito, o Parque passou por recente planejamento que resultou na elaboração dos Plano de Manejo Fases I e II, também uma iniciativa financiada pelo PPMA e adequado às necessidades da unidade. O Parque conta com diversas trilhas que são usadas somente com guias cadastrados no PEIC. Para o monitoramento da visitação foi criada a Associação dos Monitores Ambientais constituída por 03 monitores (funcionários) e 30 guias locais oriundos das comunidades do Parque e do município de Cananéia que, juntamente com a constituição de pousadas e camping nas residências dos pescadores, principalmente no Núcleo Marujá, reveste a iniciativa como um modelo para a solução dos problemas sociais gerados pela falta de oportunidades em centros economicamente deprimidos e que tanto aflige as comunidades do entorno e inseridas em UCs. Contudo, aplica-se o conceito de capacidade de carga ou de suporte para o número de visitas/dia e quantidade de pessoas hospedadas na Ilha. Em relação às pesquisas encontram-se em andamento cerca de 15 projetos, mas tanto o acompanhamento como os resultados carecem de um sistema mais adequado, inclusive com técnico designado para este fim, de modo tal a influir 275 de maneira mais significativa na retroalimentação do manejo. Um aspecto positivo originário da execução de pesquisas é a informatização e constituição de um Sistema de Informações Geográficas total para a unidade, uma questão de orgulho para a direção e para a organização administradora. Para gerir as atividades discorridas o PEIC conta com 44 funcionários, sendo 6 da Fundação Florestal, 9 oriundos da Secretaria de Esportes e Turismo e os demais do IF, porém a demanda atual é bem maior. Com tantos usos e atividades com o público em geral o parque carece de regimento único que contemple a integração das normas referentes aos usos atuais, de modo a institucionalizar as diversas taxas (guias, souveniers, traslados, camping, pousadas, alojamento, etc.) e isso possibilitar algum efetivo retorno para o manejo da UC, já que as taxas recolhidas ao Fundo Especial de Despesa do IF não retornam na mesma medida em que são produzidas. A direção da unidade não percebe evidências de entraves burocráticos para a consecução dos objetivos e metas por parte dos escritórios centrais do IF, pelo contrário entende-se que há uma disposição institucional e autonomia suficiente que permite a realização da gestão pública. Entretanto, há uma carência total de apoio e aconselhamento para as coisas jurídicas, por exemplo para o estabelecimento de Normas e Procedimentos para as diversas atividades que se deseja ‘institucionalizar’ ou para a formalização de convênios, que são sempre barrados pela e na Assessoria Jurídica da SMA. A solução é a instituição de uma assessoria jurídica adequada às demandas das unidades ou designar advogados para suprirem esses pleitos junto às Seções Técnicas mais necessitadas. Finalizando, é um parque onde as coisas acontecem, inserido no contexto do desenvolvimento regional e na vida das pessoas do município de Cananéia, a despeito de uma legislação que não transige adequadamente nas UCs aonde há gente no interior. A gestão obteve 82,68 pontos e foi avaliada como possuidora de Padrão de Qualidade Elevado, muito próximo ao padrão de excelência. 278 4.6.7 Parque Estadual da Campina do Encantado Diretor: Mario José Nunes de Souza, Geólogo com especialização. Fundação Florestal. Tempo na UC: Desde 1995 Semelhante a outras unidades nos domínios da Mata Atlântica, do PE da Serra do Mar e da região litorânea do Estado, a sede do Campina do Encantado ocupa algumas salas de um edifício, dividido com outras organizações governamentais de atuação local, aonde encontra-se a base documental para a administração e gestão da área. A unidade possui 2.359ha e situa-se a 16 km da cidade de Pariquera-Açu, cujo acesso é feito por uma estrada de terra conservada pela Prefeitura Municipal. Com financiamento do PPMA, a sede de campo esta sendo implantada em uma antiga e grande clareira deixada por invasores, outrora utilizada para o cultivo de frutíferas. Aí estão um pequeno viveiro de espécies nativas para o fomento do reflorestamento conservacionista e a construção de um edifício destinado a abrigar o escritório de campo, alojamento e refeitório, podendo futuramente ser adaptado para atividades de uso público (Figura 20). Apesar da iniciativa de se construir aquele prédio, constatou-se que o projeto da referida obra não condiz com os requerimentos da atualidade, ou destoa das condições atuais do IF, seja pelos elevados preços dos materiais utilizados ou pela distribuição dos espaços interiores, que no futuro poderá gerar conflitos de uso. Muito provavelmente com o mesmo montante aplicado ali poder-se-ia construir escritório, alojamento e refeitório e um mini centro de visitantes separadamente. Figura 20. Prédio administrativo em construção no Parque Estadual Campina do Encantado. 279 A falta de atributos e atrativos ao uso público na sede, somados à fragilidade do ecossistema em apreço, que se mantém alagado em ¾ da superfície da unidade, induzem o pensamento técnico a outra direção: a possível reclassificação da unidade para uma categoria mais restritiva, não fossem as “chamas de cor alaranjada, que saem da terra quando se perfura o solo com uma vareta e se ascende um fósforo, e que incendeiam a imaginação popular”, um fenômeno decorrente da deposição de matéria orgânica e que produziu, ao longo do tempo, depósitos de gás metano. Este fenômeno ‘encantado’ é que empresta nome ao Parque e desperta a atenção e curiosidade da população em geral. A propósito, segundo o seu diretor, a unidade tradicionalmente nunca ou pouco foi procurada pela comunidade para atividades de uso público, porém na atualidade envida-se esforços para que isto aconteça. Para tanto, preparase alguns componentes da paisagem da sede como atrativos, tais como um pequeno lago artificial para atividades de pesque-solte, um campo de futebol e uma trilha que aproveita caminhos pré-existentes, na qual observa-se as particularidades daquela formação florestal. A primeira atividade proposta tradicionalmente não se observa em Parques, muito embora sua existência esteja na dependência das formas de controle e do modo como o uso ocorrerá. Cria-se o ‘uso’ para justificar a implantação de um Parque, dentro de uma filosofia que procura disponibilizar essa categoria de UC à população a qualquer custo sem, contudo, entender-se que programas mais urgentes poderiam estar sendo privilegiados, como o de pesquisa e o de ‘interações sócio-ambientais’ com o entorno em face das ameaças existentes. O redor da UC é tomado por plantios de banana e frutas cítricas, cujos cultivos demandam a utilização de agrotóxicos em abundância, uma ameaça real à biota que se potencializa pelos altos índices pluviométricos e a topografia local, várzeas que podem estar drenando a carga tóxica para o interior do parque. Este fato impele a tomada de atitudes e ações que visem articular vizinhos e organizações visando aquilatar a existência da contaminação, as causas, os efeitos e as maneiras de equacionar o problema. O PECE conta com 22 funcionários, sendo 16 da antiga SUDELPA que foram incorporados aos quadros do IF e 6 oriundos do DAEE em caráter de comissionamento, o que evidencia a fragilidade da autoridade dos funcionários ao atuarem como guardas-parque haja vista não serem contratados para cumprir tal 280 papel, a pouco experiência dos trabalhadores com as atividades inerentes a uma unidade de conservação e a desmotivação em razão do desvio de função. Tal qual a proximidade do tempo de aposentadoria do quadro de funcionários, estes mesmos fatos repetem-se em diversas UCs do IF. Em contrapartida, a unidade está totalmente demarcada, o que garante uma melhor proteção física, possui Plano de Manejo iniciado e brevemente as informações necessárias ao manejo estarão conformadas e formatadas em um Sistema de Informações Geográficas, a exemplo de outras unidades do sistema. Vale ressaltar um aspecto muito positivo sobre a direção da unidade. A Seção Técnica pela qual responde o diretor do PECE abarca os Parques de Carlos Botelho, PETAR, Ilha do Cardoso, Campina do Encantado, Jacupiranga e as Estações Ecológicas da Juréia e Chauás, sendo que as informações apontam para uma boa integração entre elas, com reuniões periódicas, trocas de experiência e solução de problemas comuns. O Diretor, que acumula a Chefia da Seção e também responde pela Estação Ecológica dos Chauás, tem boa inserção junto a comunidade de Pariquera-Açú, mantendo um bom relacionamento com os representantes da comunidade, fundamentalmente com a Prefeitura e órgãos de atuação local, características que facilitam o trabalho fora dos limites protegidos da unidade e a gestão bioregional. A gestão obteve 44,57 pontos e foi classificada como de Padrão de Qualidade Inferior. 282 4.6.8 Parque Estadual Jacupiranga Diretor: Gina Guerra, Engenheira Florestal Pesquisadora com especialização. IF. Tempo na UC: Desde 1983. O PEJ foi criado como Reserva Estadual na década de 50 e elevado à categoria atual em 1969, abarca 150.000ha de Mata Atlântica, mas estima-se que somente ¾ desse total encontram-se em boas condições de conservação devido aos diversos problemas e ameaças sofridas pela unidade ao longo de sua existência: limites litigiosos e não demarcados, principalmente nas divisas entre São Paulo e Paraná; proprietários não indenizados; mineração e contaminação das águas do Rio das Minas; transposição da rodovia BR-116 em mais de 60Km, ao longo da qual surgiram várias vilas de “esquecidos de obras” (Vila Pneus, Vila Concha, Vila Bela Vista, Santa Maria, entre outras); desmatamento ilegal, vandalismos à coisa pública, deficiência de financiamento e de recursos humanos, além dos problemas mais ‘triviais’ como caça, extração de palmito e incêndios esporádicos. Está prevista a duplicação da rodovia no trecho referido, mas até o momento as tratativas sobre os impactos que a obra possa causar e as formas de indenização pelos danos causados são apenas retóricas ou as informações sobre o assunto ainda não foram disponibilizadas para o parque. Fonte: Seção de Manejo e Inventário Florestal. IF. Figura 21. Limites do Parque Estadual do Jacupiranga sobre imagem de Satélite. A indefinição da situação fundiária da unidade, o desconhecimento dos seus verdadeiros limites (Figura 21), os precários acessos às diversas localidades da floresta são as principais razões para o desenvolvimento deficitário de pesquisas na unidade. Unidades com tais características não são procuradas pela comunidade científica pela dificuldade de saberem se estão em terras públicas ou 283 privadas, o que potencialmente são condições geradoras de constrangimentos e atos violentos, principalmente em uma unidade tão grande que ocupa seis municípios diferentes. O PEJ soma-se às UCs da região (EEc Juréia-Itatins, PE Ilha do Cardoso, PE Campina do Encantado, EEc Chauás, PE Carlos Botelho, PETAR e PE Intervales) para constituir o maior contínuo ecológico de Mata Atlântica do país. Entremeio às UCs ocorre uma paisagem com matas privadas de preservação permanente em excelente estado de conservação, o que faz com que o indicador ‘tamanho’ seja menos importante que a ‘insularidade’ e a ‘forma’ da unidade. Não obstante o tamanho do parque ser considerável, sua forma é totalmente desuniforme, apresentando limites que não seguem os acidentes naturais tais como rios, bacias hidrográficas, canais de drenagem, etc. Em pelo menos duas grandes seções do Parque observa-se linhas retas como limites, que se não fosse o terreno montanhoso poder-se-ia suspeitar de racionamento de trabalho em sua delimitação. Estes aspectos e a falta de recursos apropriados para a gestão fizeram com que a direção dividisse informalmente o Parque em dois núcleos operacionais, que ainda assim são poucos dada as demandas cotidianas: Núcleo Caverna do Diabo, também conhecido como o núcleo de arrecadação, pois é nele que ocorre a maior parte da visitação pública, e o Núcleo Cedro, o mais antigo e localizado no município de Barra do Turvo, também conhecido como o núcleo da vigilância. Isto tem facilitado a gestão política e as relações públicas, bem como a administração dos escassos recursos da unidade. Em 1994 a administração da Caverna do Diabo, bem como todas as benfeitorias (chalés, trilhas, restaurante), passou da Secretaria de Esportes e Turismo para o IF, mas esta providência foi tardia pois os danos ambientais em razão da excessiva visitação e um manejo inapropriado dos recursos disponibilizados ao turismo de massa já haviam acontecido. Segundo terceiros, o mal manejo do ambiente cavernícola pela Secretaria de Esportes e Turismo mediante o estabelecimento de iluminação dos interiores, construção de barragens e excesso de visitação levaram à extinção o famoso Bagre-cego bem como o surgimento de espécies fotossintetizantes em locais antes escuros. Com as formas de manejo atualmente adotadas este processo de degradação pode ser revertido, inclusive com a realização de pesquisas para a reintrodução da espécie extinta localmente. 284 No que tange ao uso público, um dos desafios atuais é a melhoria dos serviços prestados pelos monitores e guias da Caverna do Diabo, haja vista que os monitores são autônomos, desconhecem as normas e diretrizes para o uso público nas unidades de conservação e carecem de treinamento adequado, aspectos que contribuem negativamente na experiência dos visitantes e na própria conservação dos recursos. A sede administrativa do Parque fica em uma antiga residência do CEDAVAL (Companhia de Desenvolvimento do Vale do Ribeira), no centro da cidade de Registro. É simples, mas suficientemente operacional para abrigar todas as contingências e demandas administrativas da Seção de Carlos Botelho, contudo os funcionários dedicados às tarefas administrativas sentem que os equipamentos de escritório poderiam estar em melhores condições. Por exemplo, as condições de transporte são bastante deficitária, com veículos sucateados pelo tempo de existência e manutenção comprometida. Os recursos humanos da unidade totalizam 35 pessoas, sendo 15 no Núcleo Cedro, 15 no Núcleo Caverna do Diabo (com muitos idosos em fase de aposentadoria); e 5 nas atividades administrativas, sendo um laudista (que trabalha na elaboração de laudos ambientais). Além destes a unidade requer ainda 03 laudistas, 20 na fiscalização, 4 na administração para cobrir as atividades inerentes à Seção Técnica, 15 na Caverna do Diabo para manutenção, 04 monitores, sendo um ou dois coordenadores das atividades, o que totaliza 81 funcionários, havendo então uma defasagem atual de mais de 100% negativo. Um fato curioso sobre o PEJ é que seu nome designa um dos municípios, mas o Parque ocupa outros cinco gerando descontentamento nestes últimos. Para sanar tal questão, os técnicos da Seção discutem maneiras de mudar o nome da unidade para PE do Vale do Ribeira, PE da Caverna do Diabo ou outro. É uma unidade com amplas oportunidades para a conservação da biodiversidade, para o uso público diversificado, realização de pesquisas básicas e aplicadas e o desenvolvimento de trabalhos sócio-ambientais. No entanto não possui um Plano de Gestão ordenador das ações e é um modelo dos problemas existentes nas UCs brasileiras. A unidade obteve 43,92 pontos e sua gestão foi classificada como de Padrão de Qualidade Inferior. 286 4.6.9 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba Diretor: Ivan S. da Mota, Engenheiro Florestal Pesquisador com especialização. IF. Tempo na UC: Desde 1985 O pessoal deste Núcleo, como quase todos do PESM, trabalham permanentemente em embate com as ameaças externas advindas das quadrilhas organizadas de palmiteiros e invasores das áreas legitimadas da unidade. Do primeiro caso têm-se relatos de que pessoas de outros estados brasileiros, do Paraná e Santa Catarina, alistam-se para se embrenhar na floresta por dias nas atividades de corte e coleta das palmáceas, uma atividade conhecida das organizações e autoridades que notadamente não aplicam com rigor a legislação pertinente. A invasões das terras públicas se dá por pessoas que justificam tais atitudes com argumentos de que buscam possuir seu próprio chão, mas as instalações (barracos) vias de regra servem também para abrigar caçadores, os palmiteiros e coletores de orquídeas e bromélias. Fato é que são muitos os danos ambientais sofridos pela unidade, o que gerou a necessidade de se treinar e manter uma equipe para a elaboração de laudos de danos ambientais composta basicamente por guardas-parque e o diretor. Como a área legitimada do Núcleo é de 13.770ha, mas a superfície de atuação do pessoal é de quase 60.000ha do PESM com situação fundiária não solucionada, conseqüentemente com perímetro não demarcado abarcando três municípios, esta é uma atividade bem reconhecida pelo Ministério Público Regional e pelo próprio IF, demandando cerca de até 30 laudos anuais que ocupam um precioso tempo da direção, que poderia estar se dedicando a outros assuntos para o desenvolvimento da unidade. Aliás, esta é a maior razão para as queixas da direção, que se sente desapoiada por não contar com uma mínima assessoria jurídica. A unidade foi contemplada pelo PPMA, que a está provendo de edifícios para a administração, garagem de veículos, almoxarifado, sala para estagiários, nova rede elétrica, adequação dos prédios mais antigos (pequena hospedaria para 10 pessoas) e, num futuro próximo, um centro de visitantes (Figura 22). Os veículos e equipamentos são novos e com manutenção bastante satisfatória, sendo que o financiamento atual é condizente com as necessidades diárias. 287 Figura 22. Moderna edificação construída sob os auspícios do PPMA no Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar. Há um sistema de trilhas bem planejadas, cujo conjunto mostra com eficiência os recursos da unidade, principalmente os diversos riachos que descem da Serra do Mar. A falta de técnicos para tocar o Programa de Uso Público e de monitores ou guias em número condizente com a demanda obriga a direção a assumir estratégias que limitam a visitação, tal como a obrigatoriedade do usuário percorrer as trilhas somente acompanhados de monitores, o que também reduz os investimentos de mão-de-obra requerida para a manutenção dos equipamentos. A inexistência de referido técnico inviabiliza qualquer iniciativa séria de educação ambiental dirigida aos moradores mais próximos, bairro Rio do Ouro, cuja população mantêm-se distante do Parque. A visitação no ano de 2000 foi próxima de 5.000 pessoas, sempre monitoradas, uma quantia irrisória haja vista as belezas naturais do lugar e sua localização ser na periferia da cidade de Caraguatatuba. Ainda que sejam justificáveis as estratégias adotadas para conter a visitação isto é um contra-censo considerando-se os discursos da SMA em prol do ecoturismo e a comparação com o desempenho de outros Parques, cujos locais para o uso público são mais distantes e com acessos difíceis, como por exemplo o PE de Carlos Botelho, mas que são mais visitados. Apesar das eficientes atividades de fiscalização e proteção dos recursos, em consonância com os meios existentes, evidencias apontam para uma baixa inserção da direção junto à comunidade: mínima participação comunitária nas oficinas de planejamento do PPMA e a ocorrência de rusgas com políticos locais. 288 Isto, somado à insatisfação nas relações inter-pessoais internas, pode gerar um clima adequado à instabilidade gerencial, passível de dificultar extremamente as obrigações da direção da unidade. Atualmente a UC conta com 14 funcionários, sendo 10 de campo e 4 administrativos, incluindo o Diretor, no entanto para implementação dos programas necessita-se pelo menos mais 56 pessoas. Para suprir esta carência a SMA contratou uma empresa de segurança privada que aporta 8 vigias que se revezam em turnos de 12/36 horas na fiscalização, da sede apenas. O Núcleo possui Plano de Manejo iniciado (Fase I), cuja equipe de planejamento defendia que as atividades de ecoturismo somadas ao uso sustentado da floresta pelas comunidades tradicionais mediante a coleta de palmito e outros subprodutos florestais deveriam sustentar economicamente o Parque, o que não se verifica na prática em razão da falta de políticas públicas dirigidas à esta lacuna e os custos das UCs irem muito além do que elas possam arrecadar. Segundo o Diretor, e isto é uma constatação em outros parques com comunidades tradicionais no interior e periferia, quando o método de planejamento está eivado pelas ‘filosofias sócio-ambientalistas de escritório’, é costumeiro atrelar todas as atividades direcionadas a melhorar os aspectos sociais, econômicos e ambientais dessas comunidades ao diretor da UC, fazendo com que suas responsabilidades sejam aumentadas consideravelmente. Considerar os aspectos sócio-ambientais de uma área protegida é algo imperioso para sua permanência a longo prazo, entretanto têm-se que adotar posturas isentas e corrigir as atribuições dos diretores das UCs para que estes possam dedicar seu tempo exclusivamente à conservação da biodiversidade e desenvolvimento da unidade em consonância a seus objetivos de manejo primários. O Núcleo Caraguatatuba do PESM é um exemplo concreto de que os problemas de manejo das UCs vão além da ausência de demarcação e de RH adequados, ou a solução para eles não está simplesmente nos Planos de Manejo, novos equipamentos, prédios e constância do financiamento. Alguns problemas são simples e de fácil solução, mas necessitam a atenção da organização, como a realização de cursos e treinamento do pessoal no que se refere a relações humanas visando a melhoria da sintonia entre direção e funcionários e destes para com a comunidade. 289 A gestão recebeu 67,86 pontos e foi classificada como de Padrão de Qualidade Mediano, necessitando poucos investimentos para alcançar um nível de eficácia mais elevado. Finaliza-se esta descrição com uma frase do abnegado Diretor do Núcleo Caraguatatuba, que se tem dificuldades no relacionamento cotidiano, talvez pelas suas exigências pessoais e pelas agruras de suas atribuições, ao longo dos anos tem sido um dos principais esteios para a construção e permanência daquelas paragens do PESM: “Nós somos os eleitos para lutar pela preservação dessas áreas naturais. E eu não me vejo em outro lugar”. 292 4.6.10 Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba Diretor: Luiz Roberto C.N. Oliveira, Biólogo com especialização. Fundação Florestal. Tempo na UC: Desde 1994. A coleta de informações neste Núcleo foi comprometida em razão da momentânea ausência do diretor e a impossibilidade de encontros futuros com o mesmo. A infra-estrutura física da unidade apresenta-se completa, com escritório, pequeno alojamento para pesquisadores, hospedaria para turistas e estudantes, almoxarifado, garagem e centro de visitantes. Algumas instalações estão ociosas e abandonadas, como a lanchonete e banheiros públicos à beira da praia da fazenda, que segundo relatos apresentaram erros de projeto. A infraestrutura, os equipamentos e veículos estão de acordo com as necessidades e em bom estado de conservação. A unidade também é contemplada pelo PPMA e conta com plano de manejo. Pôde-se observar o Programa de Uso Público em ação (Figura 21), mediante a recepção a estudantes e grupos organizados, que obtiveram as devidas informações do parque e as orientações de conduta necessárias durante a permanência na unidade. O centro de visitantes é bem organizado e apresenta sinais de uso sistemático, havendo um conjunto de trilhas interpretativas autoguiadas e monitoradas adequadas à demanda. Estas atividades certamente são muito importantes para a conservação da área haja vista que 80% do território do município de Ubatuba são tomados pelo parque, gerando conflitos que devem ser solucionados com este diálogo e uma forte relações públicas por parte dos técnicos locais. Ainda que o programa de uso público seja atuante e ocorram atividades de educação ambiental, observou-se que na sede do Núcleo resíduos de construção e domésticos são depositados em locais inapropriados, bem como o desperdício com caixas plásticas para lixeiras, canos plásticos e de PVC mal acondicionados, fatos que revelam a necessidade de se investir nas condutas ambientais dos funcionários. 293 Figura 23. Atividade de Uso Público no Centro de Visitantes do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar. Algumas incrustações na orla da praia da Fazenda, supostamente ilegais, inclusive com residências particulares e campings, devem fazer parte do imenso rol de invasões peculiares aos Núcleos de Gestão do PESM que não possuem saneamento fundiário e demarcação física. Durante a visita pôde-se observar pesquisadores em atividade na orla marítima, fato que aponta para um possível desenvolvimento deste programa. Atualmente o Núcleo conta com 24 funcionários, incluindo 3 técnicos de nível superior, um da Fundação Florestal (diretor) e dois da CETESB junto ao programa de uso público. Segundo o diretor, quando designado para o Parque o seu antecessor tinha sob seu comando 56 funcionários, total este julgado o ideal para a área. Parece haver falhas de comunicação entre os componentes da administração e destes para com os funcionários de campo, o que poderia ser solucionado com o treinamento do pessoal no que tange a relacionamentos interpessoais e básicos para o cumprimento adequado de suas funções. Por outro lado, entende-se que a unidade, ocupando 80% do território do município de Ubatuba, tem boa aproximação e inserção com a sociedade, seja a comunidade e outros órgãos de atuação local. A gestão obteve 60,87 pontos e foi classificada como de Padrão de Qualidade Mediano. 296 4.6.11. Parque Estadual da Ilha Anchieta Diretor: Manuel de Azevedo Fontes, Engenheiro Sênior. IF. Tempo na UC: Desde 1989 O PE da Ilha Anchieta ocupa toda extensão (828ha) da Ilha Anchieta, localizado à aproximadamente 4km do continente, no município de Ubatuba (Figura 24). O acesso à ilha é feito por barcos que partem da Marina do Saco da Ribeira, atualmente administrada pela Fundação Florestal, cujo percurso consume de 30 a 50 minutos. Figura 24. Praia do Sul no Parque Estadual da Ilha Anchieta. (Fausto Pires de Campos) Os recursos humanos do Parque resumem-se na seguinte estrutura funcional: Diretor; coordenadora do Programa de Uso Público (Bióloga com PhD); 11 braçais – serviços gerais; 02 estagiários de ecoturismo e 01 encarregado. Um total de 17 pessoas trabalhando no PEIA, sendo 13 funcionários do Instituto Florestal – SMA, 01 da Fundação Florestal e dois voluntários. São residentes da ilha o Diretor, a Coordenadora do Programa de Uso Público, o encarregado e sua esposa; os demais conformam três equipes que atuam em turnos de quatro dias de trabalho por 08 de descanso. Em razão das peculiaridades dos trabalhos desenvolvidos e por não existir funcionários que cubram todas as funções-atividades, os mesmos resolvem todo tipo de trabalho incluindo proteção, manutenção e limpeza geral, caracterizando o que comumente se denomina ‘desvio de função’ trabalhista. A energia elétrica é obtida por meio de geradores a diesel e energia solar. O transporte de funcionários é feito por embarcações próprias (barco de 297 alumínio com 05 lugares e um bote inflável de 08 lugares), que por sinal estão submetidas a um rígido esquema de manutenção. Os visitantes que não possuem barco próprio recorrem aos serviços das escunas operadas pelas empresas de turismo. A infra-estrutura administrativa é completa, com escritório, três alojamentos para até 40 pessoas, garagem, almoxarifado, centro de exposições e de interpretação, sendo que tais equipamentos estão em consonância com as demandas atuais e para o atendimento do público visitante. No Parque funciona o Projeto TAMAR/IBAMA, que desenvolve trabalhos de monitoramento das tartarugas marinhas e atividades de educação ambiental, mediante termo de cooperação técnica entre o IF e IBAMA, oferecendo-se oportunidades aos visitantes de adquirir "souvenirs" (botons, shorts, bonés, camisetas, adesivos), cuja parcela da arrecadação é repassada ao parque na forma de gêneros. A unidade é beneficiada pelo PPMA e possui Plano de Manejo Fase I implantado. Para recepção de visitantes o parque disponibiliza 07 praias adequadas ao banho, mergulho e piquenique. Há um sistema de trilhas guiadas e auto-guiadas com aproximadamente 3.300 metros de extensão. As trilhas possuem somente algumas placas, pois a opção é o monitoramento das mesmas na alta temporada, isto em razão da falta de pessoal para manutenção e fiscalização sistemática. O potencial para a visitação é grande, porém dotar a unidade de infraestrutura adequada sem compatibilizar com as demandas por recursos humanos, materiais e financeiros, bem como de capacitação do RH, seria desastroso e com impactos negativos previsíveis aos recursos naturais e culturais do parque, uma atitude muito acertada da direção. Esta unidade provavelmente seja a única a possuir um minucioso estudo da capacidade de suporte turístico, resultado de uma recente tese de doutoramento promovida pela coordenadora do programa de uso público, aspecto que certamente deve estar auxiliando nas tomadas de decisões de manejo. Um problema para o manejo do ecossistema é a presença de capivaras introduzidas na Ilha, um aspecto que demorou mas que finalmente tem sido contornado pela administração mediante a captura e envio destes animais para o continente. Tal atitude tem evitado uma proliferação maior da espécie, que poderia causar grandes transtornos haja vista não haver predador natural para esta espécie na ilha. Aparentemente as maiores ameaças, ou a maior, é o desrespeito às normas 298 de visitação por parte das agências de turismo, resultando em atividades de ecoturismo pouco controladas decorrente, principalmente, da carência de recursos humanos e capacitação, comprometendo todo o planejamento e gestão dessa Unidade de Conservação com características ímpares de biodiversidade. Em relação à administração de pessoal, parece haver certo ressentimento de alguns funcionários em relação ao modo como a direção transige as ordens de serviço, prevalecendo as decisões verticalizadas, aspectos que em última instância causam descontentamento no ambiente de trabalho. Entretanto, muito provavelmente o ambiente solitário da Ilha e as condições de trabalho extremamente adversas, com ameaças externas reais rondando o sistema protegido, aliadas à carga de responsabilidade assumida pela direção imponham naturalmente tais comportamentos, que são contornados com a atuação sempre dedicada e amistosa da substituta do Diretor. Por outro lado, há uma satisfatória delegação de responsabilidades, pois as decisões acontecem na ausência do Diretor e seu substituto imediato. A Unidade recebeu 70,21 pontos e sua gestão classificada como de Padrão de Qualidade Elevado. 300 4.6.12 Parque Estadual de Carlos Botelho Diretor: José Luiz Camargo Maia, Engenheiro Civil com especialização. CETESB. Tempo na UC: Desde 1994 A gestão do PECB permeia-se por uma atuação integrada com os diversos setores da sociedade (empresários, comerciantes, políticos, ambientalistas, escolas, universidades e a população em geral), cuja filosofia é trazer a população para dentro do parque e este ir para as cidades. O enfoque está dirigido à preservação da biodiversidade, para o planejamento da ocupação do entorno, desenvolvimento sócio-econômico regional e resgate histórico cultural. Para tanto, o PECB desenvolve programas de administração, fiscalização, pesquisa, uso público, educação ambiental e atividades de interação sócio-ambiental com o entorno. A despeito da ausência de plano de manejo, o parque vem desenvolvendo um trabalho político e de planejamento onde estes programas estão implantados e funcionam efetivamente. Além disso, evidencia-se o empenho da administração junto à direção do IF para a elaboração de um plano de manejo que contemple, além dos programas tradicionais, projetos de abrangência regional, incluindo-se o manejo dos maciços florestais contíguos à unidade e a contratação de parcerias com a iniciativa privada visando o desenvolvimento da economia local e conseqüente geração de empregos. Uma iniciativa nesta direção foi a elaboração de um documento que compila as principais informações do parque e região, financiado pelo Programa Rodízio e gentilmente denominado como a Fase ‘0’ do plano. Como exemplo de parcerias presentes na gestão do Parque pode-se citar o Parque do Zizo (fazenda da família do ilustre Carlos Botelho que deverá transformar-se em Reserva Particular do Patrimônio Natural-RPPN), Cia Suzano de Papel e Celulose S/A, o Grupo Orsa, a Eucatex S/A, Prefeituras Municipais e empresários e proprietários do entorno. Especial apoio foi dado pelo Fórum de Turismo de São Miguel Arcanjo, cuja iniciativa entre tantas outras, foi a realização de um mutirão popular visando a construção do portal de entrada do Parque. Este Fórum está em fase de regulamentação através de sua transformação em Conselho o que lhe conferirá um caráter oficial. O programa de uso público (PUP) desenvolve-se tendo por base um centro de visitantes com capacidade para 40 pessoas (Figura 25); pequeno museu 301 de zoologia, biblioteca e quiosque para venda de souvenirs; trilhas monitoradas e auto-guiadas. Existe ainda a estrada SP-139 que atravessa a unidade em uma extensão de 33 Km, a qual propícia um passeio para observação de rios, cachoeiras, o relevo e a vegetação. A visitação gira em torno de 12 mil pessoas/ano, sendo que deste total 10 mil procuram a área para atividades de recreação ao ar livre e 2 mil são monitoradas. O ingresso é de R$ 2,00/pessoa, com isenção para as escolas públicas. O programa contempla o projeto de educação ambiental "Escola no Parque", financiado pelo FEHIDRO através do Núcleo de Educação Ambiental de Itapetininga, destinado a atender as escolas dos municípios de Angatuba, Itapetininga, São Miguel Arcanjo e Pilar do Sul. Os recursos deste projeto viabilizaram a ampliação do Quadro de pessoal do Programa. Figura 25. Atividades de Uso Público no Centro de Visitantes do Parque Estadual Carlos Botelho. A infra-estrutura da sede administrativa conta com guarita, escritório administrativo, hospedaria com capacidade para 12 pessoas (técnicos e pesquisadores) e uma pequena serraria. Atualmente a unidade possui 40 funcionários, incluindo um advogado contratado pela Fundação Florestal, fato curioso e provavelmente único dentre as UCs paulistas. Precisaria 70 funcionários e contar com uma equipe interdisciplinar. Em termos de pesquisa a unidade é bastante procurada para a realização de diversos trabalhos voltados à titulação acadêmica, principalmente oriundos da PUC de Sorocaba, UNESP de Jaboticabal e Rio Claro, USP e 302 UNICAMP. Pesquisas de longa duração e geradoras de informações mais voltadas ao manejo dos recursos são desenvolvidas pelos Projetos Muriqui, Macaco Prego e pelo programa BIOTA da Fapesp. Até onde se pode detectar, foram e estão sendo desenvolvidos na unidade 64 projetos de pesquisa, que já originaram 36 publicações científicas, 8 dissertações de mestrado e 1 tese de doutorado. Como o Parque tem atuação também no município de Sete Barras, aí se implantou um Núcleo com escritório e hospedaria para 05 pessoas, onde permanentemente há uma equipe de 06 componentes para fiscalização, sendo que 03 são funcionários do P.E.Intervales, com o qual se mantém estreitas relações técnicas e administrativas. A fiscalização é ostensiva; num período de 02 meses efetuou-se aproximadamente 15 mil quilômetros de rondas no afã de localizar quadrilhas de palmiteiros, provavelmente a maior ameaça local e por que não dizer das UCs deste importante bioma que é a Mata Atlântica. Neste sentido, uma iniciativa inovadora é a implantação do ‘Viveiro de Palmito’ em Sete Barras, utilizado para fomentar a exploração sustentável e como instrumento de educação ambiental. É um parque que apesar de não possuir um financiamento e RH adequados, não ser contemplado por convênios internacionais e carecer de vários componentes importantes para uma atuação de excelência, tais como veículos apropriados e bem mantidos, plano de manejo, demarcação da totalidade dos limites (atualmente só possui a metade) e técnicos para a condução dos programas, consegue desenvolver as atividades básicas da categoria. A gestão recebeu 68,74 pontos e classificada como de Padrão de Qualidade Mediano, precisando de poucos investimentos e esforços para alcançar um nível de eficácia mais elevado. Finaliza-se esta descrição com uma afirmação do diretor do parque sobre a Instituição: "Da minha parte o Instituto Florestal possui todo o respeito, principalmente em relação a fidelidade e abnegação das categorias mais humildes de funcionários no exercício de suas funções. Estas pessoas estão esquecidas por uma Instituição pouco operacional, com uma estrutura organizacional deficitária e um grande abismo entre os dirigentes e as pontas". 304 4.6.13 Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR Diretor: Gisela Vianna Menezes, Bióloga com PhD. CETESB. Tempo na UC: Desde 1999. O PETAR possui uma superfície de 35.712ha, cuja dimensão, complexidade paisagística e demandas de uso conduziram à implantação de 03 núcleos de desenvolvimento, sendo eles Santana, Cablocos e Iporanga. É uma unidade com grande potencial ecoturístico graças ao seu patrimônio natural composto por rios, cachoeiras, cavernas, vestígios de sítios arqueológicos, alem de rica biodiversidade (Figura 26). Figura 26. Atividade ecoturística em uma das cavernas do PETAR. O desenvolvimento do ecoturismo teve origem na comunidade do Bairro da Serra, bairro este sobreposto à área do parque, mediante a oferta de pousadas, alimentação e serviços de monitoria. Se por um lado essa iniciativa resultou em benefícios para a gestão da unidade, por outro é foco de conflitos tendo em vista haver um pedido de desafetação do bairro da área do parque. A indefinição da questão fundiária para este sítio em particular, bem como para um total de aproximadamente 80% da unidade, é identificada como uma das principais ameaças à consecução dos seus objetivos de gestão, ainda que tenha sido demarcada na década de 80 e possua limites naturais bem definidos. Esse assunto vinha sendo tratado por uma estagiária de direito, mas a situação financeira institucional obrigou a paralisação das atividades. 305 Em operações conjuntas os guardas-parque e a polícia florestal fazem apreensões de palmiteiros, caçadores e embargo de obras dentro dos limites do Parque, incluso no referido Bairro, acentuando ainda mais os conflitos entre comunidade, funcionários e chefia da unidade, pois muitas vezes esses atores se confundem sobrepondo papéis. Para amenizar esse fato a direção promove reuniões periódicas com representantes da comunidade afetada visando estabelecer um trabalho integrado e a compreensão das pessoas. A frota de veículos e máquinas foi renovada por ocasião do PNMA em 1995, mas passados os anos estes não tiveram a manutenção devida e no momento dos trabalhos de campo nada menos que três veículos encontravam-se parados, às expensas da elevada prioridade dada à proteção da área. Em termos de pessoal conta com 56 funcionários, sendo 29 do IF, 19 da Fundação Florestal e 01 da CETESB. No Núcleo Caboclos ocorre a co-gestão com o Instituto Geológico, lá havendo 5 funcionários do IG e 2 designados pela Prefeitura de Iporanga. Precisaria no mínimo 100 para o perfeito desenvolvimento das atividades. O Parque recebe anualmente cerca de 40.000 visitantes e foi um dos pioneiros na cobrança de ingressos, tendo iniciado em 1992. A sistemática da arrecadação era o recolhimento em benefício da Fundação Florestal, que por sua vez repassava certo percentual para a unidade após as solicitações de adiantamentos. Este fluxo foi interrompido por ocasião da decisão tomada pelo Instituto, de centralizar e submeter todos os pedidos de recursos das unidades à análise e autorização por parte da administração central. Para ilustrar que os procedimentos atuais não se desenvolvem favoravelmente, nos primeiros seis meses de 2001 a unidade recebeu apenas um único adiantamento no valor de R$11.000,00 para cobrir todas as despesas, mas de acordo com as demandas básicas atuais deveria receber entre R$ 7.000,00 a R$ 8.000,00 por mês. Além disso, podem ser identificados traços de tomada de decisões isoladas e ineficazes (prevalecendo o despotismo) na filosofia de trabalho adotada pelo IF, pois o PETAR detinha um saldo na Fundação Florestal de R$ 60.804,00 em março de 2001, entretanto R$ 60.760,72 foi confiscado para o Fundo Especial de Despesa do IF, através de sua diretoria administrativa, sem ao menos uma consulta ou qualquer informação à direção da unidade. Justiça seja feita, segundo a diretora da unidade cerca de 64% do que o PETAR arrecadou sob forma de ingressos no 306 ano de 2000 retornou ao longo do mesmo ano, mas as quantias tem sido insuficientes para atender as demandas da intensa visitação pública. Este modelo de gestão ocasiona desmotivação e promove a diminuição da auto-estima dos que estão na ponta do sistema de conservação, condenando qualquer organização ao fracasso. Isto é detectado quando em um parque a arrecadação por ingressos alcança um total médio de R$10.000,00 mensais, mas que poderia ser muito mais caso houvesse estímulos concretos para tal. No Núcleo Santana a visitação é monitorada. Devido ao restrito número de funcionários e a interrupção da remuneração dos estagiários pelo Fundo Especial de Despesa do IF, este serviço ao visitante é oferecido pelos mais de cem guias ambientais cadastrados no Parque. Os guias são membros de duas associações locais, possuem cursos de capacitação e são devidamente cadastrados na unidade. Há 18 projetos de pesquisa em andamento no PETAR, todos cadastrados no IF, através da COTEC, cujos pesquisadores recebem como estímulo a isenção da taxa de alojamento, interessante mecanismos de fomento científico. A Diretora do Parque há 04 anos foi comissionada no Instituto Florestal, com a expectativa, na época, de alcançar melhorias salariais. Tendo em vista que na CETESB não há um plano de carreira e que no IF havia promessas de aumento salarial para quem administrasse UCs, muitos funcionários daquela organização vieram engrossar o Quadro de recursos humanos do IF, porém sem qualquer capacitação ou experiência na área de gestão de UCs. Aquela premissa não se efetivou, deixando lacunas que frustraram a diretora, sem contar suas justas reivindicações tais como uma equipe técnica mínima que pudesse trabalhar em regime de acampamento, como os demais funcionários; retorno da arrecadação com a cobrança de ingressos e a viabilização da elaboração do plano de manejo para a área. Segundo a avaliação da própria diretora, sua iniciativa, experiência e presença no PETAR são apenas moderadas. Dentre os problemas e ameaças mais contundentes estão os palmiteiros e caçadores, mas o maior problema verificado na unidade não são esses ou a falta de recursos humanos para desenvolver o ecoturismo, educação ambiental e interpretação da natureza, mas sim o fato de não haver um planejamento para o uso público, e muito menos um programa estruturado que contemple a demanda 307 existente e potencial, como as oportunidades para a prática de esportes radicais que não são explorados nem de forma incipiente. Há que se planejar novas trilhas e novos roteiros alternativos para o público, implementar o monitoramento sistemático, atualmente só realizado no Núcleo Santana, e a normatização de todos os usos efetuados na unidade. A elaboração de um plano de manejo moderno e com ampla participação da comunidade implicada na gestão trarão novas oportunidades e soluções para os diversos problemas do PETAR. Concluindo, o parque recebeu 61,48 pontos e sua gestão possui um Padrão de Qualidade Mediado, apesar da grande visibilidade que lhe proporciona suas belezas naturais e o uso público que lá ocorre. As palvaras da sua Diretora à época: “Se gastamos tanto tempo para correr atrás de recursos financeiros, não há como implementar o uso público, a pesquisa e outros programas, principalmente quando não há uma equipe multidisciplinar disponível”. 310 4.6.14 Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus Diretor: Suely Ferreira Lino Pontalti, Bacharel em Turismo, Analista Administrativo da Fundação Florestal Tempo na UC: Desde setembro de 1996 Esta é a unidade mais setentrional do Estado de São Paulo, com seus 2.069,06ha incrustados em um sitio que lhe empresta o apropriado nome, uma paisagem única e que encerra a maior queda d’água do Estado, com quase 130 metros de altura (Figura 27). A vegetação é de cerrado em adiantado estágio de regeneração haja vista os grandes incêndios florestais do passado. Em 1994 ocorreu o último grande incêndio, que assolou a unidade durante vários dias e arrasou 70% de sua área. Figura 27. Cascata Grande no Parque Estadual Furnas do Bom Jesus. Frente a esta constante ameaça, adotou-se como prática para o manejo do ecossistema a utilização de gado vacum para rebaixar continuamente a gramínea predominante, Brachiaria spp, reduzindo com isto a disponibilidade de material combustível e a competição desta espécie com as espécies de interesse no ecossistema. Atualmente existem aproximadamente 200 cabeças de gado do Estado, alocados em sítios específicos e manejados segundo as necessidades e possibilidades da área, uma prática defendida pela equipe em razão de conhecerem seus reais benefícios (Figura 28). Além disso, nos últimos anos envidou-se considerável esforço para conquistar o apoio da Prefeitura Municipal visando a construção e manutenção de aceiros, que hoje são efetivos e cumprem seu papel. 311 Em contrapartida, ocorre pressão dos vizinhos pelo uso do Parque como pastagem para seus rebanhos, um assédio desinteligente que obrigou a direção a cercar o perímetro da unidade, faltando hoje apenas 5km de extensão e um trabalho para maior reconhecimento e envolvimento por parte dos vizinhos. Estes trabalhos serão muito importantes para a unidade haja vista que alguns riachos que se interiorizam no Parque nascem muito próximos à cidade, acarretando o inicio de certa poluição hídrica interna. A unidade conta com 12 funcionários que desenvolvem todas as atividades do Parque. A sede é simples e composta de antigos prédios; bem estruturada e organizada, possui uma pequena hospedaria, muito digna e asseada, retrato do esforço conjunto da direção e funcionários para fazerem que a UC brilhe e se desenvolva frente às demandas ecoturísticas da região. Os veículos são antigos, mas bem mantidos e se encontram milagrosamente funcionando. Figura 28. Aspectos do relevo das Furnas do Bom Jesus e biomassa combustível oriunda da gramínea do gênero brachiaria. Também possui um Plano Conceitual de Manejo, excessivamente megalomaníaco pois projetou para a área nada menos que 18 áreas de desenvolvimento e a necessidade de quase duas centenas de funcionários. A atual direção vislumbra a possibilidade de implantar apenas quatro (Cascata Grande e Chapadão em parceria com a Prefeitura, Sede e Sucupira. Conforme a própria diretora da UC, falta-lhe perfil e capacitação adequada para ocupar tal cargo, entretanto sobra-lhe experiência no trato dos 312 assuntos administrativos e burocráticos do Estado, o que possibilita obter certas conquistas nos tramites de processos e a consecução de recursos. Um exemplo é a aquisição recente de um eficiente sistema de comunicação interna via orçamento do IF, que possibilita acima de tudo segurança à fiscalização nas furnas. Se faltam conhecimentos técnico-científicos sobre a dinâmica do ecossistema e todo o arcabouço já delineado sobre parques e reservas equivalentes, sobram iniciativa e vigor administrativo, o que é um ponto positivo e forte para a unidade. Em razão da falta de pessoal há muita dificuldade para controlar usos indevidos e vandalismos ao bem público, aspecto observado no sítio denominado Núcleo Chapadão. Para minimizar tais ocorrências propõe-se implantar efetivamente o núcleo em parceria com a Prefeitura Municipal de Pedregulho e a administradora da ferrovia. A proposta é reativar o trenzinho, cujo trajeto inicia-se em Pedregulho com destino a Rifaina, cidade-balneário às margens do rio Grande, passando pelos pontos turísticos que inclui o Parque. Tal iniciativa, ainda que em fase embrionária, faz parte de uma estratégia mais ampla para viabilizar o ecoturismo como alternativa econômica e social para a região, mostrando mais uma vez como as áreas protegidas podem trazer benefícios para os lugares e suas populações. A gestão da unidade alcançou 54,84 pontos e foi classificada como de Padrão de Qualidade Inferior, requerendo poucos investimentos para galgar à classe superior. 314 4.6.15 Estação Ecológica de Jataí Diretor: Antonio Carlos Scatena Zanatto. Agrônomo, Pesquisador Científico. Instituto Florestal. Tempo na UC: 23 anos A Estação Ecológica de Jataí funciona com a mesma infra-estrutura e base operacional da Estação Experimental de Luiz Antônio, sob um enfoque de gestão integrada tal como ocorre nas UCs de Itirapina, Assis, Manduri e outras unidades que tiveram transformadas partes de sua superfície em Estações Ecológicas. Por este motivo, o manejo da floresta plantada em Luiz Antônio prioriza a regeneração do sub-bosque natural, inclusive já existem exemplos de talhões que foram cortados nos quais a regeneração e sucessão se processaram vigorosamente. A infra-estrutura esta bem adequada, possuindo escritório administrativo, várias residências para funcionários, hospedaria e centro de visitantes adequados às demandas atuais. Os veículos e máquinas são muito antigos, alguns já em estado adiantado de sucateamento, muito embora haja evidência da administração empenhar-se na manutenção básica da frota. Na sede há ainda uma das três unidades industriais do IF, uma usina de tratamento de madeira e uma razoável serraria, equipamentos que se encontram funcionando em apenas 10% da sua capacidade. A unidade é constituída por uma diversidade de ecossistemas que englobam desde o cerradão até a vegetação característica de solos hidromórficos, além de sistemas lacustres (Figura 29), resultando num laboratório vivo amplamente explorado pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) desde 1986. Em 1993 estabeleceu-se um termo de cooperação científica que perdura até o presente. Desde então a burocratização envolvida nesta parceria cresceu muito e com a Lei que restringe a assinatura dos convênios ao governador, a regularização desta cooperação entre a Universidade e a Estação Ecológica de Jataí ficou prejudicada. 315 Figura 29. Ambiente lacustre da Estação Ecológica de Jataí, com abundante avifauna característica. Devido a vocação da área para a pesquisa a atividade vem crescendo, inclusive ampliando sua interação com outras universidades como a UNICAMP, a USP (São Carlos, São Paulo, Ribeirão Preto e Piracicaba). Atualmente a Unidade conta com 51 projetos de pesquisa: 32 do IF; 01 do IB; 13 da UFSCAR; 03 da USP e 02 UNESP. Possui e mantém ainda o que é considerado áreas de apoio á pesquisa: 03 pomares de sementes; 02 bancos clonais; 12 populações bases; 04 testes de procedência; 02 teste de origens. É a unidade com maior quantidade de atividades do então Programa de Melhoramento Genético Florestal do IF. Para facilitar o controle e fiscalização, todos os pesquisadores atuando na unidade possuem identificação emitida pela direção. Segundo a direção, ainda que causem algum transtorno administrativo eles são essenciais para desenvolver os conhecimentos sobre a unidade e sua simples presença auxilia na fiscalização e proteção da área. Várias são as teses acadêmicas na área de Educação Ambiental, florística, fitossociologia, botânica, planejamento, fauna ameaçada de extinção, etc. Uma das principais é uma tese de doutoramento da UFSCAR que aborda o planejamento da unidade, porém considerando a possibilidade de unir as Estações Ecológica e Experimental em uma só, dentro da categoria Parque. Essa proposta vem ao encontro do manejo dos recursos, e em prol da conservação da biodiversidade. Apresentada primeiramente ao Instituto Florestal, pretende-se a criação do Parque Estadual de Jataí resultante da recategorização dos 4532,18ha 316 da Estação Ecológica do Jataí mais a área contígua de 6.267,73ha que constituem a Estação Experimental de Luiz Antônio. A proposta alberga ainda a pretensão de formar um corredor que estabeleça conexão com a gleba Pé-de-Gigante, integrante do Parque Estadual de Vassununga, que dista cerca de 5km da EEcJ. Algumas atividades no entorno da Estação Ecológica de Jataí são demasiado impactantes, como é o caso de portos de areia no rio Mogi-Guaçu, nos limites da UC, que tem provocado danos às margens do rio e aumentando o assoreamento local. Neste sentido a direção, juntamente com técnicos da UFSCAR, instruíram o DEPRN para a não emitir licenças para esta prática no local. Outro problema sério é a poluição do Rio Mogi, que ocasionalmente provoca mortandade de peixes com reflexos diretos sobre a biota da Estação. Se por um lado a Estação Ecológica está rodeada de grandes empresas e latifúndios que geram uma arrecadação mensal municipal em torno de R$ 1.800.000,00 (um milhão me oitocentos mil reais), montante expressivo para um município com menos de 10 mil habitantes, por outro suas atividades são impactantes para a unidade. Na tentativa de minimizar os problemas, licenciamentos para ampliação das atividades dessas empresas, num raio de 10km, tem sido negados para certas atividades em conformidade à Resolução CONAMA nº13/90. A involução do quadro de funcionários é marcante: Ano Número de funcionários 1975 113 1980 85 1985 66 1990 58 1995 45 1999 23 2001 22 Com esta realidade e sem a participação das universidades seria impossível o desenvolvimento das atividades de uso público e de pesquisa, incluindo um trabalho inovador na área de educação ambiental, que utilizando uma abordagem metodológica especifica se propõe à capacitação dos professores de todas as disciplinas da rede pública de ensino fundamental do entorno. Este trabalho é levado a diante por pessoal ligado à Universidade. 317 Para balancear a falta de funcionários, um fato que facilita a fiscalização é a UC possuir um único acesso para entrada de veículos, embora caçadores e pescadores acessem a periferia da Estação Ecológica por outros caminhos. A pesca parece ser muito tradicional, haja vista um dos lagos ser muito assediado pelos infratores. A fiscalização é feita usando-se motos nas estradas perimetrais e internas, porém não foi possível perceber um sistema eficiente e/ou sistemático. Há um sistema de trilhas aproveitando as estradas internas da Unidade, cujo uso se dá somente de maneira monitorada. Pode ser um contra-censo existir trilhas e alguns usos recreativos nesta categoria de manejo, mas na verdade a unidade está sendo manejada como Parque e não como Estação Ecológica (Figura 30). Figura 30. "Deck" de observação em uma trilha da Estação Ecológica de Jataí. Segundo relatos do pessoal da CESP e informações do Diretor da UC, a reintrodução e/ou relocação dos cervos do pantanal capturados nas margens do rio Paraná por ocasião da construção das UHE obtiveram excelentes resultados na Estação Ecológica de Jataí, fato não verificado em outras localidades, o que reforça a vocação da área para a conservação da biodiversidade. A unidade alcançou 71,92 pontos e sua gestão classificada como de Padrão de Qualidade Elevado. 320 4.6.16 Parque Estadual Vassununga Diretor: Everton José Ribeiro. Engenheiro. Instituto Florestal. Tempo na UC: desde 1996 O Parque Estadual de Vassununga está munido de adequada infraestrutura para o desenvolvimento das atividades do Programa de Uso Público. Conta com moderno Centro de Visitantes que detém salas para recepção, exposições, auditório e escritório para administração, além de sanitários. Os recintos encontramse devidamente equipados para o bom funcionamento e a recepção dos visitantes. Essa obra, assim como a rede elétrica e o celular rural, foram adquiridos com verba do rodízio, onde a arrecadação foi em parte destinada a implantação de UCs, contempladas com o programa. A única limitante é a falta de funcionários, que resume-se em três, sendo um o Diretor, e os outros dois vigias, estes em desvio de função pois os mesmos realizam atividades de guardas-parque sem ser. Essa deficiência deve ser minimizada pelo menos em parte, com a promessa de contratação de recursos humanos, pela Prefeitura Municipal de Santa Rita, o qual será destinado a trabalhar no Parque. Enquanto isso não ocorre, é o pessoal da Estação Experimental de Santa Rita que acaba responsabilizado pelas atividades do Parque. A recém inaugurada, trilha auto-guiada denominada dos "Jequitibás", conta com uma bom trabalho interpretativo através de placas e painéis e equipamentos que facilitam a visita como deck de observação, guaritas, sanitários e lixeiras que permitem ao visitante percorrer a trilha sem monitoramento e no entanto usufruir ao máximo dos seus recursos naturais, recebendo ainda informações relevante sobre aquele ecossistema, como suas características, suas peculiaridades e as suas aparentes idiossincrasias. O destaque da trilha é o imperioso jequitibá-rosa, com mais de três metros de diâmetro (Figura 31). Tanto o centro de visitantes (CV) como a Trilha dos Jequitibás, foram concebidos graças ao esforço que a direção empreendeu junto ao IF, FF, Prefeitura de Santa Rita, Usina Santa Rita, Autovias e Codasp, demonstrando a inserção local do Diretor e Chefe de Seção no destaque da importância da UC para a região. O CV foi construído graças a verbas obtidas do Programa Rodízio, o que indica iniciativa para a obtenção de recursos alternativos. 321 A unidade é formada por 5 glebas a saber: Capetinga Leste, Capetinga Oeste, Maravilha, Praxedes e Pé-de-Gigante. Com exceção da gleba Péde-Gigante as demais são cobertas por vegetação típica da Floresta Latifoliada Tropical Semi-Decídua. Oficialmente toda a unidade possui 1732,14ha conforme decreto de criação, mas de acordo com medições mais recentes a área exata é 2045,06ha, sendo que a gleba pé-de-gigante sozinha é maior que a soma das demais. Apesar dessa fragmentação possui a mais bela população, os maiores e mais vistosos exemplares de Jequitibá Rosa - Cariniana legalis (Martius Kuntze) além do cachorro do mato vinagre - Speothos venaticus (Lund) considerado criticamente em perigo. Figura 31. Jequitibá-rosa, Cariniana legalis (Martius Kuntze), com mais de três metros de diâmetro na trilha homônima. Essas glebas são pequenos fragmentos de vegetação nativa, cujo entorno é constituído basicamente de plantações de cana e laranja, com utilização de agrotóxicos potencialmente agressivos à biota. Outra ameaça potencial é a rodovia Washington Luis, haja vista a possibilidade de ocorrerem acidentes que possam atingir os recursos protegidos, fato que impõe à administração trazer água 322 potável da Estação Experimental de Santa Rita, que dista cerca de 10Km e também é administrada pelo mesmo técnico. Há uma considerável pressão da população para abertura dessas glebas à visitação pública, como é o caso das glebas Capetinga Leste e Oeste, nas quais ocorreram a implantação de toda infra-estrutura para atender a visitação pública. Embora atender o público e proporcionar recreação, lazer e interpretação da natureza esteja entre os objetivos de manejo de um Parque Estadual não se deve olvidar, como sabiamente coloca o Diretor do Parque, que não se pode super valorizar o programa de uso público em detrimento de problemas gravíssimos ao qual esta submetida essa Unidade de Conservação, como o isolamento das glebas, o efeito de borda e a proliferação desordenada de cipós no interior das matas. Ao gestor dessa Unidade, resta a premissa de resgate da integridade ecológica dessas glebas, com o pesar de que se isto não for considerado estes fragmentos se desintegrarão e deixarão de existir como representantes dos remanescentes de ecossistemas do Estado de São Paulo. É um desafio que deve ser encarado com seriedade pelo IF e pelo Estado . Esse Parque tem sua questão fundiária bastante confusa pois, segundo seu Diretor, o Estado pagou duas vezes pelas mesmas glebas, excetuando-se a gleba Pé-de-Gigante, e não detém a sua posse, ainda hoje nas mãos da Usina Santa Rita. O caso é objeto de estudos da A.E.P. (Assessoria de Estudos Patrimoniais) do Instituto Florestal e com destino à Procuradoria Geral do Estado. Já a gleba Pé-de-Gigante é objeto de demanda com a USP, que entende ter sido este fragmento desapropriado no passado para sua administração e o desenvolvimento de projetos de pesquisas; entretanto nunca a USP assumiu efetivamente a área, que está sob a guarda e manejo do Instituto Florestal desde a sua incorporação ao Parque em 1981, questões conflitivas que estão sendo contornadas e esclarecidas pela direção local. Funcionários relataram que há uma certa barreira de comunicação entre eles e a direção, fundamentalmente em razão da linguagem usada, que dificulta o entendimento entre as partes. Mas provavelmente este problema exista em função da total falta de recursos humanos, materiais e financeiros que mantém o Diretor em constante embate por meios, muito comum em tais circunstâncias. Ou o “desapoio” ao campo, como já relatado mais atrás. 323 Há evidências de parcerias com a Usina Santa Rita, que doa cerca de 80 litros de álcool semanalmente e auxílios na vigilância de possíveis incêndios; a empresa que administra a rodovia Washington Luiz, a Autovias, auxilia na construção de aceiros e recentemente a Codasp, que foi empreitada pelo IF para construir e melhorar as estradas da unidade, doou algum tempo excedente de horas máquinas para a implantação da Trilha do Jequitibá e o Centro de Visitantes. Frente aos vários problemas enfrentados pela direção da unidade, a gestão obteve 44,71 pontos e a gestão como de Padrão de Qualidade Inferior. 326 4.6.17 Parque Estadual de Porto Ferreira Diretor: Marlene Tabanez. Psicóloga Pesquisadora Científica. Instituto Florestal. Tempo na UC: Desde 1998 O Parque Estadual de Porto Ferreira é uma área de 611,55ha, abriga remanescente de Floresta Latifoliada Tropical Semi-Decídua, cujo entorno, como no PE Vassununga, é tomado por plantios de cana e laranja com elevada utilização de agrotóxicos. Em razão de seu diminuto tamanho, a forma e a insularidade a que está sujeito, o fragmento que compõe o Parque caracteriza-se por elevado efeito de borda, nas quais vicejam abundantemente cipós e taquaras, espécies típicas de ambientes antropizados. O interior da unidade também apresenta tais características, sendo encontrado na floresta manchas de vegetação nas quais imperam e se dispersam as taquaras, que por serem tão agressivas necessitam serem destocadas. Mas apesar de ser urgente esta tarefa não foi executada e não é prioridade em razão de não haver recursos disponíveis para este fim. Estes fatores, relacionados à ecologia local, acabaram por impossibilitar iniciativas visando a implantação de trilhas interpretativas na mata, entretanto estes somados à falta de informações sobre a área fizeram com que a direção optasse por uma programação baseada nos caminhos existentes conformados por antigas estradas e aceiros. Até há cerca de 4 anos atrás a UC não estava aberta à população e tampouco recebia visitação. Atualmente há uma grande procura e as visitas são agendadas para somente às terças e quintas-feiras em razão da indisponibilidade de pessoal (Figura 32), o que também facilita o manejo dos visitantes e os possíveis impactos deste uso sobre os recursos protegidos. O uso das trilhas se dá sempre monitorado. O sistema de trilhas aproveita as estradas internas do Parque e são muito accessíveis; não são auto-guiadas e nem possuem placas interpretativas, mas inicia-se um trabalho neste sentido. A trilha das Arvores Gigantes, por exemplo, é fantástica e realmente possui grandes e belos exemplares de jequitibás, paineiras, peroba-rosa, entre outras. A UC poderia estar recebendo muito mais comodamente seus usuários se a construção do Centro de Visitantes iniciada em 1994 não fosse abandonada no passado. Atualmente e em face da repercussão positiva da inauguração do atual Centro de Visitantes (CV) e Trilha do Jequitibá no PE Vassununga e a pressão da comunidade de Porto Ferreira, a direção tenta motivar os dirigentes do IF a investirem nesta obra. 327 Figura 32. Uso público no Parque Estadual de Porto Ferreira. As obras do CV foram retomadas, mas os materiais em uso foram obtidos através da iniciativa da equipe de elaborar um ‘dossie’ sobre o Parque e pleitear junto à comunidade os materiais necessários para termino da obra. Isso já resultou na arrecadação de todo o cimento necessário (oriundo da comutação de penas criminais pela Promotoria Pública), o piso externo foi cedido por uma cerâmica da região e a Prefeitura Municipal, entre outras benfeitorias, construiu e instalou um poço semi-artesiano para o edifício. Nesta mesma linha obtêm-se auxilio das empresas Centro Vias e da Usina Santa Rita, que respectivamente mantêm o aceiro externo do Parque nos limites com a rodovia e a doação de uma cota de álcool periódica. A área não possui plano de manejo e carece dos estudos e levantamentos básicos que dêem suporte às atividades rotineiras de planejamento operacional. Para sanar esta lacuna, a direção obteve financiamento do Fundo Nacional para o Meio Ambiente (FNMA) visando a elaboração do Plano de Manejo da Unidade, porém há quase um ano o processo está paralisado em decorrência de entraves burocráticos por parte de instâncias da SMA, que não providenciam a documentação solicitada pelo órgão doador. A sede da UC localiza-se às margens de uma rodovia e constitui-se de escritório administrativo, almoxarifado, garagens e a antiga casa do Diretor, que foi adaptada como Centro de Visitantes. Sua localização e a falta de segurança facilitou a ocorrência de um grande assalto à mão armada em 04 de janeiro de 2001, quando então os 12 residentes da sede, funcionários e familiares, foram detidos e mantidos como reféns por uma noite inteira. Há um ressentimento por parte de alguns funcionários, pois os mesmos julgam não terem recebido o devido apoio das 328 instâncias superiores da Sede Central, principalmente moral. Por ocasião deste grave incidente todos os funcionários que residiam na sede abandonaram suas residências e foram para a cidade, o que também aumentou a despesa da UC com transporte de pessoal diário. O pessoal constitui-se em 12 funcionários, sendo que três são técnicos de nível superior, incluindo a Diretora que possui especialização em educação Ambiental. Fato curioso a UC não contar nem com Vigias e nem Trabalhadores Braçais, pois todos os funcionários enquadram-se nas carreiras de pesquisa, aspecto que provoca a resistência de alguns funcionários que relutam em realizar certas tarefas. Assim, as atividades dos poucos funcionários são definidas por setores (pesquisa, uso público, administração e manutenção) segundo organograma previamente definido, e planejadas de acordo com as demandas e as programações projetadas, levando as tarefas a serem executadas usando-se o artifício do mutirão. Apesar de não haver vigias ou guardas-parque há evidências de caça, que se coíbe pelo esforço de um ou outro funcionário. O Quadro de recursos humanos existente e a falta do Centro de Visitantes adequado não permitem a abertura da área à visitação pública, nos finais de semanas e feriados, o que segundo a chefia causa alguns problemas e constrangimento com o público. Há um entendimento pela administração do Parque, que é inadmissível a essa categoria de manejo ficar fechada para a comunidade. Portanto é o desafio mais premente a ser enfrentado juntamente com a viabilização dos estudos necessários à elaboração do Plano de Manejo. Os experimentos de pesquisadores do Instituto Florestal tem sido mantidos pelo trabalho na forma de mutirão, assim como a unidade presta apoio logístico aos projetos implantados por pesquisadores externos, em áreas do conhecimento como fauna e dendometria. As pesquisas em parceria com outras Instituições está só começando mas promete benefícios para ambos os lados. Não foi possível verificar as condições da frota de veículos e máquinas, mas tomou-se ciência que a manutenção é bastante comprometida e falta combustível para todas as atividades essenciais. A UC recebeu 49,86 pontos e sua gestão classificada como possuidora de um Padrão de Qualidade Inferior. 330 4.6.18 Parque Estadual do Juquery Diretor: Lucy Schaeffer, Executiva Pública, IF Tempo na UC: Desde 1998 O Parque contém os últimos remanescentes de Cerrado e Campo Cerrado da região metropolitana, rica em mananciais hídricos que integram o Sistema Cantareira de abastecimento de água e responsável por 56% do abastecimento de água da região metropolitana da cidade de São Paulo. Possui situação fundiária totalmente regularizada e a sede ocupa um complexo de prédios antigos que no passado abrigou um famoso sanatório. Até muito recentemente os prédios estavam completamente abandonados e o matagal crescia por toda a parte, encobrindo e danificando o que se pode considerar um acervo histórico. Após a designação de uma Diretora de tempo integral para a unidade as coisas começaram a mudar e hoje pelo menos 2 dos 5 prédios principais foram restaurados, abrigando o escritório administrativo, almoxarifado, sala de reuniões, etc. As referidas reformas dos prédios, bem como os equipamentos e facilidades existentes, foram possíveis graças à compensação financeira promovida em decorrência da duplicação da Rodovia Fernão Dias em áreas do PE Cantareira. Em termos de pessoal, conta com 12 funcionários da Secretaria da Saúde, lotados no Hospital Juquery, e cerca de 35 trabalhadores da Frente de Trabalho, estes últimos já a um ano. Ou seja, o pessoal que trabalha na UC, excetuando a Diretora, não possuem nenhuma tradição nas atividades relacionadas a um Parque, desconhecendo quase que totalmente os afazeres de um Parque; some-se a isto que nunca se sabe se o pessoal disponibilizado pela Frente de Trabalho irá ou não permanecer no serviço. Ou seja, a unidade não possui uma dotação própria de RH. A propósito, em 1999 a administração contou com 75 trabalhadores da Frete de Trabalho, quando implementou-se a restauração dos prédios e jardins da atual sede. Apesar de possuir dois pequenos caminhões, dois jeeps e duas motos apenas um único veículo encontra-se funcionando em decorrência da não aprovação dos orçamentos solicitados ou o desestimulo promovido pela demora dos tramites processuais orçamentários. A verba para a aquisição de combustíveis é irrisória, não mais que R$250,00/mês, para um Parque com 2000ha inserido nos municípios de Franco da Rocha, Mairiporã e Caieiras, com um entorno totalmente 331 urbano que abriga cerca de 400.000 habitantes. Em relação à questão financeira a Diretora informa que há a necessidade de muito corpo-a-corpo e desgaste pessoal e profissional para a obtenção de pouco retorno institucional, alertando ainda que a direção personalizada impera na atualidade pois se não houverem amigos seus nas instâncias superiores de decisão a unidade não executa as metas delineadas. Em parceria com organizações locais, a administração da área conseguiu aprovar no ano de 2000 um projeto no FEHIDRO no valor de R$209.000,00, entretanto o sistema administrativo do IF não conseguiu agilizar algumas licitações indispensáveis à solução do Projeto, e por este motivo sua execução está momentaneamente paralisada. Os usos atuais dados a unidade abarcam as seguintes atividades: aeromodelismo, inclusive com uma pequena pista para a atividade, ciclismo e moutain-bike, futebol e caminhadas ao ar livre aproveitando o imenso sistema de caminhos internos, uma herança do antigo Hospital Juquery. Ocasionalmente ocorre a recepção a grupos escolares. Alguns técnicos julgam a atividade de aeromodelismo imprópria, entretanto ela está circunscrita a uma área muito bem definida, onde em primeira instância não causam quaisquer impactos à biota. Muito embora hajam os usos citados a UC não conta com pessoal treinado para manejar adequadamente tais usos, o que vez por outra ocasiona comportamentos inadequados à preservação do Parque. Antes de haver uma mínima equipe e uma diretoria legitima ocorriam os mais diversos usos incompatíveis com categoria Parque tais como: pista de pouso para pequenos aviões, que foi interditada fisicamente em 1999; coleta sistemática de recursos do cerrado, despejo de lixo em locais específicos, desova de cadáveres, cultos religiosos, motocross e trilheiros, caça e pesca entre outros. Ainda hoje pode-se observar os danos causados pelos trilheiros, que deixaram grandes cicatrizes e voçorocas por onde passavam rotineira e livremente (Figura 33). Para coibir tais usos, principalmente dos mais impactantes (trilheiros), foi necessário um trabalho de corpo-a-corpo aos sábados e domingos e uma boa inter-relação com organismos de atuação local, tais como a Policia Florestal e o 26o Batalhão da Policia Militar. Estes usos indevidos foram agentes de grandes e constantes incêndios que impediram uma melhor regeneração dos cerrados nas áreas que o então Hospital Juquery destinava às culturas agrícolas; eucaliptais no interior e 332 periferia da unidade são resquícios desse tempo, mas essas espécies exóticas não são disseminadas como em outras regiões do Estado, a exemplo da Estação Ecológica de Itirapina, talvez em decorrência das condições ambientais reinantes no lugar. Assim, estes elementos exógenos são relegados à própria sorte, vez que em sub-bosque vem ocorrendo agressiva regeneração e sucessão da vegetação nativa. Figura 33. A Diretora do Parque Estadual Juquery mostrando a vegetação da unidade e as erosões provocadas por antigos praticantes de motocross. Uma das maiores ameaças aos recursos protegidos no PEJ, senão a maior, ainda é a ocorrência de incêndios nas épocas secas. Apesar de haver uma Escola de Bombeiros contígua à área e próxima da sede estes quase nunca auxiliam no combate ou prevenção de incêndios. Outro grave problema é a existência de uma unidade da FEBEM muito próxima à sede e na qual, em diversas ocasiões, ocorreram rebeliões bastante violentas que alteram totalmente a rotina de trabalho do parque. O medo é uma constante entre os residentes das proximidades e da sede do Parque. Entretanto, a direção da unidade ressalta que provavelmente a falta de apoio sistemático e eficaz por parte da Instituição, cujos técnicos e direção quase nunca se mostram presentes, talvez seja o maior problema e ameaça à unidade. Poucas são as pesquisas em desenvolvimento, ainda que a área seja tão próxima de São Paulo. Em contrapartida recentemente iniciou-se um processo de planejamento participativo levado a cabo por uma equipe interdisciplinar do IF, já ocorrendo as primeiras reuniões com componentes da comunidade do entorno. A UC obteve 39,25 pontos e sua gestão classificada como de Padrão Muito Inferior. 334 4.6.19 Parque Estadual do Jurupará Diretor: Sueli Herculiani. Pedagoga. Fundação Florestal. Tempo na UC: desde de 1997 como Diretora, mas trabalha na unidade desde 1992. A unidade dista a uns 70km da cidade de São Paulo, indo pela BR-116, percorre-se cerca de 20km, por estrada vicinal cascalhada. Apesar de bem conservada pela Companhia Brasileira de Alumínio, a estrada de terra incomoda em razão das pedras de grande diâmetro utilizadas em seu piso. A unidade não possui visitação pública e ainda é desconhecida da população, apesar de encerrar belas paisagens e uma exuberante floresta tropical em bom estado de conservação. Atualmente esse patrimônio é explorado através de dez (10) projetos de pesquisas, em desenvolvimento na Unidade. Mediante ações de danos ambientais a diretora obtém alguns benefícios para o Parque, como o viveiro de mudas e a aquisição de insumos para funcionamento do mesmo resultante de uma ação reparadora. Outro exemplo é a aquisição de um trator, uma camionete traçada e um veículo sedam, este último subtraído da unidade pela direção central do IF, obtidos também por compensações ambientais que tem como beneficiário o Parque. Estas práticas, de inserir o Parque como beneficiário nos laudos ambientais, bem como as tratativas para sua regularização fundiária, demonstram iniciativa da direção da unidade, cuja maior deficiência está no fato da mesma não residir na unidade ou próximo dela. Apesar disso a efetiva implantação da área tropeça na instabilidade política do Instituto Florestal. Os recursos humanos do Parque constituem-se em 10 funcionários, efetivos do Estado, admitidos através de concurso público em 1994. Os funcionários detêm grande conhecimento da região e desenvolvem atividades que se restringem a fiscalizar e manter o patrimônio de uma área com 26.250,47 ha. Dos 10 funcionários, 06 são nativos e residentes no interior do Parque, em suas terras ainda não indenizadas. O conceito de Parque não é bem compreendido pelos funcionários, o que é perfeitamente compreensível tendo em vista o histórico gerencial. Segundo a diretora, a gestão da área iniciou-se com a sua criação em 1992, quando então havia 22 funcionários; esses funcionários foram submetidos a um processo de avaliação inadequado, seguido da falta de treinamento após assunção dos cargos. Tais acontecimentos, aliados às precárias condições de trabalho, à ausência de um 335 diretor em tempo integral no local e a intervenção desfavorável da Divisão de Reservas e Parques Estaduais exonerando funcionários à revelia da administração, foram as causas da desmotivação e esfacelamento da equipe atual. O Parque criado em 1992, conforme citado, era desde 1978 Reserva 0 Estadual do 2 Perímetro de São Roque. Desde sua criação tiveram início as ações de desapropriação, que continuam acontecendo ainda hoje, sendo este um dos maiores desafios para gestão da área, a qual encontra-se como uma colcha de retalhos. Excluindo-se as 35 famílias ‘nativas’, existem atualmente na UC cerca de 1.000 ocupações oriundas de especuladores e oportunistas residentes das cidades que desejam uma casa no campo destinada ao lazer e ao veraneio, uma relação com os recursos totalmente adversa daquela da população de nativos. Ainda existiria além dessas duas categorias de ocupantes uma outra, que seria bem mais reduzida e variável, constituída por pessoas sem qualquer vínculo com a área que se instalam por falta de moradia e trabalho até que encontrem outra opção. A UC é 100% de propriedade do Estado, pois é formada por terras devolutas, no entanto somente 10% é de posse do Estado, estando os demais 90% na mão de ocupantes. Essa situação chegou a esse ponto devido a algumas falhas da Procuradoria Geral do Estado-PGE, que por ocasião da criação do Parque não recolheu todos os títulos das terras, permitindo que muitas propriedades fossem vendidas e comercializadas livremente sem qualquer tipo de impedimento. A direção informou que tal situação só mudará com o trabalho integrado das organizações que devem fazer o levantamento e cadastramento das propriedades, quais sejam IF, Fundação Instituto de Terras de São Paulo-ITESP, Procuradoria Geral do Estado e Procuradoria do Patrimônio Imobiliário do Estado. Isto feito seria preciso destinar recursos financeiros para a indenizar os ocupantes de "boa fé" e fazer cumprir a legislação pertinente ao assunto. Segundo os relatos, o maior impedimento é de ordem política, pois não há diretrizes políticas efetivas para tratar dos conflitos de terra. O patrimônio natural dessa U.C. é de valor inestimável e a abundância de água, bem como sua proximidade com a cidade de São Paulo, incluíram-na no Plano de Abastecimento de Água da Cidade de São Paulo, vigente desde de 1990 (Figura 34). 336 Figura 34. Represa do França pertencente à CBA no interior do Parque Estadual Jurupará. Apesar da potencialidade da UC estar voltado para a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade, desenvolvimento de pesquisas científicas, seus atributos turísticos, a abundância dos recursos hídricos e estar localizada no contínuo ecológico composto pela APA da Serra do Mar, PE de Carlos Botelho e a Serra do Cafezal (PETAR, PE de Jacupiranga e o PE de Intervales), a área esteve literalmente abandonada de 1978 à 1992, ou seja por mais de 13 anos. A unidade está sendo inserida no PPMA (Programa de Preservação da Mata Atlântica) a partir de 2001, mas hoje a direção da unidade encontra muita dificuldade para resgatar e conseguir a liberação dos recursos depositados no Fundo Especial de Despesa oriundos dos diversos laudos de danos ambientais que propõem o Parque como beneficiário de compensações por crimes ambientais. A infra-estrutura do Parque constitui-se de uma pequena base operacional, um barracão/almoxarifado e uma residência para funcionário. Não há luz elétrica, embora a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) tenha uma usina a 4,5km da sede e tenha oferecido a instalação tal facilidade para o Parque. A direção aguarda a solução para a malha fundiária antes de empreender e aceitar tal benefício, pois isto faria com que todas as propriedades em situações irregulares também se beneficiassem, contribuindo para uma estruturação mais sólida desses ocupantes. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) possui 11 barragens ao longo do rio Jequié, que corta o parque, sendo que pelo menos três delas são limítrofes e uma localiza-se dentro do Parque. Estas barragens e usinas proporcionam uma certa proteção aos recursos do Parque haja vista que as mesmas 337 são controladas por guaritas por onde passam somente veículos autorizados. Outro aspecto relevante é que as usinas precisam garantir a produção de água em quantidade, fato que empresta às matas do Parque uma importância estratégica de longo prazo que deve ser aproveitada pela direção da UC. Contudo, a UC obteve 41,64 da pontuação e sua gestão classificada como de Padrão de Qualidade Inferior, no limite inferior da classe.. 340 4.6.20 Parque Estadual do Jaraguá Diretor: Vladimir Arraes de Almeida, Assistente Técnico de Apoio A Pesquisa, IF Tempo na UC: Desde 1998 O PEJ é uma unidade com apenas 496ha, criada em 1961, com situação fundiária solucionada e sem invasões de seus domínios, com limites bem definidos por capina constante, mas com todas as características e problemas de uma unidade de conservação inserida no contexto urbano. A sede esta ‘enfiada’ num canto da área de uso público intensivo administrada pela Secretaria de Esportes e Turismo, na base do pico do Jaraguá, aonde se aglomeram duas casas de funcionários, um almoxarifado improvisado e uma casa que abriga a administração e outras atividades programáticas (uso múltiplo), faltando então espaço físico para as ampliações que em breve poderão ser necessárias como para um centro de visitantes, garagens, almoxarifado e escritório. O fato de não possuir hospedaria não é problema, pois esta falta é suprida pelo Albergue da Juventude contíguo. Um dos problemas para a gestão da unidade é a existência das incrustações da Secretaria de Esportes e Turismo nos dois pontos de maior visitação, um na entrada da sede administrativa do PEJ e outro no pico do Jaraguá, onde ficam as antenas de comunicação (Figura 35). Figura 35. Alto do Pico do Jaraguá com seu complexo de torres de comunicação. Com uma média de visitação de 5000 pessoas por fim de semana, o controle é bastante dificultado por serem dois focos de atendimento ao público e o 341 enfoque da SET estar voltado para o turismo de massa. As dificuldades são potencializadas haja vista que não há um bom acerto interinstitucional entre SMA e SET para a tarefa de fiscalizar, controlar e proteger usuários e patrimônio, o que com certeza é uma das causas de ocorrerem tantos acidentes pessoais e danos ao patrimônio público. Por exemplo, em ambas as áreas de visitação deveria ser proibida a venda de bebidas alcoólicas, porém este uso tem a parcimônia da SET, o que já resultou em acidente fatal. Outro fato que demonstra a necessidade urgente de um melhor arranjo interinstitucional para a gestão do PEJ é a rodovia que dá acesso ao Pico. A mesma passa diante da área de recreação da SET e da sede do Parque, situadas na base do Pico, mas nenhuma forma de controle de acesso ao cume é realizada pois a estrada é administrada pelo DER. Ao longo da mesma é praxe ocorrerem usos irregularidades e que põem em risco os recursos protegidos no Parque, sendo possível observar enorme quantidade de lixo deixado pelos usuários, caminhos alternativos, pichações, etc. Como é um parque urbano as pressões para o uso público são muito grandes. Muito embora a unidade conte com número razoável de funcionários, 33 ao todo, ele é meramente fictício pois apenas 09 são do quadro permanente do Estado e 24 são contratados na modalidade “serviço de terceiros”. Assim, a direção sofre a ameaça constante de a qualquer momento ter que paralisar suas atividades, a exemplo do que ocorreu em fins de junho/2001 quando recebeu a notícia de que os contratos não seriam renovados, mas prorrogados por apenas mais dois meses em razão da falta de recursos orçamentários no Instituto Florestal. Este tipo de situação demonstra a necessidade das UCs terem um Quadro mínimo de funcionários em regime de tempo integral, designados para a gestão da unidade ou o seu total controle quando alguns serviços são terceirizados. No PEJ a falta de recursos é uma situação sui generis já que a unidade deveria estar sendo mantida com os recursos advindos do pagamento das concessões para a operação de antenas no pico (Exército, TV Globo, TV Record, Telesp Celular, Banco BCN-Bradesco, TV Bandeirantes). Infelizmente toda a quantia depositada no Fundo Especial de Despesa do IF esta bloqueada pela Secretaria da Fazenda pois não há um entendimento sobre a quem pertence o dinheiro. Em razão da falta de empenho e negociações envolvendo as partes interessadas e o uso de estratégias de convencimento mais agressivas, cerca de R$2.500.000,00 (Dois 342 milhões e meio de reais) estão indisponíveis para a gestão do PEJ e outros gastos institucionais, uma cifra considerável comparado ao orçamento do Instituto para 2001. Uma solução, talvez a única no atual cenário, seja o pagamento das concessões através do fornecimento de serviços, equipamentos e outras necessidades materiais para a gestão da unidade. A construção do RodoAnel da cidade de São Paulo possibilitou o ganho de 3000 metros de alambrado, a ser usado nos trechos críticos mais urbanizados do entorno, e a aquisição de uma caminhonete cabine dupla, além da incorporação de 8ha de mata à unidade, a serem repassados pelo DERSA. Apesar de pequena e se localizar em um ambiente urbano muito conturbado, no qual imperam problemas desde trafico de drogas a loteamentos ilegais, mantém um bom vinculo com instituições de pesquisa e ensino, que privilegiam os estudos nas áreas biológicas e uso público. Por exemplo, não há plano de manejo ou perspectiva para sua elaboração, mas a direção da unidade mantém um bom relacionamento com universidades da região: o Programa de Pós Graduação da UFSCAR tem realizado um trabalho de levantamento de informações básicas, originando o que poderia ser intitulado de Planos de Manejo Fase I e parte da Fase II, segundo a metodologia desenvolvida pelo IBAMA (1998). No que tange ao Programa de Uso Público, há um bom monitoramento sobre os usuários e os usos, tarefa que detectou um elevado índice de vandalismos aos bens públicos, essencialmente às placas de sinalização visando a segurança do usuário. Nos finais de semana e feriados a direção conta com a ajuda voluntária do Grupamento Voluntário de Socorristas e Resgate e do Serviço Voluntário de Bombeiros Civis, que inclui um médico e um enfermeiro, essenciais devido aos constantes acidentes observados em decorrência do uso indevido das trilhas e de outros locais abertos à visitação. Muito embora possua monitores e guias e apesar do auxilio prestado pelos grupos de voluntários estes não realizam o controle do usuário por falta de autoridade sobre os mesmos; esta tarefa cabe a apenas 4 vigias para controlar os cerca de 5000 visitantes semanais, o que na realidade não é feito com a eficiência devida. Um dos problemas da visitação é que ela se concentra em apenas duas áreas, não há um controle de portaria e nem condições de dispersá-la. Um aspecto muito positivo do parque é a existência do boletim informativo De Olho no Pico e o material didático O Senhor dos Vales, que abordam 343 aspectos ecológicos e eventos da unidade, iniciativa da direção e voluntários para o saneamento de lacunas do programa de educação ambiental. Em relação a este programa, a unidade possui um técnico de nível superior para a sua coordenação, contando com diversas atividades dentre elas a realização de palestras nas escolas para posterior visita ao parque. Com tamanha visitação e com a falta de vigilância adequada alguns sítios do Pico do Jaraguá estão submetidos à constantes queimadas e incêndios, um problema que aflige também as concessionárias das antenas de comunicação. Apesar dos problemas deste parque urbano os recursos orçamentários a ele destinado são irrisórios, haja vista que em alguns momentos as atividades são momentaneamente paralisadas pela falta de combustível. Além disso, a direção da UC sente a falta de maior apoio da sede tão próxima. Com todo esforço da direção e funcionários, a UC obteve 46,64 e a sua gestão foi classificada como de Padrão de Qualidade Inferior, carecendo de investimentos, ações e atitudes para galgar o próximo nível de qualidade. 346 4.6.21 Parque Estadual da Cantareira Diretor: Katia Mazei, Assistente de Apoio a Pesquisa. Instituto Florestal. Tempo na UC: Desde 1998 O PEC é uma das mais antigas unidades do IF e talvez a mais visada por estar junta à sede do IF e incrustada na capital de São Paulo. Possui cerca de 8.000ha, com situação fundiária totalmente resolvida e limites físicos bem definidos, o que com certeza ainda garante sua permanência. É considerada por alguns especialistas a maior floresta natural urbana do mundo (Figura 36). Figura 36. Aspecto da vegetação Campos) do Parque Estadual da Cantareira. (Fausto Pires de Por estar na periferia da maior cidade do país sofre todo tipo de ameaça e problemas externos tais como loteamentos clandestinos e ilegais no entorno, trafico de drogas, desova de cadáveres, incêndios, danos generalizados ao meio ambiente, caça, deposição de lixo, etc., além da insularização a que foi sujeito. Mas em razão da proximidade com a sede do IF e da sua importância como produtora de água para a metrópole, um dos mais graves problemas sofridos é a ingerência administrativa pela direção do Instituto Florestal e de outros setores e escalões da Secretaria do Meio Ambiente. É interessante que este fator é uma realidade histórica na gestão desta unidade sendo reportado por outrens que por ali passaram, cuja freqüência e intensidade geralmente antecedem 347 os momentos das eleições partidárias. Por outro lado, também a imprensa em geral assedia a UC, o que é constatado pelas 106 reportagens realizadas de outubro de 1998 a junho de 2001. A ampliação da rodovia Fernão Dias possibilitou a implantação quase plena da unidade mediante a conformação de um convênio visando a indenização pelos danos provocados pela obra. Anteriormente a unidade já havia sido agraciada por recursos oriundos de um convênio com a empresa Furnas (19871992) devido a passagem de uma linha de distribuição de energia sobre a floresta da Cantareira, o que contribuiu para a instalação física dos Núcleos Pedra Grande, Águas Claras e Engordador e a aquisição de equipamentos e materiais para sua complexa gestão. As dificuldades se fazem sentir na medida que o Estado, através do IF, não consegue manter os serviços básicos e essenciais para uma unidade de conservação, como por exemplo a proteção dos usuários e do patrimônio público. Isto acontece em razão da falta de recursos orçamentários destinados à manutenção de veículos e máquinas, ou pelo excesso de entraves burocráticos do sistema administrativo, resultando na total ausência de veículos destinados à fiscalização desde 30/12/1999, data solenemente registrada pela direção do parque. Há pelo menos seis meses consecutivos a unidade não conta com qualquer tipo de adiantamento regular oriundo do IF, a não ser o pagamento dos serviços de terceiros. Um aspecto que demonstra a fragilidade das políticas voltadas às áreas naturais ou, melhor dizendo, as dificuldades impostas pelas regras generalistas e extemporâneas dos governos é ilustrado pela impossibilidade do Parque poder usar os recursos advindos do DER (em razão das compensações ambientais decorrentes da ampliação da rodovia Fernão Dias) na aquisição de veículos pois um decreto estadual coibiu todas as compras após 1997, o que foi prorrogado até fins de 2001. Ou seja, dinheiro existe, mas não há como usá-lo. O PEC está aberto diariamente e recebe cerca de 2.500 visitantes por semana, divididos entre os três núcleos, mas com maior concentração no Núcleo Pedra Grande. Neste contexto a proximidade do Parque Estadual da Capital (Alberto Lofgren) é muito importante por se constituir numa atração alternativa para o público que deseja uma recreação mais ativa, concentrando os impactos de uma recreação mais popular. Há a cobrança de ingressos, mas o retorno de uma porcentagem do 348 que é recolhido aos cofres do IF não acontece como preconizado pela ética e, mais recentemente, pelo SNUC. A unidade conta com um plano de manejo datado de 1974 que foi revisado parcialmente em 1998 pela própria equipe do parque, mas o produto final é tido como um exercício de reflexão interna. Não há previsão para a sua elaboração, porém o volume de pesquisas produzidas e em andamento subsidiaram sua confecção. Em termos de pessoal a UC conta com 26 funcionários fixos e 10 outros contratados para serviços específicos. A partir de 2000 a unidade passou a contar com certa quantidade de trabalhadores da Frete de Trabalho do Estado, mas estes não “vestem a camisa” como os demais e não são permanentes no quadro de pessoal. O ideal seria se aqueles 10 contratados fossem efetivados de alguma maneira, pois já possuem capacitação adequada e estão inseridos nas rotinas de trabalho implementadas. A propósito, a equipe técnica é composta pela diretora, a coordenadora de uso público, coordenador de pesquisa e dois biólogos responsáveis pelas atividades nos Núcleos Engordador e Águas Claras. Parece haver uma boa relação e harmonia entre os membros da equipe conquanto há delegação de responsabilidades com autoridade e propriedade. Em razão da pressão exercida pela população e a carência de áreas naturais em São Paulo o Programa de Uso Público é bem estruturado, com o pleno controle e monitoramento dos visitantes que, segundo a direção, melhorando-se a estabilidade do pessoal disponível poder-se-ia receber pelo menos mais 1000 visitantes semanais. A UC recebeu 67,50 pontos e a gestão foi classificada como de Padrão de Qualidade Mediano, requerendo poucos esforços para atingir uma gestão com padrão elevado. 350 4.6.22 Parque Estadual do Morro do Diabo Diretor: José Victorio Candarola. Licenciatura em História. Auxiliar Agropecuário. Instituto Florestal. Tempo na UC: Desde 1999. Localiza-se no extremo sudoeste do Estado, na região denominada Pontal do Paranapanema, sob as coordenadas 22o 27’ a 22o 40’ de Latitude S e 52o 10’ a 52o 22’ de Longitude W. Constitui a maior amostra de Floresta Tropical Estacional Semidecídua do Estado e uma das quatro únicas áreas de proteção com mais de 10.000ha contendo esse tipo vegetacional do país (Figura 37). Foi criado em 1941 como Reserva Florestal e passou a Parque em 1986 por Decreto Estadual. Oficialmente abarca 33.845,33ha, porém esta cifra pode chegar a 35.000ha se consideradas áreas que foram desafetadas da unidade, mas que estão em sua área de influência imediata. É uma área muito rica em biodiversidade, abrigando uma das duas populações de micos-leões-pretos Leontophitecus chrysopygus na natureza, animal símbolo da unidade, e ainda diversos mamíferos, com destaque para os felinos (onças, sussuaranas, jaguatiricas), antas, queixadas e catetos, e quase 200 espécies de aves. Figura 37. Vista da elevação denominada Morro do Diabo e exuberante florada de Ipês-roxo. Quando de sua criação possuía mais de 37.000ha. Juntamente com as Reservas do Pontal do Paranapanema e Lagoa São Paulo somavam quase 300.000ha de Floresta Tropical Semidecidual, ou Mata Atlântica do Interior. Das três reservas duas sucumbiram em favor do ‘progresso e do desenvolvimento econômico’, sobrando somente o Morro do Diabo e alguns pequenos fragmentos da Grande Reserva do Pontal. Seu desenho segue o exemplo da maioria as UCs de 351 São Paulo, deixando de fora algumas bacias que drenam para seu interior e um formato muito irregular que potencializa os efeitos de borda. Somente em 1965 o então Serviço Florestal passou a administrá-lo. Morro do Diabo sofreu seus revezes, com invasões de terras, incêndios florestais, construção de ferrovia, construção de rodovia, o extremo isolamento ao qual tem sido submetido (fragmentação) e por último, os impactos causados pelo Lago de Rosana em 1986, que suprimiu 2000ha das melhores porções de suas matas. Mas o que poderia ser mais um exemplo de descaso e catástrofe ambiental transformou-se na redenção da totalidade do Parque. Um convênio firmado entre a CESP e o IF, com a interveniência de grandes conservacionistas, possibilitou a contratação de novos funcionários, aquisição de equipamentos e a instalação de uma boa infra-estrutura, com escritório administrativo, hospedaria, laboratório de sementes e outras instalações físicas. Isto melhorou muito a conservação do Parque, possibilitando o surgimento de um bom programa de proteção, atividades de educação ambiental e interpretação da natureza e a realização de pesquisas científicas. Quem ganhou foi a natureza do parque, que encerra uma riquíssima biodiversidade, que pode ser exemplificada pela maior concentração de perobas-rosa Peltophorum polyneuron que se tem noticia e uma grande variedade de plantas e fisionomias vegetais, inclusive com incrustações de Caatinga e Cerrado. A melhoria em infraestrutura aliada à importância dos recursos protegidos atraiu pesquisadores de várias instituições, sendo que na atualidade o parque conta com quase 30 projetos em andamento. Em termos de planejamento, o PEMD possui dois instrumentos que não podem ser considerados planos de manejo. O primeiro foi realizado em 1973 por um pesquisador norte-americano e publicado em 1975, mas baseia-se em observações de apenas dois dias na unidade. O segundo foi realizado por uma série de pesquisadores do Instituto Florestal em 1983 e foi feito também em curto espaço de tempo, como resposta aos impactos que a construção de uma barragem hidroelétrica causaria na região. Passados quase 20 anos do inicio do convênio IF/CESP seus equipamentos encontram-se desgastados pelo tempo e pelo uso intenso e contínuo; dos 50 funcionários possui hoje apenas 38, sendo que muitos estão em fase de aposentadoria ou muito idosos para a lida que a conservação requer, sendo 352 necessário, num futuro breve, a contratação de novos trabalhadores. O orçamento do parque diminui muito nos últimos anos, impossibilitando manter o mesmo nível de eficácia alcançado até 1992. Para ilustrar essa situação pode-se comparar o orçamento do PEMD ao do PE Intervales, considerado um Parque modelo e gerenciado pela Fundação Florestal, mas com um orçamento admirável que todo diretor de UC desejaria ter a disposição (Quadro 57). Quadro 57. Comparação entre os orçamentos do PEMD e PE Intervales. ANO Área 1997 1998 1999 2000 PEMD* 34.000ha 186.904,15 276.312,83 310.358,02 311.793,25 PEI** 41.705ha 1.489.900,00 1.540.000,00 1.540.000,00 1.318.600,00 Fonte: * Administração do PEMD ** CAMPOS, 2001 As dificuldades residem na falta de manutenção preventiva dos imóveis, em sua maioria de madeira pré-fabricada. Os veículos, máquinas e equipamentos encontram-se obsoletos e com falta de manutenção adequada, o que inviabiliza uma rotina mais consistente de fiscalização. Situada em uma região cuja seca é muito pronunciada, a UC precisa de aceiros corta-fogo para prevenir incêndios florestais. São quase 200Km que anualmente precisam ser mantidos, mas vias de regra são efetuados somente os trechos mais prioritários, como na rodovia que o corta ao meio. Um grave problema enfrentado pelo parque é a instabilidade dos últimos diretores que lá passaram, que não ficaram por muito tempo e não empreenderam alguma personalidade à gestão. Também a falta de pessoal técnico local para desenvolver os programas de uso público e pesquisa, principalmente em função da demanda destas duas atividades observada nos últimos anos, e a falta de um plano de manejo moderno. Estes são problemas de ordem gerencial que impedem que se explore toda a potencialidade que o PEMD pode oferecer à população e ao desenvolvimento regional, principalmente no tocante ao turismo ecológico. A propósito, o parque atende anualmente cerca de 5.000 visitantes monitorados, na sua maioria estudantes da região. Enfrenta-se também uma grande ameaça, a estrada SP-613 que seciona o Parque ao meio que aumenta ainda mais os efeitos de borda sofridos pela UC. Um monitoramento empreendido pela administração do Parque mostrou que em uma década quase 200 animais foram encontrados mortos por atropelamentos, o 353 que gerou uma Ação Civil Pública por parte do Ministério Público Estadual contra o departamento responsável. Outra grave ameaça é a grande insularidade imposta ao parque, que esta rodeado por uma matriz agropecuária com a prevalência da monocultura da cana-de-açúcar e pastagens. Contudo, uma das grandes virtudes que a unidade possui é a conquista de vários parceiros, formais e informais, que lhe tem dado suporte local e regional nos últimos anos. Uma contribuição significativa têm-se obtido da organização não governamental Instituto de Pesquisas Ecológicas-IPÊ, que viabiliza pesquisas básicas e aplicadas no interior e ao redor da unidade, estas últimas visando a recomposição da paisagem mediante a aplicação de sistemas agroflorestais junto a assentamentos humanos do entorno no afã de diminuir as ameaças daí oriundas. Mais recentemente uma parceria entre o IF e esta ONG conseguiu aprovar junto ao FNMA um projeto para elaboração do plano de manejo do parque, que atenderá uma demanda há muito sentida e que vem empurrando a qualidade de gestão em sentido contrário ao desejável. Os integrantes da administração local, ainda que não possuam ampla capacitação na área, tem conseguido forjar alianças com vários setores da sociedade, como o IBAMA e Policia Ambiental no setor de proteção; com destilarias de álcool, com quem conseguem combustível nas épocas criticas; aproximação com o Ministério Público, que possibilitou a reversão de recursos de penalidades de processos civis e de compensações ambientais para o parque. A título de exemplo, ressalta-se o relacionamento amigável com uma empresa terceirizada do DER, com a qual obtiveram a reforma da estrada que dá acesso à sede, um percurso de 2000 metros que hoje se traduz em economia de recursos. Este relacionamento amistoso com os seguimentos da comunidade foi forjado a partir de 1987, com a implementação do Programa de Educação Ambiental pelo Instituto Florestal; e ainda que o indicador “apoio e participação comunitária” tenha sido avaliado apenas como razoável, tais condições propiciaram e facilitaram a implantação do atual Conselho Consultivo, que congrega 17 organizações de atuação local e regional. A UC obteve 56,24 pontos e sua gestão classificada como de Padrão de Qualidade Mediano. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 356 Muitas das posições e proposições aqui enunciadas certamente estão eivadas das opiniões das diversas pessoas com as quais manteve-se contato durante esta pesquisa, ratificadas pelos dados e informações colhidas durante o processo de avaliação da gestão das UCs. É muito provável que um ou outro profissional encontre nos parágrafos a seguir um reflexo de seus próprios pensamentos. A pesquisa proporcionou uma imagem de como se encontra a organização responsável em face do desvendamento das diversas e diferentes nuanças que se apresentaram nas unidades de conservação, o que significa dizer que poderíamos enfocar nossas considerações extensivamente sobre as unidades de conservação em si, entretanto, além de contraproducente é quase impossível separar os resultados individuais por unidade de uma percepção mais generalizada da própria organização gestora, mesmo porque as primeiras são a maior razão da existência da segunda. Assim, muitas das considerações expostas para a organização incidem também sobre as unidades de conservação, e vice-e-versa. Por outro lado, por uma questão pedagógica, trataremos de separar as considerações em relação às unidades de conservação e à organização, a gestão de maneira geral e em relação ao método utilizado. Em relação às unidades de conservação e a organização As Unidades de Conservação pesquisadas apresentaram padrões de qualidade de gestão intermediários, sendo que 22 tiveram a gestão classificadas como de Padrão Mediano, 27 como de Padrão Inferior e 04 como possuidoras de Padrão Muito Inferior. Seis unidades alcançaram pontuação suficiente que permitiu classificá-las de Padrão de Qualidade Elevado. Algumas unidades apresentam quadros extremamente preocupantes, com evidência de pouco ou nenhum investimento para a efetiva implantação básica e/ou implementação de atividades demandadas localmente. Os PE Mananciais de Campos do Jordão, Xixová-Japui e Marinho Laje de Santos podem ser considerados os melhores exemplos de parques criados que não obtiveram nada ou quase isso em termos de implantação, o que faz surgir a pejorativa expressão “parques de papel”. Ainda que sejam áreas extremamente importantes para a conservação da biodiversidade paulista e provimento de 357 oportunidades para o lazer da sociedade, praticamente só tiveram o investimento da designação de um diretor para a área. Um fato curioso foi o PE de Campos do Jordão, certamente dos mais famosos do estado e com o maior fluxo de turistas, receber apenas 56% da pontuação, demonstrando que apesar de uma unidade possuir uma implantação fisicamente adequada ela pode abrigar lacunas que inviabilizam o atingimento dos seus objetivos de gestão. Neste caso específico, os problemas começam pela falta de um plano de manejo moderno, que incorpore tanto os conhecimentos desenvolvidos até o momento, as mudanças ocorridas no conjunto dos recursos naturais englobados, a dimensão social do entorno e as demandas turísticas oriundas do crescimento da cidade de Campos do Jordão. A unidade também tem problemas na área administrativa haja vista o diretor ter reportado a ineficiência dos recursos financeiros, além da gravidade de ingerências externas advindas da municipalidade e de setores da própria Secretaria do Meio Ambiente, o que torna os trabalhos sujeitos a alterações bruscas e pouco explicáveis tecnicamente. Entre os mais graves problemas (pontos negativos) identificados com esta pesquisa estão: a insuficiência de recursos financeiros e humanos; a irregularidade de entrega das verbas operacionais (mensais), que impedem qualquer planejamento de curto prazo; adoção efetiva de mecanismos que possibilitem o retorno de parte do arrecadado para as unidades de origem; a falta de planos de manejo e de diretrizes organizacionais que conduzam à implementação dos planos existentes; não utilização de mecanismos para o monitoramento integrado das UCs e posterior aproveitamento das informações geradas; inexistência de programas que valorizem os funcionários em geral; falta de um plano de carreira destinado à administração e direção das UCs; falta de um programa de capacitação abrangente, destinado ao treinamento dos funcionários de todos os níveis; e a falta de implementação de um programa consistente para dar andamento e buscar soluções para as UCs com problemas fundiários. 358 Os resultados do levantamento específico das ‘ameaças externas’ revelaram que as extrações ilegais de recursos e o uso dado ao entorno imediato das unidades são os fatores mais incidentes no sistema analisado. A caça, a pesca e a coleta ilegal de produtos da floresta são causadores de sérios danos à biota e por esta razão a administração é conduzida a tomar decisões no sentido de priorizar a fiscalização em detrimento do desenvolvimento das unidades em termos de uso público e pesquisa por exemplo. Os custos da atividade ostensiva de proteção é muito elevado e requer pessoal treinado e equipado, sendo que ambos os requerimentos carecem de sérios investimentos institucionais. Esta situação sugere a necessidade da gestão voltar-se para as causas das ameaças, a partir de programas de educação e extensão ambientais abrangentes e dirigidos às comunidades do entorno das áreas. Nesta linha, as UCs do interior possuem seus entornos ou com culturas agrícolas ou com pecuária, além de rodovias no interior ou em seus limites, condições que de acordo com a magnitude da sua incidência se transformam em ameaças para a conservação da biodiversidade. Entretanto, tais situações ainda não conduziram a mudanças de paradigmas, através de uma maior interface entre a unidade, e em última instância o Instituto Florestal, e os organismos condutores de políticas específicas dirigidas àqueles setores de desenvolvimento, como a Secretaria da Agricultura, Secretaria de Transportes, Secretaria de Esportes e Turismo, entre outras. Entre organismos de governo não deveria haver tamanho distanciamento. Ainda em relação às ameaças, pode-se afirmar que o PE de Jacupiranga, uma das maiores e mais importantes unidades de conservação do estado, é emblemático pois ali encontramos todas ou quase todas as modalidades de fatores negativos para uma gestão eficaz. A maioria das unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Florestal não possui uma necessária equipe técnica mínima. Há situações em que o técnico responde por mais de uma unidade, às vezes até quatro, e isso compromete enormemente a eficácia de gestão. Frente a dificuldade de se designar e manter uma equipe técnica mínima para as UCs de grande porte ou naquelas que possuem condições complexas para a sua gestão, a organização deveria lançar mão de artifícios alternativos para sanar esta lacuna, de maneira tal a responder as inquietações do dia-a-dia dos seus diretores, como por exemplo para a elaboração e 359 implementação de projetos com financiamento externo (FNMA, Boticário, Fapesp, etc.), construção de alianças e parcerias, solução de conflitos, etc. Obviamente que estes problemas não são possíveis de sanar num estalar de dedos, mas alguns deles merecem uma atenção especial pois são componentes essenciais para a constante construção de instituições fortes, como o investimento em seus recursos humanos, que apesar de estarem defasados em número possuem boa experiência adquirida no front da conservação. A capacitação do seu time deveria ser objeto de um programa institucional da mais alta prioridade, cujas atividades deveriam iniciar-se por um amplo levantamento das necessidades de treinamento e a realização de contatos com organismos que outrora mantinham trabalhos congêneres com o Instituto, fundamentalmente aqueles voltados ao manejo da vida silvestre e a biologia da conservação. Ainda que as estações experimentais ou ‘unidades de produção’, aqui designadas e englobadas no grupo de categorias de ‘uso sustentável’, sejam áreas destinadas ao manejo e exploração florestal, com atividades programáticas muito conhecidas pelos técnicos que as gerenciam, foi exatamente uma unidade de proteção integral a receber a melhor pontuação, o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, com 82,68%. Assim mesmo, outras 4 UCs de proteção integral alcançaram mais que 70% da pontuação máxima possível, quais sejam EEc Jataí, com 71,92, EEc Itirapina, com 71,00, EEc Bananal, com 70,40, e PE Ilha Anchieta, com 70,21, de conformidade com a percepção dos seus responsáveis. Apenas uma UC de uso sustentável recebeu mais que 70%, a EE de Jaú, que no entanto não teve preenchidos os dados referentes ao âmbito específico às ‘Florestas’. Aliás, para as UCs do grupo de Uso Sustentável o indicador pior qualificado foi justamente o que reflete a sustentabilidade do manejo florestal, o ‘manejo continuado’, com as práticas de desbastes, cortes e plantios que deveriam ser espacial e temporalmente planejados, mas na atualidade extremamente comprometidas. As UCs de ‘Uso Sustentável’ precisam ser consideradas componentes complementares de um sistema de conservação mais amplo e, portanto, abrigadas sob o manto protetor, mas flexível, de políticas que as valorize e as façam produzir em bases sustentáveis, mediante a retomada de diretrizes de manejo florestal preconizadas em planos já elaborados. Ao mesmo tempo, adotar 360 medidas para a avaliação sistemática das florestas usando-se os critérios e parâmetros do FSC, Conselho de Manejo Florestal, visando a médio-longo prazos alcançar a certificação de qualidade. É interessante observar que unidades tão próximas como a EEx Luis Antonio e EEx de Bento Quirino tenham obtido qualificações tão distintas, respectivamente 66,53 e 49,08% do total ótimo. O mesmo acontece com as UCs de proteção integrais próximas entre si, notadamente os núcleos de gestão do PE da Serra do Mar, ou ainda unidades de uma mesma região tais como o PE Ilha do Cardoso, PE Campina do Encantado e EEc Chaúas, aspecto que evidencia que a eficácia de gestão não tem uma relação direta com a região de localização da unidade, havendo distinção dentro de uma mesma região, o que aponta para as possibilidades de integração mais orgânica entre unidades de uma mesma região, quiçá a gestão integrada há muito propalada e requerida Considerando a distinção teórica feita entre gestão, administração e manejo, podemos afirmar que em grande parte das unidades avaliadas ocorre a gestão em sua expressão mais ampla, em diferentes níveis de qualidade e performances, com os dirigentes envolvendo-se e se articulando num cenário além dos limites da UC, assumindo por vezes uma postura mais pró-ativa em relação ao dilema ‘conservação e desenvolvimento’ e lidando com as ameaças imediatas e mediatas que as espreitam. Muito embora não possuam orçamentos adequados às necessidades e guardarem imensas lacunas gerenciais, unidades do Instituto Florestal vêm se sobressaindo em determinadas ações programáticas. Algumas contam com excelentes atividades de pesquisa conduzidas em parceria com universidades e ong’s; outras possuem atividades de uso público e educação ambiental com elevado padrão de qualidade, com trilhas bem implantadas e interpretadas e modernos centros de visitantes; é possível ainda apontar unidades com efetivas estratégias de envolvimento comunitário, merecedoras de ampla divulgação e continuidade, além de áreas onde o esforço coletivo local minorou as dificuldades impostas pela retração do investimentos governamentais. De acordo com as informações e das ‘ameaças internas’ levantadas, pode-se afirmar que o maior problema do Instituto Florestal é a falta generalizada de diretrizes políticas para a condução das inúmeras atividades que a organização precisa estar desenvolvendo para cumprir com a missão aceita. Os diretores e 361 técnicos das unidades de conservação são o ‘front’ da conservação da natureza nelas encerrada, os soldados da conservação da biodiversidade e, portanto, precisam ter armas e munições adaptadas à realidade que os rodeia, caso contrario tornam-se alvos fragilizados e com poucas chances de responder eficientemente suas funções. A redução dos recursos humanos e financeiros do Instituto Florestal é algo aviltante e sua involução fica mais patente, antagonicamente, após a Rio’92. Num simples exercício de projeção, usando-se as informações prestadas pelos diretores das UCs, obteve-se que na atualidade o Instituto Florestal deveria ter um quadro de pessoal aproximado de 4.000 funcionários, entre permanentes e temporários, e um orçamento mínimo de R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais), somente para cobrir os custos operacionais, excluindo-se deste montante os investimentos para o desenvolvimento das áreas protegidas em todas as suas demandas e potencialidades. Assim sendo, os dirigentes institucionais devem envidar seus máximos esforços para convencer a sociedade e os governos da necessidade urgente de corrigir a presente situação, e trabalhar para reconquistar seu valor, voltando-se fundamentalmente para a conservação da biodiversidade do Estado. Resultados como os revelados por esta pesquisa deveriam ser usados para se mostrar aos escalões mais elevados do governo os requerimentos para produzir gestões eficazes, sem o que será muito difícil se alcançar objetivos de conservação que satisfaçam a ‘missão’ institucional e as políticas ambientais do Estado. O Instituto Florestal precisa investir com seriedade e agressividade, mas de maneira planejada e coordenada, na renovação de sua frota de veículos e máquinas, a qual encontra-se bastante sucateada. Precisa implementar também um sistema que seja rápido e dinâmico para prover a devida manutenção da frota, que capacite e valorize e incentive os funcionários nos cargos afins para que os mesmos sejam a vanguarda deste objetivo. Além disso, é necessário que o controle garanta que os gastos com a manutenção nunca sejam superiores ou mesmo próximos dos valores venais reais dos veículos, aspecto que provavelmente esteja acontecendo na medida que grande parte da frota possui mais de 10 anos de uso. Na busca de documentação sobre as atividades programadas do Instituto Florestal até há alguns anos atrás, cerca de 6 a 8 anos, podia-se encontrálas na Assistência Técnica de Programação-ATP, uma unidade de assessoria 362 técnico-científica-administrativa. A ATP reunia informações de projetos e programas especiais, financiamentos internos e externos, dados orçamentários do passado e presente, bem como do futuro pois realizava a prospecção e planejamento financeiro-orçamentário sobre as metas das Diretorias, e estas por sua vez das unidades e seções técnicas. Nos últimos anos este organismo de planejamento e controle das metas institucionais foi parcialmente desmontado e hoje para se saber quanto de recurso foi investido no Instituto Florestal deve-se lançar mão de algumas pessoas pontuais que se preocupam em guardar informações. Esta situação precisa mudar em face dos desafios do presente e as esperanças futuras de uma organização mais ágil e presente no cotidiano da conservação da natureza. Há evidencias de que algumas setores da organização precisam passar por intervenções urgentes, fundamentalmente no que diz respeito à administração e gerência. Os tramites de documentos é feito mediante mecanismos antiquados, como malotes e correios normais, em plena época da Internet. Isto significa dizer que em muitas frentes de batalha o Instituto Florestal perde terreno por não ser ágil o suficiente para chegar e estar no momento certo. Ao mesmo tempo, a capacidade de responder a demandas específicas é comprometida pela falta de diretrizes, metas e prioridades, que não são estabelecidas com claridade ou simplesmente não existem. Há um excesso burocrático e, por vezes, até personalista, que muitas vezes emperram os tramites mais rotineiros, como por exemplo a consecução de documentos básicos para juntar em propostas de projetos para financiamentos alternativos, ou mesmo a ausência de pessoas que orientem questões jurídicas ou que trabalhem com maior proximidade com os diretores de UCs. O Instituto Florestal carece urgentemente de um choque de modernidade gerencial; precisa mostrar à sociedade e aos governos que deseja mudar e reconstruir seus pilares sob uma ótica moderna, quase empresarial, revisar a missão institucional e sua estrutura administrativa A ‘missão’ aceita até o momento para o Instituto Florestal compõe-se dos verbos ‘proteger’, ‘pesquisar’ e ‘recuperar’ a biodiversidade, mas na atualidade há uma velada luta pelas carreiras profissionais que, todavia, privilegiam a pesquisa. Ainda que justas, essas lutas demonstram um desequilíbrio no cerne da organização (que põe em dúvida sua missão), sendo que tal desequilíbrio precisa ser revertido 363 com urgência e lutar-se também por uma carreira de guardas-parque e de diretores de unidades de conservação. O Instituto Florestal é uma instituição que tem apoiado sua existência sobre argumentos de que é uma organização secular, tradicional e que possui atribuições importantes no desenvolvimento econômico e ambiental do Estado. Possui alguns elementos diferenciadores das demais organizações florestais brasileiras, quesitos que conservacionistas de plantão abominam e entendem como sendo empecilhos para sua melhor atuação frente à conservação da biodiversidade: a existência de usinas de tratamento de madeira, industria de casas pré-montadas, unidades com florestas exóticas para o aproveitamento múltiplo e tecnologia desenvolvida a partir das atividades de pesquisa. Ora, as três áreas do Instituto Florestal que possuem unidades industriais (Manduri, Itapetininga e Luis Antonio) deveriam ser privilegiadas dentro de uma processo de resgate e de modernização da organização para, sobretudo, atenderem efetivamente as demandas de implantação e desenvolvimento das unidades de conservação estritas, ao contrário do revelado pela unidade de Manduri, que nos últimos anos tem atendido mais aos apelos e solicitações externas que das próprias unidades de conservação. Deve-se entender que tais características são oportunidades reais para alavancar a organização e melhorar a gestão das UCs de proteção integral, bem como dos recursos naturais do Estado, mas isto somente ocorrerá se houverem políticas claras e consistentes, que dirijam os esforços para a ‘missão institucional’. Isto é, aqueles componentes exóticos às áreas protegidas de conservação estrita devem estar ambientados em programas que visem a implantação das unidades de conservação e não devem, de forma alguma, estarem à disposição de caprichos e vaidades que não asseguram sequer a melhoria da imagem organizacional junto à comunidade, o que é muito próprio das iniciativas político-partidárias. Propala-se que uma organização não pode cuidar bem ao mesmo tempo de ecossistemas modificados (florestas plantadas) e ecossistemas naturais, sugerindo-se para tanto a criação de um novo organismo como sendo a solução para as áreas protegidas de São Paulo. Na atual conjuntura isto importaria em exaustivos e desgastantes embates, além de precisar de grandes gastos e negociações políticas nos escalões mais altos do governo. Se há falhas na organização atual é mais simples e profícuo aproveitar a bagagem existente, realizar 364 uma reflexão sobre a missão, objetivos e metas institucionais e reconduzi-la a caminhos mais seguros e modernos. Para que isto aconteça não há necessidade de Leis, Decretos e outros atos governamentais, ao contrário bastam que exista vontade e arrojo coletivo, resultado de discussões internas com a efetiva participação dos atores interessados. Senão vejamos, os críticos da Fundação Florestal argumentam que suas atividades ultrapassam os limites das suas atribuições legais, mas isto acontece em razão das lacunas existentes e da vontade intrínseca à sua comunidade. Em relação à pesquisa, a Instituição tem perdido espaço frente à iniciativa das universidades, institutos, ong’s e iniciativa privada que se dedicam à temática florestal, ao estudo dos ecossistemas e das paisagens e suas interrelações específicas. Mas ainda que a realização de pesquisas por parte dos seus pesquisadores tenha se retraído, a organização deve se aparelhar para ordenar, acompanhar e controlar eficientemente as diferentes linhas de pesquisa implementadas. Para tanto urge que se discuta e reestruture seus programas de pesquisa (prioritários), direcionando-os a solucionar problemas e desenvolver conhecimentos que favoreçam a gestão e o manejo das unidades de conservação, não havendo na atualidade justificativas para a existência de linhas de pesquisas dissociadas dessa realidade. O aproveitamento do seu quadro técnico especializado deveria ser uma das metas do redesenho do seu programa de pesquisas, motivando-os a serem responsáveis por projetos ou programas completos. No cenário delineado apresenta-se uma série de oportunidades para o aprendizado coletivo mediante a experimentação de novas formas de fazer as coisas, usando-se a experiência acumulada de forma criativa para se produzir um futuro possível. Para este futuro ser desenhado é necessário um grande esforço coletivo no presente, onde todas as tendências e visões possam se manifestar abertamente. Qual a imagem que se deseja no futuro? São mesmo necessárias duas estruturas orgânicas para gerir as UCs de proteção integral e as de ‘uso sustentável’? A “regionalização” estabelecida em 1997, que outorga à Divisão de Florestas e Estações Experimentais a gerência de Parques e Estações Ecológicas do interior paulista é eficiente e/ou necessária? É possível se estabelecer pautas e critérios para a gestão compartilhada das UCs, sem que o Estado perca sua 365 discricionaridade e a outorga constitucional? É possível redesenhar os programas de pesquisa e de desenvolvimento da organização considerando essas questões? Exercícios que promovam respostas a estas indagações produzem focos, geram esperança e promovem o delineamento do cenário a atingir. A imagem objetivo delineada pode produzir alumbramento, ganhar força e se traduzir em ações concretas. Mas para que isto aconteça é preciso que as pessoas queiram e se engajem, pois elas são a organização. Apesar da situação crítica na qual se encontra o Instituto Florestal, a organização apresenta pontos muito positivos, apontados ao longo do texto apresentado, quais sejam: A maioria dos funcionários da organização está presente no campo e não nos escritórios centrais; Ainda que as pesquisas dirigidas às áreas de conhecimento relacionadas diretamente à gestão das unidades de conservação sejam poucas frente às sabidas demandas, parece haver uma tendência de crescimento do setor; A maioria das UCs de proteção integral apresentam boas condições em relação aos recursos protegidos, com poucas alterações internas e integralidade dos mananciais hídricos; Há uma boa mapoteca e um excelente laboratório de geoprocessamento de imagens de orbitais que possibilitam um bom suporte ao planejamento e gestão das UCs; Possui um núcleo de comunicações e artes (SCTC) com um potencial de realizações muito maior que as atuais; As UCs contam com reconhecidos diplomas legais que garantem autoridade aos gestores do sistema; O quadro de funcionários conta com 34 graduados, 44 mestres e 09 doutores que podem estar influindo tecnicamente nas mudanças necessárias para modernizar a organização; Há uma tendência crescente de se elaborar os planos de gestão ou de manejo com a participação da sociedade, o que poderá garantir maior reconhecimento e apoio popular à organização; 366 Há uma dissimulada cultura corporativista que pode ser aliada das mudanças, na medida que prevaleça o sentido de coesão em prol da conservação. Em relação à questões gerais A Fundação Florestal foi criada para ser o braço operacional do Instituto Florestal para que houvesse a desburocratização e agilidade nos tramites relacionados à comercialização da produção das UCs de uso direto e gerar recursos para a parcial manutenção do sistema de conservação. Entretanto, a Fundação e o Instituto não conseguem estabelecer uma linha de planejamento e execução de serviços que contemple o tão desejado manejo sustentável das florestas estaduais, ainda que existam planos produzidos para este fim. Este quadro é agravado pelos velados embates entre o Instituto Florestal e a Fundação, que devem ser solucionados com respostas a indagações do tipo: __O que o IF deseja da FF? O que a FF deseja? Qual o efetivo papel da FF frente ao Instituto Florestal? A Fundação é realmente necessária ou pode-se abrir mão de sua estrutura para a agilização das coisas do Instituto Florestal? É possível uma agenda de trabalho comum entre ambas organizações? O que fazer para que haja complementariedade entre ambas: a organização secular, tradicional e necessária e a organização jovem, moderna e impetuosa? No decênio de 1990 aconteceram alguns descalabros em termos de políticas públicas voltadas à conservação da natureza: a invasão de terras florestadas das Estações Experimentais de São Simão e de Pederneiras, com 2637,33ha e 2143,67ha respectivamente, pelos movimentos sociais que lutam por um quinhão de terra. Sendo que a primeira unidade é, ou foi, detentora de importante acervo florestal melhorado geneticamente ao longo de muitos anos de pesquisa e investimento de verbas públicas. Apesar das áreas invadidas possuírem títulos legítimos de propriedade e posse pelo Estado, os técnicos do Instituto Florestal tenham agido de acordo com as normas jurídicas e administrativas que o caso merecia e as decisões judiciais apontarem para a imediata reintegração de posse, a Secretaria de Meio Ambiente e o governo não atuaram para solucionar tais problemas, ao contrário, os interesses políticos, partidários e eleitoreiros 367 suplantaram a missão do organismo invadido e, deste modo ainda hoje tal situação se arrasta sem soluções. Na atualidade é ponto pacifico que o envolvimento da sociedade e dos componentes das comunidades no planejamento e gestão das UCs garantem maior suporte político para a conservação a longo prazo. Algumas unidades do sistema já iniciaram este caminho, inclusive com a formação e funcionamento de Conselhos Consultivos, tal qual prevê a Lei do SNUC. Este é um novo desafio que os diretores das UCs deverão enfrentar nos próximos anos, sendo extremamente necessário a capacitação destes profissionais em temas que lhes garantam uma boa performance para lidarem com os conflitos diários que provavelmente surgirão ao reunirem-se com pessoas e interesses diferentes. Ainda que não tenha sido o foco desta pesquisa, é necessário frisar a necessidade da organização mobilizar seu quadro técnico para a revisão das categorias de gestão das unidades do sistema, a fim de melhorar a capacidade do sistema em satisfazer os múltiplos objetivos que as áreas protegidas podem prover, adequando as áreas existentes, seus atributos e potencialidades, aos conceitos preconizados pela UICN e ao novo marco jurídico estabelecido pelo SNUC. Da mesma maneira, é preciso agilizar os trabalhos para a identificação de áreas prioritárias para a criação de novas unidades de conservação e aumentar a representatividade do sistema. Esta ação, juntamente com a anterior, converge para a implementação de um programa que atenda ao objetivo de elaborar um Plano de Sistema das UCs de São Paulo, um macro planejamento envolvendo as unidades federais, estaduais, municipais e privadas que as ordenará segundo a metodologia e critérios adotados e as políticas da SMA. Em relação aos diretores das UCs Parece haver uma relação bastante direta entre a qualidade das ações de gestão e as características pessoais e profissionais dos diretores das unidades de conservação, aspecto este dependente de alguns poucos fatores além, evidentemente, da formação acadêmica superior. Esta última, apesar das eloqüentes defesas corporativistas dos profissionais, atualmente parece ser pouco importante principalmente em razão da revolução dos conhecimentos promovida pela da disponibilidade de informações nos últimos anos. 368 Assim, conforme as observações de campo e os estudos teóricos efetuados, o perfil de um Diretor de unidades de conservação é moldado, em primeiro lugar, pela capacitação formal e informal adquirida sobre manejo e gestão de recursos naturais renováveis, principalmente se os conhecimentos estão voltados para formas adaptativas de tratamento e intervenção nos problemas e nos fatores inerentes ao manejo local. Esta capacitação ocorre também na medida que há troca permanente de idéias e de experiências entre as pessoas integrantes do sistema gerencial. O segundo fator considerado importante é a experiência adquirida no front da conservação da natureza, mediante o envolvimento do técnico com os assuntos e problemáticas locais, na tentativa de fazer com que a UC esteja inserida na cultura e no desenvolvimento regional, aplicando, sabidamente ou não, os conhecimentos e as diretrizes para um manejo integrado e bioregional. Apesar de haverem diretores com até certo grau de capacitação e experiência, com boas idéias, propostas e projetos, estas em alguns momentos não saem do papel, pois há um terceiro fator que empurra-os para o ostracismo que é a (falta de) motivação para a projeção de metas e a realização de ações de gestão de inegável efeito (se forem levadas adiante). Uma pessoa desmotivada é parcialmente morta, e o que é pior, contamina o ambiente de trabalho. Para os diretores das UCs de São Paulo a (des)motivação pode estar relacionada a três pontos principais: a inexistência de mínimas condições de trabalho, a ausência de uma carreira e salários realmente atrativos e o seu não envolvimento nos objetivos, metas e vida da organização. As condições de trabalho aqui apontadas referem-se aos meios necessários para a realização das tarefas cotidianas. Não há como pedir que um profissional elabore um projeto e o execute sem que o mesmo tenha disponível computadores, veículos e meios de comunicação, sem falar de pessoal adequado e treinado para as funções inerentes ao desenvolvimento dos objetivos e metas. Este componente da motivação individual e coletiva deve ser encarado pela Instituição como essenciais à sua própria existência, caso contrário o estabelecimento de objetivos e metas programáticas cairão no descrédito da sociedade e não haverá mais sentido para sua permanência na estrutura do Estado. Mas as condições de trabalho das pessoas depende quase que exclusivamente de iniciativas integradas da própria organização, do esforço organizacional coletivo e participativo, 369 procurando caminhos alternativos para suprir as demandas impostas pela modernidade. O segundo componente é um pouco mais difícil de ser corrigido pela organização isoladamente e, assim, a existência de desmotivação em razão de baixos salários e carreiras inadequadas é um problema cujas soluções são: i) o enquadramento do profissional em carreiras mais sólidas e dignas; ii) a tomada de atitude institucional e sua relocação em postos mais compatíveis com suas habilidades profissionais, ou iii) a simples perda do profissional para a iniciativa privada. Mas há que se entender que a organização é um órgão público para a qual estão voltadas as atenções de muitas outras organizações, que podem auxiliar na medida que pressionam os governos objetivando a abertura de concursos públicos específicos. A desmotivação em razão do não enquadramento, da não participação e envolvimento dos profissionais nos objetivos da organização geralmente é a conseqüência do ‘abandono e esquecimento’ a que estão sujeitos por parte da mesma organização. Provavelmente isto seja um dos problemas mais graves das organizações que não praticam a reflexão interna e demonstra o tamanho do equívoco em que se metem por não possuir diretrizes concretas e amplas que abarquem o componente ‘valorização do profissional’. Isto acontece com freqüência porque não há entendimento de que o indivíduo é o mais importante pois é quem faz acontecer, a ponta da linha de um seguimento social que trata de estabelecer as bases para a conservação, a longo termo, da biodiversidade em suas mais complexas traduções e, portanto, não podem ser simplesmente olvidados ou abandonados à própria sorte. Eles precisam ser resgatados e acompanhados, participar na formulação de políticas e compor efetivamente os canais de comunicação da organização para que se sintam úteis na estrutura administrativa. necessariamente pela A construção valorização dos de uma seus organização recursos forte passa humanos, sendo imprescindível para o soerguimento de quaisquer delas, independente do seu estagio de desenvolvimento. Frente a esta questão, é pouco provável se poder simplesmente dizer que existem maus diretores ou diretores ruins. Há sim aqueles despreparados para a função que exercem, os desmotivados em função do ‘abandono’ pela organização. Não importa qual a afiliação profissional dos diretores de Parques, se 370 são biólogos, arquitetos, engenheiros florestais, agrônomos, pedagogos, geógrafos ou qualquer outra profissão, pois há muito as profissões deixaram de ser um bom parâmetro para o julgamento do que seja um bom ou mal diretor de parque. O que importa é se eles conduzem a gestão das UCs de modo condizente com as políticas delineadas para o sistema, preferencialmente com eficácia e sucesso. As diversas situações encontradas no campo, com diretores contratados das mais variadas formas e salários, com e sem capacitação, abandonados e acomodados e, em algumas ocasiões, excelentemente preparados para as funções que exercem, induz ao raciocínio sobre a importância de uma carreira exclusivamente de GuardasParque e um sistema eficaz para o acompanhamento dos mesmos ao longo das suas carreiras profissionais. Em relação ao método e sua aplicabilidade O procedimento usado é bastante simples e abrangente, requerendo unicamente conhecimento e capacitação para sua plena aplicação, sendo apropriado para a geração de informações rápidas voltadas às pessoas que tomam as decisões políticas e que influenciam na gestão das unidades de conservação. A inclusão do componente ‘contextualização institucional’ é algo não previsto pelos idealizadores do procedimento, mas é fundamental para que se tenha uma visão mais ampla dos fatores organizacionais incidentes sobre a gestão das áreas protegidas. Para um exercício acadêmico a consecução das informações necessárias ao estabelecimento deste perfil pode ser muito difícil ou dificultada, sendo então recomendável que em projetos similares haja a participação de pessoas envolvidas diretamente com a instituição e se obtenha o aval e cumplicidade de seus escalões superiores. Em face dos equívocos ocorridos durante o processo de avaliação frente ao entendimento do significado de alguns indicadores por parte de diretores e/ou técnicos das unidades de conservação, entende-se a necessidade de se investir um pouco mais sobre a descrição e explicação de certos critérios usados na avaliação, fundamentalmente daqueles indicadores que embutem conceitos técnicocientíficos relacionados à conservação e ao manejo de unidades de conservação de proteção mais estrita. Os deslizes ocorridos também demonstram a necessidade de 371 capacitação geral no que tange aos assuntos afeitos à biologia da conservação e gestão da paisagem, principalmente. Mas assim mesmo, a partir de treinamento, capacitação e a definição de uma proposta metodológica, entende-se que é perfeitamente cabível aos diretores das UCs executarem eles mesmos a auto-avaliação das unidades sob sua responsabilidade. As reuniões designadas ‘oficinas de avaliação’ foram técnicas muito apropriadas para a coleta de informações e a auto-avaliação, empreendida pelos técnicos e diretores das unidades de conservação, sendo também momento para se discutir assuntos que não os objetivos da pesquisa. Muito embora seja oneroso entende-se que as visitas de campo, discussões informais, reuniões e entrevistas com os atores envolvidos na gestão é fundamental e complementares ao estabelecimento de um perfil mais apurado da realidade. Das 22 UCs visitadas, 18 estiveram representadas nas oficinas de avaliação, sendo que o cotejo das informações nelas colhidas à percepção do pesquisador e da equipe corroboraram esta técnica de pesquisa. No geral, os indicadores corresponderam eficientemente às expectativas iniciais, pelo fato de já terem sido usados em pesquisas anteriores e incidirem sobre a gestão de UCs, serem simples, de fácil apuração das informações necessárias e de baixo custo. É recomendável que nas avaliações futuras sejam incorporadas ponderações ou pesos específicos para os indicadores que possam causar distorções nos resultados finais, como nos exemplos explorados referentes à situação fundiária e demarcação de limites. Técnicas estatísticas, tais como a regressão linear múltipla e a análise de componentes principais, podem auxiliar nesta decisão, seja dirigida aos grupos de indicadores ou aos indicadores individualmente. Aliás, ao utilizar-se tais rotinas estatísticas construiu-se um modelo matemático que procura explicar os resultados auferidos no processo de avaliação. Por suas características e resultados pode servir para a redução da quantidade de indicadores a serem considerados, no presente caso aos dos âmbitos administrativo e conhecimentos. Excluindo os demais indicadores haverá a diminuição dos custos e do tempo necessários para diagnosticar a gestão, mas a perda de informações 372 sobre os demais componentes é inevitável, estando a decisão de excluir ou mantêlos na dependência dos objetivos da pesquisa. Esta foi uma iniciativa acadêmica que procurou mostrar, também, a viabilidade de a organização manter um esquema para a avaliação sistemática e permanente da gestão. Para tanto recomenda-se o procedimento usado, ressaltando apenas que as avaliações futuras sejam precedidas da confirmação ou não dos indicadores e agrupamentos ora utilizados. Recomendações pontuais Como já informado anteriormente, o processo de levantamento de dados e informações foi profundamente rico, permitindo aos chefes e técnicos das UCs manifestarem suas inquietações, anseios e propostas. Deste modo, sucintamente apresenta-se a seguir uma série de recomendações extraídas das experiências e vivências compartidas com esses profissionais, cuja apresentação não se prende a nenhuma ordem de prioridade ou importância. Definição da Missão do Instituto Florestal, pois a atual é a esboçada no trabalho Repensando o Instituto Florestal, uma iniciativa louvável do último decênio mas que, afinal, não teve uma discussão aprofundada e o completo envolvimento das pessoas que efetivamente estão na frente da gestão das UCs. Tanto que o documento CONCITE – Indicadores Institucionais faz alusão ao que dita os diplomas legais que criam o IF e ao trabalho Repensando o Instituto Florestal sem, contudo, esboçar conclusões definitivas a respeito; Revisar, mesmo que extra-oficialmente, sua estrutura organizacional visando eliminar as repartições desnecessárias e ‘criar’ e/ou melhorar as que realmente são essenciais ao funcionamento administrativo; Revisar os procedimentos administrativos excessivamente burocráticos visando a agilidade do sistema, inclusive com a adoção da ‘internet’ como veículo para a tramitação de documentos secundários e de informações1; 1 Em fins de 2003 iniciou-se o processo de instalação da rede “intragov” nas unidades do Instituto Florestal, o que deverá agilizar a tomada de decisões. A rede “intragov” tem a finalidade de conectar todas as unidades de governo do Estado de São Paulo. 373 Constituir uma ‘Assessoria Jurídica’ interna própria, acessível aos chefes das UCs e aos técnicos em geral. Os Chefes das UCs e demais dirigentes se digladiam constantemente com múltiplas questões e dúvidas de ordem jurídicas, às vezes muito simples de serem solucionadas mas que, na atualidade, demandam excessivos tramites até à Consultoria da SMA; Reimplantar a atividade de acompanhamento integrado da gerência institucional, tal qual antes era realizado pela Assistência Técnica de Programação; Capacitar seu corpo administrativo (seção de pessoal, despesa, etc.) em programas básicos de informática, principalmente banco de dados, planilha eletrônica e redator de texto; Tornar os rumos institucionais mais transparentes e consistentes mediante a adoção de modelos administrativos que permitam a participação do corpo de funcionários nas decisões da organização, a começar pelo próprio Conselho Técnico do Instituto Florestal, tornando-o mais participativo; Viabilizar a participação efetiva dos chefes das unidades de conservação na elaboração de políticas e diretrizes voltadas à gestão das unidades de conservação. Durante o III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, realizado em Fortaleza em 2003, dirigentes do IBAMA informaram em plenária que os chefes das UCs federais conquistaram uma instância com tais características, o “Conselho de Chefes de UCs”. Isto é realmente importante para o Estado de São Paulo pois aqui possuímos uma das melhores, senão a melhor, rede estadual de unidades de conservação que, no entanto, esta sob constantes desafios e ameaças. Os chefes das unidades podem contribuir muito com soluções criativas oriundas de suas experiências diárias, sendo que a inclusão (deles e) de uma instância que os agregue é imperativa para que sua atividade transcenda os limites das UCs, torne mais transparente a gestão e promova e garanta, de fato, a participação e o envolvimento deste seguimento profissional nos desígnios da organização. Melhoria de suas relações (IF) com outros órgãos da própria Secretaria do Meio Ambiente, tendo como álibi a necessidade de integração para diminuir as deficiências da organização. 374 Manter sintonia com outros órgãos de Estado cujas atuações incidam e se reflitam na gestão das UCs e do sistema como um todo, como por exemplo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e ITESP (conflito de uso de entorno), DER (conflito de estradas em UCs), etc. Isto também pode amenizar as deficiências. Adoção e/ou desenvolvimento de algum modelo de planejamento simplificado e dinâmico para a elaboração de planos operativos anuais ou bianuais, que incluam metas e necessidades orçamentárias, que possibilitem avaliar a eficácia gerencial e acompanhar o desempenho da gestão das unidades de conservação; Estabelecer mecanismos apropriados que gerem e mantenham discussões sobre a gestão de unidades de conservação, como fórum permanente e integrador dos diretores e técnicos das UCs; Estabelecer um núcleo de monitoramento sistemático que abarque as principais atividades desenvolvidas nas unidades de conservação, que além de constituir em complexo banco de dados gere informações que fomentem o debate e sirva como mecanismo para retro-alimentar a gestão; Estabelecer diretrizes para a gestão das UCs que considerem: a efetiva interação com os atores regionais e locais; a adoção de estratégias que promovam o envolvimento e a geração de benefícios diretos às comunidades do entorno; a gestão fora dos limites e a adoção do enfoque bioregional, onde comportar; as zonas de amortecimento como poderosos componentes do planejamento de sitio; a insularidade das unidades de conservação e estratégias para minimizar as conseqüências desses fenômenos; o afastamento do Estado de suas funções básicas. Fomentar a capacitação do pessoal de campo no que diz respeito às disciplinas relacionadas à Biologia da Conservação e à Gestão da Paisagem, visando o desenvolvimento de estratégias voltadas à construção e/ou manutenção de fragmentos florestais e corredores biológicos em face 375 do isolamento e dos efeitos de bordas a que estão sujeitas a maioria das UCs estaduais; Criar condições para que os administradores e técnicos das UCs se capacitem em assuntos exigidos na atualidade e descortinadas desde a ótica dos chefes das unidades, tais como: Planejamento e gestão participativa; Elaboração e coordenação de projetos de desenvolvimento e de pesquisa; Manejo e resolução de conflitos, principalmente os de caráter sócioambientais; Busca de fontes alternativas de recursos; Relacionamento inter-pessoal; Idiomas. Pelo viés da motivação do quadro funcional, seria interessante o estabelecimento de mecanismos e programas que valorizem os funcionários que se dedicam à causa da conservação, por exemplo através de um amplo e vigoroso programa de capacitação continuada dirigida a toda a comunidade organizacional, privilegiando os funcionários de nível básico e médio, pois estes possuem poucas oportunidades para acessar treinamentos sistemáticos; Estabelecer mecanismos alternativos para o financiamento do sistema e normatizar e consolidar as diretrizes do SNUC quanto ao repasse de parte dos recursos produzidos pelas UCs para elas próprias; Definir, a partir de ampla discussão interna, os programas de ação e de desenvolvimento a serem adotados; Contratar consultorias externas para elaborar um Plano Estratégico de longo prazo; Estabelecer políticas internas que incentivem e priorizem o desenvolvimento de pesquisas voltadas à geração de informações para a melhoria da gestão das áreas protegidas; Aproveitar melhor seu quadro técnico especializado, induzindo e provendoos de oportunidades para que elaborem e conduzam projetos e programas de ação relacionados às suas respectivas áreas de conhecimento. 6. CONCLUSÕES 378 Nas páginas iniciais desta Tese discorreu-se longamente sobre a importância da biodiversidade e os valores que a natureza e os serviços ambientais proporcionam à humanidade, com exemplos práticos de sua utilidade, expondo ainda o estado do uso insustentável dos recursos naturais renováveis e a situação de degradação mundial e local, que geram a incessante perda de hábitats e de espécies. Concordando com outros autores, afirmou-se que as unidades de conservação são a maneira mais eficaz de se conservar a biodiversidade, apesar de todos os avanços científicos da biotecnologia e outras rotinas que desejem perpetuar as espécies. Nestes espaços especialmente protegidos há uma tendência de a evolução natural se processar, sendo difícil imaginar outro artifício para proteger e conservar ecossistemas inteiros. Ao longo dos anos aumentou significativamente o número de UCs distribuídas entre quase todos os países, e no Brasil não foi diferente. Na atualidade, a tendência é diminuir paulatinamente a criação de UCs, ao menos as de maior porte, tendo em vista quase não existirem mais lugares desabitados e ainda primitivos, com exceção dos domínios Amazônicos, das florestas boreais, das florestas africanas e os Oceanos. Um fato que se vem somar a isto é o atingimento da meta de estabelecer pelo menos 10% do território do planeta em termos de áreas protegidas dedicadas à conservação da natureza. Na atualidade, e antes mesmo de ingressarmos no Séc. XXI, a atenção dos profissionais que lidam com o assunto dirigiu-se a saber o quanto as Unidades de Conservação cumpriam com seu papel, como elas estavam sendo geridas e se atingiam ou não os objetivos para os quais foram criadas, levando em consideração as ameaças e dificuldades que enfrentam. Rotinas metodológicas foram desenvolvidas nos últimos 10 anos que permitem qualificar, quantificar e revelar o nível de eficácia das UCs. Com as limitações de recursos que o desenvolvimento científico enfrenta no país, adaptou-se um procedimento metodológico (talvez o primeiro a ser desenhado e largamente aplicado nas Américas) e buscou-se as informações necessárias para viabilizar a quantificação da eficácia de gestão das principais UCs de São Paulo. O que os dados demonstram, e estes são oriundos da percepção dos técnicos que as gerenciam (esta Tese é um veículo de expressão), é a 379 perpetuação de problemas e ameaças que há algum tempo chama a atenção de uma comunidade ampla e rica de conhecimentos, seja nas academias, nos eventos afins, nas rodas de pesquisadores e técnicos, nas organizações ambientalistas e ONG’s, nas instituições que administram as UCs: Diminuição gradativa dos já mínimos recursos destinados às UCs, problemas fundiários, obsolescência e sucateamento de equipamentos, pouca capacitação e atenção aos funcionários, ausência de planejamento integrado, projetos desvinculados da realidade, etc. Políticos geralmente não se interessam por tais assuntos, ainda que a gestão eficaz das UCs todavia deles também dependa. Ora, se grande parte das UCs paulistas possuem uma gestão com padrão de qualidade INFERIOR e MEDIANO, significa dizer que muitas coisas estão erradas, desencaminhadas e despropositais. Se ao Estado cabe a defesa dos interesses públicos, então ele está se descuidando da tutela que o povo lhe auferiu; e a cada dia mais, considerando-se os parcos recursos financeiros que o Tesouro aplica diretamente no Instituto Florestal, a organização que por excelência existe para cuidar das maiores e melhores UCs do estado. As visitas às unidades confirmaram o que vários autores e publicações divulgam a respeito das paisagens paulistas protegidas nas suas UCs. De fato, foi imensamente prazeroso selecionar e visitar o que de melhor há das paisagens paulistas, com praias quase virgens, onde a floresta se debruça sobre a areia unindo-a à imensidão do mar; montanhas protegidas por florestas, que protegem águas cristalinas, que por sua vez asseguram a continuidade da vida silvestre e boa qualidade de vida às populações dos entornos; sons, cores e sinais da fauna, guardados para as próximas gerações conhecerem; segredos todavia por serem revelados pela ciência. A relevância de se manter as unidades de conservação sob monitoramento sistemático da eficácia de gestão esta diretamente relacionada à manutenção das características naturais dessas áreas a longo prazo. O legado que trabalhos desta natureza auferem é o impulsão de ações que possibilitem gestões mais eficazes, que em última instância proporciona o alcance dos objetivos de gestão das unidades de conservação. O Estado, o governo, os políticos e partidos políticos precisam entender a realidade das unidades de conservação paulistas; e compreenderem que os benefícios que elas podem proporcionar à sociedade somente serão auferidos se 380 as mesmas forem consideradas com seriedade nas políticas governamentais. Politicamente, ao Instituto Florestal cabe mostrar esta realidade aos escalões superiores de governo e à sociedade; e tecnicamente promover gestões mais eficazes calcadas nas diferentes realidades locais. Em face dos problemas e ameaças que espreitam as Unidades de Conservação paulistas, pode-se afirmar que de toda a riqueza natural nelas (ainda) existentes, caberá às futuras gerações beneficiarem-se unicamente de migalhas que mal restarem nestes espaços especialmente protegidos. A situação precisa mudar. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 382 AGEE, James K. Ecosystem management: An Appropriate Concept for Parks? IN: WRIGHT, R. Gerald (Ed.). National Parks and Protected Areas. Their Role in Environmental Protection. Massachusetts, USA. 1996.p. 31-44. ALMEIDA, José Américo. Escalas de mensuração. IN: Pesquisa em extensão rural: um manual de metodologia. Brasília: MEC/ABAS. 1989.p.145-158. AMEND, Stephan and AMEND, Thora. La ocupación humana en los parques nacionales de América del Sur: un problema fundamental. PARKS. UICN, Gland, Suiza: 1992. 3(1):5-10. ANGELO, Humberto Fatores determinantes dos problemas das unidades de conservação no Brasil. Revista Arvore. 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Itirapina Rita Vassununga Forma predominante de uso da terra do entorno (I/D) Integridade das cabeceiras das bacias das UC's (I/D) Porcentagem de áreas alteradas dentro das UC's (I) Isolamento (I) Forma (I) Tamanho (I) Monitoramento e retroalimentação (I) - Programa de manejo - Produção - Programa de manejo - Uso Público - Programa de manejo - Proteção - Programa de manejo - Pesquisa Nível de execução do plano de manejo (I) Características da equipe de planejamento (I) Existência e atualidade do plano de manejo (I) Exploração dos recursos naturais dentro das unidades (I) Usos compatíveis com os objetivos da unidade (I/D) Informações cartográficas (I/D) Informações sócio-econômicas (I) Informações biofísicas (I/D) Instrumento legal de criação da unidade (I/D) Questão fundiária (I/D) Programa de capacitação: Plano de carreira (I/D) Apoio e/ou relacionamento interinstitucional (I/D) Apoio e participação comunitária (I/D) Equipamentos e materiais Aceiros e carreadores (I/D) Demarcação física da UC Infra estrutura Regularização de Atividades (I/D) Organograma interno (I/D) Arquivos (I/D) Regularidade de entrega de adiantamentos (p.e. mensais) (I/D) Financiamento (operativo e de manutenção) (I/D) Qualidade do pessoal geral (I/D) Quantidade de pessoal (I/D) INDICADOR 3 3 4 3 E.E. E.E. P.E. P.E. F.E. E.E. Luiz Bento Carlos PETAR Intervales Manduri Assis Antônio Quirino Botelho 1 1 2 3 1 2 2 3 3 4 2 2 3 2 2 2 2 3 4 2 2 2 1 4 4 3 3 3 3 3 4 4 2 4 2 1 3 4 3 3 3 3 2 3 3 2 3 3 3 4 3 4 4 4 4 4 4 4 2 3 3 4 4 3 4 4 4 0 4 4 2 2 2 4 3 3 3 3 0 2 4 3 3 4 3 2 4 4 2 2 4 1 1 1 3 2 1 1 0 0 2 1 2 2 4 4 4 4 3 0 4 4 3 3 4 3 1 4 3 2 3 3 4 3 4 3 2 4 2 4 3 2 4 3 4 3 3 3 1 2 2 3 3 0 2 2 0 0 0 4 0 4 2 3 4 2 1 1 0 2 2 1 3 2 1 4 4 4 3 2 2 3 1 2 1 2 3 3 1 1 3 1 1 1 2 4 4 4 2 3 3 4 4 4 4 4 4 3 3 4 4 4 4 2 2 4 4 2 0 0 0 0 2 2 3 2 3 1 2 4 2 4 4 4 4 E.E. E.Ec. Paraguaçu Caetetus Paulista 3 2 3 2 4 2 4 2 4 3 3 2 3 2 4 3 4 4 4 2 3 3 4 3 2 3 1 1 2 3 4 4 3 4 4 4 4 4 4 3 4 4 1 4 2 4 0 1 4 3 3 Apendice A - Unidades e indicadores investigados em 1998 que serviram de base e pré-teste à presente pesquisa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 N. Código PE01 PE02 PE Marinho Lage de Santos PE03 PE Xixová Japuí PE04 PE Cantareira PE05 PE Capital PE06 PE Jurupará PE07 PE Juquery PE08 PE Campos do Jordão PE09 PE Mananciais de Campos do Jordão PE10 PESM Santa Virginia PE11 PESM Cunha PE12 PE ARAValinhos PE13 PE Vassununga PE14 PE Porto Ferreira PE15 PE Furnas do Bom Jesus PE16 PE Morro do Diabo PE17 PESM Caraguatatuba PE18 PESM Cubatão PE19 PESM Picinguaba PE20 PESM Curucutu PE21 PE Jaraguá PE22 PETAR PE23 PE Carlos Botelho PE24 PE Campina do Encantado PE25 PESM São Sebastião PE26 PE Ilha do Cardoso PE27 PE Jacupiranga PE28 EEC Juréia-Itatins EEc01 EEC Bananal EEc02 EEc Paranapanema EEc03 EEc Caetetus EEc04 EEc Assis EEc05 EEc Jataí EEc06 EEc São Carlos EEc07 EEc Ribeirão Preto EEc08 EEc Itirapina EEc09 EEc Itaberá EEc10 EEc Itapeva EEc11 EEc Chauás EEc12 RE Águas da Prata RE01 Floresta de Avaré I FE01 FE Manduri FE02 EE Casa Branca EE01 EE Paraguaçu Paulista EE02 EE Assis EE03 EE Luiz Antônio EE04 EE São Simão EE05 EE Bento Quirino EE06 EE Bauru EE07 EE Jaú EE08 EE Moji Guaçu EE09 EE Mogi Mirim EE10 EE Araraquara EE11 EE Tupi EE12 EE Itirapina EE13 EE Itapeva EE14 EE Itararé EE15 HF Navarro de Andrade HF01 PE Ilha Anchieta PE Ilha Bela Unidades 828,08 27.025,00 5.000,00 901,00 7.900,00 174,00 26.250,47 1.927,70 8.385,89 502,96 13385,83 21774,87 64,30 1.732,14 611,55 2.069,06 33.845,33 77569,64 95176,33 47572,15 9058,06 492,68 35.884,28 37.644,36 2.359,50 28393,23 22.500,00 150.000,00 79.270,00 884,00 635,00 2.178,84 1.312,38 4.532,18 75,26 154,16 2.300,00 180,00 106,77 2.699,60 48,40 741,83 1.485,14 494,18 442,09 3.167,62 6.267,73 2.637,32 416,36 43,09 258,65 2.706,28 145,65 143,36 198,48 3.212,81 1.827,61 2.379,05 2.650,00 782.622,25 Área 70,21 54,20 60,43 48,10 67,50 48,24 41,64 39,25 55,89 29,24 57,93 51,55 43,63 44,71 49,86 54,84 56,24 67,86 59,17 60,87 49,85 46,64 61,48 68,74 44,57 53,57 82,68 43,92 42,83 70,40 59,02 64,39 52,07 71,92 40,67 33,80 71,00 61,05 65,66 51,61 48,43 68,71 68,08 43,23 53,21 58,67 66,53 49,08 49,08 44,81 71,43 47,55 41,63 41,34 56,07 55,74 67,27 62,44 52,12 54,96 Pontuação Apêndice B - Caracterização das Unidades 1959 1959 1945 1929 1961 1942 1929 1984 1949 1957 1950 1960 1977 1962 1945 1958 1964 1962 1976 1982 1959 1961 1957 1957 1957 1950 1978 1952 1945 1962 1944 1944 1960 1939 1958 1941 1994 1965 1969 1970 1962 1989 1941 1956 1942 1977 1977 1993 1993 1963 1896 1978 1993 1941 1993 Criação 1977 1977 1993 1993 1963 1968 1992 1999 1941 1993 1977 1977 1973 1971 1987 1989 1986 1979 1972 1979 1982 1939 1960 1982 1999 1986 1962 1969 1987 1987 1993 1987 1992 1982 1987 1984 1984 1987 1985 1987 1952 1945 1962 1944 1944 1986 1959 1959 1945 1929 1961 1942 1929 1964 1949 1957 1976 1960 1998 Reclas. 15 16 90 19 20 5 11 13 38 13 24 16 33 56 40 21 3 40 30 40 3 2 6 1 0 0 1 0 0 1 8 40 19 38 23 9 9 15 39 7 6 15 38 21 876 40 23 130 38 50 25 20 23 60 60 56 40 60 100 70 28 15 63 71 80 18 6 15 6 25 6 3 6 15 70 24 70 70 35 70 22 70 20 15 30 50 40 1847 12 12 16 2 2 RH Atual 48 30 9 10 RH Ótimo 44,29 65,00 60,00 50,00 24,00 47,50 20,83 45,71 67,14 74,29 87,14 31,82 83,33 46,67 42,86 100,00 100,00 57,14 60,00 45,00 44,00 42,86 25,00 80,00 36,51 57,75 50,00 83,33 66,67 60,00 83,33 100,00 100,00 80,00 45,00 43,48 36,67 78,33 50,00 60,00 62,50 30,43 30,77 119/43 = 2,7 1,79 2,86 2,50 2,00 1,32 1,90 1,26 1,84 3,04 3,89 7,78 1,47 6,00 1,88 1,75 2,33 2,50 1,82 1,79 1,75 1,33 5,00 1,58 2,37 2,00 6,00 3,00 2,50 6,00 5,00 1,82 1,77 1,58 4,62 2,00 2,50 2,67 1,44 1,44 4,00 1,88 4,50 5,00 RHO / RHA 100-(RHA/RHOx100) 75,00 46,67 77,78 80,00 Índice de defasagem RH Defasagem RH 1200,00 2700,00 5000,00 3000,00 5000,00 300,00 350,00 $ Atual 500,00 2500,00 1000,00 1600,00 6000,00 4200,00 3000,00 10000,00 4000,00 2000,00 10000,00 10000,00 4000,00 3000,00 4000,00 3000,00 10000,00 1000,00 2100,00 1850,00 2500,00 2000,00 1000,00 1500,00 3000,00 1000,00 800,00 700,00 1200,00 4000,00 400,00 12000,00 10000,00 1500,00 300,00 12000,00 4000,00 10000,00 0,00 12000,00 250,00 6000,00 6000,00 8000,00 2000,00 40000,00 20000,00 25000,00 2500,00 7000,00 1800,00 6000,00 4000,00 2000,00 0,00 3000,00 600,00 2000,00 0,00 5000,00 0,00 1000,00 0,00 5000,00 5000,00 4000,00 8000,00 6000,00 15000,00 12000,00 8000,00 1200,00 5000,00 6000,00 25000,00 7000,00 10000,00 1000,00 1500,00 $ Ótimo 50,00 38,33 75,00 50,00 50,00 85,00 70,00 75,00 73,33 82,50 60,00 60,00 60,00 16,67 80,00 66,67 100,00 97,92 0,00 75,00 50,00 90,00 74,29 33,33 100,00 80,00 100,00 100,00 100,00 90,00 50,00 75,00 80,00 0,00 20,00 85,00 76,00 55,00 80,00 57,14 50,00 70,00 76,67 100-($A/$OX100) Defasagem R$ 118/38 = 4,68 2,00 1,62 4,00 2,00 2,00 6,67 3,33 4,00 3,75 5,71 2,50 2,50 2,50 5,00 48,00 1,00 4,00 2,00 10,00 3,89 1,50 1,20 5,00 3,00 10,00 2,00 4,00 5,00 1,00 1,25 6,67 4,17 2,22 5,00 2,33 2,00 3,33 4,29 $O / $A Índice de defasagem R$ 54894 13107 412331 429226 10911892 9836129 97070 204919 36035 36035 86791 21671 907831 24861 43795 14775 19493 144966 12407515 54894 9915737 9836129 28744 94239 15761 56895 9594 77721 99938 9002 12467 11627 83003 6866 8276 455810 27254 18645 77694 26044 7163 69427 7182 28804 37495 83003 6866 12656 12656 292003 103433 114299 75144 172576 302459 11005 122672 44978 166664 População do entorno BIOMA M. Atlântica M. Atlântica Oceano M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica Cerrado M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica Cerrado + M. Atlântica M. Atlântica Cerrado M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica Cerrado Cerrado + M. Atlântica M. Atlântica M. Atlântica Cerrado M. Atlântica Cerrado M. Atlântica M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de Cerrado + M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica Pinus / Eucaliptus + rem. de M. Atlântica DIRETOR Manoel Azevedo Fontes Kátia Regina Biagini Mabel Augustowski Cláudio de Moura Kátia Mazei Ana Lucia Arromba Sueli Herculiani Lucy Miriam Schaeffer Valdir Joel de Andrade Valdir Joel de Andrade João Paulo Vilanni Roberto Starzynski Demetrio V. de T. Filho Everton José Ribeiro Sonia A. Souza e Marlene Tabanez Sueli e Antonio Pontalti José V. Candarola e Helder H. Faria Ivan Soares da Mota Sueli Lorejan Luiz Roberto Numn Mauricio Alonzo Vladimir Arrais de Almeida Gisela V. Menezes José Luiz C. Maia Mario V. Neves de Souza Edson Lobato Marcos Bührer Campolim Gina Guerra Joaquim do Marco Neto Jose Luiz de Carvalho Hideo Aoki Marli M. Cardoso Marisa Minetto Antonio Carlos Zanatto Honório Carlos Fachin Ozanir Camilo da Silveira Denise Zanchetta Ananias A. S. Pontinha Ananias A. S. Pontinha Mario V. Neves de Souza Demetrio V. de T. Filho Hideo Aoki Clovis Ribas Demetrio V. de T. Filho Helder H. de Faria Marisa Minetto Antonio Carlos Zanatto Eurípides Morais Eurípides Morais Eliana M.R.A. Angeraim Omar J.D. Dias Junior Eduardo Amaral Batista Cleide de Camargo Honório Carlos Fachin Airton Bergamasso Helena Dutra Lutgens José Antônio de Freitas Ananias A.S. Pontinha Denise Zanchetta xxiv Autorizo a reprodução deste trabalho. Presidente Prudente, agosto de 2004. HELDER HENRIQUE DE FARIA